Batata Movies – Os Bons Companheiros. A Violência Banal.

Cartaz do Filme

Nunca tinha assistido ao filme “Os Bons Companheiros”, de Martin Scorsese. Pensei que poderia fazer isso no início do ano com a mostra que o cineasta ítalo-americano recebeu no CCBB. O problema é que várias sessões eram gratuitas e lotavam rapidamente. Isso foi não só decepcionante como também aumentou ainda mais a minha curiosidade pelas lacunas na minha vida de cinéfilo em relação a Scorsese, que sempre admirei muito. Aí, aparece uma sessão salvadora de “Os Bons Companheiros” no Cinemark do Botafogo Praia Shopping às… onze e meia da noite de sábado. Meu sangue cinéfilo foi mais forte do que o medo de esperar o ônibus de madrugada na rua (ainda não me relaciono bem com uber, 99 e afins) e fui para a sessão.

Uma turma da pesada…

Quais são as impressões do filme? Scorsese consegue traduzir bem todo um mundo voltado para o crime e a intransigência dos gangsters ítalo-americanos de Nova Iorque. Sabemos muito bem que o diretor teve uma infância e adolescência nos bairros onde tais gangues viviam e atuavam, sendo então seu relato altamente confiável sobre a questão e duas coisas assustam logo de início: o poder descabido que os criminosos tinham nas mãos, exercendo-os sem limites e espezinhando todos os que encontravam pela frente; e uma banalização visceral da violência, onde a vida não valia rigorosamente nada. Isso sem falar do código de conduta onde ninguém sabe de nada, nem fala de nada (qualquer semelhança com países sul-americanos não é mera coincidência, já que a violência é um fenômeno global).

Liotta (centro) como protagonista…

Usando o personagem Henry Hill (interpretado por Ray Liotta) como o protagonista narrador e anfitrião que nos apresenta a esse mundo, o filme mostra, de forma muito crua, como os gangsters repudiavam a vida daqueles que buscavam seu pão com o suor do dia-a-dia e subiam num pedestal magnânimo que dizia que, se eles quisessem algo, era só ir lá e tomar, como se isso fosse a coisa mais natural do mundo.

Crime com base familiar…

Scorsese conta com um elenco simplesmente fenomenal. Sempre achei Ray Liotta um ator mais ou menos, o eterno bom coadjuvante que faz bem o seu feijão com arroz. Mas aqui em “Os Bons Companheiros” ele é alçado à condição de um protagonista que conta em primeira pessoa (o que dá a seu personagem uma intimidade maior com o público) toda a sua trajetória, o que justifica o porquê dele ter entrado naquela vida, com direito aos estranhamentos e questionamentos que toda aquela violência explícita provocava. Apesar de imerso em toda aquela podridão do submundo, a gente torce por seu personagem, pois ele, na condição de um capanga bem posicionado, não era o responsável direto pelas ações mais bárbaras das quais tomava parte.

Sonhos que se perdem com o tempo…

Já Robert De Niro foi impressionante, pois ele, que estamos acostumados a ver iluminado pelos holofotes, atuou como um verdadeiro coadjuvante de luxo no filme, fazendo isso com muita maestria. Seu personagem James Conway, de histórico violento, não expressava a selvageria o tempo todo, mas ele podia ser muito intenso e cirúrgico nos momentos certos, o que despertava muito medo dele. Agora, o grande nome do filme (e que ganhou o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante) é, definitivamente, Joe Pesci. Seu personagem Tommy DeVito era um verdadeiro psicopata, sempre prestes a explodir. O cara poderia estar conversando alegremente na mesa de um bar, contando piadas homéricas que levavam a muitas gargalhadas e, de uma hora para a outra, executar o garçom com muitos tiros e acesso de ódio. Sua atuação foi toda merecedora do Oscar que ganhou.

Scorsese na direção…

Assim, “Os Bons Companheiros” é um daqueles filmes para se ver, ter e guardar. Ele retrata de uma forma muito intensa o submundo que fazia parte da infância e adolescência do diretor Martin Scorsese. Um submundo violento, que tem muitas semelhanças com o submundo que é caro para nós, embora as diferenças se façam presentes (há um clima paternalista e familiar, típico da máfia italiana). Para quem não viu, como eu não tinha visto, é algo realmente imperdível. Vejam, abaixo, um trecho da magnífica atuação de Joe Pesci.

https://www.youtube.com/watch?v=qNJeAaNwYKs

Batata Movies – Turma Da Mônica, Laços. Materializações.

Cartaz do Filme

E estreou o tão esperado “Turma da Mônica, Laços”. A live action dos eternos personagens de Maurício de Sousa, aquele que nos ajudou a aprender a ler (como foi meu caso), e que mexe fundo em nossa afetividade foi um presente e tanto. Confesso que foi um pouco difícil ver a película, pois os olhos marejaram várias vezes. Vamos lançar mão dos spoilers aqui.

Não um live action, mas sim uma materialização…

O plot é muito simples (vale dizer aqui que a história de “Laços” vem da Graphic Novel dos irmãos Lu e Vitor Cafaggi). Floquinho, o cachorrinho do Cebolinha (devidamente “pintado” de verde) é sequestrado por um vilão que vende a gordura dos cachorros para uma empresa que produz uma loção capilar. Assim, a turminha se une para procurar Floquinho, encontrando-o preso com outros cachorros num barracão muito ermo, guardado por um feroz doberman e que é trancafiado por vários cadeados. Mônica, Cebolinha, Cascão e Magali vão ter que quebrar muito a cabeça para tirar Floquinho de lá.

Floquinho!!!

O filme desperta duas impressões. A primeira é que vemos uma historinha em quadrinhos clássica da Turma, com todos os elementos: planos infalíveis, um vilão mau, mas bobão, a Mônica dando coelhadas a torto e direito, um já suposto romance entre a Mônica e o Cebolinha (que se desenvolveria em “Turma da Mônica Jovem”), etc. Mas o filme também tem algo de muito prosaico e idílico: crianças brincando e rindo juntas, um campinho que parece mais uma floresta encantada, casas que parecem ter vindo de subúrbios norte-americanos.

Uma excelente caracterização da Mônica…

Sentimos algo realmente datado na coisa, do tipo anos 60. Nada mais justo, pois foi mais ou menos nessa época que Maurício de Sousa concebeu seus personagens. Essa parte, digamos, mais “romântica” da história, se afasta um pouco dos quadrinhos tradicionais, mas traz uns elementos interessantes. Vemos, por exemplo, a Mônica reagindo com um choro ao xingamento com Cebolinha, o que deixa ele muito mal com seus amigos, doendo bem mais que uma coelhada, por exemplo.

… e do Louco, por Rodrigo Santoro…

Ainda, a turma da rua de cima também tem as suas meninas que arremessam bichinhos de pelúcia, botando a Mônica e a turma para correr. Para uma menina que enfrenta com seu coelho surrado desde o Capitão Feio até ataques alienígenas, isso foi realmente uma surpresa. Mas como é dito em música erudita, são variações do tema.

Mônica Iozzi como a mãe da Mônica…

Agora, o que mais chamou a atenção foi o conjunto muito bem feito de caracterizações. Algumas muito boas, outras um tanto regulares, mas nenhuma ruim. As perfeitas foram a Mônica (interpretada por Giulia Benite) e o Louco (interpretado por Rodrigo Santoro, que nos surpreende a cada dia com seus papéis no cinema, tanto aqui no Brasil quanto lá fora).

A simpática família Cebolinha…

O Cebolinha (interpretado por Kevin Vechiatto) mostrava bem o espírito travesso e um tanto arrogante do personagem mas esbarrava no obstáculo (intransponível) do estigma dos cinco fios de cabelo. O Cascão (interpretado por Gabriel Moreira) conseguiu roubar as cenas com seu carisma muito forte. Só lamentei o fato de que me pareceu que a Magali (interpretada por Laura Rauseo) tenha tido menos tempo de tela.

O criador e suas criações…

Senti um pouco de falta da meiguice e sensibilidade extrema dela, da qual gosto muito. Não sei por que, mas gostei demais da Mônica Iozzi como mãe da Mônica e, principalmente, de Fafá Rennó, como a mãe do Cebolinha. Elas se encaixaram como uma luva no ambiente idílico do filme, exalando uma fofura incontrolável.

Os quadrinhos que inspiraram Laços…

Dessa forma, “Turma da Mônica, Laços” já te conquista antes de pisar na sala de cinema. E, lá dentro, te envolve na afetividade que o Universo de Maurício de Sousa sempre nos acolheu desde bem pequenos. Um filme obrigatório. Um filme imperdível. Um filme para ver, ter e guardar.

Batata Movies – Homem-Aranha Longe De Casa. Um Herói Ainda Atrás De Um Norte.

Cartaz do Filme

E temos o novo “Homem-Aranha”. “Longe de Casa” é o filme final da atual fase da Marvel e recebeu a difícil tarefa de suceder o estrondoso sucesso de “Vingadores, Ultimato”. Isso sem falar que o Aranha é um dos mais populares super-heróis da Marvel e continua na tarefa de emplacar Tom Holland no papel protagonista, depois de um bom primeiro filme solo. Será que houve êxito nisso tudo? Para podermos analisar todo esse panorama, vamos lançar mão dos spoilers aqui.

Será que Parker vai fisgar o coração de MJ???

Nesse segundo filme, Peter Parker tem que conviver com a sombra de não ter mais Tony Stark por perto. A morte do Homem de Ferro ainda é recente e muito sentida. As pessoas que viraram cinzas por causa do Thanos retornaram depois de cinco anos ainda com a idade de cinco anos antes, o que é o caso de Parker. Vemos aqui nosso adolescente protagonista às turras com sua timidez para conquistar uma MJ (interpretada por Zendaya), numa versão, digamos, mais descolada e determinada. Parker buscará mostrar a MJ seu amor por ela numa viagem que a sua turma de escola fará para a Europa. Mas, em Veneza, uma criatura monstruosa de água aparece, sendo repelida por um misterioso herói, devidamente batizado pela turma de Parker de “Mistério” (interpretado pelo versátil Jake Gyllenhaal). Logo, Parker descobrirá que Mistério está trabalhando com Nick Fury para lutar contra essas monstruosas aberrações. E ajuda o novo herói nessa contenda, tornando-se um amigo próximo. Os monstros são destruídos e Parker, que havia recebido um par de óculos de Stark, que controla um exército de drones escondidos dentro de um satélite em órbita, acredita que, por ser adolescente e ainda não estar numa fase madura, não é um herói à altura nem a pessoa mais indicada para possuir aquele par de óculos, carinhosamente chamado de Edith por Stark. Parker, então, dá Edith de mãos beijadas a Mistério, que irá se revelar um tremendo 171 que busca ser um herói de mentirinha usando hologramas. Na verdade, Mistério é um antigo funcionário de Stark que se sentiu injustiçado por ele e, junto com outros ex-funcionários, leva a cabo esse plano do falso herói que simula tragédias para aparecer como o salvador do dia. O problema é que gente tem que morrer de verdade para tais simulações se tornarem mais realistas. Entretanto, Parker conseguirá descobrir o plano de Mistério e terá que desfazer a burrada que fez.

MIstério, um bom vilão…

Pode-se dizer que é uma película em duas camadas. A primeira, uma história de herói, onde o Homem-Aranha tem um falso amigo, é enganado por ele e precisa deter seus planos inescrupulosos. O segundo filme é uma historinha adolescente, bem ao espírito “Malhação”, onde nosso protagonista quer se declarar para a menina pela qual está apaixonado. É até compreensível esse segundo plot, já que nosso protagonista é adolescente mas, obviamente, isso enfraqueceu a história e a deixou um pouco mais bobinha. De qualquer forma, a adolescência de Parker foi bem explorada na película, pois apareceu toda a insegurança do personagem em arcar com as grandes responsabilidades de seu poder. E Parker acabou fazendo besteiras. Impossível a gente não olhar para nosso próprio passado adolescente e não se identificar. Sei que pode ser dito que essa adolescência de Parker está indo longe demais, até porque esse já é o terceiro filme em que o aracnídeo interpretado por Holland aparece. Entretanto, ainda assim ele é um menino de quinze anos e, como as más línguas da internet dizem que o homem só se torna verdadeiramente adulto aos 54 anos, acho que ainda cabe um dilema adolescente nesse filme, o que ajuda a construir o personagem para a próxima fase da Marvel. A burrada que ele fez ao dar o par de óculos para Mistério e a dúvida se ele quer seguir uma vidinha normal, sendo apenas o herói da vizinhança ou um verdadeiro Avenger (como ele já o é), vai dando experiência ao jovem Parker em processo de crescimento. O relacionamento tenso com Fury é outro fator de amadurecimento, pois o personagem de Samuel L. Jackson o trata de forma bem ríspida, buscando acelerar, por bem ou por mal, seu senso de responsabilidade e de segurança.

Enganando Parker direitinho…

Mas o filme não fica somente nisso. Tivemos um bom vilão nessa película. Jake Gyllenhaal mostrou o seu talento de sempre e fez um excelente Mistério, um personagem dúbio, que rendeu excelentes cenas. Seus melhores momentos, sem dúvida, foram as conversas que teve com Parker, agindo como se fosse um verdadeiro amigo de longa data, rapidamente conquistando o menino. Mas, também, quando ele se revela um vilão com ressentimentos para com Stark (parafraseando Chris Rock, todo mundo odeia o Stark, também pudera, ele foi um capitalista bem FDP por muito tempo), a forma como ele apresenta isso e sua equipe foi, digamos, bem apoteótica. E deu gosto de ver Gyllenhaal nessa hora. Ele parecia se divertir bastante enquanto atuava.

Ai, me entregaram feio!!!

Sempre gostei muito de John Favreau e de Happy, seu personagem. E adorei vê-lo interagindo com Parker. Ele meio que foi a presença mais sólida de Stark na película. E, ainda mais com o carisma de Happy, que subiu mais uns dois mil metros no meu conceito porque ele pegou a Tia May, mais bela e sensual do que nunca. Taí uma mudança no Universo de Homem-Aranha que deu certo. Essa nova Tia May é tudo de bom, não somente por a tia de Parker ser muito estonteante, mas também muito simpática e amável do ponto de vista maternal e ainda ter uma leve e doce pitada de alívio cômico. Foi muito engraçado ver Parker sabatinando o casal como se fosse um ancião tradicionalista, enquanto os dois o olhavam de forma assustada como dois adolescentes. Se a gente já elogiou Gyllenhaal e Favreau aqui, a gente também não pode se esquecer de Marisa Tomei, que voltou com força total e em grande estilo.

Ahhh, a Tia May!!!

No mais, esse é um filme que fala de hologramas e tecnologia. Por isso mesmo, os efeitos especiais não puderam ser qualquer coisa e a película ficou visualmente muito boa de se ver nas cenas de ação regadas a CGIs. Sei não, mas talvez os efeitos especiais e a computação gráfica tenham dado mais um pulinho para cima aqui, com relação aos demais filme e a gente talvez esteja testemunhando uma nova fase em efeitos especiais.

E os pós-créditos? Foi hilário e um verdadeiro presente ver J. J. Jameson novamente na pele de J. K. Simmons, usando agora a grande mídia para incriminar o Homem-Aranha (voltando ao Universo tradicional dos quadrinhos) e ainda revelando sua identidade secreta para todo o planeta. O que poderia ser uma coisa tensa foi feita de uma forma verdadeiramente cômica e engraçada. E a segunda cena (sempre depois de passados todos os créditos, com reza a tradição de cenas pós-créditos da Marvel) trouxe um dado muito interessante. Na verdade, Fury era um Skrull, que contactou o verdadeiro Fury que estava numa nave Skrull no espaço. Aí, a gente já vê uma presença do Universo da Capitã Marvel batendo ás portas da próxima fase da Marvel. E, diga-se de passagem, gostei muito, pois, ao contrário de algumas críticas por aí, adorei o filme dela e gosto muito de Brie Larson.

Happy é o cara!!!

Dessa forma, se “Homem-Aranha, Longe de Casa” não foi tão bom quanto o primeiro filme de Tom Holland, ainda assim é um bom filme, pois conta uma boa história de herói e vilão, apesar de seus momentos “Malhação”. É um filme de boas atuações (leia-se Gyllenhal, Favreau e Tomei). E um filme que dá mais passos na construção desse novo Peter Parker. Estou animado para ver mais. Até porque sou fã incondicional do cabeça de teia. Vale a pena dar uma conferida.

Batata Movies – Um Pequeno Favor. Thriller Um Tanto Convencional.

Cartaz do Filme

Um suspense bem convencional. “Um Pequeno Favor” é uma história de mães de alunos que se envolvem numa trama aparentemente muito tortuosa mas de rápida explicação. Um filme que pode ser um tanto engraçadinho, mas também que pode enveredar por caminhos um tanto sinistros.

Stephanie é uma moça bem insegura…

Vemos aqui a história de Stephanie (interpretada por Anna Kendrick), uma mãe solteira de arroubos um tanto infantis que tem uma vida solitária e tem um canal no Youtube onde ensina pequenas receitas e algumas prendas, digamos, domésticas. Ela é vista com um certo desdém até de forma meio ridicularizada por outros pais do colégio onde estuda o filho. Num belo dia, Stephanie conhece Emily (interpretada por Blake Lively), a mãe de um coleguinha de seu filho, que é o oposto a ela: Emily é descolada, fala e faz o que pensa e parece ter uma vida cheia de aventuras que ficam meio que encobertas pelo passado nebuloso da moça.

Mas ela conhece Emily, muito descolada…

As duas se aproximam e tornam-se amigas. Será nesse contexto que Emily um dia irá ligar para Stephanie e pedir que ela busque seu filho, pois está enrolada no trabalho. Será a última vez que as duas amigas se falarão. Stephanie começa, então, a investigar o desaparecimento de Emily e teremos início a uma história de muito suspense com reviravoltas inusitadas em vários momentos da película.

Stephanie observa tudo de Emily…

Realmente é um filme de suspense que prende a atenção do espectador e a exige, pois a trama é relativamente elaborada, embora pareça encher mais linguiça em alguns momentos, já que a solução do desaparecimento de Emily é muito simples, não se precisando, por exemplo, pegar um táxi da Lapa até Botafogo, passando por Macapá. De qualquer forma, essa solução simples acaba sendo um alívio para o espectador que perdeu o fio da meada em algum momento, não precisando recuperá-lo para pegar a trama como um todo. De qualquer forma, para quem gosta, há muitos plot twists, sobretudo no momento do desfecho e solução do mistério.

A vida de Emily parece perfeita…

O elenco não é composto de nomes muito conhecidos. Anna Kendrick fez par com Ben Affleck em “O Contador” e foi a Cinderela de “Caminhos da Floresta”. Foi a melhor atuação da película, pois sua personagem transitou da moça bobinha e desrespeitada por todos até a mulher que investiga o sumiço da amiga e desvela toda uma trama tortuosa, precisando ser bem durona em alguns momentos. Além disso, a atriz protagonista também consegue funcionar eventualmente como alívio cômico. já Blake Lively, conhecida pela série “Gossip Girl” e por ter participado de “Café Society”, de Woody Allen, fez mais uma personagem de uma característica só, sendo algo um tanto quanto plano, mesmo que sua personagem seja muito carismática. a atuação em conjunto dessas duas atrizes foi o que o filme produziu de melhor.

Mas essa mulher tem algo de enigmático…

Assim, “Um Pequeno Favor” é um filme de suspense que prende a atenção do espectador e a exige, embora a trama seja, ao fim das contas, de fácil compreensão, não sendo necessários tantos rodeios. É um filme de atores um tanto medianos, ainda buscando seu espaço ao Sol, com destaque para a atriz Anna Kendrick, que pegou um papel um pouco mais complexo. A película não é de se encher os olhos, mas vale como entretenimento.

Batata Movies – Fúria Em Alto Mar. Requentando A Guerra Fria.

Cartaz do Filme

Mais um blockbuster de ação. “Fúria em Alto Mar” é estrelado por Gerard Butler e Gary Oldman, sendo um filme que podemos dizer que volta a usar a surrada e batida temática da Guerra Fria, mesmo que o socialismo já tenha desaparecido da Rússia há décadas. Só essa informação já parece desqualificar a película num primeiro momento. De qualquer forma, e já esperando um pouco o que iria encontrar, fui ver o filme quando ele passou no ano passado (agora só nos DVDs ou canais especializados).

Bons atores no filme…

O plot do filme é muito simples. Num jogo de gato e rato entre submarinos russos e americanos em águas russas, um submarino americano e outro russo são atingidos sabe-se lá pelo que e afundam. O governo americano, então, envia outro submarino, capitaneado por Joe Glass (interpretado por Butler). Será apenas o início de uma missão onde Glass terá que, simplesmente, impedir uma tentativa de golpe na Rússia e, por tabela, a Terceira Guerra Mundial Ou seja, os americanos, com seu intervencionismo cowboy, mais uma vez salvarão o dia e a humanidade, pois são os mocinhos do pedaço (eu disse que era um tema muito batido).

Glass, um comandante que tem atitudes impetuosas…

De qualquer forma, a película é um prato cheio para quem gosta de uma trama regada a suspense e a ação numa pegada altamente militarista, sem falar que filmes que têm submarinos como personagens sempre têm uma tendência a serem bons, pois a situação angustiante de tudo aquilo começar a ficar cheio d’água e todo mundo morrer afogado naquele ambiente altamente claustrofóbico introduz um elemento de tensão a mais no filme que já está embebido geralmente pelo stress de uma batalha. Um ponto a favor é que as cenas de ação se focam mais nas estratégias de batalhas dos submarinos, do ato de se desviar de minas e torpedos, até de mísseis, configurando-se na parte mais interessante da película.

Filme tem seus momentos de tiroteios bem cowboys…

Não que as cenas de tiroteios com armamentos pesados tenham faltado, mas elas acabaram sendo um tanto secundárias em relação ao protagonista principal, o submarino em si. Para tirar da boca o gosto ácido de uma guerra fria requentada, a gente também vê os americanos e russos trabalhando em equipe em algumas partes da história, sobretudo a parceria entre Glass e o capitão Andropov (interpretado por Michael Nyqvist, já falecido), onde os dois personagens se trataram de uma forma muito respeitosa. Tal detalhe realmente é de grande valia num filme que ainda insiste com as velhas estrelas vermelhas nos aparatos militares de uma Rússia já capitalista.

Um suposto respeito entre americanos e russos…

assim, “Fúria em Alto Mar” é mais um filme de ação e entretenimento que segue uma linha um pouco mais militarista, saudosa da Guerra Fria, mas que consegue amenizar as hostilidades entre antigos rivais com uma espécie de trabalho em conjunto entre russos e americanos para evitar um golpe de estado na Rússia. Gererd Butler, o produtor do filme, consegue ser um capitão austero, mas que quebra regras, para desespero da tripulação. E Oldman, apesar de aparecer pouco, está muito bem como o militar da Velha Guarda que ainda pensa como nos anos mais severos das hostilidades entre as duas superpotências. Um filme para distrair a cabeça e nada mais.

https://www.youtube.com/watch?v=N_Iw-s3wewY

Batata Movies – Shazam. O Marvel da DC.

Cartaz do Filme

Quando eu vi o trailer de “Shazam” achei que o filme não ia ser lá essas coisas. Tudo parecia muito bobo, um super-herói adulto com mentalidade de adolescente. De fato, quem via o Capitão Marvel lá na TV da longínqua década de 70 (junto com a Deusa Ísis), percebia que havia um moleque, Billy Batson, gritar “Shazam!” e se transformar num adulto com uma capa branca de florzinhas amarelas (parecia uma toalha de mesa). Mas o Capitão Marvel daqueles tempos atuava como um adulto. Agora, não é bem assim. Vamos precisar de spoilers aqui para entender as coisas.

Billy Batson (de gorro) e seu “irmãozinho”…

O plot fala de Billy Batson (interpretado por Asher Angel), um menino de quatorze anos que se perdeu da mãe na infância e acaba ficando para lá e para cá em lares de acolhimento, ao mesmo tempo que procura sua mãe por aí. Num desses lares, ele tem nada mais, nada menos que cinco “irmãozinhos”. Um belo dia, ao estar no metrô, ele entra numa espécie de portal onde chega a uma caverna com um mago com cara de eremita chamado Shazam (interpretado por Djimon Hounsou), que mantém presos os Sete Pecados Capitais. Mas Shazam está fraco e velho, precisando passar o seu poder para uma pessoa de coração puro.

De repente, Billy Batson torna-se um super-herói…

Batson, obviamente, foi o escolhido e se transforma no super-herói (interpretado por Zachary Levi) quando pronuncia a palavra “Shazam!”. Mas o terrível Doutor Silvana (não, não era aquele cara que cantava no Chacrinha “Eu fui dar mamãe” não, é o interpretado por Mark Strong) quer esse poder e tenta tomá-lo do herói, lembrando sempre que Silvana libertou os Sete Pecados Capitais e tem os poderes desses pecados. O grande problema aqui é que nosso protagonista tem a idade de quatorze anos no corpo de um adulto e vê Doutor Silvana como uma grande ameaça. Ou seja, nosso herói precisa amadurecer, e bem rápido.

Aí, tudo é festa…

O filme, no final das contas, acabou sendo muito mais do que eu esperava. E por que isso? Apesar da falta de florzinhas amarelas na capa, a atuação de Zachary Levi foi impecável. Ele foi muito carismático e convencia bastante como um moleque no corpo de um adulto. E a coisa ainda ficou melhor, pois rolou uma baita química entre o protagonista e seu irmão de acolhimento Freddy (interpretado pelo surpreendente Jack Dylan Grazer), sendo os dois os responsáveis pelos melhores momentos da película. Os testes de superpoderes que os dois faziam eram simplesmente hilários, o que ajudou enormemente na empatia dos personagens com o público. Outro detalhe que chamou muito a atenção foram os outros irmãos de acolhimento de Batson. Além do já citado Freddy, que usava uma muleta, os demais irmãos eram outsiders por excelência, cada um à sua maneira. Se inicialmente a coisa poderia até parecer meio caricata, com o tempo os irmãos iam conquistando a gente em maior ou menor grau, e eles não são um mero suporte, uma mera escada para os personagens principais. Pode-se dizer que eles até chegaram a um nível respeitável de protagonismo, mas paro por aqui com os spoilers. Um detalhe que foi, na minha opinião, uma jogada de mestre, foi jamais citar o nome do personagem principal, que todos nós sabemos que é Capitão Marvel. Como não sou um especialista em quadrinhos, nunca entendi por que o Capitão Marvel é um herói da DC. Mas os roteiristas brincavam com esse paradoxo, inventando os nomes mais esdrúxulos para o herói enquanto ele descobria os seus poderes e isso funcionou muito bem. O mais engraçado também foi fazer brincadeiras e alusões divertidas aos demais heróis da DC, inclusive numa das duas cenas de pós-créditos.

Um Doutor Silvana turbinado…

Assim, pelo seu grau de humorismo e diversão, não é nenhum exagero dizer que “Shazam” seria uma espécie de “Guardiões da Galáxia” da DC e seria um barato ver esse herói numa Liga da Justiça com os demais heróis da DC. Creio que uma importante carta na manga possa ter aparecido aqui e que pode ser muito bem aproveitada. Vale a pena dar uma conferida.

Batata Movies – Godzilla 2, Rei Dos Monstros. Faltou O Ultraman.

Cartaz do Filme

E Godzilla tem a sua sequência. Pode-se dizer que foi mais do mesmo. É o tipo do filme que os saudosistas das séries Ultraman, Spectreman e similares usam para matar as saudades daqueles tempos áureos de infância (eu me incluo nisso). E tem a vantagem dos CGIs atuais. Mas sempre se sente a falta de um homem de lata gigante descendo a porrada nos monstros e gritando “Iáááá!!!”. Para podermos analisar o filme, vamos usar spoilers aqui.

Ele está de volta…

O plot é muito simples. Existe uma espécie de empresa, a Monarch (que não tem nada a ver com aquela marca antiga de bicicletas), que busca controlar os chamados titãs (que também não têm nada a ver com o grupo musical), que são monstros gigantescos que destroem tudo pela frente. Como se não estivessem satisfeitos com isso, os pesquisadores dessa empresa ainda fabricam mais monstros. Há, também, uma célula terrorista ecológica que quer, literalmente, soltar os bichos por aí.

Uma mariposa gigante???

Uma das cientistas da Monarch acredita que é a raça humana que destrói o planeta e soltar os titãs trará equilíbrio ecológico para a Terra. Só que todos os bichos serão soltos de uma vez, liderados por um dragão voador de três cabeças (!!!) provocando destruição total em todas as cidades importantes do mundo (mais uma vez o Brasil ficou fora da lista). Quem é o único ser vivo que pode impedir esse processo altamente catastrófico é Godzilla que, sabe-se lá por que (perguntem a ele), está do lado dos humanos.

Um dragão voador de três cabeças (credo!)

Se o roteiro do filme é pífio e cheio de questionamentos (trazer equilíbrio ecológico com vários bichões exterminando humanos aos milhões???), pelo menos as cenas de ação entre os titãs compensa um pouco a coisa. Ainda assim, são cenas muito densas e pesadas, entupidas com tanta informação que confundem um pouco. E as cidades destruídas não tinham algo de realístico, pareciam mais um cenário de jogo de videogame bem distópico. Pelo menos houve certa criatividade nos bichões dos titãs.

Uma mãe (com sua filha) tentando destruir o mundo…

Tínhamos aranha, mamute, dragão, insetos, além do próprio Godzilla. Falando do protagonista, é muito difícil de entender como um monstro tão poderoso, irracional e terrível vai ficar do lado dos humanos. Ele sempre foi meio que o vilão da história, sendo o monstro horrendo que destruirá tudo. Mas agora, nos filmes mais contemporâneos, seu papel é totalmente ressignificado, se tornando um monstro “do bem”. E aí, tome fauna de bichões para agirem como antagonistas ao dinossauro que solta raios da boca.

Um pai tentando salvar o mundo…

A sequência final ficou meio piegas, onde Godzilla concentrou tanta energia que fazia barulho de máquina de central elétrica. O som não se encaixa muito com o que a gente via, embora fossem imagens de muito impacto.

Monstro com barulho de central elétrica…

Assim, “Godzilla 2, Rei dos Monstros” é uma presepada homérica, como todo bom filme de monstro de origem japonesa deve ser. Um monstro que passou de vilão a mocinho, saindo na porrada com outras feras gigantes dos mais variados tipos e destruindo geral todas as cidades do mundo. Só faltou mesmo o Ultraman para a festa ficar completa.  Mas os fãs de Tokusatsu (como este escriba aqui) agradecem.

Batata Movies – Rocketman. Uma Trajetória Explosiva.

Cartaz do Filme

E estreou o tão esperado “Rocketman”, a cinebiografia de Elton John. Seguindo o rastro de sucesso deixado por “Bohemian Rhapsody”, o diretor Dexter Fletcher investe em mais um ícone do Rock, só que de uma forma diferente da vista no filme do Queen. Vamos lançar mão dos spoilers aqui para compreender melhor isso.

Um autodidata ao piano…

Elton John (interpretado em sua fase adulta por Taron Egerton) era um menino extremamente sensível que muito sofria com a frieza do pai e a indiferença da mãe. Desde cedo, mostrou interesse pela música, praticamente sendo autodidata nos primeiros passos com o piano, o que fez a avó (que era a única que mostrava afeto para com ele) estimular a mãe a colocá-lo numas aulas de música. Seria somente o primeiro passo para ele ter uma carreira musical e descobrir sua sexualidade. Como era muito tímido e recebeu o conselho de um músico americano de que ele devia enterrar quem é e se reinventar, começou a usar roupas e óculos muito extravagantes, o que seria a sua marca registrada.

Uma dupla que deu muito certo. Letras de um lado, música de outro…

Ao se apresentar nos Estados Unidos, (o sonho de ouro de todos os músicos ingleses no período), a sua carreira deslancha e ele se torna uma celebridade.  Mas sua natureza muito sensível não estava pronta para encarar todas as pressões e decepções de uma carreira artística de muito sucesso e sua vida se torna uma verdadeira via crucis, regada a muito sofrimento e drogas.

Óculos sempre extravagantes…

É um filme doloroso, onde o músico começa numa reunião dos alcoólicos anônimos e faz uma recordação de sua vida em flashbacks. A sensibilidade muito intensa de Elton John nos faz compadecer dele, mas, ao mesmo tempo, nos indigna um pouco, pois ele não tomava uma atitude mais firme para pôr a sua vida nos trilhos e, dizendo no bom termo popular, dar uma banana para quem o afetava tanto e via nele apenas uma mina de ouro. De qualquer forma, não temos um desfecho infeliz, pois lá podemos ter informações de como o cantor está hoje, com um novo par cujo relacionamento já dura muitos anos, inclusive com filhos. Realmente seria muito melancólico se o desfecho ficasse mais focado no fundo do poço da carreira do artista. Vemos ele, ao final, na clínica de reabilitação, voltando a ter intimidade com a música e o piano.

Não sabendo lidar bem com as pessoas à sua volta…

Agora, uma coisa que deu grande qualidade ao filme foram as deliciosas pitadas de musical. Isso se encaixou muito bem na película, pois o glamour e a produção bem cuidada e cheia de floreios são a cara de Elton John. E foi bom demais ter as músicas de Elton como base para esses números. Ficou com a cara de musicais antigos e não destoou da dramaticidade que o filme exigia, pelo contrário.

Indo bem à vontade nos Alcoólicos Anônimos…

Se em alguns momentos os números musicais expressavam situações bem alegres, em outros os números musicais intensificavam a situação dramática de dor do personagem protagonista, com um detalhe todo especial: era usada a música “Goodbye Yellow Brick Road” nesses momentos tristes, por um acaso a música do Elton preferida deste escriba (foi ela que me estimulou, ainda muito criança, a pedir para os meus pais o meu primeiro vinil). Ela foi a música mais tocada no filme, três vezes no total. Só é pena que músicas como “Nikita” ou “Sacrifice” (essa tocava no carro que vendia goiabada lá perto de casa) não tenham aparecido no filme. Mas, ainda assim, pode-se dizer que houve um apanhado muito bom das músicas de Elton John na película.

Um excelente trabalho de caracterização de Taron Egerton…

Assim, “Rocketman” é um filmaço, um programa obrigatório não somente para os fãs de Elton John mas também para quem gosta de um bom filme. Uma cinebiografia simples, com infância, crescimento artístico, auge, fundo do poço, e a redenção, só que de forma bem intensa devido à sensibilidade do personagem e à interpretação marcante de Taron Egerton, que parece ter incorporado Elton John em todas as suas virtudes e defeitos. As partes de musical do filme deram um toque todo especial, encaixando-se bem no contexto dramático da película e recordando muito os musicais antigos com momentos altamente lúdicos. É o tipo do filme para ver, ter e guardar.