Batata Movies – Clone Wars, O Longa. Uma Guerra E Uma Padawan.

Cartaz do Filme. Excelente animação

“Há muito tempo, em uma galáxia muito, muito distante”. Todo mundo conhece o prólogo de “Guerra nas Estrelas”. A saga criada por George Lucas, que começou no longínquo “Uma Nova Esperança”, lá em 1977, expandiu seu Universo de uma tal forma que passou por um processo de amadurecimento ao longo do tempo. Os fãs da trilogia original até torceram o nariz para esse amadurecimento (leia-se a trilogia Prequel). Mas sem dúvida a coisa se enriqueceu e se variou bastante. Se na trilogia original houve um tom mais lúdico de fantasia espacial, a trilogia Prequel buscou dar um conteúdo maior de trama política, com uma história mais densa dividindo o espaço com as empolgantes cenas de ação de sempre.

Anakin e Obi Wan terão uma difícil missão pela frente

O espaço entre as trilogias e os episódios das trilogias também passou a ser ocupado por novas histórias em várias mídias. Videogames, quadrinhos, livros, animações. Uma dessas tentativas foi o longa de animação “Clone Wars”, que se passa entre os episódios II e III da trilogia Prequel. Temos aqui uma história de muito boa qualidade, que nada fica a dever aos filmes das duas trilogias. O ambiente da animação está nas famosas Guerras Clônicas e há toda uma disputa estratégica entre o Conde Dooku (faça-me o favor de tirar o nome Dookan daqui para bem longe; devemos respeitar o original, mesmo que em português soe ridículo) e as forças da República. Jabba, o Hutt, controla todo o tráfego da Orla Exterior e é imperativo que se tenha o livre acesso a esse tráfego para se poder ter vantagem na guerra. Só que o filhinho de Jabba, um bebezinho Hutt (que fofinho!) foi sequestrado por Dooku. Obi Wan Kenobi e Anakin Skywalker, que estão na linha de frente da guerra, são chamados para salvar o pimpolho Hutt. Mas Dooku fará de tudo para culpar os dois jedis pelo sequestro. Assim, Kenobi e Anakin terão a dura missão de salvar o Huttzinho enquanto participam de uma violenta e sangrenta guerra contra o exército droide de Dooku.

Conde Dooku: mais conspirador que nunca

Essa animação traz alguns elementos interessantes. Em primeiro lugar, priorizou-se bastante as cenas de ação em detrimento das tramas políticas, que ficaram muito mais simplificadas. Já foi dito aqui que a trilogia Prequel foi muito criticada pela densidade política da história, colocando as cenas de ação da fantasia espacial mais em segundo plano. Parece que buscou-se dar mais um ar de trilogia original e seu espírito de aventura à animação, ambientada na trilogia Prequel. E o resultado foi muito bom. Até as costumeiras piadinhas ao longo dos filmes da trilogia original apareceram. Em segundo lugar, a introdução de novos personagens. O Conde Dooku tem ao seu lado Asajj Ventress, uma assassina que lembra um Darth Maul de saias, fazendo bons duelos com Anakin e Obi Wan. Mas a mais interessante personagem é Ahsoka Tano, uma twi’lek que é padawan e foi designada para ser aprendiz de Anakin. A mocinha é convencida e atrevida, onde sua forte personalidade baterá de frente com o gênio forte de Anakin, embora os dois também tenham alguns momentos mais ternos. De qualquer forma, foi divertido ver Ahsoka Tano zoando com a cara do sisudo Anakin.

Ahsoka e o huttzinho…

Assim, “Clone Wars” foi uma boa investida da Lucasfilm, pois conseguiu dar um sabor de aventura e fantasia espacial à trilogia Prequel e, ao mesmo tempo, apresentou novos personagens que interagiram bem com personagens já conhecidos, sobretudo a padawan Ahsoka Tano. Se você ainda não viu (como eu não tinha visto), vale a pena conhecer. E se você já viu, sempre é bom dar uma revisitada, já que “recordar é viver…”.

Batata Books – Esquadrão Rogue. A Saga Dos X-Wings.

Capa do Livro. Promessa de muitas aventuras e guerras espaciais

A Editora Aleph fez mais um lançamento do Universo Expandido (série “Legends”) de “Guerra nas Estrelas”. Posto nas livrarias em fins do ano passado, “Esquadrão Rogue”, de Michael A. Stackpole, é o primeiro de uma série de dez volumes que a Aleph tem a intenção de publicar, sendo que Stackpole escreveu quatro livros dessa série, além de ter escrito livros que também desenvolveram a personagem Mara Jade, da trilogia Thrawn de Timothy Zahn.

Wedge Antilles, o grande comandante do Esquadrão Rogue

Mas, o que é o Esquadrão Rogue? Vindo dos quadrinhos e dos games, esse esquadrão é um grupo de pilotos de X-Wing liderados pelo lendário Wedge Antilles. Os eventos de “Esquadrão Rogue” se passam dois anos e meio depois do que aconteceu no Episódio VI (“O Retorno de Jedi”), onde ainda existem resíduos de forças imperiais que combatem as forças da agora Nova República. Antilles tem a difícil missão de treinar novos pilotos para missões que serão cada vez mais perigosas. Por outro lado, o comandante do Esquadrão Rogue terá que se envolver em querelas politicas com seus superiores, onde o Almirante Ackbar é um deles, para garantir a sobrevivência e a autonomia de seu esquadrão, paulatinamente ameaçadas.

Corran Horn, o grande às voador

O grande protagonista de “Esquadrão Rogue” será Corran Horn, um dos melhores pilotos do esquadrão, que no passado trabalhava para uma empresa de segurança, mas que, agora, é um piloto da Nova República. Entretanto, seu passado como agente da Seg Cor o afetará em dias presentes. Horn terá, ainda, vários outros pilotos que serão seus companheiros. Mas já dá para notar que, à medida que acontecem as batalhas, nem sempre todos ficarão vivos para continuar na trama, tamanho é o perigo das missões. Assim, o livro tem a característica de exibir muitos personagens, até porque alguns deles serão “camisas vermelhas” e desaparecerão ao longo da história. Resta ao leitor especular quem será o camisa vermelha e logo morrerá, e quem será o personagem que ficará mais tempo interagindo com os protagonistas. Veremos, também, que o livro deixa umas pontas soltas que justificam a continuação da série X-Wing. Um traidor infiltrado no Esquadrão Rogue ou um futuro ataque a Coruscant, por exemplo, que não foram revelados e concretizados nesse livro.

Almirante Ackbar irá acobertar o esquadrão dos efeitos nocivos das querelas políticas

Esta série também é muito interessante não somente para falar um pouco das especificações dos TIE Fighters (extremamente rápidos, mas com um péssimo sistema de defesa), mas principalmente dos X-Wings, onde os controles da cabine do piloto são descritos em detalhes, e até os pedais da nave e suas funções são expressos com precisão, tudo isso no ambiente das batalhas. Tais informações transformam essa série numa ótima fonte de informações sobre os X-Wings para a Wookiepédia.

Assim, “Esquadrão Rogue” é mais um grande lançamento da Aleph para os volumes da série “Legends” de “Guerra nas Estrelas”. Para quem gosta em especial dos combates de naves espaciais e do personagem Wedge Antilles, é um prato cheio. Esperemos que a editora consiga driblar a crise e que lance mais histórias da série X-Wing num futuro próximo, pois o tema é muito atraente e é garantia de bons livros a serem lançados.

Grandes cenas de batalha! Imperdível!!!

Batata News – Rogue One. O Home Vídeo.

No último dia 8 de abril, o Conselho Jedi Rio de Janeiro fez mais um encontro na Livraria Cultura para falar do lançamento do filme “Rogue One, Uma História Star Wars” em DVD e Blu-Ray. O primeiro spin-off de Guerra nas Estrelas causou muito sucesso e comentários altamente positivos ano passado e o lançamento do Home Vídeo ficou cercado de grande expectativa, até por causa dos muitos comentários que apareceram durante a produção do filme, dentre eles o fato de que a Disney teria feito uma intervenção na história que estaria tomando um caminho demasiadamente “sério”. Assim, Brian Moura e Henrique Granado fizeram uma primeira apresentação falando do DVD (sem extras) e das modalidades de Blu-Ray à venda no Brasil e no exterior, ambos com extras, com o cuidado de mostrar no telão do Teatro Eva Herz todas as embalagens e suas artes para que todos pudessem conhecer os produtos e escolher seus preferidos.

Brian e Henrique mostrando o Home Video (foto Jocelen Netto)

Num segundo momento, Eduardo Miranda, conhecido fã de “Guerra nas Estrelas” e homem de TV, conhecido também por trazer para a TV brasileira animes do naipe de um “Cavaleiros do Zodíaco”, fez uma palestra onde deu um rápido histórico da produção da saga desde 1977 e se debulhou em elogios a respeito de “Rogue One”, onde mencionou que o filme fazia pequenas homenagens aos antigos filmes que eram, na verdade grandes presentes aos fãs. Sempre de bom humor, Miranda falou que deixou de ser o fã “mimizento” e altamente crítico dos últimos anos para assumir uma postura mais “Mirandinha paz e amor” (não confundir com o centroavante da década de 70). E isso graças a “Rogue One”.

Eduardo Miranda, ótimo nas palestras como sempre (foto Jocelen Netto)

Na terceira parte do evento, tivemos a oportunidade de ver um dos extras de um dos Blu-Rays de “Rogue One”, que reservavam alguns minutos para falar do diretor Gareth Edwards e do elenco em si. Cada ator teve alguns minutos de entrevista no documentário do extra, o que foi algo muito instigante, pois tivemos a oportunidade de testemunhar detalhes do dia-a-dia do set na voz dos próprios membros do elenco.

Além do lançamento do Home Vídeo de “Rogue One”, ainda foram dados alguns informes. Com relação à Jedicon, foi anunciado que os ingressos já estão à venda e que a presença de Billy Dee Williams (o Lando Calrissian) está confirmada. Já com relação ao Cineclube Sci Fi, ainda não há uma data confirmada para seu início, pois há uma indefinição no Planetário da Gávea em virtude da troca de governo. Há uma especulação em se utilizar o Teatro Eva Herz da Livraria Cultura caso não se possa utilizar o Planetário, mas isso teria que ser discutido ainda, já que o teatro tem uma agenda relativamente cheia. Esperemos que o Cineclube possa retornar assim que possível.

O evento teve um bom público (foto Jocelen Netto)

Ao fim do encontro, houve o tradicional sorteio de brindes e o reencontro dos fãs que já não se viam há um certo tempo. Esperemos que o Conselho Jedi consiga ter mais eventos como esse ao longo do ano, apesar de todas as dificuldades. E não nos esqueçamos da Jedicon em julho, um grande evento que promete e que vai dar bem certo. Essa é a torcida de todos nós.

Ao final, o tradicional sorteio de brindes (foto Jocelen Netto)

Carrie Fisher. Uma Homenagem.

A eterna Princesa de Alderaan.

Todo dia 26 de dezembro (meu dia de aniversário), vou ao Cemitério São João Batista para fazer uma pequena homenagem a algumas pessoas. Visito as sepulturas de Luís Carlos Prestes (considerado “O Cavaleiro da Esperança” por uns, um bandido comunista para outros), Tom Jobim (um músico que foi importante demais para nosso país e nem temos a ideia disso), Santos Dumont (que dispensa apresentações), o casal Vicente Celestino e Gilda de Abreu (um grande cantor antigo e uma grande atriz e diretora de cinema). Mas, principalmente, visito minhas duas Carmens, a Miranda e a Santos, que tentaram elevar o nome de nosso país e de nosso cinema. Carmen Miranda ainda teve um reconhecimento do público, embora tenha sido criticada pela imprensa brasileira por se “vender” aos Estados Unidos. Carmen Santos, essa ninguém fala mais, apesar de todos os sacrifícios feitos por ela para realizar bons filmes no Brasil, numa época em que nosso país ainda era assolado pelo complexo de vira-latas. Minhas visitas anuais ao cemitério são para diminuir um pouco o impacto da injustiça provocada pela falta de reconhecimento. Colocar rosas vermelhas em seus túmulos ajudam a minimizar um pouquinho tais dores. 

Postura desafiadora com os inimigos

Carmen Miranda faleceu em 1955, e Carmen Santos, em 1952. Essas mortes doem até tempos presentes. E o que não falar de uma morte que aconteceu hoje? Carrie Fisher, a eterna Princesa Leia, nos deixou. Filha da atriz americana Debbie Reynolds e do cantor e apresentador Ed Fisher, Carrie Fisher viveu desde cedo próxima ao showbiz. Em 1977 ela encantou o mundo, ao estrelar “Guerra nas Estrelas” como a Princesa Leia, com apenas 19 anos. Fez noventa filmes e era escritora. Ela nunca teve medo de expor sua vida pessoal na mídia e divulgou que sofria de transtorno bipolar. Outras fontes diziam que ela tinha problemas com drogas. Mas nenhuma dessas informações abalavam a adoração que os fãs de “Guerra nas Estrelas” tinham por Leia e por Fisher. A atriz e a personagem às vezes pareciam ser uma coisa só. Da mulher forte que peitava o grão moff Tarkin com tiradas cínicas e atrevidas, passando pelo tom debochado com os subalternos do Império (“Você não é pequeno demais para ser um stormtrooper?”, dizia para um Luke disfarçado), trocando rusgas com o “canalha” Han Solo, mostrando que não era mulher de entrar em qualquer conversa e que para ter seu coração, era preciso conquistá-la, chegando até a sua carinhosa afeição por Luke, uma afeição a princípio inexplicável por ela não saber que se tratava de seu irmão. A atriz Carrie Fisher deu essa natureza multifacetada à Princesa Leia de forma extremamente convincente. Se em Jornada nas Estrelas, havia a tríade Spock – Kirk – McCoy com o vulcano representando a razão, o médico representando a emoção e o capitão representando a conciliação entre pólos aparentemente tão antagônicos, em “Guerra nas Estrelas” também havia outra tríade. Han Solo é a impetuosidade masculina em pessoa, o aventureiro que age pelo impulso. Luke Skywalker é o jovem e ingênuo aprendiz que inicia timidamente seus passos no ofício da batalha. E no centro, cimentando e alicerçando esses dois pólos, estava Leia, com o espírito libertário feminino, que luta contra milênios de opressão machista (isso nessa galáxia aqui mesmo), botando o machismo do contrabandista em seu devido lugar e, ao mesmo tempo, tratando com extremo carinho o órfão padawan tardio, manifestando um amor que mais se aproxima dos ancestrais instintos maternos que ajudaram a preservar nossa espécie.

Leia e Han Solo. Um amor surgido depois de muitos conflitos

Um símbolo da mulher pós década de 60, que é dura ao lutar por seus direitos frente a uma cultura que a oprime, mas que não perde a ternura ao mostrar seu lado mãe. Mas uma mulher também que atua como a verdadeira fêmea fatal, ao reagir violentamente contra as investidas do pérfido Hutt, que queria transformá-la num objeto sexual e periodicamente a enforcava com uma coleira presa a uma corrente. Ao melhor estilo “olho por olho”, ela ceifa a vida do gângster estrangulando-o com a própria corrente que estava presa em seu pescoço. Ainda, uma mulher que consegue pensar racionalmente, mesmo em situações de extrema tensão, quando o contrabandista e o jovem agricultor tentam libertá-la da prisão, mas não têm um plano de fuga, e a herdeira do trono da destruída Alderaan toma as armas e improvisa um caminho para a calha de lixo, arrancando até uma admiração do machão Solo.

Leia e Luke. Relacionamento pautado na afeição

Essa é Carrie Fisher. Essa é a Princesa Leia. Essa jamais irá embora de nossas memórias. Mesmo que eu não possa visitar seu jazigo, como faço todos os anos com minhas Carmens, ela estará sempre presente em nossos pensamentos. Dizem que uma pessoa morre mais de uma vez. E a última vez em que uma pessoa morre é quando param de falar o nome dela. Se depender dos fãs, Carrie Fisher e Leia jamais terão essa morte derradeira. Mais do que uma princesa que luta contra um fictício Império Galáctico do Mal, Leia se tornou um símbolo das mulheres que lutam aqui em nosso planeta por mais direitos e igualdades. Luta que não necessariamente faz a mulher bruta e a afasta de suas doces características femininas. Leia, portanto, se tornou também um símbolo da afeição feminina, sabendo ser carinhosa e materna nos momentos certos. Agressiva, sem perder o racionalismo. Racional, sem perder a emoção. Agora ela realmente é a Força. Agora, ela nos envolve. E jamais ficaremos distantes dela. 

E, para uma pequena homenagem, fiquem com o inesquecível final do Episódio IV, que jamais sairá de nossos corações…

https://youtu.be/iH6a1iYQ0GA

Batata Antiqualhas – Anakin Skywalker. Vilão Ou Vítima? (Parte 2)

Um jovem Anakin, ainda sem as marcas da crueza da vida…

Qual seria o grande mérito de “Guerra nas Estrelas”? O maniqueísmo clássico bem X mal protagoniza um conflito violento justamente dentro do personagem mais maligno da saga. Anakin Skywalker, como todo mundo sabe, teve uma infância difícil, sendo escravo num povoado paupérrimo de um planeta desértico com dois sóis (quantos Anakins encontramos nos morros cobertos de barracos à nossa volta?).

Rejeitado pelos Jedis, Anakin encontrou amparo em Qui-gon Jim

Ao ser amparado por dois cavaleiros jedis, foi visto com repúdio pelo Conselho dos nobres cavaleiros, como se ele tivesse uma essência ruim congênita. Mas, como diria o iluminista Rousseau, o homem é bom por natureza, é a sociedade que o corrompe. Ou, trocando em miúdos, o homem é produto do meio em que vive. Qui-gon Jim e Obi-Wan Kenobi investiram no jovem Anakin, mesmo a contragosto dos jedis. Logo, a visão iluminista se concretizaria. A infância difícil em Tatooine tornou Anakin um rapaz altamente impetuoso e destemido, que nem sempre Obi-Wan conseguia segurar. Logo ele descobriria o amor ao conhecer Padmé.

E Obi Wan Kenobi.

E com ela Anakin teve o único momento idílico em sua vida, sempre permeada por muito treinamento, disciplina e batalhas violentas. Houve um grande trauma, que foi a morte da mãe e a reação violentíssima contra os algozes, numa fúria impetuosa. Depois, o arrependimento nos braços da amada ao lembrar que massacrou crianças e inocentes. Definitivamente, não foi uma juventude fácil.

Perda da mãe…

Mas o divisor de águas na vida de Anakin viria no episódio três. E aí entra a grande questão. O que o impeliu a escolher o caminho do mal? O medo, um sentimento que todos nós temos e escondemos em nosso íntimo. Todo mundo tem medo de alguma coisa. Quem fala que não tem medo de nada está mentindo. E qual foi o grande medo de Anakin? De perder seu ente mais querido, Padmé.

Um violento trauma

Mestre Yoda lhe dizia que o medo traz raiva e ódio, que ele, Anakin, devia se despir do medo, como se houvesse um outro mundo onde sua querida Padmé poderia estar caso ela morresse. Entretanto, como um jovem que havia passado tantas dificuldades na vida e sofrido um trauma tão violento como a morte da mãe poderia se resignar com a perda da única pessoa que o amava? A severa disciplina jedi não foi tão eficiente em lidar com os problemas psicológicos tão profundos de Anakin e ele acabou se tornando totalmente manipulável nas mãos do senador Palpatine (esse sim, um personagem clássico do mal) para a sua conversão para o lado sombrio.

O medo de perder Padmé…

Filmes de mocinhos totalmente bons e bandidos totalmente maus com o tempo se tornaram cansativos e incoerentes, embora até hoje a fórmula se repita na indústria cinematográfica americana. Por isso, quando o personagem se torna complexo, com o mal e o bem em fusão e conflito, há uma atração maior por parte do público, pois é apresentado algo diferente dessa dicotomia bem X mal tão bem definida e clássica.

… o empurrou para as mãos do senador Palpatine.

Exemplos disso não faltam. Lembro-me do Rick, interpretado por Humphrey Bogart, em “Casablanca”, um mocinho com atraente canalhice e cinismo, e os personagens HQ Batman e Venom, que são classificados por alguns fãs de vigilantes, ou seja, justiceiros violentos que espreitam os malfeitores pelas ruas. Darth Vader seria um exemplo desse personagem complexo onde bem e mal estão em conflito.

Momento mais dramático do episódio 3. Anakin chora após optar pelo mal e sujar suas mãos com sangue. Conflito evidente.

Ou seja, Anakin Skywalker é, acima de tudo, um personagem humano, com virtudes e defeitos, amores e fraquezas, coragens e medos. Um personagem que, na segunda trilogia (episódios um, dois e três), se aproxima mais de seus espectadores, humanos como ele, com seus sonhos, com suas virtudes, com seus defeitos, com seus temores. Nunca me esqueço das palavras de meu irmão Cláudio, sobre o episódio três: “quando a gente fica sabendo da história de Anakin dá até pena, né?”. Pena definitivamente não é um sentimento bom. É um sinal do fracasso do indivíduo. Mas também uma comoção e solidariedade com o sofrimento alheio.

Libertação somente com a morte.

Vocês podem até me criticar e dizer que, mesmo com todos os problemas, Anakin ainda poderia ter escolhido o lado de luz da força, pois pessoas que tiveram uma vida de sofrimento conseguiram dar a volta por cima. Mas também quanta gente por aí não enveredou também para o “dark side” por ser mal amada, por ser tripudiada, por ser desrespeitada? Essas pessoas são as únicas culpadas por seus atos? Na minha modesta  opinião, não… Charlie Chaplin já dizia em seu discurso de “O Grande Ditador”: “Só quem não é amado que tem a capacidade de odiar”.

Ectoplásmico Anakin com Yoda e Obi-Wan envelhecidos. Redenção.

Pelo menos no mundo da fantasia de “Guerra nas Estrelas”, Anakin teve um fim reconfortante. A cópia de “Retorno de Jedi” restaurada, com a imagem ectoplásmica de Anakin jovem ao lado de um Yoda e um Obi-Wan envelhecidos pode parecer incoerente. Mas também é libertadora, pois vimos todo o sofrimento nas costas do Anakin jovem nos três primeiros episódios. Assim, nada mais justo do que o jovem Anakin desfrutar de dias melhores em sua outra vida num plano mais etéreo. Só a lamentar todo o mal provocado por ele, consequência de males também sofridos por Anakin…

Na imagem original, um Anakin mais envelhecido.

Batata Antiqualhas – Anakin Skywalker. Vilão Ou Vítima? (Parte 1)

Um dos ícones mais amados de todos os tempos.

 

Na esteira da estreia de Rogue One (aguardem resenha em breve), vamos falar de um ícone de Guerra nas Estrelas. Nas minhas andanças por eventos organizados pelo Conselho Jedi e o Abacaxi Voador, um detalhe me chamou muito a atenção. Quando o assunto é “Guerra Nas Estrelas” (Star Wars é coisa para os mais novos), impressiona muito a quantidade de camisas e imagens referentes a Darth Vader. Aquela carinha preta, cheia de grades no lugar da boca e sem qualquer expressão facial, totalmente fria, exerce um profundo fascínio nos fãs do filme e foi além, se tornou um verdadeiro ícone cultural. Mas Darth Vader é a encarnação do mal, o cara é ruim toda a vida. Mata seus subordinados com a força do pensamento, persegue impiedosamente um grupo de insurgentes, quer levar o seu próprio filho para as forças do mal estimulando seu ódio. Tais atitudes são consideradas repugnantes para a esmagadora maioria das pessoas em várias sociedades e culturas diferentes. Mesmo assim, sua imagem é exaltada em convenções, filmes, mídias em geral. O que aconteceu? A grande maioria das pessoas pirou? Por que tanta exaltação a uma figura tão venal? Por que Luke Skywalker, Han Solo ou a Princesa Léia, que são os mocinhos, ficam numa posição tão secundária?

Sufocos à distância…

Uma das hipóteses principais que buscam explicar a fascinação humana pelos vilões é que eles são os transgressores, não respeitam a lei, não estão nem aí para os valores morais de uma sociedade, ou seja, são totalmente avessos a regras, como se isso significasse uma espécie de liberdade. Nós, os pobres mortais, submetidos às leis e convenções da sociedade, muitas vezes somos obrigados a engolir sapos no nosso dia-a-dia e, ao entrar numa sala de cinema para ver um filme, presenciar o vilão chutando o pau da barraca seria uma espécie de catarse. Nos projetamos para aquele indivíduo mau que não tem freios nem limites e aliviamos nossas frustrações provocadas por situações cotidianas mal resolvidas, pois a lei nos impõe um freio. O que quero dizer aqui? Que devemos pegar uma arma e resolver tudo à nossa maneira? Claro que não! Quando as pessoas vivem juntas, ninguém pode fazer o que bem entender, pois caso isso aconteça, tudo vira uma bagunça e todos saem prejudicados. Mas também é fato de que, às vezes as leis não respeitam a vontade da maioria dos cidadãos e até privilegiam uma minoria em detrimento de uma maioria. Daí um vilão e seus maus atos tornarem-se uma catarse para o indivíduo.

Mais mau que o pica-pau.

Mas, e o nosso Darth Vader? A hipótese acima é suficiente para entender toda exaltação ao mais fiel discípulo do Imperador? Se considerarmos a primeira trilogia (os episódios quatro, cinco e seis) talvez sim, pois o lado humano do personagem só foi brevemente pincelado na segunda metade de “Retorno de Jedi”. Entretanto, a segunda trilogia (os episódios um, dois e três, que nem todo mundo gosta) teve o grande mérito de construir o personagem Anakin Skywalker. E aí, a discussão se torna muito mais complexa. Dessa forma, a saga que aconteceu há muito tempo numa galáxia muito distante deixa de ser uma espécie de conto de fadas espacial e atinge questões muito mais profundas, tornando-se um produto cultural altamente reflexivo. Mas essa discussão precisa ser feita numa segunda parte deste artigo. Até lá!

Em guerra contra o próprio filho.

Batata Movies – Animais Fantásticos E Onde Eles Habitam. Um Bruxo Ecologicamente Correto.

Cartaz do Filme
Cartaz do Filme

Um filme muito louco nas telonas. “Animais Fantásticos e Onde Eles Habitam”, escrito por J. K. Rowling, seria uma espécie de “prequel” do Harry Potter, digamos, uns setenta anos antes da história do bruxinho que era bom. Como eu sei muito pouco de Harry Potter, peço paciência aos fãs mais inflamados se eu cometer alguma gafe. De qualquer forma, me arrisco a escrever algumas linhas sobre esse filme porque achei-o uma boa película, ao contrário de algumas críticas que tenho ouvido por aí.

Newt, um bruxo ecologicamente correto
Newt, um bruxo ecologicamente correto

Do que se trata a história? Vemos aqui um estudante da famosa escola de Hogwarts, Newt Scamander (interpretado por Eddie Redmanyne), chegando à Nova York da década de 20 com uma intrigante mala. Em seu interior, há uma série de bichinhos inusitados, pois eles têm propriedades mágicas. Mas eles são proibidos por uma espécie de Associação de Bruxos da América, por serem considerados uma grande ameaça. Entretanto, nosso Newt, com uma baita consciência ecológica para com animaizinhos mágicos, quer provar a todos que esses bichos não são tão perigosos assim e que eles, se compreendidos, podem até fazer o bem. Bom, pelo estrago que os bichinhos fazem na cidade de Nova York, já que alguns deles fogem da malinha e circulam pela cidade (Osama Bin Laden bateria muitas palmas), e pela natureza um tanto desastrada de Newt, percebemos que a tarefa de nosso protagonista será algo um tanto difícil. Para isso, ele contará com a ajuda de alguns amigos: Kowalski (interpretado por Dan Fogler), Tina (interpretada por Katherine Waterston) e Queenie (interpretada por Alison Sudol). Só que Newt e seus amigos terão que enfrentar a perversidade de Graves (interpretado por Colin Farrell).

Colin Farrell como Graves. Devia ter aparecido mais
Colin Farrell como Graves. Devia ter aparecido mais

É um filme que prima por uma boa história, que prima muito pelo humor numa dose satisfatória em alguns momentos, o que fez com que o filme não ficasse escorado apenas nos efeitos especiais. Nesse último quesito, entretanto, os bichinhos virtuais podem ser muito fofinhos em algumas sequências, o que desperta suspiros das menininhas nerds e fãs de bruxaria de plantão. A película tem também um bom elenco. Redmayne e Fogler fizeram uma boa dupla e interagiram bem com os animaizinhos virtuais. É de se lamentar, por outro lado, a pouca presença de Colin Farrell na película. Em se tratando de ser o vilão, ele precisava aparecer mais. Um destaque ficou para a atriz Alison Sudol, que interpretou a altamente empática Queenie, uma bruxinha que tinha o poder de ler mentes, ofuscando até Tina, o suposto par romântico de Newt.

Tina e Queenie
Queenie e Tina

Outro ator digno de destaque foi Ezra Miller, que interpretou o atormentado Credence, alvo das manipulações e maldades do vilão Graves. A atuação do jovem ator foi muito convincente e deu um bom conteúdo dramático à trama. O filme ainda conta com a presença de medalhões como John Voight e uma participação muito rápida de Johnny Deep, mais expressiva que a de Farrell.

Assim, “Animais Fantásticos e Onde Eles Habitam” pode ser considerado um bom spin-off de “Harry Potter” e não vai decepcionar os fãs das histórias de J. K Rowling. É um filme fofinho, cativante, que conta uma boa história e tem um bom elenco afiado, com alguns atores já consagrados, outros menos conhecidos mas que deram muito bem conta do recado, com interpretações à altura. Um filme que vale a pena uma conferida, pois consegue ser simultaneamente engraçadinho e cativante.