Batata Antiqualhas – Spock e Leonard. Dualidade que se Completa (Parte 3)

            Gary Lockwood em Jornada nas Estrelas…

Em 1961, Nimoy trabalhou como ator convidado num seriado para a tv chamado “O Tenente”, com Gary Lockwood, que participou do segundo episódio piloto de “Jornada nas Estrelas” (“Onde Nenhum Homem Jamais Esteve”), onde ele interpretava o tenente-comandante Gary Mitchell, que havia sido tomado por uma estranha força alienígena e tinha que usar duras e desconfortáveis lentes de contato prateadas. Lockwood também ficou famoso por interpretar o personagem Frank Poole em “2001, Uma Odisseia no Espaço”, que é o tripulante da “Discovery” expelido para o espaço pelo computador HAL-9000.

                       … e em 2001

O diretor do episódio de “O Tenente” em que Nimoy trabalhava era Marc Daniels, da Desilu, estúdio de propriedade de Lucille Ball, a famosa humorista do programa de tv “I Love Lucy”, onde episódios “Jornada nas Estrelas” seriam gravados no futuro. Nesse episódio de “O Tenente”, Nimoy também contracenou com Majel Barrett, futura esposa de Gene Roddenberry, o criador de “Jornada nas Estrelas”. Roddenberry era o produtor de “O Tenente” e convidou Nimoy a tomar parte no primeiro episódio piloto de “Jornada nas Estrelas”. Ele interpretaria o personagem Spock, já todo delineado por Roddenberry: meio humano, meio alienígena, com emoções reprimidas (exprimir as emoções não era de bom tom na cultura alienígena de Spock), cabelo diferente, orelhas pontudas e cor da pele avermelhada (!!!). O personagem em conflito poderia parecer ridículo num primeiro momento, mas Roddenberry levava o personagem muito a sério. As primeiras orelhas ficaram muito ruins pela falta de tempo e de dinheiro e causavam muito constrangimento a Nimoy. Mas Fred Phillips, o maquiador, conseguiu confeccionar um par de orelhas decente com a ajuda de um amigo maquiador da MGM. A cor vermelha da pele foi descartada, pois ficaria muito escura nas filmagens em preto e branco. Ao invés disso, um tom verde-amarelado de pele foi usado. Nimoy tinha que chegar ao estúdio às 6h30min para começar o processo de maquiagem, que ia até às 7h15min. Uma atriz irlandesa, Maura McGivney, foi a primeira a dizer que as orelhas de Spock eram atraentes. Logo, Nimoy ficaria conhecido pelas orelhas, mas houve um medo de que os mais religiosos achassem o personagem muito “satânico”. O episódio piloto “A Jaula” mostrava um Spock muito emotivo, que sorri, se preocupa e tem explosões de emoção, principalmente numa passagem em que uma equipe se teletransporta à superfície de um planeta dominado por uma raça alienígena que interfere no sistema e teletransporta só as mulheres. Spock dá um salto e grita: “As mulheres!”.

Segundo episódio piloto. Roddenberry bancou o vulcano

Uma curiosidade. Roddenberry queria que Spock falasse um inglês mais britânico, como se o alienígena tivesse aprendido a língua ouvindo clássicos ingleses. Mas a ideia foi descartada por Nimoy, que não se sentiu à vontade com o sotaque. O primeiro piloto fracassou, muito em virtude do vulcano e da primeira oficial da nave (Majel Barrett), ou seja, de uma mulher assumir um posto de comando (reza a lenda de que as próprias mulheres comentavam na época “quem ela pensa que é?” ao presenciarem Barrett interpretando um papel que deveria ser reservado a um homem). Foi dada uma nova chance de um novo episódio piloto, mas sem os dois personagens problemáticos. Roddenberry bancou a presença de Spock no segundo piloto e se casou com Barrett, até porque, segundo o próprio Roddenberry, “não dava para fazer o contrário”, ou seja, manter Barrett na série e se casar com o vulcano. O produtor de “Jornada nas Estrelas” alegava que o personagem alienígena era fundamental para a série.

No próximo artigo, vamos ver como o personagem vulcano foi se estruturando com os episódios de “Jornada nas Estrelas”. Até lá!

                       Spock fazendo suas orelhas

Batata Antiqualhas – Capitães. Relatos Comoventes.

             Cartaz do Filme

William Shatner brindou todos os fãs de “Jornada nas Estrelas” com o bom documentário “Capitães” no ano de 2011. Esse documentário teve como objetivo principal entrevistar todos os atores que interpretaram capitães nas então cinco séries de “Jornada nas Estrelas”, mais os longas de J. J. Abrams. O resultado foi um rosário de relatos comoventes e marcantes para todos os protagonistas, mas também para os fãs.

Conversas emocionantes com Patrick Stewart…

Shatner (Capitão Kirk, série clássica) entrevistou os seguintes “capitães”: Patrick Stewart (Capitão Picard, Nova Geração), Avery Brooks (Capitão Sisko, Deep Space Nine), Kate Mulgrew (Capitã Janeway, Voyager), Scott Bakula (Capitão Archer, Enterprise) e Chris Pine (o “novo” Capitão Kirk, da Kelvin Time Line de J. J. Abrams). Os devidos capitães foram apresentados e, depois, as entrevistas eram alternadas, de forma que nenhum capitão tivesse uma posição privilegiada com relação ao outro. Como o próprio Shatner era capitão e entrevistador ao mesmo tempo, parte do documentário foi usada para que o ator desse um relato de suas impressões pessoais e profissionais. Ainda, com relação à parte de Shatner, foi muito legal ver a entrevista que ele fez com Christopher Plummer, canadense como Shatner, e que foi substituído pelo nosso Capitão Kirk quando os dois trabalhavam juntos no teatro, antes ainda de “Jornada nas Estrelas” e Plummer ficou doente. Não é à toa que Plummer foi chamado para ser o general klingon Chang em “Jornada nas Estrelas 6, A Terra Desconhecida”.

                             … e Kate Mulgrew

O documentário teve outros lances interessantes. Falou-se da severa rotina de gravações dos episódios e de como isso afetou a vida pessoal dos atores. Isso, por exemplo, acabou com o casamento de Shatner e provocou uma turbulência na relação de Mulgrew com os filhos, que detestam “Jornada nas Estrelas” por esses problemas. Em outro momento muito curioso, Stewart, um ator shakespeariano, disse como levou a produção de uma série de TV como “Jornada nas Estrelas” a sério e criticava muito a falta de organização da produção na primeira temporada.

                                  Queda de braço com Chris Pine!!!

Shatner declarou, por sua vez que, depois de todo o sucesso de Spock, ele se sentiu secundário na série e se sentia magoado com o tom de galhofa com que era tratado em virtude disso. Isso fez com que ele renegasse um pouco o personagem Kirk. Só que, com as convenções, todos os chamavam de Kirk, algo que o irritava, pois ele era Shatner. O ator somente percebeu a força de seu personagem quando, ao pegar um jatinho para ir a Londres entrevistar Stewart, o presidente da companhia aérea Bombardier foi recebê-lo em pessoa no aeroporto para lhe dizer que começou a carreira de engenharia aeroespacial em virtude de Kirk e de “Jornada nas Estrelas”. Stewart, por sua vez, disse que aceita com naturalidade o fato de ser chamado de Picard, algo que soou como uma espécie de alívio para Shatner, já que ambos os atores têm uma identificação, pois começaram no teatro interpretando Shakespeare.

                               Brooks, o pianista

Se pudéssemos colocar uma espécie de ranking entre as entrevistas, eu diria que as conversas com Stewart e Mulgrew foram as mais emotivas e intimistas; a conversa com Bakula foi a que teve mais trocas de experiências pessoais; a conversa com Pine foi uma espécie de passagem de bastão do mestre para o discípulo, onde Shatner se derrete em elogios a Pine, e a conversa com Brooks foi a mais musical e um tanto estranha, até porque a personalidade de Brooks é um tanto excêntrica. De qualquer forma, foi legal ver Sisko ao piano cantando um jazz.

Boa conversa com Bakula. Troca de experiências…

Assim, o documentário “Capitães” é simplesmente um programa obrigatório para todos os trekkers de plantão. Ele está lá à disposição no Netflix. Se você já viu, reveja. Se ainda não viu, está intimado a ver, se divertir e se emocionar.

 

Batata Antiqualhas – Spock e Leonard. Dualidade Que Se Completa (Parte 1)

Um grande ícone da cultura ocidental de todos os tempos!!!

A perda do grande ator Leonard Nimoy, no dia 27 de fevereiro  de 2015, deixou órfãos os fãs da série de tv americana “Jornada nas Estrelas” em todo o mundo. Nimoy interpretava Spock, o oficial de ciências vulcano, que era o personagem mais amado e cultuado da franquia e foi um dos ícones mais adorados da cultura ocidental. Houve muita dor naqueles dias e fica a saudade hoje. Infelizmente, os anos de cigarro causaram uma doença pulmonar que, com a idade, ficou irreversível. A morte de Nimoy provocou, na época, manifestações de vários setores. O então presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, disse que Nimoy era um “defensor das artes e das humanidades, um defensor das ciências, generoso com o seu talento. E, claro, Leonard foi Spock. ‘Cool’, lógico, de orelhas grandes e sangue frio, o centro da visão otimista e inclusiva de ‘Jornada nas Estrelas’ sobre o futuro da humanidade”. William Shatner lamentou a perda do amigo: “Eu o amava como a um irmão. Sentimos falta de seu humor, seu talento e sua capacidade para amar”. A NASA (Agência Espacial Americana) emitiu uma nota dizendo que “muitos de nós da NASA fomos inspirados em ‘Jornada nas Estrelas’” e o executivo-chefe da Fundação Espacial, Elliot Pulham disse em comunicado que “Leonard Nimoy criou um modelo positivo que inspirou inúmeros telespectadores a aprender mais sobre o Universo. Hoje, muitas pessoas são entusiastas do espaço e líderes da indústria”. Nimoy, em seu último tuíte, deixou uma mensagem um tanto nostálgica: “A vida é como um jardim. Momentos perfeitos podem ter acontecido, mas não preservados, exceto na memória”.

Em 2015, já muito debilitado…

Por que Spock marcou tanta presença e foi tão importante na vida de tanta gente? Como Nimoy lidou com isso? Onde terminava o artista e começava o vulcano? A morte de Nimoy e a participação em uma mesa num evento do finado site “Abacaxi Voador” me estimularam, na época, a reler o livro “Eu Sou Spock”, de Nimoy, a fim de ter em mãos a voz do próprio ator. Infelizmente, não pude participar do debate, pois naquele dia 14 de março de 2015, eu havia perdido a minha mãe, vítima de uma embolia pulmonar, duas semanas depois da morte do grande ator. Dois eventos muitos dolorosos. Momentos de muita tristeza e resignação. Resolvi lidar com isso escrevendo. Não quis desperdiçar minhas leituras e anotações. E, portanto, decidi escrever alguns artigos para o “Abacaxi Voador” baseados na leitura de “Eu Sou Spock”. Uma forma de homenagear não só o ator que deu vida a um personagem que muito admirei, mas também de homenagear a pessoa mais importante de minha vida. Decidi reproduzir esses 21 artigos agora em meu site Batata Espacial, cerca de dois anos e meio depois. Assim, espero que essa coletânea de artigos ajude a apresentar mais Leonard Nimoy e Spock aos não iniciados em “Jornada nas Estrelas” e, para os iniciados, que os artigos tragam boas recordações. Afinal, recordar é viver.

                 Muitas homenagens em vida…

O texto de “Eu Sou Spock” nos ajuda muito a entender o fenômeno do vulcano e a carreira desse grande ator que, ao contrário do que muitos podem imaginar, não se limitou apenas ao personagem Spock. Vamos agora fazer uma compilação das ideias principais do livro.

Em primeiro lugar, devemos falar de um vacilo publicamente reconhecido por Nimoy: seu livro “Eu Não Sou Spock”, que tinha como objetivo não falar somente do personagem, mas também do ator Leonard Nimoy e de sua carreira, num esforço de se lembrar às pessoas que Nimoy não é um “ator de um personagem só”. Ele teve a ideia de escrever para seu livro um capítulo intitulado “Eu Não Sou Spock” (que logo se tornaria o título do próprio livro) depois que uma criança no aeroporto não o reconheceu como o vulcano ao ser interpelada pela mãe, já que o ator não estava maquiado como tal. Os editores do livro diziam que as pessoas não gostam de títulos negativos, ao que Nimoy, sabichão como ele só (como ele mesmo disse!) retrucou: “E o que acham de ‘E O Vento Levou’?”. O livro foi editado com o título de “Eu Não Sou Spock”, e foi um fracasso, já que as reprises de “Jornada nas Estrelas” em meados da década de 1970 popularizaram demais a série e as pessoas queriam novos seriados. O título do livro veio em péssima hora. E Nimoy foi acusado de não gostar de “Jornada nas Estrelas” sendo, inclusive, odiado por isso. Quando Nimoy escreve “Eu Sou Spock”, é justamente para desmentir as acusações de que ele não gosta da série e, principalmente, do vulcano.

No próximo artigo, continuaremos destrinchando a vida do ator e do vulcano, que merecem longas homenagens. Até lá!

                     Eu sou Spock… ou não???

Batata Séries – Jornada Nas Estrelas Discovery (Episódio 7, Temporada 1) – Magia Para Fazer O Homem Mais São Ficar Louco – Cinquenta Tons De Se Matar Lorca.

Tudo começa numa festa

E chegamos ao sétimo episódio de “Jornada nas Estrelas, Discovery”, dessa vez com um título quilométrico (“Magia Para Fazer O Homem Mais São Ficar Louco”). Esse foi mais um episódio que, assim como o último, destoou dos cinco primeiros. Parece cada vez mais que os cinco primeiros episódios foram escritos numa vibe que estava, como vimos, muito fora do que estamos acostumados a ver em “Jornada nas Estrelas” e que, de repente, decidiu-se fazer uma espécie de mudança radical na série, voltando ao espírito original de “Jornada nas Estrelas”. Só que, para podermos ter certeza disso, precisamos ver os próximos episódios, até porque algumas questões ficaram mal resolvidas nos episódios anteriores, tal como a guerra contra os klingons, colocada um pouco de lado nos dois últimos episódios, e o sequestro da Almirante Cornwell (esqueceram a mulher lá com os klingons e ninguém está movendo uma palha nem mencionando o nome dela nos dois últimos episódios!!! Muito estranho, não?).

Stamets fala do loop temporal

Mas, o que aconteceu em linhas gerais nesse sétimo episódio? Ele começa com Burnham refletindo sobre a sua adaptação com a nave e a tripulação. Ela passará por mais uma prova de fogo: socializar numa festa. Quando Tyler pede a palavra e se lembra dos dez mil mortos na guerra com os klingons, Tyler e Burnham são chamados à ponte. Eles se esbarram nos corredores com um Stamets completamente doidão. O engenheiro está assim desde que se voluntariou para integrar seu DNA com o do tardígrado e ser o navegador do motor de esporos. Ao chegarem à ponte, Lorca mostra aos dois que uma gormagander, uma espécie de baleia espacial (algo que incomoda, pois o espaço sideral é um meio totalmente inóspito para a vida, seja para gormaganders, seja para esporos), vaga pelo espaço e, por se tratar de uma espécie em extinção, ela deve ser conduzida para o interior da nave para estudos. Ao ser transportada para a nave, a gormagander expele pela boca um alienígena vestido de Kamin Rider atirando para todos os lados. Qual não é a surpresa quando sabemos que o alienígena é o Mudd sinistrão de episódios anteriores? Ele quer o segredo da Discovery para vendê-lo aos klingons. Mas, como foi descoberto, decide usar um explosivo que destruiu toda a nave.

Mudd e um plano brilhante

Voltamos à festa. Ué, como? Isso mesmo, caro leitor, o episódio é daqueles do tipo de loop temporal, onde vemos seguidamente o que aconteceu nos últimos trinta minutos e Mudd tentará, a cada loop, aprender mais sobre a nave até encontrar o segredo da Discovery a ser vendido para os klingons. Ele só não contava que Stamets, em virtude de sua condição toda especial, perceber que os loops ocorrem e ter a memória deles. Será Stamets que alertará Burnham dos loops e do plano de Mudd, onde esses tripulantes, a cada loop, tentarão sabotar os planos do vigarista e aqui assassino.

Matando Lorca várias vezes…

Esse foi mais um episódio de desenvolvimento de personagens pois, a cada loop, Burnham e Tyler tinham que ficar mais próximos para executar o plano que impediria Mudd de tomar a nave e Stamets meio que fazia as vezes de cupido do casalzinho. Não que isso não torne a série mais simpática, até porque, em Jornada nas Estrelas, os trekkers sempre têm afinidades com os personagens, mas confesso que acho um pouco maçante essa campanha em torno de Burnham e Tyler fazerem um par romântico. Enfim… O mais curioso é que, por causa dos loops, Burnham e Tyler não se lembram de seu envolvimento amoroso. Mas eles sabem que o envolvimento existiu e fica aquele clima no ar entre os dois de que algo acontecerá no futuro.

Burnham. Jogo de xadrez com Mudd a cada loop

A ideia do loop temporal, apesar de um pouco desgastada, é boa. Parece que foi seguida aquela máxima do futebol: em time que se está ganhando, não se mexe. Ou seja, é mais seguro usar fórmulas que já deram certo no passado do que correr o risco de se ficar metendo os pés pelas mãos e inventar. É claro que tudo isso depende muito de como você reaproveita a fórmula de sucesso e de como você inventa e inova. Aqui foi interessante ver Mudd usando o loop mais de cinquenta vezes, sendo assassino e sádico em todas elas, principalmente com Lorca, onde o trapaceiro espacial matou o capitão mais de cinquenta vezes, sendo esse curiosamente o alívio cômico do episódio. Sei não, mas parece que depois de personagens importantes serem mortos nos primeiros episódios e ficar aquela tensão em mais mortes de protagonistas nos episódios seguintes, assassinar Lorca várias vezes caiu mais como uma piada para com essa tensão.

Um Mudd muito apático no final…

A ideia de se derrotar Mudd na base da trapaça foi interessante, quer dizer, a única forma de se derrotar um trapaceiro é trapaceando, como foi dito no próprio episódio. O que incomodou um pouco foi a passividade com que Mudd aceitou a sua derrota, ficando ao lado de “sua” Stella. Vimos como esse amor pela esposa era somente da boca para fora e de como a esposa de Mudd, apesar de muito doce aqui, já tem um gênio forte. Quer dizer, aquela receita da mulher chata da década de 60, criticada por ser considerada machista, é retomada aqui sem o menor pudor para ajudar a reconstituir a personagem Stella, ao contrário do que aconteceu com Mudd, que ficou muito descaracterizado. O Mudd da série clássica é vigarista, mas simpático, não mataria ninguém como o sinistro Mudd da Discovery. Agora, fica a pergunta: será a última aparição deste personagem na série?

Assim, “Magia Para Fazer O Homem Mais São Ficar Louco” é o segundo episódio de uma espécie de “novo arco” da Discovery, que coloca o arco principal da guerra dos klingons de lado, investe na construção dos personagens e de seus relacionamentos, tem uma cara de episódio mais destacado, se aproximando das séries antigas e se afastando um pouco do que se faz no streaming, ou seja, um novelão, e que coloca mais um ponto de interrogação na cabeça do espectador: como será o próximo episódio? Dentro de uma vibe soturna dos cinco primeiros, ou dentro da vibe mais colorida dos dois últimos? Esperemos por segunda-feira.

Leia resenhas de outros episódios de Jornada nas Estrelas Discovery aqui

Batata Movies – Thor Ragnarok. Muito Engraçadinho, Mas Não Ordinário.

                  Cartaz do Filme

A Marvel ataca novamente com “Thor, Ragnarok”, o terceiro filme solo do Deus do Trovão e que conta com um tremendo nome de peso: Cate Blanchett, como Hela, a Deusa da Morte, irmã mais velha de Thor e de Loki. Esse foi um bom filme, bem ao estilo das demais películas da Marvel: muita ação, CGIs e humor, uma receita que tem dado certo, embora agora pareça que eles exageraram um pouco na mão do humor, aproveitando o lado mais lerdinho e burrinho de Thor.

                    Um Thor sem as madeixas…

A história gira em torno do chamado “Ragnarok”, ou seja, uma espécie de apocalipse da mitologia nórdica, onde Asgard será destruída. Loki (interpretado por Tom Hiddleston) toma o trono de Asgard e confina Odin numa casa de repouso na Terra. Quando Thor descobre tudo, ele obriga o irmão a ir atrás do pai junto com ele. Qual não é a surpresa quando os dois descobrem que a casa de repouso foi demolida? Mas aí entra o Dr. Estranho (interpretado por Benedict Cumberbatch) na jogada e ajuda os irmãos a encontrar o pai na Noruega, com um portal dimensional. Entretanto, eles encontram Odin à beira da morte, o que significa que Hela, a Deusa da Morte e filha mais velha de Odin está por perto. A ideia de Hela é tomar o trono de Asgard e colocar vários outros reinos sob seu domínio. O problema é que, na luta entre os três irmãos, Thor e Loki irão parar num estranho mundo governado por um tal Grão Mestre (interpretado por Jeff Goldblum, em excelente atuação), que coloca Thor para lutar contra seu campeão (o Hulk) numa arena. Caberá ao Deus do Trovão sair dessa tremenda encrenca para tentar salvar Asgard das garras de Hela.

             Novamente, a boa presença de Loki

Todo filme que fala de destruição e apocalipse geralmente tem um tom mais sombrio. Não foi o que aconteceu aqui. Pelo contrário. A carga de humor tão presente nas películas da Marvel, deu o ar de sua graça mais do que devia, o que ridicularizou um pouco nosso personagem protagonista. Não que isso seja ruim, mas parece que dessa vez ficou um tanto exagerado, mesmo que saibamos que, na mitologia nórdica, Thor é meio vaca brava mesmo. Sei lá, nesses filmes solo do Thor, confesso que sempre gostei muito mais do Loki, resultado do magnífico trabalho de Tom Hiddleston, cujo papel parece cair como uma luva para ele, principalmente quando ele dá aquele sorrisinho sarcástico. Ainda, temos aqui um vilão que é realmente do mal, mas ainda tem algum relacionamento afetivo com o mocinho. Nesse ponto, a analogia entre Loki e Magneto, outro grande personagem do Universo Marvel, se faz de forma imediata. E aí, o roteiro com lances cômicos funciona bem na interação entre os irmãos.

                 Dr. Estranho dá uma ajudinha…

Agora, as novidades. Jeff Goldblum esteve muito bem como o carnavalizante Grão Mestre, multicolorido e afetado, num mundo para lá de insólito. Ele conseguia ser odioso e engraçado, beirando o ridículo, ao mesmo tempo. Sentíamos toda a maldade dele, mas o personagem também conseguia esbanjar simpatia. Agora, o grande trunfo e novidade desse filme, sem a menor sombra de dúvida, foi Cate Blanchett. A mulher simplesmente arrebentou! Ela conseguia ser sensual e elegante ao mesmo tempo, ou seja, não era vulgar. E sua vestimenta negra, aliada com a maquiagem pesada, trouxe lembranças vivas das divas expressionistas do passado, tudo isso evocando uma alma maligna! Foi de encher os olhos! Tal trabalho da atriz já é uma espécie de cartão de visitas para o seu filme “Manifesto”, onde ela interpreta, de forma camaleônica, vários papéis, e que também está em cartaz.

                    Cate Blanchett, magnífica!!!

O mais curioso foi o desfecho, que foge do convencional e acabou sendo um tanto ambíguo, algo interessante, mas que os spoilers me evitam de revelar. Cá para nós, essa ambiguidade até esteve presente no filme pois, como já foi dito, um tema pesado como o apocalipse fica tratado de forma esquisita quando se exagera na dose de humor.

Assim, “Thor, Ragnarok” ainda segue a receita de sucesso da Marvel, embora agora tenha exagerado um pouco na mão do humor. Mas como a Marvel não dá ponto sem nó, desta vez ela caprichou nas aquisições do elenco, trazendo Jeff Goldblum e, principalmente, Cate Blanchett. Será que não dá para trazer Hela de volta nas próximas películas? Espero que sim. Ah, e não se esqueçam dos pós-créditos. São dois dessa vez.

https://www.youtube.com/watch?v=t9pEUhln7Ew

Batata Antiqualhas – Jornada Nas Estrelas. Radiografando Um Longa: A Terra Desconhecida.

             Cartaz do Filme

O filme “Jornada nas Estrelas 6, A Terra Desconhecida” seria o último longa metragem da tripulação da série clássica, não fosse “Generations”, onde Kirk, Chekov e Scott ainda dão o ar de sua graça, com a desnecessária morte de Kirk. Entretanto, o sexto filme da primeira tripulação da Enterprise deu um final digno àquela equipe, além de mostrar-se uma obra antenada com o seu tempo e os objetivos iniciais da série lá nos anos 1960. Vamos radiografar esse filme agora.

      Nossa amada tripulação em sua última missão

Só para recordarmos, Sulu é o capitão da Excelsior, uma nave que ele ficou admirando no terceiro e quarto filmes. Ficou a impressão que ele mexeu os pauzinhos certos para pegar a nave. Numa missão, ele testemunhará a explosão de Práxis, a lua klingon que é a principal fonte de energia do Império alienígena. Ao saber disso, Spock toma as rédeas das negociações de paz com os klingons e convence seus superiores a trazer para a Terra o chanceler Gorkon para as conversações.

            O grande trio ainda dando caldo

Obviamente, a Enterprise foi escolhida, pois segundo a frota espacial, os klingons não se atreveriam a gracinhas com Kirk por perto, para desespero do capitão. Contrariado com a situação, Kirk parte com a Enterprise para receber Gorkon. Mas o chanceler é assassinado depois de a Enterprise supostamente ter atirado no cruzador klingon, ter desligado a gravidade artificial e dois supostos membros da Federação terem se teletransportado para o cruzador, matando vários klingons a tiros de phaser, assim como o chanceler. Sob a mira dos torpedos fotônicos klingons, Kirk anuncia a rendição e se teletransporta junto com o Doutor  McCoy para o cruzador para oferecer assistência. Mas os dois acabam presos. O que se sucede é uma história onde a paz está ameaçada por uma conspiração envolvendo membros da federação trabalhando juntamente com klingons para manter o estado de beligerância e nossos heróis tentando resolver esse problema para trazer a paz.

           Encontro com o cruzador klingon

O que torna esse filme especial? Em primeiro lugar, a série clássica foi forjada dentro do contexto da Guerra Fria, onde todos os conflitos entre as nações haviam sido expelidos para o espaço. A noção de fronteira sempre foi um paradigma entre os americanos, segundo Frederick Jackson Turner, onde o povo saiu das treze colônias inglesas da América do Norte rumo ao oeste, expandindo as fronteiras americanas e indo além do Pacífico, pegando o Havaí, mas quebrando a cara no Vietnã. Não é à toa que o espaço é a fronteira final.

Gorkon e Kirk. Velhos guerreiros em busca da Terra Desconhecida

Como no século 23 todos os conflitos terrestres tinham sido abolidos, os inimigos agora são alienígenas como klingons e romulanos, alegorias da ameaça comunista da década de 1960. Mas em 1991, cai o Império soviético. Era necessário, então, um longa metragem com esse desfecho, sendo uma representação do fim da Guerra Fria. Nada mais claro nisso do que a conversa entre Kirk e Spock depois da reunião no QG da frota. Kirk, enfurecido, pergunta por que Spock o colocou naquela rabuda de escoltar os klingons, ao que Spock respondeu: “Há um antigo provérbio vulcano: somente Nixon poderia ir à China”. Emblemático.

Cena do julgamento. Um magnífico Plummer e o “avô de Worf”

Outra característica marcante do filme foi a necessidade de se explicar a presença de um klingon na ponte da Enterprise D (nosso estimado Worf, da “Nova Geração”). A nova série de TV, iniciada em 1987, exigia que em algum momento, a paz com os klingons fosse exibida. O fim da Guerra Fria foi o contexto ideal. Uma curiosidade a respeito é que o ator que interpreta Worf na “Nova Geração” também interpreta o advogado de defesa klingon na magnífica cena do julgamento de Kirk e McCoy (reza a lenda que o advogado seria o avô de Worf). Ainda no universo klingon do filme, temos a presença do consagrado ator Christopher Plummer, o pai ranzinza de “A Noviça Rebelde” (confesso que quando revi “A Noviça Rebelde” depois de “A Terra Desconhecida”, a primeira imagem de Plummer no filme me trouxe um “Q’aplá!”, a saudação klingon, à cabeça).

    Kirk enfrentando problemas em Rurah Penthe.

Gosto muito de ver atores consagrados trabalhando em franquias, acho que isso leva mais credibilidade a elas. A única exigência de Plummer foi que seu personagem Chang não tivesse longas cabeleiras. Mas até as cristas na testa ele aceitou. Genial! Outro detalhe notável foi associar os klingons a Shakespeare. Tudo a ver! Amantes da violência explícita! Por isso que se deve ler Shakespeare no original, ou seja, em klingon!

                  Enterprise A sem escudos!!!!

Mais um detalhe interessante: a relação entre Spock e a vulcana Valeris, que ele considerava ser sua herdeira. Nosso primeiro oficial tem uma afeição praticamente filial pela novata e sua decepção fica muito clara quando descobre que ela faz parte da conspiração e precisa fazer o elo mental nela para descobrir os membros da conspiração. Nota-se que, ao contrário do que ocorria na série clássica, ele não tem o menor pudor de esconder as emoções. Isso por dois motivos: a decepção fora enorme e por estar cercado de amigos de longa data que já sabiam de seu lado humano. De qualquer forma, sempre é bárbaro ver Spock revelando suas emoções, ainda mais numa situação de desalento como essa.

       Spock e Valeris. Afeto e mágoa

Por fim, a conspiração. Se na série clássica a Federação aparece como algo totalmente racional e asséptico a atitudes pouco virtuosas (reproduzindo um espirito talvez de inspiração positivista, totalmente falso para cabeças “menos evoluídas” do século 20), neste filme vemos membros da Federação conspirando junto com klingons para manter a guerra, algo mais palpável com nossa realidade. Esses desvios de caráter de membros da Federação são também vistos em “Deep Space Nine”. Os que conspiram são aqueles que temem um mundo de paz no futuro, a “Terra Desconhecida” que Gorkon brindou no sensacional jantar na Enterprise.

Final feliz. Pela última vez, tripulação salva o dia

Por essas e por outras, “Jornada Nas Estrelas 6, A Terra Desconhecida” é um filme de fundamental importância na franquia mais amada de todos os tempos (na minha modestíssima opinião).

Batata Antiqualhas – Jornada Nas Estrelas 4. Radiografando Um Longa: A Volta Para Casa (Parte 2).

Como e quando usar as metáforas pitorescas?

Voltamos aqui a falar de “Jornada nas Estrelas 4: A Volta para Casa”. Por que esse é o melhor dos longas-metragens? Porque ele foi o mais fiel ao espírito da série. O primeiro longa foi altamente cerebral e artístico, fazendo uma ficção científica altamente intelectualizada. O segundo e o terceiro fizeram alusões a elementos da série (Khan e os klingons), além de abordar temas filosóficos como os efeitos da passagem do tempo na vida das pessoas, ou temas de história presente (para a época que os filmes foram feitos) como a Guerra Fria. Entretanto, os dois filmes estavam embebidos no clima de violência imperante nos filmes de ação da década de 1980, algo que o próprio Gene Roddenberry repudiava.

                         Elo mental com jubarte.

E o quarto filme? Este acertou na mão, pois em primeiro lugar, foi abandonado o manto de violência. Além disso, ele tratou de ser uma ficção científica considerando temas como viagem no tempo e as qualidades e defeitos da humanidade (algo muito explorado na série clássica, principalmente quando Spock criticava os defeitos da humanidade para exaltar seu lado vulcano). Mas o principal: a história trouxe um delicioso humor muito caro à série, onde aconteciam os debates acalorados entre McCoy e Spock, sempre engraçados. O filme tem muitas passagens hilárias, como Kirk xingando o motorista que quase o atropela, o ato de colocar os óculos “no prego” na loja de penhores (“100 dólares é muito?”), o fato de Chekov, um russo, perguntar a um guarda de rua onde ficam os navios nucleares em plena Guerra Fria (nessa cena, em meio aos figurantes, passava uma moça que, despercebidamente, participou do filme e deu a dica a Chekov e Uhura de que os navios estavam do outro lado da baía!), o uso das “metáforas pitorescas” (ou palavrões) por parte de Spock em momentos impróprios, ou a ótima cena do ônibus onde Spock põe um punk para dormir, pois ele fazia muito barulho com um rádio gravador cassete (lembra? Você teve um? Eu tive!). O detalhe é que o punk é um dos produtores associados do filme e foi um dos compositores da música que saía do rádio gravador. A cena do hospital com McCoy o comparando à Inquisição Espanhola também é sensacional! O filme está cheio de situações engraçadas. Mas não de um humor simplório e sim muito inteligente e refinado.

                                 Boa viagem!!!

O choque cultural entre a tripulação do século 23 e a vida no século 20 é outro detalhe digno de atenção e que deu um sabor especial ao filme. Kirk qualifica a cultura do século 20 como “primitiva e paranoica”. Spock identifica altos níveis de poluição na atmosfera como indício de que eles haviam chegado a 1986. As notícias de negociações fracassadas de redução de armas nucleares estampadas nos jornais renderam o comentário rabugento e irônico de McCoy: “É um milagre essas pessoas sobreviverem ao século 20”. Todas essas situações de estranhamento pelos olhos do outro nos ajudavam a identificar os absurdos do mundo daquela época, principalmente num dos temas chave do filme, que era a matança e extinção das baleias. Ao acabar com elas, o homem cavava sua própria extinção, realmente uma forma muito inteligente de falar sobre a questão da ecologia, tão em voga naquela época e que mostrava como o ser humano, por também fazer parte do ecossistema, pode sofrer  consequências se começar a destruir o meio ambiente. O mais triste é que alguns dos absurdos assinalados no filme ainda permanecem muito contemporâneos.

                                      Bye Bye.

As emoções de Spock são obviamente mais uma vez enfocadas. Desta vez porque ele foi reeducado dentro dos padrões vulcanos após “ressuscitar”. Ao fazer seus testes, ele responde simultaneamente várias questões sobre várias disciplinas (como se fizesse um multi enem!)  mas, ao ser perguntado pela máquina como se sentia, ele não entendia o sentido da pergunta. Sua mãe é que irá recolocá-lo no caminho das emoções ao lembrar ao filho o sacrifício de seus amigos humanos para salvá-lo, algo que foi contra todas as implicações lógicas. As situações que aparecem ao longo do filme, como a necessidade de resgatar Chekov do hospital, também auxiliam na forma como o vulcano volta a enxergar a importância das emoções e do sentido de companheirismo, ficando junto a seus amigos na cena corte marcial.

Definitivamente, esse é o melhor filme de todos. Todas as virtudes da série assinaladas. Inteligência e humor eram as características mais marcantes da série clássica. E também essas caraterísticas apareceram em “Jornada nas Estrelas 4: A Volta para Casa”.

Batata Antiqualhas – Jornada Nas Estrelas 4. Radiografando Um Longa: A Volta Para Casa (Parte 1).

               Cartaz do Filme

E chegamos ao quarto longa da tripulação da série clássica. Sem sombra de dúvida, o melhor filme de todos, o de maior sucesso de público. Tem gente que não é fã de “Jornada nas Estrelas”, mas disse que viu “o filme das baleias”, que trazia o otimismo com relação ao futuro, inerente a Gene Roddenberry. “A Volta Para Casa” é o mais fiel longa-metragem à série, além de contar com um excelente roteiro, sendo o auge dos seis filmes produzidos. A equipe de produção disse que se divertiu muito ao fazer o filme, incluindo Leonard Nimoy, que ajudou a conceber a história, assinou a direção e ainda atuou.

     A tripulação da Enterprise agora em 1986

Após os sucessos de bilheteria de “A Ira de Khan” e “A Procura de Spock”, Nimoy recebeu uma espécie de carta branca para fazer o novo filme, ou seja, ele tinha a autorização de colocar sua visão e ele queria fazer uma história sobre viagem no tempo. Harve Bennett, o produtor, só impôs uma condição: que o filme tratasse do tempo presente daquela época, o ano de 1986. Era necessário, portanto, um motivo para a volta no tempo. Foi encontrada a saída da questão da extinção das baleias jubarte. Logo, o filme abordou um tema referente à consciência ecológica que despontava em meados da década de 1980. Foi criada a ideia de uma sonda alienígena que viria à Terra para se comunicar com as baleias, e não os humanos que, segundo Spock, na sua arrogância pensam que são a única espécie inteligente da Terra. Mas, no século 23, as baleias jubarte já estariam extintas e o sinal de comunicação da sonda alienígena interferia nas fontes de energia da Terra e das naves que cruzavam o caminho. Enquanto isso, nossa tripulação saía de seu exílio em Vulcano para retornar à Terra e encarar a corte marcial, depois do sequestro da Enterprise para salvar Spock. Voltando na Ave de Rapina, eles receberam a mensagem de não se aproximar da Terra, em virtude da sonda alienígena, que mandava seu sinal em direção ao mar. Ao receber o sinal da sonda, Kirk pediu a Uhura para verificar como ficaria o sinal dentro da água salgada do mar. O resultado foi o canto das jubartes. Devido à sua extinção, era necessário retornar ao passado para buscar as baleias e transportá-las para o século 23, com o objetivo de fazê-las entrar em contato com a sonda. A Ave de Rapina fará isso contornando o Sol em alta velocidade warp, usando ainda o forte campo gravitacional do astro para aumentar ainda mais a velocidade da nave e, assim, retornar ao passado (essa “dobra temporal” usando o campo gravitacional do Sol foi usada no excelente episódio da série clássica “Amanhã é Ontem”, escrito por D. C. Fontana, que um dia ainda falaremos aqui).

              Kirk e Spock à procura de baleias…

Nimoy quis um filme menos sério que os outros onde, além da busca da solução do problema apresentado, também  houvesse um toque de humor. Essa tarefa ficou a cargo de Nicholas Meyer, o diretor de “A Ira de Khan”, que se surpreendeu com o pedido de Nimoy, mas escreveu a parte do roteiro que tratava da tripulação perambulando pela San Francisco de 1986, enquanto que Benett ficou responsável pela parte do roteiro no século 23. O responsável pela Paramount, Ned Tannen, gostou muito do roteiro, e as filmagens começaram. Para Nimoy, foi fácil trabalhar nas filmagens, pois ele também havia trabalhado no roteiro por um ano e meio.

                              “Hello, Computer!”

Ao se trabalhar com viagens no tempo, a produção do filme esbarrou na velha questão: não se pode alterar o passado. Em vez disso, a produção optou por não ter medo de alterar o passado, desde que se avise isso antes e lançando mão de doses de humor. Vemos tal situação quando Kirk penhora no século 20 um par de óculos que McCoy lhe deu de presente no século 23. Alertado por Spock sobre isso, Kirk responde. “Sim, foi um presente de McCoy e será de novo”. Ou então na cena em que Scott dá a fórmula de alumínio transparente para o dono da fábrica no século 20, em troca das placas que usarão no tanque das baleias. McCoy disse a Scott que ao dar a fórmula, eles estarão alterando o futuro. Ao que Scott retruca: “Por que? Como sabemos se ele não foi o inventor?”. Benett disse que usou essas passagens com o intuito de resolver o problema e tirar os céticos do caminho.

No próximo artigo, continuaremos falando mais sobre esse que foi o melhor de todos os longas da série clássica. Até lá!