Batata Antiqualhas – Spock e Leonard. Dualidade que se Completa (Parte 15)

                         Nimoy e Bennett…

Ao começar as filmagens, surgiria um problema. O elenco original da série não gostou muito da ideia de Nimoy na direção e não sabia das pretensões do diretor para com seus papéis. Assim, Nimoy começou uma estratégia de convencimento de seus antigos colegas. William Shatner fez uma reunião com Nimoy e Bennett acompanhado de seu advogado e apontou todas as objeções que tinha contra o roteiro, sendo prontamente atendido nas alterações. Quanto aos outros membros do elenco original, eles esperaram para ver o que ia acontecer. Mas, mais tarde, eles chegaram à conclusão de que Nimoy não seria um ditador e que faria o melhor por todos. Nimoy também sentiu que as responsabilidades de um diretor de um longa são muito maiores que as de um diretor de séries de tv. Ele tinha que se preocupar não só com as técnicas de filmagem em si e a quantidade de cenas a serem filmadas em cada dia, assim como com toda a logística envolvida: figurinos, dublês, nuvens de gelo seco, etc. Além disso, havia um clima de desconfiança dos executivos do estúdio quanto ao fato de um novato estar na direção e Bennett era o escalado para vigiar Nimoy quanto a isso, chegando a checar as tomadas feitas durante o dia de filmagem na sala de edição sem o conhecimento dele.

           Elenco inicialmente receoso com direção de Nimoy…

Durante as filmagens, George Takei ficou incomodado de ter seu personagem, Sulu, ser chamado de baixinho por um segurança. Na sequência, Sulu lhe dá um golpe, dizendo: “Não me chame de baixinho”. Depois de uma discussão com Bennett, essa cena foi filmada de duas formas: com e sem a expressão “baixinho”. Takei ficou chateado com o uso da expressão “baixinho” na edição final. Mas se acalmou depois de constatar a reação calorosa do público à cena.

                                         Conversa entre vulcanos…

Na cena da morte do filho de Kirk, Nimoy e Shatner se reuniram em separado para discutir a cena e encenaram uma briga para assustar a equipe de produção, que não engoliu a zoação, já que sabia que os dois velhos amigos faziam isso de vez em quando. Na verdade, Nimoy deu toda a liberdade a Shatner para fazer a cena, já que ele conhecia muito bem seu personagem. A cena ficou tão boa que um executivo da Paramount, Jeff Katzenberg,  ligou para Nimoy, felicitando-o por seu trabalho de diretor depois de vê-la. Nimoy deu todos os créditos a Shatner pela cena. A cena do Pon Farr entre Saavik  e o jovem Spock foi rechaçada por Katzenberg, achando que ia provocar risadas. Nimoy e Bennett apostaram um dólar como ela não ia provocar as tais risadas. E eles ganharam a aposta. Nimoy emoldurou seu dólar numa placa assinada por Katzenberg, que diz: “Apostei que a cena do Pon Farr ia causar risos”. Jeff Katzenberg, abril, 1984”. Nimoy realmente sabia das reações dos fãs de “Jornada nas Estrelas”.

                                               Velhas amizades…

A notícia da destruição da Enterprise vazou e causou indignação entre os fãs. Mas Nimoy já estava vacinado com a morte de Spock e tudo transcorreu sem problemas, ainda mais porque a cena foi feita pelo pessoal da Industrial Light and Magic, a produtora de efeitos especiais de George Lucas. Complicado mesmo foi o final das filmagens, onde Nimoy tinha que acumular à pesada rotina da direção o fato de ainda atuar e se maquiar como o vulcano. No início, ele interrompia a maquiagem para ver outros problemas, chegando a andar pelo set com apenas uma orelha pontuda ou sobrancelha vulcana. Mas depois viu que isso era muito mais complicado e passou a chegar às cinco da manhã ao estúdio para se maquiar para depois resolver os demais problemas do dia. Numa cena, Nimoy contracenava com Kelley e Spock estava inconsciente, não podendo ver que rumos a filmagem tomava. Kelley chegou a rir com a situação porque Nimoy tentava abrir os olhos um pouquinho para ver se a filmagem transcorria bem. Na cena final, Nimoy tinha que se concentrar em seu diálogo e na direção. Ele instruiu os atores a abraçar Spock, mas todos mantiveram uma distância respeitosa, com exceção de Uhura.

                  Uma aproximação solene…

Ficou bem claro que eles sabiam que Spock não gostaria disso. Um personagem consolidado depois de tantos anos. Foi decidido também que o nome de Nimoy só apareceria nos créditos como diretor e não no elenco, para não estragar a surpresa (para lá de anunciada) da ressurreição de Spock. Os executivos da Paramount viram o filme e adoraram. Decidiram que Nimoy dirigiria o quarto filme com sua visão pessoal de “Jornada nas Estrelas”, antes mesmo que “A Procura de Spock” estreasse nos cinemas.

E como foi a produção de “Jornada nas Estrelas 4, A Volta Para Casa”? Isso é o que veremos no próximo artigo. Até lá!

     Enterprise queimando na atmosfera de Gênese. Dor no coração…

Batata Séries – Jornada Nas Estrelas Discovery (Temporada 1, Episódio 15) Você Pegará A Minha Mão? Desfecho Melancólico.

                              Deixa a Burnham para lá…

E finalmente a primeira temporada de “Jornada nas Estrelas Discovery” terminou. Infelizmente, isso ocorreu de uma forma simplesmente lamentável. Poucas vezes me senti tão desrespeitado como espectador. Não sei se quem escreveu esse episódio (os produtores que eu prefiro nem citar aqui) o fez por preguiça ou por fazer pouco caso da inteligência do público mesmo. Nunca tinha visto um final de temporada tão mal elaborado, com uma solução de guerra tão rápida e falsa. Fico imaginando a pessoa que gostava dos roteiros mais consistentes das séries de Jornada nas Estrelas do passado que teve que assinar o CBS All Acess nos Estados Unidos somente para ver a série. Dinheiro jogado fora? Talvez. Esperança de que a série vá melhorar a partir da segunda temporada como já aconteceu com outras séries de Jornada nas Estrelas? Talvez. Mas a sensação que essa primeira temporada nos dá é de derrota, de terra arrasada, com alguns lampejos de coisas boas.

Qual foi o problema do último episódio afinal? Ele até começou bem, com alguns arranca-rabos entre a Imperatriz, Saru e Burnham, mas o duelo de retórica parou ali no início. O diálogo em que Saru, com sarcasmo, se declarava “intragável” para a Imperatriz poderia ter sido mais bem explorado e desenvolvido. Agora, colocar o interior de Qo’nos como uma região de baixo meretrício para escravas (e escravos) de Órion foi um dos fan services mais tortos que vi na vida. Uma coisa totalmente fora de propósito, sem qualquer significado. Ou somente um pretexto para botar umas bundas verdes na tela? E o tão sonhado momento da batalha final entre Federação e klingons? Negativo, caro leitor. Nem uma mísera navezinha atirando em outra. A solução (para uma série mal escrita em formato de quinze episódios) foi… simplesmente usar uma bomba armada pela Imperatriz que destruiria todo o planeta, que a correta e valente Burnham não aceitou usar, pois não eram esses “os princípios da Federação”, ao que a Imperatriz respondeu “tá legal, toma o detonador aqui” e saiu pela porta dos fundos. Aí, dá-se o tal detonador para L’Rell e, sob a ameaça de destruir o planeta, ela consegue unificar todas as vinte e quatro casas, dominar o Império klingon e acabar com a guerra (ninguém pode tirar esse detonador da mão dela não???)… Pois é, se isso não estivesse registrado lá no streaming, o leitor poderia dizer que eu estava tirando uma com a cara dele. Mas essa foi a solução de uma guerra onde a Federação estava praticamente derrotada. A coisa beira ao deprimente e ridículo. E digo isso respeitando um padrão Discovery de qualidade, o que já não é lá grande coisa. Mas aqui o nível ficou mais abaixo ainda do que isso. A partir daí, o episódio ficou recheado dos monólogos de Burnham sobre o que é a Federação e seu espírito, algo que foi desrespeitado em toda a temporada, com influência de Lorca ou não. A tripulação da Discovery recebendo medalhinhas, que também deviam ser dadas ao público, que aguentou vários episódios mal escritos. A coisa já caminhava para o final com uma tremenda cara de anticlímax, quando alguém teve a brilhante ideia de fazer um fan service e colocar a Enterprise do capitão Pike somente para despistar as pessoas da droga do roteiro que foi escrito de forma lamentável. Ou seja, uma Entreprise CGI usada como um tremendo engana trouxa. Confesso que chega a ser ofensiva a forma como o espectador, trekker ou não, está sendo tratado aqui.

                                                Saru será capitão???

Ah sim, não podemos nos esquecer de Tyler, que se curou de sua dor de cotovelo rapidinho com relação à Burnham quando se animou a jogar umas partidinhas de cassino com os poucos klingons que habitam Qo’nos (uns três, ao todo). Logo, logo, Voq baixou nele e Burnham ficou com aquela cara de pastel da namorada que é trocada por uma partidinha de futebol com os amigos aos domingos. E depois, nosso Tyler ainda vai ajudar L’Rell a governar o Império klingon, sendo uma heroica ponte entre os klingons e a Federação… Tudo muito rapidinho, sem conflitos, resolvido em pouquíssimos diálogos e sem qualquer arrependimento por parte de Tyler, num contraste total com o que a gente viu no episódio anterior. Ou seja, Discovery não apresenta consistência nem entre seus próprios episódios. Uma tristeza.

Por incrível que pareça, uma das poucas coisas que funcionaram bem nesse último episódio foi justamente a Tilly, onde assumiu-se a personagem totalmente como alívio cômico, sendo esse talvez o melhor caminho para a personagem, ao invés de colocá-la para fazer aquelas falas constrangedoras sem qualquer sentido. Mas isso é muito pouco para compensar o desastre geral desse episódio.

Com o fim da temporada, fica a dúvida: tudo isso foi escrito previamente ou, com a gravação dos episódios, as histórias foram tomando rumos diferentes? Alguns produtores (como Ted Sullivan) juram de pés juntos que várias coisas foram pré-concebidas. Mas a gente também tem informações na internet de que as histórias sofreram alguns ajustes, à medida que a temporada ia sendo gravada. Bom, a gente chega à conclusão de que, se tudo foi escrito previamente, foi o clássico caso do “Pau que nasce torto, morre torto”. E, pelo contrário, se as histórias foram sofrendo ajustes, parece que a coisa foi feita tão nas coxas que perdeu-se meio que a mão. Definitivamente, o melhor arco foi o do Universo Espelho. Mas creio que esse formato de temporada mais curta e rápida não pode ser tão fragmentado em sub-arcos, o que provoca uma dispersão de todo o contexto. Que se houvesse sido feito um arco de quinze episódios, tipo novelão mesmo, somente sobre a guerra com os klingons, ou somente com o Universo Espelho, Mudd, tardígrado ou outro qualquer assunto.

                                                  CGI engana trouxa…

Pelo menos, muitas pontas ficaram soltas (aposta de que já haveria uma segunda temporada? Aposta muito arriscada, a meu ver). O que acontecerá com os malditos esporos? Lorca Prime aparecerá? Saru deixará de ser apenas o capitão interino e assumirá o comando da Discovery de vez? Burnham será menos chata e trouxa, tendo um protagonismo, digamos, um pouco mais digno? A Federação se comportará como Federação? Os personagens da ponte terão maior participação? A tripulação será menos neurótica? Stamets vai ter um novo namorado? Os klingons farão cirurgia plástica e sessões de fonoaudiologia? E, principalmente, qual será o arco principal da série? Exploração espacial? Guerra de novo? Só torço para o seguinte: que os roteiristas analisem o que produziram, vejam seus erros e acertos, e aprendam também com os erros e acertos de séries passadas. Deep Space Nine, por exemplo, por seu teor altamente distópico, era visto como inicialmente um tanto violador do cânone, teve as temporadas iniciais um tanto fracas, mas depois virou um sucesso, pois os roteiristas se empenharam em fazer uma história – a Guerra do Dominium – bem escrita e acabada. A primeira temporada de Nova Geração foi um saco, com um Capitão Picard rabugento toda a vida, mas depois a coisa melhorou. Enterprise foi cancelada, mas foi bem no arco Xindi (confesso que gosto) e melhor ainda na quarta e última temporada. Só a Voyager que eu considero mais fraquinha, mas mesmo assim não tinha histórias tão fracas quanto as que vimos em Discovery. A gente espera que a nova temporada se inspire nesses exemplos. Pois o verdadeiro trekker não quer ver Discovery naufragar, pelo contrário, pois seu sucesso garante a manutenção da franquia ao longo do tempo. Entretanto, a coisa tem que ter um mínimo de qualidade, pois caso contrário, não vale a pena ter uma série com o nome de Jornada nas Estrelas somente pelo seu nome. Que se use outro título então e se decrete que aquele espírito de séries passadas de Jornada nas Estrelas não é mais possível para o público de hoje.

Bom, é isso. Fica agora a esperança de que a segunda temporada seja feita por mentes, digamos, mais iluminadas. Vida longa e próspera a todos!!!

https://www.youtube.com/watch?v=-IHBbEG4GfI

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Batata Antiqualhas – Spock e Leonard. Dualidade que se Completa (Parte 14)

Kruge, magistralmente interpretado por Christopher Lloyd…

Mesmo com os protestos dos fãs por causa da morte de Spock, “A Ira de Khan” teve a maior arrecadação de bilheteria num fim de semana em sua época. Semanas depois do fim das filmagens, Nimoy assistiu ao filme na cabine de projeção de um cinema, uma experiência muito ruim, pois o ator se sentiu parcialmente culpado pela morte do personagem. Ele até pensou em sair da cabine antes do fim da exibição, mas ficou com medo de ser mal interpretado por público e imprensa, de pensarem que ele não gostou do filme. Ele estava com lágrimas nos olhos. Entretanto, a cena final, com o torpedo contendo o corpo de Spock na superfície do planeta Gênese fez Nimoy ter a certeza de que seria chamado pela Paramount para mais uma continuação, já que “A Ira de Khan” deixou elementos para isso. Essa sequência final do planeta Gênese não constava do roteiro original, mas foi acrescentada, pois nas exibições-teste do filme, a reação do público foi muito sombria ao final original. Com a sequência final de Gênese adicionada, o final seria um pouco mais esperançoso.

Edward James Olmos foi o primeiro nome cogitado para Kruge

Apesar da esperança de voltar a atuar em “Jornada nas Estrelas”, Nimoy não sabia ao certo se queria fazer isso novamente. Dinheiro para ele já não era mais problema. Veio então a ideia de dirigir o filme, algo que Nimoy e Shatner já haviam tentado fazer na segunda temporada da série clássica, só que foi prontamente negado a eles. Ao se reunir com Gary Nardino, da Paramount, Nimoy sugeriu pegar a direção já que conhecia a fundo “Jornada nas Estrelas”. Para sua surpresa, Nardino aceitou sem titubear. Nimoy saiu da reunião surpreso, achando que tudo fora muito fácil. Harve Bennett já havia oferecido a Nimoy a direção de uma série de tv chamada “The Powers of Matthew Starr”, quase na mesma época de “A Ira de Khan”, o que lhe deu experiência e segurança suficientes para atuar na direção em “Jornada nas Estrelas 3”.

                        Robin Curtis como Saavik

Duas semanas depois, Nimoy voltou a sugerir pegar a direção do filme a um alto executivo da Paramount, Michael Eisner. Nardino nada havia dito a esse grande executivo sobre a direção, deixando a batata quente para Nimoy, pois Nardino não queria se indispor com Eisner, seu chefe, se ele não concordasse com a direção a Nimoy. Nosso ator fez a sugestão a Eisner e, para a sua surpresa, também recebeu uma resposta afirmativa. Nimoy estava nas alturas. Mas era bom demais para ser verdade. Várias semanas se passaram e Eisner não retomou os contatos com Nimoy. Nosso ator então fez uma ligação para Eisner e escutou do executivo que não poderia lhe dar a direção do filme, já que Nimoy odiava Spock e “Jornada nas Estrelas”. Segundo o executivo, Nimoy teria colocado no seu contrato de “A Ira de Khan” que Spock deveria  morrer. Era o fantasma de “Eu não sou Spock” retornando com força total. Nimoy imediatamente desfez o mal-entendido dizendo que essa exigência de matar Spock não constava de seu contrato, além de ter contado também sobre toda a má impressão causada por “Eu não sou Spock”. Foi assim que Nimoy conseguiu a direção do filme.

Ao começar a discutir o roteiro, Nimoy e Bennett decidiram inicialmente que a “ressurreição” de Spock ocorreria próxima ao fim do filme para manter um suspense contínuo. Obviamente, o “lembre-se” do elo mental de Spock a McCoy também seria usado. Mais tarde, surgiram outras ideias: a rápida evolução de Gênese e a proibição do acesso ao planeta, a presença do “katra” de Spock em McCoy, os klingons querendo o torpedo Gênese. Originalmente, os romulanos seriam os vilões da história, segundo as pretensões de Bennett. Mas Nimoy sempre teve muita curiosidade e interesse sobre os klingons, sugerindo a troca, no que foi prontamente aceito. A indignação de Sarek por Kirk não ter levado o katra de Spock a Vulcano foi mais um elemento adicionado ao roteiro, que ganhava cada vez mais forma. Assim, Kirk deveria levar o corpo de Spock e McCoy para Vulcano a fim de fazer a ressurreição. Mas a proibição de ir a Gênese imposta pela Federação e os klingons seriam os obstáculos a serem superados. Nimoy também pensou num tema chave para o filme. Em “A Ira de Khan”, o tema era “As necessidades de muitos superam as de poucos ou a de apenas um”.  Agora, seria justamente o contrário. A lealdade e amizade por um amigo levariam muitos ao sacrifício, como em “Henrique V”, de Shakespeare, nas palavras de Nimoy. Assim, cada membro da tripulação teria uma tarefa específica na missão de trazer Spock de volta. Aqui, Nimoy acha que foi influenciado por “Missão Impossível”, onde os personagens tinham missões específicas em cada episódio para chegar ao objetivo da missão maior. O detalhe mais interessante é que isso não aconteceu especificamente com Chekov. Mas isso seria compensado em “Jornada nas Estrelas 4”.

Dame Judith Anderson foi escolhida para a sacerdotisa que traz o katra de Spock de volta ao seu corpo

Houve um problema para a escolha do elenco. Kirstie Alley quis um salário maior, pois havia sido mal paga em “A Ira de Khan”. Mas o valor do salário que ela queria era maior que o de De Forest Kelley, o que foi impossível. Assim, Robin Curtis foi escolhida para o papel de Saavik. Para o comandante klingon, Nimoy achou que Edward James Olmos, que trabalhou em “Blade Runner”, “Miami Vice” (o inesquecível tenente Castillo) e na nova versão de “Galáctica” (general Adama) era perfeito para o papel. Mas Bennett discordou. Até que Christopher Lloyd manifestou o desejo de fazer o papel. Alguns executivos do estúdio temeram por isso, já que Lloyd era conhecido por fazer comédias. Mas tanto Nimoy quanto Bennett tinham certeza de que o doutor Emmett Brown de “De Volta Para o Futuro” era um excelente ator e um camaleão, sendo perfeito para o papel do comandante Kruge. Para a sacerdotisa T’Lar, Spock tinha a lembrança de Celia Lovsky em “Tempo de Loucura”, na série clássica. Mas Lovsky já havia morrido e então Nimoy descobriu uma atriz de 85 anos interpretando “Medeia”, que muito o impressionou: Dame Judith Anderson. Ela não conhecia “Jornada nas Estrelas”, mas seu neto era um fã devotado. Além disso, a atriz e Nimoy se entenderam muito bem e ela adorou o roteiro.

No próximo artigo, vamos falar das filmagens de “A Procura de Spock”. Até lá!

    Nimoy na direção de Jornada nas Estrelas III, À Procura de Spock

Batata Séries – Jornada Nas Estrelas Discovery (Temporada 1, Episódio 14). “A Guerra Por Fora, A Guerra Por Dentro”. Desperdício No Finalzinho.

                                               Um Sarek permissivo…

E chegamos ao penúltimo episódio de “Jornada nas Estrelas Discovery”. Qual é a primeira sensação que esse episódio nos dá logo de cara? Desperdício. E justamente ao finalzinho da temporada. Esse episódio, sobretudo, foi para dizer que a Federação foi praticamente aniquilada pelos klingons, para colocar Tyler e L’Rell para escanteio (a menos que uma espetacular reviravolta aconteça no último episódio, esperemos que sim) e para colocar a Imperatriz como capitã da Discovery, restaurando o clima de neurastenia entre a tripulação, que nem sabe que não está com sua Phillipa. Além do retorno de Sarek e da Almirante “cara de empada” Cornwell, comprovando aquela teoria de que todo almirante da Federação é um bunda mole (foi lamentável vê-la sem ação depois de constatar a destruição da Base Estelar 1 e ainda chamar T’Kuvma de ignorante na cara de L’Rell, mesmo que ela ainda estivesse atordoada com a destruição da base; isso não é postura de militar de alta patente, que tem por obrigação controlar suas emoções). Ainda, ficou bem claro que Burnham trouxe a Imperatriz para a Discovery porque não queria perder Phillipa mais uma vez, em mais uma de suas atitudes tresloucadas (pelo menos, a Imperatriz foi usada para algo nesse microarco final, como não podia deixar de ser). O que incomoda aqui é que vemos a Discovery somente fugindo dos klingons. Nem uma batalhazinha espacial para aquecer para o Gran Finale do décimo-quinto episódio. Esse décimo-quarto episódio poderia muito bem terminar com a Discovery encurralada pelos klingons ou algo parecido. Tudo pareceu muito tácito e letárgico nesse episódio cheio de diálogos que mais enchiam o saco, principalmente a DR entre Tyler e Burnham (e como soou artificial todo mundo chegando lá para falar com o Tyler, mesmo que Discovery quisesse passar a imagem trekker de tolerância) . Agora que estamos no final, a gente precisava de um pouco mais de ação. A impressão que fica é a de que, ao retornar do Universo Espelho, a Discovery retornou também o marasmo de alguns episódios do Universo Prime, num contraste com o último episódio, que aí carregou demais nas tintas da ação.

                                                             Sai Saru…

E Stamets com os micélios? É, definitivamente os roteiristas vão insistir nisso. A “terraformação” daquela luazinha morta com os micélios traz os esporinhos de volta e os roteiristas não desistem dessa ideia que não está lá na Série Clássica e é absurda demais até com licença poética, pois fala de tecidos vivos no espaço sideral e imagina um motor com velocidade infinita, algo totalmente impossível e meio que absurdo até numa série com tecnologia de dobra.

                                                … entra Cornwell…

Agora, os esporos serão utilizados aqui para um plano para lá de inusitado, sugerido pela Imperatriz, ou seja, um ataque direto a Qo’nos, o planeta natal klingon. Como ele não foi mapeado pelos humanos, a ideia (sensacional) é usar o motor de esporos para se transportar para o interior do planeta e mapeá-lo de dentro para fora para depois atacá-lo. Ideia brilhante dos roteiristas? Sei não, é muita papagaiada demais para a minha cabeça. Eu creio que dava para fazer algo instigante, até original, mas não tão surreal. Do jeito que ficou planejado isso, nem posso imaginar como ficará o último episódio e todas as coisas que precisarão ser feitas para desatar os nós de toda essa confusão.

                           Uma solução do mal para a guerra???

Mas realmente o que mais deixa a gente perplexo foi a facilidade com que Sarek e Cornwell colocam o comando de uma nave estelar nas mãos (beijadas) de uma terráquea do Universo Espelho. Mesmo que eles se justificassem o tempo todo dizendo que esse movimento era muito arriscado, etc., etc., ainda assim eles deram o comando para a Phillipa de lá. Pelo menos ficaram os olhares de reprovação de Burnham e Saru na ponte, com esse último já sabendo que é uma iguaria no Universo Espelho. Climão tenso…

Bom, com a Imperatriz Georgiou na cadeira de capitão (talvez a única coisa que tenha prestado nesse episódio, apesar da forma inusitada como Sarek e Cornwell deram o braço a torcer), embora eu particularmente ainda queira muito Saru no posto ao invés da tresloucada Burnham como capitão, só resta uma coisa a dizer: rumo às cavernas de Qo’nos. Saímos do espaço sideral e façamos uma Viagem ao Centro de Qo’nos, para delírio dos fãs de Júlio Verne.  Os mais maldosos dirão que a série ia mesmo terminar no buraco. Que se encerre logo a primeira temporada e que os roteiristas façam uma avaliação de seu trabalho para não repetirem alguns absurdos na segunda temporada. Fica, agora, a expectativa pelo desfecho de tudo, se é que vai haver algum…

https://www.youtube.com/watch?v=DeQvi7Qvmuo

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Batata Antiqualhas – Spock e Leonard, Dualidade que se Completa (Parte 13)

              Kirk, em desespero, ao ver o amigo à beira da morte.

Um momento engraçado das filmagens de “Jornada nas Estrelas II, A Ira de Khan” foi o fato de Nimoy salvar Walter Koenig (o russo Checov) de um grande vexame. Ele teve um verme alienígena inserido em seu ouvido por Khan, que se alojava no córtex cerebral e o deixava à mercê das ordens de Khan. Extraído o verme, Checov se apresenta a ponte com uma espécie de curativo no ouvido. Só que o curativo era um… sutiã!!! Nimoy, então, perguntou a Meyer por que Koenig estava com um sutiã no ouvido, o que provocou risadas gerais e o rápido convencimento de que a peça deveria ser descartada da filmagem.

                               Spock e Kirk, no momento derradeiro…

As filmagens avançavam dentro do cronograma e de forma muito confortável para todos. Nimoy dizia que parecia que eles filmavam um velho episódio da série clássica. E a grande mensagem do filme, o efeito destrutivo da vingança, era passada com maestria. Até que chegou o dia da grande contribuição do vulcano, que sacrificaria a sua vida. Na sua sede de vingança, Khan arma o torpedo Gênese para destruir a Enterprise. Kirk precisa de velocidade de dobra em três minutos. Mas somente manipulando um material radioativo muito letal a nave teria velocidade de dobra. Para um humano, tal manipulação era impossível. Mas para um vulcano, três vezes mais forte que um humano, talvez fosse possível tal manipulação antes da morte inevitável. E lá vai Spock cumprir a máxima de que “a carência da maioria sobrepuja a carência da minoria… ou a de um só”. A cena no fim do filme ficou muito mais antenada com o desenrolar do roteiro. Mas, no dia em que Nimoy teve que gravá-la, uma angústia tomou conta não só dele, como de todos. Nimoy se sentia em direção à câmara de gás. E o ambiente do estúdio onde Spock morreria estava silencioso e sombrio. Nimoy, então, se concentrou em seu trabalho. Ele entraria na câmara de radiação, mas seria impedido por McCoy. Para não perder tempo, fez o toque neural no médico para deixá-lo inconsciente. Depois que ensaiou com De Forest Kelley a cena várias vezes, Nimoy foi chamado por Bennett, que perguntou se ele não poderia acrescentar algo à cena que desse um gancho para um novo filme. Nimoy, muito concentrado em fazer seu trabalho naquele momento, não percebia que Bennett queria dar algum futuro para a continuidade de Spock, e não teve sugestões para dar. Bennett sugeriu então que Spock fizesse um elo mental com McCoy desacordado. Nimoy aceitou. E Bennett perguntou o que Spock poderia dizer a McCoy. Nimoy acenou com um “Lembre-se”, algo que era vago o suficiente para abrir grandes possibilidades dramáticas. E assim a cena foi gravada, com um certo contragosto de Meyer, que queria uma definitiva e bem feita morte de Spock.

                                          Lembre-se…

A cena seguinte, a da morte de Spock, causou muito mal-estar em Nimoy. Além do sofrimento com a morte do personagem, houve o agravante da câmara de radiação ser de um vidro hermeticamente fechado, que a tornava muito quente e que provocava dificuldade em respirar. Apesar da câmara ter sido perfurada e ar ser bombeado lá para dentro, as bombas faziam tanto barulho que tiveram que ser desligadas nos diálogos entre Kirk e Spock, excessivamente longos para a situação. O ensaio da cena foi feito. Spock entra na câmara e fez o reparo no equipamento. Logo após, ele ficava caído, e quando Kirk chegava para falar com ele, Spock se levantava, mostrava estar cego e se aproximava do vidro. Enquanto falava com o almirante, escorregava gradativamente pela parede de vidro, até estar novamente no chão e morrer. Concluído o ensaio, Nimoy foi fazer a maquiagem das queimaduras de radiação. O tom do “set” e da sala de maquiagem era silencioso. Apesar de ter certeza de que a cena e o drama ficariam sensacionais, Nimoy estava arrasado, pois Spock iria morrer. De volta ao “set”, todos estavam sombrios e calados. Nem Shatner fazia suas piadinhas habituais. Nicholas Meyer chegou ao estúdio com traje de gala, pois iria assistir a uma apresentação da ópera “Carmen” depois da gravação. Tal atitude magoou Nimoy. Meyer também insistiu que Spock ficasse com as mãos totalmente sujas de seu sangue verde. Mas Nimoy achou aquilo demais e pediu para tirar todo aquele sangue das mãos, sendo atendido por Meyer. Na gravação da cena, Nimoy, ao se levantar, ajeita conscientemente a sua jaqueta, que como já foi dito, repuxava. Esse gesto foi de grande ajuda à cena, pois Nimoy queria que Spock, apesar da agonia física, tivesse a vontade de  aparecer de maneira apropriada e digna ao seu almirante pela última vez. Uma grande dificuldade foi manter a respiração presa depois de morto. A câmara já estava quente demais e a câmara do filme se afastava lentamente, o que obrigou nosso artista a prender a respiração por longo tempo.

Era o fim de mais um dia de trabalho. Mas Nimoy, voltando de carro para casa, só se fazia uma pergunta: “O que foi que eu fiz?”.

No próximo artigo, vamos ver como Spock foi “ressuscitado”. Até lá!

                                                    O funeral de Spock…

Batata Antiqualhas – Spock e Leonard. Dualidade que se Completa (Parte 12)

O velho trio de volta num segundo longa

Nimoy encontrava-se novamente entre dois sentimentos. Um, de desconforto, pois Spock iria morrer. E outro, de enorme entusiasmo por participar de uma história promissora e mais fiel ao espírito da série clássica. Desde já, ele sentiu diferenças com relação ao filme anterior. O vestuário não era mais cinzento, mas com uniformes de cores bem vivas (vinho e branco) que, entretanto, saíam do lugar quando os atores se sentavam, sendo necessário que eles ajeitassem as jaquetas sempre que se levantavam, detalhe que seria crucial na cena da morte de Spock. O primeiro longa tinha, nas palavras do próprio Nimoy, uma influência de “2001, Uma Odisseia no Espaço”, resgatando o misterioso do espaço. Já o segundo filme se chamaria “A Terra Desconhecida”, pois Meyer tirou esse título de uma citação de “Hamlet, de Shakespeare: “Mas esse temor do que existe após a morte, a terra desconhecida, de cujas fronteiras nenhum viajante retorna, intriga o desejo e nos faz suportar os males que já temos melhor do que se nos voltássemos para outros que não conhecemos…”. Bárbaro! Essa excelente ideia de Nicholas Meyer numa alusão à morte de Spock mostrava bem o nível de intelectualidade de “Jornada nas Estrelas”. Mas, segundo Nimoy, “forças superiores” mudaram o título para “A Vingança de Khan”, que foi alterado para “A Ira de Khan” quando foi anunciado que o novo filme de George Lucas se chamaria “A Vingança de Jedi”, também alterado depois para “O Retorno de Jedi”. Hoje sabemos que o título “A Terra Desconhecida” foi utilizado para o sexto longa da série. Além da morte de Spock, a vida também seria tratada através do projeto Gênese, que era de provocar uma terraformação, dando vida à matéria morta. O filme também traria discussões sobre a passagem do tempo e do envelhecimento. Efeitos especiais? Estes ficariam mais em segundo plano desta vez.

Spock e Saavik. Mestre e aprendiz…

Uma pegadinha foi feita para “amolecer” o público. O início do filme mostra o teste “Kobayashi Maru”, onde a cadete vulcana Saavik faz uma simulação como a capitã de uma nave sob ataque klingon. O teste não tem saída e mede a reação dos cadetes a uma situação de morte iminente. Os comandados de Saavik na simulação são os tripulantes da Enterprise e eles, pouco a pouco vão morrendo. Como Spock cai morto, ficou a impressão de que a morte de Spock era de mentirinha. Kirk até pergunta a Spock ao fim da simulação: “você não morreu?”. Mas, como sabemos hoje, a morte estava guardada para o final. Para o vilão, Harve Bennett, que havia visto todos os 79 episódios da série clássica, escolheu Khan, e pensou o longa como uma continuação do episódio “Semente do Espaço”. O que teria acontecido àquela raça humana geneticamente superior do passado (década de 1990, que estava em estado criogênico numa nave) deixada num planeta para recomeçar a vida? O grande vilão e oponente da Enterprise, era interpretado por Ricardo Montalbán, ator latino que impressionava naquela época por fazer o gentil e refinado senhor Rourke da série televisiva “Ilha da Fantasia”, com seu terno branco impecável e sempre acompanhado por seu ajudante anão Tatu. De repente, ele aparece com trajes de um bárbaro, torso musculoso (segundo Nimoy, do próprio Montalban) à mostra e de gestos ora rudes, por seu espírito conquistador, ora refinados, por ser também um intelectual. Um inimigo realmente à altura e que chamou muito a atenção. No filme, é nítida a passagem de Khan de um conquistador com traços de cavalheiro, que na sua obsessão de se vingar de Kirk, vai enlouquecendo gradativamente até a demência total, quando explode a nave que havia sequestrado, a Reliant, com o torpedo gênese, somente para destruir a Enterprise.

Mas o mais importante em “A Ira de Khan” é que a velha química entre os atores da série clássica estava de volta, sobretudo na tríade Kirk, Spock e McCoy, talvez pelo fato do filme abordar o tema do envelhecimento de Kirk. McCoy chega a dizer para o agora almirante, no dia de seu aniversário: “Pegue logo o comando de uma nave espacial antes que você envelheça de verdade”.

No próximo artigo, falaremos mais das filmagens de “Jornada nas Estrelas II, a Ira de Khan”. Até lá!

Khan, interpretado por Ricardo Montalbán. Vilão à altura…

Batata Séries – Jornada Nas Estrelas Discovery (Episódio 12, Temporada 1). Ambição Desmedida. Comendo O Saru.

                                      O encontro com a Imperatriz…

O décimo-segundo episódio de “Jornada nas Estrelas Discovery” prossegue a saga do Universo Espelho, onde parece que fica bem claro que esse foi o melhor arco da primeira temporada, cheia de problemas e sub-arcos. Esse é um episódio marcado, basicamente, pela descoberta, ao seu final, do que muitas pessoas nas redes sociais já desconfiavam: de que Lorca era do Universo Espelho e todo aquele clima negativo da Discovery era consequência do comportamento tacanho de seu capitão. Mesmo assim, devemos nos lembrar de que a Federação deu também algumas mostras do comportamento errático de Lorca, principalmente quando foi dito que a mesma caçava tardígrados para colocar a tecnologia do motor de esporos em outras naves da Federação em virtude da guerra. Esse ainda não é um comportamento condizente com os procedimentos da Federação Unida de Planetas, constituindo-se num furo de roteiro. Assim, nem essa revelação de Lorca ser do Universo Espelho conseguiu sanar todos os problemas que vimos na série. Pelo menos, rolou uma trairagem entre Lorca, a Imperatriz e Burnham, onde a monarca via Burnham como uma filha, Lorca como seu braço direito e como pai de Burnham, onde depois, com esta mais crescida, sendo seduzida por Lorca, agora também uma espécie de garanhão. Só queria saber onde os biscoitos chineses e os pingos se encaixam em todo esse fuzuê.

Esse também foi um episódio marcado pelo encontro de Burnham com a Imperatriz Georgiou, que teve algo que gerou muita polêmica entre os fãs. Bem ao início do encontro com a Imperatriz, essa pede a Burnham para escolher um kelpiano. Como os kelpianos eram vistos como escravos no Universo Espelho, Burnham pensou que a escolha era apenas para esse propósito. Mas, na verdade, o kelpiano era o prato principal da janta entre Burnham e a Imperatriz. Assim, podemos dizer que Burnham comeu um alienígena da espécie do Saru. Alguns fãs levaram isso numa boa, outros acharam demais. Sei não, mas o trauma em Burnham provocado por esse “canibalismo” humanoide vai ter muito pouco tempo para ser desenvolvido quando toda uma gama de questões terá apenas três episódios para ser resolvida até o fim da temporada. Aliás, esse novo formato de série (com quinze episódios de cerca de quarenta e cinco minutos) parece fazer com que as coisas tenham que ser logo resolvidas, tornando a coisa um tanto que jogada e pouco desenvolvida. E, ainda mais, como ficou parecendo que muita coisa foi sendo mudada ao longo dos episódios (guerra klingon, tardígrados, Mudd, Universo Espelho), como se os produtores estivessem tateando o rumo certo ao longo da produção dos episódios, deu-se a impressão de que tudo ficou ainda mais jogado. A gente espera que, na segunda temporada, haja uma espécie de arco único e uma coesão maior, pois vários arcos numa temporada funcionariam melhor se isso fosse no formato antigo de série (cerca de vinte e cinco episódios numa temporada).

                                             Comendo um kelpiano…

Uma coisa que não encaixou bem na minha cabeça foram as negociações entre Burnham e a Imperatriz. A Burnham do Universo Espelho estava conspirando para tomar o poder da Imperatriz e, por isso a mesma iria executar a primeira. Foi aí então que Burnham abriu o jogo e disse que era do Universo Prime e que precisava dos dados da Defiant para voltar. A Imperatriz disse que tais dados não seriam úteis, pois quando a tripulação da Defiant passou de um Universo a outro, ela enlouqueceu. Foi aí que Burnham disse que a Discovery passou de um Universo a outro com outra tecnologia, e entregou de bandeja o motor de esporos à Imperatriz na negociação para a Discovery voltar ao Universo Prime. Cá para nós, tem que ser muito trouxa para se fazer isso. Outra coisa que incomodou bastante foi associar a sensibilidade à luz como uma característica dos humanos do Universo Espelho para explicar essa característica em Lorca no início da temporada. Nos outros episódios de Universo Espelho na Série Clássica, em Deep Space Nine e em Enterprise, essa característica de fotofobia jamais apareceu, em mais uma forçada de barra dos roteiristas de Discovery.

Tivemos, ainda, dois momentos menos interessantes. A parte em que Stamets volta à vida mas que, enquanto ele estava em coma, conheceu seu contraparte do Universo Espelho e falou com um Culber do além. Aqui, o fator principal foi ver que a rede micelial foi corrompida pelo Stamets do Universo Espelho, que queria usá-la em benefício próprio, e isso estava provocando a destruição de todas as coisas. Caberá ao Stamets do Universo Prime achar um jeito de salvar a rede micelial que, aparentemente, não tem mais salvação. Aqui fica a grande curiosidade: será que essa rede micelial, até por não existir na série clássica, irá mesmo a pique e Stamets não conseguirá salvá-la, o que encaixaria redondinho no cânone, ou os roteiristas da série ainda vão tentar salvar a bichinha e trazer mais problemas? Na minha modesta opinião, acho que essa rede micelial deveria ser riscada do mapa logo de uma vez, até porque toda a sua concepção é muito forçada, até para a liberdade poética de uma ficção científica, pois imaginar um tecido vivo que permeia todo o Universo quando sabemos que o espaço sideral é o lugar mais inóspito que existe para se manter a vida (repito que fazer um motor que usasse a matéria escura no Universo seria muito mais plausível) é um pouco demais. Que esses micélios sejam enterrados de vez, pois eles já estão enchendo o saco, e a boa e velha dobra espacial ressurja, em coerência com o cânone.

                            Stamets e Stamets…

O outro momento menos interessante, adivinhem qual foi? Isso mesmo, Tyler! O infeliz todo amarrado lá na enfermaria, gritando que é um klingon, etc. Os médicos não sabem o que fazer com o pobre diabo. Saru vai à cela de L’Rell para perguntar se ela pode aliviar o sofrimento e, entrega, também de bandeja, à klingon a informação de que está no Universo Espelho (ai, ai). A klingon diz que Voq se sacrificou espontaneamente pela sua ideologia e que isso é guerra. Aí, Saru perde a paciência e, no melhor estilo “Toma que o filho é teu”, coloca Tyler junto com ela na cela. Aí, a klingon decide ajudar e diz que o processo possa ser revertido. Espero que a primeira coisa que L’Rell faça em Tyler é consertar a língua dele, até para ele parar de falar “Khalexxxx”. Os klingons dessa série precisam de fonoaudiólogos klingons do cânone, para falar klingon na pronúncia correta.

                                                   Lorca, o Sedutor!!!!

Bom, agora faltam apenas três episódios para o fechamento das muitas pontas soltas da temporada. Como Lorca vai interferir na volta (ou não) da Discovery para o Universo Prime? Ele vai tomar o trono? Tyler voltará ao normal e cairá nos braços de Burnham? E nossa protagonista? Parará com seus monólogos fora de hora e ficará, pelo menos, um pouco menos trouxa? Stamets conseguirá salvar a rede micelial? E Saru? Ele mandará Burnham fazer aquilo que rima com o nome dele e será o capitão da Discovery? Muitas emoções até o final. Só espero que os roteiristas não usem uma reação interfásica para explodir tudo de uma vez…

https://www.youtube.com/watch?v=maz30XZocL0

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Batata Séries – Jornada Nas Estrelas Discovery (Episódio 11, Temporada 1). O Lobo Interior. Olha A Imperatriz Aí, Gente!!!

                      Negociando com a rebelião

Chegamos ao décimo-primeiro episódio de “Jornada nas Estrelas, Discovery”. “O Lobo Interior” dá continuidade à saga do Universo Espelho, nessa temporada altamente fragmentada em micro-arcos. Esse episódio tem uma característica peculiar logo em seu início: o teaser (aquela parte do episódio antes da vinheta de abertura) tem 14 minutos, o mais longo até agora nessa série e, talvez, em toda a franquia. Esse teaser foi marcado inicialmente por Stamets abraçado a Culber, falando de florestas e árvores, mais uma de suas charadas que serão elucidadas posteriormente. Ainda, tivemos uma Burnham toda reflexiva ponderando se ela vai aguentar todo aquele cotidiano do espelho sem mudar a si mesma. Apesar da boa vontade da reflexão, confesso que achei essa parte muito enfadonha. E, ainda, apareceu algo altamente inquietante: um Saru como escravo particular de Burnham. Ora bolas, se estamos no Universo Espelho, será que os kelpianos não deveriam ser extremamente agressivos como predadores e Saru teria uma posição até mais alta na Shenzhou, em virtude de sua selvageria? Ou, quem sabe, Saru tivesse até um posto de capitão em outra nave? Se a Tilly era a capitã da Discovery, por que não Saru? Foi estranho, e até pegou mal, Saru ser ainda mais submisso no Universo Espelho. Outro detalhe foi a condenação à morte de três tripulantes, sendo teletransportados para o espaço, onde morriam congelados. Sem a gente querer se lembrar dos detalhes científicos da coisa, mas já lembrando, se uma pessoa está no espaço sideral sem qualquer proteção, ela não congela, mas sim explode. Como vivemos na superfície da Terra, com muito ar em cima da gente, e sob a pressão de uma atmosfera, nosso corpo tem que contrabalançar essa pressão de uma atmosfera. Se ele fica no espaço sem pressão atmosférica nenhuma sobre seu corpo, a pressão que está dentro de nosso corpo tende a expandir o organismo até explodi-lo. Ou seja, não dá nem tempo para congelar. Mas como nas séries de ficção científica, o fogo e o som se propagam pelo espaço mesmo…

                                  Tilly tenta recuperar Stamets, mas…

Um problema surge aqui. Os dados da Defiant não poderiam ter sido transmitidos à Discovery sem serem interceptados pela Shenzhou. Burnham terá que enviar o disco físico com os dados para a Discovery. E a forma como ela conseguiu isso foi legal, como ainda veremos aqui.

Um outro detalhe digno de nota foi a tentativa empreendida por Tilly de salvar Stamets de seu estado letárgico. A cadete acreditava que era a mais qualificada para tratar de Stamets, que estava morrendo, e empreendeu um tratamento à base de esporos que acabou matando o engenheiro. Coisas de Tilly. Entretanto, a atividade cerebral de Stamets ligada à rede micelial voltou e ele se viu numa floresta (o que ele dizia no início do episódio), onde encontra a sua versão do Universo Espelho, perguntando se ele estava pronto para o trabalho. Mais mistério por aí.

                                                           Tyler e Voq

Mas a história principal do episódio está na descoberta da base rebelde. Burnham foi incumbida de destruir a base. Entretanto, ela desce com Tyler para fazer contato com o “Lobo de Fogo”, o líder dos rebeldes, que na verdade, é Voq, o que deixa Tyler, digamos, um pouco descontrolado. Burnham consegue convencer os rebeldes de que quer ajudá-los, depois que um Sarek de cavanhaque faz um elo mental com a moça e descobre que ela tem boas intenções, mas Tyler bagunça todo o coreto, atacando um Voq que lidera uma rebelião multirracial contra a Terra, ao invés de garantir a sobrevivência da cultura klingon. Depois desse momento tenso, o certo seria Voq e os revoltosos retalharem Burnham e Tyler, certo? Mas não foi isso que aconteceu, e Voq ainda continuou a acreditar em Burnham depois que Sarek reiterou as boas intenções da terrestre. Cá para nós, a coisa realmente ficou muito Mandrake aqui. De qualquer forma, ficou acordado entre Burnham e Voq que os rebeldes teriam uma hora para evacuar a base. Em troca, Burnham tinha que mostrar uma prova de que a sua missão foi bem sucedida. Ela recebeu uma base de dados que mostrava a localização das bases rebeldes que seria logo inutilizada. Nessa parte da base rebelde, houve mais uma parte um tanto chata, onde Burnham ficou filosofando com Voq como ele aceitava a diversidade dos revoltosos e ainda mantinha o orgulho da própria cultura klingon. Esse diálogo lembra um pouco, e de longe, a mesma conversa que Kirk teve com o Spock do Universo Espelho, onde o capitão tentava estimular o vulcano a se revoltar contra o Império Terrestre. Mas não caiu muito bem nesse contexto (só serviu mesmo para fazer Tyler surtar). Creio que tal conversa se encaixaria melhor numa situação futura.  Na verdade, Burnham tenta fazer uma aliança com os rebeldes, liderados por um klingon, para ver se ela consegue um tratado de paz com os klingons em seu Universo. Só que essa ideia precisa ser melhor gerida nos próximos episódios e não jogada aqui de qualquer jeito.

Pelo menos, a identidade secreta de Tyler (um Voq transformado) foi revelada aqui para Burnham. E isso porque Tyler ainda falou a ela que tinha um elo com L’Rell e que assassinou Culber. Para coroar toda a decepção de Burnham, Tyler ainda tenta matá-la, sendo salva por Saru no último momento. É claro que Tyler foi condenado à morte no teletransporte para o espaço (colocado didaticamente no início do episódio) e Burnham aproveita a situação para colocar o disco com as informações da Defiant no bolso da roupa de Tyler, depois de lhe dar um soco, pois Tyler, depois de transportado para o espaço, foi interceptado pela Discovery e transportado para lá.

              Burnham busca instruções com um capitão abalado…

O episódio termina com uma nave do Império chegando antes da evacuação dos rebeldes e destruindo toda a superfície do planeta. Quem comandava essa nave? Isso mesmo, a Imperatriz… Georgiou!!! Algo que já era esperado, pois a versão dublada da série mencionava uma imperatriz e não um imperador. De qualquer forma, isso deu um sabor especial ao final do episódio, tornando-o relativamente bom e sendo o seu principal ponto positivo. Revelar Tyler como Voq transformado foi também algo bom, pois fechou-se algo que já estava sendo germinado há vários episódios. Resta ver o que Voq e L’Rell vao fazer ainda na série.

             Uma Imperatriz…

O arco inaugurado com os rebeldes pode ainda dar um bom caldo, pois eles não devem ter morrido e devem estar mortos de raiva da Burnham (pelo menos é o que eu espero). Agora, a grande expectativa vai ser o encontro entre Burnham e Georgiou, sobre os olhares atentos de Lorca que, segundo as redes sociais, parece ser cada vez mais originário do Universo Espelho. Assim, se Discovery não é uma série padrão Jornada nas Estrelas, principalmente em termos de cânone, ainda assim está conseguindo produzir uma história um tanto instigante em seu arco final, com curiosas expectativas à vista. A se lamentar nesse episódio, o monólogo de Burnham ao início do episódio e seu diálogo com Voq um tanto fora de contexto. Esperemos, como sempre, quais os rumos a série tomará no próximo episódio.

https://www.youtube.com/watch?v=RBL3WWVX4Hk