Batata Movies – X Men Fênix Negra. Sinistro, Carregando Nas Tintas.

Cartaz do Filme

E estreou o novo X-Men, Tem sido há muito ventilado nas redes sociais de que esse filme seria ruim, já era um fracasso antes mesmo de sua exibição, etc., etc. Eu, como fã do Universo dos mutantes e, ainda mais, fã, daquilo que é chamado de “Primeira Classe’, ou seja, uma geração mais prequel da coisa, preferi esperar pela película em si e não embarcar nessa maré de pessimismo. Veio o filme e fui conferi-lo no cinema. Vamos precisar, mais uma vez, dos spoilers.

De dar medo…

E o que foi que eu vi? Uma coisa bem diferente do que a gente tem visto ultimamente. Esse é um X-Men com um sabor muito sombrio, o que foi a grande virtude da película. Mas talvez, também, o seu grande defeito, já que o diretor Simon Kinberg parece ter errado na mão nesse clima tão sinistro. Digo, desde já, que não conheço muito de quadrinhos e posso ser injusto aqui, mas houve coisas que incomodam no filme, e muito. Se a coisa era tirar o espectador da zona de conforto, a história do filme foi digna de um golpe de mestre. Mas foi impossível não torcer o nariz para algumas coisas.

Uma mulher atormentada…

Bom, o plot é o seguinte: os X-Men precisam salvar um ônibus espacial que está em pane no espaço, depois que uma explosão solar (a cerca de cento e cinquenta milhões de quilômetros do Sol, essa foi difícil de engolir), ameaçava a nave. Mas não era explosão solar coisa nenhuma e sim uma fonte estúpida de energia alienígena. No resgate dos astronautas, Jean Grey (interpretada por Sophie Turner) é atingida por tal massa de energia e começa a ter comportamentos agressivos, usando o seu poder descomunal (qualquer iniciado em X-Men sabe do poder da Fênix) de uma forma muito descontrolada.

Xavier na berlinda…

Esse poder teria destruído o planeta de uma espécie alienígena que quer controlá-lo e a Fênix era a sua melhor chance até agora para isso. Só não se entende por que essa é uma espécie tão agressiva sem motivos aparentes. Capitaneada por Vuk (interpretada por uma pálida e esquálida Jessica Chastain), tal espécie fará de tudo para controlar a Fênix que, tomada pelo poder e muito atormentada por vozes e visões, tem uma postura altamente agressiva que provoca muita destruição.

Mística. Fim fútil…

Não sei até que ponto essa origem de todo esse poder e malignidade da Fênix numa fonte alienígena tem base nas histórias originais dos quadrinhos. De qualquer forma, soou diferente da Fênix Negra que vimos na outra geração dos X-Men, o que pode ser considerado uma virtude. Entretanto, a história traz coisas um tanto perturbadoras. A morte de Mística, por exemplo, feita de uma forma tão fútil. A mesma Mística que discordava dos métodos empregados por Xavier para tornar os mutantes mais aceitáveis para o grande público, levando-os a missões extremamente perigosas, tal como se fosse uma realização pessoal de Xavier que mal se arriscava. Essa vertente sombria da história criminaliza Xavier fortemente, justamente o líder do grupo, que sofre um desgaste exagerado e muito perturbador, culminando com sua aposentadoria da escola. Ou seja, um desfecho demasiadamente melancólico para um personagem tão importante. Mas as perturbações não param por aí.

Cadê o Mercúrio???

Foi muito desconfortável ver Fera e Magneto se unirem em sede de vingança para matar Jean Grey, pois ela foi a responsável pela morte de Mística, mulher cobiçada pelos dois varões. Tal atitude pode até ser esperada de Magneto, que vive em sede de vingança, mas nunca de Fera que, me perdoem o trocadilho, foi demasiadamente “bestializado” no filme, e no mal sentido da palavra. O que era esperado mesmo aqui foi justamente a morte de Jean Grey em seu desfecho, se bem que creio que poderia se ter arriscado uma saída em que ela sobrevivesse. Outro detalhe negativo que chama a atenção foi o total desaparecimento de Mercúrio depois de um certo tempo de exibição. A sua ausência foi muito sentida na sequência final do trem, por exemplo.

Uma Fera bestializada…

Duas virtudes do filme são resumidas em dois nomes: Chastain e Fassbender. A primeira foi uma excelente aquisição. Chastain em seu cabelo louríssimo e sua pele totalmente alva estava fantasmagórica e a maldade de seu personagem pairava sobre a película com tons de alma para lá de penada, sendo uma boa vilã.

Fassbender sensacional como sempre…

E Fassbender, bom esse é hors concours. Seu Magneto é mais ressentimento que ódio, numa mágoa afundada em melancolia que é capaz de gestos nobres, como na sequência final em que convida Charles para uma partida de xadrez num Café de Paris depois da aposentadoria do professor. Eu sou muito suspeito para falar da amizade dos dois, que é uma coisa que eu amo de paixão e o que mais gosto em X-Men. Mas creio que esse derradeiro final ajudou um pouco a esquecer os problemas e inquietações do filme.

Uma Chastain fantasmagórica…

Chegando ao final dessas linhas, fica ainda a dúvida derradeira: “Fênix Negra” é um bom filme? Posso dizer que gostei do clima sombrio, mas lamentei demais a forma como se carregou nas tintas nesse clima, pois apareceram situações muito perturbadoras, como os comportamentos do Fera e do Xavier. Pelo menos Fassbender foi o Magneto de sempre e Chastain trouxe um charme especial a uma espécie alienígena de comportamento inverossímil. Recomendo, apesar dos pesares.

Batata Movies – Millennium, A Garota Na Teia De Aranha. Saem Abusos, Entram Ogivas.

Cartaz do Filme

Mais uma franquia. “Millennium, A Garota Na Teia De Aranha”, traz Claire Foy (que trabalhou em “O Primeiro Homem”), dando sequência à sua personagem Lisbeth Salander, que tem como diversão principal tripudiar, e muito, de homens que maltratem mulheres. Só que, dessa vez, a moça precisa tirar de mãos erradas (leia-se Estados Unidos), um software que aciona ogivas nucleares, que acabam parando em mãos mais erradas ainda. Sanders será contratada pelo próprio cientista que desenvolveu o software para que se possa dar um fim no perigoso programa de computador cobiçado por muita gente. Para piorar toda a situação, a máfia russa (que são as tais mãos mais erradas ainda) tem em seus membros sua irmã, a única mulher que Lisbeth não salvou dos abusos que ela sofria do próprio pai, o que vai rolar uma mágoa complicada entre as duas.

Lisbeth Sanders. Grande presença…

Para quem gosta de ver machistas e misóginos entrando na porrada, o filme acaba sendo uma decepção total. O trailer meio que vende a ideia de que Lisbeth sairá defendendo mulheres indefesas. Mas infelizmente, esse não foi o caso. Assim, o filme recai numa compilação de cenas de ação que já estamos carecas de ver por aí e fica uma coisa meio enfadonha, embora a gente nunca deva esquecer de mencionar que Foy sempre aparece notável nesses filmes.

Uma porradinha no misógino, mas fica por aí…

O filme até tem uma trama de espionagem que cativa um pouco e, talvez, seja a grande atração do filme, com alguns plot twists, o que não deixa a coisa ficar apenas pautada na ação e no tiro, porrada e bomba.  Mas, mesmo assim, o filme infelizmente não empolga muito não, o que é uma grande pena.

Uma irmã como inimiga…

Dessa forma, “Millennium, A Garota Na Teia De Aranha”, infelizmente é um filme de ação banal, que a gente consome e descarta logo depois. Uma forma de entretenimento puro e simples que não apresenta nada de extraordinário que deixe essa película para a posteridade. Tiroteios, explosões, perseguições de carros, pancadarias, uma fórmula já batida. É até chato a gente constatar isso, pois a história e a personagem têm potencial para mais do que vimos na telona. Um filme para apenas rodar as engrenagens da indústria cinematográfica, fazer dinheiro e ficar depois esquecido numa promoção de DVDs nas lojas.

Batata Movies – Aladdin. Com CGI, Mas À Moda Antiga.

Cartaz do Filme

A Disney lança mais um live action inspirado em suas animações consagradas. É a vez de “Aladdin”, que conta com o grande nome de Will Smith no elenco. Lembro-me que quando foi noticiado nos facebooks da vida que ele seria o gênio, algumas pessoas torceram bem o nariz e criticaram. Mas é aquela coisa: Will Smith já está naquele panteão de atores em que você vai ao cinema somente para vê-lo. Como era dito em tempos pretéritos: vou ao cinema para ver o ator tal, nem que ele (ou ela, na maioria das vezes) esteja com uma melancia pendurada no pescoço e com a bunda pintada de vermelho. Bom, no caso aqui, Smith está pintado de azul.

Aladdin. Uma excelente caracterização…

Creio que todo mundo já deva conhecer a história de Aladdin (embora eu confesse que ainda não a conhecesse em sua plenitude). Uma coisa aqui chamou bastante a atenção: é uma história que tem uma lição de moral em torno dos três desejos do gênio da lâmpada, pois três desejos nunca parecem ser suficientes. Mas é justamente nesse ponto que reside a lição de moral, já que, ao ser confrontado com a possibilidade de realizar três desejos, o amo em questão vai tomar uma atitude insaciável perante à vida, além de muito arrogante.

Um vilão clássico…

É como se os três desejos entorpecessem a pessoa com um sentido de poder e soberba. E aí, o negócio é ser você mesmo e correr atrás dos seus objetivos na vida. Aladdin passou por todos esses estágios na película, tendo a figura do gênio como grande amigo, gênio esse que nunca havia sido tratado como amigo por qualquer amo pregresso, que pensava no próprio umbigo quando pedia os desejos e nunca libertava o gênio dos grilhões de realizar desejos (o gênio só poderia ficar livre se seu amo desejasse isso). Tal lição de moral é o grande barato da película.

Uma princesa empoderada na medida certa…

Mas o filme teve outros momentos marcantes. O que chama muito a atenção é o quê de musical inerente às produções da Disney. Se bem que, aqui, tivemos um sabor de musicais antigos, com coreografias muito bem ensaiadas (será que foi CGI???) e um figurino espetacular, muito colorido e lindo. Para este escriba, que ama os tempos de Astaire, Rogers, Kelly, Sinatra e muitas outras figurinhas carimbadas dos musicais de outrora, todo esse cuidado com a produção foi um colírio para os olhos.

Um Will Smith azul…

E o elenco? Era Smith e mais dez, como costuma-se dizer por aí. A apresentação do personagem do gênio foi até um tanto boba, mas, com o tempo, a química entre Aladdin e o gênio trouxe momentos muito bacanas e engraçados, além de ser o sustentáculo da lição de moral explicitada acima.

Dois amigos do peito e da fumaça…

Mena Massoud, o Aladdin em questão, estava muito vivaz no papel e foi um parceiro à altura de Smith, uma tarefa difícil. Outro destaque foi Naomi Scott, que interpretou a princesa Jasmine. Em tempos de empoderamento feminino, a moça teve um momento marcante na película, onde a coisa não ficou exagerada nem fora de tom, convencendo o chefe da segurança do Sultão, pai de Jasmine, a não obedecer ao grande vilão da história, Jafar (interpretado por Marwan Kenzari). Tudo na base da conversa e da diplomacia. Jasmine era uma mulher preocupada com seu povo e queria liderá-lo e protegê-lo da guerra, ao contrário do belicista Jafar. Ou seja, Jasmine não ficou somente como uma princesinha da Disney ao bom estilo “Wi Fi Ralph”.

O elenco do filme numa pose, digamos, mais descontraída…

Dessa forma, “Aladdin” é mais uma produção da Disney que merece toda a nossa atenção, dado o talento dessa grande empresa de entretenimento que sempre joga para ganhar. Se há efeitos especiais em CGI (sobretudo com araras e macacos), o filme tem um sabor de musicais antigos bem produzidos com preocupações com cores e figurinos.

A sequência mais bonita do filme…

Alguns momentos pareciam, no bom sentido da palavra, com desfiles de escola de samba, dadas a explosão de cores e roupas. E tem o Will Smith, que mesmo azul é o máximo. Um programa imperdível.

Batata Movies – A Espiã Vermelha. Vovó Guerra Fria.

Cartaz do Filme

Mais uma curiosa história real retratada no cinema. “A Espiã Vermelha” nos lança uma questão perturbadora. A película insinua (alerta de spoiler) que a Guerra Fria que manteve União Soviética e Estados Unidos num campo de igualdade no contexto nuclear durante décadas foi forjada por uma cientista inglesa que compartilhou com a União Soviética informações nucleares para gerar o equilíbrio entre as potências e frear a guerra.

Revivendo o passado…

Vemos aqui a trajetória de Joan Stanley (interpretada por Judi Dench na velhice e por Sophie Cookson na juventude), uma senhora que recebe a visita da polícia que a intima a um interrogatório por ser acusada de traição contra a Inglaterra. Durante o interrogatório, temos um flash-back que explica o que aconteceu. Joan era estudante universitária de Física na juventude, se envolvendo com estudantes de esquerda que depois se revelam espiões da União Soviética no Ocidente.

Uma jovem metida com átomos e espionagens…

Ao mesmo tempo, Joan passa, sem perceber, a fazer parte do Programa Nuclear da Inglaterra, que busca a construção da bomba atômica. Leo (interpretado por Tom Hughes), um dos amigos comunistas de Joan, e que se envolveu com ela amorosamente, tenta convencê-la de compartilhar os segredos nucleares dos ingleses com os russos, mas Joan rechaça tal atitude com muita veemência, pois ela tem plena consciência de que participa de um projeto altamente confidencial.

Passando um aperto nos interrogatórios…

Entretanto, Joan irá mudar de ideia quando os Estados Unidos conseguem explodir a sua primeira bomba e, mais tarde, destroem as cidades de Hiroshima e Nagazaqui. A partir daí, ela compartilha os segredos nucleares com os espiões russos, pois acredita num equilíbrio entre as futuras superpotências como um expediente para evitar mais uma guerra.

Amigos espiões…

Essa é uma história surpreendente, ainda mais porque a gente tem uma espécie de “mãe” da Guerra Fria aqui. Vista como uma traidora por seu país, Joan se via como uma espécie de salvadora da própria humanidade ao buscar uma forma de evitar mais guerras, ainda mais numa época em que guerras mundiais em sequência massacraram demais gerações inteiras. Assim, o filme tem a coragem de relativizar o papel de uma personagem real acusada de traição.

… e uma paixão…

Quando temos uma atriz do naipe de Judi Dench, a gente sempre espera que ela tenha o maior tempo de tela possível. Infelizmente, isso não ocorre aqui. Já que temos uma história em flash-back, Sophie Cookson teve uma presença maior e não foi mal, com uma atuação bem convincente. Dench, como não podia deixar de ser, rouba a cena nos momentos em que aparece. Mas tivemos também uma boa atuação de Stephen Campbell Moore, no papel do cientista Max Davis, chefe de Joan no Projeto Nuclear, mas também seu amante muito apaixonado, que passou por momentos de altos e baixos emotivos, além de fazer no início um austero chefe.

Um austero e apaixonado chefe…

Assim, “A Espiã Vermelha” é um filme que merece muito a atenção do público, pois chama a atenção para o importante fato histórico de que Joan Stanley, uma ilustre desconhecida, teve um papel marcante na gênese da Guerra Fria. Ainda, é uma história bem instigante com boas atuações de Judi Dench, Sophie Cookson e Stephen Campbell Moore. Vale a pena dar uma conferida.

Batata Movies – Duas Rainhas. Absolutismo, Reforma E Machismo

Cartaz do Filme

Um interessante filme histórico que terá aqui muitos spoilers. “Duas Rainhas” aborda a conturbada relação entre Inglaterra e Escócia à época da Rainha Elisabeth, da Inglaterra, e a Rainha Mary Stuart, da Escócia. Parentes muito próximas (eram primas), uma acabava sendo ameaça ao poderio da outra. E, como se não bastasse esse problema, ainda havia o explosivo ingrediente da religião, pois Elisabeth era anglicana (a rainha era filha de Henrique VIII, fundador dessa religião protestante) e Stuart era católica. Interpretadas por Margot Robbie (Elisabeth) e Saoirse Ronan (Stuart), essas duas rainhas jamais haviam se visto e tiveram que enfrentar um machismo violento da época em que uma mulher manter sua autoridade absoluta sobre uma corte totalmente masculina era um enorme desafio.

Uma rainha em busca de muito poder…

Fica, também, muito clara a posição de inferioridade da Escócia perante à Inglaterra, se bem que a maior oposição que Stuart recebeu veio de seu próprio país, sobretudo na figura de seu irmão James (interpretado por James McArdle) e nas ferozes investidas do líder anglicano local, que subverteu completamente a opinião pública contra a rainha. O país chegou a ter um arremedo de guerra civil, com os dois irmãos lutando em lados opostos. Outros aspectos referentes à cultura de Antigo Regime são abordados, tais como conspirações e tramoias políticas, assassinatos violentos em nome de preceitos morais e defesa da honra e, principalmente, a questão de casamentos arranjados para costurar acordos políticos, numa época onde público e privado muito se confundiam.

Ela vai liderar movimentos contra os ingleses, mas enfrentará um guerra civil…

Infelizmente, o desfecho foi muito trágico para Stuart: ela teve que abdicar do trono em função de sua alta impopularidade e acabou exilada na Inglaterra, sob os cuidados de Elisabeth, até ser condenada à morte em 1587, acusada de conspirar contra a vida da Rainha da Inglaterra. Pelo menos seu filho James I se tornou o primeiro Rei da Inglaterra e Escócia unidas, já que Elisabeth (conhecida como a Rainha Virgem) não deixou herdeiros.

O irmão pode se revelar um verdadeiro inimigo…

O filme também deixa clara um certa falta de tato por parte de Stuart de negociar com todos os varões do macrocosmos político do período, muito provavelmente por ter que afirmar sua autoridade absoluta num meio totalmente machista, o que a levava a errar a mão nas negociações (em momentos pontuais, onde ela precisava ser um pouco mais diplomática, ela batia o pé e buscava afirmar a sua autoridade, o que acabou provocando situações demasiadamente espinhosas).

A Rainha Virgem (que medo…)

E as atrizes que interpretaram os papéis protagonistas? Ronan teve muito mais tempo de tela do que Robbie, ficando bem mais exposta. Pela característica impetuosa de sua personagem, parece que a atuação de Ronan em alguns momentos chegou perto do exagerado, embora ela tenha segurado bem a sua responsabilidade de protagonista principal. Ronan teve que fazer um desenvolvimento muito mais complexo da atuação, pois havia momentos em que ela era a monarca compreensível, a monarca autoritária e intolerante, ou a mocinha que trocava confidências com suas camareiras. Já Robbie fez uma personagem bem mais solene, com poucos momentos de fraqueza, além da maquiagem de Elisabeth ajudar a provocar um tremendo impacto visual (houve momentos em que Robbie dava medo!). Ou seja, pareceu que Robbie teve uma tarefa um pouco mais fácil que a de Ronan.

Momentos prosaicos de moça…

Dessa forma, “Duas Rainhas” é um bom filme histórico, altamente recomendável, pois podemos ver toda uma lógica de funcionamento do Antigo Regime, ainda mais num contexto de lutas entre protestantes e católicos, e também uma querela Escócia X Inglaterra, que já produziu outros bons filmes históricos (podemos nos lembrar de “Coração Valente”, com Mel Gibson e, mais recentemente, a boa produção da Netflix “Legítimo Rei”, com Chris Pine). É, também, uma película de duas jovens atrizes com bons desempenhos, sendo que Saoirse Ronan teve muito mais tempo de tela do que Margot Robbie, sem falar que a personagem Mary Stuart era mais complexa que a personagem Elisabeth aqui nesse filme. Vale muito a pena dar uma conferida.

https://www.youtube.com/watch?v=5EBxsgMAUAE

Batata Movies – Vingadores Ultimato. Um Digno Desfecho.

Cartaz do Filme

E finalmente estreou “Vingadores Ultimato”, o filme que dá desfecho a toda uma série de películas do MCU. Desde o clima mórbido imposto por “Guerra Infinita”, havia uma grande expectativa sobre o que aconteceria na película derradeira. Aparentemente, a solução seria bem simples: “só” tomar de Thanos a sua manopla com as joias do infinito e desfazer todo o estrago malthusiano do vilão. O problema seria como tirar essa manopla dele. O detalhe é que o filme não foi por essa solução óbvia e inovou. Vamos falar agora dessa película, lembrando sempre que os spoilers estão liberados aqui.

Um Capitão América amargurado…

O Homem de Ferro foi resgatado pela  Capitã Marvel. Ao retornar à Terra, ele encontra um grupo de heróis sobreviventes muito abalados, mas que precisam de qualquer jeito fazer alguma coisa para reverter a situação provocada por Thanos. Stark não estava em condições emocionais para isso e fica na Terra. Quando os Vingadores chegam ao planeta onde Thanos goza da sua aposentadoria, descobrem que ele destruiu todas as joias do infinito, pois elas tinham se tornado desnecessárias.

Viúva Negra. Sacrifício…

No processo, Thanos ficou seriamente comprometido, tornando-se uma presa fácil para Thor, que decapita o vilão. Entretanto, o gosto de derrota é inevitável, pois era impossível reverter tudo o que havia acontecido. Cinco anos depois, os heróis continuam sua existência vazia num mundo completamente degradado. Entretanto, o Homem Formiga sai de sua espécie de clausura  quântica e ele procura os Vingadores depois de descobrir toda a catástrofe.

O inimigo a ser batido…

Será o Homem Formiga que lançará a ideia de se usar o mundo quântico para realizar a viagem no tempo, pegando as joias do infinito nas épocas pretéritas onde davam o ar de sua graça. Mas a pessoa mais qualificada para empreender a viagem no tempo, Tony Stark, tem agora uma vida prosaica de casado com Pepper e sua filhinha, não querendo muito salvar metade da vida no Universo. É claro que tudo será apenas um charminho e ele ajudará Bruce Banner a criar uma “máquina do tempo”. Bruce Banner, aliás, que apresenta uma versão mais calma e resolvida do Hulk. A partir daí, os Vingadores se reúnem em grupos para buscar as joias. Entretanto, o Thanos do passado descobre o plano e novamente há o risco dele pegar todas as joias do infinito.

Homem de Ferro. Outro sacrifício…

Esse é um filme de praticamente três horas que é diferente dos demais filmes da Marvel. Como essa película tinha o objetivo de dar um desfecho a toda a saga, tivemos uma grande preocupação com a construção de personagens, sobretudo Steve Rogers e Tony Stark. E isso deu um sabor todo especial ao filme. Geralmente um filme de heróis do naipe de Vingadores tem como vedete principal as emocionantes cenas de ação com muitos CGIs. É claro que teremos uma cena épica desse naipe, dando uma solução para toda a crise. Entretanto, o que chama a atenção é que essa sequência de ação está inserida no meio de  duas partes mais lentas e dramáticas que funcionam muito bem. A primeira parte mostra como os heróis ficaram psicologicamente abalados com a derrota, tal como se eles fossem os verdadeiros culpados por metade da população viva do Universo ter perecido. E fica uma tremenda sensação de impotência por não haver o que fazer, até que aparece a segunda chance com a viagem no tempo. Já o segundo e último momento mais dramático, que começa com o funeral de Stark, dará um desfecho a vários personagens e resolve a perda sofrida pelo Capitão América.  Essas duas partes mais lentas prendem demais a atenção do espectador, funcionando maravilhosamente bem, pois temos personagens muito envolventes.

Um pacto de confiança…

Esse é também um filme que optou pelo “happy end”, entretanto de forma relativa, já que três heróis morreram. Ou seja, “Vingadores Ultimato” é também um filme de perdas, muito sentidas ao final. Além do sacrifício de Tony Stark, tivemos, também, o sacrifício da Viúva Negra e a confirmação da morte do Visão, que não retorna neste filme, já que uma das joias estava incrustada em sua cabeça e foi violentamente arrancada por Thanos. Dada toda a querela em torno das joias, infelizmente a volta do Visão acaba sendo mais problemática e terminou descartada. Uma dúvida aqui: o que teria acontecido com Loki, que conseguiu ter acesso a uma das joias do infinito, desaparecendo lá no passado???

Ele está de volta…

A película também teve momentos muito interessantes nas viagens no tempo pela busca das joias. Os heróis retornaram à época de vários filmes da Marvel e cabia ao espectador identificá-los, confiando no conhecimento que o público tinha do cânone. Foi marcante, por exemplo, os encontros de Tony Stark com seu pai e de Steve Rogers com sua amada da década de 40, mesmo que atrás de uma persiana. A luta entre dois capitães América de épocas diferentes trouxe uma marca registrada da Marvel, que é o seu humor de sempre, tendo o seu espaço mesmo num filme de dimensões apocalípticas como esse. Talvez a situação mais tragicômica tenha ocorrido justamente com um Thor beberrão e barrigudo, com uma tremenda cara de Lebovsky, como o próprio Stark atestou.

Capitã Marvel mais poderosa que nunca…

No mais, fica um destaque para os créditos finais, onde os atores principais de todos os filmes da Marvel apareceram. Uau, se essa fosse apenas uma película, teria um megaelenco superestelar!!! Ah, e sim, como é o último filme dessa fase da franquia, não houve cenas pós -créditos.

É o Homem Formiga que dá a sugestão para salvar o dia…

Dessa forma, “Vingadores Ultimato” vem confirmar tudo aquilo que já sabemos da Marvel, ou seja, a sua grande competência para fazer histórias. Algumas análises do filme apontaram para alguns furos de roteiro. Entretanto, quem os não tem? E mais: tais furos são, a meu ver, até perdoáveis, pois a história é tão envolvente que a gente acaba não ligando muito para isso. É a seguinte coisa: viagem no tempo gera uma história que pode ter um alto grau de complexidade, sendo um prato cheio para imprecisões e furos. Nada disso impede que a película tenha grande brilho. Definitivamente, um programa imperdível.

Batata Movies – O Gênio E O Louco. Qual É O Sentido Do Perdão?

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Um filme muito tocante. “O Gênio e o Louco” é uma história sobre a construção de um dicionário. Mas, acima de tudo, é uma história sobre perdão. Até onde vai a sua coragem de perdoar o imperdoável? Como você pode se desvencilhar de mágoas profundas e reconstruir um futuro a partir de sua dor? Dá para perceber que este é um filme que suscita uma reflexão bem pertinente. E isso já é o indicativo de que o filme é bom. Vamos lançar mão dos spoilers aqui.

Um médico perturbado por um trauma de guerra…

O plot é o seguinte. Doutor Minor (interpretado por Sean Penn) é um homem profundamente atormentado. Ele é um veterano da Guerra de Secessão e vive na Inglaterra de perto da virada do século. O doutor teve que, durante a guerra, marcar com ferro quente o rosto de um desertor. Mas nosso médico tem esquizofrenia e passou a ter visões do tal desertor o perseguindo. Por causa disso, ele mata um inocente, pai de seis filhos, e acaba internado num manicômio judiciário. Enquanto isso, o autodidata James Murray (interpretado por Mel Gibson) busca convencer o rígido meio acadêmico de Oxford a empreender a produção do mais ambicioso Dicionário da Língua Inglesa. Para isso, seria necessário fazer uma pesquisa minuciosa da produção literária do idioma em todo o mundo. Murray teve a ideia de pedir que as pessoas enviassem palavras e seus significados em determinadas obras literárias pelo correio. Esse apelo chega aos ouvidos de Minor no manicômio e ele começa a produzir freneticamente, ajudando em muito o trabalho de Murray e levando a uma grande amizade entre os dois. Por outro lado, Minor tenta se redimir do seu crime, ajudando financeiramente a viúva do homem que matou, o que leva a uma aproximação entre os dois que provocará fortes conflitos na mente perturbada do médico e será um empecilho na confecção do dicionário.

Um autodidata com uma missão quase impossível…

Como dito acima, é um filme sobre perdão. O Grande barato aqui é a difícil aproximação entre o doutor e a viúva, que despertou os momentos mais ternos e angustiantes do filme, provocando uma verdadeira montanha russa de emoções no espectador. A coisa foi tratada com uma delicadeza extrema e envolvia demais o público, o que fazia a gente se colocar no lugar do doutor e experimentar com muita intensidade todo o seu sofrimento e sentimento de culpa. Poucas vezes um filme contemporâneo se aproximou tanto dos paroxismos típicos do expressionismo. E, por se tratar de uma história real, o espaço para o happy and não existe aqui, dando um grande tom de legitimidade a todo o conjunto.

O que podemos falar dos atores? Esse é um filme de Sean Penn. Sua atuação foi tão maravilhosa que me arrisco a dizer que Mel Gibson chegou a ser um coadjuvante de luxo. Como ele nos envolvia com sua inigualável competência dramática! Definitivamente, Penn é um ator que precisa estar mais presente em nossas telonas. Já Gibson não comprometeu com um personagem que tinha um imenso obstáculo pela frente, que era o de fazer um trabalho altamente exaustivo (ao fim das contas ele durou décadas) perante um meio acadêmico extremamente arrogante. Ele executou com eficiência todas as nuances emocionais de otimismo e desânimo, também nos envolvendo. Não podemos deixar de dizer aqui que esse também é um filme de fortes personagens femininas. Natalie Dormer fez Eliza Merrett, a viúva, tendo uma enorme química com Penn. Sua personagem era muito forte, inicialmente não aceitando as tentativas de reparação de Minor, mas pouco a pouco se aproximando dele e aceitando seu perdão. Minor a ensina a ler e ela desbrava todo um mundo novo através das palavras cujo acesso é dado pelo algoz de seu marido. Nesse momento, nossa cabeça, tão acostumada a um mundo de ódio, fica a mil, despertando sentimentos muito conflitantes. A outra personagem feminina, Ada Murray (interpretada por Jennifer Ehle), a esposa de James Murray, fez uma mulher que apoiava integralmente o marido em suas ambições e desejos, a ponto de aceitar que ele abandonasse uma carreira segura para embarcar na arriscada jornada do dicionário. Ada ainda teve a coragem de interceder a favor do marido junto ao arrogante meio acadêmico de Oxford. Eliza e Ada se mostram verdadeiras mulheres à frente de seu tempo.

Uma amizade vinda de um dicionário…

Por fim, ainda podemos assinalar mais uma virtude do filme. Ele acaba concluindo que a confecção de um dicionário definitivo é impossível, já que a língua é viva e palavras são inventadas constantemente, como foi demonstrado na conversa entre crianças que aparece ao final do filme.

Qual é o verdadeiro sentido do perdão?

Dessa forma, “O Gênio e o Louco” é um programa obrigatório, pois nos mostra uma incrível história real que fala sobre temas humanos tão caros quanto o perdão, assim como tem uma interpretação memorável de Sean Penn, além de fortes personagens femininas, sem falar que lembra que o idioma é vivo e em constante mutação. Um filme que nos faz muito refletir, o que atesta a sua grande qualidade. Imperdível.

Batata Movies – Nós. Quem É Quem?

Cartaz do Filme

O diretor afro-americano Jordan Peele muito chamou a atenção há algum tempo com seu filme “Corra”, onde ele mesclou o gênero de terror com questões de cunho mais social como o racismo, provando que, ao contrário que nosso senso comum pode dizer, tais gêneros são inteiramente compatíveis, principalmente quando você tem um roteiro bem escrito. Agora, Peele está de volta com o surpreendente “Nós”, lançando mais uma vez mão do gênero de terror. Mais uma vez, os spoilers serão necessários aqui.

Uma mulher atormentada…

O plot é o seguinte. A menina Adelaide Wilson (interpretada por Lupita Nyong’o em sua fase adulta) passeia com os pais por um parque de diversões no longínquo ano de 1986. Num momento de distração do pai, ela se afasta e entra na sala de espelhos do parque, quando encontra uma figura que é igualzinha a ela e não é meramente a sua imagem refletida. Passando para os dias atuais, Adelaide está casada e volta a mesma região para passar férias com a família. Ela se sente muito desconfortável ao retornar para lá e rememorar seu trauma de infância. Na casa onde ficam, que, obviamente, é afastada de tudo, a família de Adelaide recebe uma estranha visita: uma família homicida vestida de vermelho, que é igualzinha a eles. Uma perseguição vai começar, num jogo de gato e rato pela vida e pela morte.

Crise de identidade…

Confesso que não sou muito fã de filmes de terror, acho-os muito bobos, embora alguns vistam essa camisa e descambem para o besteirol, quando a coisa acaba ficando até interessante. O detalhe nas películas de Jordan Peele é que há algo a mais em seus filmes de terror. A crítica social está lá, velada. Quando você tem a si mesmo como seu próprio algoz, por exemplo, há uma ideia de que você, enquanto membro da sociedade, tem uma parcela de culpa sobre as mazelas que ela provoca. É claro que isso tem sido usado mais para um modelo americano, com todas as monstruosidades que os Estados Unidos praticam sendo consequência de sua própria sociedade. Entretanto, creio que tal modelo pode ser expandido para o lado podre de outras sociedades também. É um filme sob nosso lado ruim e nebuloso. Os próprios pares malignos vêm das profundezas, de uma rede de túneis que existem atravessando todos os Estados Unidos, uma interessante informação que a película nos fornece logo em seu início. Foi brilhante também a ideia de associar as criaturas das profundezas ao “De Mãos Dadas Pela América Contra a Fome”, de 1986. Ali podemos interpretar como uma espécie de alusão à hipocrisia da sociedade americana, pois é muito melhor você como indivíduo fazer algo concreto contra a fome do que algo meramente simbólico que não terá efeito prático a curto prazo. Quando discutimos tais questões de uma certa profundidade num filme de terror, vemos como o trabalho de Peele é diferenciado e de como ele reinventa esse gênero, mais ligado ao entretenimento e ao mau gosto de se dar susto nos outros em algo mais reflexivo, com tudo inteligentemente colocado nas entrelinhas. Como se tudo isso não fosse notável, Peele ainda consegue colocar um fenomenal plot twist ao fim da exibição, o que aumenta ainda mais a encucação do espectador. Definitivamente, “Nós” é uma apologia à crise de identidade.

Nyong’o em dose dupla de talento…

E os atores? A mais famosa e maravilhosa é Nyong’o, curiosamente nascida no México, mas africanaça de raiz, o que lhe dá um sabor todo especial à sua grande beleza e talento. Sem dúvida nenhuma, fez o melhor trabalho entre todos do elenco. Ela tinha que ser a mãe que tinha medo de um passado distante e, ao mesmo tempo, a criatura sombria de voz rouca que era a porta-voz dos seres das profundezas. Agora, cá para nós, se pensarmos que todo o elenco principal teve que fazer dois papéis, podemos dizer que houve um grande esforço por parte de todos e um grande desafio de interpretação. Curiosamente, a tarefa mais fácil ficou para os atores que faziam os pais, pois a versão sombria deles era demasiadamente troglodita. Confesso que não entendi porque os chefes de família do mal eram tão brucutus. Por outro lado, foi impressionante a atuação dos dois filhos do casal protagonista, principalmente na sua versão sombria. A menina, Shahadi Wright Joseph, usava muito de sua expressão facial para dar medo. Já o menino, Evan Alex, surpreendeu na linguagem corporal para meter medo, já que seu rosto era coberto por uma máscara. O moleque ficou macabro para chuchu.

De mãos dadas pela América…

Assim, “Nós” é o tipo de filme que o cinéfilo que não dá muita trela para filme de terror (como eu) pode assistir tranquilo, pois o que importa aqui não é o terror explícito do filme, mas toda uma temática social altamente reflexiva que está implícita nas entrelinhas. Jordan Peele gradativamente se consagra mais e mais como um dos grandes diretores de sua geração. Programa imperdível.