Batata Movies – Contato. A Versão de Uma Obra-Prima Para O Cinema.

Vamos hoje recordar mais uma vez das sessões do Cineclube Sci Fi do Conselho Jedi do Rio de Janeiro realizadas no Planetário da Gávea. Certa vez, foi exibido o importante filme “Contato”, estrelado por Jodie Foster e Matthew McConaughey. E por que essa produção de 1997 dirigida por Robert Zemeckis é tão cheia de relevância? Justamente porque se trata de um filme de ficção científica com F maiúsculo, tratando o tema da busca por inteligência extraterrestre de forma sóbria e refinada, sem arroubos de ação ou aventura, como vemos na maioria dos filmes que tratam desse tema. A história dessa película é inspirada no livro homônimo do astrônomo Carl Sagan, famoso na década de 1980 por trabalhar com divulgação científica, produzindo e protagonizando a série de TV “Cosmos”, exibida por aqui pela Rede Globo.

Jodie Foster interpreta a astrônoma Eleanor Arroway

No que consiste a história? Temos a astrônoma Eleanor Arroway (interpretada por Jodie Foster), que tem como objetivo principal em sua carreira buscar inteligência extraterrestre analisando os sinais de rádio emitidos pelos corpos celestes. Ela tem o hábito da comunicação por rádio desde criança, quando operava um rádio amador de sua casa, estimulada pelo pai Ted (interpretado por David Morse), que recebera a recomendação de estimular as aptidões da menina para matemática, física e ciências, após esta passar por um teste vocacional. Mas Eleanor vai sofrer todos os preconceitos da comunidade científica, principalmente na figura de David Drumlin (interpretado por Tom Skerritt), que vê o projeto de Eleanor com ceticismo e até zombaria, cortando todos os apoios financeiros e governamentais que pode e não pode. Mas, um belo dia, no Very Large Array, um conjunto de Radiotelescópios instalados no Novo México, Eleanor finalmente detecta sinal de vida inteligente, situada na estrela Vega, a 26 anos-luz de distância da Terra. Inicialmente, era um sinal que continha uma sequência de números primos, mas que possuía outras informações também. Havia a primeira transmissão de TV feita pelo homem, um discurso de Adolf Hitler na abertura dos Jogos Olímpicos de 1936, que essa inteligência alienígena captou e retransmitiu para a Terra com um ruído implícito, que era constituído de esquemas tridimensionais para se montar uma máquina que fizesse viagens pelo espaço através de “buracos de minhoca”, que são “atalhos” na estrutura espaço-temporal.

Joss, um homem da religião

Obviamente, a essa altura do campeonato, Drumlin esqueceu seu ceticismo e, com seu poder e influência, tomou as rédeas do projeto, colocando Eleanor para escanteio. Mexendo seus pauzinhos e, usando um discurso que agradava a gregos e troianos, convenceu uma comissão de que ele era a pessoa mais indicada para fazer a viagem. Só que um fanático religioso cometeu um atentado terrorista e explodiu toda a máquina, provocando a morte de Drumlin. Tudo estaria perdido não fosse a intervenção do grande magnata Hadden (interpretado magistralmente por John Hurt), que já vinha dando amparo financeiro a Eleanor e que tinha construído outra máquina igual na ilha de Hokkaido com a ajuda de empresas japonesas, devidamente compradas por ele. E aí, nossa Eleanor, a descobridora do sinal e que fora colocada à margem do projeto por querelas políticas, vai fazer a viagem para encontrar a espécie alienígena em questão.

Buscando inteligência extraterrestre com grandes antenas…

Ufa! Que história, não? Só essa pequena sinopse já mostra que o filme vale a pena. Mas a película tem outras grandes virtudes. Não falamos do personagem de Matthew McConaughey ainda. Ele é Joss, um homem de formação religiosa, que é uma espécie de conselheiro espiritual do presidente Bill Clinton. E iniciará um “affair” com Eleanor, uma mulher de ciência que não crê em Deus. Logo podemos perceber o velho embate ciência X religião nesse casal e ao longo do filme. Mas essa discussão, ao contrário do que pode parecer, não é feita de forma dicotômica e simplória. Ela é cheia de matizes, pois Joss representa a visão do religioso com suas convicções a respeito de Deus, mas tolerante com o discurso científico, ao contrário do fanático religioso que explodiu a máquina por rechaçar totalmente a ciência (aliás, esse fanático religioso estava a cara do ator alemão Klaus Kinski, que fazia apresentações teatrais dizendo que era Jesus Cristo e que respondia enfurecido às provocações da plateia que o questionava se ele era mesmo Jesus ou não, sendo um grande sucesso, mas isso é outra história). É bem claro que a notícia do conhecimento da existência da inteligência extraterrestre provocou uma polvorosa e tanto. E aí, ficou a questão de quem seria a pessoa mais adequada para fazer a viagem. Eleanor era uma das candidatas, mas foi reprovada, pois não acreditava em Deus, algo em que 95% da população mundial acreditava, não sendo considerada, portanto, uma boa representante da raça humana

Fazendo uma viagem fantástica!!!

Só para colocar um pouco mais de pimenta na discussão, Joss fazia parte da comissão e fez a Eleanor a pergunta de se ela acreditava em Deus, que foi decisiva para sua eliminação. Mas Joss fez tal pergunta, pois ele amava Eleanor e temia que ela jamais voltasse. Aliás, Joss ficou assustado com a entrega de Eleanor ao projeto, chegando ao ponto de aceitar a possibilidade de sacrificar a própria vida em prol da ciência. Aqui, esse comportamento extremo de Eleanor também é visto em alguns grupos fundamentalistas religiosos, só para percebermos como a discussão do filme é rica nesse ponto

Encontro com o “pai” alienígena

Mas como era dito naquela antiga propaganda de facas na tv, “e não é só isso!”. O filme vai mais além nessa questão. Eleanor faz a viagem, vê todos os buracos de minhoca do mundo, vai para Vega e além dos limites da galáxia, onde se encontra com uma suposta entidade alienígena travestida de seu pai, numa reprodução de uma praia em Pensacola, Flórida, com quem ela tinha tido um contato de rádio amador quando criança. Toda essa montagem foi feita, segundo o “pai alienígena” para tornar a coisa mais familiar. Para Eleanor, a experiência, além de científica, foi também pessoal, pois o pai havia morrido quando ela era apenas uma garotinha e ela tentava se comunicar com o pai morto no radio amador.
O grande problema foi que toda a estação de comando da máquina não viu nada disso e Eleanor não trouxe provas concretas de sua viagem, já que sua câmara e sistema de áudio só trouxeram estática gravada. Assim, ficou o discurso dela contra o discurso de quem testemunhou a viagem “de fora”. E aí, a situação se inverteu: assim como Eleanor antes não acreditava em Deus, depois da viagem muitos não acreditavam no que Eleanor dizia. Mas ainda assim, parte do povo acreditou na cientista e passou até a vê-la como uma figura messiânica, como ficou registrado na comovente sequência após o depoimento de Eleanor no Congresso, onde uma multidão a aguardava, com direito até a crianças com doenças graves a esperando para receber uma espécie de “benção”, para a perplexidade total da cientista. Nessa hora, ficaram as sábias palavras de Joss, onde ele disse à mídia que não tinha as mesmas visões de mundo de Eleanor (a científica), mas tanto ciência quanto religião buscavam a verdade e que ele acreditava nas palavras de Eleanor, dando um bonito desfecho para a película.
Uma outra curiosidade foi a participação de medalhões da imprensa no filme como o apresentador Jay Leno ou o Repórter Bernard Shaw, que cobriu a guerra do Iraque, o que deu um certo tom de realismo e autenticidade à história. O próprio presidente dos Estados Unidos na época, Bill Clinton, gravou algumas sequências discursando para o filme, assim como teve sua imagem implantada em CGI com alguns membros do elenco. Aliás, falando em CGI, algo que muito chamou atenção na época em que o filme foi feito foi a sequência inicial, onde “saímos” do planeta Terra juntamente com os sinais transmitidos pelos humanos indo até para fora de nossa galáxia. À medida que nos afastamos do planeta, os sinais falam de situações que estão cada vez mais no passado (os sinais mais antigos já viajaram uma distância maior), até que eles emudecem, após o discurso de Hitler nos Jogos Olímpicos de Berlim, o primeiro sinal a sair da Terra em 1936 e que já viajou a maior distância. A única crítica que pode ser feita a essa belíssima sequência inicial é a respeito dos sinais da década de 1960 que eram escutados no filme nas proximidades de Júpiter e Saturno, quando sabemos que tais sinais só demoram algumas horas para chegar a esses planetas. De qualquer forma, nada disso alterou a beleza e plasticidade da coisa.

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Leonard Nomoy. Como seria a comunicação entre humanos e alienígenas???

Uma questão pode ser levantada aqui. Como seria uma comunicação entre extraterrestres e nós? Tal situação de comunicação descrita no filme seria verossímil? Leonard Nimoy (sempre ele) ao elaborar a história de “Jornada nas Estrelas IV, A Volta Para Casa”, discutiu com alguns cientistas especializados em pensar tais questões como seria uma suposta comunicação entre humanos e ETs. Um deles lhe disse que essa comunicação poderia ser impossível, já que o desenvolvimento de uma espécie alienígena poderia ser tão diferente da nossa que as visões de mundo, as redes neurais, os sistemas de linguagem seriam tão dispares que impossibilitariam qualquer comunicação. E os alienígenas do filme se comunicam por números primos, que faz parte de uma linguagem matemática desenvolvida na Terra. Após a exibição do filme no cineclube, houve um debate com o astrônomo Alexandre Cherman, que defendeu a ideia de que uma comunicação entre alienígenas e terrestres com números primos é algo altamente plausível, dada a peculiaridade desses números (só são divisíveis por eles mesmos e por um) e que essa ideia vale para qualquer lugar do Universo, sendo um sistema de comunicação altamente inteligível e eficiente. Luísa Clasen, a outra palestrante, especializada em Cinema e Vídeo, levantou uma hipótese interessante: mesmo sendo uma espécie alienígena altamente diferente da nossa, ela pode ter estudado os sinais terrestres e entendido um pouco mais as nossas formas de pensar e se comunicar.
Após essas linhas, podemos perceber a grande qualidade que o filme “Contato” tem. A melhor expressão do bom cinema, do filme que faz pensar sobre questões tão atuais, mesmo tendo sido feito há quase vinte anos. Quem ainda não conhece essa película já tem bons motivos para procurá-la. Um excelente programa para quem gosta do cinema como pura expressão de arte.

Luisa Clasen, palestrante

Batata Movies – Coringa. Mais Que Um Problema Individual.

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Cartaz do Filme

E temos o “Coringa”, estrelado por Joaquin Phoenix. Era um filme muito esperado, envolto em bastante polêmica, pois ele trabalha o tema do psicopata assassino que é menosprezado pela sociedade e sai descarregando sua ira deixando um rastro de sangue, tal como vemos em muitos casos verídicos de serial killers nos Estados Unidos. Assim, parentes de vítimas desses assassinatos em série se manifestaram contra o filme, enquanto que algumas salas de cinema americanas disseram que não iam exibir “Coringa”. Tudo isso acabou gerando mais marketing para o lançamento da película e aumentou em muito a expectativa. Vamos agora falar aqui desse filme, lançando mão dos spoilers, que são necessários para uma análise mais profunda da coisa.

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Joaquin Phoenix. Redefinindo o conceito de magnífico…

Arthur Fleck (interpretado por Joaquin Phoenix) é um homem atormentado, que tem um sério distúrbio. Ele dá gargalhadas violentas e severas, mas elas não expressam necessariamente que ele está feliz, muito pelo contrário até. Arthur sempre foi um homem que teve uma vida muito sofrida em virtude de seu distúrbio. Ele trabalha numa espécie de agência de palhaços que são contratados para divulgar lojas. Fleck é perseguido pelo seu patrão e por seus amigos, sempre sendo sacaneado por todos. Enquanto isso, Gotham City passa por uma verdadeira convulsão social. Sua elite trata o povo com enorme descaso, os lixeiros fazem greve, a cidade está infestada de ratos. Nesse contexto sombrio, Thomas Wayne (interpretado por Brett Cullen) aparece como um salvador da pátria e candidato a prefeito da cidade. Mas Wayne é um ricaço que tem desprezo pela classe mais pobre.

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Riso e choro em um único desespero…

Ah, sim, Thomas Wayne é pai de Bruce, não podemos nos esquecer desse detalhe. A mãe de Arthur, Penny (interpretada por Frances Conroy) manda várias cartas para Thomas Wayne. Arthur irá descobrir que a mãe teve um caso com Thomas e Arthur seria filho dele. Mas depois Arthur vai descobrir que a mãe era louca e abusava dele durante a infância. Arthur, que já havia matado três homens das empresas Wayne, que importunavam uma moça no metrô e depois começaram a espancá-lo, acaba matando também a mãe. A morte dos três homens ricos no metrô por um homem vestido de palhaço levanta um movimento contra os ricos na cidade e as pessoas fazem manifestações com máscaras de palhaço. Arthur, que não toma mais suas medicações, pois o programa de assistência do governo foi cancelado, caminha a passos largos para a psicopatia total e tem um plano um tanto sinistro quando é chamado para ser entrevistado num talk show, pois um vídeo feito de uma apresentação sua foi parar na TV e o apresentador Murray Franklin (interpretado por Robert De Niro) fará a entrevista com o objetivo de zoar com a cara de Arthur. Mas…

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Robert De Niro dessa vez foi coadjuvante. Vocês acreditam???

O que mais chama a atenção nesse filme logo de cara? O temor de se justificar as ações dos serial killers é até compreensível, embora eu creia que não se deva silenciar a discussão desse tema, já que esses assassinatos em série são uma conseqüência realmente de um problema mais amplo do que um caso individual isolado. Há uma sociedade violenta que estimula os assassinatos em série quando uma pessoa é maltratada pela sociedade. E isso tem que ser discutido, até para se encontrar uma solução para o problema. Mas o filme foi além disso. Ele foi no âmago de um problema social, onde uma elite rica não tem qualquer apreço ou respeito pelas camadas mais populares, mergulhando Gotham City numa verdadeira convulsão. Sabemos que a cidade de Nova York, lá pelos idos da década de 70 era um local extremamente problemático e violento.

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A linguagem corporal também foi decisiva…

Quando vemos a logo antiga da Warner no início do filme e nos situamos numa Gotham mais retrô, vemos que há uma intenção de associar a cidade fictícia do Batman com essa Nova York caótica da década de 70. E o homicídio de três homens ricos que não tem qualquer caráter por um homem vestido de palhaço é a senha para uma revolta generalizada contra a elite rica. Logo, o Coringa desse filme não é o líder de uma quadrilha, mas uma espécie de bandeira contra a forma atroz que a elite trata as camadas menos favorecidas. O Coringa é menos o serial killer psicopata que mata a torto e a direito do que a personificação de uma revolta social. E isso aparece em sua fala quando ele sente que deixa de ser um João ninguém para ser ouvido pelos mais pobres nos seus atos violentos contra a elite. Há momentos dessa interação entre Coringa e as massas, seja na sequência do metrô onde ele foge da polícia e os policiais são detidos pelos passageiros do trem todos com máscaras de palhaço, seja no momento em que ele é retirado ferido do carro de polícia que o levava para a prisão e que foi abalroado por uma ambulância para poder libertar Arthur. Nesse momento, ele se ergue triunfante e é aplaudido pelas massas nas ruas, justamente depois dele assassinar (ao vivo) Murray na TV. Assim, a história de Coringa não é a do individual psicopata que comete crimes pelas loucuras que sofre da sociedade, mas sim a história de um homem que acaba personificando a indignação de todo um segmento social massacrado, tornando-se assim muito mais perigoso para o establisment.

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E, finalmente, o personagem encarnado…

É claro que esse não é um filme de super-herói como conhecemos. Mas já é disparado a melhor coisa que o casamento DC-Warner fez, sem a menor sombra de dúvida. Esse filme é tão especial que ele deve ser considerado algo à parte, ou seja, não vai cair bem um Coringa interpretado pelo Joaquin Phoenix lutando contra o Batman ou a Mulher Maravilha num futuro filme. Outra coisa que deve ser dita é a força da atuação de Joaquin Phoenix. Às vezes, quando vejo uma obra de um ator ou diretor no cinema, me chega uma espécie de convicção de que aquele ator ou diretor chegou ao seu auge. E que, a partir dali, ele não conseguirá um trabalho tão bom. Eles ainda serão excelentes, mas jamais chegarão à qualidade daquele ápice. Eu senti isso, por exemplo, com Pedro Almodóvar em “Fale Com Ela”. Ali ele chegou ao seu auge e esse filme será insuperável em qualidade. As demais películas de Almodóvar jamais chegarão aos pés de “Fale Com Ela”, onde o diretor explodiu todas as escalas de qualidade. Falo isso agora para Joaquin Phoenix. Na minha modesta opinião, ele chegou ao seu auge com “Coringa”. Phoenix estourou todas as escalas. Sua gargalhada era com um sofrimento explícito, onde o ator conseguia misturar com maestria riso e choro, levando-nos a um sentimento muito angustiante. O esforço que ele fez para compor o personagem, emagrecendo horrores e fazendo uma dança poligonal e esquálida impressionou demais também. A coisa foi tão boa que nem a sua vestimenta de Coringa a la Cesar Romero ficou caricata. Sua atuação no talk show foi perfeita, assustadora e, principalmente, esfuziante, quando ele desabafou perante toda a sociedade os anos e anos de ódio acumulado por ter sido maltratado por tudo e por todos. Sua sanha assassina é direta, sincera e, acima de tudo, contagiante. Papel digno de Oscar, embora a película já tenha conseguido muito mais do que isso, pois ganhou o prêmio de melhor filme no Festival de Veneza. Isso sim é uma coisa impressionante: um “filme americano de super herói” ganhar o prêmio máximo num festival europeu.

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Em Veneza. Prêmio merecidíssimo…

Dessa forma, “Coringa” é um programa imperdível, um filme obrigatório, por trabalhar o Universo dos filmes de super-herói de uma forma adulta e muito contundente, despertando uma reflexão que sai do campo do individual para o campo do social. E tem a atuação mais primorosa da carreira de um artista de renome, que é Joaquin Phoenix. Não deixe de assistir a esse filme que te agride e que não te deixa indiferente.

Batata Movies – 12 Macacos. Futuro do Pretérito

O Conselho Jedi do Rio de Janeiro organizou, há alguns anos, o Cineclube Sci Fi, no Planetário da Gávea, onde era exibido um filme de ficção científica seguido de palestra com convidados e debate com o público. Vamos lembrar aqui algumas dessas sessões. Uma delas exibiu o filme “12 Macacos” (“12 Monkeys”), produzido já no longínquo ano de 1995, dirigido por Terry Gillian e inspirado no curta francês “La Jetée”, escrito por Chris Marker. O elenco conta com figuras de peso como Bruce Willis, Brad Pitt, Madeleine Stowe, Christopher Plummer e até, acreditem, Frank Gorshin. Não identificou esse último nome? Ele fazia o Charada da série do Batman estrelada pelo Adam West!

Cole e Goines. Doidinhos!!!

Como podemos definir “12 Macacos” em uma só frase? É um surreal futuro do pretérito! A história do filme, altamente distópica por sinal, fala de uma espécie de agente temporal, James Cole (interpretado por Willis), que vive num mundo do futuro cuja humanidade foi praticamente dizimada por um vírus propositalmente criado pelo homem no passado, mais precisamente o ano de 1996. Os poucos humanos que restaram vivem nos subterrâneos e estudam as espécies animais na superfície que sobreviveram ao vírus, que já sofreu muitas mutações e para o qual a cura é praticamente impossível. Assim, faz-se necessário voltar ao passado para poder isolar o vírus antes que ele sofra as mutações. Só que as viagens ao tempo empreendidas por essa geração futura estão, digamos, meio que “descalibradas” e nosso agente temporal cai no ano de 1990, sendo dado como uma pessoa louca e perigosa, e internado num hospício. Lá, Cole conhece a psiquiatra Kathryn Railly (interpretada por Stowe) e o paciente Jeffrey Goines (interpretado por um tresloucado Brad Pitt). Esses personagens serão de suma importância para ajudar nosso protagonista a encontrar a organização secreta “12 Macacos”, que supostamente produziu o tal vírus que destruirá a humanidade.

Cartaz de La Jetée.

Roteiro interessante, não? O filme oferece várias possibilidades além da ficção científica. Num momento da película, a coisa parece mais um estudo da loucura e da psique humana. Sem perder uma forte dose de humor, o filme também consegue inquietar bastante, pois joga a insanidade humana de uma forma um tanto sufocante para cima do espectador. Brad Pitt, por exemplo, conseguia ser simultaneamente engraçado e angustiante, talvez um dos melhores papéis de sua carreira, embora não deva ser tão difícil fazer o excessivamente caricato ao invés de um papel dramático mais contido. Se o personagem de Pitt ainda podia ser classificado como engraçado, Cole, por sua vez, era o agônico por excelência. O homem sofreu demais na película, seja em seu tratamento na cadeia e no hospício, seja nas suas viagens temporais e nas prestações de contas que ele dava às elites do futuro que o enviaram para o passado, como parte do indulto que ele recebia (o personagem cometeu algum crime no futuro que não foi citado explicitamente), seja dentro de sua própria mente perturbada, que a uma certa altura, já não sabia mais o que era realidade ou invenção de sua cabeça. Esse ambiente altamente opressor e angustiante, aliado a um pesado humor negro, acabam tornando o filme altamente surreal, fugindo muito do estilo da ficção científica.

Mas o filme não é só esse embate surreal. Ele também aborda questões muito relevantes ligadas à ciência. Creio que nesse momento, deve-se falar um pouco das palestras dos convidados desta edição. Eles foram: Rafael Studart e Ulisses Matos, ambos roteiristas e fãs de histórias de viagens no tempo, e o químico Gastão Souza. Studart e Matos enfocaram suas falas na questão do paradoxo do tempo das viagens temporais, lembrando que o filme opta por uma lógica circular que torna a situação inevitável e irremediável, o que só faz amplificar a ideia de angústia já mencionada acima. O mais interessante, segundo eles, é que essa não é a única visão de viagem no tempo que existe. Algumas histórias simplesmente chutam para escanteio essa noção de lógica circular e aí surgem paradoxos mais latentes. Claro que isso deve ser feito com alguma responsabilidade ou a história ficará com muitos furos e perderá a qualidade. Ainda, os palestrantes lembraram que, quanto mais se volta ao passado, maior é a instabilidade da lógica circular. Uma alteração no passado que você faz no dia de ontem, pode ter consequências bem menores que uma alteração no passado que você faz há seis milhões de anos. Devemos nos lembrar, no entanto, que isso não é uma regra e depende muito do tipo de alteração que é feita no passado. Eles também falaram um pouco do curta francês “La Jetée”, de 1962, que inspirou “12 Macacos”. Foi mencionado que essa história de vinte e sete minutos era uma espécie de sucessão de fotos estruturadas sob uma narração e que não se furtava de ir somente ao passado, mas ao futuro também, algo que não foi mostrado em “12 Macacos”. Ainda sobre a questão dos paradoxos temporais, a tal história da organização secreta “12 Macacos” que foi o motivo de Cole voltar ao passado teria sido implantada pelo próprio Cole quando ele estava em 1996. Studart e Matos ainda projetaram slides referentes à série de tv produzida mais recentemente e inspirada em “12 Macacos”.

Henrique Granado e Brian Moura (nas extremidades) com os palestrantes: Gastão Souza (de barba), Rafael Studart (centro) e Ulisses Matos.

Já Gastão Souza estruturou sua apresentação em questões mais filosóficas e científicas. O primeiro ponto que ele menciona é a questão da profecia. Joe Cole é aquele que vem do futuro trazendo as “más novas”. Note que as iniciais de Joe Cole são as mesmas de Jesus Cristo (J. C.), considerado outro profeta bíblico. O mito de Cassandra, que sabia prever o futuro, mas totalmente impotente para evitar que algo ruim acontecesse, é também mencionado pelo palestrante, assim como na película. Foucault foi citado pelo palestrante por defender a ideia de que chamar alguém de louco é muito mais o reflexo de uma vontade de dominação política do que um diagnóstico médico. Sentimos isso no filme o tempo todo. Ainda, o personagem de Brad Pitt, Goines, apesar de taxado de louco, fala coisas altamente pertinentes como a crítica à sociedade de consumo, que leva a uma devastação ambiental e ao apocalipse, ou seja, nosso planeta não consegue aguentar todos os excessos praticados pela raça humana e vemos uma destruição paulatina do meio ambiente. Ainda, Goines defende a liberdade para os animais e coloca o seu próprio pai, um grande cientista, na jaula, numa metáfora de volta ao primitivismo, onde os animais livres num mundo sem jaulas remetem a um tempo em que o ser humano não fazia qualquer mal à natureza. Souza ainda menciona o mito da solução científica, onde a ciência busca soluções para os próprios problemas que ela cria, algo também muito presente em “12 Macacos”.

Uma discussão muito interessante que alinhou as falas dos três palestrantes foi a questão de se dar direitos a robôs se eles se tornarem seres com consciência. Tal assunto suscitou muita discussão, com alguns membros do público concordando e discordando dessa posição. Ainda, Souza levantou a questão de que é muito difícil se definir o que é consciência se nem sabemos ainda como nosso cérebro funciona integralmente.

Essas foram as impressões do filme “12 Macacos” na sessão do Cineclube Sci Fi do Conselho Jedi do Rio de Janeiro. Futuramente, vamos lembrar de outras sessões.

Batata Movies – Rainhas Do Crime. Uma Questão de Sobrevivência.

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Cartaz do Filme

Um bom filme. “Rainhas do Crime” é uma película altamente instigante que fala do submundo de Hell’s Kitchen, um bairro irlandês de Nova York extremamente violenta do ano de 1978. Um filme onde é necessário sujar as mãos na luta pela sobrevivência, chutando os escrúpulos para escanteio. Um filme inspirado numa graphic novel da DC. Para entendermos um pouco mais essa película, vamos precisar de spoilers.

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Elas vão tomar conta do pedaço…

O filme gira em torno de três esposas que tiveram seus maridos presos e serão “sustentadas” pelo crime organizado enquanto os cônjuges cumprem pena de três anos. Mas Kathy (interpretada por Melissa McCarthy), Ruby (interpretada por Tiffany Haddish) e Claire (interpretada por Elisabeth Moss) veem que a ajuda financeira é muito pouca e vão falar com o chefão da quadrilha local que, simplesmente, as expulsa de seu escritório. Em desespero e com necessidade extrema de sobrevivência, as três irão meio que se infiltrar nos serviços de “segurança” da quadrilha, que garante a paz mediante pagamento dos comerciantes. É claro que a quadrilha partirá para cima das três mas o chefão será assassinado por Gabriel (interpretado pelo “General Hux” Domhnall Gleeson). Como todo mundo ali se conhece e há até um certo grau de parentesco, as três mulheres são aceitas como as novas chefonas do pedaço, botando ordem na localidade. Mas a disputa pelo poder das ruas com outros gangsters de outros bairros não será fácil. E, ainda mais, quando os maridos saírem da cadeia, será que eles aceitarão esse empoderamento feminino numa época e local de domínio dos varões?

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Desafiando um Universo masculino…

O filme não é propriamente de ação, mas temos uma película um tanto violenta e uma história altamente instigante, muito bem escrita, que prende a atenção do espectador do início ao fim. A vida de crimes é questionada pelo pai de Kathy mas esta o lembra de que ela sempre foi tratada como uma mulher submissa que devia sempre agradecer e que não tinha qualquer sentimento de segurança. Entretanto, ao entrar na vida de submundo e quadrilhas do seu bairro, o sentimento de medo e impotência desapareceram, mesmo que ela tivesse que encarar a morte um monte de vezes. Aliás, já podemos falar um pouco do elenco. As três atrizes que desempenharam o papel das protagonistas foram simplesmente sensacionais. McCarthy mostra cada vez mais a sua competência em papéis dramáticos, não sendo apenas o estereótipo da atriz gordinha que faz comédias, como os primeiros dias de sua carreira quiseram vender. Tiffany Haddish meteu um medo danado com sua Ruby extremamente fria, calculista e cruel. E Elisabeth Moss, a mais bonita e fofinha de todas, arrasou com uma Claire que apanhava constantemente do marido e acabou como uma homicida impiedosa, que se especializa em esquartejar corpos com Gabriel, seu par romântico, se vingando de toda a violência dos machos alfa. As três estiveram simplesmente divinas em seus papéis. Num segundo nível, Glesson também não decepcionou, não lembrando em nada o General Hux de Guerra nas Estrelas, mas perto das protagonistas ele ficou plano demais como um mero assassino frio.

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Nos quadrinhos…

Dessa forma, “As Rainhas do Crime” vale muito a pena ser visto pela história altamente instigante que dá protagonismo a três personagens femininas interessantíssimas. Um filme que se ampara num bom roteiro e ótimas interpretações, configurando-se num programa imperdível.

Batata Movies – Era Uma Vez Em Hollywood. Um Tarantino Diferentão.

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Cartaz do Filme

Quentin Tarantino está de volta trazendo “Era Uma Vez Em Hollywood”. Podemos dizer aqui que esse é um filme ligeiramente diferente do que vemos nas películas do cineasta. Foi curioso escutar as reações do público ao final da exibição. Um grupo de amigos sentado na fileira de trás da minha criticava o filme, dizendo que havia pouca violência e pouco humor ácido, em comparação aos demais filmes do cineasta. Falaram até que ele estaria mais sentimental e isso seria um indício de que Tarantino estaria ficando velho. Sei não, achei tudo o que foi colocado muito negativo. Por isso, vamos precisar de spoilers aqui para refletir um pouco mais sobre essa mais recente película do diretor.

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Cliff e Rick…

Qual é o plot? Estamos na Hollywood da década de 50 a 60. Temos Rick Dalton (interpretado por Leonardo DiCaprio), um ator de séries de TV em ascensão, que tem a companhia de seu amigo e dublê Cliff Booth (interpretado por Brad Pitt), que também é um faz tudo para Dalton. Um belo dia, um produtor de cinema, Marvin Schwarz (interpretado por Al Pacino) convida Dalton para fazer faroestes italianos, usando um argumento, no mínimo canalha: ele faz Dalton levar a cabo uma revisão de sua carreira de ator de séries e o ator conclui que só fará papéis de vilão na TV, com sua carreira definhando depois disso, o que levará Dalton ao desespero. É aí que entra Cliff, dizendo que Dalton não deve esquentar a cabeça com isso e continuar a fazer séries. Paralela a essa história principal, vemos a história de Sharon Tate (interpretada por uma doce Margot Robbie) e seu marido Roman Polanski. Tate ainda busca se afirmar no cinema e vê, numa sala de exibição, a sua participação num filme de Matt Helm, uma espécie de James Bond genérico interpretado por Dean Martin. Temos, também, um terceiro núcleo, onde Cliff se apaixona por uma riponga menor de idade, que é do grupo de Charles Manson, que todos nós sabemos que mandou assassinar Sharon Tate. O detalhe aqui é que o filme deu um desfecho alternativo bem diferente para isso, onde Tarantino justamente se manifestou em toda a sua essência de violência e de humor ácido. Mas paramos por aqui com os spoilers.

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Uma doce Sharon Tate…

A primeira coisa que chama a atenção na película é o seguinte: se você é um cinéfilo inveterado, vai amar de paixão esse filme, pois ele é um mar de referências. Fazia tempo, por exemplo, que eu não ouvia falar em Matt Helm. Cheguei a ver um trecho ou outro de filmes dele na Record Pré Bispo Macedo. O carro de Cliff era um Carmanghia azul. Tinha muitos Carmanghias vermelhos andando pelas ruas do Brasil na década de 70, me lembro muito bem. Todo o Universo dos bastidores das séries de TV estavam lá. Até Bruce Lee apareceu, numa disputa com Cliff, onde Tarantino zoou um pouco com a cara do ator oriental mas teve a lucidez de dar um empate técnico à contenda, pois se Lee fosse mais humilhado no filme do que foi eu creio que Tarantino iria arrumar problemas sérios com os fãs de Lee, como ocorreu com a filha do ator oriental (eu estaria na fila com certeza). Mas, por outro lado, foi muito bacana ver Lee treinando Tate para uma cena de luta em Matt Helm.

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Sacanearam o Bruce Lee…

Outro lance muito legal foi o personagem de DiCaprio. A insegurança de Dalton muito o humanizou e foi legal ver como o ator lida com seus temores e dá a volta por cima, indo contra a impressão de que era um mau ator. O mais irônico é que ele contracena com uma garotinha muito mais madura e lúcida que ele no que tange à carreira artística e, depois que filmam uma sequência juntos, a menina diz para ele que foi a melhor atuação que ela já viu na vida. Se por um lado há aí uma ironia implícita pois a jovem atriz tem apenas oito anos, por outro lado, o comentário dela tem validade em virtude de sua maturidade.

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Al Pacino faz um produtor que enlouquece Rick…

No mais, o plot twist ao final, que se desvia totalmente do fato histórico. Já vimos isso em “Bastardos Inglórios” e, pelo espírito catártico da coisa, funciona muito bem. Aí é onde está o Tarantino que todos esperam e é um momento muito hilário.

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No final das contas, Rick não era tão ruim assim…

Por fim, o ótimo trabalho dos atores e da direção. Tarantino realmente consegue tirar tudo de bom dos atores. DiCaprio estava ótimo nesse papel do ator amedrontado com seu suposto talento deficiente. Pitt estava excelente como Cliff, um cara com um passado de morte nas costas, mas um amigão do peito de Dalton. E Robbie, que está acostumada a fazer papéis fortes e carismáticos, estava um doce no papel de Sharon Tate. Tarantino ainda conseguiu reproduzir bem os preconceitos da época, onde Dalton e Cliff tinham verdadeira aversão a hippies, retratados inclusive de forma violenta como seguidores de Charles Manson.

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Em Cannes…

Voltando às palavras do grupo de amigos acima, Tarantino realmente fez um filme diferente dessa vez. Mas não creio que isso tenha sido negativo ou o diretor está ficando “velho” no mau sentido da palavra. Pelo contrário. Ele acrescentou elementos novos a seu filme, sem abandonar os antigos. A homenagem ao cinema, às séries de TV e ao starsystem, aliado à humanização do personagem de DiCaprio, são mais do que bem vindos e apresentaram ótimas possibilidades, tornando a película maus rica que os trabalhos anteriores do diretor. Dessa forma, “Era Uma Vez Em Hollywood” é mais um filmaço de Tarantino que vale a pena mais pelos elementos novos que o diretor traz. E os fãs dos elementos mais tradicionais de Tarantino também não vão se decepcionar, pois eles estão lá. Programa imperdível.

Batata Movies – Ted Bundy, A Irresistível Face Do Mal. Perigosa Personalidade Magnética.

Cartaz do Filme

Um filme perturbador. “Ted Bundy, A Irresistível Face Do Mal” fala de um serial killer que apavorou os Estados Unidos na década de 70, cometendo, pelos números oficiais, trinta assassinatos. Frio e calculista, Bundy sempre negou em público seus crimes, mas o filme deixa bem claro que ele realmente foi o autor dos homicídios que foi acusado e julgado, sendo condenado à cadeira elétrica e executado em 1989. Para falarmos do filme, vamos ter que lançar mão de alguns spoilers.

Ted Bundy, um cara muito descolado…

Apesar de tudo, Ted Bundy (interpretado magistralmente por Zac Efron), se tornou um fenômeno da mídia da época, não pelos assassinatos, estupros e sequestros dos quais era acusado, mas sim por sua personalidade altamente magnética. Estudante de direito, Bundy lançou mão de seus conhecimentos para dispensar seu advogado de defesa e, ele mesmo levar a cabo a tarefa de se defender durante o julgamento. O réu usou a mídia para manipular o maior número de pessoas em seu favor com seu carisma e o julgamento era assistido por uma infinidade de moças que poderiam muito bem ter sido suas vítimas, tornando-se suas admiradoras. Essa característica inusitada (e real) do filme é o fenômeno mais impressionante de todo o contexto.

Um bom pai postiço???

O filme também mostra como Ted Bundy se torna uma questão de ordem política, pois ele cometeu crimes em Estados como o Colorado e Utah, conseguindo fugir da prisão. Ao se esconder na Flórida, é preso, e políticos locais o exibem como um troféu para poder ganhar eleições. Assim, Bundy se torna uma questão muito maior do que a de um serial killer. Não é por menos que seu julgamento foi o primeiro a ser fotografado e televisado, tamanha era a curiosidade das pessoas.

Advogando em causa própria…

Esse é um filme de um elenco um tanto mediano, mas que destaca demais a participação de Zac Efron, que convence demais na pele de Bundy e deixa bem claro em sua interpretação as intenções manipuladoras do personagem. Apesar de Bundy ser taxativo em dizer que era inocente, a gente podia perceber claramente que ele era um 171 de carteirinha, buscando sempre manipular as pessoas em proveito próprio.

Hora de dizer a verdade…

Mas, ainda assim, seu personagem transitava uma simpatia altamente cativante que atraía as pessoas. Outro ator bem conhecido, que teve uma participação bem pequena foi John Malcovich, no papel do juiz que analisava o caso de Bundy na Flórida. Ele roubou, e muito, a cena nos poucos momentos em que apareceu.

171 de carteirinha…

Há de se dizer, também, que tivemos aqui uma excelente reconstituição dos fatos, onde as caracterizações dos demais personagens foram muito boas. Podemos atestar isso pois, nos créditos finais, há toda uma sequência de imagens verídicas do caso, das quais o filme se inspirou para construir as suas. E percebemos como o filme foi produzido também em função da reprodução o mais fidedigna possível dessas imagens reais do caso.

Excelente caracterização do filme…

Dessa forma, “Ted Bundy, A Irresistível Face Do Mal” é um perturbador filme sobre uma história real ao melhor estilo “a vida imita a arte”. Um repugnante serial killer de personalidade magnética que tentou sobreviver a um clima de prejulgamento, mas não conseguiu. Ainda assim, tornou-se um fenômeno midiático que foi usado não somente pela mídia em si mas também pelo próprio Bundy. Vale a pena dar uma conferida e se intrigar.

Batata Movies – As Rainhas Da Torcida. Um Mais Do Mesmo Irresistível.

Cartaz do Filme

Diane Keaton está de volta, mais uma vez fazendo um papel de coroa “prafrentex”. “As Rainhas Da Torcida” é um mar de clichês daqueles bem conhecidos, que tem como objetivo chamar a atenção para a inclusão da chamada “terceira idade” na sociedade. Ou seja, não tem muito a acrescentar, já que ele é mais do mesmo naquilo a que se propõe. Entretanto, é um filme com a Diane Keaton.

Martha só queria morrer…

E aí essa película se transforma naquelas de ator, que a gente vai ao cinema para ver, não importa o que o seu ator querido vá fazer. E eu, caro leitor, gosto demais da Diane Keaton, desde “Noivo Neurótico, Noiva Nervosa”. Aquela mocinha com cara de menina bem simpática e amável se transformou numa senhora muito fofinha e meiga. E aí, quando a gente consegue testemunhar a carreira de um artista que a gente gosta muito com a passagem do tempo, acabamos por prestigiar seus filmes, mesmo que eles sejam um clichê de mais do mesmo. Vamos lançar mão dos spoilers aqui.

Mas Sheryl chega para estragar tudo…

Vemos na película a história de Martha (interpretada por Keaton) uma senhora que é acometida de câncer, que praticamente desiste de viver. Ela se recusa a fazer a quimioterapia e vende todas as coisas de seu apartamento, indo para uma espécie de comunidade para aposentados para viver seus últimos dias. Lá, ela conhecerá a serelepe Sheryl (interpretada por Jacki Weaver), vista inicialmente como uma chata, mas que, aos poucos, conquista Martha.

Treinando uma nova atividade…

Como Martha teve um passado frustrado em ser líder de torcida, as duas decidem montar uma espécie de clube de líderes de torcida da terceira idade, esbarrando nas convenções conservadoras da comunidade de aposentados. Lutando contra os preconceitos, elas formam um grupo e participam de concursos de líderes de torcida, somente com a intenção de brincar, mas como no mundo ilusório do cinema tudo é mágico, elas conquistam o coração de todos, mesmo sendo da terceira idade, ou seja, de um segmento completamente desprezado pela sociedade.

Deboche das novinhas…

Apesar de todo o clichê, o filme tem uma característica interessante, que é a de zombar do conservadorismo, incorporado no filho de uma das senhoras do clube de líderes de torcida. Tal zombaria é bem vinda em tempos onde as pessoas têm tido um comportamento altamente conservador em várias partes do mundo.

… mas uma delas se rende aos encantos das senhoras…

Logo, qualquer produto cultural que denuncie esse conservadorismo se torna altamente válido, mesmo que eivado de clichês. E a doçura de Keaton é um belo atrativo para esse filme, gerando uma química perfeita com Jacki Weaver (a interação entre as duas funcionou como uma máquina muito bem azeitada).

Uma amizade efêmera, mas sincera…

A morte de Martha acaba sendo uma espécie de tragédia anunciada, mas ela não se deu de forma traumática, ocorrendo apenas subliminarmente, não sem trazer uma emoção extra no desfecho de um filme que primou mais pela comédia. Esse desfecho só deu ainda mais peso para a personagem de Keaton, que é, sem a menor sombra de dúvida, a principal estrela do filme.

O triunfo das senhoras…

Dessa forma, o filme “As Rainhas Da Torcida” é uma verdadeira película de Sessão da Tarde que, apesar de coberto de clichês, tem o mérito de zombar do conservadorismo e, ainda por cima, ter a doce presença de Diane Keaton, que este humilde escriba a viu desde jovem em sua carreira. Apesar de se ver o mais do mesmo, vale a pena dar uma conferida.

Batata Movies – Rei Leão. A Animação Deve Ser Melhor.

Cartaz do Filme

Nunca assisti à animação “Rei Leão” da Disney, assim como várias de suas animações. Tenho aproveitado os live actions que têm saído ultimamente como uma forma de buscar atenuar essa lacuna. Pois é, saiu o live action de “Rei Leão”. Dirigido e produzido por John Favreau (que é um cara que admiro muito), fui alegremente ao cinema no primeiro dia de exibição regular do filme acreditando que eu ia gostar muito do que veria. O problema é que quebrei a minha cara nisso, pois não achei a live action grande coisa, até porque era uma experiência totalmente nova para mim e não tinha qualquer referência na minha cabeça.

Simba, o herdeiro do trono…

Mas, por que não achei essa versão de “Rei Leão” grande coisa? Em primeiro lugar, não temos exatamente uma live action, até porque essa história é tipo uma fábula, ou seja, com animais falando. E aí, creio que a animação funciona melhor nesse caso, pois os animais podem ter expressões faciais como seres humanos, dando-lhes personalidade e aproximando a identificação deles com o público. Agora, a gente ver um monte de bichos ora gerados por CGI, ora filmados mesmo, para se parecerem o mais próximo possível com animais reais é algo, pelo menos na minha cabeça, complicado, pois os bichos não podem demonstrar emoções em seus rostos. E aí a coisa fica muito antinatural, estranha. A coisa da voz de um ator em cima de algo virtual fica evidente demais e a gente não compra a ideia de que aquelas imagens de bichos estão conscientes e com uma personalidade.

Um javali é mesmo um javali…

Outra coisa que incomodou foi a violência da história, com direito a mortes muito pesadas, como a do pai e do tio de Simba. E aí, ao contrário da manifestação de expressões e emoções dos bichos, que pareceram muito artificiais, quando houve uma situação de luta entre os leões e as hienas, a coisa pareceu bem mais realista, ficando uma violência bem grande. Ou seja, o filme me incomodou de um lado e de outro. Mas, repito, isso é apenas uma opinião de quem não tem a referência da animação na cabeça.

Não soou natural um filme em que animais de verdade falam. Também pudera…

O problema é que assistir a esse filme foi uma experiência um tanto angustiante. Já os demais espectadores na sala parecem ter se divertido muito mais, rindo por antecipação de alguns personagens e cenas, pois já conheciam a história, e até ensaiando uns aplausos no fim da exibição. Foi nessa hora que vi que o problema estava mais comigo do que propriamente com o filme. Só lamento que não tenha conseguido testemunhar uma boa experiência com essa película e preciso, realmente, ter um contato com a animação, que deve ser bem melhor aos meus olhos.

Na animação, vemos expressões faciais, o que não ocorre na live action…

Dessa forma, apesar de não ter achado “Rei Leão” uma grande coisa, não vou cair aqui na injustiça de não recomendar o filme. Se você tem a referência da animação na cabeça, vá ao cinema para se divertir bastante, como os outros espectadores presentes na minha sessão. Agora, se você não tem qualquer experiência com o “Rei Leão”, espero que sua experiência com essa live action (?) seja melhor que a minha.