Batata Movies 2. Desarquivando Alice Gonzaga. Uma História de Vida Que Se Confunde Com a História do Cinema Brasileiro.

Desarquivando Alice Gonzaga (2017) - IMDb
Cartaz do Filme…

Até o próximo domingo, rola na internet o FestCômico, um festival de filmes considerados de humor, com o grande público tendo acesso gratuito aos filmes. No meio de uma extensa lista, temos o documentário “Desarquivando Alice Gonzaga” (2017), que conta a trajetória da filha do criador dos estúdios da Cinédia, Adhemar Gonzaga. Em quase uma hora e meia de exibição, podemos ver Dona Alice mostrando e realizando a grande paixão de sua vida, que é arquivar e catalogar coisas e objetos, sobretudo sobre a Cinédia e a História do Cinema Brasileiro, mantendo um poderoso acervo até hoje. A história de Dona Alice e da família Gonzaga se confunde com a própria História do Cinema Brasileiro, pois Adhemar Gonzaga editou a revista Cinearte, que militou pelo cinema brasileiro de 1926 a 1942, além de produzir filmes como Barro Humano e criar o estúdio da Cinédia num terreno em São Cristóvão.

Alice Gonzaga - AdoroCinema
Alice Gonzaga, de inestimável contribuição para a História do Cinema Brasileiro…

O documentário mostra Alice Gonzaga descortinando o farto arquivo da Cinédia e contando para nós não somente a História do Cinema Brasileiro como também a sua história pessoal e a de sua família, falando, por exemplo, do preconceito da avó, que era mãe de Adhemar, com o meio artístico; a complicada história de sua mãe, a atriz Didi Viana com a família de Adhemar (o que acabou afastando mãe e filha); a exibição de muitos trechos de filmes brasileiros e, quando não os havia, a exibição de suas fotos praticamente intactas; a forma e o estilo de como vários diretores brasileiros trabalhavam, etc. Ou seja, temos aqui um documentário em tom bem enciclopédico, sem perder de vista o tom intimista. Dona Alice até hoje arquiva reportagens e fotos sobre o cinema brasileiro, mantendo-se muito ativa em seu oficio que praticamente aprendeu desde muito criança, quando passava as férias na Cinédia e ajudava o pai a organizar as coisas nos estúdios. Mas ela realmente se tornou mais dedicada à preservação da memória do cinema depois que teve uma discussão com Adhemar, que já estava no fim da vida, sobre o valor dos filmes e o sacrifício em fazê-los.

Desarquivando Alice Gonzaga - Festival do Rio
Fazendo pontas em filmes que hoje ajuda a preservar…

Apesar desse documentário estar presente num festival de filmes cômicos, não o encaro como uma comédia. A graça da coisa pode até residir no comportamento de Alice em arquivar e armazenar tudo, como se fosse uma espécie de mania (o documentário começa com as caixas dos restos mortais da família organizados por ela em data crescente de morte no mausoléu da família, ou seja, até os parentes mortos ela arquivou). Mas graças a essa “mania”, muito da História do Cinema Brasileiro está bem preservado e arquivado, sobretudo a sua coleção de revistas Cinearte. O trabalho de Alice Gonzaga de preservação da memória do Cinema Brasileiro é valiosíssimo e será um grande legado para as gerações futuras que vão querer estudar a História de nosso cinema, tão combalida pela falta de preservação da memória. Realmente, já estava na hora de se fazer um documentário para mostrar ao mundo a importância de Alice Gonzaga para a preservação da memória do cinema brasileiro.

Desarquivando Alice Gonzaga : Aurora Cinematógráfica
Uma pessoa de vida muito ativa…

Dessa forma, “Desarquivando Alice Gonzaga” é um documentário obrigatório para aqueles que são cinéfilos e que estudam a História do Cinema Brasileiro. Ter a oportunidade de ver a própria Alice Gonzaga falando do arquivo que ajudou a criar é uma oportunidade ímpar e é muito bom que tal coisa tenha ficado registrada no documentário como uma espécie de legado para as próximas gerações. E fique com o documentário completo abaixo

https://www.youtube.com/watch?v=6tL0VkdKkBI&t=1069s

Batata Movies 2 (Especial Oscar 2021). Uma Canção Para Latasha/Se Algo Acontecer, Te Amo. A Morte Com Variações.

Uma Canção para Latasha - 2019 | Filmow
Cartaz de “Uma Canção Para Latasha”

Dando sequência às nossas análises de filmes que concorrem ao Oscar 2021, vamos hoje falar de dois curtas que estão no Netflix: “Uma Canção Para Latasha” e “Se Algo Acontecer, Te Amo”. Como sempre, vamos precisar de spoilers.

Se Algo Acontecer... Te Amo | Trailer | Legendado (Brasil) [HD] - YouTube
Cartaz de “Se Algo Acontecer, Te Amo”

O primeiro curta, “Uma Canção Para Latasha” nos fala do assassinato de uma menina afroamericana de nome Latasha que aconteceu no início da década de 90 e que foi um dos motivadores da violenta convulsão social que aconteceu em Los Angeles naquela época. Ela foi a uma pequena loja de conveniência comprar um suco de laranja que não valia nem dois dólares e foi assassinada com um tiro na cabeça pela dona da loja, que pensava que a menina estava roubando. Latasha foi assassinada com os dois dólares na mão para poder pagar o suco. A amiga de Latasha já tinha estado nessa loja antes e só não foi morta com uma barra de chocolate na mão pela mesma mulher, pois a mãe dela apareceu com a nota fiscal do chocolate pago. E qual foi a punição da assassina? Horas de serviços comunitários e uma multa em dinheiro, não ficando um dia sequer na cadeia. A tragédia de Latasha se repetia em sua família, pois sua mãe já havia sido morta de forma violenta. O curta é centrado em torno dessa amiga de Latasha, que falou dos sonhos que as duas nutriam para o futuro, assim como a dura realidade de ser afrodescendente nos Estados Unidos, em dolorosos dezenove minutos de duração.

Uma Canção para Latasha | Site Oficial Netflix
Para um futuro destruído, só resta a lembrança…

O segundo curta, “Se Algo Acontecer, Te Amo”, é uma animação onde vemos um casal que perdeu a alegria de viver depois que sua filha foi assassinada por um serial killer na escola. Os dois têm o seu estado de espírito manifesto em negros espectros que brigam, mas que também têm ternas lembranças e emoções com relação à filha morta. No início, não sabemos o motivo da tristeza dos dois e vemos apenas aquelas sombras se desentendendo e brigando. Mas, num flashback, as sombras relembram a vida da filha, quando o filme se torna mais alegre, apenas sendo o contraponto ao massacre escolar. No fim, ficam as boas lembranças, com o espectro da filha unindo os espectros dos pais, que tendiam cada vez mais a se separar, algo muito terno e tocante, numa montanha russa de sentimentos que dura apenas doze minutos.

CRÍTICA | "Se Algo Acontecer... Te amo" é doloroso, trágico e por fim lindo  - Tribernna
Espectros mostram a destruição de um casal…

Dois curtas, mostrando o mesmo tema com variações: a morte violenta numa sociedade estadunidense completamente descentrada e enlouquecida. No primeiro caso, a morte violenta é provocada pelo racismo e intolerância. No segundo caso, a morte é provocada pelo belicismo e também pela intolerância. Monstros criados por uma sociedade que se arma de ressentimentos até os dentes, cujos monstros atacam a própria sociedade que os cria, numa espécie de insana autofagia. Dois temas chocantes, abordados de formas diferentes, pois em “Latasha” temos a eloquência de sua amiga, que dá voz à menina assassinada e à vida pregressa das duas, com todas as suas expectativas e sonhos, dando-nos o sentimento de todo um futuro perdido. Já no segundo curta, o silêncio chega a ser ensurdecedor, alimentando uma igual sensação de perda e de um futuro destruído. Pelo menos na animação, a lembrança da menina reúne um casal destroçado, num fio de esperança que brota em seu final. Já em “Latasha”, a sensação de desalento e impotência são muito grandes, ainda mais quando somos confrontados com toda a impunidade da situação.

Se Algo Acontecer...Te Amo promete te fazer chorar em 12 minutos (e cumpre)  – Persona | Crítica Cultural
O segundo curta nos dá alguma esperança, ao contrário do primeiro, que é só desolação…

Dessa forma, “Uma Canção Para Latasha” e “Se Algo Acontecer, Te Amo” são dois documentários fortes e obrigatórios que concorrem ao Oscar desse ano, com os dois falando do mesmo tema: a morte trágica numa sociedade violenta, só que com variações, indo desde o racismo até a insanidade do belicismo, com as duas histórias cimentadas pelo ódio e pela intolerância.

Batata Movies 2 (Especial Oscar 2021). Professor Polvo. Como Sobreviver No Mar.

Professor Polvo
Cartaz do Filme.

Dando sequência às nossas análises de filmes que concorrem ao Oscar 2021, vamos hoje falar de outra produção na Netflix, intitulada “Professor Polvo”, que concorre à estatueta de Melhor Documentário. Para podermos falar desse filme, vamos precisar dos spoilers de sempre.

Pin em Cinema
Uma amizade inusitada…

O filme fala de Craig Foster, um cineasta que levava a sua vida de uma forma pouco satisfatória e desanimada. Ele vai começar a praticar mergulho nos mares do sul da África para pesquisar a vida marinha. Um belo dia, ele encontra uma espécie de massa de carne envolta em conchas e, quando se aproxima, a massa larga as conchinhas, sendo ela um polvo fêmea camuflado. A partir daí, Craig vai diariamente, pelo espaço de quase um ano, mergulhar no mesmo local em que encontrou a polvo fêmea e estudar a sua vida. Logo vai surgir uma espécie de ligação afetiva entre ele e a polvo fêmea, que vai tocar sua mão com os tentáculos e ficar grudado nele. De uma forma muito cuidadosa e gentil, Craig observa, sem fazer qualquer interferência, a vida do polvo fêmea, que precisa fugir de pequenos tubarões predadores e, ao mesmo tempo, ela mesma ser uma predadora, caçando peixes, caranguejos e lagostas. Craig percebe com o tempo que a polvo fêmea tem uma inteligência notável para a sua espécie, criando rapidamente estratégias de defesa para fugir dos ataques dos tubarões e, ao mesmo tempo, criando outras estratégias para conseguir comida. Craig também testemunha algo que parece inimaginável, que é ver a polvo fêmea brincar com um cardume de peixes que nada bem acima dela, se colando afetivamente no peito de Craig depois disso, sendo a última vez que os dois teriam um contato físico. Depois de quase um ano, Craig testemunha seu acasalamento e a proteção que ela faz a seus ovos, definhando rapidamente. Com o nascimento dos filhotes, a polvo fêmea, moribunda, finalmente serve de comida aos tubarões e morre, fato que deixou Craig muito abalado emocionalmente, mas também o deixou aliviado, pois a tarefa do mergulho diário e da procura pela polvo fêmea diariamente estava se tornando algo muito cansativo.

Crítica | Professor Polvo (My Octopus Teacher) - POCILGA
Notáveis estratégias de sobrevivência…

Que bom que Craig não se cansou antes, pois a gente consegue ver aqui um grande documentário sobre a sobrevivência de um ser vivo praticamente líquido no meio marinho, que pode ser muito rico mas também pode ser muito inóspito. As imagens da “floresta” de algas debaixo d’água são impressionantes, assim como de toda a fauna marinha que vemos no filme, numa explosão de formas que beiravam o abstrato e cores muito fortes e vivas. A polvo fêmea é o personagem do filme em toda a sua plenitude, cujas estratégias de sobrevivência no ambiente em que vivia eram surpreendentes, só não sendo mais surpreendente a forma como a polvo fêmea variava essas estratégias, ainda mais quando sabemos que seu sistema cognitivo é mais atuante nos tentáculos do que no cérebro, com o polvo aprendendo essas estratégias por puro instinto. No caso do ataque do tubarão, a polvo fêmea não somente se cobre de conchas como arruma um jeito de se grudar na parte mais segura do tubarão para ela, que é o seu dorso, enganando-o completamente.

20 Lições aprendidas com o Professor Polvo | by Vanessa Tenório | Revista  Mar Aberto | Medium
Filme fala sobre o ciclo da vida…

Dessa forma, “Professor Polvo” é mais um bom documentário que concorre ao Oscar. O mais impressionante aqui é ver como um ser que, aparentemente, não tem uma “inteligência” muito desenvolvida é capaz de estabelecer várias estratégias de sobrevivência e, ainda por cima, saber variá-las na hora certa, praticamente usando de forma muito sofisticada os seus instintos. Vale muito a pena dar uma conferida.

Batata Movies 2 (Especial Oscar 2021). Crip Camp, Revolução Pela Inclusão. Luta Pelos Direitos De Acessibilidade.

Crip Camp: Revolução pela Inclusão - Filme 2020 - AdoroCinema
Cartaz do Filme…

Dando sequência às nossas análises de filmes que concorrem ao Oscar 2021, vamos falar hoje de mais uma película que está no Netflix, “Crip Camp, Revolução Pela Inclusão”, que concorre à estatueta de Melhor Documentário. Para podermos falar sobre esse filme, vamos precisar de spoilers.

O verão da acessibilidade | carmattos
Uma vida comunitária e inclusiva…

Vemos aqui a história da luta dos portadores de necessidades especiais por acessibilidade nos Estados Unidos durante as décadas de 70 e 80. Mas tudo começa no início da década de 70, quando vários portadores de necessidades especiais se conheceram no campo Jened, uma espécie de colônia de férias para portadores de necessidades especiais que funcionava de forma experimental, onde vários hippies administravam o campo. Lá, esses portadores finalmente conheceram a inclusão social e eram tratados com o respeito que sempre mereceram, não sendo vistos como um peso ou com pena. Os hippies deram aos portadores uma vida muito feliz, com direito a esportes, música e até amor livre, o que gerou uma “epidemia” de piolhos na região do púbis. O Campo Jened seria o balão de ensaio para criar toda uma geração de portadores de necessidades especiais que teria um papel de muita importância na luta pelos direitos civis, reivindicando a acessibilidade em universidades, hospitais, prédios públicos, etc. A luta foi muito tortuosa e inglória, com direito a ocupação de prédios públicos por muitos dias e viagens à Washington para pressionar políticos, inclusive o próprio presidente dos Estados Unidos na época, Jimmy Carter. Aliás, o filme deixa bem claro que, independentemente do partido político que o presidente fizesse parte, o trato com os portadores de necessidades especiais nunca foi satisfatório, com leis que não eram aprovadas e, quando aprovadas, não eram cumpridas. Essa luta continua até hoje e, mesmo com a idade avançada, a geração do Campo Jened ainda tem um papel fundamental nessa luta.

Crip Camp: Revolução Pela Inclusão' - leia a crítica do documentário
Atividades esportivas…

É um documentário simplesmente maravilhoso. Produzido, dentre outros, por Barack e Michelle Obama, podemos ver imagens caseiras em preto e branco do Campo Jened e de como sua geração se forjou naquela época. Surgia em destaque a figura de Judith Heumann que, desde cedo, tomou uma posição de liderança no campo, fazendo uma votação entre as pessoas para se ver o que elas queriam no almoço. Vai ser Judith que, na idade adulta, irá encabeçar todas as lutas pelos direitos civis dos portadores de necessidades especiais, onde a ocupação do prédio público por mais de vinte dias será o ponto alto do documentário, pois tais portadores necessitam de cuidados especiais e, mesmo com todas as dificuldades, eles não arredaram o pé, recebendo a solidariedade e ajuda de vários grupos na luta pelos seus direitos, como os Panteras Negras. Depois de muita luta, eles conseguiram dobrar o governo e conseguiram o direito a acessibilidade, o que tornou possível que muitos deles pudessem até sair para trabalhar. Mas ainda há muito o que fazer, com os portadores tendo que vencer todos os preconceitos que a sociedade tem sobre eles, como o fato de serem encarados como não produtivos numa sociedade que exige tanto que as pessoas produzam como a capitalista. Outra forma de preconceito foi vista no caso de Denise Sherer Jacobson, que, ao sentir fortes dores abdominais, foi operada de apendicite pelo médico, mas o apêndice estava normal. O motivo pelo qual Denise sentia dores foi uma gonorreia que ela contraiu, mas o médico não acreditava que ela podia ter uma vida sexual, por ser portadora de necessidades especiais e, portanto, “feia”. Denise vai superar isso voltando a estudar e fazendo um mestrado em sexualidade.

Por que Crip Camp é um filme fundamental para pensar a educação? – Jornal  Pensar a Educação em Pauta
Judith Heumann, a liderança forjada em Jened…

A geração de Jened e a forma como ela foi tratada no campo ganham ainda mais importância quando vemos um hospital que cuidava dos portadores de necessidades especiais, com uma carência enorme de funcionários, sendo uma câmara de horrores, onde os pacientes viviam nus, sujos com fezes e urina e altamente subnutridos, pois havia pouca gente para alimentá-los, o que os levava a um definhamento total. Apesar de tudo isso ser denunciado na mídia, o mito dos portadores serem pouco ou nada producentes ainda imperava na sociedade, o que dificultava e muito a luta deles.

Para ver em casa: 5 documentários indicados ao Oscar. Quais valem a pena? |  VEJA SÃO PAULO
Indo até a Casa Branca…

Ao fim do documentário, vemos os membros da geração de Jened que ainda estão vivos (muitos deles morreram cedo) voltando ao terreno onde era o campo, que não existe mais e onde há uma construção. Antigos amigos que se reviam tinham um carinho muito grande entre si e para com o lugar. Denise chega a dizer que queria beijar o chão de onde existia o campo, numa prova de que aquela experiência de inclusão foi importante para a vida de muita gente, não somente as que viveram no campo, mas também a de muitos portadores de necessidades especiais que foram beneficiados com as leis aprovadas em virtude da luta da geração de Jened.

Crip Camp' faz registro sensível da luta pelos direitos das Pessoas com  Deficiência - Folha PE
A volta ao campo, décadas depois…

Dessa forma, “Crip Camp, A Revolução Pela Inclusão” é um película obrigatória, pois conta a bonita história da luta dos portadores de necessidades especiais feita por uma geração que teve a grande experiência de inclusão no Campo Jened, organizado por um setor marginalizado pelos setores mais conservadores da sociedade, que são os hippies. A gente se emociona e tem um carinho todo especial por esses personagens reais.

Batata Movies 2 (Especial Oscar 2021). Time. Uma Espera De Décadas.

Time - Filme 2020 - AdoroCinema
Cartaz do Filme

Dando sequência às nossas análises de filmes que concorrem ao Oscar desse ano de 2021, falemos hoje do Documentário “Time”, da Amazon Prime, e que concorre à estatueta de Melhor Documentário. Para falarmos desse filme, vamos precisar dos spoilers de sempre.

10 filmes hipnotizantes para ver na Netflix e no Amazon Prime Video |  Revista Bula
Fox. Criando os filhos sozinha…

O filme fala de Fox Rich, uma mulher que, juntamente com seu marido Rob, no início da década de 90, tinha uma loja temática de Hip-Hop, mas tempos difíceis fizeram o casal tomar uma atitude desesperada: assaltar um banco a mão armada. Como resultado disso, os dois foram presos, sendo condenados a sessenta anos de prisão, sem qualquer direito à condicional. Mas Fox conseguiu um acordo para cumprir a pena em doze anos, conseguindo a liberdade, algo que o marido não quis fazer, permanecendo na prisão e preferindo recorrer. A partir daí, o que vemos é toda uma luta de Fox em criar os seis filhos e lutar para tirar o marido da penitenciária.

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Lutando pela liberdade do marido…

O filme levanta uma questão. Até que ponto o sistema carcerário americano é uma continuidade do que era a escravidão para os afro-descendentes? Isso é levantado, pois Rob foi condenado a sessenta anos de prisão sem qualquer direito a um relaxamento. Fox divulgava sua história e levantava essa questão em palestras que fazia na Igreja Evangélica que frequenta. Quando surge uma chance de seu marido sair antes do tempo, esperando a deliberação de um juiz, Fox liga diariamente para os órgãos competentes (ou não), numa esperança que vai varando nem os dias, semanas e meses, mas anos, o que enerva Fox, embora isso não a deixe perder o seu foco e continuar nessa luta incessante, bem ao estilo “água mole em pedra dura tanto bate até que fura”.

After the Amazon documentary 'Time,' their work continues - Los Angeles  Times
Momentos, no presente e passado, em que a luta parece não ter fim…

Com imagens de vídeo da família intercaladas com filmagens para o documentário, vemos uma ida e volta no tempo, onde nada parece mudar muito para Fox nessa tarefa de criação solo dos filhos. É um pouco angustiante a gente ver os filhos de Fox bem pequenos nas imagens mais antigas de VHS e crescidos nas imagens mais atuais, sempre com um totem de papelão do pai em tamanho natural olhando para eles, como se isso fosse uma espécie de pequeno conforto para suprir a ausência do pai e do marido. Mas Fox fez bem o seu dever de casa e um dos filhos acabou na Universidade, estudando ciências políticas para entender melhor todo o contexto das leis, inspirado na situação em que o pai se encontra.

The Best Film of 2020 Gets Introduced in First Clip From Garrett Bradley's  Time
O sofrimento de Fox é o sofrimento de toda uma família…

O filme parecia que ia se concluir em aberto, com Fox continuando sua luta para libertar o marido e cuidar dos filhos, já que estamos vendo aqui uma história real e não um filme de enredo que termina num happy end. Mas, contrariando as expectativas, Rob acabou mesmo sendo libertado durante a produção do documentário e temos aqui um happy end improvável que acabou se realizando. Mesmo que Fox tenha sua crença religiosa numa Igreja Evangélica, a moça recebe seu marido na saída da prisão com um traje bem afro, até porque ela também segue uma crença mais ligada à sua ancestralidade. Os filhos que nasceram depois da prisão de Rob acabam o recebendo em casa pela primeira vez, junto com os filhos mais velhos, que há muito não viam o pai (eram crianças pequenas quando ele foi preso). E o velho totem de papelão finalmente foi queimado no lixo, como se purgasse as duas décadas que mantiveram a família sem pai.

Prime Video: Time
Um documentário com happy end…

Dessa forma, “Time” é mais uma produção que concorre ao Oscar que merece ser vista, pois vivenciamos toda a dificuldade de uma mãe e esposa em criar os filhos e, ao mesmo tempo, alertar a sociedade para a situação dos afro-descendentes no sistema carcerário como uma espécie de continuidade da escravidão nos Estados Unidos. Personagens reais que nos cativam pelo seu sofrimento autêntico.

Batata Movies 2 (Especial Oscar 2021). O Tigre Branco. Ascensão Social E Luta De Classes.

O Tigre Branco - Filme 2021 - AdoroCinema
Cartaz do Filme

Mais um filme concorrente ao Oscar 2021. “O Tigre Branco”, da Netflix, concorre à estatueta de Melhor Roteiro Adaptado e é um daqueles filmes que nos lança à reflexão. Para podermos falar do filme, vamos lançar mão dos spoilers de sempre.

O Tigre Branco”. Como ser bilionário a qualquer preço – Observador
Balram, em busca de ascensão social…

O filme conta a trajetória de Balram (interpretado por Adarsh Gourav), um rapaz indiano de origem muito humilde que pretende ascender na vida como criado de uma família da elite que oprime o seu vilarejo. Ele consegue se tornar o motorista particular de um dos filhos da família, Ashok (interpretado por Rajkummar Rao), um rapaz que não concordava com o tratamento violento que seu pai e seu irmão dava para seus criados. Ashok, inclusive, era muito ocidentalizado e tinha uma namorada, Pinky (interpretada por Priyanka Chopra), que vivia nos Estados Unidos e estava completamente fora de sintonia com as práticas elitistas da família, numa sociedade de castas onde há grande discriminação. É nesse meio que Balram busca sobreviver e buscar espaço numa sociedade onde a maioria pobre vive no “galinheiro”, uma metáfora que diz que as pessoas vão para a imolação sem qualquer reação, de forma muito passiva. Balram fará de tudo para se tornar um criado exemplar, mas a única resposta a isso era mais e mais violência por parte do pai e irmão de Ashok. Até o momento em que Pinky atropela uma criança na rua e a mata. O pai e irmão mais velho de Ashok convencerão Balram a assinar uma declaração de culpa pelo acidente, mesmo ele não tendo estado ao volante. O acidente implodirá o relacionamento entre Ashok e Pinky. Esta vai embora da Índia, com Ashok caindo em desgraça e se tornando violento com Balram. Mesmo fazendo de tudo para seu patrão sair da fossa, Balram começa a perceber que a elite a que serve não merece aquele tipo de tratamento e ele começa  buscar seu espaço de formas menos lícitas, ganhando dinheiro por fora de todo  o jeito. As malas de dinheiro que a família de Ashok dá para políticos para corrompê-los e a leitura labial em que ele vê Ashok e o irmão conversando para demiti-lo fazem com que nosso protagonista tome uma medida muito radical, que é a de matar o seu chefe e roubar uma dessas muitas malas de dinheiro para ele começar a vida como um empresário empreendedor nesse novo eldorado do mundo que é a Ásia, depois da decadência dos brancos do Ocidente.

Leia a crítica de O Tigre Branco
Ele será um motorista de uma família da elite…

O filme é muito perturbador, exibindo de forma bem contundente todo o preconceito que existe no sistema de castas da Índia, onde uma grande ostentação convive com uma miséria absoluta. Balram, nosso protagonista de origem humilde, se vê entre a exploração dos mais ricos e a tirania de sua avó, que mantinha a família confinada em seu bolsão de pobreza. Balram só vai poder sair da influência da avó se ele se comprometer a sustentar a numerosa família. Quando o empregado faz algo considerado errado pelos patrões, a família rica, que sabe de tudo dos empregados, até para saberem onde irem atrás quando dá algo errado, costuma ir ao vilarejo provocar um massacre. Assim, nosso Balram, de uma forma até perversa, literalmente mata dois coelhos com uma cajadada só ao matar seu patrão. O grande detalhe aqui é por que Balram toma uma atitude tão radical. Ele é tratado como lixo tanto pelos seus pares (a família) quanto pelos que estão acima dele (a elite). E assim, o bom caráter que era, querendo fazer de tudo para ser um bom criado, percebe que, naquela sociedade, para almejar uma posição social maior, a figura do bom samaritano não se encaixa, e acaba corrompido pelo sistema para alcançar um status maior, não sem antes explodir em revolta, tal como um tigre branco, raro e único. E tal tática, ao contrário do que pode parecer, acaba dando certo, sendo este o único caminho que Balram tinha para poder alcançar seus objetivos.

O Tigre Branco: Longa baseado no best-seller de Aravind Adiga ganha seu  trailer. Veja! - Home | SiriNerd
… e vai correr atrás de seus objetivos, sendo único e raro como um tigre branco…

Dessa forma, “O Tigre Branco” tem uma história muito cativante, que mantém o público interessado nela constantemente, sendo digna da indicação a roteiro adaptado que levou. Seria interessante se tal filme, ambientado na Índia, com questões caras àquele país, ganhasse a premiação.

Batata Movies – Quando Desceram As Trevas. Segunda Guerra, Espionagem E Noir.

Ministry of Fear - Wikipedia
Cartaz do Filme

Ainda falando dos filmes da fase americana de Fritz Lang, vamos analisar hoje “Quando Desceram As Trevas” (“Ministry of Fear”, 1944). Esse é mais um filme “Noir” de Lang, enfocando uma história de espionagem ocorrida na Inglaterra durante a Segunda Guerra Mundial, com direito a espiões e bombardeios nazistas. Para podermos conversar sobre essa película, vamos liberar os spoilers de setenta e seis anos.

New Blu-rays: 'On Approval' and 'Ministry of Fear' - The New York ...
Stephen Neale. Um homem que será envolvido numa trama internacional…

O plot é o seguinte. Stephen Neale (interpretado por Ray Milland), passa seus últimos momentos internado num manicômio psiquiátrico, depois de ser condenado a uma pena nesse estabelecimento por ser acusado de matar a esposa. Na verdade, a esposa padecia de um câncer e sofria muito com a doença, sendo que Stephen comprou veneno para aliviar sua dor, mas não teve coragem de ministrá-lo. Entretanto, sua esposa tomou o veneno mesmo assim, condenando o marido a uma pena no manicômio. Agora, fora da prisão, Neale vai para Londres, uma cidade sob bombardeios alemães. Mas nosso protagonista prefere o agito da cidade mesmo em perigo à solidão. Antes de chegar à estação de trem, passa por uma festinha local, onde inocentes senhoras arrecadam fundos de forma beneficente. Mal sabe Neale que elas fazem parte de uma rede de espionagem nazista e, depois da consulta com uma vidente, descobre o peso de um bolo que estava sendo oferecido a quem adivinhasse seu peso. Feliz da vida, nosso Neale leva o seu bolo, sem saber que existe nele um microfilme com segredos militares ingleses. Ao pegar o trem, um velho “cego” o acompanha. Mas o trem para por causa de um bombardeio nazista e o velho o ataca para tomar o bolo, fugindo do trem. Neale o persegue e o velho atira uma pistola contra ele. Mas o velho é atingido por uma bomb e morre. Ao chegar a Londres, Neale procura a instituição beneficente que organizou a festa e ele conhece os amáveis irmãos Willi (interpretado por Carl Esmond) e Carla Hilfe (interpretada por Marjorie Reynolds) e comunica o que aconteceu. Willi o leva para a casa da vidente com que Neale teve contato, mas lá ele vê que se trata de outra mulher, que faz uma sessão mediúnica onde um dos convidados é morto com um tiro depois que apagam as luzes. Como Neale soltou as mãos das pessoas durante a escuridão e ele estava armado, ele acaba sendo declarado o suspeito e foge com a ajuda de Willi. Agora, Neale terá que provar sua inocência e, ao mesmo tempo, desvendar toda a trama de espionagem nazista que ele ainda nem sabe que está acontecendo.

Ministry of Fear (1944) | The Criterion Collection
Um casal pouco convincente…

Lang foi convidado para dirigir esse filme, baseado numa história de Graham Greene que ele gostava muito, mas odiou o roteiro escrito. Mesmo assim, por ética profissional, assumiu a direção. Talvez seja por tudo isso que a história é um pouco enrolada e até enfadonha. O momento da sessão mediúnica só serviu para incriminar Neale, mas a Scotland Yard nem soube do ocorrido, procurando nosso protagonista como suspeito de outro crime, a morte de um investigador que ele contratou e que foi morto pelos espiões nazistas. A falsa vidente (interpretada pela bela Hillary Brooke) parecia que ia ter um destaque maior no filme, mas somente apareceu em mais um momento com o protagonista, sendo pouquíssimo aproveitada. O romance entre Neale e Carla até teve seus momentos de construção, mas pareceu um corpo estranho à história. Ou seja, tivemos aqui alguns floreios (ou barrigas) que tornaram tudo meio confuso, ainda mais para uma película de duração relativamente reduzida (pouco mais de oitenta minutos). Pelo menos, Lang brincou bem com o claro/escuro, sobretudo na sequência de ação final do filme, onde o tiroteio era feito ora sob escuridão completa, ora sob a luz de uma escadaria de um prédio, onde víamos os espiões nazistas. A piada final do bolo foi até engraçadinha, mas um tanto forçada, para coroar um filme que o próprio Lang não gostava muito (ele disse que, anos depois, ao ver o filme na TV, ele adormeceu).

Ministry of Fear (1944) – MUBI
Uma personagem pouco aproveitada…

Assim, “Quando Desceram As Trevas” poderia até ser um filme bom caso o roteiro não fosse um pouco enrolado, roteiro esse que nem Lang gostou muito. Pelo menos o diretor ainda conseguiu salvar um pouco o filme, trabalhando bem o claro/escuro e enxertando algumas boas cenas de ação. Mas há filmes “Noir” bem melhores que esse na carreira do diretor. Infelizmente, não há o filme facilmente à disposição na íntegra. Fiquem com o trailer abaixo.  

Batata Movies – Vive-se Só Uma Vez. Condenação Pública.

You Only Live Once (1937 film) - Wikipedia
Cartaz do Filme

Dentre os filmes da fase americana de Fritz Lang, falemos de sua segunda produção nos Estados Unidos, “Vive-se Só Uma Vez” (“You Only Live Once”, 1937). Esse é um filme que traz Sylvia Sidney de volta fazendo uma parceria com Henry Fonda, que deu muito certo, diga-se de passagem. Para podermos falar desse filme, os spoilers de oitenta e três anos.

Adventures in Blu-ray: You Only Live Once (1937) – Thrilling Days ...
Um casal na mira da justiça…

O plot é o seguinte. Eddie Taylor (interpretado por Henry Fonda) está saindo da prisão pela terceira vez, sendo advertido que, caso volte por algum crime, será provavelmente condenado à morte. Praticamente ninguém tem esperanças de que ele se recupere, exceto sua namorada, Joan Graham (interpretada por Sidney). Os dois procuram começar uma vida nova, onde eles vão dar entrada na compra de uma casa e Taylor começará um emprego numa transportadora como motorista. Mas um único atraso num dia de trabalho foi suficiente para que seu patrão o botasse na rua, muito em função do preconceito contra Hnery ser um ex-presidiário. Pouco tempo depois, acontece um assalto a um banco com bombas de gás lacrimogênio e seis pessoas morrem. O chapéu de Eddie aparece como uma espécie de prova. Ele procura Joan e diz que é inocente, com o seu chapéu sendo utilizado por um ex-comparsa de crimes para incriminá-lo. Eddie diz que precisa fugir mas Joan acha que ele precisa se entregar, já que é inocente. Ele se entrega, mas acaba sendo condenado à morte, não querendo mais falar com Joan. Mas esta vai visitá-lo na prisão, proposta a qualquer coisa para ajudá-lo. Eddie pede então que ela traga uma arma para ele. Joan consegue a arma mas não consegue entregá-la, pois fica retida no detector de metais. Um padre amigo de Eddie, que está com ela na visita, consegue convencer os policiais a não revistá-la e, depois que saem do presídio, o padre pede que ela entregue a arma. Mas Eddie conseguirá um revólver com um amigo de prisão e faz um médico de refém. Quando os dois estão na porta da prisão, prestes a saírem, é chegada uma mensagem ao diretor do presídio, com um indulto a Eddie, pois o verdadeiro culpado do assalto a banco apareceu, sendo realmente o ex-compassa de Eddie, que apareceu morto no fundo de um rio com o carro forte (ele sofrera um acidente na fuga). Mas Eddie não acredita nisso e acaba alvejando seu amigo padre, matando-o. Ao sair da prisão, ele acaba sendo ferido pela polícia e vai procurar Joan. Os dois tornam-se fugitivos da polícia, com Joan grávida, dando à luz durante a fuga. Joan ainda consegue se encontrar com sua irmã para entregar o bebê para pegar a criança de volta depois que atravessarem a fronteira. Mas os dois são alvejados e mortos pela polícia quando já estavam bem perto. Moribundo, Eddie escuta uma voz dizendo que ele finalmente está livre.

Pin en A Monster (Frankenstein)
Lang traz mais uma vez o belo claro/escuro herdado do cinema alemão…

Esse segundo filme de Lang nos Estados Unidos mostra a continuação de Lang de sua preocupação com questões sociais do país que ele começava então a trabalhar. Dessa vez, vemos aqui a impossibilidade de alguém que cometeu crimes e delitos de recomeçar a sua vida mesmo depois que cumpre sua pena, pois a sociedade, eivada de todo um preconceito contra ex-criminosos, não acolhe aqueles que querem se recuperar. O próprio Lang instiga o espectador a lidar contra seus próprios preconceitos quando do momento do assalto ao banco, onde não sabemos se podemos confiar ou não nas palavras de Eddie, que alega sua inocência. Afinal de contas, ele já foi condenado três vezes, parecendo pouco provável que nosso protagonista falasse a verdade. Mas, realmente Eddie não mentia e era inocente, desta vez sendo condenado injustamente à morte. O grande problema é que ele já estava tão barbarizado por tudo o que havia ocorrido que ele não acreditava mais que havia recebido um indulto, matando uma das poucas pessoas que ainda confiava nele, o seu amigo padre, para sacramentar toda essa tragédia social. Mas a coisa ainda poderia piorar, pois Eddie e Joan foram implacavelmente caçados pela polícia, sendo mortos como animais bem próximos da fronteira. Ou seja, se Lang ainda opta pelo “happy end” em “Fúria”, em “Vive-se Só Uma Vez” o desfecho é trágico. Nunca houve escapatória para Eddie. Se ele tentava recomeçar sua vida de forma digna e honesta, a sociedade não o permitiu, tratando-o de forma bárbara. E, quanto mais maltratado Eddie o era, mais ele caía na barbárie, o que somente retroalimentava a barbárie da sociedade contra ele, levando tudo a um beco sem saída, onde a morte era a única alternativa. Lang assim mostrava mais uma vez seu pessimismo com relação ao humano.

You Only Live Once – Senses of Cinema
Um amor entre grades…

Dessa forma, “Vive-se Só Uma Vez” é uma grande obra de Lang, mostrando todo o seu talento e sua visão de mundo pessimista em Hollywood, mais afeito a histórias assépticas e felizes com o objetivo de entretenimento. O realismo cru de Lang seria uma grande contribuição para o cinema americano e mundial, lançando uma série de películas reflexivas. Infelizmente, não temos esse filme na íntegra. Fiquemos com o trailer abaixo.