Batata Movies – Mulher Maravilha. O Melhor Da DC.

                 Cartaz do Filme

Há algum tempo atrás, estreou “Mulher Maravilha”, uma importante cartada da DC no combate com a Marvel. Gal Gadot e sua personagem já havia chamado muito a atenção em “Batman vs. Superman”, um filme que teve suas virtudes, mas também teve seus defeitos e não conseguiu fazer frente à “Guerra Civil”, lançado logo depois. A DC, então, apostou suas fichas na simpática Gadot e na sua aura de empoderamento feminino que arregimentou uma legião de mulheres (e homens) aos cinemas.

                       Gal Gadot. Apaixonante… 

Mas, do que se trata a história? Temos aqui uma ilha somente de mulheres, amazonas guerreiras forjadas na antiga mitologia grega com o intuito de combater o Deus grego da Guerra, Ares. Só há mulheres adultas na ilha, exceto pelo fato de existir uma pequena menininha chamada Diana, filha de Hipólita (interpretada por Connie Nielsen), a rainha da ilha. Hipólita quer manter Diana afastada das sangrentas batalhas de outrora orquestradas por Ares, mas a garotinha desde cedo só queria saber de lutas e batalhas, sendo treinada secretamente por sua tia Antíope (interpretada por Robin Wright). Um belo dia, um avião rompe a barreira que protege a ilha do mundo exterior e cai no mar. Diana vê o acidente e salva o piloto, Steve Trevor (interpretado pelo “Capitão Kirk” Chris Pine). Vai ser aí que Diana perceberá que a Primeira Guerra Mundial está em curso e que isso só pode ser obra de Ares. Diana, então, irá com Trevor para Londres e de lá para o front de batalha, onde acredita que encontrará o Deus da Guerra.

                        Hipólita, mãe de Diana

Numa primeira análise, o filme é muito bom, salvo um pequeno defeito: ele foi um pouco arrastado na parte centrada em Londres logo após a chegada de Diana até o momento em que há a primeira grande cena de ação da personagem protagonista no front, quando a película realmente começa a esquentar. A parte inicial da ilha chegou a ser muito didática, explicando detalhadamente toda a mitologia grega envolvida na história, sendo muito atraente, pois construiu bem a personagem de Diana, algo do qual sentimos falta em “Batman vs. Superman”, embora devamos nos lembrar de que naquela película ela não tenha sido a personagem principal. Mesmo assim, ficou a impressão de que ela foi muito mal apresentada naquela ocasião. Outra virtude do presente filme foi a reconstituição da época da Primeira Guerra Mundial, feita com bons detalhes e ficando muito convincente.

         Antíope iniciará Diana no ofício da guerra.

O filme também não podia deixar de abordar a questão do empoderamento feminino, ainda mais numa época de machismo mais latente que o de hoje. Optou-se por trabalhar essa questão em alguns momentos com uma boa e precisa dose de humor sarcástico e, em outros momentos, de forma mais séria. Houve uma pequena imprecisão histórica (alerta de spoiler): lançou-se mão de um personagem real, o general Ludendorff, como um dos vilões do filme, e ele acabou sendo morto pela Mulher Maravilha ainda na Primeira Guerra Mundial. Mas é sabido que Ludendorff participou de uma tentativa fracassada de golpe na Alemanha em 1923, juntamente com Adolf Hitler, que ficou preso apenas um ano (Ludendorff nem para a cadeia foi). Essa situação um tanto incômoda de se ver um personagem real sendo morto num filme poderia ter sido evitada, simplesmente usando um personagem fictício. Mas o filme acertou na mosca ao abordar a questão da guerra e fazer uma ponte entre a Primeira Guerra Mundial e os dias atuais, quando mencionou o uso de armas químicas, presentes tanto no conflito do século passado quanto na atual Guerra da Síria. No mais, podemos dizer que a história foi muito bem construída, e Gadot arrasou, distribuindo carisma e sorrisos, sendo menos sisuda que a Mulher Maravilha de “Batman vs. Superman”. A se lamentar aqui foi a pieguice de se colocar uma fala para a protagonista do naipe de “Eu acredito no amor!”. Parecia que a gente via uma daquelas novelas mexicanas que o SBT passa de tarde. Diana Prince não merecia isso.

Steve Trevor levará Diana para o mundo exterior…

Fica aqui uma sugestão para os próximos filmes solo: continuar com a pegada histórica e da guerra. Poderíamos ver a moça na Segunda Guerra Mundial ou na Guerra do Vietnã. Isso a traria mais para o nosso mundo real e a afastaria a ilusão de que as guerras ocorrem por culpa de Ares. “Mulher Maravilha 2” não precisa ser nem nos dias atuais. Pode-se brincar um pouco mais com o tempo aqui, é o que eu creio.

Excelente reconstituição histórica. Foto de arrepiar!!!

Assim, “Mulher Maravilha” foi o melhor que a DC fez até hoje em termos de cinema. Uma personagem bem apresentada, uma boa reconstrução de época, uma história cativante e uma Gadot apaixonante, agradando a homens e mulheres. Desta vez, a DC acertou, apesar de algumas ressalvas. As mocinhas podem vestir a camisa e os mocinhos podem babar.

https://www.youtube.com/watch?v=WUY6nazJawY

Batata Movies – Planeta Dos Macacos, A Guerra. Um Digno Desfecho.

                                       Cartaz do Filme

Estreou “Planeta dos Macacos, A Guerra”, encerrando a saga de César e de seus companheiros símios. Confesso que conheço pouco dos filmes originais e séries lá das décadas de 60 e 70 mas, depois de ver todos os filmes da nova safra, pode-se dizer que as películas referentes à história de César são muito instigantes e, acima de um mero filme de ação, trazem também um convite à reflexão, algo pouco usual para um blockbuster, mostrando que a história pode ser encarada como uma ficção científica bem respeitável.

           César, entre a compaixão e o ódio…

Mas, no que consiste a trama? César (interpretado por Andy Serkis) e seu grupo estão escondidos nas matas e rechaçam qualquer ataque do coronel que lidera os humanos (interpretado por Woody Harrelson). Entretanto, os símios estão submetidos a uma pressão cada vez maior dos humanos até que, num ataque surpresa, o coronel mata a esposa e o filho mais velho de César. O líder dos macacos decide retirar o grupo da floresta mas ele não o lidera, buscando vingança contra o coronel, não sem ser seguido por alguns de seus amigos.

Infelizmente, para fazer uma análise mais razoável do filme, alguns spoilers serão necessários aqui. Antes de mais nada, a película ensina a velha lição de que a vingança não leva a lugar nenhum, muito pelo contrário. Ao procurar caçar o coronal e esquecer o seu povo, César é severamente punido pelas circunstâncias, chegando a ser acusado de emotivo pelo coronel (no qual o humano está coberto de razão). É muito interessante notar as referências ao personagem Koba, que no filme anterior (“Planeta dos Macacos, A Revolta”) nutria um ódio sem fim pelos humanos e queria destruí-los, ao contrário de César que, apesar de sua profunda bronca contra os humanos, ainda tinha alguma esperança de coexistência pacífica. No presente filme, César é mais tomado pelo ódio e faz movimentos cíclicos de aproximação e afastamento de Koba que o assombra em visões e pesadelos, ora com ódio extremo aos humanos e, principalmente, ao coronel, ora com algum sentimento de compaixão e noção de que a vingança não leva a nada, já que seu amigo Maurice, interpretado por Karin Konoval (!), adotou uma menininha humana que havia ficado sozinha. Essa garotinha, Nova (interpretada por Amiah Miller), vai despertar surpresa em um César tomado pelo ódio ao cair em prantos perante a morte de um integrante do grupo de macacos. Assim, o personagem principal do filme oscila entre esses dois pólos: o da guerra e o da paz, o do ódio e o da compaixão.

                     Um coronel enlouquecido

Lamentavelmente, a tão prometida guerra final entre humanos e macacos não acontece. Houve muitas batalhas sangrentas, mas não houve um desfecho épico de guerra entre humanos e macacos. Nesse ponto, o filme pareceu tropeçar no próprio título e trocar gato por lebre. Mesmo assim, tivemos uma boa sequência final de ação, muito empolgante.

Nova, símbolo de redenção…

A arrogância humana em se querer brincar de Deus é também lembrada, por incrível que pareça, pelo próprio coronel. Houve uma preocupação em se justificar algo que acontecia nos filmes mais antigos. No “Planeta dos Macacos” original, os humanos nao falavam e se comportavam como animais irracionais. Na nossa presente película, esse estado animal dos humanos é provocado pela mutação do vírus que já atacou a raça humana nos filmes anteriores do século 21, o que fez o coronel “pirar na batatinha” e exterminar também os humanos infectados. Essa mutação seria um castigo à arrogância humana, nas palavras do próprio coronel.

Assim, “Planeta dos Macacos, a Guerra”, nos dá um digno desfecho à saga de César e de seus companheiros, pois é um interessante filme de ação que lançou reflexões sobre o sentimento de vingança e a arrogância humana. Apesar de não haver um conflito final propriamente dito entre humanos e macacos, a história optou por outras direções que não deixaram o desfecho menos interessante. E, além disso, tivemos boas atuações de Andy Serkis, (mesmo “virtualizado” pelo CGI) e Woody Harrelson. Vale a pena dar uma conferida.

https://www.youtube.com/watch?v=XvpSBIrrOxc

Batata Movies – A Múmia. Ação E Sensualidade.

                   Cartaz do Filme

Tom Cruise está de volta, desta vez mexendo com uma ideia aparentemente já esgotada: as antigas múmias do Egito e o terror que elas trazem. As últimas tentativas foram há um punhado de anos, que renderam alguns filmes estrelados por Brendan Fraser e Rachel Weisz, que traziam muita ação, efeitos especiais um tanto primários até para a época e muita, muita galhofa. Se Tom Cruise embarcasse nessa, a coisa não vingaria. E ele não embarcou, o que rendeu um filme suficientemente bom, apesar de alguns problemas, como todo filme tem.

                                Cruise de volta!!!

A história tem como protagonista Nick (interpretado por Cruise), um caçador de tesouros sem qualquer escrúpulo, acompanhado de seu amigo Chris (interpretado por Jake Johnson). Durante uma incursão no Oriente Médio, em pleno Iraque, onde no passado viveu a civilização da Mesopotâmia, Nick e Chris se envolveram numa tremenda enrascada e se viram indefesos perante um ataque de iraquianos. Nick pediu um ataque aéreo, o que colocou os iraquianos em fuga e abriu uma tremenda cratera no chão, que revelou ruínas… egípcias (!). O exército americano veio prestar assistência e, com ele veio a arqueóloga Jenny (interpretada por Annabelle Wallis), que havia sido roubada por Nick. O produto do roubo era um mapa que poderia levar a grandes achados. Assim, os dois exploram a tal cratera que tem um sarcófago escondido. Esse sarcófago continha a múmia de uma princesa maligna, que trará o mal de volta à Terra e que tem uma ligação com Nick em suas encarnações anteriores. Agora, caberá a Nick fugir do encalço da múmia maligna.

Dá para perceber que o enredo é um tanto simplório e serve apenas como um pano de fundo para as famosas cenas de ação de porrada, bomba e tiro. Pelo menos, houve uma preocupação de se apresentar de forma detalhada a vida da princesa que se virou para o lado do mal e acabou mumificada viva por isso. Aliás, a ideia de uma múmia mulher foi bem interessante no filme, com direito ao envolvimento com o mocinho protagonista. E que múmia era aquela! A atriz Sofia Boutella (que rima com aquele chocolate que todo mundo gosta), que interpretou a princesa, era linda de morrer, colocando no chinelo a mocinha, uma lourinha muito da sem graça.

                                Que múmia!!!!

Agora, uma coisa que ficou um tanto exótica e desnecessária foi a forma como Russell Crowe foi utilizado no filme. Ele era uma espécie de pesquisador que procurava manifestações malignas na Terra para detê-las. Seu sugestivo nome de Dr. Jekyll trazia suspeitas e temores que logo seriam confirmados: o homem se transformava numa espécie de  monstro, bem ao estilo de Mr. Hyde, algo totalmente fora de propósito num filme referente a uma… múmia. Uma pena, pois a presença de Crowe estava muito boa no filme, até surgir esse, digamos, equívoco. Pelo menos, Cruise não decepcionou e os momentos com Boutella foram muito bons, principalmente no que se referia à sua vida pregressa no Egito. No mais, as cenas de ação de sempre, com direito a uma pequena homenagem aos filmes da época de Brendan Fraser, com uma nuvem ameaçadora de poeira com a carinha de nossa vilã. Pelo menos, não se caiu na cilada de se fazer um desfecho à la happy end, o que deu um pouquinho mais de credibilidade ao filme e um gancho para uma possível continuação.

    Personagem de Russell Crowe. Nada a ver…

Assim, “A Múmia” leva o gênero mais à sério, ao contrário dos últimos filmes. Entretanto, a película pecou por uma história relativamente simplória que colocou as cenas de ação em primeiríssimo plano e que fez um mau uso de Russell Crowe. Um divertimento moderado e um filme bem descartável, daqueles que a gente vai esquecer logo.

https://www.youtube.com/watch?v=5w7eXmp6qp8

Batata Movies – Dunkirk. Inimigo Oculto.

                 Cartaz do Filme

Um verdadeiro filmaço paira em nossas telonas. “Dunkirk”, escrito e dirigido pelo grande Christopher Nolan, que dispensa apresentações (“Batman”, “Interestelar”, entre outros) é mais um daqueles filmes que abordam a ampla e rica temática da Segunda Guerra Mundial, uma verdadeira fonte inesgotável de películas. Mas esse filme não se trata do heroísmo pela vitória dos “mocinhos” em cima dos “bandidos”. Apesar de existir o claro maniqueísmo, essa é uma película onde o heroísmo está na sobrevivência de uma retirada. Escapar vivo de uma situação adversa é o grande objetivo. São tempos de medo e de incertezas de se você estará vivo ou morto em um ou dois segundos, quando se está praticamente indefeso e sem condições de lutar.

Kenneth Branagh, um oficial que tem que evacuar milhares de soldados

O palco é a cidade de Dunquerque, na França, em maio de 1940, onde tropas aliadas inglesas, francesas e belgas foram encurraladas pelos famosos tanques Panzers alemães. Restou aos soldados ingleses evacuarem e eles esperavam nas praias a vinda de embarcações inglesas para atravessar o Canal da Mancha e retornarem a seu país. Foram evacuados 300 mil soldados, um número muito acima do esperado, na chamada Operação Dínamo. Mas a evacuação foi muito difícil, pois os nazistas imprimiram violentos ataques aéreos e de torpedos, afundando muitos barcos ingleses e provocando muitas mortes.

              Tom Hardy em batalhas aéreas

O filme irá abordar justamente como foi essa retirada, onde as tropas eram massacradas pelos ataques alemães enquanto esperavam indefesas nas praias. O filme teve o mérito de se dividir em várias pequenas histórias que iam se correlacionando no desenrolar da exibição. Para que isso aconteça, duas coisas são muito exigidas logo de cara: um bom roteiro e uma boa montagem, quesitos em que o filme tem grandes virtudes. Deve-se ter o cuidado de se dar a mesma atenção a todas as histórias que ocorrem concomitantemente, para que uma história não fique mais importante que outra, assim como os nodos onde as histórias se encontram precisam estar muito bem situados na estrutura narrativa para que não aconteçam atropelos. E nesse ponto, o filme foi muito bem, criando uma ótima trama que prendia nossas atenções o tempo todo. Nas pequenas histórias, tínhamos várias situações: o soldado inglês que precisava arrumar um meio de escapar, o soldado francês que era proibido de escapar em local reservado aos ingleses, os oficiais ingleses que eram responsáveis pela evacuação, o pai e o filho civis que levam sua pequena embarcação para resgatar soldados, os aviadores da RAF que travavam verdadeiras batalhas aéreas contra os aviões da Luftwaffe. Cada história tinha a sua especificidade e seu grau de dramaticidade, dando-nos uma interessante ideia do que aconteceu no litoral francês naqueles sombrios dias de maio de 1940, quando o avanço nazista estava em plena ascensão.

    Mark Rylance, um civil pronto para o resgate…

O elenco traz entre os protagonistas um grupo de atores pouco conhecidos. Entretanto, há três nomes de peso: Mark Rylance, Oscar de melhor ator coadjuvante ano passado por “A Ponte dos espiões”, no papel do pai que conduzia a embarcação civil para salvar os soldados, o “Mad Max” Tom Hardy, na pele de um dos aviadores, e o grande Kenneth Branagh fazendo um dos oficiais que coordenava a evacuação. Só com esses “coadjuvantes” o filme já merece uma conferida.

É muito curioso perceber aqui como os nazistas eram praticamente não apareciam, constituindo-se num verdadeiro inimigo oculto, sem rosto. Não vemos um instante sequer a face de um soldado alemão. Essa forma de se retratar o oponente na guerra cai como uma luva na propaganda que se fazia do inimigo em dias de guerra real, onde o país adversário era colocado como o verdadeiro demônio a ser batido e a ameaça iminente à soberania e ao nacionalismo de seu país. O inimigo não tem cara, família, cultura. É a entidade maligna que ameaça sua esposa, seus filhos, seus pais, a sua forma de ser e de viver. Essa propaganda negativa de uma nação beligerante contra a outra talvez seja um dos traços mais cruéis de uma guerra, pois colocam culturas inteiras em rotas de colisão e de destruição.

Assim, “Dunkirk” é um programa imperdível. Mais um excelente filme de guerra, muito bem escrito e montado, com efeitos especiais altamente realísticos e um ótimo elenco de apoio. Não deixe de ver.

https://www.youtube.com/watch?v=b7v_6hIa5Ok

Batata Movies – Além da Ilusão. Vendo O Que Não É Visto.

                 Cartaz do Filme

Um interessante filme passou em nossas telonas. “Além da Ilusão” pode ser considerada uma película altamente perturbadora. Um drama altamente pessoal e um tanto psicológico, dirigido por Rebecca Zlotowski ambientado em dias que antecederiam os horrores da Segunda Guerra Mundial.

Duas irmãs muito unidas

Vemos aqui a história de duas irmãs, Laura (interpretada por Natalie Portman) e Kate (interpretada por Lily-Rose Depp). Elas fazem números de mediunidade em bares pela Europa e, com o êxito de suas apresentações, elas marcam sessões privadas, ganhando sua vida dessa forma. Um dia, André (interpretado por Emmanuel Salinger) assiste à apresentação das duas e fica maravilhado com a força da mediunidade. Ele é um empresário do ramo de cinema que passa pela turbulência da transição do cinema mudo para o falado e, ao mesmo tempo, vê o cinema francês perder terreno para o cinema americano. Assim, ele quer algo inovador para a indústria cinematográfica francesa e aposta nas duas irmãs para fazer filmes ligados à paranormalidade, com a intenção explícita de conseguir registrar com a câmara uma alma vagando durante as filmagens. André irá acolher as irmãs em sua casa, fazer sessões privadas, transformar Laura numa estrela. Isso fará com que o empresário e as moças desenvolvam uma relação cada vez mais profunda onde os sentimentos se confundirão muito. Mas nem tudo será um mar de rosas nessa vida a três, já que tempos sombrios se aproximam.

Atuação primorosa de Emmanuel Salinger

Afora a questão da perseguição dos nazistas aos judeus, tema já extremamente batido no cinema, essa película se centra mais no relacionamento entre as irmãs e André. E aí, mais uma vez o filme se ampara na interpretação dos atores. Natalie Portman foi muito bem mais uma vez, aliás, bem melhor que o seu papel em “Jackie”, cuja personagem, apesar de se mostrar forte em alguns momentos, transpirava futilidade em outros. Aqui a personagem Laura tem que ter, simultaneamente, o cuidado de manter a trupe com a irmã caçula e, ao mesmo tempo, protegê-la. Mas a entrada de André na vida das duas atrapalharia um pouco as coisas nesse sentido. E a maturidade e segurança da personagem ficaria comprometida, primeiro pelo deslumbramento em se entrar para o star system, segundo pela insegurança em ver André e sua irmã num relacionamento cada vez mais próximo. Lily-Rose Depp, por sua vez, não decepcionou, embora ela tenha sido um pouco mais eclipsada pelos outros dois protagonistas, o que foi uma pena, já que sua personagem também tinha relevância na história. O que incomodou um pouco foi a discrepância entre a idade da personagem, aparentemente mais nova que a aparência da idade da atriz. Lily-Rose Depp já tem uma cara de adulta e Kate a princípio é adolescente, já que na película se ressaltou a importância da moça continuar seus estudos e sair da vida de apresentações de mediunidade. Agora, quem mais chamou a atenção foi Emmanuel Salinger, com seu personagem André. Sua atuação exerceu grande fascínio e era altamente magnética, prendendo muito a atenção do espectador. Muito ajudou o fato de André ser um personagem altamente sonhador e atrás de ideias inovadoras, o que nem sempre pode ser adequado para um dono de empresa. Mas foi muito cativante sua visão de mundo e, sobretudo, a ternura e carinho com as quais o homem tratava as duas irmãs. A atuação de Salinger foi a grande virtude do filme e ela já se mostrava ainda no trailer, chamando o espectador para assistir à película.

O elenco principal do filme e a diretora Rebecca Zlotowski (de verde) na pré estreia do filme em Veneza.

Assim, “Além da Ilusão” é mais um filme que vale a pena ser visto. Embora de cadência um tanto lenta, vale pela peculiaridade da história e pela força da interpretação de seus atores. Uma boa chance para Portman mostrar seu talento, uma porta de entrada interessante para Depp e uma atuação coroada de Salinger. Vale a pena dar uma conferida.

Batata Movies – A Promessa. Triângulo Amoroso E Genocídio.

Cartaz do Filme

Um bom filme passou em nossas telonas. “A Promessa” é um daqueles filmes que você vai para ver atores. Mas atores que fizeram fama em blockbusters e agora mostram o seu talento em películas de cunho um pouco mais dramático, ou seja, é um espaço onde os atores podem se desenvolver mais sem o amparo dos espetaculosos efeitos especiais. Isso volta e meia acontece (vimos isso em “Paterson” outro dia com Adam Driver) e merece nossa atenção, pois só nos ajuda mais a gostar (ou não) dos atores que vemos pelos cinemas da vida. Os atores aqui em questão são Oscar Isaac (o Poe Dameron de “Guerra nas Estrelas”) e Christian Bale (que se imortalizou com “Batman”).

No que consiste a trama? Temos aqui um jovem rapaz armênio que mora numa pequena vila em território turco, Mikael (interpretado por Isaac) que quer ir a Constantinopla (atual Istambul) para estudar medicina. Para isso, ele se casa com uma moça de sua comunidade para obter o dote e, assim, ter dinheiro para fazer sua viagem e seus estudos. Mikael irá se abrigar na casa de um parente onde uma jovem moça, Ana (interpretada por Charlotte Le Bon) é um misto de babá e professora particular das crianças da casa. Os dois rapidamente se apaixonam. Mas Ana namora Chris (interpretado por Bale) um repórter americano que está de olho na situação do Império Turco Otomano. Estamos à beira da Primeira Guerra Mundial e a Turquia fez uma aliança militar com a Alemanha, aproveitando o momento para começar uma limpeza étnica que pretende riscar os armênios do mapa. Assim, vamos ver esse triângulo amoroso passar por muitas turbulências provocadas pelo primeiro genocídio do século XX, que é muito pouco conhecido.

Mikael terá uma vida muito sofrida

Após essa breve sinopse, nem é preciso dizer que o filme é muito mais que uma história de drama e romance. Se fosse somente isso, já seria uma película interessante. Mas aqui o cinema também cumpre sua famosa função social de denúncia, já citada em outros textos meus. Ainda mais porque o genocídio dos armênios cometido pelos turcos é algo muito pouco falado e até hoje os turcos não reconhecem publicamente esse fato. Esse elemento faz o filme crescer em grande importância, pois ele consegue expor a situação com uma grande dose de dramaticidade, não nos deixando indiferentes ao que se passa na tela. Presenciamos na película um verdadeiro massacre totalmente injustificado por maiores que sejam as causas que o provoquem, com vilas inteiras desarmadas sendo dizimadas sistematicamente, numa verdadeira política de extermínio.

Ana e Chris, um casal idealista

E os atores? Bom, foi dito acima que a gente vai ao cinema ver esse filme principalmente por eles. E nossos artistas não decepcionaram. É verdade que o filme gira em torno do personagem de Oscar Isaac, dando a esse ator maiores oportunidades de atuação e de se demonstrar seu talento. E podemos dizer que ele foi muito bem. Se no início do filme, ficou uma certa desconfiança com relação ao seu sotaque armênio relativamente exagerado que poderia beirar até o caricato, com o tempo Isaac vai nos conquistando com sua atuação, sobretudo nos momentos mais dramáticos, onde ele atuou de forma muito forte. A gente compra realmente o personagem com ele.  Christian Bale, apesar de ter tido menos tempo na tela, também foi muito bem. Ele passou uma figura mais rude e austera, um homem inconformado com a situação social pela qual os armênios passavam e, ao mesmo tempo, atormentado pela traição da namorada. Sentíamos um peso negativo em seu personagem, mas ao mesmo tempo ele nos atraía por lutar contra as injustiças que via. Um personagem complexo que é difícil de fazer, mais até do que o personagem de Isaac, mais simplório por ser o mocinho clássico. Já Charlotte Le Bon, a atriz que fez a doce Ana, não comprometeu, sendo a mulher que brincava com as crianças, a heroína que lutava por seu povo e a amante que era a pivô do triângulo amoroso que era interrompido a todo momento pelo motivo maior do genocídio e da necessidade extrema de se salvar os armênios.

Ana se envolverá com Mikael, dando início a um triângulo amoroso

Assim, “A Promessa” é um filme que chegou por aqui sem muito alarde e se prova ser uma película de boa qualidade pela interpretação de seus atores e pela séria questão social que aborda. Essa é uma grande pedida. Vale a pena dar uma conferida em DVD.

Batata Movies – Clone Wars, O Longa. Uma Guerra E Uma Padawan.

Cartaz do Filme. Excelente animação

“Há muito tempo, em uma galáxia muito, muito distante”. Todo mundo conhece o prólogo de “Guerra nas Estrelas”. A saga criada por George Lucas, que começou no longínquo “Uma Nova Esperança”, lá em 1977, expandiu seu Universo de uma tal forma que passou por um processo de amadurecimento ao longo do tempo. Os fãs da trilogia original até torceram o nariz para esse amadurecimento (leia-se a trilogia Prequel). Mas sem dúvida a coisa se enriqueceu e se variou bastante. Se na trilogia original houve um tom mais lúdico de fantasia espacial, a trilogia Prequel buscou dar um conteúdo maior de trama política, com uma história mais densa dividindo o espaço com as empolgantes cenas de ação de sempre.

Anakin e Obi Wan terão uma difícil missão pela frente

O espaço entre as trilogias e os episódios das trilogias também passou a ser ocupado por novas histórias em várias mídias. Videogames, quadrinhos, livros, animações. Uma dessas tentativas foi o longa de animação “Clone Wars”, que se passa entre os episódios II e III da trilogia Prequel. Temos aqui uma história de muito boa qualidade, que nada fica a dever aos filmes das duas trilogias. O ambiente da animação está nas famosas Guerras Clônicas e há toda uma disputa estratégica entre o Conde Dooku (faça-me o favor de tirar o nome Dookan daqui para bem longe; devemos respeitar o original, mesmo que em português soe ridículo) e as forças da República. Jabba, o Hutt, controla todo o tráfego da Orla Exterior e é imperativo que se tenha o livre acesso a esse tráfego para se poder ter vantagem na guerra. Só que o filhinho de Jabba, um bebezinho Hutt (que fofinho!) foi sequestrado por Dooku. Obi Wan Kenobi e Anakin Skywalker, que estão na linha de frente da guerra, são chamados para salvar o pimpolho Hutt. Mas Dooku fará de tudo para culpar os dois jedis pelo sequestro. Assim, Kenobi e Anakin terão a dura missão de salvar o Huttzinho enquanto participam de uma violenta e sangrenta guerra contra o exército droide de Dooku.

Conde Dooku: mais conspirador que nunca

Essa animação traz alguns elementos interessantes. Em primeiro lugar, priorizou-se bastante as cenas de ação em detrimento das tramas políticas, que ficaram muito mais simplificadas. Já foi dito aqui que a trilogia Prequel foi muito criticada pela densidade política da história, colocando as cenas de ação da fantasia espacial mais em segundo plano. Parece que buscou-se dar mais um ar de trilogia original e seu espírito de aventura à animação, ambientada na trilogia Prequel. E o resultado foi muito bom. Até as costumeiras piadinhas ao longo dos filmes da trilogia original apareceram. Em segundo lugar, a introdução de novos personagens. O Conde Dooku tem ao seu lado Asajj Ventress, uma assassina que lembra um Darth Maul de saias, fazendo bons duelos com Anakin e Obi Wan. Mas a mais interessante personagem é Ahsoka Tano, uma twi’lek que é padawan e foi designada para ser aprendiz de Anakin. A mocinha é convencida e atrevida, onde sua forte personalidade baterá de frente com o gênio forte de Anakin, embora os dois também tenham alguns momentos mais ternos. De qualquer forma, foi divertido ver Ahsoka Tano zoando com a cara do sisudo Anakin.

Ahsoka e o huttzinho…

Assim, “Clone Wars” foi uma boa investida da Lucasfilm, pois conseguiu dar um sabor de aventura e fantasia espacial à trilogia Prequel e, ao mesmo tempo, apresentou novos personagens que interagiram bem com personagens já conhecidos, sobretudo a padawan Ahsoka Tano. Se você ainda não viu (como eu não tinha visto), vale a pena conhecer. E se você já viu, sempre é bom dar uma revisitada, já que “recordar é viver…”.

Batata Movies – Despedida Em Grande Estilo. Comédia De Tons Sociais.

Cartaz do Filme

O cinema às vezes esquece os efeitos especiais para chamar o público e lança mão de um recurso muito mais antigo, mas não menos eficiente: o talento de seus atores. É o que vemos em “Despedida em Grande Estilo” (“Going in Style”), dirigido por Zach Braff e que conta “só” com a presença de Michael Caine, Morgan Freeman e Alan Arkin. Três atores de histórico muito talentoso e idade avançada que foram chamados para interpretarem três distintos senhores aposentados. Mas, ao contrário do que se pode parecer na nossa cultura brasileira que desvaloriza seguidamente o idoso, nos Estados Unidos, há uma preocupação maior com esse segmento social. Pelo menos é o que o filme mostrou. E aí, essa comédia também teve a coragem de abordar um delicado tema que é polêmico não somente aqui no Brasil como nos Estados Unidos.

Três amigos precisando sair de uma enrascada

Vemos aqui a história de Joe (interpretado por Caine), um senhor que entra no banco pelo qual foi correntista toda a vida para pagar a hipoteca de sua casa. Depois de não ser tratado de forma adequada, ele ainda ficou sabendo que sua hipoteca triplicou depois do fim de uma promoção. Enquanto ainda se recobrava de sua indignação, Joe e as demais pessoas do banco foram surpreendidas por uma quadrilha que assaltou a agência. Mas Joe ficou surpreso pela forma planejada e coordenada em que os assaltantes praticaram o assalto. E mais surpreso ainda quando um dos assaltantes se recusou a receber o dinheiro de sua carteira, alegando que “a gente tem que tratar bem os idosos de nosso país”. Depois do assalto, Joe descobriu que a firma em que trabalhava estava encerrando suas atividades nos Estados Unidos e que ele não receberia mais o seguro. Como a aposentadoria era ínfima, Joe de repente viu que poderia parar na rua, com o mesmo podendo acontecer com seus amigos mais próximos, Willie (interpretado por Freeman) e Albert (interpretado por Arkin). Assim, Joe teve a “brilhante” ideia de organizar um assalto a um banco com os dois amigos, o mesmo banco que os explorou pela vida inteira, ao melhor estilo “ladrão que rouba ladrão”.

Planejando um assalto

Esse filme se encaixa perfeitamente em nossos tempos atuais aqui no Brasil, onde vemos nossos futuros ameaçados por um governo que se diz legítimo e que também alega que precisa fazer reformas na previdência social sob pena do país quebrar, com o povo pagando a conta mais uma vez. Percebemos que os tentáculos selvagens do capitalismo não só assolam terras tupiniquins, mas também o povo do país onde o sistema econômico é o grande ícone. Um assalto a banco, tal como exibido nesse filme, parece muito mais um grito de protesto do que qualquer outra coisa, fugindo (alerta de spoiler!) do lugar comum do final onde aquele que anda fora da lei sempre se estrepa, tão típico do cinema americano, que parece obedecer a uma cartilha puritana de bom comportamento, instruindo o seu povo a andar na linha. O problema é que o verdadeiro vilão aqui são as grandes corporações. E aí o “ladrão que rouba ladrão” se encaixa muito bem.

Ótima participação de Chrtistopher Lloyd

Nem é preciso dizer que o filme gira em torno dos três protagonistas, com um destaque maior para Michael Caine, embora os outros dois astros não tenham ficado em segundo plano, com cada um tendo espaço suficiente para mostrar seu talento. O roteiro também ajudou, sobretudo no humor na medida certa e no planejamento do assalto em si, que contém toda uma lógica interna que prendia muito a atenção do espectador e entretinha bastante.

Assalto retrô

Assim, “Despedida em Grande Estilo” é mais um bom filme que temos por aí, pois conta com o talento de atores consagrados, é uma comédia boa de se ver e dá panos para a manga para uma reflexão, pois fala de um problema social que parece cada vez mais ter uma abrangência global e mostra cada vez mais como o capitalismo é um sistema cruel e, sobretudo, falho. Muito interessante ver como um filme com essa temática vem de um país que é a Meca do sistema econômico. Coisas da democracia, cada vez mais esquecida por aqui.

https://youtu.be/hc-q3mtLgpg