Batata Movies – Estaremos Sempre Juntos. Amigos Para Sempre, Mas Aos Trancos E Barrancos.

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Cartaz do Filme

Guillaume Canet está de volta assinando o roteiro e a direção do bom “Estaremos Sempre Juntos”. Continuação do filme “Até a Eternidade”, de 2010, a película conta com um grande elenco: François Cluzet, Marion Cotillard, Gilles Lellouche, Laurent Lafitte, entre outros. Para podermos falar desse filme, vamos precisar de spoilers.

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Max, um homem atormentado…

O plot é simples. Max (interpretado por Cluzet) está em sua casa, acertando a venda da mesma com um corretor de imóveis. Outrora um rico homem de negócios, Max faliu, perdeu a esposa, restaurante, hotel e, agora, precisa vender a casa. Só que seus amigos invadem a casa para fazer uma festa de aniversario surpresa pelos seus 60 anos. Max tem algumas rusgas com esse grupo de amigos e o reencontro é constrangedor. Mas Max vai esfriando a cabeça e aceita o grupo. Seu amigo Eric (interpretado por Lellouche) sugere ficar numa casa alugada à beira mar, ao invés da casa de Max onde os amigos se encontravam. É que a ex-esposa de Max aparecerá em dois dias e ele não quer vê-la. Max pede a Eric que seja dito aos amigos que foi Max que alugou a casa à beira mar. Assim, os amigos se reúnem, onde eles recordam os bons tempos do passado, mas também aparam muitas arestas, provocando tremendas saias justas.

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… e um pouco enrolado…

O filme tem uma história muito cativante e prende a atenção do espectador do início ao fim. Um destaque todo especial para François Cluzet, cujo personagem Max, por ser extremamente sensível, rouba a cena. Apesar de todo o destaque do personagem-protagonista, os demais atores do filme também tiveram atuações magníficas, com um destaque especial para pequenos núcleos de personagens que tinham que acertar as diferenças do passado. O mais interessante no filme é que esse grupo estava inicialmente numa espécie de litígio com Max, mas buscou a reconciliação com o mesmo. É claro que isso já provocou um terreno um tanto tenso logo no início do filme que, gradativamente, foi se tornando mais leve, até todos chegarem num entendimento e na volta da amizade. Entretanto, uma ou outra declaração mal colocada de um ou outro personagem levava a situações constrangedoras e saias justas que poderiam, a qualquer momento, estragar o clima entre todos novamente. Tal situação poderia levar a um contexto um tanto tragicômico, como a ridícula tentativa de suicídio de Max, seguida por uma crise de choro comovente do protagonista, despertando rápidos sentimentos contraditórios no espectador.

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Divertido reencontro com amigos de longa data…

Por ser um filme que destaca as relações humanas e a amizade entre personagens bem construídos, é praticamente obvia a opção pelo happy end, onde Max decide anular a venda da casa, espaço onde os amigos se encontravam no passado e termina com ele indo atrás dos amigos para reuni-los novamente, agora em seu lar.

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Apesar das tensões, clima de amizade permanece…

Dessa forma, “Estaremos Sempre Juntos” confirma a grande versatilidade de Guillaume Canet, que consegue ser um bom ator, mas também diretor e roteirista. E ainda há a vantagem de que os filmes em que ele tem o controle da produção são cravejados de grandes atores franceses, o que é um atrativo a mais e ajuda a cimentar o bom roteiro escrito. É uma película comovente e um programa imperdível.

Batata Movies – Adam. O Toque Como Instrumento De Transgressão.

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Cartaz do Filme

Um filme que é o representante de Marrocos na disputa ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. “Adam” é uma película de transgressão, uma película que vai contra o tradicional e atenta para o problema da posição da mulher na sociedade marroquina, onde não há muito espaço para suas liberdades e vontades. Para podermos analisar o filme aqui, vamos precisar de spoilers.

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Samia, uma forateira que vai afetar a vida de um lar…

O plot é relativamente simples. Samia (interpretada por Nisrim Erradi) é uma jovem grávida que perambula pelas ruas atrás de emprego. Ela acaba parando na casa de uma viúva, Abla (interpretada por Luna Azabal) e sua filhinha, Warda (interpretada por Douae Belkhaouda). Abla é muito dura com Samia à princípio, mas a doçura de Warda para com a forasteira amolece o coração de Abla, e Samia permanece na casa. Aos poucos, a jovem grávida vai se encaixando ao dia-a-dia da família e acaba se tornando parte dela. O problema é que sua gravidez foi fora das convenções familiares da sociedade em que vive e ela vai precisar dar o bebê assim que ele nascer para que ela possa retornar à sua vila e poder viver dentro de seus hábitos culturais. Abla, por sua vez, se opõe a essa atitude tão radical de Samia.

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Abla, uma dura viúva…

Esse é um filme altamente feminino e, principalmente, muito transgressor. Ele é um grito inconformado contra a posição da mulher nas sociedades muçulmanas. Temos duas personagens femininas muito fortes aqui. Abla é uma mulher que perdeu o marido e nem teve tempo de se despedir dele, pois seu corpo precisava ser enterrado antes do horário da oração. Ela chega a reclamar que não existe espaço para a mulher na morte. Ao que Samia, a outra personagem forte, retruca dizendo que não há qualquer espaço para a mulher nessa sociedade. Samia se atreveu a ter um relacionamento fora dos casamentos arranjados e precisa se desfazer do seu filho para que toda a intolerância da sociedade não recaia sobre ele, numa atitude corajosa de preservar sua prole.

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Warda vai ajudar a amolercer o coração da mãe…

Como se não bastasse esse tom de denúncia sobre a situação das mulheres no filme, tivemos também algo poderoso e que podemos dizer que foi o cerne da transgressão nessa película. E o que seria? O simples ato de um toque. Sabemos que isso pode ser eivado com alguns tabus negativos na sociedade muçulmana, e vemos no filme as mulheres protagonistas se tocando física e carinhosamente. Vemos Warda tocando a barriga de Samia e sentindo o bebê; vemos Samia segurando com força e rispidez uma Abla que quer desligar a música que lembra o marido morto (é a sequência mais forte do filme, onde há um misto de leve agressividade e muita sensualidade, onde Samia faz com que Abla volte a dançar depois de longos anos de luto); e a cena, extremamente sensual, de Samia ensinando Abla a bater a massa, um dos momentos mais lindos do filme. Um filme onde mulheres se tocam e se relacionam, com pouco espaço para os homens. O único personagem masculino de destaque é Slimani (interpretado por Aziz Hattab), perdidamente apaixonado por Abla e praticamente subjugado pelo empoderamento da viúva em toda a sua plenitude. Podemos dizer que foi um filme extremamente corajoso e sem medo de ser rotulado de forma negativa pelos mais conservadores, muito pelo contrário. Sentimos uma intenção explicita de transgredir e agredir, com toda uma sensualidade explicita entre mulheres que se tocam.

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Filme tem uma sensualidade poderosíssima entre mulheres…

O desfecho, como não podia deixar de ser, chuta o happy end para escanteio. Samia vai embora da casa de Abla e não temos certeza se ela dará o seu filho antes de voltar para sua aldeia natal, ou vai encarar a sociedade e seus preconceitos. O desfecho fica a gosto de quem assiste. Mas uma coisa é certa: qualquer que seja a sua decisão, ela será feita com perdas. Daí a certeza de que o happy end é impossível.

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As atrizes com a diretora Maryam Touzani

Assim, “Adam” é um grande postulante aos finalistas a Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, e creio que, se não houver interesses de ordem comercial (o que quase sempre acontece no Oscar), esse filme poderia também ser cotado como um dos favoritos ao prêmio. Um filme sobre mulheres que criticam abertamente o machismo presente na sociedade muçulmana e ainda transgridem com o toque cheio de afeto feminino. Um grande presente para o espectador e um filme que não pode deixar de ser visto por sua coragem. Vale a pena dar uma conferida.

Batata Movies – Papicha. Luta Inglória Contra A Tirania.

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Cartaz do Filme

Uma co-produção Argélia/França/Bélgica perturbadora. “Papicha” é mais um filme sobre mulheres. Mais um filme da luta feminina por espaço numa opressão machista com a explosiva combinação da religião. Um filme que revolta. Um filme baseado numa história real, o que aumenta ainda mais a indignação. Para podermos analisar essa película, vamos precisar de spoilers.

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Papicha só queria ser feliz fazendo o que gostava…

O plot se passa na Argélia de 1990, quando grupos islâmicos radicais começam a tomar conta de um país que era acostumado a viver com uma liberdade ocidentalizada. Nedjma “Papicha” (interpretada por Lyna Khoudri) é uma moça que estuda francês na Universidade e gosta muito de desenhar roupas, ou seja, seu sonho é ser estilista. Nedjma tem uma vida feliz com suas amigas, a maioria delas com um jeito de vida liberal e ocidentalizado. Mas, à medida que os grupos islâmicos que vão tomando conta do país aumentam sua área de atuação, a repressão contra as mulheres vai se tornando cada vez mais insuportável, ao ponto de a irmã de Papicha, que sempre a encorajou a ser estilista, ser assassinada por uma mulher radical. A reação de Papicha é organizar um desfile de moda, fazendo hijabs (os véus que cobrem as mulheres de cima a baixo, impostos pelos radicais) com um corte moderno mais agressivo. Mas a moça irá passar por muitos empecilhos para garantir sua empreitada.

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Mas logo ela perceberia que este pode ser o pior dos mundos…

A diretora e roteirista Mounia Meddour consegue fazer um trabalho magnífico, pois ficamos profundamente indignados com a violência e a opressão que uma interpretação ultrarradical da religião pode proporcionar contra um grupo de jovens moças que somente aspiram a ter uma vida feliz. Meddour faz questão de mostrar que o machismo latente e violento não é algo somente atribuído aos varões, mas também a mulheres de uma vertente mais tradicionalista perseguem as moças que querem organizar o desfile. O clímax da história é extremamente chocante e traumatizante, dando ao espectador uma sensação de profunda impotência e desesperança, restando ao final simplesmente juntar os cacos e retomar a vida como se pode num ambiente hostil, opressor e muito violento. Não podemos deixar de falar aqui da atriz Lyna Khoudri, que fez uma Papicha adorável mas também muito forte, onde seus gritos explosivos eram uma manifestação voraz e paroxista de todo o seu sofrimento e indignação com a forma como as mulheres eram tratadas em seu país. Era algo que doía profundamente no espectador e a gente imediatamente compra a personagem.

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Um mundo onde a mulher não tem espaço…

Dessa forma, “Papicha” é mais um daqueles filmes fundamentais, que sempre devem ser lembrados e jamais devem ser esquecidos. Mais um filme onde o cinema cumpre sua função social de denúncia das muitas injustiças que perambulam pelo mundo. Um filme que nos torna mais humanos ao compartilhar a dor de mulheres que vivem num país tão distante e oprimido. Um programa imperdível e um filme para ver, ter e guardar.

Batata Movies – A Camareira. Uma Questão Social Abordada De Forma Morna.

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Cartaz do Filme

O México apresenta o seu representante ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. “A Camareira”, de Lila Avilés, é mais um filme que aborda a questão social de um segmento menos favorecido, só que tem o problema de fazer isso de uma forma um tanto morna, não decolando em emoção. Para a gente poder analisar melhor o filme aqui, serão usados spoilers.

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Uma camareira em busca de melhores oportunidades…

Vemos aqui a trajetória de Eve (interpretada por Gabriela Cartol), uma jovem camareira de um apart hotel que tem uma rotina de emprego muito extensa, limpando e arrumando os quartos de hotel, sendo que, às vezes, ela passa por situações inusitadas tais como cuidar da criança pequena de uma hospede argentina, levar brindes em grande quantidade para um hóspede e ser cortejada pelo limpador de janelas. Ela tem um filho pequeno que quase não vê, pois dorme no emprego, e tem como objetivo estudar e conseguir limpar e arrumar os quartos de luxo do 42º andar, o que vai lhe proporcionar um salário maior. Apesar de tanta dedicação, Eve não tem o seu trabalho reconhecido, não conseguindo o trabalho no 42º andar, o que a deixa muito chateada, com a moça saindo do hotel ao final da película, onde fica implícito se a moça deixou o emprego ou simplesmente se dirigiu para casa para rever o filho depois de tanto tempo fora.

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Relacionamento com o filho à distância…

Como a película opta por mostrar o cotidiano da camareira, o que deu um ritmo muito lento ao filme, ficou parecendo que as questões de cunho social não foram devidamente exploradas, sendo mencionadas de forma um tanto rápida e sem profundidade, o que foi uma pena. Pela falta de ritmo, tem-se a impressão de que esse filme dificilmente ficará entre os finalistas ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, em contraponto a toda a celebração em cima de “Roma” ano passado. E devemos nos lembrar de que, tanto em “Roma” quanto em “A Camareira” a questão social de uma empregada proletária foi abordada, sendo que em “Roma” houve um pouco mais de profundidade, se compararmos com “A Camareira”.

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Uma rotina estressante…

Assim, apesar da boa intenção de se denunciar um problema de ordem social, o ritmo extremamente lento de “A Camareira”, associado a uma rotina que acabou ficando entediante, tornou o filme muito cansativo, o que foi uma pena.

Batata Movies – Ford VS Ferrari. Desenvolvendo Uma Lenda.

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Cartaz do Filme

Um filmaço para quem gosta de automobilismo. “Ford VS Ferrari” fala da entrada da Ford em automobilismo de competição e de sua rivalidade com a Ferrari na prova das 24 Horas de Le Mans. A equipe italiana tinha uma hegemonia incontestável na famosa prova e a Ford chegou com força total para colocar essa hegemonia em xeque. Para podermos analisar melhor o filme, vamos precisar de spoilers aqui.

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Carroll Shelby, uma lenda do automobilismo, tem uma difícil tarefa…

O filme gira em torno de dois personagens principais. Carroll Shelby (interpretado por Matt Damon) tinha sido o primeiro americano a ganhar as 24 Horas de Le Mans, mas precisou abandonar a sua carreira pois estava com um problema no coração. Com isso, Shelby começa a vender automóveis, tendo bom trânsito entre as montadoras e o meio das corridas. Já Ken Miles (interpretado por Christian Bale) era um mecânico de oficina falido que preparava seus carros para corridas, um cara muito porra louca de temperamento bem explosivo. O que eles terão a ver com a Ford? A empresa estava com problemas de venda de seus carros e o responsável pelo marketing da empresa, o lendário empresário Lee Iacocca (interpretado por Jon Bernthal) defende a ideia da empresa entrar no automobilismo de competição para a marca ficar mais antenada com o público mais jovem. Foi tentada uma parceria com a Ferrari, que também estava falida, mas o vazamento da negociação empurrou a Fiat para uma parceria com o “Cavalinho Rampante”, que se tornou mais vantajosa que a proposta da Ford. Isso fez com que o Comendador Enzo Ferrari acabasse sendo bem ríspido com os executivos da Ford e, principalmente, com Henry Ford II, o que levou o empresário a aceitar a idéia de competir com a Ferrari nas 24 Horas de Le Mans. Shelby é recrutado para tal tarefa, que recruta Miles. Mas este último é mal visto pelos executivos da Ford, que boicotam o trabalho de Miles, justamente ele que consegue preparar o carro com tanta eficiência. Assim, Shelby terá que pagar um dobrado para manter Miles na equipe, inclusive como piloto, a contragosto dos executivos da Ford.

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Ken Miles, um excelente piloto e acertador de carros…

O filme tem uma excelente reconstituição histórica, principalmente no que tange a um automobilismo de décadas atrás, com direito ainda a alavancas de marchas e a montagem artesanal dos carros, onde um preparador experimentava o carro e ia fazendo os ajustes, sem direito a qualquer tecnologia ou telemetria para ajudar, o que deixava o filme muito gostoso de se ver. As cenas de corrida também foram muito bem feitas e eram emocionantes, com a reconstituição dos autódromos de Daytona e, principalmente, Le Mans, feita de forma magistral. Os carros também foram um deleite, com destaque, obviamente, para as Ferraris, lindas de morrer.

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Juntos, os dois terão o desafio de levar a Ford à vitória em Le Mans…

E os atores? Esse filme tem um nome: Christian Bale. Sua atuação foi para lá de magnífica. Ken Miles conseguia ser um paizão, um bom marido, um excelente acertador de carros, um sujeito muito engraçado e um porra louca de cabeça quente em quase todas as situações. Foi até covardia para o Matt Damon colocar Bale atuando ao seu lado nesse filme, tamanho o talento de Bale, que na minha modesta opinião, deveria ter ganho o Oscar de Melhor Ator para “Vice” este ano. Só ver esse ator já vale o ingresso, num filme que tem também um excelente roteiro, que prende a atenção do espectador em todas as suas duas horas e meia de exibição.

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As baratinhas sempre são uma atração à parte…

Assim, “Ford VS Ferrari” é um daqueles filmes que é um programa obrigatório não somente para os fãs de automobilismo, mas também para os cinéfilos mais exigentes, pois tem uma história muito bem contada num roteiro bem escrito e cativante e a atuação primorosa de Christian Bale como a cereja do bolo. Um programa imperdível.

Batata Movies – O Irlandês. Scorsese À Antiga.

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Cartaz do Filme

Martin Scorsese volta à cena com o filme “O Irlandês”. Essa é uma película que está disponível no Netflix a partir do próximo dia 27 de novembro, mas como se trata de um filme também estrelado por Robert De Niro e Al Pacino com um baita cheiro de Oscar, fica muito difícil não querer ver na telona as limitadas sessões disponíveis. Como este escriba acabou perdendo as sessões de “Roma” e viu o Oscar de Melhor Fotografia deste ano no celular, assim que “O Irlandês” se tornou disponível no cinema, fui correndo ao Estação Botafogo para assistir. Houve dois problemas: a venda era feita em separado para uma sessão que lotou o cinema. Assim, tivemos problemas como, por exemplo, a impressora instalada no notebook não funcionar direito e o ingresso demorar para sair, ou só ser aceito pagamento no cartão e não em dinheiro. Esse é o tipo de coisa que precisa ser melhor vista quando a Netflix fizer essas sessões de cinema. O outro problema é que a película tem uma duração de, praticamente três horas e meia. Ou seja, tem que ter disposição. Para que a gente entenda melhor o filme, vamos lançar mão de spoilers aqui.

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Olha só o cartão de visitas…

A história começa em meados da década de 50 e gira em torno do irlandês Frank Sheeran (interpretado por De Niro), um ex-combatente da Segunda Guerra Mundial que esteve na Itália, se tornou motorista de caminhão transportando carnes e ganhava um por fora desviando a mercadoria. Seu advogado, ligado à máfia ítalo-americana, conseguiu tirá-lo da situação e isso foi meio que a porta de entrada para que Frank entrasse para o mundo do crime. Ele irá trabalhar para Russell Bufalino (interpretado por Joe Pesci), com quem irá desenvolver uma relação de fidelidade total. Através desse submundo, ele irá também conhecer Jimmy Hoffa (interpretado por Pacino), o famoso líder sindical dos caminhoneiros que desapareceu e não foi encontrado até hoje. Vamos vendo, ao longo do filme, como Frank se envolve cada vez mais com o mundo do crime, não somente de forma profissional, mas também de forma afetiva com Bufalino e Hoffa, onde chegará um momento em que Frank terá que fazer escolhas muito duras. O mais curioso aqui é que o filme é contado em flash-back, de forma que vemos Frank bem idoso num asilo, mostrando que ele foi um dos poucos que conseguiram sobreviver à violência do submundo da máfia ítalo-americana.

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Joe Pesci também é uma grande presença…

A primeira coisa que vem às nossas cabeças quando vemos esse filme é a película “Os Bons Companheiros”, onde temos também De Niro e Pesci fazendo um filme sobre a máfia ítalo-americana. Entretanto, há algumas diferenças. Enquanto que o filme “Os Bons Companheiros” parecia ser algo mais estritamente ligado à máfia ítalo-americana, com uma crueza bem maior (lembro-me da psicopatia do personagem de Joe Pesci nesse filme), em “O Irlandês” temos um filme menos violento (mas, ainda assim com a violência típica dos filmes de máfia ítalo-americana) e vemos a máfia conectada com outros núcleos, tais como o movimento sindical e o desaparecimento de Hoffa, a família Kennedy no poder e a questão da Revolução Cubana. Ou seja, é um filme com um desdobramento muito maior que o torna bem mais rico e interessante pelo forte background histórico. Fica bem clara a interação de todos esses núcleos, dando a entender que Kennedy foi assassinado a mando da máfia, assim como a mesma teve participação no episódio da Baía dos Porcos e no desaparecimento de Hoffa. É um filme que exige muito da atenção do espectador pelo rosário de personagens e situações onde os mesmos interagem. E tudo isso em mais de três horas de exibição. Pelo menos, se o espectador não conseguiu pescar toda a história e seus meandros, ele vai ter nova chance de fazer isso através do Netflix, o que é acalentador. De qualquer forma, vale muito a experiência de se ver a película no cinema, pois temos um roteiro para lá de primoroso e muito bem trabalhado em toda a sua complexidade.

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Filme mostra a passagem do tempo, com a máfia bem conectada a isso

Agora, definitivamente o mais espetacular foi ver as duplas De Niro-Pacino e De Niro-Pesci atuando. Um baita de um cast que vale demais o ingresso! Não é todo o dia que a gente tem a oportunidade de ver tanta gente muito boa trabalhando junta! E, mesmo com as mais de três horas de exibição, ficou um gosto de quero mais. Confesso que não me contento em ter esse filme somente no streaming e gostaria muito de conseguir uma cópia em DVD para ver quando quisesse (sempre há a possibilidade da Netflix retirar o filme quando os acessos baixarem no futuro). É nessas horas que a gente percebe como vale a pena passar por todas as dificuldades para ver uma produção como essa numa boa sala de cinema.

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Robert De Niro e um Scorsese com muito frio…

Dessa forma, “O Irlandês” é um programa imperdível que vale o ingresso e a experiência de vê-lo em uma boa sala de cinema. Um filme de Scorsese à antiga, o Scorsese que fala do mundo do crime ítalo-americano, com um elenco magnífico que interage de forma bem azeitada e redondinha. Um deleite para os olhos obrigatório para qualquer indivíduo que se diz ser cinéfilo.

Batata Movies – Mama Coronel. Trazendo A Humanidade Para Um Cenário Pós-Apocalíptico.

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Cartaz do Filme

Um documentário inquietante. “Mama Coronel” fala de uma dura realidade: a do continente africano em dias de pós guerra, onde crianças e mulheres são vítimas de uma dura condição imposta pelas agruras de uma sociedade muito sofrida. Para podermos entender um pouco melhor o filme, vamos lançar mão de spoilers.

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Honorine, uma policial muito obstinada…

O filme mostra a trajetória da policial Honorine, conhecida pelo apelido de Mama Coronel. Ela busca resolver casos de estupro e violência contra crianças no Congo. As crianças, além dos casos de estupro, também sofrem espancamentos de adultos, pois são acusadas de estarem enfeitiçadas, padecendo muito nas mãos de líderes religiosos. Por outro lado, Honorine presta assistência para mulheres vítimas da guerra entre Ruanda e Uganda, onde foram estupradas e viram seus maridos e filhos serem assassinados. Com a guerra tendo ocorrido há mais de quinze anos, com todos esses crimes jamais tendo sido elucidados, e sem qualquer esperança futura de que isso ocorra, resta a Honorine dar a melhor assistência possível a essas mulheres e pedir ajuda ao povo que também não tem a menor condição para isso. Ainda, as crianças que sofrem espancamentos dos adultos por serem acusadas de feitiçaria não têm uma família para ficar. Assim, Honorine acaba levando essas crianças para serem criadas pelas mães que foram estupradas na guerra e tiveram suas famílias mortas. O documentário termina com mães de família que são comerciantes, sensibilizadas pelas atitudes de Mama Coronel, doando uma quantia em dinheiro para ajudar as mães e as crianças.

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Lutando pelos menos favorecidos…

O documentário, depois de mostrar um cruel e repulsivo choque de realidade, acaba optando por um happy end, muito provavelmente pelo fato de que toda a cruel realidade de um povo que sofreu as agruras da guerra é um fardo muito pesado a ser carregado pelo espectador durante a exibição do filme, com o happy end sendo algo mais brando e aceitável. De qualquer forma, esse filme exibe, de forma nua e crua, todas as agruras que os povos do continente africano sofrem, quando os pesos de guerras com origens mais tribais podem, simples e literalmente, destruir vidas e famílias inteiras. De imponente mesmo resta a figura de Mama Coronel, que sempre somos tentados a chamar de heroína, embora ela seja apenas uma funcionária pública que quer ser a mais profissional possível e necessita de condições ideais de trabalho, onde um sistema judiciário totalmente estático acaba sendo um grande empecilho para suas atividades profissionais e humanitárias, indo onde o Estado deve estar, Estado esse que quase nunca chega onde deve ao final das contas. Honorine é admirável, corajosa e tira leite de pedra para dar um mínimo de humanidade a pessoas tão barbarizadas.

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Salvando crianças acusadas de feitiçaria do espancamento…

Dessa forma, “Mama Coronel” é um documentário fundamental e indispensável, pois expõe de forma nua e crua as agruras de um continente que se tornou como tal em virtude de um agressivo processo imperialista por parte das potências do ocidente, e que, simplesmente se desfizeram da África após usá-la e abusá-la, pouco se importando com a enorme quantidade de vidas ceifadas por problemas econômicos e de ordem geopolítica. A figura de Honorine, que se levanta contra todo o processo, é admirável e tem sabor de mitológico e heroico, mas ela é apenas uma ser humana que quer fazer seu trabalho da melhor forma possível e precisa de condições para isso. Um programa imperdível.

Batata Movies – Rogéria, Senhor Astolfo Barroso Pinto. Uma Bela Cinebiografia.

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Cartaz do Filme

Uma boa cinebiografia brasileira. “Rogéria, Senhor Astolfo Barroso Pinto”, é o primeiro documentário sobre a famosa artista depois de sua morte em 2017. Por meio de imagens de arquivo e muitas entrevistas, ou seja, um documentário feito de uma forma bem tradicional, com direito a algumas dramatizações que dão um tom artístico à coisa, a película consegue dar uma boa ideia da trajetória de Astolfo Barroso Pinto, um cabeleireiro e maquiador que ficou conhecido de muitas atrizes, inclusive globais, mas que tinha o sonho do estrelato, tornando-se um artista, acima de tudo, e nas suas próprias palavras. Rogéria, extremamente carismática, não abre mão de Astolfo Barroso Pinto, e a atriz só é influente e forte pois tem Astolfo em sua retaguarda. Para podermos analisar um pouco mais o documentário, vamos precisar lançar mão de spoilers.

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A homenageada dá vários depoimentos…

O documentário nos dá a grande oportunidade de conhecer os familiares de Rogéria, sobretudo seus irmãos e irmãs, além de relatos de arquivo de sua mãe, o que nos ajudam a reconstituir a personalidade da personagem. Indo desde a infância, passando pelas primeiras experiências como maquiador, indo até o início de sua carreira artística e o estrelato, com direito a dramatizações rápidas que nos ajudam a ter uma ideia de todo o contexto, o documentário faz um interessante mapeamento da vida de Rogéria. Seu famoso acidente automobilístico que quase acabou com sua carreira é citado, num momento em que a artista ficou muito fragilizada mas conseguiu dar a volta por cima, graças à ajuda de figuras como Ivo Pitanguy e Agildo Ribeiro, que lhe deu a oportunidade de fazer o primeiro número musical depois do acidente, em seu programa televisivo “Estúdio Agildo”.

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Personalidades importantes como Bibi Ferreira falam de Rogéria

O documentário também tem vários depoimentos da própria Rogéria, que não podiam faltar. De personalidade extremamente magnética e simpática, Rogéria faz jus ao título que dá a si mesma de “o travesti da família brasileira”, pois é impossível não gostar dela, seno uma contribuição inestimável à luta contra a homofobia. O desfecho do documentário é emocionante, onde é mostrada uma gravação de celular onde Rogéria canta no leito do hospital, pouco tempo antes de sua morte, o que mostra toda a energia da figura humana que ela era. Vemos, também, praticamente todos os entrevistados, com lágrimas nos olhos, escutando a gravação e dando seus depoimentos, o que foi muito intenso para o desfecho de um documentário que foi uma homenagem à altura.

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Volta triunfal depois de um grave acidente…

Assim, “Rogéria, Senhor Astolfo Barroso Pinto” é uma justa homenagem a uma figura humana incomparável. Um documentário bem simples e tradicional, mas feito com bastante carinho e uma boa lembrança de uma pessoa que deixa muita saudade até hoje. Programa imperdível.