Batata Movies – Sepultura Endurance. Documentário Convencional.

Cartaz do Filme

Um documentário brasileiro passou rapidamente por nossas telonas. “Sepultura Endurance” fala sobre a banda de trash metal brasileira que em trinta anos de carreira se tornou uma das mais importantes no cenário mundial de seu segmento. Nos cem minutos de duração do filme, pudemos ver um documentário altamente convencional, sem voos mais ousados. A ideia foi pura e simplesmente retratar não somente o cotidiano atual da banda, como também de traçar um histórico da mesma.

Os caras!!!

Muitas entrevistas e trechos de shows eram alternados com depoimentos dos músicos, assim como filmagens de ensaios e gravações. Foi muito interessante testemunhar a gênese do Sepultura, onde jovens moleques simplesmente se divertiam fazendo shows e popularizando sua imagem no exterior atraves de cartas escritas aos lendários fanzines. A distância que a América do Sul tinha perante ao mundo dito desenvolvido, numa época em que não havia internet e a comunicação era feita basicamente por carta, deu uma dimensão mítica ao Sepultura lá fora, o que somente aumentou a curiosidade sobre a banda. Outro elemento que chama muito a atenção é a grande admiração dos músicos estrangeiros pelo Sepultura, maravilhados pela forma hábil como os integrantes da banda aliaram harmoniosamente músicas de origem indígena com a violenta batida do trash metal.

No início, tudo era festa…

A jornada estafante das turnês pelo mundo afora e as querelas com os irmãos Cavalera (que não quiseram participar do documentário) são também abordadas, assim como a introdução do novo vocalista, Derrick Green, que foi num primeiro momento rechaçada por alguns. Sei não, confesso que sou um leigo no tema, mas a introdução de Green como vocalista a meu ver deu muito mais carisma ao grupo, pois a sua presença é muito forte, maior que a de Max Cavalera. Já musicalmente não tenho condições de avaliar alguma coisa. Mas só sei que gosto muito de ver Green no grupo.

Depois. intermináveis turnês…

Assim, “Sepultura Endurance” é um bom documentário sobre a famosa banda de trash metal brasileira, que busca produzir um material para os fãs com uma linguagem bem simples e convencional, embora isso não signifique que o documentário seja ruim, pelo contrário. Só é de se lamentar que muito poucas músicas tenham passado na íntegra ao longo do filme.

Batata Movies – O Filme Da Minha Vida. Reificando O Singelo.

                Cartaz do Filme

Selton Mello está de volta ao cinema, assinando a direção. Depois do bom “O Palhaço”, o ator traz “O Filme da Minha Vida”, onde ele assina o roteiro, baseado num romance do autor chileno Antônio Skármeta, conhecido no cinema por escrever obras do naipe de um “O Carteiro e o Poeta”. E, dessa vez, Mello caprichou, pois ele conseguiu reunir num filme talentos da magnitude de um Vincent Cassel e um Rolando Boldrin. Isso sem falar da boa revelação de ator que foi Johnny Massaro. Mello conseguiu colocar no cinema uma história muito simples de um rapaz de uma cidade do interior do Rio Grande do Sul de uma forma tão soberba que podemos dizer que houve uma reificação, não no sentido pejorativo do termo, onde se elege algo e se cristaliza isso, tornando algo excessivamente solene e imutável, mas sim uma reificação onde tudo na vida, por mais simples que seja, pode assumir uma dimensão gloriosa.

Tony. Um rapaz com desejos, aspirações e dores

Vemos aqui a história do jovem Tony (interpretado por Massaro), o tal menino de vida simples que admirava enormemente seu pai Nicolas (interpretado por Cassel, um francês que era um grande exemplo para o filho). Um belo dia, Tony já está crescido e precisa se retirar da cidade para estudar para obter a profissão de professor. Quando ele retorna, descobre que o pai misteriosamente voltou para a França, sem deixar vestígios. O rapaz, então com 29 anos, leva a vida de professor, interage com sua mãe e o amigo de seu pai, Paco (interpretado por Mello), segue em seus flertes com a amiga Luna (interpretada por Bruna Linzmeyer) e, lá no fundo, sente uma falta enorme de seu pai. A única coisa que alivia essa sua saudade é a paixão incontrolável pelo cinema e a vontade de frequentar o Cine Roxy, na cidade vizinha. Será exatamente nesse cinema que a vida do Tony sofrerá uma reviravolta. Mas chega de spoilers por aqui.

                Um paizão perdido…

Essa é uma história que cativa o espectador de forma imediata. Todos os elementos com os quais qualquer pessoa se identifica estão lá: o primeiro amor, a primeira vez, a afeição filial, o sofrimento da ausência. É impossível a gente não se encaixar num desses elementos. Mas Mello conseguiu fazer isso de um jeito muito singelo, sem explosões emocionais mais carregadas. Tony sofria, mas ele não transparecia isso, exceto num momento em que ele toma uma atitude mais destemperada. Por mais artificial que isso possa parecer, a coisa não ficou muito pronunciada graças à boa atuação de Johnny Massaro, que conseguiu ser suave em todo o tempo, mas também usou doses comportadas de dramaticidade nos momentos certos. Sua cara ao sair da salinha de cinema maravilhado com o filme que acabou de assistir toca no fundo do coração de qualquer cinéfilo. Mello também atuou muito bem. Sua pouca idade para o papel foi compensada por uma barba estrategicamente inserida e pela interpretação perfeita de um homem rude e rústico, convencendo bastante. Foi uma pena que Rolando Boldrin tenha aparecido pouco. Teria sido muito legal se a gente tivesse tido mais oportunidades de apreciar seu talento artístico. Ver Skármeta, o autor do livro que deu origem ao filme, também é digno de nota. Mas a grande estrela do filme, sem a menor sombra de dúvida, foi Vincent Cassel. Falando um português perfeito, apesar do sotaque francês obrigatório para o papel, Cassel foi grandioso como o verdadeiro paizão, mas foi além como o pai arrependido que deixa o filho para trás. Ele foi, assim como Massaro, de uma suavidade incrível na sua interpretação.

                                 Gurias sedutoras…

Outra coisa que muito chamou a atenção foi o uso de closes. Esse é um elemento pouco explorado hoje em dia de forma tão expressiva. E é legal ver Mello resgatar isso, cujos filmes de Walter Hugo Khouri são o maior exemplo no Brasil. Num filme de poucas explosões emocionais e altamente singelo, os closes e sua expressividade se sobressaíam bastante.

Selton Mello muito bem, envelhecido, xucro e soturno…

Assim, “O Filme da Minha Vida” é mais uma grata surpresa de nosso cinema e a constatação de que Mello deu um passo à frente em seu talento como diretor, escritor e realizador de filmes. Ele consegue transformar o mais singelo numa história em que todos nós nos prendemos e nos identificamos, além de ter conseguido um baita de um elenco, com atores muito expressivos, principalmente em seus closes. E tudo isso sem explosões emocionais mais profundas. Vale a pena prestigiar essa pequena joia de nosso cinema.

 

Batata Movies – Alien Covenant. Criadores E Criaturas.

                                  Cartaz do Filme

E “Alien Covenant” passou nos cinemas. Por que esse filme tem uma relativa importância? Porque ele vai fazer uma ponte entre a franquia Alien e o filme “Prometheus”, ambos saídos das mãos de Ridley Scott. E que tinha um grande atrativo afora o monstrengo: a presença de Michael Fassbender, novamente interpretando o androide David, de “Prometheus”.

                       David, o robô perfeito…

O enredo do filme não foge muito dos demais. Uma nave espacial de nome Covenant viajando para estabelecer colônias em planetas distantes. E aí, essa nave encontra um planeta aparentemente habitável que parece ser um verdadeiro paraíso. Mas aí ele é cheio de bichinhos mortais. E então os tripulantes da nave espacial colonizadora saem de uma ficção científica um tanto promissora para uma mistura de horror e suspense que não é tão promissor assim. A virtude desse filme talvez esteja no fato de que ele é uma continuação de “Prometheus”, um filme que tem um pouco mais de conteúdo que alguns filmes da franquia Alien. E, principalmente, por causa de Michael Fassbender, que (alerta de spoiler) faz dois personagens: os androides Walter, que vem com a Covenant e David, que está no planeta que a nave chega. Walter é um robô menos desenvolvido que David, já que este segundo era tão avançado e chegava tão perto dos humanos que incomodou seus criadores, que acharam melhor fazer versões robóticas menos avançadas, das quais Walter fazia parte. Fassbender destilou todo o seu talento nesses dois personagens e sua interpretação ficou a anos-luz dos demais atores da película. Confesso que fui ao cinema somente para vê-lo, ao bom estilo dos filmes cuja principal atração é o ator que você admira.

              Um planeta aparentemente idílico…

Algumas críticas que o filme fez foram no sentido de que, assim como em “Prometheus”, os cientistas de “Alien Covenant” foram um pouco descuidados ao interagir com a superfície do planeta a ser explorado e com seu meio ambiente. Creio que essa crítica em “Prometheus” até seja válida, mas se a mesma coisa foi repetida em “Covenant”,aí a gente tenha que refletir por que. Talvez o diretor tenha querido fazer uma galhofa com a coisa mesmo, talvez ele tenha querido fazer uma crítica à arrogância do possibilismo humano. De qualquer forma, uma das personagens do filme, Daniels, era a que tinha uma posição mais cautelosa entre todos da equipe. Muitas críticas foram ouvidas também com relação a esta personagem. Mas creio que elas tenham sido um pouco exageradas. Comparar Daniels com Ripley é um pouco de forçação de barra a meu ver. A personagem de Covenant passou por um trauma muito grande ao ver o marido incinerado, o que passou uma sensação de fragilidade imensa da personagem ao início da película, algo que, por exemplo, não aconteceu com Ripley. Mas ela era a voz da razão na nave, e ainda mostrou compreensão quando viu outros personagens reconhecerem seus erros. E foi ela que peitou o monstrão ao fim do filme, numa cena de ação com situações bem absurdas. A personagem de Ripley teve enorme importância, pois foi um ícone do empoderamento feminino em plena década de 80, atingindo grande relevância. E fazer uma comparação desse naipe com a personagem de Daniels chega até a ser uma covardia com esta última, não podendo servir como parâmetro.

             … tem um passado apocalíptico

Mas a grande questão do filme ainda reside na questão do criador e da criatura. Isso já aparece no início do filme na grande sequência do diálogo de Weyland (o dono da empresa que empreende a colonização fora da Terra) e David. Nessa conversa, podemos atestar como a criatura vê o criador e vice-versa, quais são as virtudes e limitações que um tem com relação ao outro. E de como uma criatura quer também se transformar em criador, repetindo os desejos e movimentos de quem a criou. Tudo isso faz o filme ter uma grande virtude que suplanta o terror de um monstro que despedaça corpos humanos. Ou seja, há um debate reflexivo interessante implícito nas entrelinhas desse filme de horror com verniz de ficção científica.

                      Filhotinho…

Assim, se “Alien Covenant” não chega a ser um grande filme, ele tem sua importância por ser a ponte entre “Prometheus” e a franquia Alien, faz um interessante debate sobre a natureza do que é ser criador e ser criatura e, principalmente, tem Michael Fassbender colocando todo o elenco do filme no bolso. Vale a pena dar uma conferida.

https://www.youtube.com/watch?v=vHvR44EO2nk

Batata Movies – Patton, Rebelde Ou Herói? Made In Usa.

                     Cartaz do Filme

Dia desses eu estava fuçando meus alfarrábios quando encontrei uma pequena relíquia: o DVD do filme “Patton, Rebelde ou Herói”, que ganhou sete oscars em 1970 (melhor filme, ator para George C. Scott, diretor para Frank J. Schaffner, roteiro original para Francis Ford Coppola e Edmund H. North, direção de arte, som, montagem). E por que esse filme é uma relíquia? Porque ele consagrou a atuação de um nome muito conhecido entre os atores de Hollywood: George C. Scott. Curiosamente, o ator não aceitou o prêmio, alegando que não se sentia à altura dos outros concorrentes. De qualquer forma, não é essa a impressão ao assistirmos “Patton”.

                                Um general turrão

Mas, do que consiste a história? Esse é um filme de guerra e vemos aqui a trajetória do general George Patton (interpretado por Scott), um militar casca grossíssima que lutou no front africano durante a Segunda Guerra Mundial. Ele era o único general aliado realmente respeitado pelos nazistas, que até colocaram um oficial para pesquisar sua vida. Patton tinha como lema sempre atacar e jamais recuar. Extremamente carismático, ele tratava os soldados feridos como filhos, chegando a afagá-los. Mas era extremamente rude com soldados não feridos que alegavam distúrbios psicológicos para estarem na enfermaria. Na visão do severo general, eles eram covardes que deveriam ir direto para a linha de frente, o que causou alguns problemas com o alto comando do exército americano, já que Patton chegou a espancar um soldado “covarde”. Nosso general também era amante de guerras antigas, como as guerras púnicas entre romanos e cartagineses, ou a guerra grega do Peloponeso entre Esparta e Atenas, acreditando piamente que tinha participado dessas batalhas em vidas passadas. Patton odiava o século vinte e a tecnologia, que tiravam o “glamour” da guerra e a luta pela honra. Derrotou Rommel, um grande general nazista, pois havia estudado suas táticas de batalha e lido seus livros. Só que o general tinha defeitos muito graves. Um deles era o de ser um tremendo “língua de trapo”, sendo muito desbocado em público e falando o que pensava na cara de quem quisesse, ou seja, nota zero em diplomacia, o que era um problema para os aliados, que tinham que costurar tortuosas alianças com países como a União Soviética, por exemplo. Outro grande defeito estava no fato de que o homem era muito vaidoso, chegando ao ponto de colocar colegas militares próximos em batalhas suicidas somente para ele colher os louros da vitória sozinho depois.

Ele acreditava estar em batalhas de vidas passadas…

Além da atuação magnífica de Scott, não podemos deixar de falar da atuação do ator Karl Malden no papel do general Omar Bradley, amigo mais próximo de Patton, o que não o impediu de passar por um monte de sinucas de bico armadas pelo protagonista, o que dava aos dois uma relação um tanto tempestuosa. O ator foi muito bem e não seria surpresa um Oscar de ator coadjuvante para ele, o que infelizmente não aconteceu.

O filme também prima por excelentes cenas de guerra, com mortes de soldados muito bem coreografadas e o uso de tanques e muitas, muitas explosões, dando um grande tom de realidade para filmes feitos à época. Foi uma pena esse filme não ter ganhado o Oscar de efeitos visuais, categoria para a qual também tinha sido nomeado (o filme recebeu dez nomeações ao todo).

                O verdadeiro Patton

Assim, “Patton” é uma pequena relíquia do passado que deve ser rememorada, pois consagrou o talento de George C. Scott, trouxe a boa atuação de Karl Malden e foi um filme de guerra com cenas de bom realismo. Vale a pena procurar por aí. Veja, abaixo, o discurso de Patton ao início do filme.

https://www.youtube.com/watch?v=uDdi0h-dXEk

Batata Movies – O Estranho Que Nós Amamos. Boas Anfitriãs!!!

                    Cartaz do Filme

Um remake na área. “O Estranho Que Nós Amamos”, escrito e dirigido por Sofia Coppola, traz de volta uma película de 1971, “Ritual de Guerra”, estrelada por Clint Eastwood. Me lembro de ter visto esse filme legendado na TV aberta numa Sessão de Gala da vida e muito me chamou a atenção a situação sui generis da história: um homem ferido sendo cuidado por várias mulheres de idades diferentes, onde houve um perigoso jogo de sedução com desfecho trágico. E tudo isso ambientado na Guerra Civil Americana. Foi um drama tenso e pesado e fiquei muito impressionado com o filme. Agora, Coppola reconta a história com muita fidelidade ao original, lançando mão de um grande elenco: Colin Farrel, Nicole Kidman, Kirsten Dunst, Elle Fanning.

                     Moças muito recatadas…

Mas, como é a história exatamente? John McBurney (interpretado por Farrell) é um militar ianque que está ferido na Virgínia, ou seja, em território confederado. Ele é encontrado por uma garotinha que vive numa escola para moças. Ajudado pela menina, McBurney vai para a escola, dirigida por Miss Martha (interpretada por Kidman), uma senhora sulista extremamente recatada, religiosa e conservadora. Outra figura importante (e adulta) da escola é a professora Edwina (interpretada por Dunst). Há, ainda, um punhado de mocinhas menores de idade. Há um medo inicial nelas de se manter o inimigo dentro da escola. Mas a curiosidade e a tentação de uma presença masculina falaram bem mais alto e McBurney foi tratado às escondidas do exército confederado. À medida que o homem foi melhorando, ele percebeu o interesse da mulherada por sua pessoa e começou a seduzi-las para garantir um esconderijo enquanto se recuperava. O problema é que ele ainda era um inimigo na escola e qualquer passo em falso poderia levar à sérios problemas, como de fato acabou ocorrendo. Só que não darei mais spoilers aqui.

                      Um ianque interesseiro

Bom, nem é preciso dizer que um remake traz à tona a inevitável comparação com o filme original. Infelizmente, faz muito tempo que vi o filme de 1971. Mesmo assim, a impressão que ficou é a de que o filme antigo pareceu mais tenso e pesado. Eastwood sempre teve uma cara muito menos amigável para um papel desse naipe. Deve ser algum estereótipo na minha cabeça provocado pelo Dirty Harry (Farrell, por sua vez, parece um ator mais adequado para o papel). Mas me lembro que a coisa tinha um quê mais rude. Como dessa vez tivemos muitas beldades de rostinhos de porcelana como a Kidman, Dunst e Fanning, a coisa transpareceu um pouco mais suave, embora isso não signifique que não tenha havido os momentos de tensão que essa história exige. Só que eles pareceram muito mais estanques dessa vez.

                                 Jogos de sedução…

Para não se achar que essem filme ficou pior que o original, podemos dizer que a versão de 2017 tem um enorme trunfo: uma sensacional fotografia realizada em ambientes altamente escuros. A propriedade sulista mal cuidada e decadente era circundada por árvores frondosas e que pareciam invadir toda a tela, dando a sensação de que estavam em cima da gente. Esse ambiente externo claustrofóbico e escuro já chama a atenção no início do filme. Mas a coisa vai além, principalmente nas filmagens do interior da escola, já que uma parte do filme se passava à noite, onde a única iluminação era à luz de velas, tornando tudo ainda mais escuro. Pontaço para Sofia Coppola aqui, que nos levou direto ao século XIX nesse quesito. E esse ambiente enegrecido muito ajudou, pois parecia que ele contaminava as almas de todos, tornando as relações humanas de formais para soturnas, chegando à explosões de desespero. Todo o conservadorismo daquela sociedade sulista se mostrou num espectro amplo, indo do recatado ao diabólico, em todos os sentidos. Definitivamente, a hospitalidade sulista é algo totalmente dispensável se foi o que vimos na película. Só que os spoilers me impedem de entrar em mais detalhes.

                    Iluminação à luz de velas…

Assim, “O Estranho Que Nós Amamos” é um interessante caso de remake que, se mostrou algumas deficiências com relação ao original, também mostrou virtudes. O filme atual me pareceu menos tenso que o antigo, mas também teve a virtude de ter uma fotografia excelente em ambientes muito escuros e angustiantes e trouxe uma boa interpretação de Farrel, que tem mais “jogo de cintura” que Eastwood para o papel de sedutor e interesseiro que era McBurney. Vale a pena dar uma conferida e procurar a versão antiga no You Tube.

https://www.youtube.com/watch?v=zDkZewDP39M

Batata Movies – Valerian E A Cidade Dos Mil Planetas. Idílios E Distopias.

                   Cartaz do Filme

Na longínqua década de 80, a gente tinha o hábito de ler todos os domingos no jornal “O Globo” um suplemento de quadrinhos chamado “Globinho”. Lá, podíamos ler várias tiras: Zé do Boné, Pinduca, Mickey, etc. Até o Incrível Hulk deu o ar de sua graça. Num daqueles domingos, provavelmente depois de uma vitória do Ayrton Senna na TV, abri um “Globinho” e me deparei com um tal de “Valerian, O Agente Espaço-Temporal”. Num primeiro momento, não dei muita bola para aquilo, pois as tiras contavam uma história em sequência todos os dias no jornal e não as acompanhei, pois a gente comprava o jornal somente aos domingos. Entretanto, a tira começou a contar uma nova história, até com o traço de um novo desenhista, e ela passou a ser semanal. Desse jeito, eu pude acompanhar a história. Lembro-me muito pouco dela, mas recordo-me que era muito instigante e aguardava sempre a tirinha da semana seguinte com grande ansiedade e expectativa. Qual não foi a minha surpresa quando vi o trailer de Valerian, ainda mais escrito e dirigido pelo ultra porra-louca Luc Besson? Confesso que fiquei com uma boa esperança de que a coisa fosse dar certo e aguerdei ansioso o filme desde o início do ano. Pois bem, vieram as primeiras exibições de cabine de imprensa e quem viu não teve uma boa impressão, muito pelo contrário até. O filme foi muito esculachado. Como eu queria muito ver essa película, fui assim mesmo.

                     Casal de atores não ajudou…

Qual é a história de Valerian? O agente espaço-temporal e sua fiel escudeira/companheira/amante Laureline são agentes militares (Valerian é major e Laureline sargento) de uma espécie de Federação terrestre que administra uma gigantesca estação espacial conhecida como “A Cidade dos Mil Planetas”, contendo milhões de espécies de todo o Universo. Um setor dessa estação está radioativo e inacessível e Valerian, juntamente com Laureline, precisam investigá-lo. Mas esse setor abriga um segredo que confunde o papel de mocinhos e bandidos ao longo da história, só para fazermos uma sinopse bem rápida e não soltar muitos spoilers.

                                      Bichinhos…

Qual foi a primeira grande coisa que a gente nota nesse filme? O impacto visual. Os efeitos especiais mostraram ao inicio um planeta alienígena altamente idílico e paradisíaco, supercolorido, dando um tom bem água com açúcar. Os nativos eram esguios e falavam quase sussurrando de forma bem doce, num forte contraste com a sociedade mecanizada e industrializada dos humanos da Cidade dos Mil Planetas. Apesar de muitos bichinhos alienígenas ao longo da película (e não é que Besson teve um surto de George Lucas?), o mundo paradisíaco inicial foi um belo cartão de visitas. Já a história, o enredo do filme em si, foi mediana e até um certo ponto entediante em alguns momentos, embora tivesse pitadas coerentes de distopia. A comunidade utópica da Cidade dos Mil Planetas tem seus problemas sociais e econômicos. E a escolha do grande vilão corroborava a distopia, bem ao estilo do “bandido mais próximo de si do que você imagina”, tomando um monte de atitudes politicamente incorretas, mesmo que a história esteja avançada cinco séculos no tempo.

      Rihanna, por incrível que pareça, foi bem…

O elenco teve algumas pérolas inusitadas, bem ao estilo doido de Luc Besson: um Rutger Hauer envelhecido, cuja aparição meteórica deu grande credibilidade ao início do filme, um Herbie Hancock (!) no papel de um militar de alta patente, passando uma visão muito austera, um Ethan Hawke todo iluminado (!!) como dono de casa de mulheres de fino trato, e uma Rihanna (!!!) no papel de uma sensual alienígena, cuja dança em pole dance assumiu uma plasticidade (e elasticidade) jamais vistas antes, graças ao bom e velho CGI. Agora, o grande problema do filme foi, sem a menor sombra de dúvida, a escolha dos atores do casal protagonista. Dane Dehaan, o Harry Osborne do Homem Aranha de Andrew Garfield, que interpretou Valerian, e Cara Delevingne, que interpretou Laureline, são muito fraquinhos. A voz de Dehaan parecia muito abobalhada e os trejeitos de Delevingne lembravam muito os de uma pré-adolescente malcriada. Sinceramente, eu não me lembro de Valerian e Laureline desssa forma. Ainda, apesar de minha experiência com os quadrinhos franceses de Valerian ter sido muito vaga, pode-se dizer que os atores aparentam ser relativamente novos para os personagens. Como a história é muito focada no casal protagonista, o filme acabou perdendo bastante.

O diretor Luc Besson e o casal protagonista… não rolou…

Assim, “Valerian e a Cidade dos Mil Planetas” não é de se jogar fora, mas também não empolga. Vá ao cinema, mas não espere muito. Uma pena…

https://www.youtube.com/watch?v=Up-qw0eLF1g

Batata Movies – Homem Aranha, De Volta Ao Lar. Covardia Com A DC.

                Cartaz do Filme

A Marvel ataca novamente lançando desta vez a terceira geração do Homem Aranha. Estrelado agora por Tom Holland, o aracnídeo retorna em grande estilo, pouco depois de Mulher Maravilha ter sido lançada pela DC. E pode-se dizer que, mais uma vez a Marvel deu um toco na concorrente. Já está chegando a dar pena.

Peter Parker, agora interpretado por Tom Holland

O mais curioso é que a história das origens de Peter Parker não é contada, como já ocorrera nas versoes estreladas por Tobey Maguire e Andrew Garfield. Ja temos a referência direta a “Guerra Civil”, onde Parker tinha uma ligação com Tony Stark, que desenvolveu o super traje do Aranha. Sabemos que nos quadrinhos de “Guerra Civil”, esse traje era ainda mais irado que o do filme, mas podemos dizer que a roupa da pelicula também era rica em dispositivos, o que às vezes embananava nosso herói.

                               Tony Stark, o mentor

Por que esse novo Homem Aranha é tão bom? Em primeiro lugar, a Marvel lançou a receita de sempre, que é fazer um filme de ação com muito humor. Tem gente que não gosta muito disso. Mas eu devo confessar que adoro os filmes da Marvel, justamente por essa química muito bem feita (já tive a oportunidade de mencionar isso outras vezes). E o mais curioso é que fazer humor é algo muito difícil, sendo que é necessário, no mínimo, ser constantemente original. A Marvel consegue em seus filmes usar um gênero extremamente exigente e arriscado como o humor para justamente dar um novo frescor a cada história que conta na telona. E isso deu muito certo com um personagem engraçado e divertido como o Homem Aranha. Alías, devemos tirar também o chapéu para Tom Holland. A primeira impressão que ficou dele em “Guerra Civil” era a de que Holland não interpretava Peter Parker, mas sim interpretava Tobey Maguire interpretando Peter Parker. Nesse filme, o jovem ator consegue colocar um estilo todo seu, superando Andrew Garfield (que funciona muito melhor em filmes dramáticos) e, chegando perto de Tobey Maguire, ainda o melhor Homem Aranha em minha modestíssima opinião.

Michael Keaton arrebentou como o vilão Abutre

Uma grata surpresa foi a participação de Michael Keaton na película como o vilão Vulture (Abutre). Tem havido uma série de críticas aos vilões dos últimos filmes da Marvel (opinião que nem sempre eu compartilho). Mas agora parece que a Marvel trouxe um vilão à altura. Keaton term provado que ficou muito melhor com a idade, sobretudo quando vemos seus últimos trabalhos. E não foi diferente agora. Seu vilão se mostrou frio, calculista e, principalmente, com argumentos até certo ponto convincentes para ter se enveredado para o caminho do mal. Um homem que quer garantir o conforto da esposa e da filha e que diz uma grande verdade: “Os ricos não se importam com a gente”, ou seja, um cara que tinha empatado uma grana boa em reciclagem e que vai tomar uma rasteira (alerta de spoiler) justamente de quem? Isso mesmo, caro leitor! Tony Stark! Esse pequeno elemento faz a gente ter uma certa empatia com o bandido, apesar de tudo. E Keaton convencia em sua atuação, até nos momentos mais inusitados do filme. Mas não entrarei em detalhes.

                                   Que Tia May!!!

Outra coisa que ficou ótima no filme foi a repaginada em Tia May. Agora ela é uma Marisa Tomei na meia idade, como já tínhamos visto em “Guerra Civil”. Entretanto, aqui a atriz teve mais espaço para trabalhar a personagem, conquistando o coração da galera, mesmo que ela tenha ficado excessivamente doce e melosa em alguns momentos, ficando até meio bobinha. Entretanto, Marisa Tomei nunca esteve tão sensual num papel e enche os olhos vê-la da forma mais adocicada possível.

Por fim, o desfecho. Apesar de eu não poder contá-lo, achei-o muito engraçado e deu uma chave de ouro digna ao filme. Cenas pós-créditos? Há duas, tem que ficar até o finzinho, sendo que a última é também uma zoação.

Assim, nem sei se “Homem Aranha, De Volta Ao Lar” conseguirá os recordes de bilheteria de “Mulher Maravilha”, mas ficou a impressão de um filme melhor e que, confesso, me divertiu como há muito tempo eu não me divertia no cinema. Vá sem medo, vale muito a pena.

https://www.youtube.com/watch?v=iuGDjaZOKuk

 

Batata Movies – Mulher Maravilha. O Melhor Da DC.

                 Cartaz do Filme

Há algum tempo atrás, estreou “Mulher Maravilha”, uma importante cartada da DC no combate com a Marvel. Gal Gadot e sua personagem já havia chamado muito a atenção em “Batman vs. Superman”, um filme que teve suas virtudes, mas também teve seus defeitos e não conseguiu fazer frente à “Guerra Civil”, lançado logo depois. A DC, então, apostou suas fichas na simpática Gadot e na sua aura de empoderamento feminino que arregimentou uma legião de mulheres (e homens) aos cinemas.

                       Gal Gadot. Apaixonante… 

Mas, do que se trata a história? Temos aqui uma ilha somente de mulheres, amazonas guerreiras forjadas na antiga mitologia grega com o intuito de combater o Deus grego da Guerra, Ares. Só há mulheres adultas na ilha, exceto pelo fato de existir uma pequena menininha chamada Diana, filha de Hipólita (interpretada por Connie Nielsen), a rainha da ilha. Hipólita quer manter Diana afastada das sangrentas batalhas de outrora orquestradas por Ares, mas a garotinha desde cedo só queria saber de lutas e batalhas, sendo treinada secretamente por sua tia Antíope (interpretada por Robin Wright). Um belo dia, um avião rompe a barreira que protege a ilha do mundo exterior e cai no mar. Diana vê o acidente e salva o piloto, Steve Trevor (interpretado pelo “Capitão Kirk” Chris Pine). Vai ser aí que Diana perceberá que a Primeira Guerra Mundial está em curso e que isso só pode ser obra de Ares. Diana, então, irá com Trevor para Londres e de lá para o front de batalha, onde acredita que encontrará o Deus da Guerra.

                        Hipólita, mãe de Diana

Numa primeira análise, o filme é muito bom, salvo um pequeno defeito: ele foi um pouco arrastado na parte centrada em Londres logo após a chegada de Diana até o momento em que há a primeira grande cena de ação da personagem protagonista no front, quando a película realmente começa a esquentar. A parte inicial da ilha chegou a ser muito didática, explicando detalhadamente toda a mitologia grega envolvida na história, sendo muito atraente, pois construiu bem a personagem de Diana, algo do qual sentimos falta em “Batman vs. Superman”, embora devamos nos lembrar de que naquela película ela não tenha sido a personagem principal. Mesmo assim, ficou a impressão de que ela foi muito mal apresentada naquela ocasião. Outra virtude do presente filme foi a reconstituição da época da Primeira Guerra Mundial, feita com bons detalhes e ficando muito convincente.

         Antíope iniciará Diana no ofício da guerra.

O filme também não podia deixar de abordar a questão do empoderamento feminino, ainda mais numa época de machismo mais latente que o de hoje. Optou-se por trabalhar essa questão em alguns momentos com uma boa e precisa dose de humor sarcástico e, em outros momentos, de forma mais séria. Houve uma pequena imprecisão histórica (alerta de spoiler): lançou-se mão de um personagem real, o general Ludendorff, como um dos vilões do filme, e ele acabou sendo morto pela Mulher Maravilha ainda na Primeira Guerra Mundial. Mas é sabido que Ludendorff participou de uma tentativa fracassada de golpe na Alemanha em 1923, juntamente com Adolf Hitler, que ficou preso apenas um ano (Ludendorff nem para a cadeia foi). Essa situação um tanto incômoda de se ver um personagem real sendo morto num filme poderia ter sido evitada, simplesmente usando um personagem fictício. Mas o filme acertou na mosca ao abordar a questão da guerra e fazer uma ponte entre a Primeira Guerra Mundial e os dias atuais, quando mencionou o uso de armas químicas, presentes tanto no conflito do século passado quanto na atual Guerra da Síria. No mais, podemos dizer que a história foi muito bem construída, e Gadot arrasou, distribuindo carisma e sorrisos, sendo menos sisuda que a Mulher Maravilha de “Batman vs. Superman”. A se lamentar aqui foi a pieguice de se colocar uma fala para a protagonista do naipe de “Eu acredito no amor!”. Parecia que a gente via uma daquelas novelas mexicanas que o SBT passa de tarde. Diana Prince não merecia isso.

Steve Trevor levará Diana para o mundo exterior…

Fica aqui uma sugestão para os próximos filmes solo: continuar com a pegada histórica e da guerra. Poderíamos ver a moça na Segunda Guerra Mundial ou na Guerra do Vietnã. Isso a traria mais para o nosso mundo real e a afastaria a ilusão de que as guerras ocorrem por culpa de Ares. “Mulher Maravilha 2” não precisa ser nem nos dias atuais. Pode-se brincar um pouco mais com o tempo aqui, é o que eu creio.

Excelente reconstituição histórica. Foto de arrepiar!!!

Assim, “Mulher Maravilha” foi o melhor que a DC fez até hoje em termos de cinema. Uma personagem bem apresentada, uma boa reconstrução de época, uma história cativante e uma Gadot apaixonante, agradando a homens e mulheres. Desta vez, a DC acertou, apesar de algumas ressalvas. As mocinhas podem vestir a camisa e os mocinhos podem babar.

https://www.youtube.com/watch?v=WUY6nazJawY