Batata Movies – Jogador Número 1. Easter Eggs Em Tempos de Páscoa.

Cartaz do Filme

Estreou, no último dia 29 de março, “Jogador Número 1”, dirigido por Steven Spielberg. Baseado na obra de Ernst Kline, esse filme somente poderia estrear numa quinta-feira santa, pois ele é um Easter Egg por excelência, é o grande filme das referências de todos os tempos, um prato cheio para a cultura nerd, pop e geek.

Wade, fugindo do mundo real com o Oasis…

Mas, no que consiste a história do filme? Estamos no ano de 2045, onde as pessoas mais pobres vivem em favelas construídas com trailers e andaimes amontoados. Tudo é distópico, feio e sujo. Mas há uma luz no fim do túnel: o grande programa de realidade virtual Oasis, uma espécie de videogame onde as pessoas se relacionam com outras através de seus avatares. Wade Watts (interpretado por Tye Sheridan) é uma dessas pessoas, tendo uma vida simultaneamente idílica e desafiadora naquele ambiente virtual. Mas, um belo dia, é anunciada a morte do criador do Oasis, James Halliday (interpretado por Mark Rylance), o grande responsável por esse mundo irreal em que todos se escondem de suas vidinhas reais miseráveis. Mas Halliday deixa uma pequena mensagem gravada, onde desafia todas as pessoas a procurarem três chaves escondidas no Oasis, que abrirão uma espécie de portal que dará todo o controle desse mundo virtual (e muita riqueza) ao vencedor. Todos começam a procura ensandecida pelas chaves, inclusive a poderosa empresa IOI, liderada por Sorrento (interpretado pelo “Diretor Krennic” Ben Mendelsohn). Assim, Wade e seus amigos reais/virtuais irão lutar contra Sorrento e toda a sua ganância pelo controle do Oasis.

Que tal uma voltinha de De Lorean?

Eu disse que o filme é uma espécie de Easter Egg por excelência, já que a película está apinhada de elementos da cultura pop, nerd e geek. Podemos ver, por exemplo, o De Lorean de “De Volta Para o Futuro”, o batmóvel da série “Batman” da década de 60 com o Adam West, a motocicleta do Kaneda de “Akira”, o King Kong como obstáculo intransponível numa corrida cheia de automóveis, e muitas outras referências, inclusive musicais, das décadas de 70 e 80, como “1984”, de Van Halen, ou músicas do Blondie e de Cindy Lauper. Só isso já faz o filme ser um deleite para qualquer marmanjo pré-cinquentão. No mais, parece que temos um imenso videogame rodando um jogo inspirado em RPG, onde algumas questões como o fato de ser melhor você não conhecer pessoalmente o dono do avatar com o qual você interage, são discutidas. O filme também não deixa de ter o seu quê de ação e diversão juvenil, com situações hilárias provocadas pela interação entre o mundo real e virtual.

O avatar de Wade, Parzival, encontra Halliday no mundo virtual…

Uma boa presença no elenco foi a de Simon Pegg, onde ele interpretou Ogden Morrow, um antigo amigo de Halliday com quem acabou tendo alguns problemas de relacionamento. Aliás, esse é um detalhe bastante interessante do filme, pois para resolver o enigma das três chaves, Wade tinha que estudar detalhes da vida pessoal de Halliday, onde a vida do criador do Oasis ocupava uma parte central do RPG eletrônico, numa mostra do real invadindo o virtual (geralmente vemos o oposto).

Spielberg em ação!!!

Assim, “Jogador Número 1” é mais um divertido filme de Spielberg, que busca fazer projeções para o futuro. Só não sei dizer ainda se essas projeções são utópicas ou distópicas, pois há argumentos suficientes no filme para validar as duas hipóteses. De qualquer forma, o filme é um bom entretenimento e vale a pena dar uma conferida.

 

Batata Antiqualhas – Spock e Leonard. Dualidade que se Completa (Parte 21)

Spock da era J. J. Abrams

Após o sexto filme,  mais uma vez ficou uma sensação de encerramento de “Jornada nas Estrelas” por Nimoy. Mas ele foi convidado a participar do sétimo filme, onde Kirk morreria. Ao ler o roteiro, Nimoy percebeu que Spock apenas teria uma aparição rápida, sem qualquer função na história. Ao discutir isso com o produtor Rick Berman, ele simplesmente alegou que não tinha tempo para mexer no roteiro. Nimoy, então, declinou do convite. De Forest Kelley se recusou a trabalhar no filme, pois Nimoy não trabalharia. E o intérprete do Dr. McCoy ainda falou que teve uma boa despedida em “Jornada nas Estrelas 6”. Para que estragar isso?

Passando o bastão para Zachary Quinto…

Nimoy não se arrependeu de sua decisão, desejou boa sorte à sua equipe de produção e seguiu sua vida adiante. Participou de mais séries de tv, interpretando e dirigindo. Nimoy também fez incursões na fotografia (onde fez um belo ensaio fotográfico feminino inspirado em “Shekkinah”, a versão feminina de Deus na tradição judaica) e na poesia. Nimoy manteve uma vida muito ativa e produtiva.

As orelhas pontudas sempre fizeram parte de sua imagem…

Em 2009, foi chamado para novamente interpretar Spock na versão de J.J. Abrams de “Jornada nas Estrelas”, agora na figura de um embaixador, como seu pai o fora (na verdade, Spock já tinha sido embaixador no episódio “Unifcação”). Em abril de 2010, Nimoy anunciou que não faria mais o papel de Spock, passando o bastão para Zachary Quinto. Nimoy ainda participou com sua voz em alguns filmes, como “Transformers”, documentários científicos, séries de tv como “The Big Bang Theory”, onde ele dá voz a um “action figure” de Spock e até jogos de vídeo game. Nimoy ainda faria uma derradeira interpretação de Spock, numa rápida participação em “Jornada nas Estrelas, Além da Escuridão”, de J. J. Abrams. Em fevereiro de 2014, foi diagnosticada sua doença pulmonar obstrutiva crônica, provocada pelo cigarro. Depois disso, ele se internou em hospitais várias vezes, até se internar definitivamente, no dia 19 de fevereiro de 2015, no UCLA Medical Center, para aliviar suas dores.

Seu conhecido livro de fotografias…

Leonard Nimoy morreu no dia 27 de fevereiro de 2015, com a idade de 83 anos, em sua casa, de nome Bel Air. Seu corpo foi cremado a 1 de março, com a presença de trezentas pessoas, dentre elas, seus familiares, colegas da série clássica, as filhas de Shatner, J. J. Abrams, Zachary Quinto e Chris Pine. Ele deixou esposa, dois filhos, seis netos, um bisneto e seu irmão Melvin.

Sua última aparição como Spock…

E assim, chegamos à fronteira final. Quero só me desculpar a todos os leitores por ter escrito todo esse monte de artigos sobre Leonard Nimoy e Spock. Mas houve alguns motivos para isso. Um motivo foi o fato de que quis mostrar que Leonard Nimoy era um artista muito talentoso, não ficando restrito a somente o papel do vulcano Spock. Ele aceitou vários desafios em sua carreira, como por exemplo, sua carreira no teatro, na tv e no cinema, seja como ator, seja como diretor.

Um inesquecível cavanhaque…

Sua preocupação com a cultura judaica, da qual faz parte, é outro elemento marcante de sua versatilidade como artista, isso sem falar de suas incursões na fotografia e na poesia. Em segundo lugar, aqui é um espaço para se escrever sobre aquilo que se gosta. E, confesso que gosto muito desse personagem vulcano de orelhas pontudas. E tenho certeza que ainda há muita gente por aí que gosta dele, dentre as gerações mais antigas. Essa coluna é chamada de Batata Antiqualhas  justamente para falar de cultura pop-nerd mais antiga, para os mais velhos matarem a saudade e os mais novos a conhecerem um pouco melhor. Impossível não falar da morte de Nimoy nestas circunstâncias. Fui até convidado para uma palestra organizada pelo hoje extinto site Abacaxi Voador para isso. Mas aí, soube da morte de minha mãe na hora em que ia para o evento. E toda a pesquisa tinha ido por água abaixo. Eu tive duas fortes dores num intervalo de três semanas. E aí, decidi expurgá-las escrevendo. Como uma espécie de “articulista” de “Jornada nas Estrelas” no Abacaxi, não poderia deixar que essa pesquisa fosse em vão. E aí vieram os artigos, sobre um personagem com o qual todos nós nos identificamos. Spock é o “outsider” que é mal compreendido e sofre perseguições e preconceitos, aquele que tem sentimentos mas deve escondê-los para não se tornar vulnerável, tem suas contradições e dramas internos, a necessidade de pensar de forma mais serena e racional para escapar das más situações. Ora bolas, quem nunca passou por uma dessas situações na vida? Spock não é apenas um personagem de uma série de ficção científica de tv, mas um verdadeiro espelho da condição humana. Daí a sua universalidade e popularidade. Sua seriedade, humor, cinismo, alegrias e tristezas jamais serão esquecidos e residem em nossos corações para todo o sempre, nos ajudando a encarar esse mundo cada vez mais difícil de se viver, onde a desumanidade simplesmente impera. E, segundo seu amigo Kirk, durante o funeral de Spock em “A Ira de Khan”, “…de todas as almas que eu conheci a de meu amigo foi a mais… humana”. Shatner dizia isso com a voz visivelmente embargada sentindo a morte do personagem de forma bem sincera. Esse é o sentimento que os fãs de “Jornada nas Estrelas” ainda possuem, mesmo três anos depois da morte de Leonard Nimoy. Mas fica o legado de Spock. Esse sim, nunca morre. É só colocar o DVD no aparelho e ele está lá de volta, com todos os seus ensinamentos para nossas vidas, o que alivia um pouco a dor provocada pela ausência física. Peço mais uma vez desculpas em terminar essas linhas da forma mais óbvia, mas esse é o principal ensinamento desse personagem tão marcante e importante, sendo uma eterna mensagem otimista (e precisamos de muito otimismo hoje em dia): “Vida longa e próspera!”.

Vida longa e próspera, sempre!!!

 

Batata Movies – Indiana Jones E O Templo Da Perdição. Novas Ideias, Antigos Ideais.

Cartaz do Filme

A Rede Cinemark realiza, toda última terça-feira do mês, uma sessão Clássicos Cinemark em algumas de suas salas, onde são exibidos consagrados filmes do passado. Neste mês de março de 2018, tivemos a exibição de “Indiana Jones e o Templo da Perdição”. Esse foi um filme que, curiosamente, não assisti quando passou no cinema e somente o fiz quando passou na TV. Como era uma oportunidade ímpar de ver esse agora clássico na telona, me despenquei para o Cinemark do Botafogo Praia Shopping para assisti-lo. Vamos dar algumas palavrinhas sobre um filme que já assistimos muito, mas que sempre tem pano para a manga numa boa conversa e análise.

Um herói mais hilário

Temos aqui a continuação das aventuras do renomado arqueólogo Dr. Henry Jones Jr., conhecido como Indiana Jones e um ladrão de tumbas segundo o seu intérprete Harrison Ford. Caçador de relíquias, ele as negocia com gângsters sempre pensando em compensações financeiras (acho que Ford estava certo em sua avaliação do personagem). Depois de tomar uma carreira de um desses gângsters, ele foge com a cantora Willie Scott (interpretada por Kate Capshaw) e com seu fiel escudeiro, o chinesinho Short Round (interpretado por Jonathan Ke Quan, que também trabalhou no filme “Os Goonies”, uma das pérolas da Sessão da Tarde) de avião, que pertencia à companhia do gângster em questão. Seus capangas abandonam o avião com para-quedas e nosso destemido arqueólogo se lança com seus amigos num bote (!) e chega ileso a um rio, depois de duas quedas abissais. Eles, então, encontram uma comunidade indiana que perdeu todas as suas crianças depois que uma pedra sagrada desapareceu. Caberá a Indiana pegar a tal pedra e salvar as crianças, embora ele inicialmente pensasse na fama e glória da conquista de mais um artefato arqueológico. Só que, miraculosamente, ele fica “bonzinho” com o tempo e pensa mais nas crianças da tribo. É claro que a coisa se dará com toda aquela pompa de aventura muito fora da realidade que marcam esses filmes. Mas quem está preocupado com isso?

Momentos de humor

A gente pode falar de outras coisinhas aqui. Em primeiro lugar, a ideia de se criar Indiana Jones partiu de George Lucas. Ele seria uma espécie de reedição dos antigos personagens de fitas em série do cinema, quando antes do filme principal, as crianças, lá das décadas de 30, 40, assistiam aos seriados (lembremos que a TV, onde hoje vemos seriados, ainda não existia). Lucas tentava fazer com esse estilo de personagem a mesma coisa que ele tinha feito com “Guerra nas Estrelas”, tomando Flash Gordon como inspiração. Já Spielberg pensava num personagem com uma pegada mais, digamos, James Bond. Lucas convenceu Spielberg a abraçar a ideia de Indiana e saíram os filmes. E, como o filme foi inspirado em heróis e séries antigas, a primeira coisa que chama a atenção é a floresta de estereótipos que a película contém. O herói americano, com um quê meio canalha, tanto nos hábitos quanto no trato com outras civilizações, que são vistas de forma totalmente supersticiosa e inferior, dentro de um ponto de vista muito maniqueísta e de uma ideologia imperialista.

Um casal à moda antiga…

Só devo alertar que esse ponto de vista extremamente ostensivo sobre outras culturas talvez não deva ser levado tão à sério assim, pois é nítida a intenção de se mostrar essa reedição das antigas fitas em série de uma forma um tanto galhofeira, onde se carrega muito nas tintas para se ter essa impressão. Como um exemplo disso, o herói, mais imaculado nas fitas antigas (vejam Flash Gordon, com Buster Crabbe, por exemplo), é aqui ridicularizado em algumas passagens do filme. Cansamos de rir vendo Indiana passando pelas situações mais escabrosas, onde até o seu medo de cobras é explorado. Aliás, poucas vezes pudemos presenciar como a combinação de filme de aventura com comédia foi tão bem sucedida. A sequência dos carrinhos nas minas, onde o inusitado é o condutor dos veículos naqueles trilhos com cara de montanha russa, é simplesmente deliciosa. As populares “mentiras” dos filmes desfilam apoteoticamente nos fotogramas e, pelo menos da minha parte, eu via os filmes de Indiana para me deliciar com suas coleções de absurdos. Esse, talvez seja o ingrediente que mais atrai nesses filmes.

O inusitado a todo instante…

Dessa forma, foi uma experiência muito legal poder ver na telona um filme que chama tanto a atenção por tantos fatores. E também uma viagem no tempo, pois pudemos presenciar um Harrison Ford jovial em toda a plenitude de sua atuação, recheada de carisma e cinismo (podemos dizer que Indiana é uma espécie de Han Solo light). Se você tiver um tempinho, volte a assistir essa película tão saborosa.

Batata Movies – Tomb Raider, A Origem. Uma Lara Croft Sem Glamour.

Cartaz do Filme

E estreou “Tomb Raider, A Origem” em nossas telonas. E, antes que algum fã já estranhe o título do texto, quero dizer que essa falta de glamour mencionada aí em cima é vista como algo extremamente positivo. Toda vez que a gente fala dessa famosa personagem dos games, nos lembramos imediatamente da atuação de Angelina Jolie. Só que, pelo menos no primeiro filme, me pareceu que vimos uma personagem altamente glamourizada. Não tive a oportunidade de vê-la nos joguinhos eletrônicos, mas a Croft de Jolie parecia um tanto marrenta e muito segura de si, vícios que já vimos em inúmeros heróis masculinos por aí, não sendo isso algo positivo nem para um gênero, nem para outro, além de Jolie esbanjar muita sensualidade para a personagem. Assim, aquela Croft de tempos pretéritos parecia um tanto plana e sem graça, ainda mais quando falava com seus antigos amigos de longa data, dando ao espectador a impressão um tanto desagradável de estar caindo de para-quedas na história.

Uma heroína mais humana…

Pois bem. Com todas essas referências um tanto negativas sobre Lara Croft no cinema, vamos nós para assistir a “Tomb Raider” de 2018, agora com a Alicia Wikander, premiada com o Oscar. As comparações serão inevitáveis. E o que pode ser dito desse novo Tomb Raider, que busca a origem de nossa heroína? Este foi um filme que deixou impressões muito positivas. Li em algum lugar, nessa floresta selvagem que é a internet, gente sentando o malho em Wikander, dizendo que ela não era boazuda como Jolie, parecia masculinizada, etc. Pura maldade. Mesmo que Wikander não tenha os atributos físicos de Jolie, sua Lara Croft teve muito mais essência. Creio que, por se tratar de um filme de “origem”, Wikander acabou tendo alguma vantagem nisso, pois sua Croft foi muito mais bem construída.

Mistérios arqueológicos. Saudades desse gênero…

E a face angelical da atriz contribuiu de forma positiva para a sua desglamourização. Ela não era uma heroína perfeita, acima do bem e do mal, totalmente artificial como a Croft de Jolie. Ela era muito mais humana, com suas virtudes, coragens, medos, traumas e mágoas. Uma menina levemente atrevida, mas também destemida e um pouco frágil. E Wikander consegue amarrar todas essas características muito bem, fazendo a gente comprar a personagem.

Procurando um pai desaparecido…

A história é relativamente simples. A moça, que sempre fora muito ligada ao pai desde cedo (interpretado por Dominic West) sofre com o sumiço dele depois que ele parte para uma ilha do Japão onde uma antiga rainha maligna foi sepultada. Com espírito arqueólogo, Richard Croft vai em busca do corpo dessa rainha. E desaparece. A moça, que precisa assinar uns papéis reconhecendo a morte do pai para assumir os negócios das empresas da família, se recusa a fazê-lo e começa a seguir uma série de pistas que Richard deixou. Ela consegue chegar à ilha depois de muitas saias justas. E aí…

Vilão canastrão…

Esse é um daqueles filmes de ação cheios de referências. Há muita porrada, bomba e tiro, há os mistérios arqueológicos a la Indiana Jones, há a cumplicidade entre pai e filha, há o vilão canastrão. Nada de muito novo e fora do convencional. Somente a presença de Wikander, que não temos o hábito de ver em produções desse tipo e a grande curiosidade de como ela encararia tal papel. De qualquer forma, é legal a gente ver um filme de aventura, pelas armadilhas das tumbas, pelos enigmas de antigas inscrições, pelo embate entre fé e razão.

Só um pouquinho de marra…

Dessa forma, “Tomb Raider, A Origem” é um filme que vale a pena ser visto, pois ele desmistifica o glamour montado em cima da personagem dos games quando da película feita por Angelina Jolie. Vikander nos dá uma Croft muito mais humana, sem perder o pique da ação. E é, também, um filme divertido, apesar de não apresentar nada de muito novo. Não deixe de assistir.

Batata Movies – 15h:17 Trem Para Paris. Uma História Real Um Tanto Morna.

Cartaz do Filme

Clint Eastwood está de volta em seu novo filme “15h:17 Trem Para Paris”. Temos aqui mais uma película inspirada numa história real. Mais um filme de qualidade dirigido por  Eastwood. Só que temos uma história principal meio que morninha, apesar de heroica. Toda a vez que a gente pensa em algo heroico (o trailer dizia que o filme era inspirado numa história real com heróis reais), a gente acha que algo de muito espetacular vai passar nas telonas. Mas nem sempre a vida imita a arte.

Um herói real…

Bom, temos aqui a história de três amigos de infância, Anthony Sadler, Alek Skarlatos e Spencer Stone (interpretados por eles mesmos, os tais “heróis reais”), cujas trajetórias foram um tanto tortuosas, sobretudo na infância. Crianças problema e mimados pelas mães, os garotos não conseguiam se adaptar a nada, mas pelo menos dois deles alçavam a carreira militar e enveredaram por esse caminho. O filme mostra a trajetória de nossos protagonistas até o momento em que eles decidem viajar pela Europa juntos e, no tal trem para Paris, testemunham uma tentativa de atentado terrorista. E aí, não posso dar mais detalhes para evitar os spoilers.

Uma viagem, com outro herói…

Devo dizer que o filme é dividido em algumas partes: a infância dos protagonistas, a vida adulta deles e a viagem em si. E, de todas essas partes, a mais instigante é justamente a da infância, onde os meninos não se enquadravam. O filme dá a entender que houve uma educação meio frouxa das mães e de que a escola foi negligente com os meninos, no sentido de que apenas praticavam punições com qualquer indiferença com relação aos alunos. E, se dessem um problema mais sério, recomendavam às mães coisas desde medicações até a expulsão sumária. E as mães sempre discordavam da fala da escola, deixando os meninos meio largados.

Um terceiro herói, entediado…

Sei não, mas essa pareceu mais uma versão dos protagonistas, pois a coisa pareceu plana e simplória demais, tanto da parte das mães como da parte da escola. Como vimos a trajetória dos alunos em mais de uma escola, fica um pouco difícil avaliar que o comportamento das duas tenha sido tão uniforme assim. De qualquer maneira, é interessante ver em que ambiente os meninos se formavam, onde o militarismo e a paixão às armas era algo considerado supernormal, e o coleguinha podia manusear rifles, fuzis e pistolas livremente na casa do amigo. Do jeito que isso foi mostrado, pareceu que evocou um tom de crítica a essa visão bélica daquela sociedade americana. Mas, ainda assim, o filme levou essa história num tom muito normal, até porque depois tal belicismo infanto-juvenil não foi mais recordado, mesmo que a carreira militar tenha sido mais enfocada. Nosso senso comum diz que tal cultura bélica americana é um celeiro de psicopatas que dizimam pessoas em shoppings, supermercados, escolas e universidades. Mas depois da infância, todos levaram uma vida normal, sem qualquer paranoia adicional. Ou seja, brinca-se com armas o tempo todo nos Estados Unidos, mas psicopatas somente são uma exceção. Dá para acreditar nisso? Difícil de dizer.

Mas aí, surge o terrorista!!!

Pelo menos, essa foi uma história de redenção de um de nossos protagonistas. Spencer Stone, o personagem no qual o filme foi focado, era tido como o garoto problema por excelência e tomou um tremendo puxão de orelha da mãe numa de suas estripulias. Arrependido, o menino reza à beira da cama a Oração a São Francisco (como todo bom cristão católico) implorando a Deus para ser um instrumento da paz divina. E. alguns anos depois, o menino teve a sua chance. O mais engraçado é que tal oração ficou famosa aqui no Brasil como exemplo de clientelismo e corrupção há alguns anos (sobretudo a parte do “… é dando que se recebe…”).

Eastwood e os “heróis reais”…

No mais, o filme teve uma pegada pouco estimulante, talvez pelo fato da história ser focada mesmo no episódio do trem. O problema é que a gente compara esse filme com outras películas dirigidas por Eastwood, que muitas vezes se inspiraram em histórias reais muito fantásticas ou que tiveram roteiros muito bem escritos. E aí a gente acha esse filme um pouco menos interessante e até enfadonho em alguns momentos.

Nosso estimado diretor fazendo o filme com seus personagens reais…

De qualquer forma, sempre vale a pena ver o trabalho desse diretor que se revelou um diretor de mão cheia com os anos, fazendo algo um pouco mais convencional e menos espetacular. Vá, mas não espere o padrão dos filmes anteriores.

https://www.youtube.com/watch?v=xTY0DBVoauw

Batata Movies – Operação Red Sparrow. Uma Trama de Espionagem Como Antigamente.

                  Cartaz do Filme

Você se lembra daqueles filmes de espionagem mais antigos onde as cenas de ação e de explosão não eram a parte mais importante da coisa, mas sim a trama complexa, que exigia uma atenção desmedida do espectador? Pois é, esse é o ritmo de “Operação Red Sparrow”, um filme de espionagem que, podemos dizer, tem esse espírito “das antigas”, mas traz uma atriz que de antigo não tem nada, pelo contrário, estando muito na crista da onda, que é Jennifer Lawrence.

       Uma Jennifer Lawrence muito sensual…

Vemos aqui a história de Dominika Egorov (interpretada por Lawrence), uma bailarina russa do Bolshoi, que sofre um acidente numa apresentação e fica inutilizada para dançar. Ela vai receber a visita do tio, Vanya (interpretado por Mathias Schoenaerts), que trabalha no Serviço Secreto Russo. Ele lhe propõe fazer parte de uma emboscada para um criminoso em troca de ajudá-la nas despesas de sua casa e de sua mãe doente. A moça era considerada muito esperta pelo tio, além de ter uma propensão, digamos, um pouco violenta, requisitos suficientes para trabalhar na espionagem. Como a moça testemunhou o assassinato de seu alvo na missão, ela precisa ficar permanentemente ligada à espionagem e ao tio para não ser morta como queima de arquivo. Assim, Dominika iniciará seu treinamento como espiã e participará de missões onde ela vai percorrer os mais perigosos caminhos.

                                                 Se envolvendo com um espião americano…

E vai ser nestes caminhos perigosos que a trama irá se desenrolar, montando um quebra-cabeça na mente do espectador onde lhe faltam as peças e caberá a quem assiste ao filme a procurar as peças perdidas e encaixá-las da forma mais conveniente possível para a elucidação da trama. O problema é que isso fica tão tortuoso que devemos dispensar ao filme uma atenção maior do que a que estamos acostumados a dispensar com qualquer outra película um pouco mais convencional. Isso pode parecer um pouco enfadonho para uns, e instigante para outros. O problema é que a maioria dos filmes comerciais de hoje em dia não têm uma preocupação mais aprofundada com a reflexão e preferem a ação com direito a muita bomba, porrada e tiro, coisa que esse filme definitivamente não tem em abundância.

                                A cara do Putin…

É uma outra película que prima pelo elenco bem escolhido. Lawrence estava um poço de sensualidade, até com alguns toques de erotismo, não diminuindo, entretanto, a sua relevância como protagonista, nem a forma como ela conduziu sua personagem. Mas tivemos, também, atores de um quilate de um Jeremy Irons e de uma Charlote Rampling, que roubavam e muito a cena nos poucos momentos em que apareciam. Tivemos, também, Joel Edgerton, fazendo um espião americano que se envolve com Dominika, mas creio que ele não esteve muito à altura de Lawrence e dos outros atores citados aqui.

                  Boa presença de Jeremy Irons…

Não podemos nos esquecer da atuação do excelente Mathias Schoenaerts, que, ao interpretar o tio Vanya de Dominika, estava a cara do próprio Putin. Aliás, o cinema americano continua fazendo das suas estripulias, ao rotular os russos como nos tempos do comunismo; eles ainda matam os “traidores” que os desobedecem, fumam, são ardilosos e não medem esforços em ser úteis ao Estado, mesmo que precisem ser amantes de alvos totalmente repugnantes (afinal de contas, não se entregar a um homem que provoca inteira repugnância não é nada mais do que um capricho burguês que não se pode tolerar; a entrega ao estado deve suplantar todos esses sentimentos burgueses). E aí, o filme cai nos velhos clichês de produções de época da Guerra Fria, se bem que essa era mesmo a intenção, sobretudo quando a personagem de Rampling diz que a Guerra Fria ainda não havia acabado.

                                                                     … e de Charlote Rampling…

Assim, “Operação Red Sparrow” não é exatamente o filme de ação que você deseja, mas ainda assim é uma película que vale a pena ser vista, pois encena uma trama de espionagem “das antigas”, ou seja, com mais roteiro reflexivo e menos ação. Pelo contexto de hoje, até se torna uma coisa meio diferente, mas já vimos histórias de espionagem desse naipe em outros carnavais. Vale a pena dar uma conferida, até porque recordar é viver.

Batata Movies (Especial Oscar 2018) – A Grande Jogada. Infeliz No Jogo, Infeliz No Amor.

                            Cartaz do Filme

Um filme que concorreu ao Oscar de Roteiro Adaptado passa em nossas telonas. “A Grande Jogada” é inspirada numa curiosa história real de uma moça chamada Molly Bloom, que era atleta de esqui freestyle até se acidentar e dar outro rumo para a sua vida, onde ela vai ganhar muito dinheiro organizando jogos de… pôquer. O problema é que isso lhe rendeu um violento processo que a ameaçou colocar na cadeia por muito e muito tempo. Mas ela conseguiu contratar os serviços de um advogado muito eficiente para tirá-la dessa fria. Tudo isso por um honorário que era a bagatela de… 250 mil dólares. Parece outra fria? Você nem sabe de metade da história.

                                                      Uma mulher decidida, como sempre…

De qualquer forma, o filme chama muito a atenção não somente pela trama inspirada pela incrível história real que presenciamos nos fotogramas, mas também pelo elenco. Puxando a fila, temos Jessica Chastain, uma atriz que se destaca por fazer esse papel de mulheres fortes e decididas. Só que, desta vez, foi lhe acrescentado um toque, digamos, de muita sensualidade, pois a moça se vestia de forma simultaneamente provocante e elegante para organizar seus jogos de pôquer em quartos de hotéis de luxo.

                                                           Um advogado firme e idealista…

E sua clientela era de respeito: atores de Hollywood, executivos, banqueiros, etc. Apesar de todo o sex appeal com generosos decotes (estava muito bom de se ver!), nossa protagonista teve a atitude correta de não se envolver com seus clientes, o que manteve a história numa linha que poderia desbancar para algo mais piegas ou cheio de clichês. Uma outra figura positiva do elenco foi Idris Elba, que interpretou Charlie Jaffey, o advogado de Bloom.

                                                                         A moça podia ser elegante…

Ele realmente esteve muito bem, fazendo um advogado de postura firme e que acreditava que sua cliente, apesar de sua culpabilidade ao desrespeitar certas leis, não era um diabo tão feio quanto pintavam. A forma firme como Elba conduziu seu personagem deu ao mesmo muita credibilidade e rendeu muita admiração. Foi realmente uma excelente atuação. Talvez até melhor do que a que ele teve em “Depois Daquela Montanha”, onde contracenou e fez par romântico com Kate Winslet. Outro ator que apareceu pouco mas que conseguiu roubar a cena em cada centímetro de fotograma (digital ou não)  foi o veterano Kevin Costner. A gente, que já é cinéfilo de longa data, admira os filmes de Costner lá da segunda metade da década de 80 e a primeira metade da década de 90. Ele é um outro ator que consegue dar credibilidade ao personagem que interpreta, mas de uma forma diferente da de Elba. Enquanto este primou pelo sarcasmo em alguns momentos e por um discurso um pouco mais inflamado em outros, Costner conseguiu trazer serenidade a um personagem que podia ser severo em alguns momentos, mas que também poderia ser um apoio para Bloom em momentos mais difíceis.

                                                                     … mas também provocante…

O filme também leva em consideração uma questão que está muito em voga hoje em dia, que é a delação premiada. Mas como isso vai me levar para o perigoso terreno dos spoilers, paro com minha menção por aqui. Só peço ao leitor que vai ver o filme, que preste atenção em como essa tal delação é encarada no filme, sempre lembrando que a história foi inspirada em eventos reais.

                       Um pai severo, mas próximo no momento certo…

Assim, “A Grande Jogada” pode até ter levado apenas uma indicação ao Oscar e ter perdido, mas é um filme com uma história real um tanto tortuosa (a vida imita a arte) e tem um elenco de três medalhões admiráveis, dois mais novos (Chastain e Elba) e outro um pouco mais antigo (Costner). Apesar de ser um filme relativamente longo (pouco mais de duas horas), vale a pena dar uma conferida.

Batata Movies (Especial Oscar 2018) – Projeto Flórida. Poor America.

                  Cartaz do Filme

Mais um filme que concorreu ao Oscar. “Projeto Flórida” concorreu à estatueta de Melhor Ator Coadjuvante para Willem Dafoe. Foi uma pena o veterano ator não ter levado o prêmio, até porque a concorrência com o vencedor, Sam Rockwell, era muito desigual. Mas o trabalho de Dafoe foi ótimo e isso deve ser digno de registro. Esse é um filme que também chama a atenção para uma reflexão, escondida meio que no pano de fundo das paisagens, mas também no cotidiano dos personagens.

                                                            Três crianças no olho do Furacão…

Vemos aqui a história de Moonee (interpretada pela pequenina Brooklynn Prince), uma menininha que vive com sua mãe numa espécie de hotel com a diária bem barata, o que dá ao lugar a aparência de um verdadeiro pombal, ou seja, um condomínio com muitos moradores cujo comportamento e condições de vida não são lá muito agradáveis. Moonee passa o dia andando para lá e para cá com seus amiguinhos fazendo o que a gente chamava antigamente de “arte” em todos os lugares para onde ia e sempre respondia as repreensões dos adultos de forma extremamente malcriada, principalmente as de Bobby (interpretado por Dafoe), o zelador do hotel. A vida das crianças parece um eterno mar de rosas, onde elas brincam muito, conseguem sorvete de graça e fazem das mais estapafúrdias travessuras. Mas a gente sente que o clima no entorno não é dos melhores, onde podemos presenciar uma pobreza contundente. E, para piorar o contraste, estamos em Orlando, praticamente ao lado da Disneylândia, a terra dos sonhos de muita gente. A dureza do mundo real passa despercebida pelas crianças, mas está à espreita e, lentamente se aproxima delas.

                                                                            Uma mãe debochada…

Esse é um filme de crianças brincando nos escombros de uma sociedade atingida pela crise econômica. Escombros que, hoje, não passam de remendos de uma época outrora próspera. Moonee e seus amigos andam pela rua sozinhos, sem qualquer presença materna, passando por lojas de beira de estrada com letreiros estilosos mas com pouco movimento. Ou então por supermercados que são o paraíso do consumo quando se entra uma graninha a mais. É curioso ver os quiosques de guloseimas no formato das mesmas, verdadeiros monumentos aos dias prósperos do American Way of Life, mas já num passado distante para quem amarga uma vida dura regada pelo desemprego e pela necessidade de prostituição, sempre com medo do que o Conselho Tutelar pode pensar disso e levar sua filha de casa.

     Uma América decadente…

Outro cenário muito contundente são as coloridas casas de dois andares abandonadas e tomadas pelo mato onde as crianças brincam (e destroem), casas essas provavelmente vítimas da bolha do mercado imobiliário que arrasou a economia mundial. Terrenos baldios com bois e vacas e valas negras completam a paisagem desoladora onde as crianças, em sua inocência e total falta de noção do que ocorre em volta delas, brincam e brincam. Definitivamente, “Projeto Flórida” é um filme reflexivo e ácido, com os doces momentos infantis.

                                          Um zelador que precisa administrar um pardieiro…

E Dafoe? Seu personagem Bobby talvez seja o único que percebe o que ocorre em seu entorno. Sendo obrigado a administrar um hotel cujo dono zela pela rígida observação às regras, Bobby precisa ter muito jogo de cintura para manter os anseios de seu patrão e, ao mesmo tempo, lidar com todo um grupo de pessoas que se comporta de forma mais intransigente do que civilizada. Mas Bobby tem plena consciência do estado lastimável em que vivem os moradores do hotel e negocia com eles, precisando saber exatamente o momento de morder e de assoprar. A personalidade cativante e magnética de Dafoe ajuda muito a gente a comprar seu personagem e gostar dele logo de cara. Foi uma belíssima atuação digna de Oscar, não fosse a forte concorrência esse ano.

                                                                       Um momento difícil…

Assim, “Projeto Flórida” é um filme que consegue, simultaneamente, trabalhar o lúdico e uma situação assombrosa de crise. Dois pólos na película que lentamente se aproximam. Qual vai ser a consequência do encontro entre eles? Isso eu deixo para o espectador testemunhar na sala de cinema, pois essa película é digna de ser apreciada não na poltrona de casa, mas na poltrona de um bom cinema, até pela excelência que o filme contém.

https://www.youtube.com/watch?v=MnTm4w5ehlU