Batata Movies (Especial Oscar 2020) – Um Lindo Dia Na Vizinhança. Só Se Leva Dessa Vida A Vida Que Se Leva.

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Cartaz do Filme

Mais um filme que concorre ao Oscar. “Um Lindo Dia Na Vizinhaça” concorre a uma estatueta para Melhor Ator Coadjuvante com Tom Hanks. Esse é um daqueles filmes que costumam chamar a atenção para como o espectador leva a sua vida e o seu relacionamento com as pessoas que o cercam. Um daqueles filmes que nos fazem refletir, e muito. Um filme baseado numa história real e que, para podermos compreendê-lo melhor, vamos precisar de spoilers.

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Fred Rogers, a criatura mais zen do mundo…

O plot gira em torno de Fred Rogers (interpretado por Hanks), um apresentador de programas infantis, digamos, muito zen. Seu show de TV é algo extremamente delicado e lúdico, sendo muito amado por seus telespectadores. O jornalista Lloyd Vogel (interpretado por Matthew Rhys) é convocado pela revista em que trabalha para entrevistar Rogers. Vogel inicialmente estranha muito a forma como Rogers trabalha, dando uma grande atenção a todos os seus fãs a ponto de atrasar muito o cronograma de seu programa de TV. Por ser uma pessoa muito solicitada e solícita, Rogers faz com que a entrevista que ele dá para Vogel seja em doses homeopáticas, onde os dois se conhecem cada vez mais e estabelecem uma amizade. Vogel é conhecido por ser agressivo naquilo que escreve sobre seus entrevistados, mas a experiência com Rogers será bem diferente, onde o apresentador acaba entrando muito na vida pessoal do jornalista, que tem um relacionamento extremamente conturbado com o pai, devido a fortes traumas do passado (sua mãe morreu quando Vogel ainda era criança e o pai havia abandonado a família). Com o tempo, Vogel percebe, com a ajuda do relacionamento entre ele e Rogers, que é necessário rever seus conceitos e convicções sobre a vida e encarar os rancores e mágoas para superá-los e recuperar o tempo perdido nas relações com o seu pai e até com sua esposa e filho pequeno.

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Rogers ajuda Vogel a colocar a vida nos trilhos…

Esse é um filme que pode se definir em uma palavra: o lúdico. Ele se passa num ambiente todo infantil baseado no programa de Rogers, onde a paisagem é construída a partir de cenários que mais parecem uma cidade de brinquedo. Isso, aliado a uma trilha sonora muito suave, faz com que o filme tenha toda uma leveza especial, chegando aos limites do etéreo. Mas o que ajuda muito no clima suave do filme é, sem dúvida, a atuação de Tom Hanks. Seu Fred Rogers é a delicadeza em pessoa e nem uma suposta sequência constrangedora com os fantoches de seu programa numa conversa com Vogel estragam o clima. Na verdade, parece mesmo é que Vogel se comporta como um peixe fora d’água na situação. Hanks comprova mais uma vez o seu enorme talento, mostrando sua face para lá de camaleônica, onde vemos muito mais o personagem do que o ator atuando, sendo um deleite para os olhos. Aliás, Hanks é o típico ator que nos leva para o cinema, independente do tipo de filme (eu confesso que não tinha a menor idéia do plot do filme antes de chegar ao cinema e tudo se mostrou uma grata surpresa). Infelizmente a disputa para ator coadjuvante foi muito forte esse ano e Hanks não levou o prêmio, mas a indicação já foi algo de muito válido para um filme com um plot dessa natureza altamente lúdica.

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Hanks e o real Rogers. Mais uma baita caracterização…

Assim, “Um Lindo Dia Na Vizinhança” é um filme que chama a atenção pelo clima suave e lúdico contido nele, onde as miniaturas que representam a cidade dão um clima infantil para o filme. Mas a leveza se ampara muito na atuação de Tom Hanks que faz jus à indicação ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante. Além disso, é um filme que nos faz refletir como levamos nossas vidas e como nos relacionamos com o próximo. Vale muito a pena a experiência.

Batata Movies (Especial Oscar 2020) – Judy. O Ocaso De Uma Artista.

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Cartaz do Filme

Mais um filme que concorreu ao Oscar. “Judy” concorreu a duas estatuetas (Melhor Atriz para Renée Zellweger, levando esse prêmio, e Maquiagem e Cabelo) e nos conta a trajetória da diva Judy Garland, que todos nós conhecemos como a Dorothy de “O Mágico de Oz”. É um daqueles filmes que pesca o cinéfilo pelo coração desde o início. Para podermos falar sobre o filme, vamos precisar, como sempre, de spoilers.

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Renée Zellweger em interpretação fabulosa…

A película opta por focar mais no ocaso da carreira da atriz (interpretada por Renée Zellweger), quando ela está afogada em dívidas e nem lugar para morar ela tem, precisando ficar aqui e ali com seus dois filhos pequenos (Liza Minelli já está crescida e estabelecida). Isso vai fazer com que seu ex-marido Sid (interpretado por Rufus Sewell) peça a guarda dos filhos, o que vai deixar Judy Garland abalada. Sem dinheiro e sem propostas de trabalho, ela aceita a oferta de se apresentar na Inglaterra e aí o filme mostra o dia-a-dia de Judy Garland em terras inglesas, onde suas apresentações alternavam altos e baixos, sempre regados a muitos remédios e bebidas, despertando um dó danado na gente.

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Dor em não poder ficar com os filhos…

O filme também mostrou, em menor escala, momentos da juventude da atriz, onde a gente consegue compreender porque ela acabou se tornando uma pessoa tão atormentada e difícil. Sua mãe a obrigava a ser altamente profissional, não dando a ela nem o direito de se alimentar de forma satisfatória para não engordar e ainda a enchia de remédios para ficar acordada e para dormir, tornando-a dependente de todos esses medicamentos. Era uma prática comum entre os artistas tomar essas medicações para não dormir em virtude da maratona de shows e, depois, para poder evitar a insônia, tomar também medicações para dormir, numa época em que ninguém acreditava que isso fazia muito mal e detonava o organismo. Nossa Carmen Miranda também passou por essa experiência e foi isso que acabou abreviando demais as vidas tanto de Carmen quanto de Judy (a primeira morreu com 46 anos e a segunda com 47 anos).

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Com o fã, perseguido por ser homossexual. Momento marcante do filme…

Em virtude de toda essa situação, Judy metia os pés pelas mãos e, aos poucos, fechou a última porta que restava, que era a temporada inglesa. Nem as tentativas de seu novo marido, Mickey Deans (interpretado por Finn Whittlock) foram suficientes para levantar sua carreira, o que acabou com o casamento entre os dois. É realmente muito doloroso ver toda a via crucis de Judy para o inevitável caminho que todos já sabíamos. E aí, Zellweger foi fundamental nisso, pois ela convence, e muito, no papel, sendo, a meu ver, muito merecedora da estatueta de Melhor Atriz. Sua atuação é muito tocante, mostrando toda a fragilidade e agressividade de Judy nas medidas certas, monopolizando todas as  atenções.

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Vida marcada pelo sofrimento…

Apesar de todo o rosário de lamúrias que o filme provoca, nem tudo era somente sofrimento. Há uma sequência em que ela vai dar autógrafos a dois amigos depois do show e acaba decidindo sair com eles. Como não acham um restaurante aberto tarde da noite, ela vai para a casa deles, onde descobre que são um casal gay que sofrem muitas perseguições, se identificando com eles, já que toda a sua carreira sempre foi forjada com base em muitas exigências, não dando a ela um momento mínimo para viver em paz como ela mesma, dentro de suas vontades e desejos, sendo sempre reprimida quando saía um pouco do cabresto que lhe fora severamente imposto por toda a vida. E, ao final do filme, ela, já demitida, ainda entra no palco uma última vez e, ao cantar “Somewhere Over The Rainbow” e, não conseguir, em virtude de todo o peso que carregou nas costs a vida inteira, vê todo o teatro lotado cantando para ela, sendo um desfecho para o filme de dar muitas lágrimas nos olhos. Um certo alívio para tanto sofrimento de uma mulher que não conseguiu se reerguer e reconquistar a guarda dos filhos.

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Grande caracterização…

Assim, “Judy” é um programa obrigatório para qualquer cinéfilo e para qualquer espectador. Um filme que consagra Zellweger e é uma justa homenagem a Judy Garland, um enorme talento que foi triturado pelo star system. Imperdível.  

Batata Movies – Kursk, A Última Missão. Afogando Segredos Militares.

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Cartaz do Filme

Um filme polêmico. “Kursk, A Última Missão” fala do naufrágio do submarino russo ocorrido em agosto de 2000, que vitimou toda a sua tripulação. E da história de como algumas vidas poderiam ter sido poupadas se a Marinha Russa não tivesse tentado encobrir seus segredos militares no ato do salvamento dos tripulantes. Para podermos compreender melhor o filme, vamos precisar de spoilers.

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Filme dá uma identidade às vítimas…

O filme se foca na tripulação do submarino, dando vida e cara aos marujos, liderados por Mikhail Averin (interpretado por Matthias Schoenaerts). Uma grande festa apresenta os personagens e mostra muito o espírito de união do grupo. Não muito depois, já vemos o submarino saindo para a sua missão e o motivo do acidente, que foi a explosão de todos os torpedos provocada pela temperatura excessiva de um deles, que praticamente destruiu todo o submarino. Os sobreviventes foram para a popa e se trancaram lá, fazendo de tudo para retardar a inundação do compartimento e manter a carga de oxigênio. Enquanto isso, as equipes de salvamento tentavam escutar algum sinal que pudesse indicar sobreviventes. Os tripulantes batiam com um martelo na parte interna do casco do submarino a cada hora, e foram detectados. Mas o sucateamento da Marinha Russa fez com que o submarino de salvamento não pudesse se acoplar à escotilha do Kursk. O comandante da frota russa do Norte chegou a pedir auxílio da Inglaterra, mas o alto comando da Marinha não queria a presença de ocidentais na missão de salvamento e isso retardou demais o salvamento, provocando a morte de todos.

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Indo para não voltar…

O filme tem uma postura muito crítica com relação aos procedimentos da Marinha Russa, trazendo de volta o espírito da Guerra Fria. Resta a gente se perguntar se o oposto também aconteceria, ou seja, se fosse um submarino americano ou inglês que tivesse afundado e uma ajuda russa como determinante no salvamento seria igualmente rechaçada para evitar a divulgação de segredos militares. Que os leitores façam as especulações que quiserem. Entretanto, fica muito claro no filme o desenvolvimento tecnológico do Kursk e o receio que ele despertava nos militares ingleses.

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Uma explosão que vai manter marinheiros presos…

O filme tem um baita elenco. Além de Schoenaerts, temos Léa Seydoux como a esposa de Averin, Tanya, que liderou as esposas dos tripulantes, pressionando os militares da Marinha Russa por informações. Ainda, tivemos a presença de Max Von Sydow como o comandante da Marinha Russa que se investiu da posição ícone de guardião dos segredos militares e da personificação do personagem a ser odiado no filme. Colin Firth, por sua vez, fez o comodoro inglês David Russell, com uma postura bonachona pronta a oferecer assistência. Ou seja, mais uma vez as dicotomias da Guerra Fria requentadas. Ainda assim, os atores foram muito bem e trabalharam com competência a carga dramática que o filme exigia.

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Um comodoro inglês bonachão…

Dessa forma, “Kursk, A Última Missão” é um bom filme que nos contextualiza na situação dessa grande tragédia que já tem uns vinte anos (como o tempo passa rápido!), mesmo que haja um maniqueísmo residual dos anos de conflito entre as superpotências. Vale a pena dar uma conferida.

Batata Movies (Especial Oscar 2020) – O Escândalo. Denunciando Práticas Abusivas.

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Cartaz do Filme

Mais um filme baseado numa história real. “O Escândalo” é uma película que trata de um assunto muito delicado, que é o de assédio sexual na rede de TV americana FOX Channel. Esse filme concorre a três Oscars (Melhor Atriz para Charlize Theron, Melhor Atriz Coadjuvante para Margot Robbie e Melhor Maquiagem e Cabelo). A denúncia do caso realmente provocou um escândalo que foi divulgado no mundo inteiro e deixou escancarada a forma como a mulher é tratada como um objeto até nos países mais desenvolvidos. Para podermos entender melhor o filme, vamos precisar de spoilers aqui.

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Uma âncora consagrada…

A película foca na trajetória de três personagens principais: Megyn Kelly (interpretada por Charlize Theron), Gretchen Carlson (interpretada por Nicole Kidman) e Kayla Pospisil (interpretada por Margot Robbie), as três funcionárias da Fox, que foram assediadas por Roger Ailes (interpretado por John Lithgow) que, se não era exatamente o dono da empresa, era quem a chefiava e ditava as regras. Para Ailes, todas as funcionárias da emissora deviam trabalhar de saias e seus dotes, digamos, físicos tinham que ser explorados nos programas de TV com o objetivo de aumentar a audiência. E aí, as funcionárias tinham uma reunião privada a portas fechadas com Ailes, onde elas eram obrigadas a exibir o seu corpo para passar pela aprovação do patrão. E a fazerem outras coisas mais depois. Gretchen Carlson foi a primeira mulher a denunciar na justiça a prática, sendo demitida sumariamente. A batalha judicial obviamente foi muito desigual, dado o poder da Fox, mas Carlson e seus advogados não esmoreceram em nenhum momento e lutaram pesado, levando a demissão do patrão pelo dono da empresa.

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Uma apresentadora de debates que abre um processo…

O mais interessante aqui é que as histórias das três personagens não se cruzam muito. Ou seja, não é aquela história típica de três injustiçadas que se unem na luta contra o patrão inescrupuloso. Há um único e singelo momento em que as três estão juntas… no elevador. Em outros momentos há, no máximo, um ou outro encontro esporádico com duas de cada vez. É interessante também perceber a posição de cada uma na empresa.

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Uma iniciante…

Enquanto que Pospisil ainda quer alçar postos mais altos, sonhando em ser a garota do tempo, Kelly já é uma âncora consagrada que bate com Trump de frente, quando este ainda era candidato a candidato à presidência dos Estados Unidos, amplamente apoiado pela Fox, reconhecidamente de extrema direita, o que lhe rendia hostilidades de muitos telespectadores da empresa. Mas será Carlson que vai empunhar a bandeira da briga contra o machismo da emissora e as práticas abusivas do patrão.

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O único momento do filme em que as três protagonistas estão juntas…

Nem é preciso dizer que as atrizes foram muito bem. Theron foi muito bem como a âncora independente que tinha uma relação mais antiga e assentada com Ailes, o que a colocou numa posição de conflito e silêncio iniciais com relação à situação do processo em cima do patrão. Já Robbie foi perfeita como a mocinha doce de família religiosa e conservadora que passa por maus bocados com o assédio recente. Kidman, por sua vez faz a personagem que sabe que, para entrar na guerra, vai ter que lidar com perdas, mas que, mesmo assim, está muito determinada. John Lithgow volta mais uma vez do passado com seu enorme talento e seu Ailes conseguiu ser simultaneamente odioso e humano. O filme ainda tem uma “personagem bônus” muito interessante, Jess Carr (interpretada pela “caçafantasma maluquinha” Kate McKinnon), uma amiga lésbica de Pospisil que trabalha na Fox. E Malcolm McDowell como Rupert Murdoch, o verdadeiro dono da Fox, que muito pouco apareceu, mas botou ordem na casa no momento do escândalo.

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Um chefe que assedia, se fazendo de coitado…

Dessa forma, “O Escândalo” é mais um filme de denúncia que o cinema produz, sendo esse um programa obrigatório para entendermos os tempos sombrios pelos quais estamos passando. Uma história que mostra até onde o poder de luta (num país mais justo, diga-se de passagem) pode transformar as coisas, por menores que essas transformações sejam. E um filme que nos ajuda a refletir sendo o filme que estimula a reflexão sempre o mais importante. Vale a pena dar uma conferida.

Batata Movies (Especial Oscar 2020) – História De Um Casamento. Radiografia De Um Processo Doloroso.

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Cartaz do Filme

Vamos hoje começar a falar de alguns filmes que concorrem ao Oscar. A produção da Netflix “História de um Casamento”, de Noah Baumbach, concorre a seis estatuetas (Melhor Filme, Melhor Ator para Adam Driver, Melhor Atriz para Scarlett Johansson, Melhor Atriz Coadjuvante para Laura Dern, Melhor Roteiro Original para Noah Baumbach e Melhor Trilha Sonora para Filme), além de ter sido indicado para três Globos de Ouro (Melhor Atriz Coadjuvante em Filme para Laura Dern, que ganhou; Melhor Atriz em Filme de Drama para Scarlett Johansson e Melhor Ator em Filme de Drama para Adam Driver). Ou seja, mais um filme da Netflix que faz parte da boa estratégia da empresa de fazer grandes filmes para ganhar prêmios e elevar a marca. Para podermos falar desse filme, vamos lançar mão de spoilers.

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Uma família em crise…

A película fala do doloroso processo de separação de um casal, Charlie (interpretado por Adam Driver) e Nicole (interpretado por Scarlett Johansson). Ele é um diretor de teatro e ela é atriz numa peça dirigida pelo marido. A moça acha que, ao entrar na vida do marido, ela se anulou e ele, em seu egoísmo, não deu espaço para ela crescer de forma autônoma enquanto indivíduo. Os dois haviam combinado que a separação seria amigável, sem advogados. Mas Nicole foi convencida por uma amiga a procurar uma advogada, Nora Fanshaw (interpretada por Laura Dern), que tem uma postura agressiva no seu procedimento profissional e convence a moça a lutar por seus direitos, não dando qualquer margem para Charlie no processo. Charlie, por sua vez, vai precisar contratar outro advogado agressivo, Jay Marotta (interpretado por Ray Liotta). A inclusão desses dois advogados no divórcio somente deixou tudo mais complicado. A vida de Charlie e Nicole ficou totalmente exposta, com os dois advogados expondo de forma muito agressiva, os defeitos de marido e esposa, além do fato de que os dois gastaram rios de dinheiro para pagar os honorários e ficaram numa situação financeira difícil. O grande fator de discórdia é que Nicole queria viver em Los Angeles enquanto que Charlie tinha melhores oportunidades profissionais em Nova York. Para piorar a situação, eles ainda tinham um filho pequeno, onde a guarda dos dois também era disputada.

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Charlie quer ficar em Nova York…

Ficou-se aqui a impressão de que, se o casal não tivesse colocado os dois advogados no meio e eles decidissem tudo em acordos verbais, teria sido tudo bem mais fácil. O filme provoca uma angústia muito forte na gente, pois sabemos que todo o processo doloroso que vemos é algo bem real e palatável, onde qualquer um de nós pode estar sujeito a isso. Ou seja, a película, ao fim das contas, é um violento choque de realidade do começo ao fim, sem direito a final feliz ou plot twists. Tanto que o desfecho do filme dá a impressão de que a história daqueles personagens não acabou, que somente ela foi contada até um certo ponto e que a vida continua, não sendo mais contada pela película.

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Nicole quer ficar em Los Angeles…

Com relação aos atores, Laura Dern tem uma grande participação, sendo que seu Globo de Ouro é indiscutível. Mas esse é realmente um filme dos atores protagonistas, Adam Driver e Scarlett Johansson. Os dois foram simplesmente primorosos, tanto no que tange a levar o processo de forma amigável, passando pelos pequenos conflitos e culminando na catarse da grande discussão que os dois tiveram, onde um disse o que quis na cara do outro, como se purgassem todas as suas decepções ferindo um ao outro o máximo para, depois do paroxismo, pedirem desculpas um ao outro, decidindo o desfecho da relação de forma amigável. Foi pesado e triste, o que atingia o espectador em cheio. O único problema aqui foi que o tempo de tela de Driver pareceu maior que o tempo de tela de Johansson, quando parecia mais justo que os dois tivessem o mesmo destaque no filme. cabe fazer um pequeno destaque para a presença de Mary Wiseman, a Tilly de “Jornada nas Estrelas, Discovery”, como uma das atrizes da companhia de Charlie. Só que ela entrou muda e saiu calada do filme.

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E, quando a coisa cai nas mãos dos advogados…

Dessa forma, “História de um Casamento”, é mais um grande filme que concorre ao Oscar e que já mostrou sua força no Globo de Ouro. Foi mais uma grande oportunidade que tivemos de ver dois atores de franquias mais pop (Adam Driver e Scarlett Johansson) trabalhando em filmes de drama, mais com os pés no chão, onde o choque de realidade é o grande protagonista. Uma boa aposta na Netflix que vem em peso no Oscar desse ano.

https://www.youtube.com/watch?v=uZ0GpIBdsWQ

Batata Movies – Dois Papas. Sucessão Papal Em Vida.

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Cartaz do Filme

A Netflix faz mais uma das suas e lançou “Dois Papas” nas telonas do cinema e em seu streaming. E, mais uma vez, faz um investimento de peso. O filme é estrelado por Anthony Hopkins e Jonathan Pryce, respectivamente nos papéis do papa Bento XVI e do então Cardeal Jorge Bergoglio, que se tornaria o papa Francisco. Ainda, o filme é dirigido por nosso Fernando Meirelles, sendo indicado para quatro Globos de Ouro (melhor ator de drama para Jonathan Pryce, melhor ator coadjuvante de drama para Antohny Hopkins, melhor roteiro de drama para Anthony McCarten e melhor filme de drama). Já dá para perceber que temos um filmaço aqui e que spoilers serão necessários para compreendermos melhor a película.

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Um papa é empossado…

Inspirado numa história real, o filme começa com o funeral de João Paulo II e a escolha de Bento XVI para papa por votação dos cardeais, o que significou uma vitória da ala conservadora da Igreja contra a ala progressista, da qual Bergoglio faz parte. Passam-se os anos e Bergoglio quer sua aposentadoria e vai ao Vaticano para que Bento XVI assine os papéis. Será o momento em que os dois personagens protagonistas se encontrarão e vai começar um dos diálogos mais deliciosos vistos no cinema nos últimos anos. A coisa inicialmente gira em torno das posições políticas completamente antagônicas dos dois no que tange às visões de mundo da Igreja. Aqui vemos uma certa tensão na conversa, mas não sem ter doses de um humor inteligente e refinado.

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Bergoglio chega pedindo sua aposentadoria…

Com o tempo, os dois se aproximam e têm momentos mais íntimos como na noite em que Bento XVI toca piano para Francisco, ou nas confissões de Francisco para Bento XVI sobre seus posicionamentos políticos do passado, durante a Ditadura Militar, o que estigmatizou Bergoglio como um traidor e homem que negociava com assassinos. Bento XVI sistematicamente nega a aposentadoria de Bergoglio, pois já havia, de antemão, decidido renunciar ao cargo de Santo Padre em virtude dos casos de corrupção de seu assessor mais direto e em virtude dos sérios casos de pedofilia na Igreja Católica, onde ele não tomou uma posição mais firme, fato do qual se envergonha e também confessa a Bergoglio. Ou seja, além de padres, são dois homens que pecaram e erraram, confessando-se um ao outro. Bento XVI esperava que Bergoglio chegasse ao cargo de papa e botasse ordem na casa, apesar das severas divergências entre os dois.

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Muitas conversas ao pé do ouvido…

Esse é o típico filme de atores, que tiveram atuações simplesmente impecáveis. A coisa foi tão genial que, quando víamos imagens dos reais Bento XVI e Francisco juntos, num breve lampejo a gente ainda tinha uma certa dúvida de se víamos Hopkins e Pryce atuando. A impressão que se dá é que esta é uma película mais de Pryce do que de Hopkins, mas seria uma injustiça colocar a excelência de um sobre o outro. Os dois atores pescaram com competência as características de seus personagens reais (Francisco muito mais aberto  espontâneo e Bento XVI mais fechado e rabugento, mas não menos muito interessante) e foi um deleite de interpretação de uma forma tão mágica que o tempo do filme voou.

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O filme humaniza os papas…

O desfecho da película foi grandioso. Francisco ensinando Bento XVI a dançar tango e, algum tempo depois, os dois assistindo juntos a final da Copa do Mundo de 2014 entre Alemanha e Argentina no Maracanã, onde já sabemos o resultado. Meirelles deu aos dois papas características altamente humanas e mundanas para o cargo que ocupam. Vemos os dois contando piadas, tomando vinho e cerveja, provocações e zoações no futebol, etc., o que aproxima as figuras santificadas dos pobres fiéis mortais.

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Fernando Meirelles dirigindo dois atorzaços!!!

Assim, “Dois Papas” é mais um filmaço da Netflix que deve ganhar mais prêmios por aí, dando ao cinema uma nova dimensão para a produção de boas películas. Um programa imperdível, seja na telona (como este escriba o fez), seja na telinha, como recomendo fortemente, se você tem uma dificuldade de acesso ao cinema. A única coisa que não pode acontecer é o caro leitor perder esse grande filme. Vale muito a pena dar uma conferida nesse programa imperdível.

Batata Movies – A Grande Mentira. Reviravoltas Até Certo Ponto Triviais.

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Cartaz do Filme

Uma película com dois medalhões. “A Grande Mentira” traz o par Ian McKellen e Hellen Mirren numa trama de suspense não muito original, mas que teve uns floreios históricos um tanto interessantes. Para podermos entender melhor isso, vamos lançar mão de spoilers aqui.

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Roy Courtnay, um senhor vigarista…

Vemos a trajetória do vigarista Roy Courtnay (interpretado por McKellen), que pratica golpes que lhe dão cerca de 100 mil libras por tramóia. Mas ele conhece nas redes sociais a ingênua Betty McLeish (interpretada por Mirren), que lhe deu a oportunidade de tirar a “sorte grande”, onde milhões de libras estavam em jogo. Apesar dos apelos insistentes de seu neto Stephen (interpretado por Russell Tovey) para não cair no golpe, Betty cai de cabeça no plano de Roy. Aí, o leitor faz a pergunta óbvia: mas Betty está de tramóia também, não é? E dá uma volta em Roy. A gente desconfia disso logo antes do fim da primeira metade do filme. É realmente óbvio e clichê demais. O detalhe aqui é que há um flashback na vida de Roy que o associa ao fim da Segunda Guerra Mundial na Berlim ocupada pelos aliados, desenvolvendo-se toda uma história paralela do protagonista, onde até uma falsa identidade é atribuída a ele. O grande detalhe é que Betty também está envolvida nessa vida pregressa de Roy e ela busca vingança inclusive. O porquê disso? Chega de spoilers! Esse detalhe que envolve os protagonistas no passado é o lance inédito para tirar tamanha obviedade do clichê da velhinha inocente que dá o golpe no golpista.

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Betty, a “inocente” senhora…

Esse é um filme de suspense que poderia descambar para alguns momentos cômicos. Até há alguns deles, mas a pegada da história mostrou-se mais tensa, principalmente no que tange ao personagem Roy Courtnay. McKellen, um gentleman em toda a sua plenitude, faz aqui um personagem que tem sua elegância mas é muito repulsivo pela maldade que está contida nele. Seja na sua velhice, seja na sua juventude, Roy não é somente mau por ser um vigarista inescrupuloso, mas ele também pode ser muito violento, o que chama bastante a atenção e é uma surpresa na película. Aí, a gente tem que bater palmas para McKellen, pois ele mantém essa balada dúbia de ser um cavalheiro que corteja Betty com toda a pompa e elegância e, ao mesmo tempo, mostrar-se um homem desprovido de qualquer caráter e com uma violência inquietante em seu íntimo. Já Mirren também faz um excelente papel dúbio, entretanto um pouco mais óbvio, da senhora inocente que é mais malandra que o malandro que tenta enganá-la. Entretanto, essa história pregressa, que é a grande cereja do bolo do filme, dá-lhe a oportunidade de trabalhar também uma fina, mas venal crueldade, que dá uma punição e tanto a Roy. Uma punição, diga-se de passagem, que incomoda muito, ainda mais quando seguida por um happy end altamente idílico que nada tem a ver com o resto da película.

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Quem engana quem???

Dessa forma, “A Grande Mentira é um daqueles filmes que a gente vai ao cinema pelos atores, a grande atração aqui. McKellen e Mirren encantam pelos papéis dúbios que interpretam com desenvoltura e maestria. O clichê de uma história como essa é salpicado pelo flashback que parece, num primeiro momento, envolver a vida pregressa de só um protagonista, mas que, na verdade, envolve a vida pregressa dos dois protagonistas. Por fim, uma crueldade um tanto inesperada, dá um tom ácido ao filme, flertando um pouco com o humor negro. Vale a pena dar uma conferida nessa película até certo ponto inquietante.

Batata Movies – Midway. Mais Um Filme De Guerra.

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Cartaz do Filme

Roland Emmerich assina a direção de mais um filme. Dessa vez, temos o drama histórico “Midway”, mais um filme do inesgotável tema da Segunda Guerra Mundial, que fala da famosa batalha do Pacífico travada entre Estados Unidos e Japão, determinando a virada na guerra em favor do primeiro. Não fosse a vitória americana, a costa oeste dos Estados Unidos estaria seriamente ameaçada de bombardeio pelos japoneses. Para que a gente possa entender o filme um pouco melhor, vamos lançar mão de spoilers aqui.

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Dick Best, o protagonista, com a esposa…

O filme começa com Pearl Harbor, onde ocorreu o famoso bombardeio japonês que lançou os Estados Unidos na guerra. Tido como um grande erro estratégico o ato de o serviço de inteligência de guerra americano não ter previsto o ataque, o incidente de Pearl Harbor faz com que toda essa parte estratégica seja realçada no filme, pois os embates entre Estados Unidos e Japão no Pacífico não poderiam mais ter erros estratégicos dessa magnitude. É dito no filme que o poderio bélico do Japão naquele momento da guerra era maior que o americano e que as batalhas entre os dois países tomariam contornos definitivos. E as ilhas de Midway seriam o ponto chave, cujo ataque japonês era guardado a sete chaves. Foi o serviço de decodificação feito pelos americanos de mensagens japonesas cifradas que conseguiu descobrir o ataque e, assim, os americanos lançaram mão do elemento surpresa num ataque aos japoneses.

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Efeitos especiais são uma atração à parte…

Uma coisa que muito chama a atenção no filme são as cenas de batalha, onde os CGIs são uma atração à parte. O mergulho dos aviões americanos contra as embarcações japonesas sob fogo antiaéreo cerrado é reproduzido com um realismo extremamente angustiante. Esse mergulho era necessário para se lançar as bombas dos aviões no convés das embarcações. O problema era chegar o mais perto possível sem ser alvejado pelas implacáveis baterias antiaéreas. Foram esses os momentos mais intensos das cenas de batalha com os efeitos do CGI.

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Filme tem a participação de Aaron Eckhart

O elenco é curioso. O protagonista, o piloto aéreo Dick Best, é interpretado por Ed Skrein, o Ajax de “Deadpool”. Há outros nomes pouco conhecidos entre o staff principal. Mas temos medalhões em outros papéis menores: Dennis Quaid, Luke Evans, Woody Harrelson, Aaron Eckhart. Assim, a gente meio que garimpava as caras mais conhecidas nos papéis mais coadjuvantes enquanto que os protagonistas eram um pouco mais desconhecidos. Mas a história instigante e bem contada consegue fazer com que a gente não dê muita importância para esse detalhe.

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Dennis Quaid é outra grande atração do filme…

Esse também é aquele filme bem clássico de guerra que coloca os americanos como os mocinhos virtuosos do conflito, ao passo que os japoneses tem um certo grau de demonização. Apesar dos rótulos ao inimigo, o filme se preocupa em contar a história não somente do lado dos americanos (esses, obviamente, em mais destaque) mas também do lado dos japoneses, onde podíamos ver pessoas ponderadas por lá. O detalhe curioso é que, ao final do filme, foi feita uma dedicatória aos combatentes americanos mortos na guerra, mas também aos japoneses que pereceram, pois “o mar não se esquece dos seus”. O final do filme ainda fala do que aconteceu com os personagens principais (e reais) do filme após a guerra, colocando-se a fotografia real do personagem citado ao lado da imagem do ator que o interpretava no filme, o que dá sempre aquele gostinho de legitimidade histórica ao filme, embora saibamos que isso não é uma coisa tão trivial e automática assim.

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Filme também conta a guerra do ponto de vista dos japoneses…

Dessa forma, “Midway” é mais um filme de Segunda Guerra Mundial, tema esse que parece realmente ser inesgotável. Um filme onde a grande vedete é uma história bem contada, romanceada pelos modernos CGIs. Um elenco demasiado jovem nos papéis principais com direito a coadjuvantes que podem ser visto como de luxo por serem medalhões. Vale a pena dar uma conferida.