Batata Movies – O Desprezo. Odiando A Brigitte Bardot.

O desprezo (1963) | Cineminha Zumbacana
Cartaz do Filme

Vamos fazer aqui um pequeno parênteses nos filmes de Fritz Lang, mas nem tanto. Falemos de uma obra de Jean Luc Godard, “O Desprezo” (“Le Mépris”, 1963), onde o diretor alemão interpreta ele mesmo, sendo aqui mais uma curiosidade na carreira de Lang, embora ele não tenha, nesse filme, um protagonismo. Pareceu muito mais uma homenagem de Godard ao cineasta do que qualquer coisa. Para podermos falar desse filme, vamos liberar os spoilers de cinquenta e sete anos.

Revoir Le Mépris | Premiere.fr
Paul e Camille. No início, tudo parecia ir bem…

A trama se passa em volta de um casal, Camille (interpretada por Bardot) e Paul (interpretado por Michel Piccoli). Ela, uma datilógrafa que abandonou a profissão para se casar. Ele, um dramaturgo que está escrevendo um roteiro sob contrato. O filme é produzido por um americano, Jeremy Prokosch (interpretado por Jack Palance) e que vai ser dirigido por Fritz Lang. Tudo corre às mil maravilhas com o casal, até que eles vão ao set de filmagens e Prokosch quer levá-los para beber algo, mas não há vagas no carro dele para todos. Paul deixa sua esposa ir juntamente com Prokosch sozinha com ele e arruma outro jeito para ir ao local da tal bebida demorando cerca de meia hora para chegar. Quando Paul chega lá, sua esposa muda da água para o vinho no trato para com ele. Camille se torna arredia, grosseira e despreza o marido. Toda essa situação vai continuar no resto do relacionamento dos dois, que acaba ruindo de vez. O grande detalhe aqui é que o filme tem como tema a saga de Ulisses, que também tem o seu relacionamento com Penélope abalado, onde podemos ver paralelos da adaptação da História Grega no roteiro com a vida de Paul e Camile.

A hora da xepa - Link - Estadão
Mas com o tempo, tudo muda…

Confesso que nunca morri de amores por Godard. E juro, de pés juntos, que faço um esforço desgraçado para me aprofundar mais em suas obras e recursivamente tento ver seus filmes. Mas parece que meu santo não bate com o dele mesmo, pois achei esse filme uma DR infindável e insuportável, a ponto de se odiar a Brigitte Bardot. Ponto para ela, pois se mostrou uma grande atriz. Mas foi cansativo e extremamente agônico esse embate entre Paul e Camille, sendo que esta última ficou irredutível quando Paul cedeu a ela um lugar no carro de Prokosch. Teria ele querido não mostrar ciúmes? E se ele fosse ciumento e possessivo, Camille gostaria? Ou então, Camille achou que ele a estava usando para conseguir favores de Prokosch? Bem neurótico, como podemos ver. E, por mais que Paul tentasse entender o que acontecia na cabeça de Camille, ela se mostrou totalmente irredutível, a ponto de acabar com o relacionamento de uma hora para outra, algo que não parece minimamente racional ou até crível. Aí fica por conta do romance escrito por Alberto Moravia. Agora, pior do que essa DR um tanto sádica e mal explicada, foi o desfecho. Camille escreve uma carta comunicando a Paul que está o deixando e seguindo com Prokosch para Roma. Na estrada, depois de passar por um posto de gasolina, o carro bate num caminhão provocando a morte dos dois, tal como se isso fosse um castigo, uma punição tanto para Camille por ter sido cruel com Paul quanto como para Prokosch por ter ficado de olho na mulher dos outros. Fina ironia de uma moral cristã? Sabe-se lá.

O DESPREZO | Cinema em Cena - www.cinemaemcena.com.br
Camille passa a desprezar severamente Paul…

E Lang? Apesar de sua posição periférica na película, gostei muito dele, pois Lang representava o cinema puro, contra os interesses meramente econômicos de Prokosch. E, toda vez que pintava uma querela no filme, seja nas diferenças de ponto de vista de Lang e Prokosch ou até no dilema conjugal entre Paul e Camille, o diretor somente levantava os dois braços como se quisesse dizer: “fazer o que, né?”.

Morre o ator francês Michel Piccoli, aos 94 anos - Jornal O Globo
Uma DR insuportável…

Mas o que mais marcou foram as palavras do diretor condenando o crime passional, afirmando que a morte não resolve nada nesse sentido, pois se o homem traído mata a mulher amada, ele fica sem ela, e, se mata o amante, a mulher passa a odiá-lo, e o homem traído fica sem ela também. Tal pensamento só aumenta a ironia do desfecho do filme, com a morte acidental de Prokosch e Camille, além do fato de que Paul desiste de escrever o roteiro, que o fazia por Camille e para dar um conforto financeiro maior para a mulher. Paul larga o set de filmagem depois de se despedir de Lang e vai voltar para a sua atividade de dramaturgo, onde ele realmente se realiza.  

O DESPREZO – Cinemarden
Lang tem ótimos momentos, apesar de sua posição mais periférica no filme…

Dessa forma, se “O Desprezo” mostra uma DR que beira o insuportável e está presente em grande parte do filme, pelo menos as discussões e embates do cinema como arte e como atividade econômica são bem pertinentes, além de termos a oportunidade ímpar de ver Lang atuando (confesso que, para mim, ele não foi mal; há um mito de que os diretores são péssimos atores, não vi isso aqui), onde sua reflexão sobre o crime passional teve um destaque no filme. É por isso que tal película está na minimostra de Fritz Lang que a Batata Espacial faz para o público cinéfilo. E você pode ver esse filme de Godard na íntegra abaixo.

https://www.youtube.com/watch?v=ITHTbewUF-c

Batata Movies – No Silêncio De Uma Cidade. A Guerra Pelo Quarto Poder.

While the City Sleeps (1956) DVD, NEW!! Dana Andrews, Rhonda ...
Capa de uma edição em DVD

Mais um filme da fase americana de Fritz Lang. “No Silêncio de uma Cidade” (“While the City Sleeps”, 1956) nos mostra uma verdadeira guerra pelos louros da liderança no quarto poder, ou seja, a imprensa. Um ambiente que mostra até onde a ética pode ser jogada para escanteio em nome da competição. Para podermos falar desse filme, vamos precisar liberar os spoilers de sessenta e quatro anos.

While The City Sleeps Year 1955 Director Fritz Lang Dana Andrews ...
Um baita de um elenco. Da esquerda para a direita: Ida Lupino, Dana Andrews e a louríssima Rhonda Fleming…

O plot é o seguinte. Há um serial killer pela cidade de Nova York matando moças jovens e bonitas. Isso será noticiado na grande mídia, sobretudo no conglomerado de comunicações de Amos Kyne, que reúne jornais, canais de TV e outras mídias. Mas Amos está radicalmente doente e acaba morrendo, mesmo sob os cuidados de sua enfermeira Miss Dodd (interpretada por Celia Lovsky), a T’Pau de Jornada nas Estrelas, no episódio “Amok Time”). O filho de Amos, Walter Kyne (interpretado por um jovial Vincent Price sem bigode), assume o conglomerado. Walter não tem muita experiência no ramo mas decide criar um cargo de megadiretor executivo de todo o conglomerado e três funcionários em posições estratégicas do conglomerado, e que eram vistos com muito zelo por Amos terão que mostrar ao novo patrão todas as suas competências para serem escolhidos por Walter para o tal megacargo. Eles são: Mark Loving (interpretado por George Sanders), John Day Griffith (interpretado por Thomas Mitchell) e “Honest” Harry Kritzer (interpretado por James Craig). Essa será uma competição selvagem por esse alto posto, para o deleite de Walter e para a indignação de nosso protagonista, o âncora de telejornal Edward Mobley (interpretado por Dana Andrews). Nessa disputa, Mobley ficará mais ao lado de Griffith, embora, inicialmente, ele não escolhesse alguém especificamente. O mote da disputa entre os funcionários era solucionar o caso do serial killer. E quem tinha mais recursos para isso era justamente Mobley, pois ele tinha contatos bem sólidos na polícia. Para isso, nosso protagonista bonachão vai usar como isca a sua namorada, Nancy Liggett (interpretada por Sally Forrest), que é a secretária de Loving. Existem outros elementos que vão apimentar ainda mais essa história, como o caso entre Kritzer e Dorothy (interpretada pór Rhonda Fleming), que é a esposa de Walter Kyne, e a presença da sensual e voluptuosa Mildred Donner (interpretada pela irresistível Ida Lupino), que funciona como uma espécie de espiã para os funcionários que disputam o megacargo, lançando mão até de sedução e favores sexuais.

While the City Sleeps Blu-ray Release Date March 13, 2018 (Warner ...
Mobley vai usar a namorada Nancy como isca…

Esse é um filme que tem uma série de atores que despertam nossa atenção. Além dos nomes principais e de Celia Lovsky, o serial killer é interpretado pór ninguém mais, ninguém menos que John Barrymore Jr., filho de um ator da fase muda que dispensa apresentações e pai de Drew Barrymore. A mãe do serial killer é interpretada simplesmente por Mae Marsh, que trabalhou nos primórdios do cinema com o famoso diretor David Wark Griffith em filmes como “Intolerância”. Mas podemos dizer aqui que a grande vedete da película é realmente a história, baseada em mais um roteiro adaptado que, assim como o imortal “Cidadão Kane”, fala de um magnata das comunicações e seu conglomerado. Mas aqui o grande chefe brinca em sua jovialidade arrogante com funcionários que seu finado pai tinha em grande estima. E os meandros dessa disputa exibem as entranhas do conglomerado onde funcionários assustados com a perda de seus empregos competem de uma forma feroz pelo novo cargo, ao bom estilo da sociedade capitalista americana, com exceção de Kritzer, que já tinha preocupações suficientes em acobertar o caso com a esposa do chefão.

While The City Sleeps (1956) | Fritz Lang's underrated film noir ...
Juntando os cacos no bar, depois da disputa insana por um cargo…

O personagem de Mobley aqui é um caso curioso, pois ele repudia a falta de ética de Walter ao criar essa disputa mas, ao mesmo tempo, lança mão de elementos pouco virtuosos como colocar sua namorada Nancy (a única personagem totalmente virtuosa da película) como uma isca para atrair o serial killer e, como se não bastasse, flertasse com Mildred, mesmo sabendo que ela era o fazia para lhe arrancar informações em benefício de Loving, chegando bem perto de ir para a cama com ela. Na verdade, só não o foi, pois bebeu que nem um condenado, ainda achando que não tinha feito nada demais quando Nancy ficou revoltada da vida com ele (ecos da sociedade ultramachista da década de 50). Ou seja, Mobley é o personagem ambíguo que já vimos em vários filmes “Noir” de Lang por aqui. Mildred, por sua vez, é a fêmea fatal também reaparecendo. O leitor sentiu falta das “culturas primitivas”? Dê então uma olhadinha na decoração da sala da casa de Walter, com motivos orientais. Adicione a trama policial pelos assassinatos e podemos dizer que esse filme realmente se aproxima do “Noir”, embora haja pouco claro/escuro por aqui.

While the City Sleeps - Fritz Lang
Making of!!!! Lupino, Andrews e Lang debatem a cena…

Dessa forma, “No Silêncio de uma Cidade” é mais um filmaço de Lang, onde disputa capitalista é a personagem principal, que conta com um baita de um elenco, seja ele nos atores principais, seja ele nos atores coadjuvantes, e ainda temos novamente elementos do cinema “Noir”. Vale a pena procurar em DVD (infelizmente, não o achei completo no Youtube dessa vez, fique com o trailer abaixo).

Batata Movies – Sepulcro Indiano. Culturas “Exóticas”.

O Sepulcro Indiano (1959) | Cineplayers
Cartaz do Filme

Mais um filme de Fritz Lang, agora em sua volta à Alemanha, depois de anos nos Estados Unidos. “Sepulcro Indiano” (“Das Indische Grbamal”, 1959) é a continuação de “O Tigre de Bengala” (“Der Tiger Von Eschnapur”), a partir de uma ideia conceciba conjuntamente por Fritz Lang e sua esposa Thea Von Harbou, cuja parceria rendeu, na década de 20, filmes como “Os Nibelungos” e o próprio “Metrópolis”, indo bem na vibe da paixão de Lang pelas chamadas culturas “primitivas” do Oriente. Para podermos falar sobre essa película, vamos liberar spoilers de sessenta e um anos.

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Fugindo da perseguição do marajá, com uma teia de aranha de deuixar o Peter Parker com inveja…

Bem, “Sepulcro Indiano” começa dando um pequeno resumo de “O Tigre de Bengala” para contextualizar o espectador. O plot fala de um arquiteto, Harold Berger (interpretado por Paul Hubschmid) que chega à Índia para fazer obras para um marajá local, Chandra (interpretado por Walter Reyer). À caminho do castelo, Berger salva a dançarina Seetha (interpretada por Debra Paget) do ataque de um tigre. Os dois se apaixonam, mas Seetha já está prometida ao marajá. Os dois fogem, sendo perseguidos pelos homens do marajá, Paralelamente, o irmão do marajá pretende tomar seu trono e inicia uma conspiração.

Dvd Sepulcro Indiano (1959) Fritz Lang Debra Paget - R$ 19,37 em ...
Uma dança sensual perante os sacerdotes no templo de Shiva

É um filme muito imerso na cultura indiana e que tem tons de uma produção bem cara. Há todo um ritual para a deusa Shiva, onde a sequência em que Seetha dança perante uma serpente, um tanto risível, impressiona, entretanto, por todo o contexto. Uma gigantesca estátua da deusa ornamenta o cenário. E o ritual, assistido pelos sacerdotes, que procura atestar a fidelidade da moça perante o marajá, mas também a toda a cultura local, mostra um verdadeiro conflito de poder entre o marajá e os sacerdotes, onde o primeiro está cego de ódio pela traição, colocando seus interesses particulares sobre os da coletividade. Ao final, quando o marajá se vê diante de um golpe arquitetado pelo seu irmão, mas recupera o poder depois, ele pode testemunhar as atitudes louváveis de Berger e abre mão de seu poder, tornando-se o assistente do ancião e sábio local, que já o havia alertado que a única atitude que o marajá poderia tomar perante o caso de Seetha era a humildade e resignação. No mais, temos um bom filme de ação, onde cenas de luta e perseguição tornam o filme até bem contemporâneo aos olhos das gerações de porrada, bomba e tiro. Lembrando sempre que temos aqui cenários e figurinos simplesmente esplêndidos, que nos dão a boa impressão de uma produção feita com muito cuidado e tato. Fica aqui a curiosidade de ver uma história desse naipe sob a óptica do cinema expressionista alemão, já que foi uma ideia concebida originalmente por Lang e Harbou.

Foto de O Sepulcro Indiano - O Sepulcro Indiano : Foto - AdoroCinema
Uma produção muito bem cuidada, de figurino impecável…

Dessa forma, se a gente não consegue ter uma ideia inicial do que é a obra completa “O Tigre de Bengala/Sepulcro Indiano” (lembremos que estamos inicialmente, nessa mostra de Fritz Lang na Batata Espacial, garimpando todos os filmes de Lang legendados ou dublados em português no Youtube, e não achamos “Tigre de Bengala”), pelo menos a análise de “Sepulcro Indiano” nos dá uma boa impressão dessa produção alemã que segue muito a linha dos filmes de ação, mas com uma roupagem das culturas consideradas “exóticas” pelos europeus, de que Lang tanto gosta e que ele muitas vezes menciona em seus filmes. É de se notar o respeito do diretor por essas culturas ao ver o desfecho do marajá que aceita as palavras serenas e coerentes do ancião local. Vale a pena uma olhada na película na íntegra abaixo, mostrando a versatilidade desse diretor cuja obra permeia boa parte da História do Cinema.

https://www.youtube.com/watch?v=WV4Hp73UpmA

Batata Movies – Guerrilheiros Das Filipinas. A Guerra No Pacífico.

Guerrilheiros das Filipinas - 1950 | Filmow
Cartaz do Filme

Mais um filme de Fritz Lang. “Guerrilheiros das Filipinas” (“American Guerrilla In The Philippines”, 1950)é mais um filme do vastíssimo repertório de películas de Segunda Guerra Mundial, abordando, desta vez, a guerra do ponto de vista do front do Oceano Pacífico, onde os Estados Unidos tiveram grande participação. Lembrando que este é um filme que foi rodado em 1950, ou seja, quando a guerra já havia terminado. Lembrando que os spoilers de setenta anos estão liberados.

Guerrilleros en Filipinas [American Guerrilla in the Philippines ...
Palmer. Perdido num país controlado pelos japoneses…

O plot é o seguinte. O Japão invade as Filipinas, forçando a retirada das tropas americanas. Mas alguns militares americanos ficaram para trás, obrigando-os a sobreviver em condições adversas e a se esconder dos japoneses. Dentre eles, temos Chuck Palmer (interpretado por Tyrone Power), que tem planos de arrumar um barco e seguir para a Austrália, para se juntar aos militares americanos e voltar à guerra. Nesse ínterim, ele conhece Jeanne Martinez (interpretada por Michelle Presle), que, apesar de sua origem francesa, abraçou a nacionalidade filipina e diz que Palmer que não pretende fugir. Palmer, por sua vez, consegue o tal barco, que logo será destruído pelas monções, sendo obrigado a retornar às Filipinas. Ele andará escondido pelas florestas com mais um punhado de soldados americanos, planejando arrumar outro barco para ir par a Austrália até que encontra Juan Martinez (interpretado por Juan Torena), o marido de Jeanne Martinez. Juan diz que pode arrumar um barco falando com um militar filipino que resiste contra os japoneses e que está em contato com outros americanos que fazem um movimento de guerrilha. Palmer acaba se envolvendo com a guerrilha de forma que ele não pode sair mais e entra na resistência contra os japoneses até a chegada de Macarthur no arquipélago, três anos depois.

Filme: Guerrilheiros Das Filipinas (American Guerrilla in the ...
Um barco rumo à Austrália…

O filme, em seu início tem letreiros que explicam que a película foi rodada nas Filipinas, com o apoio de seu governo e das forças armadas, cujos líderes foram ativos no movimento de guerrilha contra os japoneses, além de agradecimentos ao Departamento de Defesa dos Estados Unidos. Ou seja, esses letreiros já dão um grau de legitimidade ao que vemos no filme, pois vemos o registro de um feito relativamente recente. A película deixa bem claro que, não fosse a investida de Macarthur no último momento, a guerrilha não teria a menor chance contra o exército japonês. De qualquer forma, o filme tem lances muito curiosos como, por exemplo, toda a montagem de uma estrutura para que o movimento de resistência pudesse existir, onde baterias velhas eram vistas como ouro, pois elas poderiam ser reaproveitadas para se estabelecer um sistema de rádio, o que possibilitou o contato até com os Estados Unidos, ou o uso de arames farpados para se estabelecer um sistema de telégrafo. Um miniestado foi estabelecido numa cidade filipina, com direito a impressão de jornais e até de uma moeda local.

MICHELINE PRESLE, TYRONE POWER, AMERICAN GUERRILLA IN THE Stock ...
Jeanne será seu par romântico…

É claro que aqui os japoneses foram representados como a vilania a ser superada e varrida da face da Terra. Se em “Os Carrascos Também Morrem”, os nazistas tinham cara e procedimentos ultrajantes em toda a sua venalidade, aqui os japoneses são vistos de forma mais caricata reduzidos a uma truculência militarista incompreensível, onde só um oficial se comunica com os personagens da história, mas sempre de forma ameaçadora. O leitor mais atento pode perguntar: e o amor pelo exotismo asiático que Lang sempre nutriu? Podemos ver nas Filipinas como um todo, onde vemos as populações das aldeias locais e seus hábitos, com danças típicas na sequência da festa, assim como a beleza das florestas e paisagens.

Filme - Guerrilheiros das Filipinas (American Guerrilla in the ...
Luta aberta…

Dessa forma, “Guerrilheiros das Filipinas” é outro filme de Fritz Lang, mais um a abordar a temática da Segunda Guerra Mundial, agora na frente do Pacífico, com direito a filmagem nas próprias Filipinas. Um filme que fala de uma resistência conjunta entre americanos e filipinos contra o fascismo e o imperialismo japoneses. Vale a pena assistir a película na íntegra abaixo.

https://www.youtube.com/watch?v=L7JVKHBI7qI

Batata Movies – Os Carrascos Também Morrem. Um Povo Contra O Nazismo.

Resenha #45 – Os Carrascos Também Morrem (Hangmen Also Die, 1943 ...
Cartaz do Filme

Mais um filme da fase americana de Fritz Lang. “Os Carrascos Também Morrem” (“Hangmen Also Die”, 1943), pode ser considerado um filme todo especial do diretor, pois ele é baseado numa história que Fritz Lang escreveu com ninguém mais, ninguém menos que Bertolt Brecht. Uma história de resistência do povo tcheco contra a invasão nazista.  Lembrando que os spoilers de setenta e sete anos estão liberados.

Cinema Rosa: Os carrascos também morrem – Fundação Rosa Luxemburgo
Svoboda, fugindo da perseguição dos nazistas…

O plot é bem simples e foi baseado numa história real. O administrador nazista da Tchecoslováquia é conhecido por ser um carrasco cruel do povo tcheco. Ele acaba sendo assassinado pela resistência tcheca, o que faz com que a Gestapo, a polícia secreta nazista, comece uma caçada. Os nazistas prendem várias pessoas para pressionar a população, promovendo fuzilamentos até que o autor do atentado apareça. Ele é o Doutor Franticek Svoboda (interpretado por Brian Donlevy), que se esconde na casa do historiador Stephen Novotny (interpretado por Walter Breenan). Isso vai envolver a família do historiador, que é seguidamente presa e interrogada pelos nazistas. O filme, portanto, será todo um rosário de situações onde o povo tcheco terá que lidar com a pressão e a truculência dos nazistas até que estes encontrem o assassino.

Filme: Os Carrascos Também Morrem (1943) | Filmes, Títulos de ...
Masha tomará consciência da luta, ameaçando até seu noivado…

Se tem uma coisa que a dupla Lang/Brecht conseguiu fazer aqui é colocar no espectador um ódio muito grande contra os nazistas. Poucas vezes vimos uma truculência tão crua num filme de Segunda Guerra Mundial que, como já dissemos aqui várias vezes, tem um repertório muito vasto. Por um outro lado, a união do povo tcheco contra o nazismo se torna um personagem à parte. E isso tem uma explicação. Esse é um típico filme de propaganda, pois à época em que ele foi realizado (1943), a guerra ainda não havia terminado e era uma prática no cinema americano se fazer filmes onde eram exaltados povos que lutavam efetivamente contra o nazismo naquele momento. Ou seja, podemos dizer que tais filmes eram uma espécie de propaganda exaltando a luta contra o nazismo. Quando a União Soviética passou para o lado dos aliados, por exemplo, foi feito um filme exaltando a resistência do povo ucraniano na luta contra o nazismo (“Estrela do Norte”, 1943). Ou seja, os comunistas eram bem vistos no cinema americano quando eram aliados na época da Segunda Guerra Mundial.

As obras de Brecht no cinema - Tribuna do Norte
A herança expressionista de sombras como personagens ameaçadores…

Embora a população tcheca tenha sido exaltada como bastião de resistência, o filme é claro em mostrar como as táticas desumanas dos nazistas de repressão tinham êxito em dividir a população. Vemos, por exemplo, Svoboda numa baita de uma crise de consciência ao ver muitos inocentes sendo executados por causa do homicídio que ele cometeu, a ponto de Svoboda querer se entregar aos nazistas, algo que somente não aconteceu pois ele foi dissuadido por seus companheiros, pois o ato de Svoboda se entregar significava que os nazistas ganhariam em sua pressão. A filha de Novotny, Masha (interpretada por Anne Lee), também passou pela transição de uma personagem que queria entregar o assassino para salvar o pai para uma cidadã tcheca que era consciente de sua resistência, sofrendo a dura pena de ver seu pai ser executado, mas com a consciência tranquila de que resistia ao nazismo.

Filme - Os Carrascos Também Morrem (Hangmen Also Die!) - 1943
Masha e Svoboda vão lutar para encobrir o verdadeiro assassino…

Apesar das pressões nazistas, a união da população tem sua grande exaltação quando ela trabalha conjuntamente para incriminar um cervejeiro que era um agente nazista e vigiava os passos da resistência. Ao final, ficou claro que os nazistas sabiam que o cervejeiro não era o culpado, mas ele foi o bode expiatório conveniente para ficar a impressão de que os nazistas tiveram êxito na investigação. Só devemos nos lembrar que os reais assassinos do administrador alemão se suicidaram quando perceberam que o cerco nazista se fechava cada vez mais.

Fritz Lang faz 125 anos | Veja todo o conteúdo audiovisual ...
Svoboda será convencido a não se entregar….

Dessa forma, “Os Carrascos Também Morrem” é um filmaço de Fritz Lang, que pode falar com conhecimento de causa sobre o nazismo e trouxe sua visão sobre o conflito europeu para o cinema americano com grande competência e a ajuda do grande Bertolt Brecht. Vale a pena assistir o filme na íntegra abaixo.

https://www.youtube.com/watch?v=lT899HzlE-8

Batata Movies – Conquistadores. Mais Um Western De Fritz Lang.

Os Conquistadores - 21 de Abril de 1941 | Filmow
Cartaz do Filme

Mais um filme de Fritz Lang. “Conquistadores” (“Western Union”, 1941) fala da saga da instalação da linha de telégrafo de Omaha a Salt Lake City e todas as dificuldades a serem superadas nessa empreitada. Mais um film com spoilers (de setenta e nove anos) liberados.

15. Os Conquistadores (Western Union, 1941) | by Ivanildo Pereira ...
Um ladrão que salva sua vítima…

A película começa com um criminoso sendo perseguido. Ele é Vance Shaw (interpretado por Randolph Scott). Seu cavalo não consegue mais levar a cabo a fuga e ele precisa roubar o cavalo de um homem ferido. Ele, com peso na consciência, não consegue deixar o homem para trás e o salva, deixando-o num lugar onde pode receber assistência, e fugindo novamente. O tempo passa e o homem ferido, chamado Edward Creighton (interpretado por Dean Jagger) mostra ser o responsável por instalar a linha de telégrafo da Western Union. Coincidentemente, ele se reencontra com Vance Shaw, contratando-o para trabalhar. Edward tem uma irmã, a bela Sue Creighton (interpretada por Virginia Gilmore), que será disputada por Shaw e pelo recém-chegado Richard Blake (interpretado por Robert Young), que também vão se tornar amigos.

15. Os Conquistadores (Western Union, 1941) | by Ivanildo Pereira ...
Todas as dificuldades para instalar uma linha de telégrafo…

Mas a empreitada da instalação dos fios do telégrafo pelo velho oeste não será algo fácil. Uma tribo indígena não vai aceitar a instalação da linha por suas terras, o que vai obrigar Edward a fazer uma missão diplomática para conversar com o chefe, tendo Shaw como intérprete. Mas o pior problema será um grupo de mercenários do Missouri, cujo líder é irmão de Shaw, e que trabalham para os exércitos confederados do sul, onde eles vão fazer de tudo para que a linha de telégrafo yankee da Western Union não consiga ser instalada. Shaw vai ficar numa tremenda saia justa ante os ataques da gang de seu irmão e vai perder a confiança de Edward. Shaw, então, vai ter que tomar uma atitude drástica.

Conquistadores (1941) | A Grande Ilusão
Um triângulo amoroso soft…

Se em “O Retorno de Frank James” vimos um Western com outros elementos como a presença marcante da guerra de secessão e um julgamento altamente cômico, “Conquistadores” é um Western mais de raiz, com direito a duelos entre o mocinho e o bandido pela cidade e ataques de índios a brancos. De qualquer forma, o filme mostra alguns elementos interessantes, como o empreendimento de se instalar a linha telegráfica pelos rincões do velho oeste. E o diálogo entre Edward e o chefe índio, tendo Shaw como intérprete. A conversa foi feita em tons bem diplomáticos e dentro dos parâmetros culturais dos indígenas, mesmo que depois os brancos saiam caçoando dos índios. Impossível não se lembrar das alusões às “culturas primitivas” nos filmes de Lang, embora não tenhamos certeza de que isso tenha sido uma influência de Lang (eu acredito que não, pois o cineasta somente dirigiu o filme, não escrevendo o roteiro ou produzindo o filme). Por sua vez, é interessante ver novamente a guerra de secessão influenciando a história do filme, embora um pouco menos que em “O Retorno de Frank James”. Em “Conquistadores”, a guerra serve como um pretexto para colocar Shaw e seu irmão em pólos opostos, onde a linha de telégrafo acaba sendo ameaçada. O filme ainda teve um bom alívio cômico com Slim Summerville interpretando Herman, o cozinheiro que não queria estar na expedição e passava pelas situações mais engraçadas.  

antologia do esquecimento: WESTERN UNION (1941)
Lang na direção…

Dessa forma, “Conquistadores” é um filme Western mais raiz de Fritz Lang, embora traga a curiosidade da instalação da linha de telégrafo, o alívio cômico do cozinheiro, a guerra de secessão como um elemento a dividir dois irmãos e a interessante conversa diplomática entre brancos e índios. Vale a pena dar ma conferida no filme na integra abaixo.

Batata Movies – O Retorno De Frank James. Um Western De Estado Dividido.

O Retorno de Frank James - Filme 1940 - AdoroCinema
Cartaz do Filme

Voltemos a falar da fase americana de Fritz Lang, analisando as incursões do diretor no Western. “O Retorno de Frank James” (1940) nos dá a oportunidade de ver Lang trabalhando com Henry Fonda num filme que extrapolava o próprio gênero do Western, abordando, de forma divertida, temas da História dos Estados Unidos como a guerra de secessão. Para podermos falar dessa película, vamos lançar mão de spoilers de oitenta anos.

O Retorno de Frank James – 1940 – (Trial Áudio/Dublado) – Bluray ...
Frank James vai vingar o irmão, Jesse James, de uma morte covarde…

O plot gira em torno do tal Frank James (interpretado por Fonda), irmão do lendário Jesse James, que foi assassinado pelos irmãos Ford, antigos companheiros de confiança nos crimes e que mataram Jesse James pelas costas. Escondido num rancho, Frank James não quer saber muito de confusão e não vai se meter a caçar os assassinos, confiando na justiça, para desespero de Clem (interpretado por um jovem Jackie Cooper, que seria o Perry White do filme do Super Homem de Christopher Reeve), filho de um dos membros da quadrilha de Jesse, que havia ficado sob a proteção de Frank. Quando os irmãos Ford são condenados à forca mas perdoados por McCoy, o político local, Frank sai à caça dos irmãos Ford, mandando que Clem fique no rancho. Mas o rapaz sai às escondidas e se encontra com Frank justamente quando ele assalta um posto da estrada de ferro. O funcionário acaba morrendo de um tiro que vem de fora do posto, dado pelos policiais do xerife. Frank vai para Denver, no Colorado, onde espalha a notícia de sua morte, com a ajuda de Clem, despertando o interesse da aspirante a jornalista Eleanor Stone (interpretada por Gene Tierney). A caçada aos irmãos Ford continua e Frank consegue perseguir um e trocar tiros com ele. Mas a munição de Ford vai acabar e ele, que está no alto de um penhasco, perde o equilíbrio e cai, morrendo, sem Frank alvejá-lo. De volta a Denver, Frank fica sabendo por Eleanor que seu criado negro, Pinky (interpretado por Ernst Whitman) foi condenado à forca pelo assalto ao posto da estrada de ferro, quando nem estava lá. Num primeiro momento, Frank sai à caça do segundo irmão Ford, mas muda de ideia e volta para a cidade natal, onde Pinky será enforcado. Frank será preso em flagrante e julgado. Ele acaba absolvido pelo júri, apesar de haver um complô para condená-lo, e o outro dos irmãos Ford, acreditando na condenação de Frank, vai ao tribunal assistir ao julgamento. Quando Frank é inocentado, o irmão Ford sai correndo e troca tiros na rua com Clem, que é mortalmente ferido. Ford se esconde num celeiro e Frank vai atrás dele, mas Ford também está ferido e tomba morto. Frank consegue sua vingança sem acertar um tiro sequer nos algozes de seu irmão. O filme termina com Frank se candidatando a um cargo público na cidade onde mora e fazendo uma promessa velada a Eleanor de que vai voltar a Denver para vê-la.

COOPER,FONDA, THE RETURN OF FRANK JAMES, 1940 Stock Photo - Alamy
Frank James com Clen (Jackie Cooper, o Perry White do “Superman”, de Christopher Reeve)

Quando vemos Fritz Lang fazendo um Western, é claro que não se trata de um filme “Noir”. Mas não devemos deixar de mencionar algumas cenas noturnas no filme que lembram o subgênero policial, assim como a questão do crime, do julgamento e do personagem ambíguo que é Frank James, o homem que quer abandonar a vida de crimes, confiando na justiça, mas quando a vê que esta é manipulada no perdão aos irmãos Ford, retorna aos velhos tempos de malfeitos na sua busca por vingança, voltando a roubar e a perseguir assassinos para fazer a justiça com as próprias mãos. Foi a força das circunstâncias que fez nosso protagonista ver a sua vingança sendo realizada sem sujar as mãos.

O Retorno de Frank James – 1940 – (Trial Áudio/Dublado) – Bluray ...
Eleanor, uma aspirante a jornalista. Empoderamento feminino…

O filme teve um momento estupendo e muito inteligente, que foi o julgamento de Frank James. Aqui, as querelas da guerra de secessão, que já haviam acontecido, ajudaram a determinar os rumos do julgamento. Frank James era um ex-soldado confederado, assim como seu advogado, o divertido Major Rufus Cobb (interpretado por Henry Rull). O promotor, um yankee típico, acabou sendo o pretexto para que o julgamento de Frank se tornasse uma guerra norte-sul, com o juiz, também, sulista, tendo que mediar os conflitos. A batalha retórica entre a promotoria e a defesa foi escrita de forma muito inteligente, lançando mão do humor, algo que não esperamos, à princípio, num Western. O pouco caso de Frank para com o andamento do julgamento expressava claramente a pouca credibilidade de um tribunal de um Estado ainda com sequelas de divisão, que jamais poderia ser justo, ainda mais porque Frank sabia que ele e seu irmão eram perseguidos na cidade. De qualquer forma, a questão da guerra pesou para o júri, que vinha a intervenção da estrada de ferro, provavelmente yankee, na sua região, como mais um fator a decidir a favor de Frank.

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Julgamento, a melhor sequência do filme…

Dessa forma, “O Retorno de Frank James” é mais um bom filme de Lang a ser apreciado, pois ele ultrapassa os limites do Western, lançando mão de falas bem escritas e engraçadas na cena do julgamento, que usam a guerra de secessão como um elemento de relevância a se decidir o veredicto. Além disso, sempre é bom rever Henry Fonda. Não deixem de assistir à película dublada abaixo.  

https://www.youtube.com/watch?v=eT7n0rvL-Tk&t=65s

Batata Movies – Desejo Humano. Uma Estranha Demonização.

MOVIE POSTERS: HUMAN DESIRE (1954)
Cartaz do Filme

Mais um filme da fase americana de Fritz Lang. “Desejo Humano” (“Human Desire”, 1954), além de apresentar a rara situação de ter a tradução literal em português do título original, é mais uma história adaptada, dessa vez de um romance de Émile Zola (“La Bête Humaine”). O claro/escuro aparece mais uma vez, assim como uma referência rápida à cultura japonesa. Mas, dessa vez, vemos um forte drama psicológico usando um assassinato como pano de fundo. Mais uma vez, os spoilers, agora de sessenta e seis anos estão liberados.

Human Desire (1954) -- (Movie Clip) That's Railroadin'
Jeff (esquerda). Um maquinista de volta da guerra

Qual é o plot da história? Vemos aqui o personagem Jeff Warren (interpretado por Glenn Ford), um ex-combatente da Guerra da Coreia que consegue retornar à sua vida antiga de maquinista de trem. Jeff está muito feliz com seu retorno e ao convívio com os seus. Ele tem um amigo chamado Carl Buckley (interpretado por Broderick Crawford) que acabou de ser demitido e pediu para a sua esposa, Vicki (interpretada por Gloria Grahame, conversar com John Owens (interpretado por Grandon Rhodes), um rico empresário que pode influenciar o patrão de Carl a devolver seu emprego. Entretanto, Vicki não queria fazer isso, pois ela já foi criada na casa de Owens e tinha que se entregar a ele para que o patrão a mantivesse junto com sua mãe. Ao pedir um favor para Carl, a coisa não foi diferente. O problema é que Carl desconfiou que tivesse acontecido algo entre Vicki e Owens. Dessa forma, Carl agrediu Vicki violentamente e planejou o assassinato de Owens com o auxílio forçado de Vicki, dentro do vagão de um trem em viagem, sendo que Carl obriga Vicki a forjar uma carta convidando Owen para um encontro que seria a armadilha para a morte de Owen. A carta também seria usada por Carl para chantagear Vicki, pois a carta incrimina a moça e mantê-la com ele. Ao saírem do local onde Owen foi assassinado por Carl, o casal viu Jeff e Carl obrigou Vicki a despistá-lo, atraindo-o para o bar, o que fez com que Jeff se apaixonasse por Vicki. No fim da viagem, Carl e Vicki se encontram com Jeff e este último finge que nada ocorreu. O corpo de Owen é encontrado e, na investigação, Jeff não cita que viu Vicki no depoimento para incriminá-la. Jeff e Vicki começam um romance às escondidas e, aos poucos, Jeff descobre tudo o que ocorreu. Os dois, então, planejam a morte de Carl, mas Jeff não consegue matá-lo. Vicki acreditava que Jeff podia fazê-lo, mas, segundo o próprio Jeff, matar um soldado inimigo desconhecido é bem diferente de matar um bêbado que tem nome e rosto. Jeff percebe que Vicki o estava usando para se livrar de Carl e desfaz o namoro, entregando à Vicki a carta que a incriminava, pois Jeff a tomou de Carl, que novamente perde o emprego, fazendo Vicki ir embora, se afastando definitivamente de Carl. Na viagem em que Vicki vai embora, e onde Jeff conduz o trem, Carl está no trem e implora para Vicki ficar com ele. Esta se nega e humilha Carl, que a mata estrangulada.

Human Desire (1954) – The Movies I have seen!
Jeff vai se apaixonar por Vicki…

É um filme muito perturbador, pois se a personagem Vicki é vitimizada num primeiro momento, ela é demonizada num momento posterior. A moça não queria rever Owen, pois sabia que o adultério aconteceria, mas, para ajudar o marido a recuperar o emprego, ela acaba sendo obrigada a ir para depois ser agredida violentamente pelo próprio marido morto de ciúmes, que ainda a envolve num homicídio e a chantageia com uma prova forjada contra ela. Para se livrar de tudo isso, Vicki usa Jeff, talvez a única opção que ela tivesse, sendo, por isso demonizada. Mesmo que a postura de Vicki não tenha sido das mais virtuosas, ficou parecendo a uma certa altura do filme que as atitudes de Vicki foram muito mais torpes do que a do próprio Carl, onde o adultério teve um peso muito forte, sendo condenado até por Jeff, e onde a história insinua que as atitudes de Carl poderiam até ser justificadas em virtude do adultério, pois seriam executadas por um homem verdadeiramente apaixonado. Tais visões de mundo são muito estranhas aos olhos de hoje, ainda mais porque vemos Vicki sendo severamente castigada por suas atitudes, sendo estrangulada ao final do filme. Todas essas características do filme revelam um tratamento muito desproporcional no que se refere à forma como Vicki e Carl são vistos na película. E, se o filme foi rodado há mais de sessenta anos, não podemos nos esquecer que a história é baseada num romance de Zola, mais antigo ainda.

Human Desire (Fritz Lang 1954) | another film blog
Sinais de agressão. Mas isso não impede a demonização de Vicki na história…

Dessa forma, “Desejo Humano” é mais um filme de Lang que vai dessa vez abordar um drama mais psicológico com um juízo de valor baseado numa visão de mundo considerada por nós antiga, provocando estranhamentos. Temos aqui uma vítima que é demonizada, muito em função de se tratar de uma mulher que comete adultério. Um filme bem perturbador para nossos padrões atuais. Mas vale a pena vê-lo na íntegra abaixo.  

https://www.youtube.com/watch?v=_mquP9Lw9JE