Batata Movies – Guardiões da Galáxia, Volume 2. Acertando As Contas Com O Papai.

Cartaz do Filme

E estreou “Guardiões da Galáxia, Volume 2”, um dos filmes que mais se aproximam da pegada cômica da Marvel (só perde para “Deadpool”). E esta nova película não deixou a desejar nesse quesito. O filme novamente é muito engraçado. Mas é também um filme que muito emocionou, principalmente porque os personagens foram muito bem trabalhados, onde bem e mal transitavam no comportamento deles, complexificando-os a um ponto que o filme ficou muito mais interessante. Aliás, essa é sempre uma boa fórmula para tornar os relacionamentos humanos mais instigantes.

I’m Grot

No que consiste a história? Nosso protagonista terrestre, Peter Quill (interpretado por Chris Pratt) finalmente consegue descobrir o paradeiro de seu pai, Ego (interpretado por Kurt Russell). Quill e seus amigos são levados ao planeta de seu pai,  que parece ser um verdadeiro Éden. É nesse ambiente em que pai e filho irão aprofundar seu relacionamento.  Mas o pai vem com uma conversa muito esquisita de que ele é uma espécie de divindade e que o filho é herdeiro de tal poder, o que desperta a desconfiança de Gamora (interpretada pela “Uhura” Zoe Saldana). Vou parar por aqui com os spoilers.

O que é que mais desperta a atenção do filme? Cenas de ação em segundo plano. Mas como assim, se o grande destaque de um filme desses são justamente as cenas de ação? Optou-se por uma feliz ideia de se colocar algo altamente banal em destaque, com uma cena de ação muito vigorosa ao fundo. Isso aconteceu em dois momentos do filme e deixou a coisa engraçadíssima, algo que ainda não havia sido feito nos filmes da Marvel. No mais, a boa mistura que a gente vê em “Guardiões da Galáxia” e que mais uma vez deu certo: um filme de super-herói com uma dose bem alta de humor, indo de acordo com a proposta da Marvel para seus filmes, atrelado a um sentimento família dos seus personagens, e um grande sentimento de perda. Talvez “Guardiões da Galáxia” seja tão atraente, pois é um filme que consegue, ao mesmo tempo, fazer rir e chorar, tal como é a vida. A gente consegue se identificar muito com os personagens do filme. Por exemplo, a preocupação dos heróis com o pequeno Grot nas mais perigosas cenas de ação, como se ele fosse o bebê da família. Ou o reconhecimento de que o padrasto de Quill, Yondu, por mais ruim que ele fosse, ainda tinha algo de bom e estava anos-luz à frente de seu pai biológico em termos de caráter. São situações que podemos encontrar no dia-a-dia e que podem tocar o espectador de uma forma muito singular.

Novos personagens

O filme ainda seguiu a linha de “Rogue One” e “rejuvenesceu” Kurt Russell para falar de seu relacionamento pregresso com a mãe de Quill, num ótimo trabalho de CGI. A impressão que se dava era a de que estávamos vendo a ressurreição de “Snake Plissken”, de “Fuga de Nova Iorque”. Só faltava o tapa olho.

Um padrasto mau, mas de bom coração

Ah, sim, e havia a curiosidade de se escutar o segundo cassete que a mãe de Quill deixou. Só foi uma pena que as músicas eram menos conhecidas (pelo menos da minha parte) e a trilha não teve um peso tão grande ao longo da película como no primeiro filme.

Assim, “Guardiões da Galáxia, Volume 2” é mais uma boa película da Marvel, e se encaixa perfeitamente na sua proposta de humor. Introduziu-se o elemento novo de colocar a ação em segundo plano, em detrimento de uma situação banal, com o objetivo de colocar uma pitada a mais de humor inédito e manteve-se a pegada do lado família da trupe, com pitadas de tristeza, formando uma ótima química com o composto cômico.

Batata Movies – A Vigilante Do Amanhã. Novamente O Mito De Frankenstein.

Cartaz do Filme

E estreou “Ghost in the Shell”, traduzido para cá como “A Vigilante do Amanhã”. Temos aqui a oportunidade de ver Scarlet Johansson contracenando com Juliette Binoche e Takeshi Kitano, a lenda do cinema japonês. Com um elenco tão polpudo e, ainda por cima, com o fato da história ser inspirada num mangá japonês produzido por Masamune Shirow, tive que dar uma conferida. E qual foi o resultado? Apesar de ser um filme de ação relativamente banal, com as cenas de porrada, bomba e tiro de sempre, ele tinha algo a mais.

Major: uma criatura cibernética

Mas, no que consiste a história? Temos aqui a trajetória de Major (interpretada por Johansson), uma mulher que acreditava que sua família havia sido dizimada por um grupo terrorista. A moça em si estava praticamente morta e teve seu cérebro implantado num corpo totalmente artificial, sendo a mais avançada espécie cibernética até então. Major passa a atuar numa divisão de segurança, onde há uma parceria com o governo e a empresa que criou Major. Ah, sim, estamos no Japão no futuro. A essa altura, há muitos seres cibernéticos e surge um grupo terrorista que começa a hackear as pessoas. Assim, Major e sua equipe irão caçar os tais terroristas para evitar esse cyberterrorismo. Mas havia algo a mais nessa história, onde os vilões e mocinhos poderão se confundir.

Uma Barbie nua???

Eu disse acima que esse filme de ação aparentemente banal tem algo a mais. O que podemos dizer disso? Em primeiro lugar, o filme tem um visual futurista um pouco diferente do que se vê por aí. A realidade virtual aparece em anúncios por toda a cidade que contém muitos arranha-céus, inspiração direta de filmes como “O Quinto Elemento”, “Blade Runner” e a primeira influência, “Metrópolis”.

Kitano, o cara!!!

O mais interessante é que as classes menos favorecidas não foram esquecidas na programação visual urbana da película e vemos, também, bairros periféricos e condomínios em formas de prédios que são verdadeiras colmeias humanas. Esse pano de fundo deu um charme todo especial ao filme. Em segundo lugar, o velho mito de Frankenstein aparece na película, onde os seres cibernéticos são criações humanas, que são totalmente controladas e descartadas de acordo com os desígnios dos criadores. Sem querer dar muitos “spoilers”, nossa protagonista sofrerá muito com tais desígnios e precisará ficar de olhos bem abertos, pois o inimigo pode estar mais perto do que se imagina. Se as criaturas aparecem divididas em muitas peças cibernéticas e ficam com uma aparência relativamente monstruosa, a verdadeira monstruosidade está nos humanos que criam esses seres cibernéticos e os usam e os descartam ao seu bel-prazer.

Binoche, boa presença

E o elenco? Foi muito legal ver Johansson contracenando com Binoche. Rolou uma química muito grande entre a beldade hollywoodiana e a diva do cinema francês, que pode estar num drama bem cerebral de seu país, como no filme “A Espera”, mas, ao mesmo tempo, não se priva de aparecer num blockbuster como esse aqui ou “Godzilla”. Agora, sem a menor sombra de dúvida, a cereja do bolo foi Takeshi Kitano. O famoso diretor, ator, produtor e roteirista apareceu muito pouco no filme como esperado, falando em seu idioma pátrio, mas nas poucas vezes em que atuou roubou a cena. Devemos nos lembrar que uma das características da prolífica carreira de Kitano é o cinema de ação com cenas de violência explícita. E o homem não decepcionou nos momentos decisivos aqui, relembrando os velhos tempos.

Uma criatura manipulada ao bel prazer do criador

Dessa forma, “A Vigilante do Amanhã” é um filme de ação relativamente banal que não o é em sua totalidade pelo visual dos efeitos especiais, pelo elenco e pelo já batido (mas que ainda dá caldo) mito de Frankenstein. Vale a pena dar uma conferida nas curvas de Johansson (que parece a Barbie pelada), mas também tem a serenidade de Binoche e o espetacular Kitano como uma das atrações principais.