Batata Movies – Atômica. Um Videoclipe Sem A Cereja.

 

                                 Cartaz do Filme

E estreou “Atômica”, um filme que era cercado de grande expectativa. O trailer prometia muito! Charlize Theron encarnando uma agente secreta inglesa totalmente louraça e descendo a porrada num monte de homens. Mais empoderamento feminino impossível. O trailer também era altamente provocante, pois nossa loura dava uns pegas numa linda morena. Como se não bastasse, James McAvoy também apareceu no trailer como parceiro de Theron. Isso sem falar nas boas presenças de John Goodman (que dispensa apresentações) e Toby Jones (que já trabalhou em filmes da franquia da Marvel como “Capitão América”). Ou seja, tinha tudo para ser um filmaço.

       Uma louraça com a cara da Debbie Harry

E as expectativas foram correspondidas? Mais ou menos. “Atômica” teve um roteiro um tanto descontínuo, onde cenas de ação altamente explosivas mais ao final da película dividiram a trama com partes bem mais morosas, onde a história ficava até um tanto confusa. Tudo girava em torno de uma lista secreta de espiões que vazou em Berlim no ano de 1989, bem nos dias que antecediam a queda do muro. O MI6 (Serviço Secreto Britânico) tinha como objetivo recuperar a lista antes que ela caísse nas mãos da KGB, o que poderia prolongar a Guerra Fria em mais uns quarenta anos. Assim, nossa agente Lorraine  Broughton (interpretada por Theron) vai a Berlim onde ela deve se encontrar com seu contato, David Percival (interpretado por McAvoy). Só que, ao chegar a Berlim, ela já cai nas mãos da KGB e as cenas de porrada, bomba e tiro começam. O problema é que a história quis ser, além de um filme de ação convencional, uma trama de espionagem e suspense, onde vários jogos de gato e rato, assim como traições implícitas rechearam a história, e a solução de tais tramoias tornou a coisa um tanto enfadonha. Sei lá, acho que o peixe vendido no trailer foi o de um filme de ação mais tradicional, regado a CGIs e entretenimento puro, e o que se viu no filme não foi o mesmo, o que pode ter decepcionado um pouco o espectador (eu vi até uma pessoa abandonando o filme no meio da sessão que assistia no São Luiz 3). Outra coisa que muito decepcionou foi que a película tinha uma baita duma trilha sonora, com hits da época do naipe de um “Major Tom” e um “99 Luftbaloons”, chegando ao auge com um “Under Pressure”. Isso deu à película uma grande cara de videoclipe, de balanço irresistível para quarentões e cinquentões. Mas é imperdoável que “Atomic”, do Blondie, não estivesse na trilha sonora. Cacilda, um filme cujo título original é “Atomic Blonde” e Charlize Theron com a cara da Debbie Harry tem que ter “Atomic” em sua trilha sonora, mesmo que seja nos créditos finais! Esse foi um erro imperdoável que lamentei profundamente. Ainda tive alguma esperança de escutar um leve arremedo de “Atomic” nos créditos finais (fui o último a sair da sala) mas, nem assim…

                James McAvoy. Boa participação.

Pelo menos, o filme foi provocador.  Colocar a protagonista do filme em tórridas cenas de sexo explícito com uma agente francesa foi algo muito corajoso até para os padrões de hoje, ainda mais quando nos lembramos de que esta é uma co-produção Estados Unidos, Alemanha e Suécia, anglo-saxã demais para tocar em tal assunto num circuito comercial. E ainda mais que a agente francesa foi, ninguém mais, ninguém menos que Sofia Boutella, que ficou famosa como a múmia de Tom Cruise, onde já havia chamado bastante a atenção. Dessa vez, tivemos mais chance de vê-la atuando e, se seu talento como atriz é relativamente mediano, sua beleza ajudou em muito a recuperar o interesse pelo filme.

                         Um flerte e tanto…

Assim, “Atômica” infelizmente acabou decepcionando, pois os trailers traziam grandes expectativas, mas o filme acabou mostrando algo um pouco mais fraco. Mais ação, menos trama e a mesma dose de sensualidade poderiam ter talvez trazido um resultado bem melhor. Uma pena, mas vale dar uma conferida assim mesmo.

https://www.youtube.com/watch?v=Jc0_8kW8IGA

Batata Movies – Dupla Explosiva. Vale Mais Pela Comédia.

                  Cartaz do Filme

Um filme de ação com cara de comédia está em nossas telonas. “Dupla Explosiva” é o clássico filme de “porrada, bomba e tiro”, mas que é muito mais interessante por seu conteúdo altamente cômico. E isso amparado por um elenco estelar: Ryan Reynolds (cuja presença ficou muito mais valorizada por onde ele passa depois de “Deadpool”), Samuel Jackson (que dispensa apresentações) e as gratas surpresas de um Gary Oldman, o versátil ator português Joaquim de Almeida e, principalmente, Salma Hayek, que andava meio sumida e que, apesar da idade, ainda tem uma beleza para lá de estonteante.

                            Uma baita química!!!

No que consiste a história do filme? Michael Bryce (interpretado por Reynolds), um agente de segurança de gente muito importante, sempre foi impecável em seu trabalho. Até que um dos seus clientes acaba assassinado, o que o colocou no limbo, conseguindo apenas trabalhos menores. Ele será chamado por Amelia Roussel (interpretada por Elodie Yung) para proteger Kincaid (interpretado por Jackson), um assassino profissional que é testemunha-chave para condenar um ex-presidente da Bielorússia (interpretado por Oldman), acusado de genocídio. O problema é que o tal ex-presidente tem todo um rosário de capangas e assassinos que vão perseguir nossos protagonistas até ao inferno, se for preciso, com o objetivo de matar Kincaid. Aí, o resto todo mundo já sabe. Mas o detalhe aqui está no relacionamento entre Bryce e Kincaid, que foi, digamos, um tanto turbulento no passado, o que vai provocar muitas risadas nos espectadores.

                 Muito bom ver Hayek de volta!!!

O filme definitivamente gira em torno de Reynolds e Jackson, como não podia deixar de ser diferente. A química entre os dois foi perfeita, com um carisma maior por parte de Jackson. Ele meio que engoliu Reynolds durante a película. De qualquer forma, Reynolds também esteve bem. O personagem talvez não ajudasse muito, já que ele era metódico, certinho e, como dizem hoje em dia por aí, cheio de “mimimi”. Já Jackson era um supersafo da vida, com os “Motherfuckers” de sempre, o que provocava muito mais impacto. Duas naturezas tão antagônicas ajudaram a compor um bom relacionamento entre os dois, que começou com turbulências muito engraçadas, mas que pouco a pouco deram lugar a uma aproximação e entendimento melhor entre eles.

Com relação ao vilão, ele apareceu muito pouco e fez o bandidão mau e impiedoso clássico, o que é uma pena, pois um talento como o de Oldman sempre pode ser melhor aproveitado, se bem que, num filme desse tipo, não existe muito espaço para isso, pois o vilão é mau e somente isso. Podemos dizer que Oldman fez seu “feijão com arroz” direitinho. Já Joaquim de Almeida é aquele talento que todos nós cinéfilos que acompanhamos o cinema europeu já conhecemos de eras. Mas o cinema americano insiste em criar estereótipos e mais uma vez deu um papel de mau caráter a Almeida, o que eu particularmente acho uma coisa muito chata e reforça os argumentos de Ricardo Darín em não ceder às tentações de Hollywood. Salma Hayek interpretou a esposa de Kincaid, e fez o estereótipo da mulher latina fogosa e violenta clássica. Como era algo sem saída, Hayek caiu de cabeça no papel e o fez de forma tão caricata que isso caiu como uma luva no gênero de comédia do filme. E, cá para nós, como foi bom ver Hayek de novo com sua beleza irresistível! Só isso já valeu o ingresso!

                  Oldman. Vilão convencional.

Apesar do rosário de estereótipos, “Dupla Explosiva” é um filme altamente recomendável pois, mais do que um filme de ação, é uma ótima comédia feita por um elenco muito bom e traz atores que estavam meio sumidos nas telonas. Só é lamentável que esse filme tenha passado em tão poucas salas e com poucos horários, o que reflete a carência de salas de cinema numa cidade de escala nacional como o Rio de Janeiro. Quem não tiver a chance de ver no cinema, pode depois procurar no DVD.

https://www.youtube.com/watch?v=aJ6H9WWHN6Y

Batata Antiqualhas – Jornada Nas Estrelas. Radiografando Um Longa. O Filme (Segunda Parte).

 

Wise, Rodenberry, Shatner, Kelley e Nimoy. Pérola de bastidor.

Quais são as grandes virtudes de “Jornada nas Estrelas, o Filme”? Em primeiro lugar, o filme se aproxima de uma das propostas da série, que é a de fazer uma ficção científica intelectualizada. Víamos alguns episódios que acompanhavam esse esquema. Era colocado um problema inicial, que geralmente ameaçava a integridade da nave e da tripulação, e quebrando muito a cabeça, nossos personagens buscavam a solução para sair daquela enrascada que o desconhecido colocava à sua frente. Eu me lembro de um episódio em que era encontrado um buraco no espaço e, ao entrar para investigar, eles se depararam com um enorme ser vivo em formato de ameba gigante, que sugava toda a energia à sua volta, inclusive da Enterprise. A partir daí, a tripulação passava o resto do episódio procurando uma forma de sair dali. Nesses momentos, a série se aproxima da ficção científica da melhor qualidade.

Um elo mental que revela inquietações.

Ainda seguindo a linha de ficção científica requintada, a insistência em Kirk de colocar a nave em dobra, com o seu reator de dobra ainda defeituoso, enfiou a Enterprise num buraco de minhoca (forte distorção espaço-temporal provocada por um intenso campo gravitacional, ou no caso do filme, pelo reator de dobra em mau funcionamento), onde a velocidade aumentava de forma descontrolada, criando uma violenta distorção espaço-temporal que impossibilitava a reversão da dobra. Quanto maior a velocidade, mais lentamente a tripulação se comportava. Por que isso?

Vulcano na versão original de 1979.

Na Teoria da Relatividade Especial de Einstein, existe o chamado “paradoxo dos gêmeos”, onde dois irmãos gêmeos (Ulisses e Homero) participam de uma experiência. Ulisses fica sentadinho na sua cadeira no planeta Terra, enquanto que Homero pega uma nave espacial e viaja a velocidade da luz. Para Homero, que viaja a altíssima velocidade, o tempo passa mais lentamente, ao passo que, para Ulisses, o tempo passa normalmente. Assim, quando Homero retorna à Terra, a viagem para ele passou, digamos, poucos dias. E para Ulisses, que ficou sentadinho aqui na Terra, a viagem durou muitos anos. Dessa forma, Homero ainda está jovem e Ulisses está velhinho. Já que há esse paradoxo, como seria a visão que Ulisses teria de Homero dentro da nave quando ela estivesse à velocidade da luz? Ulisses veria Homero se mexendo muito lentamente. É o que vemos dentro da Enterprise, quando ela está em altíssima velocidade num buraco de minhoca. Agora, no filme esse paradoxo só ocorre quando o sistema de dobra está com defeito, é claro!

Vulcano digitalizado na versão do diretor: seguindo os storyboards originais.

E adivinhe quem o conserta? Lógico, meu caro, é o Spock, que toma o lugar de Decker como oficial de ciências sem que o já rebaixado personagem reclame, ao contrário do que ele fez com Kirk. Como disse um dos produtores do filme, “Jornada nas Estrelas sem Spock (e Nimoy) é a mesma coisa que um carro sem rodas”.

Enterprise no buraco de minhoca. Paradoxo dos gêmeos na materialidade das imagens.

Falando em Spock, é o momento oportuno de falar de sua cena de choro na “versão do diretor” do longa. A lágrima do Vulcano por V’Ger tem grande carga simbólica, pois é o reconhecimento de seu dilema razão X emoção que aparecia na série clássica, jamais confirmado por ele. Por ser meio humano, meio vulcano, reconhecer suas emoções era visto como um sinal de fraqueza pelo oficial de ciências, que sempre lançava mão de argumentos lógicos para dissimular suas manifestações emocionais. Essa característica, aliada à sua retórica altamente refinada, sincera e irônica tornaram, a meu ver, o personagem Spock um dos mais amados de todos os tempos. É comovente ver o sentimento de compaixão de Spock por V’Ger, exatamente pelo fato do vulcano se identificar com a máquina, cuja lógica e raciocínio não são suficientes para completar sua essência. O vazio de emoções e a falta de respostas a questões tão metafísicas como “O que eu faço no mundo?”, ou “Qual é a razão de minha existência?” tornam a vida de V’Ger incompleta e desalentadora e parece que Spock passa pelos mesmos dilemas, assim como todos nós, que também buscamos respostas para essas perguntas e, volta e meia, também passamos por momentos de instabilidade emocional.

McCoy dando uma bronca em Kirk, após ele forçar a barra com a tripulação exigindo o sistema de dobra.

A viagem solitária de Spock num traje espacial com força de propulsão ao longo da nave de V’Ger é curiosa, pois o vulcano encontrava todas as informações acumuladas pela nave ao longo de sua viagem. Ao presenciar uma imagem de Ilia, que foi absorvida por V’Ger e que enviou uma sonda em formato de Ilia para interagir com a tripulação da Enterprise, Spock tenta fazer um elo mental. Mas a sobrecarga de informação é tanta que ele fica inconsciente. Durante o elo mental, vemos o rosto em agonia de Spock com várias imagens sobrepostas passando muito rapidamente por sua face. A solução do filme está lá (quem é V’Ger). Se colocarmos o aparelho de DVD quadro a quadro, vemos imagens da Voyager e das figuras humanas desenhadas em seu disco de ouro preso à fuselagem da nave. Típica mensagem subliminar.

Spock e sua viagem insólita pela nave de V’Ger.

Por fim, o primeiro longa de “Jornada nas Estrelas” é altamente kubrickiano, tanto do ponto de vista estético quanto do ponto de vista do enredo. Esteticamente, o interior da nave de V’Ger se aproxima em alguns momentos do caleidoscópio da viagem warp de David Bowman ao se aproximar do monólito. Do ponto de vista do enredo, assim como Bowman interage com a espécie alienígena para criar um novo ser híbrido, a mesclagem final de Decker, Ilia e V’Ger cria também um novo ser, onde essa fusão se manifesta de forma até mais profunda do que em Kubrick, pois liga com total harmonia o racionalismo exacerbado de V’Ger com a emoção e amor de Decker e Ilia.

Fusão de Decker e Ilia com V’Ger. Nova espécie, assim como em Kubrick.

Concluindo estas linhas, volto a confirmar que “Jornada nas Estrelas, o Filme” é um longa a altura de todo o carisma e sucesso dessa série que é um verdadeiro fenômeno cultural, pois aliou ação, humor e entretenimento a um aguçado debate intelectual. E tudo isso na TV e numa cultura de massa taxada de burra pela escola de Frankfurt, composta de pensadores como Adorno e Walter Benjamin. Que bom que toda regra tem sua exceção!

Nave de V’Ger. Outra manifestação kubrickiana.

E não deixem de rever abaixo a antológica abertura do filme onde três cruzadores klingons enfrentam a nuvem de V’Ger. Só lembrando que o capitão klingon é Mark Lenard, o ator que interpreta Sarek, o pai de Spock.

Batata Antiqualhas – Jornada nas Estrelas, O Filme (Parte 1)

            Cartaz do Filme: a velha tripulação de volta.

“Jornada nas Estrelas, o Filme”. O primeiro longa da série que havia feito muito sucesso na segunda metade da década de 1960 e suas reprises na década de 1970, foi dirigido pelo consagrado diretor Robert Wise, responsável por obras como “O Dia em que a Terra Parou”, “Noviça Rebelde” e “O Dirigível Hindenburg”. Nome à altura da tão esperada ressurreição da franquia, após o fracasso de se tentar levar a série “Jornada nas Estrelas, Fase II” ao ar nas tvs. Reza a lenda que o sucesso de “Guerra nas Estrelas” levou a Paramount a optar por fazer um longa.

                  Antigos rostos, alguns novos. Figurino a desejar…

Dos seis longas-metragens da tripulação da série clássica, esse talvez tenha sido o mais cerebral e artístico de todos. Para relembrarmos seu enredo, uma imensa nuvem desconhecida, que consome tudo à sua frente, vai em direção a Terra.

Uma maquete de três metros de comprimento para ser melhor filmada, com a câmera fazendo um travelling ao longo de sua carcaça.

O agora almirante James Tiberius Kirk mexe seus pauzinhos para retomar o controle da Enterprise, que passou por dezoito meses de reforma. Para isso, ele terá que rebaixar Decker (interpretado por Stephen Collins), o atual capitão da Enterprise, a primeiro oficial e oficial de ciências, o que provoca conflitos entre os dois.

                       Ilia e Decker: envolvimento amoroso.

Enquanto isso, em Vulcano, Spock atinge o Kolinahr, o expurgo total de suas emoções e o alcance à lógica total, mas ao receber a honraria, ele a recusa, pois sentiu uma poderosíssima consciência totalmente lógica em busca de perguntas. Ele se unirá à tripulação da Enterprise, que irá em direção à misteriosa nuvem e desvendar seus segredos.

Persis Khambatta raspando a cabeça para interpretar Ilia. Choro com a perda dos longos cabelos negros.

Mas, o que é essa nuvem? Nela existe uma grande nave espacial, comandada por V’Ger, uma máquina que busca respostas para sua existência. V’Ger busca seu criador e quer transformar as unidades carbono que infestam a Enterprise e a Terra (os humanos) em meros bancos de dados, por serem consideradas mais uma praga do que formas de vida.

                                        Ilia na Fase II.

Kirk e seus comandados descobrirão que V’Ger é na verdade a Voyager 6, uma sonda enviada pela NASA ao espaço mais de trezentos anos antes, que tinha a missão de coletar dados e enviá-los à Terra (ao seu criador). Por coletar uma quantidade enorme de informações e acumular conhecimentos, a Voyager 6 acabou desenvolvendo consciência. Mas a nave entrou num buraco negro, saindo do outro lado da galáxia, caindo num planeta de máquinas vivas que construiu a nave gigante para que a intrépida Voyager cumprisse sua missão.

                    David Galtreaux como o vulcano Xon em Fase II.

E ela retornou a Terra em busca de uma integração (física, inclusive) com seu criador. Como não recebia respostas de seu criador, já que o sinal era antigo demais e não entendido por seus criadores terrestres, a Voyager resolve acabar com todas as unidades carbono que infestam o planeta, entendidas por ela como a causa da obstrução do encontro da nave com seu criador. Nossa tripulação então tentará fazer esse contato.

                           E sua ponta no longa…

Essa história foi escrita para ser utilizada em “Jornada nas Estrelas, Fase II”, e enredo semelhante já havia sido utilizado no episódio “Nômade”. O longa quase teve um desfalque grave, pois Leonard Nimoy não queria participar do filme, mas depois de muitos apelos desesperados, ele aceitou. Em contrapartida, a bela Persis Khambatta, que havia interpretado a personagem Ilia na Fase II, participa do filme, assim como o ator David Gautreaux faz uma ponta como comandante da estação Epsilon 9, que foi sugada pela nuvem. Gautreaux seria o novo vulcano da Fase II, Xon, pois Nimoy não se incorporou ao cast da nova série. Xon seria totalmente vulcano e recém-saído da Academia de Ciências de Vulcano, sendo mais um fator para ressaltar o lamento pelo fracasso da Fase II.

                                  Enterprise e a misteriosa nuvem.

Após esse pequeno inventário de informações sobre o primeiro longa de “Jornada nas Estrelas”, eu falarei, no próximo artigo, quais são as principais virtudes desse memorável filme. Até lá!

Batata Movies – A Torre Negra. Mais Um Stephen King Na Área.

                 Cartaz do Filme

Confesso a vocês que não vejo muitos filmes inspirados em histórias de Stephen King. Apesar de todo o mérito delas, o gênero em que ele escreve nunca me atraiu muito. Só espero não ser tendencioso em minha análise de “A Torre Negra”, o seu último filme (se bem que “It” também já está por aí pelas salas). Apesar de meu pouco interesse, decidi ver a película ao saber que Idris Elba e, principalmente, Matthew McConaughey iriam participar. Assim, tinha um bom motivo para dar uma chegadinha ao São Luiz, no Largo do Machado, para prestigiar o filme.

            O Homem de Preto e o Pistoleiro

E quais foram as minhas impressões? Bom, a ideia de luta entre o bem e o mal foi apresentada de uma forma, digamos, interessante. Essa velha receita vem estruturada numa noção de que o nosso Universo é circundado por forças malignas que não conseguem entrar devido à proteção de uma torre negra. Um tal de Homem de Preto (interpretado por McConaughey), mau que nem o Pica Pau, vai tentar destruir essa torre, usando a força vital extraída do cérebro de… crianças (não me pergunte por que…). Ele vive numa espécie de mundo paralelo ao nosso. Cada ataque que a torre sofre traz reflexos nos dois mundos, provocando uma onda de terremotos por aqui. A única pessoa que percebe que há algo de errado é um garoto, Jake (interpretado por John Taylor), que tem sucessivos sonhos com a história da torre, com o Homem de Preto e com um pistoleiro de nome Roland (interpretado por Elba). Os pistoleiros têm como missão proteger a torre das forças maléficas do Homem de Preto. Mas a batalha contra o mal está praticamente perdida. Como o menino está sendo tratado como um doido pela sua mãe e pelo seu padrasto, ele consegue fugir até encontrar um portal para o tal mundo paralelo, onde se unirá com Roland na luta contra o tal Homem de Preto.

     O pistoleiro encontrará apoio no jovem Jake

A história até tem um enredo interessante mas não empolga muito. Há várias cenas de ação que deixam a coisa um pouco mais atraente, mas mesmo assim não parece ser muito suficiente. Existem algumas coisas que a liberdade poética permite, mas que incomodam como, por exemplo, o fato do Homem de Preto ter poder suficiente para matar uma pessoa apenas com sua vontade mas isso não funcionar justamente com o pistoleiro e o garoto, que é cercado de todo um poder especial. Assim não vale. Os protagonistas tinham que ter algum tipo de vulnerabilidade para com o inimigo e quebrar a cuca para se proteger. A história ficaria muito mais interessante e daria mais status ao personagem de McConaughey, que merecia coisa melhor para interpretar. O Homem de Preto, em sua maldade absoluta, é simplório demais e não deu chance a um ator vencedor de Oscar demonstrar todo seu talento. O pistoleiro de Elba era bem mais interessante, pois ele é o herói que falhou em sua missão e a única coisa que o mantém vivo é o rancor de sua vingança para com o Homem de Preto. Ou seja, ele já esqueceu suas virtudes de herói faz tempo, e elas serão justamente resgatadas por Jake, o menininho puro. De doer também é o desfecho da história, de tão banal que foi e que os spoilers me evitam dizer. Será que no livro do King é a mesma coisa? Espero que não…

Stephen King. Minha história ficou legal no cinema?

Assim, “A Torre Negra” tem até um enredo interessante, mas o desenvolvimento da história não é muito atraente. Uma pena, pois temos dois atores muito bons aqui. Você pode até ir ao cinema por eles mas, de resto, não espere muito mais.

Batata Movies – O Estranho Que Nós Amamos. Boas Anfitriãs!!!

                    Cartaz do Filme

Um remake na área. “O Estranho Que Nós Amamos”, escrito e dirigido por Sofia Coppola, traz de volta uma película de 1971, “Ritual de Guerra”, estrelada por Clint Eastwood. Me lembro de ter visto esse filme legendado na TV aberta numa Sessão de Gala da vida e muito me chamou a atenção a situação sui generis da história: um homem ferido sendo cuidado por várias mulheres de idades diferentes, onde houve um perigoso jogo de sedução com desfecho trágico. E tudo isso ambientado na Guerra Civil Americana. Foi um drama tenso e pesado e fiquei muito impressionado com o filme. Agora, Coppola reconta a história com muita fidelidade ao original, lançando mão de um grande elenco: Colin Farrel, Nicole Kidman, Kirsten Dunst, Elle Fanning.

                     Moças muito recatadas…

Mas, como é a história exatamente? John McBurney (interpretado por Farrell) é um militar ianque que está ferido na Virgínia, ou seja, em território confederado. Ele é encontrado por uma garotinha que vive numa escola para moças. Ajudado pela menina, McBurney vai para a escola, dirigida por Miss Martha (interpretada por Kidman), uma senhora sulista extremamente recatada, religiosa e conservadora. Outra figura importante (e adulta) da escola é a professora Edwina (interpretada por Dunst). Há, ainda, um punhado de mocinhas menores de idade. Há um medo inicial nelas de se manter o inimigo dentro da escola. Mas a curiosidade e a tentação de uma presença masculina falaram bem mais alto e McBurney foi tratado às escondidas do exército confederado. À medida que o homem foi melhorando, ele percebeu o interesse da mulherada por sua pessoa e começou a seduzi-las para garantir um esconderijo enquanto se recuperava. O problema é que ele ainda era um inimigo na escola e qualquer passo em falso poderia levar à sérios problemas, como de fato acabou ocorrendo. Só que não darei mais spoilers aqui.

                      Um ianque interesseiro

Bom, nem é preciso dizer que um remake traz à tona a inevitável comparação com o filme original. Infelizmente, faz muito tempo que vi o filme de 1971. Mesmo assim, a impressão que ficou é a de que o filme antigo pareceu mais tenso e pesado. Eastwood sempre teve uma cara muito menos amigável para um papel desse naipe. Deve ser algum estereótipo na minha cabeça provocado pelo Dirty Harry (Farrell, por sua vez, parece um ator mais adequado para o papel). Mas me lembro que a coisa tinha um quê mais rude. Como dessa vez tivemos muitas beldades de rostinhos de porcelana como a Kidman, Dunst e Fanning, a coisa transpareceu um pouco mais suave, embora isso não signifique que não tenha havido os momentos de tensão que essa história exige. Só que eles pareceram muito mais estanques dessa vez.

                                 Jogos de sedução…

Para não se achar que essem filme ficou pior que o original, podemos dizer que a versão de 2017 tem um enorme trunfo: uma sensacional fotografia realizada em ambientes altamente escuros. A propriedade sulista mal cuidada e decadente era circundada por árvores frondosas e que pareciam invadir toda a tela, dando a sensação de que estavam em cima da gente. Esse ambiente externo claustrofóbico e escuro já chama a atenção no início do filme. Mas a coisa vai além, principalmente nas filmagens do interior da escola, já que uma parte do filme se passava à noite, onde a única iluminação era à luz de velas, tornando tudo ainda mais escuro. Pontaço para Sofia Coppola aqui, que nos levou direto ao século XIX nesse quesito. E esse ambiente enegrecido muito ajudou, pois parecia que ele contaminava as almas de todos, tornando as relações humanas de formais para soturnas, chegando à explosões de desespero. Todo o conservadorismo daquela sociedade sulista se mostrou num espectro amplo, indo do recatado ao diabólico, em todos os sentidos. Definitivamente, a hospitalidade sulista é algo totalmente dispensável se foi o que vimos na película. Só que os spoilers me impedem de entrar em mais detalhes.

                    Iluminação à luz de velas…

Assim, “O Estranho Que Nós Amamos” é um interessante caso de remake que, se mostrou algumas deficiências com relação ao original, também mostrou virtudes. O filme atual me pareceu menos tenso que o antigo, mas também teve a virtude de ter uma fotografia excelente em ambientes muito escuros e angustiantes e trouxe uma boa interpretação de Farrel, que tem mais “jogo de cintura” que Eastwood para o papel de sedutor e interesseiro que era McBurney. Vale a pena dar uma conferida e procurar a versão antiga no You Tube.

https://www.youtube.com/watch?v=zDkZewDP39M

Batata Movies – Valerian E A Cidade Dos Mil Planetas. Idílios E Distopias.

                   Cartaz do Filme

Na longínqua década de 80, a gente tinha o hábito de ler todos os domingos no jornal “O Globo” um suplemento de quadrinhos chamado “Globinho”. Lá, podíamos ler várias tiras: Zé do Boné, Pinduca, Mickey, etc. Até o Incrível Hulk deu o ar de sua graça. Num daqueles domingos, provavelmente depois de uma vitória do Ayrton Senna na TV, abri um “Globinho” e me deparei com um tal de “Valerian, O Agente Espaço-Temporal”. Num primeiro momento, não dei muita bola para aquilo, pois as tiras contavam uma história em sequência todos os dias no jornal e não as acompanhei, pois a gente comprava o jornal somente aos domingos. Entretanto, a tira começou a contar uma nova história, até com o traço de um novo desenhista, e ela passou a ser semanal. Desse jeito, eu pude acompanhar a história. Lembro-me muito pouco dela, mas recordo-me que era muito instigante e aguardava sempre a tirinha da semana seguinte com grande ansiedade e expectativa. Qual não foi a minha surpresa quando vi o trailer de Valerian, ainda mais escrito e dirigido pelo ultra porra-louca Luc Besson? Confesso que fiquei com uma boa esperança de que a coisa fosse dar certo e aguerdei ansioso o filme desde o início do ano. Pois bem, vieram as primeiras exibições de cabine de imprensa e quem viu não teve uma boa impressão, muito pelo contrário até. O filme foi muito esculachado. Como eu queria muito ver essa película, fui assim mesmo.

                     Casal de atores não ajudou…

Qual é a história de Valerian? O agente espaço-temporal e sua fiel escudeira/companheira/amante Laureline são agentes militares (Valerian é major e Laureline sargento) de uma espécie de Federação terrestre que administra uma gigantesca estação espacial conhecida como “A Cidade dos Mil Planetas”, contendo milhões de espécies de todo o Universo. Um setor dessa estação está radioativo e inacessível e Valerian, juntamente com Laureline, precisam investigá-lo. Mas esse setor abriga um segredo que confunde o papel de mocinhos e bandidos ao longo da história, só para fazermos uma sinopse bem rápida e não soltar muitos spoilers.

                                      Bichinhos…

Qual foi a primeira grande coisa que a gente nota nesse filme? O impacto visual. Os efeitos especiais mostraram ao inicio um planeta alienígena altamente idílico e paradisíaco, supercolorido, dando um tom bem água com açúcar. Os nativos eram esguios e falavam quase sussurrando de forma bem doce, num forte contraste com a sociedade mecanizada e industrializada dos humanos da Cidade dos Mil Planetas. Apesar de muitos bichinhos alienígenas ao longo da película (e não é que Besson teve um surto de George Lucas?), o mundo paradisíaco inicial foi um belo cartão de visitas. Já a história, o enredo do filme em si, foi mediana e até um certo ponto entediante em alguns momentos, embora tivesse pitadas coerentes de distopia. A comunidade utópica da Cidade dos Mil Planetas tem seus problemas sociais e econômicos. E a escolha do grande vilão corroborava a distopia, bem ao estilo do “bandido mais próximo de si do que você imagina”, tomando um monte de atitudes politicamente incorretas, mesmo que a história esteja avançada cinco séculos no tempo.

      Rihanna, por incrível que pareça, foi bem…

O elenco teve algumas pérolas inusitadas, bem ao estilo doido de Luc Besson: um Rutger Hauer envelhecido, cuja aparição meteórica deu grande credibilidade ao início do filme, um Herbie Hancock (!) no papel de um militar de alta patente, passando uma visão muito austera, um Ethan Hawke todo iluminado (!!) como dono de casa de mulheres de fino trato, e uma Rihanna (!!!) no papel de uma sensual alienígena, cuja dança em pole dance assumiu uma plasticidade (e elasticidade) jamais vistas antes, graças ao bom e velho CGI. Agora, o grande problema do filme foi, sem a menor sombra de dúvida, a escolha dos atores do casal protagonista. Dane Dehaan, o Harry Osborne do Homem Aranha de Andrew Garfield, que interpretou Valerian, e Cara Delevingne, que interpretou Laureline, são muito fraquinhos. A voz de Dehaan parecia muito abobalhada e os trejeitos de Delevingne lembravam muito os de uma pré-adolescente malcriada. Sinceramente, eu não me lembro de Valerian e Laureline desssa forma. Ainda, apesar de minha experiência com os quadrinhos franceses de Valerian ter sido muito vaga, pode-se dizer que os atores aparentam ser relativamente novos para os personagens. Como a história é muito focada no casal protagonista, o filme acabou perdendo bastante.

O diretor Luc Besson e o casal protagonista… não rolou…

Assim, “Valerian e a Cidade dos Mil Planetas” não é de se jogar fora, mas também não empolga. Vá ao cinema, mas não espere muito. Uma pena…

https://www.youtube.com/watch?v=Up-qw0eLF1g

Batata Movies – Homem Aranha, De Volta Ao Lar. Covardia Com A DC.

                Cartaz do Filme

A Marvel ataca novamente lançando desta vez a terceira geração do Homem Aranha. Estrelado agora por Tom Holland, o aracnídeo retorna em grande estilo, pouco depois de Mulher Maravilha ter sido lançada pela DC. E pode-se dizer que, mais uma vez a Marvel deu um toco na concorrente. Já está chegando a dar pena.

Peter Parker, agora interpretado por Tom Holland

O mais curioso é que a história das origens de Peter Parker não é contada, como já ocorrera nas versoes estreladas por Tobey Maguire e Andrew Garfield. Ja temos a referência direta a “Guerra Civil”, onde Parker tinha uma ligação com Tony Stark, que desenvolveu o super traje do Aranha. Sabemos que nos quadrinhos de “Guerra Civil”, esse traje era ainda mais irado que o do filme, mas podemos dizer que a roupa da pelicula também era rica em dispositivos, o que às vezes embananava nosso herói.

                               Tony Stark, o mentor

Por que esse novo Homem Aranha é tão bom? Em primeiro lugar, a Marvel lançou a receita de sempre, que é fazer um filme de ação com muito humor. Tem gente que não gosta muito disso. Mas eu devo confessar que adoro os filmes da Marvel, justamente por essa química muito bem feita (já tive a oportunidade de mencionar isso outras vezes). E o mais curioso é que fazer humor é algo muito difícil, sendo que é necessário, no mínimo, ser constantemente original. A Marvel consegue em seus filmes usar um gênero extremamente exigente e arriscado como o humor para justamente dar um novo frescor a cada história que conta na telona. E isso deu muito certo com um personagem engraçado e divertido como o Homem Aranha. Alías, devemos tirar também o chapéu para Tom Holland. A primeira impressão que ficou dele em “Guerra Civil” era a de que Holland não interpretava Peter Parker, mas sim interpretava Tobey Maguire interpretando Peter Parker. Nesse filme, o jovem ator consegue colocar um estilo todo seu, superando Andrew Garfield (que funciona muito melhor em filmes dramáticos) e, chegando perto de Tobey Maguire, ainda o melhor Homem Aranha em minha modestíssima opinião.

Michael Keaton arrebentou como o vilão Abutre

Uma grata surpresa foi a participação de Michael Keaton na película como o vilão Vulture (Abutre). Tem havido uma série de críticas aos vilões dos últimos filmes da Marvel (opinião que nem sempre eu compartilho). Mas agora parece que a Marvel trouxe um vilão à altura. Keaton term provado que ficou muito melhor com a idade, sobretudo quando vemos seus últimos trabalhos. E não foi diferente agora. Seu vilão se mostrou frio, calculista e, principalmente, com argumentos até certo ponto convincentes para ter se enveredado para o caminho do mal. Um homem que quer garantir o conforto da esposa e da filha e que diz uma grande verdade: “Os ricos não se importam com a gente”, ou seja, um cara que tinha empatado uma grana boa em reciclagem e que vai tomar uma rasteira (alerta de spoiler) justamente de quem? Isso mesmo, caro leitor! Tony Stark! Esse pequeno elemento faz a gente ter uma certa empatia com o bandido, apesar de tudo. E Keaton convencia em sua atuação, até nos momentos mais inusitados do filme. Mas não entrarei em detalhes.

                                   Que Tia May!!!

Outra coisa que ficou ótima no filme foi a repaginada em Tia May. Agora ela é uma Marisa Tomei na meia idade, como já tínhamos visto em “Guerra Civil”. Entretanto, aqui a atriz teve mais espaço para trabalhar a personagem, conquistando o coração da galera, mesmo que ela tenha ficado excessivamente doce e melosa em alguns momentos, ficando até meio bobinha. Entretanto, Marisa Tomei nunca esteve tão sensual num papel e enche os olhos vê-la da forma mais adocicada possível.

Por fim, o desfecho. Apesar de eu não poder contá-lo, achei-o muito engraçado e deu uma chave de ouro digna ao filme. Cenas pós-créditos? Há duas, tem que ficar até o finzinho, sendo que a última é também uma zoação.

Assim, nem sei se “Homem Aranha, De Volta Ao Lar” conseguirá os recordes de bilheteria de “Mulher Maravilha”, mas ficou a impressão de um filme melhor e que, confesso, me divertiu como há muito tempo eu não me divertia no cinema. Vá sem medo, vale muito a pena.

https://www.youtube.com/watch?v=iuGDjaZOKuk