Batata Movies – Liga Da Justiça. Mais Um Passo No Desenvolvimento Da DC.

                    Cartaz do Filme

A DC lançou mais uma de suas apostas para o upgrade de suas franquias e estreou o audacioso “Liga da Justiça”, onde foram apresentados novos super-heróis (leia-se Aquaman, Ciborgue e Flash). O negócio agora será fazer filmes solo para esse povo todo. Mas, por enquanto, esse filme mostra todo o rosário de super-heróis trabalhando em conjunto.

               Um Aquaman meio vaca brava

E qual foi o resultado de tudo isso? Creio eu que “Liga da Justiça” foi um bom filme, mesmo que tenha sido um pouco arrastado em alguns momentos (o mesmo aconteceu com o filme solo da Mulher Maravilha). Talvez isso aconteça, pois a pegada da DC é a de encarar o Universo de heróis com um pouco mais de seriedade e o clima fica mais pesado (me desculpem leitores, mas a comparação com a Marvel é inevitável). Tal clima atrapalha um pouco o processo de construção dos personagens. E eram vários personagens a serem apresentados, causando uma boa quantidade de micro-histórias que o espectador era obrigado a assistir, quando o público desse filme quer uma pegada maior de ação. Entretanto, não sejamos injustos. “Liga da Justiça” traz uma história instigante e é legal ver os heróis trabalhando em equipe ou se desentendendo, como aconteceu em alguns momentos. Cá para nós, as cenas de conflito foram muito mais interessantes que as cenas de trabalho em equipe, mas não dá para contar em detalhes aqui sem ser alvejado pelos caçadores de divulgadores de spoilers.

                          Um Flash engraçadinho

O que podemos falar dos novos heróis? Tivemos dois casos muito bons e um mediano. Aquaman foi uma grande surpresa, sendo um personagem muito carismático. Só me causaram estranheza (e grande curiosidade) dois fatores. Em primeiro lugar, por que um Aquaman de grandes cabelos e barba negra? A minha ignorância retumbante em quadrinhos me faz ver esse Aquaman mais com um visual de Deus Netuno. Cadê o louro de olhos azuis? Em segundo lugar, seu visual um tanto rústico me pareceu gerar também um Aquaman meio vaca brava, que salva os fracos e oprimidos e depois os arremessa contra o balcão de um bar e ainda toma uma branquinha (os mais maliciosos diriam que tem tudo a ver o Aquaman ser um pau d’água). Queria saber de onde vem esse visual e toda essa crueza.

                  Um Ciborgue mal aproveitado

Já o nosso Flash faz o papel do pós-adolescente deslumbrado com o meio dos super-heróis, uma fórmula que é repetida por aí (não vou falar o nome da Marv…, ops!). Mesmo não sendo algo muito original, esse Flash mais engraçadinho foi muito simpático e trouxe bons momentos de humor para a película, num ambiente pouco afeito a piadas. Assim, creio que o Flash foi uma ótima contribuição.

O mesmo não se pode falar do Ciborgue. Um homem atormentado por uma experiência um tanto frustrada, coordenada pelo próprio pai, tinha tudo para ser um ótimo personagem. Mas pareceu que a coisa ficou um tanto mal desenvolvida para ele, meio travada, mesmo que a Mulher Maravilha tenha descambado mais para seu lado mãezona com relação a ele. Esperemos que Ciborgue seja mais bem aproveitado e bem desenvolvido.

Num ponto podemos dizer que a DC acertou maravilhosamente. Ela deixou um lance totalmente escondido dos trailers e divulgações. Uma coisa que ficou guardada e que se revelou uma boa surpresa e um grande trunfo. Alguns podem até achar que essa carta na manga deveria ser usada num filme próximo, mas do jeito que ficou, creio que valeu a pena usar isso já nesse filme. Quem prestar um pouco mais de atenção nessas linhas deve entender do que estou falando. Só é pena que possa ter havido um furo de roteiro aí. Mas nada que atrapalhe muito.

Assim, “Liga da Justiça” é um bom filme que está mostrando a melhora progressiva das películas da DC. Se o filme solo da Mulher Maravilha já foi bom, “Liga da Justiça” traz algo a mais e a possibilidade de novas histórias e películas. Vá e, principalmente, não implique. E não deixe de desfrutar das duas cenas pós-créditos.

https://www.youtube.com/watch?v=9UCgwO0ft0Q

Batata Movies – Borg Vs. McEnroe. Tênis Como Vida.

                                  Cartaz do Filme

E finalmente estreou o tão esperado “Borg Vs. McEnroe”, um filme baseado na história real de dois tenistas que foram ícones em seu ofício: Björn Borg, que venceu Wimbledon várias vezes, e John McEnroe, um tenista tão talentoso quanto explosivo. Não cheguei a ver Borg jogar, mas me lembro bem de McEnroe, principalmente de seus chiliques com o juiz e com a torcida, que o vaiava efusivamente enquanto ele dava raivosas raquetadas em tudo o que via.

             Borg, um homem atormentado

A história do filme se centrou na final de Wimbledon em 1980, quando os dois tenistas se enfrentaram pela primeira vez. Borg tentava, nada mais, nada menos que o seu quinto título consecutivo em Wimbledon, enquanto que McEnroe aparecia como uma revelação. Com relação à partida em si, o grande barato foi assistir à sua reconstituição sem saber do desenrolar do jogo e de seu resultado, o que foi o meu caso. Um tie-break arrasador, onde os dois jogaram ponto a ponto, foi a grande atração da coisa, e confesso que fiquei muito feliz com quem ganhou, embora eu obviamente não vá contar aqui.

              McEnroe, nitroglicerina pura!!!

Mas o filme é muito mais do que a partida final. Ao traçar a carreira e vida pessoal dos dois tenistas, vemos um filme que fala muito mais da condição humana e dos limites do ser humano do que de qualquer outra coisa. Focando mais na vida de Borg (o que eu achei um problema, pois McEnroe merecia igual atenção), pudemos atestar como o sueco, visto como extremamente frio (seu apelido na época era “Ice Borg”), na verdade era uma torrente de emoção paroxista altamente reprimida pelo seu técnico (interpretado pelo ótimo Stellan Skarsgard). Já McEnroe é uma espécie de menino prodígio, muito inteligente em matemática, que desde cedo dava mostras de um temperamento forte, mas que só aflorou na idade adulta, quando era tenista. Pela forma como esses personagens foram apresentados em suas aspirações (e, principalmente, angústias), o espectador fica com uma empatia imediata em relação a eles. E os atores ajudaram muito nessa empatia. Shia Labeouf, com seu temperamento explosivo e errático, pareceu a escolha certa para o personagem de McEnroe, mesmo não se parecendo muito com ele. Na verdade, até a sua imagem de McEnroe no cartaz do filme parece soar como uma piada; você olha para aquilo e pensa: “Tudo a ver”. Brincadeiras à parte, Labeouf esteve muito bem no papel e, ao contrário do que o leitor pode pensar, não me refiro às explosões emocionais propriamente ditas, mas sim ao arrependimento que tais explosões emocionais provocavam. Impossível não se identificar com o personagem. Já Borg foi interpretado por Sverrir Gudnanson, este sim a cara do tenista real. Aqui víamos o misto de uma mente extremamente metódica com uma insegurança arrebatadora, que beirava ao pânico e ao desespero, mente essa fortemente reprimida, algo que nos angustiava muito. O cara não se soltava, mesmo estando profundamente angustiado, e isso provocava um tal impacto no espectador que o fazia também se identificar com o personagem. Assim os dois tenistas expressavam em sua total intensidade dois aspectos do humano, algo extremamente sedutor e cativante, que ultrapassava as fronteiras do tênis e se ampliava para o domínio da vida.

Skarsgard. Muito bem como técnico de Borg.

Pode-se dizer aqui que esse filme lembra muito “Rush”, onde vimos a disputa entre James Hunt e Nikki Lauda pelo título mundial de Fórmula 1 de 1976. Mas, se em “Rush”, a pegada foi um pouco mais voltada para a ação, mesmo que a vida pessoal dos dois pilotos tenha sido enfocada, em “Borg Vs. McEnroe”, a coisa ficou mais no lado psicológico dos personagens, gerando uma história mais tensa, mas não menos apaixonante.

                                                                    Grande caracterização!!!

Assim, “Borg Vs. McEnroe” é um programam imperdível. Um filme para os amantes do tênis, pois a sequência da partida final foi muito bem construída. Mas um filmaço também para os cinéfilos e o público em geral, pela forte abordagem psicológica das histórias de vida dos dois tenistas. Vale muito a pena dar uma conferida.

https://www.youtube.com/watch?v=Ij0w630GQ5A

Festival do Rio 2017 – As Entrevistas de Putin. Descortinando um Líder.

                         A entrevista do século!!!

Vamos ainda falar dos filmes que pudemos ver no Festival do Rio 2017. Na última chance do Festival do Rio 2017, tive a oportunidade de ver aquela película que, na minha modesta opinião, foi uma das grandes atrações do evento. “As Entrevistas de Putin”. Dirigido por, ninguém mais, ninguém menos que Oliver Stone, é um filme notável em todos os sentidos. Organizado em quatro programas de cerca de uma hora, a exibição desta grande película, tanto em extensão quanto em magnificência, constituiu-se numa verdadeira maratona da qual você sai muito feliz, pois te dá a certeza de que você participou do Festival esse ano. Foram mais de uma dúzia de entrevistas, concedidas no período de dois anos (de 2015 a 2017)  e Stone teve carta branca para fazer qualquer pergunta (embora isso nem sempre significasse que Putin respondesse, pois alguns temas eram realmente de natureza altamente confidencial). O resultado foi um panorama de um dos líderes mais importantes do mundo, de postura muito controversa aos olhos do Ocidente, mas que se mostrou de forma muito límpida e clara em alguns pontos, não sem ser um pouco turvo em outros.

             Um clima de muita cordialidade

Vários temas foram enfocados na entrevista. Falou-se de sua infância, seus pais, da vida dos tempos de União Soviética, de sua entrada na KGB, o serviço secreto russo. De uma forma muito clara, Putin analisou toda a transição do socialismo para o capitalismo em seu país e apontou os erros e acertos, em sua opinião, de líderes chave nesse processo, ou seja, Mikhail Gorbachov e Boris Yeltsin.

Fazendo as vezes de anfitrião, mostrando o Kremlin…

Com uma franqueza marcante, falou dos problemas que o capitalismo totalmente livre introjetou em seu país e quais medidas ele tomou, já como presidente, para reparar isso. Putin também mencionou a turbulenta relação entre a Rússia e a OTAN, onde o avanço da aliança militar capitalista sobre o leste europeu depois do fim da Guerra Fria foi visto por Putin como algo extremamente desnecessário e beligerante pois, afinal de contas, a Rússia era então uma aliada do Ocidente e aproximar os armamentos da OTAN do território russo exigia uma resposta desse país. Putin ainda lembrou que a crise dos mísseis de Cuba, em pleno auge da Guerra Fria, tinha sido uma resposta a uma atitude semelhante dos Estados Unidos na Turquia, numa prova de uma beligerância antiga dos Estados Unidos.

     Um dedicado intérprete, sempre a postos…

Todas essas tensões entre as duas potências antes e depois da Guerra Fria trouxeram à tona outro ponto: como foi a relação entre Putin e quatro presidentes americanos: Clinton, Bush, Obama e, agora, Trump. E Putin foi muito sincero em dizer que houve momentos tranquilos, mas também momentos de grave turbulência na sua relação com os presidentes dos Estados Unidos. Ele deixou bem claro também que qualquer atitude hostil contra a Rússia terá uma resposta à altura. O mais interessante é que ele fazia tais afirmações levantando muito pouco a voz, num tom sempre muito sereno. Aliás, tocando nesse ponto, pudemos ver Putin sempre de forma contida, expressando alguns estados emocionais. Ele ria, bufava, se irritava levemente, sempre voltando a um estado sereno quando percebia que se excedia, passando uma sensação de muita segurança.

         Falando sobre Snowden ao volante…

Foi muito taxativo sobre a questão da Ucrânia e da Crimeia, onde disse claramente que, no primeiro caso, houve uma tentativa de golpe de estado de direita, e no segundo, que houve um referendo onde o povo desejava a anexação à Rússia. Expôs argumentos convincentes sobre o posicionamento da Rússia na Guerra da Síria (luta contra o terrorismo que tanto assolou a Rússia na Guerra da Chechênia) e foi também muito seguro ao afirmar que a Rússia não interferiu nas eleições americanas que escolheram Trump para a presidência. Fugindo um pouco do escopo da política, Putin afirmou que não há perseguições a homossexuais em seu país, embora se mostrasse um pouco conservador em suas opiniões.

                             Um esportista…

Stone tentava arrancar o máximo de respostas possíveis de Putin, mas o líder era muito esperto em suas afirmações. Foi muito interessante ver o diretor americano debatendo questões como a perpetuação de Putin no poder e até exibindo para ele uma cópia de “Dr. Fantástico”, de Kubrick. Apesar das reservas de Putin em abordar temas mais espinhosos em alguns poucos momentos, uma coisa é certa: esse é o relato mais completo que temos desse enigmático presidente russo e um enorme serviço de Stone ao cinema e a uma melhor compreensão da geopolítica internacional.

                       Firmeza nas palavras

Esse é o tipo de documentário que tem que ser lançado em DVD por aqui e que a gente tem que ver, ter e guardar, não somente pela polêmica do tema, mas, principalmente, pelo grau de sinceridade e de como o discurso do presidente russo pode ser incisivo em vários momentos. Vale muito a pena a experiência de assistir a essa série de entrevistas. E, não se esqueça: vá a São Petersburgo, recomendação do próprio Putin à esposa de Stone. Imperdível!

 

Batata Movies – Rio Fantastik Festival – Enfim Sós. Os Companheiros Sumiram / Animal Cordial. Cardápio De Sangue.

Cena de “Enfím Sós”

O Cine Joia, de Copacabana, e o Estação Net Rio 2 realizaram o Rio Fantastik Festival, onde doze longas e dez curtas de suspense e terror foram exibidos e seis longas e seis curtas concorreram ao troféu Cramulhão, em homenagem à mostra que acontece mensalmente no Cine Joia. Tive a oportunidade de assistir a um curta e a um longa do Festival lá no Cine Joia.

O primeiro filme foi o curta “Enfim Sós”, de Helvécio Parente. Trata-se da história de um casal que se hospeda num hotel e, enquanto a moça vai para o banho, o marido espera no quarto. Só que, misteriosamente, a moça desaparece e o marido a procura pelo hotel. Qual não é a surpresa de, depois de ter passado na recepção com a esposa, as câmaras do hotel mostram o marido entrando sozinho e o seu próprio celular mostra a selfie que ele fez com a esposa com ele sozinho no enquadramento? Atônito, é levado para o hospital depois de ter uma crise nervosa. Enquanto isso, a moça sai do banho e também se depara com o quarto vazio, também indo à recepção do hotel e também sendo comunicada que foi vista entrando sozinha ali, assim como foi dito anteriormente para o marido.

O diretor Helvécio Parente

Vórtex temporal? Ou apenas um grande mistério? Só é pena que essa instigante ideia não possa ter sido mais profundamente desenvolvida em virtude da duração do curta, de apenas oito minutos. De qualquer forma, abre-se grandes possiblidades para o caso de um média ou longa-metragem. Ah, sim, não podemos nos esquecer de que, no elenco, Fernando Caruso fazia o marido.

Cena de “O Animal Cordial”

O segundo filme, esse um longa, foi “O Animal Cordial”, de Gabriela Amaral Almeida, onde um dono de restaurante, Inácio (interpretado por Murilo Benício), tem uma relação doentia com seus empregados e clientes. Tudo vai piorar muito quando dois assaltantes entram no restaurante e Inácio consegue dominá-los. O que se vê a seguir é uma sucessão de eventos macabros que resultará em muitas mortes e sangue, pois Inácio pirou na batatinha e acredita que o assalto foi orquestrado pelo cozinheiro da casa, Djair (interpretado por Irandhir Santos).

Boa participação de Irandhir Santos…

É muito curioso notar que Inácio não é a única mente desajustada em todo o contexto. Sara (interpretada por Luciana Paes) faz um pacto com o patrão, por se apaixonar por ele, e tem violentos conflitos com Verônica (interpretada por Camila Morgado), uma das clientes do restaurante, justamente em virtude da diferenciação social e do preconceito. Vale a referência de que o título do filme é uma paródia ao texto “O Homem Cordial”, um dos capítulos do livro “Raízes do Brasil”, de Sérgio Buarque de Holanda, onde o autor defende a ideia de que o brasileiro, influenciado pelas relações pessoais e clientelistas do Antigo Regime, construiu uma visão pacífica e cordial de si mesmo, alimentando aquele mito de que o brasileiro é bonachão e tranquilo. O que vemos no filme é justamente o oposto: pessoas se tratando com uma agressividade e animosidade sem tamanho, destruindo umas as outras, onde até é citado o uso da carne humana como cardápio do restaurante, algo parecido com o que alguns serial killers da República de Weimar faziam, onde a carne de suas vítimas era comercializada, assim como os ossos dos corpos eram usados para se fazer pentes e botões que também seriam vendidos.

A diretora Gabriela Amaral Almeida

Assim, essas duas produções (o curta “Enfim Sós” e o longa “O Animal Cordial”) são a prova de que o cinema brasileiro pode fazer bons trabalhos nos gêneros de suspense e de terror. É uma pena que tais filmes não encontrem espaço no circuitão mais tradicional, sendo isso uma prova de que a mostra Rio Fantastik Festival se torna mais do que necessária para que essas obras tenham uma chance de dialogar com o grande público. Só para lembrar, “O Animal Cordial!” também passou no Festival do Rio 2017.

Batata Antiqualhas – Capitães. Relatos Comoventes.

             Cartaz do Filme

William Shatner brindou todos os fãs de “Jornada nas Estrelas” com o bom documentário “Capitães” no ano de 2011. Esse documentário teve como objetivo principal entrevistar todos os atores que interpretaram capitães nas então cinco séries de “Jornada nas Estrelas”, mais os longas de J. J. Abrams. O resultado foi um rosário de relatos comoventes e marcantes para todos os protagonistas, mas também para os fãs.

Conversas emocionantes com Patrick Stewart…

Shatner (Capitão Kirk, série clássica) entrevistou os seguintes “capitães”: Patrick Stewart (Capitão Picard, Nova Geração), Avery Brooks (Capitão Sisko, Deep Space Nine), Kate Mulgrew (Capitã Janeway, Voyager), Scott Bakula (Capitão Archer, Enterprise) e Chris Pine (o “novo” Capitão Kirk, da Kelvin Time Line de J. J. Abrams). Os devidos capitães foram apresentados e, depois, as entrevistas eram alternadas, de forma que nenhum capitão tivesse uma posição privilegiada com relação ao outro. Como o próprio Shatner era capitão e entrevistador ao mesmo tempo, parte do documentário foi usada para que o ator desse um relato de suas impressões pessoais e profissionais. Ainda, com relação à parte de Shatner, foi muito legal ver a entrevista que ele fez com Christopher Plummer, canadense como Shatner, e que foi substituído pelo nosso Capitão Kirk quando os dois trabalhavam juntos no teatro, antes ainda de “Jornada nas Estrelas” e Plummer ficou doente. Não é à toa que Plummer foi chamado para ser o general klingon Chang em “Jornada nas Estrelas 6, A Terra Desconhecida”.

                             … e Kate Mulgrew

O documentário teve outros lances interessantes. Falou-se da severa rotina de gravações dos episódios e de como isso afetou a vida pessoal dos atores. Isso, por exemplo, acabou com o casamento de Shatner e provocou uma turbulência na relação de Mulgrew com os filhos, que detestam “Jornada nas Estrelas” por esses problemas. Em outro momento muito curioso, Stewart, um ator shakespeariano, disse como levou a produção de uma série de TV como “Jornada nas Estrelas” a sério e criticava muito a falta de organização da produção na primeira temporada.

                                  Queda de braço com Chris Pine!!!

Shatner declarou, por sua vez que, depois de todo o sucesso de Spock, ele se sentiu secundário na série e se sentia magoado com o tom de galhofa com que era tratado em virtude disso. Isso fez com que ele renegasse um pouco o personagem Kirk. Só que, com as convenções, todos os chamavam de Kirk, algo que o irritava, pois ele era Shatner. O ator somente percebeu a força de seu personagem quando, ao pegar um jatinho para ir a Londres entrevistar Stewart, o presidente da companhia aérea Bombardier foi recebê-lo em pessoa no aeroporto para lhe dizer que começou a carreira de engenharia aeroespacial em virtude de Kirk e de “Jornada nas Estrelas”. Stewart, por sua vez, disse que aceita com naturalidade o fato de ser chamado de Picard, algo que soou como uma espécie de alívio para Shatner, já que ambos os atores têm uma identificação, pois começaram no teatro interpretando Shakespeare.

                               Brooks, o pianista

Se pudéssemos colocar uma espécie de ranking entre as entrevistas, eu diria que as conversas com Stewart e Mulgrew foram as mais emotivas e intimistas; a conversa com Bakula foi a que teve mais trocas de experiências pessoais; a conversa com Pine foi uma espécie de passagem de bastão do mestre para o discípulo, onde Shatner se derrete em elogios a Pine, e a conversa com Brooks foi a mais musical e um tanto estranha, até porque a personalidade de Brooks é um tanto excêntrica. De qualquer forma, foi legal ver Sisko ao piano cantando um jazz.

Boa conversa com Bakula. Troca de experiências…

Assim, o documentário “Capitães” é simplesmente um programa obrigatório para todos os trekkers de plantão. Ele está lá à disposição no Netflix. Se você já viu, reveja. Se ainda não viu, está intimado a ver, se divertir e se emocionar.

 

Batata Movies – Mark Felt, O Homem Que Derrubou A Casa Branca. Soturna Política.

              Cartaz do Filme

Um bom drama biográfico passa quase que despercebido por nossas telonas. “Mark Felt, O Homem Que Derrubou A Casa Branca”, escrito e dirigido por Peter Landesman, e que tem Ridley Scott como um dos produtores, reconstitui a história do vice-presidente do FBI que denunciou o caso Watergate à imprensa e ficou conhecido como “Garganta Profunda” por isso. O caso provocou a demissão de vários funcionários do primeiro escalão do governo americano no início da década de 70 e a renúncia do próprio presidente Richard Nixon. Para interpretar um personagem real tão cascudo assim, tivemos o bom ator Liam Neeson, que fez o papel com desenvoltura, numa ótima caracterização, onde a maquiagem o envelheceu bastante.

        Neeson como Felt. Boa caracterização

Esse é um tipo de filme em que não há cenas de ação e que exige muito do espectador, que deve ficar atento à trama o tempo todo para não perder o fio da meada. Mark Felt é uma figura e tanto na película, pois nunca foi presidente do FBI, mas ficou na retaguarda da figura do todo poderoso J. Edgard Hoover por muitos anos, conhecendo a fundo casos altamente confidenciais, o que despertava o medo de todos.

Sérios problemas familiares, apesar das      aparências

Com a morte de Hoover, ficava claro que o nome de Felt seria o imediato na sucessão da presidência do FBI, mas isso não ocorreu, muito provavelmente em virtude de todo esse temor que ele provocava. Felt fazia questão de frisar que o FBI era uma instituição austera e incorruptível, não sofrendo qualquer interferência de ninguém que fosse, nem da Casa Branca, para realizar suas investigações (o que, provavelmente, foi uma patriotada daquelas que a gente vê nos filmes americanos, pois é muito difícil uma instituição ser tão austera e incorruptível tal como o filme quer vender). Quando ele sentiu que o escândalo de Watergate iria ser abafado pela presidência, acabou botando a boca no trombone, mesmo que omitindo sua verdadeira identidade.

Procurando manter o FBI como uma instituição íntegra

Além da necessidade de atenção total do espectador na trama, podemos dizer que esse filme tem o tempo todo um clima altamente tenso e soturno, onde a política é a força motora. Ninguém vai ser morto, não haverá lances violentos, mas parece que eles nos espreitam a cada fotograma. E esse clima pesado envolve a gente, que já sabe o desfecho da coisa. Ou seja, o filme em si já é uma espécie de grande spoiler, por se tratar de um evento real. Por isso mesmo, o que importa aqui não é a conclusão, mas sim o desenrolar da história. Como foi essa denúncia? Como ela foi sendo construída ao longo do tempo por um personagem considerado tão austero? Para a coisa não ficar muito mecânica, esse clima tenso e soturno foi um elemento muito interessante no filme, justamente para dar uma componente um tanto dramática ao espectador e não somente ser algo descritivo e sem emoção.

                  Garganta Profunda em ação!!!

Além de Neeson, não podemos nos esquecer de Diane Lane no papel de Audrey, esposa de Felt, que sofria muito com as pressões que o marido sofria no emprego e nas constantes mudanças de cidade (e até de estado) que o cargo do marido exigia. Aliás, esse foi um lance interessante do filme, que mostrou a vida pessoal de Felt e todo o preço que ele acabou pagando por causa das responsabilidades de um emprego tão espinhoso, onde até a filha dele se distanciou e passou a fazer parte de um grupo que lutava pelos direitos civis, numa clara cisão familiar.

         O verdadeiro Mark Felt

Assim, “Mark Felt, O Homem Que Derrubou A Casa Branca” não é exatamente uma película espetacular, mas deve ser acompanhada com atenção pelo cinéfilo mais atento, pois é um bom trabalho de reconstituição política de um momento turbulento da História Política dos Estados Unidos. Neeson foi muito bem em seu papel e o clima sombrio de um filme embebido em tramas políticas é muito atraente. Vale a pena dar uma conferida.

https://www.youtube.com/watch?v=D77uJR53Apc

 

Batata Movies – Thor Ragnarok. Muito Engraçadinho, Mas Não Ordinário.

                  Cartaz do Filme

A Marvel ataca novamente com “Thor, Ragnarok”, o terceiro filme solo do Deus do Trovão e que conta com um tremendo nome de peso: Cate Blanchett, como Hela, a Deusa da Morte, irmã mais velha de Thor e de Loki. Esse foi um bom filme, bem ao estilo das demais películas da Marvel: muita ação, CGIs e humor, uma receita que tem dado certo, embora agora pareça que eles exageraram um pouco na mão do humor, aproveitando o lado mais lerdinho e burrinho de Thor.

                    Um Thor sem as madeixas…

A história gira em torno do chamado “Ragnarok”, ou seja, uma espécie de apocalipse da mitologia nórdica, onde Asgard será destruída. Loki (interpretado por Tom Hiddleston) toma o trono de Asgard e confina Odin numa casa de repouso na Terra. Quando Thor descobre tudo, ele obriga o irmão a ir atrás do pai junto com ele. Qual não é a surpresa quando os dois descobrem que a casa de repouso foi demolida? Mas aí entra o Dr. Estranho (interpretado por Benedict Cumberbatch) na jogada e ajuda os irmãos a encontrar o pai na Noruega, com um portal dimensional. Entretanto, eles encontram Odin à beira da morte, o que significa que Hela, a Deusa da Morte e filha mais velha de Odin está por perto. A ideia de Hela é tomar o trono de Asgard e colocar vários outros reinos sob seu domínio. O problema é que, na luta entre os três irmãos, Thor e Loki irão parar num estranho mundo governado por um tal Grão Mestre (interpretado por Jeff Goldblum, em excelente atuação), que coloca Thor para lutar contra seu campeão (o Hulk) numa arena. Caberá ao Deus do Trovão sair dessa tremenda encrenca para tentar salvar Asgard das garras de Hela.

             Novamente, a boa presença de Loki

Todo filme que fala de destruição e apocalipse geralmente tem um tom mais sombrio. Não foi o que aconteceu aqui. Pelo contrário. A carga de humor tão presente nas películas da Marvel, deu o ar de sua graça mais do que devia, o que ridicularizou um pouco nosso personagem protagonista. Não que isso seja ruim, mas parece que dessa vez ficou um tanto exagerado, mesmo que saibamos que, na mitologia nórdica, Thor é meio vaca brava mesmo. Sei lá, nesses filmes solo do Thor, confesso que sempre gostei muito mais do Loki, resultado do magnífico trabalho de Tom Hiddleston, cujo papel parece cair como uma luva para ele, principalmente quando ele dá aquele sorrisinho sarcástico. Ainda, temos aqui um vilão que é realmente do mal, mas ainda tem algum relacionamento afetivo com o mocinho. Nesse ponto, a analogia entre Loki e Magneto, outro grande personagem do Universo Marvel, se faz de forma imediata. E aí, o roteiro com lances cômicos funciona bem na interação entre os irmãos.

                 Dr. Estranho dá uma ajudinha…

Agora, as novidades. Jeff Goldblum esteve muito bem como o carnavalizante Grão Mestre, multicolorido e afetado, num mundo para lá de insólito. Ele conseguia ser odioso e engraçado, beirando o ridículo, ao mesmo tempo. Sentíamos toda a maldade dele, mas o personagem também conseguia esbanjar simpatia. Agora, o grande trunfo e novidade desse filme, sem a menor sombra de dúvida, foi Cate Blanchett. A mulher simplesmente arrebentou! Ela conseguia ser sensual e elegante ao mesmo tempo, ou seja, não era vulgar. E sua vestimenta negra, aliada com a maquiagem pesada, trouxe lembranças vivas das divas expressionistas do passado, tudo isso evocando uma alma maligna! Foi de encher os olhos! Tal trabalho da atriz já é uma espécie de cartão de visitas para o seu filme “Manifesto”, onde ela interpreta, de forma camaleônica, vários papéis, e que também está em cartaz.

                    Cate Blanchett, magnífica!!!

O mais curioso foi o desfecho, que foge do convencional e acabou sendo um tanto ambíguo, algo interessante, mas que os spoilers me evitam de revelar. Cá para nós, essa ambiguidade até esteve presente no filme pois, como já foi dito, um tema pesado como o apocalipse fica tratado de forma esquisita quando se exagera na dose de humor.

Assim, “Thor, Ragnarok” ainda segue a receita de sucesso da Marvel, embora agora tenha exagerado um pouco na mão do humor. Mas como a Marvel não dá ponto sem nó, desta vez ela caprichou nas aquisições do elenco, trazendo Jeff Goldblum e, principalmente, Cate Blanchett. Será que não dá para trazer Hela de volta nas próximas películas? Espero que sim. Ah, e não se esqueçam dos pós-créditos. São dois dessa vez.

https://www.youtube.com/watch?v=t9pEUhln7Ew

Batata Antiqualhas – Jornada Nas Estrelas. Radiografando Um Longa: A Terra Desconhecida.

             Cartaz do Filme

O filme “Jornada nas Estrelas 6, A Terra Desconhecida” seria o último longa metragem da tripulação da série clássica, não fosse “Generations”, onde Kirk, Chekov e Scott ainda dão o ar de sua graça, com a desnecessária morte de Kirk. Entretanto, o sexto filme da primeira tripulação da Enterprise deu um final digno àquela equipe, além de mostrar-se uma obra antenada com o seu tempo e os objetivos iniciais da série lá nos anos 1960. Vamos radiografar esse filme agora.

      Nossa amada tripulação em sua última missão

Só para recordarmos, Sulu é o capitão da Excelsior, uma nave que ele ficou admirando no terceiro e quarto filmes. Ficou a impressão que ele mexeu os pauzinhos certos para pegar a nave. Numa missão, ele testemunhará a explosão de Práxis, a lua klingon que é a principal fonte de energia do Império alienígena. Ao saber disso, Spock toma as rédeas das negociações de paz com os klingons e convence seus superiores a trazer para a Terra o chanceler Gorkon para as conversações.

            O grande trio ainda dando caldo

Obviamente, a Enterprise foi escolhida, pois segundo a frota espacial, os klingons não se atreveriam a gracinhas com Kirk por perto, para desespero do capitão. Contrariado com a situação, Kirk parte com a Enterprise para receber Gorkon. Mas o chanceler é assassinado depois de a Enterprise supostamente ter atirado no cruzador klingon, ter desligado a gravidade artificial e dois supostos membros da Federação terem se teletransportado para o cruzador, matando vários klingons a tiros de phaser, assim como o chanceler. Sob a mira dos torpedos fotônicos klingons, Kirk anuncia a rendição e se teletransporta junto com o Doutor  McCoy para o cruzador para oferecer assistência. Mas os dois acabam presos. O que se sucede é uma história onde a paz está ameaçada por uma conspiração envolvendo membros da federação trabalhando juntamente com klingons para manter o estado de beligerância e nossos heróis tentando resolver esse problema para trazer a paz.

           Encontro com o cruzador klingon

O que torna esse filme especial? Em primeiro lugar, a série clássica foi forjada dentro do contexto da Guerra Fria, onde todos os conflitos entre as nações haviam sido expelidos para o espaço. A noção de fronteira sempre foi um paradigma entre os americanos, segundo Frederick Jackson Turner, onde o povo saiu das treze colônias inglesas da América do Norte rumo ao oeste, expandindo as fronteiras americanas e indo além do Pacífico, pegando o Havaí, mas quebrando a cara no Vietnã. Não é à toa que o espaço é a fronteira final.

Gorkon e Kirk. Velhos guerreiros em busca da Terra Desconhecida

Como no século 23 todos os conflitos terrestres tinham sido abolidos, os inimigos agora são alienígenas como klingons e romulanos, alegorias da ameaça comunista da década de 1960. Mas em 1991, cai o Império soviético. Era necessário, então, um longa metragem com esse desfecho, sendo uma representação do fim da Guerra Fria. Nada mais claro nisso do que a conversa entre Kirk e Spock depois da reunião no QG da frota. Kirk, enfurecido, pergunta por que Spock o colocou naquela rabuda de escoltar os klingons, ao que Spock respondeu: “Há um antigo provérbio vulcano: somente Nixon poderia ir à China”. Emblemático.

Cena do julgamento. Um magnífico Plummer e o “avô de Worf”

Outra característica marcante do filme foi a necessidade de se explicar a presença de um klingon na ponte da Enterprise D (nosso estimado Worf, da “Nova Geração”). A nova série de TV, iniciada em 1987, exigia que em algum momento, a paz com os klingons fosse exibida. O fim da Guerra Fria foi o contexto ideal. Uma curiosidade a respeito é que o ator que interpreta Worf na “Nova Geração” também interpreta o advogado de defesa klingon na magnífica cena do julgamento de Kirk e McCoy (reza a lenda que o advogado seria o avô de Worf). Ainda no universo klingon do filme, temos a presença do consagrado ator Christopher Plummer, o pai ranzinza de “A Noviça Rebelde” (confesso que quando revi “A Noviça Rebelde” depois de “A Terra Desconhecida”, a primeira imagem de Plummer no filme me trouxe um “Q’aplá!”, a saudação klingon, à cabeça).

    Kirk enfrentando problemas em Rurah Penthe.

Gosto muito de ver atores consagrados trabalhando em franquias, acho que isso leva mais credibilidade a elas. A única exigência de Plummer foi que seu personagem Chang não tivesse longas cabeleiras. Mas até as cristas na testa ele aceitou. Genial! Outro detalhe notável foi associar os klingons a Shakespeare. Tudo a ver! Amantes da violência explícita! Por isso que se deve ler Shakespeare no original, ou seja, em klingon!

                  Enterprise A sem escudos!!!!

Mais um detalhe interessante: a relação entre Spock e a vulcana Valeris, que ele considerava ser sua herdeira. Nosso primeiro oficial tem uma afeição praticamente filial pela novata e sua decepção fica muito clara quando descobre que ela faz parte da conspiração e precisa fazer o elo mental nela para descobrir os membros da conspiração. Nota-se que, ao contrário do que ocorria na série clássica, ele não tem o menor pudor de esconder as emoções. Isso por dois motivos: a decepção fora enorme e por estar cercado de amigos de longa data que já sabiam de seu lado humano. De qualquer forma, sempre é bárbaro ver Spock revelando suas emoções, ainda mais numa situação de desalento como essa.

       Spock e Valeris. Afeto e mágoa

Por fim, a conspiração. Se na série clássica a Federação aparece como algo totalmente racional e asséptico a atitudes pouco virtuosas (reproduzindo um espirito talvez de inspiração positivista, totalmente falso para cabeças “menos evoluídas” do século 20), neste filme vemos membros da Federação conspirando junto com klingons para manter a guerra, algo mais palpável com nossa realidade. Esses desvios de caráter de membros da Federação são também vistos em “Deep Space Nine”. Os que conspiram são aqueles que temem um mundo de paz no futuro, a “Terra Desconhecida” que Gorkon brindou no sensacional jantar na Enterprise.

Final feliz. Pela última vez, tripulação salva o dia

Por essas e por outras, “Jornada Nas Estrelas 6, A Terra Desconhecida” é um filme de fundamental importância na franquia mais amada de todos os tempos (na minha modestíssima opinião).