Batata Movies (Especial Oscar 2018) – Todo O Dinheiro Do Mundo. O Surreal Real.

                     Cartaz do Filme

Mais um filme indicado ao Oscar. Ridley Scott está de volta à direção em “Todo o Dinheiro do Mundo”. Esse filme ficou marcado por uma polêmica troca de atores no último momento, onde Kevin Spacey foi substituído por Christopher Plummer depois que o primeiro foi denunciado por assédio sexual. Escândalos à parte, parece que a substituição rendeu bons frutos, pois Plummer foi indicado ao Oscar de Ator Coadjuvante. Foi a indicação dada ao ator de idade mais avançada, pois Plummer está no alto de seus 88 anos. Mas o filme tem outros atrativos além dessas pequenas curiosidades. Temos aqui uma história real, com alguns floreios, como foi denunciado no próprio final da película.

                                     Sai Spacey…

E podemos dizer que tal história real beirou o surreal, pois fala do sequestro do jovem de 16 anos John Paul Getty III, neto de John Paul Getty, um dos homens mais ricos da História. O problema é que o magnata (interpretado por Plummer) não queria pagar o resgate, e incumbiu Fletcher Chase (interpretado por Mark Wahlberg) de conseguir efetuar o resgate a custo zero, para o desespero da mãe do jovem, Gail Harris (muito bem interpretada por Michelle Williams), que já havia se separado do marido e não tinha um tostão sequer. A partir daí, o filme mostra todo o processo do cativeiro, das negociações e do resgate do menino, onde tivemos alguns momentos um tanto quanto agonizantes, principalmente depois que sabemos que eles fazem parte de uma história real.

                                                … entra Plummer…

O filme tem dois trunfos principais: Plummer e Williams. O primeiro deu conta do recado, ao substituir Spacey de última hora. Também pudera, seu talento é tão inegável que, mesmo fazendo um filme às pressas, a indicação da Academia veio. O segundo grande trunfo foi Williams que, cá para nós, merecia pelo menos uma indicação a melhor atriz. Atriz jovem, ela parecia muitos anos envelhecida por interpretar muito bem uma mãe que padecia do desespero de ter seu filho no cativeiro. A atuação de Wahlberg também foi boa, embora ele tenha servido mais de escada para Williams, onde teve ótimos momentos contracenando com ela, assim como Plummer, onde ele teve uma atitude, digamos, mais independente com o magnata ao fim da película. Mas não soltemos spoilers por aqui.

                          Williams e Wahlberg em boas atuações…

Um detalhe interessante é a pão-durice do vovô Getty. Você fica o tempo todo achando que ele é um velho inescrupuloso e sem caráter, por se negar a pagar o resgate do neto. Mas essa atitude dele é justificada mais ao fim da película, embora não possamos chamá-la exatamente de justificativa.

                          Um jovem sequestrado…

Assim, “Todo o Dinheiro do Mundo” se configura em mais uma boa película de Ridley Scott (não tão boa quanto “Blade Runner”, mas certamente bem melhor que “Prometheus”), que tem boas atuações de seus atores protagonistas e que ainda rendeu uma indicação ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante de última hora, com o detalhe de que sempre é muito bom ver Plummer atuando, principalmente quando sabemos que ele já está em idade bem avançada. Vale a pena prestigiar o trabalho de atores tão bem gabaritados.

https://www.youtube.com/watch?v=kxMvG3NuyZI

Batata Movies (Especial Oscar 2018) – A Forma Da Água. Tendo Seu Peixe De Estimação.

                 Cartaz do Filme

E estreou o tão esperado “A Forma da Água”, o recordista de indicações ao Oscar esse ano, sendo treze no total (Melhor Direção para Guillermo del Toro, Melhor Filme, Melhor Atriz para Sally Hawkins, Melhor Ator Coadjuvante para Richard Jenkins, Melhor Atriz Coadjuvante para Octavia Spencer, Melhor Música, Melhor Roteiro Original para Guillermo del Toro e Vanessa Taylor, Melhor Fotografia, Melhor Figurino, Melhor Edição de Som, Melhor Mixagem de Som, Melhor Montagem e Melhor Design de Produção). Esse filme também foi vencedor do Globo de Ouro de Melhor Diretor e Melhor História Original para filme. Ou seja, toda a cara de que era um filmaço desde as premiações e indicações até a exibição do trailer e um dos grandes favoritos a levar muitas premiações na noite do Oscar.

                                       Elisa, uma faxineira muda…

Mas, do que se trata a história? Falando em linhas gerais, para não se dar muitos spoilers, o filme fala de uma faxineira muda, mas não surda, chamada Elisa Esposito (interpretada por Hawkins). A moça trabalha numa espécie de instalação militar, daquelas onde são guardados muitos segredos confidenciais. Um belo dia, chega uma espécie de tanque com um misterioso ser vivo dentro. Com esse tanque, vem Richard Strickland (interpretado pelo “General Zod” Michael Shannon). Elisa fica muito curiosa com aquilo e começa a se aproximar do tanque onde está o ser vivo. Ela descobre que, apesar da fama de violento (ele arrancou dois dedos de Richard), a criatura é extremamente dócil, se é estabelecido um contato amistoso com ela. E Elisa começa uma amizade com o tal ser, que é uma espécie de anfíbio humanoide (interpretado por Doug Jones). O problema é que essa amizade está ameaçada, já que os militares decidem matar o ser para dissecá-lo e estudá-lo melhor.

                  Um ser anfíbio simpático, apesar de aterrorizante…

Essa história, bem inusitada por sinal (se a gente fala a sinopse desse filme de forma bem resumida, ele pode parecer muito ruim), acabou sendo um verdadeiro sucesso. Por que isso ocorreu? Em primeiro lugar, creio que pela interpretação de Hawkins. A faxineira muda foi uma atração à parte, onde sua forma de se comunicar com as pessoas chamava muito a atenção. Usando a linguagem de sinais e amando os filmes musicais (todos da Fox, obviamente, pois foi esse estúdio que produziu a película), a personagem Elisa cativa o público imediatamente. E ela ainda fez uma boa dobradinha com a sempre fofíssima Octavia Spencer, que era sua colega de faxina na tal instalação militar. Só é uma pena que Spencer não tenha tido tanto destaque nesse filme. Sua personalidade magnética exigia uma participação muito maior de sua personagem na história. Ainda, falando sobre os musicais, pudemos ver no filme trechos de filmes consagrados com atrizes divas do porte de uma Alice Faye e até de nossa Carmen Miranda, com direito a um “tica bum” praticamente completo num ponto chave do filme, o que foi muito legal para fãs de túmulo como minha pessoa. Essa paixão de Elisa pelos musicais antigos, nutrida pelo seu amigo Giles (interpretado por Richard Jenkins) foi um dos pontos altos do filme e um contraponto à deficiência da personagem principal. Michael Shannon foi bem novamente, mas sua fisionomia meio caveirona mais uma vez o colocou como um cruel vilão da história. Sei não, mas seria muito interessante um ator que é o estereótipo perfeito do vilão volta e meia fazer um mocinho no cinema. Acho que isso poderia muito bem acontecer com Shannon num blockbuster da vida.

                                              Amor à primeira vista…

Outro bom motivo para o sucesso do filme foi a interpretação de Doug Jones como a criatura anfíbia. Especializado em fazer criaturas com toneladas de maquiagens e muita, muita borracha, Jones foi de uma delicadeza sensacional ao interagir com Elisa, fazendo uma fera que pode te partir ao meio, mas com muita ternura. Mas os trekkers de plantão já conhecem o trabalho desse bom ator como o personagem Saru, de Jornada nas Estrelas Discovery, creio eu uma das poucas coisas que é vista com bons olhos por admiradores e detratores da série.

                                  Octavia Spencer bem como sempre…

É interessante também perceber como essa película tem um personagem que se sobrepõe a todos os outros: a água. Para onde quer que você olhe, ela está lá, encharcando tudo. Desde o banheiro de Elisa, passando pelos corredores e tanques da instalação militar, chegando até ao rio que corta a cidade. Essa presença tão marcante da água no filme meio que dá uma dica do seu desfecho.

                         Michael Shannon, o eterno vilão…

Assim, o filme “A Forma da Água” justifica todas as expectativas criadas em cima dele. Pode ir ao cinema sem medo que ele não é menos do que se esperava, muito pelo contrário até. É uma história inusitada e muito terna, recheada de excelentes atuações que cativam de imediato o espectador. Programa imperdível e, com certeza, muitas pessoas estarão torcendo por essa película na noite do Oscar.

https://www.youtube.com/watch?v=xKKfWm5xUCY

 

Batata Movies (Especial Oscar 2018) – O Touro Ferdinando. Dando Um Olé Na Farra Do Boi.

                                    Cartaz do Filme

Dando sequência à nossa cobertura dos filmes indicados ao Oscar, vamos falar hoje da boa animação da Fox, “O Touro Ferdinando”, dirigido pelo brasileiro Carlos Saldanha (o mesmo de “Rio”). Essa película concorre ao Oscar de Melhor Animação e é uma história, acima de tudo, de bichinhos, que se passa na Espanha, mais exatamente, de touros que são preparados para o sacrifício nas Plazas de Toros.

       Ferdinando é um touro muito simpático…

Tudo começa com Ferdinando ainda um bezerro, que fica vendo com os outros bezerros seus pais sendo preparados para as touradas, sem saber do destino que os aguarda. Todos os touros são preparados para serem agressivos e violentos. Mas Ferdinando não quer saber de brigas e ainda gosta de florzinhas, o que provoca risadas gerais entre os demais bezerros, que o tratam com rispidez. Cansado de toda aquela neurose, Ferdinando foge e acaba parando na fazenda de Nina, uma menininha que trata o bezerro como um animal de estimação, ou seja, com muito amor e carinho. Para tudo ficar perfeito, a fazenda ainda tem muitas flores, do jeito que Ferdinando gosta. Ele cresce e se torna um forte e gigantesco touro, só que com coração de ouro.

     Com Nina, que o trata como um “animalzinho” de estimação…

Mas, ao ir para uma festa das flores na cidade, foi confundido com um touro violento depois de destruir toda a cidade sem querer, só na base das trapalhadas. E aí ele volta para a antiga fazenda, onde ele encontra seus colegas bezerros já touros crescidos, brigando para ir para as touradas. Quem fracassa, acaba indo para o matadouro. Assim, Ferdinando vai ter que lutar também, com a ajuda de uma cabra, que se torna a sua amiga.

             A animação prima pelo inusitado…

Esse é um filme muito divertido, engraçado e com lances para lá de inusitados, já que estamos falando de grandes touros como os personagens da película. O mais legal aqui é ver a natureza delicada de Ferdinando, agindo como um animal de estimação de uma frágil garotinha, assim como a sua relação com outros animaizinhos menores. O filme também passa uma mensagem que todos nós já conhecemos: de como essas touradas são algo totalmente revoltante e uma covardia com animais irracionais. O simples fato de se ensinar ao público infantil que não é correto um ser racional como o homem agir de uma forma tão covarde e irracional com um bicho que não pensa já vale o filme.

                           Ninguém resiste ao “Flower Power”…

Assim, “O Touro Ferdinando” é mais uma boa animação que concorre ao Oscar com um DNA brasileiro, embora quebrar o favoritismo da Disney, que veio com “Viva, a Vida é uma Festa”, sempre é algo muito complicado. De qualquer forma, vale a pena dar uma passada no cinema, com crianças ou não, para dar uma conferida. Eu garanto, pelo menos, que você vai rir muito com bichinhos, o que, creio, muita gente já fez isso (ou ainda faz) quando assiste aos bons e velhos desenhos animados da televisão. Não deixe de conferir, pois você não vai se arrepender e vai se emocionar com o tourão de bom coração.

 

Batata Movies (Especial Oscar 2018) – Viva, A Vida É Uma Festa. Visitando O Mundo Dos Mortos.

                   Cartaz do Filme

Vamos falar hoje de mais um filme candidato ao Oscar. A animação da Disney Pixar “Viva, a Vida é uma Festa” concorre a duas estatuetas (animação e canção original) e segue a tradição das animações da Disney dos últimos anos de abordar culturas locais. Este ano, foi escolhida uma cultura ali do ladinho dos Estados Unidos, a mexicana, talvez até com um pensamento de abiscoitar o público latino na bilheteria. O aspecto da cultura mexicana mencionado no filme é, talvez, o mais fascinante deles, que é o culto aos mortos, onde o dia dois de novembro é uma data de muita celebração, com oferendas sendo dadas aos seus mortos, que vêm comemorar a data junto de suas famílias. Explorando tal cosmogonia, a animação criou uma história muito divertida e curiosa, onde a gente só mergulhou mais e mais nesse Universo.

                                         Miguel queria ser músico…

A história fala do menino Miguel, que adora música, mas que é proibido pela família de ter qualquer ligação com ela, pois sua antepassada foi abandonada pelo marido que era músico. Miguel cismou que ele era descendente direto de um grande músico do passado, Ernesto de la Cruz, e queria ser como ele. Para participar de um concurso musical, Miguel precisava de um instrumento e ele decidiu tomar emprestado o violão que estava na sepultura de Ernesto.

                       … e tinha um cachorrinho muito simpático…

Mas isso acabou provocando um encanto que o levou ao mundo dos mortos. Lá, ele tentava procurar o seu ídolo, mas também se encontrou com sua antepassada que odiava música. Ele lentamente se transformava numa caveirinha (assim como eram todos os outros mortos) e queria porque queria encontrar Ernesto antes de voltar ao mundo dos vivos. O problema é que, para retornar, ele precisava da bênção de um parente e estava brigado com a família.

                                Os parentes de Miguel do lado de lá…

Esse é um daqueles filmes que mais uma vez promovem um diálogo entre a tradição e a modernidade. Só que, desta vez, a tradição é que é vista como algo positivo. Ao ver a família rechaçando seu gosto por música, Miguel repudia a tradição e, ao buscar o seu sonho, inevitavelmente recai na tradição, onde ele vai perceber toda a importância da família e de seus rituais. Tal abordagem visa novamente o discurso de respeito às diferenças que a Disney tem apregoado em suas animações nos últimos anos, o que tem sido algo muito positivo, já que vivemos em tempos de intolerância extrema e os Estados Unidos, por sua posição hegemônica no mundo, muitas vezes recebe acusações (justas, por sinal) de intolerância, ainda mais com o ambiente propício para isso, provocado pelo avanço de grupos conservadores em todo o mundo. Logo, a inciativa da Disney Pixar de exaltar as culturas locais e ensinar isso ao público infantil, seu verdadeiro público alvo, sempre deve ser muito celebrada.

                                  Sua bisavó é que sabia das coisas…

Uma coisa muito legal na película foi mostrar na cultura mexicana como os animais são encarados como uma espécie de guias espirituais. Quando Miguel passa do mundo dos vivos para o mundo dos mortos, ele passa por uma espécie de barreira, onde ocorre uma espécie de transformação, só que seu cãozinho cruza essa barreira para lá e para cá sem que nada aconteça com ele. Assim, na cultura mexicana, os animais também têm uma importância no lado de lá da vida.

                       Corrida contra o tempo…

Assim, “Viva, a Vida é uma Festa” é mais uma grande animação da Disney Pixar que veio para celebrar uma cultura local, fazendo um grande serviço de divulgar a tolerância entre o público infantil, fazendo isso sempre de uma forma muito divertida. Um filme que é grande favorito ao Oscar.

https://www.youtube.com/watch?v=-Af1mAec0LA

Batata Movies (Especial Oscar 2018) – O Destino De Uma Nação. Humanizando Um Líder.

                                                  Cartaz do Filme

Ainda em nossa série de indicados ao Oscar, vamos falar hoje do esperado “O Destino de uma Nação”, com Gary Oldman em excelente atuação como Winston Churchill, que lhe rendeu um Globo de Ouro de melhor ator de drama este ano. A película também concorre a seis estatuetas (Melhor Filme, Melhor Ator para Gary Oldman, Melhor Figurino, Melhor Maquiagem, Melhor Fotografia e Melhor Design de Produção). Este é mais um filme histórico sobre a Segunda Guerra Mundial que tem o cuidado de mencionar, quase ao final dos créditos finais que, embora tenha se baseado numa história real, pode ter alguns momentos fictícios.

              Um Gary Oldman irreconhecível…

Qual foi o recorte temporal dessa película? Foi justamente no ano de 1940, quando o nazismo avançava na Europa e estava às portas do Oceano Atlântico, com todo o exército inglês encurralado no litoral francês pelas tropas nazistas. Eram 300 mil soldados e não havia como a Marinha Inglesa resgatar todos esses homens. Em meio à violenta crise, o Primeiro Ministro Neville Chamberlain renuncia e é necessário um nome para um governo de coalizão entre os partidos majoritários do Parlamento Inglês. E esse nome era o de Churchill, por incrível que pareça um político turrão, extremamente grosso, comilão e beberrão, que havia cometidos sérios erros no passado.  Ele vai ter a dura tarefa de conduzir a Inglaterra nesse momento extremamente espinhoso, onde era seguidamente pressionado pelo seu gabinete de guerra a assinar um acordo de paz com a Alemanha. Mas Churchill se recusava terminantemente a isso.

Defendendo duramente suas posições no Parlamento Britânico

É um filme que fala da guerra e de política, mas que está muito focado na figura humana desse político que virou uma verdadeira lenda. Infelizmente os spoilers me impedem de falar um pouco mais. Entretanto, podemos dizer aqui que talvez tenhamos visto o melhor desempenho da carreira de Gary Oldman, irreconhecível com uma maquiagem bem realista.

     Kristin Scott Thomas esteve sensacional…

Uma menção especial deve ser dada a Kristin Scott Thomas, que fez Clemmie, a esposa de Churchill, a única que conseguia segurar o vulcão que era o marido. Outro nome conhecido do elenco é o de Ben Mendelsohn (o Diretor Krennic, de Rogue One) no papel do rei George VI. Devido à natureza rude de Churchill, o filme tem momentos de comédia muito vivos, o que servia para aliviar um pouco todo o drama provocado pela responsabilidade do cargo e pela situação extrema da guerra.

   De Diretor Krennic a Rei George VI. Promoção…

Com relação à reconstituição de época, ela foi um pouco prejudicada pelo cenário do filme, que se passava na maioria das vezes dentro de escritórios e de repartições públicas gerando um ambiente um tanto opressor. O próprio Parlamento Inglês foi reconstituído com uma iluminação com fortes tons de claro e escuro, algo que chamava muito a atenção do espectador, como se todo aquele ambiente pesado reproduzisse com fidelidade o estado de espírito das pessoas que tinham que conviver com o cotidiano da guerra. Só é pena que a película ficou praticamente presa ao ano de 1940 e seu desfecho tenha sido demasiadamente abrupto, bem ao estilo “Ué, já acabou?”. Mas seria complicado, do jeito que o roteiro foi estruturado, colocar mais alguns anos na história do filme.

    O filme é marcado por ambientes sombrios…

Assim, “O Destino de uma Nação” é mais um bom filme que está aí nesse início de ano, já premiado pelo Globo de Ouro e com boas expectativas com relação ao Oscar. Um filme que consagra Gary Oldman, que reproduz mais uma vez o contexto da Segunda Guerra Mundial, que tem um cenário opressor e pitadas muito boas de humor, sem falar que essa película tem uma ligação histórica com outro bom filme de Segunda Guerra Mundial do ano passado, “Dunkirk”. Vale a pena dar uma conferida.

Batata Movies (Especial Oscar 2018) – The Post: A Guerra Secreta. Ainda A Liberdade De Imprensa.

                Cartaz do Filme

Steven Spielberg e John Williams. Estes dois nomes estão atrelados a vários filmes de sucesso. Mas, e se adicionarmos Tom Hanks e Meryl Streep a esse conjunto? Teremos “The Post: A Guerra Secreta”, mais um filme que está na lista dos indicados ao Oscar e que concorre a duas estatuetas (Melhor Filme e Melhor Atriz para Meryl Streep, mais uma indicação; Streep é a recordista de indicações, vinte e duas ao total). Esse é um filme que fala sobre imprensa e a sua liberdade de publicar o que quiser, até documentos confidenciais do governo americano (como assim?).

                     Os cabeças de um jornal…

Bem, o Post em questão é o famoso jornal The Washington Post, da capital americana (ou estadunidense, como queiram). Temos Kay Graham (interpretada por Streep), a dona da empresa que administra o jornal, e Ben Bradlee (interpretado por Hanks), o principal editor. O filme começa de uma forma um tanto lenta e enfadonha, falando mais do dia-a-dia do jornal e de acordos comerciais empreendidos pela empresa. A coisa começa a esquentar quando o The New York Times, concorrente do The Washington Post, encontra trechos de um estudo encomendado pelo governo americano que indicava que a vitória americana na Guerra do Vietnã já era considerada algo inviável desde meados da década de 60 (o filme se passa no ano de 1971, em plena Guerra do Vietnã e durante o governo de Richard Nixon, ou seja, nas piores condições possíveis para a manutenção de um Estado democrático). Após a publicação da matéria, o The New York Times recebeu uma espécie de repressão do governo, sendo estritamente proibido de continuar a publicar sobre o assunto. O Post, então, toma as rédeas da investigação, e encontra uma versão do estudo que, se não é completa, tem mais páginas (cerca de quatro mil). Entretanto, publicar aquela história estava configurado pela justiça como desacato e poderia provocar as prisões de Graham e Bradlee, assim como praticamente pôr um fim à empresa do The Washington Post. Assim, fica o dilema: publica-se a matéria ou não? Como ficam o poder autoritário de Nixon e a liberdade de imprensa nesse processo?

                     Tocando uma empresa…

Podemos considerar esse como mais um dos filmes históricos de Spielberg que, como a grande maioria de todos os filmes históricos (inclusive os de Spielberg) é provavelmente apenas baseado em fatos reais, onde um molho especial pode ter sido colocado aqui e ali para tornar a história mais emocionante. De qualquer forma, a película presta um grande serviço em virtude do fato de mostrar como a democracia pode ser frágil no seio de um país que se diz o maior defensor da democracia e da liberdade, ou seja, os Estados Unidos. E isso ainda mais num período tão sombrio quanto o governo Nixon e a Guerra do Vietnã. Agora, realmente fica uma coisa um tanto difícil de engolir ver a imprensa, considerada o “Quarto Poder”, ser retratada como uma paladina da liberdade a serviço dos governados quando já tivemos tantos exemplos de justamente o contrário. Esse é um problema nos filmes históricos de Spielberg: em nome do espetáculo, ele acaba transformando a narrativa do filme em algo maniqueísta, com a imprensa representando o bem e o governo americano representando o mal. Talvez o filme ganhasse mais se tal discurso fosse um pouco mais relativizado. Por exemplo, no caso do estudo sobre a Guerra do Vietnã, até concordamos que esse documento confidencial fosse divulgado. Mas, e se o The Washington Post tivesse acesso a um outro documento cuja divulgação provocasse um grande prejuízo, por exemplo, para as pessoas simples do povo? Aí ficaria a questão: até onde o bom senso e a autocrítica dos jornalistas dialogariam com a liberdade de imprensa? Creio que o filme ficaria muito mais interessante se tal questão fosse levantada. Entretanto, como ele foi baseado numa história real e um outro documento secreto não apareceu…

    Analisando um estudo de quatro mil páginas…

Creio que não preciso dizer nada a respeito das interpretações dos atores. Mais uma indicação de Oscar de Melhor Atriz para Meryl Streep, que roubava a cena sempre que aparecia. Mas eu creio que Tom Hanks teve uma presença maior aqui, fazendo um firme editor de jornal de meia idade e com uns gestos um tanto rudes, não parecendo em nada com o ator que conhecemos (quando um ator fica muito diferente, até parecendo outra pessoa, ao interpretar um personagem, podemos atestar todo o seu talento e perceber como ele é bom). Ainda, tivemos uma boa história a ser contada, o que ajuda muito na aceitação do filme pelo espectador. Outro detalhe interessante, e que serve de curiosidade nos dias de hoje, é de como um jornal era produzido, sem qualquer tecnologia digital e com o uso de tipos de metal nas prensas. Essa foi uma parte bem legal do filme.

                Meryl Streep e Steven Spielberg

Assim, “The Post: A Guerra Secreta”, é mais um dos candidatos ao Oscar que está nas nossas telonas, coroado de medalhões como Spielberg, Streep, Hanks e Williams. É mais um filme histórico de Spielberg, que adequa um pouco o factual ao espetáculo, sendo um pouco maniqueísta, mas que traz um convite à reflexão, onde a gente se questiona se os chamados “defensores da democracia” são tão democráticos assim. Como todo candidato ao Oscar, é um programa imperdível.

https://www.youtube.com/watch?v=EIx6T_WXOT0

 

Batata Movies (Especial Oscar 2018) – Corra! Terror Motherfucker.

                   Cartaz do Filme

Dando sequência aos nossos artigos de filmes indicados ao Oscar, falaremos hoje de “Corra!”, escrito e dirigido por Jordan Peele. Esse filme está indicado a quatro estatuetas (Melhor Filme, Melhor Ator para Daniel Kaluuya, Melhor Direção e Melhor Roteiro Original). Peele teve a ideia brilhante de misturar dois gêneros que, aparentemente, não têm nada em comum, mas que se encaixaram como uma luva aqui: o filme de terror, com uma pegada mais de suspense, e o filme de temática social que aborda a questão do racismo.

                                                 Um simpático casal…

Vemos aqui a história de Chris (interpretado por Kaluuya), um rapaz negro que tem uma namorada branca, Rose (interpretada por Allison Williams). Os dois fazem uma viagem de fim de semana para a casa dos pais da moça para que eles conheçam o novo namorado. Chris fica um tanto ressabiado, pois a região para onde vão tem um notório histórico de racismo. Mas Rose assegura que não há problemas, pois seus familiares foram eleitores do Obama. Ao chegar lá, Chris encontra uma família, a princípio simpática, mas, aos poucos, ele começa a se sentir muito desconfortável com as leves insinuações racistas nos argumentos de todos. Para piorar a situação, os pais vivem numa espécie de propriedade rural onde todos os empregados são negros. E esses empregados agem de uma forma muito estranha, ora letárgica, ora estabanada. Isso acontece também com os outros negros que vivem na região, como Chris pôde atestar numa festa promovida na casa. Isso é apenas o início de uma trama para lá de macabra.

                                   Vamos conhecer papai e mamãe???

Eu disse acima que a ideia foi genial, pois conciliar o gênero de terror com o racismo tem tudo a ver e aproxima essa temática social de um público mais blockbuster na forma do entretenimento e não via documentários ou filmes considerados mais reflexivos, que às vezes podem ser vistos como chatos por esse tipo de público, embora nunca possamos rotular ou generalizar. Colocar racistas como criaturas abomináveis enfoca totalmente o ponto de vista dos negros e coloca o espectador junto da posição deles, que tanto sofreram com as práticas racistas nos Estados Unidos. Ver todo o processo pelo qual Chris passa é desesperador e parece que sofremos junto dele, o que justifica sua indicação ao Oscar de Melhor Ator, embora sua interpretação às vezes tenha parecido um pouco plana, como no misto de surpresa e sarcasmo que ele fazia ao identificar uma situação de racismo na família de Rose.

                            Pessoas agindo de forma estranha…

Ele esteve muito melhor nos momentos de agonia e de desespero.  Outro ator que merece destaque foi o divertido LilRel Howery, que faz o amigo de Chris, Rod, um segurança de aeroporto que é especialista em teorias da conspiração, sendo que, no caso de Chris, todas elas deram certo, por mais inusitadas que fossem. Rod funcionou como um bom alívio cômico, embora sua visão estereotipada de negro (que fala gírias e palavrões) incomode um pouco justamente num filme que fale sobre racismo. Apesar desse porém, seu personagem funcionou muito bem no filme e trouxe todo um molho especial para a coisa.

                            Chris nem esperava o que ia acontecer…

Assim, “Corra!” é um filme imperdível (procure nas locadoras ou internet, pois nos cinemas daqui ele já passou e saiu de cartaz) que merece, a meu ver, pelo menos a estatueta de roteiro original. Seria muito legal se ganhasse também o melhor filme, ainda mais com um gênero tão pop como terror. Sabemos que o Oscar é um prêmio de indústria, onde a grana fala mais alto. Mas, para nós que somos cinéfilos românticos, não custa nada torcer. Esperemos a noite da premiação.

Batata Movies – O Estrangeiro. Um Jackie Chan Surpreendente.

                Cartaz do Filme

Imagine Jackie Chan fazendo um filme de ação, mas muito sério sobre terrorismo com o grupo IRA envolvido. Agora imagine Pierce Brosnan contracenando com Chan. Você terá a surpreendente película “O Estrangeiro”, infelizmente em cartaz em pouquíssimos cinemas, somente na Barra, nos shoppings Downtown e New York, como se esse tipo de filme fosse rotulado como uma coisa menor, não passando nos cinemas da Zona Sul e mais direcionado para um público, digamos, blockbuster. Lamentável que o filme tenha sido rotulado com esse estereótipo, assim como o próprio público. Cinéfilo que eu sou, me descambei lá para os lados da Barra para justamente assistir a esse filme que parecia, pela sinopse, ser bem interessante.

                          Ele perdeu uma filha

A trama fala do senhor Quan (interpretado por Chan), que perde a filha num atentado à bomba cometido pelo IRA em Londres. Quan fica inconformado e vai todos os dias à polícia para pedir informações sobre quem matou sua filha. Mas ele verá na TV um pronunciamento do vice-primeiro ministro da Irlanda do Norte, Liam Hennessy (interpretado por Brosnan), lamentando o ocorrido e dizendo que vai ajudar as autoridades inglesas nas investigações. Só que isso não é o suficiente para o senhor Quan, que vai até Belfast falar com o vice-primeiro ministro. Como é mal atendido, Quan, que veio fugido da Ásia e perdeu toda a família, tendo sido soldado no passado perito em explosivos, começa a transformar a vida de Hennessy num inferno, explodindo muitas bombas em todos os lugares, o que faz com que o vice-primeiro minsitro coloque os capangas dele no encalço do senhor Quan. O asiático, por sua vez, procura investigar mais a fundo para chegar aos assassinos de sua filha, enquanto busca pressionar Hennessy o máximo possível.

          Um vice-primeiro ministro suspeito

Esse é um filme muito curioso. Em primeiro lugar, quem pensa que essa é uma película onde Chan vai meter a porrada em todo mundo o tempo todo com seus golpes de artes marciais está muito enganado. Ele até lança mão do expediente da luta, mas numa quantidade muito menor do que a gente espera. Fica bem clara no filme a idade avançada de seu personagem, e ele luta contra seus inimigos mais com a inteligência do que com a força, o que foi algo muito positivo na película. Por sua vez, a atuação de Brosnan ficou num outro pólo do filme, que tinha uma intriga politica ricamente elaborada, sendo, talvez, a maior virtude do filme, o que ajudou a manter a atenção do espectador por toda a duração da película.

                                                Um momento tenso

Infelizmente, houve rótulos também. O grupo do IRA foi retratado como formado apenas por vilões terroristas cruéis que matam inocentes, num estereótipo muito semelhante ao que é feito com grupos islâmicos hoje em dia na mídia ocidental. Pelo menos, a atuação da polícia inglesa também foi colocada de forma extrema, com execuções sumárias e insinuações de tortura.

Os protagonistas foram bem. Chan conseguiu fazer um homem de meia idade cerebral e altamente emocional nos momentos certos. Brosnan, com uma rala barba branca, estava irreconhecível e em nada lembrava James Bond. Ver os dois contracenando juntos foi realmente um deleite para os olhos, pois conseguiram levar a trama muito bem.

                   Jackie Chan na pressão!!!

Assim, “O Estrangeiro” é um bom filme de ação mesclado à trama política estrelado por Jackie Chan e Pierce Brosnan. Não caia na armadilha do preconceito e procure alugar esse filme quando sair nas locadoras, já que nosso circuitão foi um tanto preconceituoso com essa excelente película.

https://www.youtube.com/watch?v=W3WFbixgWBQ