Batata Séries – Jornada Nas Estrelas Picard (Episódio 10), Et In Arcadia Ego, Parte 2. Um Bom Desfecho, Apesar De Tudo.

Star Trek: Picard Season 1 Finale Recap and Review: Et in Arcadia ...
Picard. Finalmente na cadeira…

E chegamos ao final da série Picard. Depois da decepção de “Et In Arcadia Ego, Parte 1”, a expectativa (pelo menos da minha parte) para o desfecho da série estava baixíssima. Entretanto, apesar de alguns problemas, confesso que o último episódio me agradou. Apesar das pontas soltas para uma segunda temporada, aparentemente, não foi feito um vínculo com Discovery (ainda há a segunda temporada de Picard à vista). Uma suposta ausência de um final espetacular cheio de efeitos em virtude do baixo orçamento foi contornada, mesmo que tenha sido com muito control C – control V. E, principalmente, o mito de Frankenstein de última hora surgido no final do episódio anterior foi inteligentemente descartado com a volta de Data, pelo menos num outro plano diferente do nosso, numa conversa muito terna com Picard. Para podermos falar desse episódio, vamos lançar mão de spoilers.

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Um cubo borg abandonado…

O episódio começa com Narek chegando às escondidas no cubo borg. Lá, ele encontra Rizzo (sabe-se lá como, pois o episódio passado terminou com a romulana ainda nas aves de guerra em dobra. Enfim…) e a comunica que encontrou a civilização andróide. Na cidade dos andróides, Picard, na sua prisão, admira uma borboleta mecânica (há mais borboletas que orquídeas, diga-se de passagem, nesta cidade). Soji entra para falar com ele e Picard quer a sua liberdade. Soji retruca dizendo que os orgânicos controlam os andróides e não dão escolha a eles. Picard pede que Soji não deixe que os romulanos transformem os andróides nos monstros que eles pensam que os andróides são e que se destrua o transmissor que vai entrar em contato com os andróides avançados, pois estes aniquilarão os orgânicos. Começa a abertura. Após a abertura, retornamos para o cubo borg. Narek pega umas granadas e diz a Rizzo que ela faça o sistema de armas do cubo voltar a funcionar. Ele irá retornar á cidade dos andróides.

Star Trek Picard 1x10 Et in Arcadia Ego Part 2 - Movie Trailer ...
Narek e Rizzo. Encontro de irmãos…

Na La Sirena, Rios usa o instrumento mágico que Saga (e não Arcana, como falei no texto anterior) passou para Raffi e, usando a imaginação, Rios conserta a La Sirena. Do lado de fora, Narek atira pedras na nave para falar com Rios e Raffi. O romulano propõe uma aliança e usa como argumento o plano dos sintéticos de destruir os orgânicos. A idéia é destruir o transmissor que os sintéticos estão construindo para entrar em contato com os sintéticos superiores. A granada do Narek entrará escondida sugestivamente dentro da bola de futebol do Rios e o romulano será usado para despistar como um prisioneiro que Rios e Narek levarão para os sintéticos. Enquanto essa pequena e estranha aliança discute o plano, Elnor aparece subitamente e ameaça matar Narek, mas Rios e Raffi impedem. Permita-me colocar um pequeno parênteses aqui. Achei essa aliança entre Rios, Raffi e Narek muito despropositada, pois, além de estranha, ela somente serviu para que os dois tripulantes da La Sirena soubessem do plano dos sintéticos e os levasse de volta para a cidade dos andróides, não indo muito além disso. Essa aliança também contribuiu para que o episódio tivesse uma barriga que poderia ter dado mais tempo a um desenvolvimento melhor da história. Foi um saco ver os quatro personagens ao redor de uma fogueira falando sobre um Dia do Juízo Final Romulano e suas demônias gêmeas como referência à destruição dos orgânicos pelos sintéticos. Mais um arroubo de misticismo do Alex Kurtzman, até no episódio final da série. Pelo menos, vimos aqui Elnor revoltado da vida com essa aliança, o que fez com que ele deixasse um pouco a sua posição periférica em todo o plot. E, enquanto temos essa barriga enorme, a comodoro Oh se aproxima do planeta com toda a sua frota de naves romulanas, finalmente revelando sua identidade.

Picard Comes up With a Radical Plan in 'Et in Arcadia Ego' Part 2 ...
Jurati.Resgatando Picard enquanto ele tirava uma soneca…

Na cidade dos andróides, Jurati vira a casaca mais uma vez (ela está se tornando especialista nisso), enganando Soong e tirando um globo ocular da finada Saga para poder acessar o aposento onde Picard está preso. Jurati encontra Picard tirando um ronco (isso mesmo, os orgânicos estão ameaçados de serem varridos da galáxia – ou do quadrante? – por uma federação de sintéticos avançados e nosso almirante reformado dorme como um bom velhinho, numa mostra de como a figura de Picard foi esculhambada por durante toda a série) e o acorda para soltá-lo. Os dois retornarão à La Sirena. Enquanto isso, Soong examina o corpo de Saga e descobre, em seus registros, que a andróide foi assassinada (?) por Sutra ao invés de Narek. Assim, Soong acaba se unindo ao grupo de Rios, que já se infiltrou na cidade dos andróides.

Et In Arcadia Ego Part 1 Archives - TV Podcast Industries
Buscando pilotar uma nave…

Na La Sirena, Picard e Jurati pensam em como lidar com a difícil tarefa de segurar os romulanos e os sintéticos avançados, além de proteger a cidade dos andróides com apenas uma nave. Nesse momento, Picard fará alguns discursos que inserem uns arremedos de utopia na tão distópica série. Ele dirá, por exemplo, que os andróides são crianças que só tiveram como professores eremitas e o medo do extermínio, sendo o medo um professor incompetente, que os andróides têm vida, mas ninguém que tenha explicado para que ela serve, que a vida é um direito, mas também uma responsabilidade. Jurati pergunta como essas crianças vão aprender tudo isso em apenas seis minutos e onze segundos (que é o tempo que resta para a chegada dos romulanos) e Picard responde que os andróides aprenderão como as crianças aprendem, que é pelo exemplo. Para coroar essa pequena e momentânea overdose utópica, Picard finalmente senta na cadeira de Rios com a melodia da série clássica ao fundo. Ele volta a acessar o teclado virtual e bota a nave para decolar (ele observou os movimentos do Rios enquanto este pilotava, segundo suas próprias palavras). E a La Sirena decola, depois de Jurati falar um “execute” em tom de brincadeira para seu capitão. Confesso que a coisa do Picard conseguir pilotar a La Sirena, mesmo com umas derrapadas aqui e ali, me aliviou, pois ficou muito complicado, há poucos episódios anteriores, ele sentar na cadeira de comando e não saber acionar os controles, mesmo que estivesse reformado. Picard sempre foi um excelente piloto e ele saberia sim, mesmo com algumas dificuldades, colocar a nave para funcionar.

Star Trek: Picard season 1, episode 10 recap – “Et in Arcadia Ego ...
Overdose de Juratis…

Na cidade dos andróides, Soji prepara o transmissor enquanto Sutra se dirige à população dizendo que assim que o transmissor ficar pronto, eles entrarão em contato com os andróides avançados para virem defendê-los. Soong aparece e leva Sutra para uma conversa particular. Ele pergunta como ela pôde matar Saga e acaba “desligando” Sutra. Rios, Narek e Elnor, então, entram em ação para explodir o transmissor, o que garante algumas cenas de caratê. Rios lança a granada contra o transmissor, mas Soji a intercepta e a joga longe, explodindo bem distante do transmissor.

Star Trek Picard S01E10 "Et in Arcadia Ego, Part 2" Review ...
Riker de volta!!!

No cubo borg, Rizzo reativa o sistema de armas e já está prestes a destruir a La Sirena, quando Sete de Nove a impede de fazer isso, apontando uma arma. Mas Rizzo consegue desarmá-la e as duas começam uma luta que culmina na aparente morte de Rizzo, que é jogada de uma grande altura. O bom aqui é que Sete, antes de atirar Rizzo no precipício do cubo, disse que isso era pelo Hugh.Creio que pelo Hugh e por todos os fãs mais antigos que muito lamentaram sua morte para lá de fútil e besta.

Et in Arcadia Ego, Part 2 (episode) | Memory Alpha | Fandom
Control C Control V…

Os romulanos chegam, com um monte de naves iguais, bem ao estilo control C – control V, o que foi criticado pelo fandom. Essa acabou sendo uma solução de se usar os efeitos especiais com um baixo orçamento. As orquídeas se lançam contra os romulanos que revidam com tiros de phaser contínuo e disruptores. Picard e Jurati, no meio de toda aquela confusão de naves romulanas e orquídeas, se lembram da manobra Picard na Stargazer, onde foi dada a impressão ao inimigo da nave estar em dois lugares ao mesmo tempo. Jurati então pegou a ferramenta mágica que os andróides deram para Rios consertar a nave e replicou o seu rosto em muitos outros iguais, numa profusão de Tillys louras (credo…). Mais uma vez o pirlimpimpim sendo usado para a série se tornar mais fantasia do que ficção científica. Picard entra em contato com Soji e pede para ela parar de montar o transmissor, pois ele vai oferecer a vida dele para ela e seu povo na esperança de que ela mude de idéia, o que faz Soji ficar petrificada.

Flipboard: The Picard Maneuver — Star Trek: Picard's “Et in ...
Um almirante num apelo desesperado…

As orquídeas são destruídas e Oh dá a ordem para esterilizar o planeta. Mas a La Sirena se coloca na frente e Jurati liga o aparelhinho mágico, dando a ilusão de que centenas de  La Sirenas estão saindo de dobra. As naves romulanas atacam e a La Sirena verdadeira acaba atingida de raspão, saindo de controle. Picard retoma o controle da nave e começa a se sentir mal. Já Soji finalmente aciona o transmissor. Um portal dimensional se abre para os andróides avançados chegarem. Oh ordena novamente a esterilização. Mas, nesse momento, as naves da Federação chegam às centenas (e tome control-C control-V). Quem está no comando dessas naves é Riker e ele abre um canal de comunicação com Oh, dizendo que o planeta está sob proteção da Federação de acordo com os termos do Tratado de Algeron. Oh retruca dizendo que os romulanos reivindicaram esse mundo e pede para as naves da Federação se afastarem. Riker então mostra um vídeo de Picard solicitando solução diplomática.  E diz para a general, ou comodoro, ou o que quer que seja, que ele está no comando da nave mais casca grossa da Frota Estelar (a Zheng He) e tem centenas de outras iguais mirando os bancos phasers nos núcleos de dobra das naves romulanas. E nada o alegraria mais do que ela dar uma desculpa para ele chutar o traseiro traiçoeiro do Tal Shiar. Mas, em vez disso, ele pediria mais uma vez para que recuasse. Oh ordenou a preparação para o ataque. Riker ordenou armas ligadas e defletores no máximo.

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Um Picard nos seus últimos momentos…

Na La Sirena, Picard piora e Jurati o examina, vendo que sua morte é iminente. Picard diz que precisa falar com Soji e Jurati diz que ele não tem condições. Ele manda Jurati aplicar um remédio que o estabilizará momentaneamente, mas que abreviará a sua morte. Ela aplica o remédio. O canal é aberto e Picard pede que Soji desligue o transmissor, que ela mostre como os romulanos estão errados sobre ela, que ela não é a destruidora. Oh e Riker assistem a transmissão. Soji se nega a desligar, pois fala que a  Federação baniu os andróides e os jogou na sucata. Picard retruca dizendo que se isso fosse verdade, a Frota se aliaria com os romulanos e destruiria o planeta. E ele diz que os phasers da Frota não estão apontados para os andróides, porque ele acredita que os robôs farão a escolha certa. E que ele confia em Soji. Picard diz ainda que salvou as vidas dos andróides para que, em troca, os andróides salvem a vida dos orgânicos. Eles estão ali para salvar uns aos outros. A andróide fica petrificada novamente. Mas decide desligar o transmissor e fechar o buraco de minhoca onde um monte de tentáculos iguais aos do Dr. Octopus do Homem Aranha apareciam. Os romulanos decidem recuar e Riker diz a Oh que eles serão escoltados. Oh diz que não será necessário, mas Riker faz questão. Picard e Riker se comunicam e Will diz que voltou à ativa temporariamente, assim que descobriu que Picard havia enviado um SOS. Ainda, que o fato de não ter tentado dissuadir Picard de sua missão não significava que o deixaria sozinho. E Riker ainda disse que não ia ficar fazendo pizza no mato enquanto Picard se divertia. Riker se despede e Picard solta um melancólico “Adieu”, consciente da morte que se aproxima e que essa é a última vez que verá o amigo. Esse fan service foi muito bem montado e se constituiu num dos melhores momentos do episódio, sobretudo na fala de Riker em chutar o traseiro traiçoeiro do Tal Shiar. Houve expressão chula? Sim. Mas dentro de um contexto de animosidade e batalha iminente contra os romulanos, onde não dá para fazer tricô. Picard começa a alucinar vendo Data pintando novamente. Soji, vendo o que está acontecendo na La Sirena, transporta Jurati e Picard para o planeta. Soji pergunta o que ele fez e Picard responde que ele a deu uma escolha de ser ou não a destruidora. Picard chama Elnor e acaricia seu rosto. Depois chama Raffi, e diz que ela tinha razão, mas morre antes de completar a frase. A morte do velho almirante na presença de todos causa muita comoção e choro, depois dele ser esculhambado por quase toda a série. Sentimento de culpa de alguns personagens? Pode ser.

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Morte de Picard, rodeado por seus amigos…

Sete de Nove e Rios conversam. Sete se arrepende de ter matado pessoas só porque elas parecem merecer morrer. Já Rios se arrepende de deixar um velho capitão metido a santo e duro na queda entrar em seu coração e de ficar parado ali vendo esse capitão morrer. Sete perguntou se ele poderia impedir e Rios respondeu que achava que não. Sete diz, então, que o caso dela é pior. Essa sequência foi boa para redimir Sete de Nove daquela vingança que ela concretizou lá em Stardust City, quando ela comete um homicídio logo depois de discutir o que é ser humano com Picard. Uma borboleta mecânica voa e passamos para Raffi e Elnor. Aqui, a coisa foi bem mais comovente, praticamente sem palavras e com um pranto incontrolável de Elnor, consolado por Raffi. Essa cena foi boa na construção dos dois personagens, pois se Elnor não parecia ter muita utilidade na série e era bem infantil, sendo isso visto de uma forma negativa, seu choro ao final mostra novamente seu lado infantil, mas dessa vez de forma virtuosa, pois mostrava como ele era ligado a Picard e gostava do velho almirante. Já para Raffi, consolar Elnor foi a redenção ao seu instinto maternal que havia sido rechaçado violentamente pelo próprio filho.

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Sete de Nove se redime de seu sentimento de vingança…

A borboleta voa de novo para o céu branco. Picard acorda numa sala, em frente a uma lareira, e acha que tudo foi mais um sonho. Mas surge Data dizendo que não, que tudo aquilo era uma “simulação quântica extremamente complexa”. Picard diz que sonha com Data o tempo todo, e o andróide acha interessante. Data pergunta se Picard usa as roupas do dia em que morreu. Picard pergunta a Data se ele morreu e Data confirma que sim. Data pergunta se Picard se lembra de ter morrido e o almirante diz que sim, que foi como se algo sumisse de sua cabeça. Data sabe que morreu em 2379, mas não tem lembranças disso. Picard disse que não se esquece da morte de Data e o robô retruca dizendo que parece que ele salvou a vida do almirante, ao que Picard confirma. Picard diz que ficou furioso e Data pediu desculpas, mas não sabia se poderia ter feito outra coisa. Picard disse que essa foi a coisa mais típica do Data que o robô fez e que lamentou não ter sido ele, o almirante, a morrer. Data pergunta se ele se lamentou em morrer pela Soji e seu povo, ao que Picard retruca que não. Então Data pergunta por que lamenta que o andróide tenha se sacrificado pela vida do almirante. Picard fica sem resposta e pergunta pela simulação em que estão. Data diz que ela é extremamente sofisticada e que seus engramas de memória foram construídos a partir de um neurônio positrônico que Maddox salvou e depois a sua consciência foi reconstruída por seu irmão (o filho de Soong). Picard diz que não gosta muito de Soong e Data retruca dizendo que se precisa de tempo para se aprender a gostar dos Soongs. Picard diz que, seja lá o que for a simulação, que é muito bom rever o andróide e o que ele mais lamentou depois de sua morte foi nunca ter dito que amava Data (aqui a coisa ficou um pouco melosa, mas por todo o contexto desse encontro, a gente deixa passar). Data responde que saber que Picard o ama compõe uma pequena, mas estatisticamente importante parte de suas memórias. E que espera que isso conforte Picard. O almirante diz que sim. Data pede um favor: quando o almirante deixar a simulação, já que Soong e Jurati, com ajuda de Soji, conseguiram transferir seu substrato cerebral para o corpo do andróide sem consciência que está no laboratório de Soong e Picard reviverá, que seja desligada a consciência de Data para que ele possa finalmente morrer. Data diz que não quer exatamente morrer, mas que quer ter uma vida finita, ainda que breve, pois a mortalidade é o que dá o sentido à vida humana, que paz, amor e amizade são preciosidades, pois elas não duram. Data abre a mão e, mais uma vez, a borboletinha aparece. Ela voa e Data diz que uma borboleta que voa para sempre não é uma borboleta de verdade. Picard diz que vai fazer o que pede e Data agradece.O almirante se dirige a uma porta que se abriu e some no branco da luz que vem da porta, não sem antes dar adeus ao andróide. Essa também foi uma parte muito emocionante do episódio e afastou de vez o mito de Frankenstein surgido ao fim do episódio anterior, restaurando um Data totalmente asimoviano numa conversa muito cordial e, principalmente terna, entre o comandante e seu capitão.

Evan Evagora comenta sobre Elnor na série Picard | Trek Brasilis ...
Elnor. Comportamento infantil visto de forma positiva no último episódio…

Picard acorda no seu corpo de andróide, que é igual ao dele, aos olhos de Soji, Jurati e Soong, perguntando se é real, o que é confirmado por Soji. O corpo do andróide é igual ao do Picard orgânico, mas tudo funciona e sem a anomalia cerebral (eles acreditaram que Picard não se adaptaria a um corpo mais jovem – e também uma desculpa para termos Patrick Stewart na segunda temporada, obviamente). Picard também não é imortal. Ele terá o mesmo número de anos pela frente que teria sem a anomalia cerebral. Picard faz uma piada dizendo que não se importaria em ter mais dez, vinte anos. Picard agradece a Soong dizendo que saiu ganhando, mas que eles não, pois ele terá que cumprir uma promessa, que é dar a morte ao Data. Vemos o andróide escutando na vitrola a música que ele cantou em “Nêmesis”, e de roupão. Enquanto Data deita no sofá, Picard diz a Jurati, Soji e Soong que o andróide, mesmo tendo visto os piores aspectos da raça humana, ainda conseguia enxergar a bondade, curiosidade e grandeza de espírito dos humanos. E que Data, mais do que qualquer coisa, queria fazer parte da família humana. Picard vai desplugando uns pen-drives gigantes e Data vê o seu capitão pegando a sua mão, sentado ao seu lado. PIcard diz que somos da mesma essência que o sonho e nossa breve vida culmina com um sono. Data vai envelhecendo enquanto Picard despluga o segundo pen-drive. E, ao puxar o último, Data fecha os olhos para sempre, e a simulação desaparece em fragmentos que se sobrepõem à imagem do espaço. O episódio termina na La Sirena, com Rios e Jurati juntos, Sete de Nove e Raffi juntas (algo muito forçado e desnecessário), Picard, Elnor e Soji. O Almirante se volta para Soji e pergunta por que está deixando seu lar depois de muito procurar. Ela diz que acha que nasceu para vagar e com a proibição aos sintéticos revogada, que ela pode viajar. Picard diz que também pode viajar. Picard dá o seu tradicional “engage” e a La Sirena entra em dobra. Fim do Episódio. E da série.

Star Trek: Picard - You Don't Have To Say It Back (Ep. 9, "Et In ...
Raffi pôde externar seu sentimento materno no último episódio…

Bem, o que podemos falar de bom desse episódio final de Picard? Em primeiro lugar, os momentos em que vemos Riker e Data, para variar. No caso do antigo “Number One” de Picard, ele se portou como um verdadeiro capitão diante do inimigo, falando de forma respeitosa, firme e agressiva nos momentos exatos. Mesmo o “chute no traseiro”, que é associado a um termo de baixo calão, o que foi motivo de crítica em toda a série, aqui pode ser relativizado, pois foi usado dentro de um contexto de animosidade e beligerância entre a Federação e os Romulanos, ao contrário dos outros palavrões gratuitos que vimos ao longo de toda a série. Há que se lamentar que não era a Enterprise-F que não estivesse sob o comando de Riker, e sim a Zheng He, e também do incômodo control-C control-V que uniformizou as naves (fás de Jornada nas Estrelas raiz querem ver cada nave com seu nome e número de registro), mas isso é até compreensível em virtude do baixo orçamento. E, cá para nós, a série clássica, que sofria das mesmas restrições de orçamento, também lançou mão desse expediente. O diálogo entre Riker e Picard, especialmente a parte da pizza, foi particularmente delicioso. Já o momento entre Picard e Data foi especialmente terno e resgatou o espírito de Asimov, maculado no nono episódio com o mito de Frankenstein vindo à tona. Aliás, as referências ao “Homem Bicentenário” de Asimov são muito claras aqui e servem como uma homenagem, dentro de uma visão otimista e utópica de que os andróides existem para serem aliados da humanidade e não o contrário, mesmo que os humanos às vezes não sejam tão virtuosos para com os andróides. Dentro dessa linha, as falas de Picard, ao longo do episódio, trazem essa perspectiva otimista e utópica para com os andróides, o que ajudou a resgatar um pouco a dignidade do personagem, tão chutada e esculhambada ao longo de toda a série.

Vulcan Hello | Picard S1E10: "Et in Arcadia Ego, Part 2" (Episode 13)
Picard e Data. Encontro num outro plano…

O que também se mostrou mais um alívio do que uma virtude é que, por hora, não se foi estabelecida nenhuma referência com o futuro distante de Discovery. O problema é que há toda uma segunda temporada pela frente e não sabemos ainda o que pode acontecer, com essa referência podendo ou não surgir. Confesso que espero muito que isso não aconteça, pois Discovery ainda precisa muito se emendar (veremos se isso acontecerá na terceira temporada).

Star Trek: Picard season 1, episode 10 recap – “Et in Arcadia Ego ...
O andróide optou pela finitude da vida…

As conversas de Sete de Nove com Rios e Raffi com Elnor, apesar de ocuparem um pequeno espaço no episódio, tiveram a virtude de redimir Sete e Raffi. No caso da primeira, ela se arrepende de seu espírito de vingança, de matar pessoas que parecem que merecem morrer. Realmente tinha ficado muito feio a vingança dela em Stardust City, logo depois de participar de uma conversa com Picard sobre humanidade. Já no caso de Raffi, o ato dela consolar Elnor deu-lhe uma chance de externar seu espírito materno, totalmente tolhido no encontro com seu filho, que tinha a mergulhado num estado de amargura ainda maior. E a Elnor, tivemos a chance de ver sua vertente infantil de uma forma positiva e não caricata (como foi ao longo de toda a série), pois ali percebemos como os sentimentos pelo velho almirante eram muito verdadeiros.

Star Trek Picard Episode 10 "Et in Arcadia Ego Pt 2" Analyzed and ...
Data em seus últimos momentos…

E as partes negativas do episódio? Em primeiro lugar, o excesso de pontas soltas (ou seriam simplesmente esquecidas?). Sete de Nove se junta à tripulação da La Sirena. E sua ligação com os Rangers de Fenris? Ela simplesmente pediu baixa? Eles irão atrás de Annika? Temos, ainda, um enorme cubo borg apinhado de xBs que ficou na superfície do planeta, que foram igualmente abandonados pela ex-borg. Eles recuperarão o cubo e destilarão suas mágoas contra Sete? Já temos sugestões para dois episódios na próxima temporada. Mas elas serão usadas? Se os Rangers e o cubo simplesmente ficarem esquecidos, isso seria um furo de roteiro homérico. A mesma pergunta recai sobre a comunidade de andróides. Eles viverão em paz? Quem garante que os romulanos não vão voltar e aniquilar toda a comunidade? E Sutra? Foi “assassinada” por Soong, ou este apenas a desligou, apertando a tecla on/off? Essa andróide com jeito de Lore vai voltar? Mais algo que simplesmente não pode ser deixado para trás na segunda temporada, sob a pena de cair no furo de roteiro. Outra ponta solta ficou por cargo de nosso malfadado Narek. Já ficou de mau tom ele fazer uma aliança com Rios e Raffi, só para colocar os dois personagens da La Sirena de volta no jogo da trama. Isso poderia ter sido feito de outro jeito. Essa aliança provocou uma barriga enorme no episódio com toda aquela conversa ao longo da fogueira sobre Dia do Juízo Final Romulano e as demônias gêmeas. Todo um misticismo bem ao estilo de Alex Kurtzman que encheu o saco ao longo de toda a série e que não podia (mas podia) faltar no episódio final. Essa pequena trupe consegue se infiltrar na cidade dos romulanos para tentar destruir o transmissor e, ainda por cima, fracassa. E aí, o que acontece? Nosso Narek simplesmente desaparece da história. Sumiu, ninguém sabe, ninguém viu. Nesse caso de ponta solta, espero que fique por isso mesmo, pois esse Narek é um personagem muito do mala sem alça, que carrega essa infeliz aura de misticismo que entorpece a série. Mas ele é uma ameaça fantasmagórica que paira sobre a segunda temporada. Ao invés de Narek voltar, teria sido melhor Rizzo ter permanecido viva e ter feito uma aliança com Oh, sendo uma ameaça bem mais concreta. Quem sabe…

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Um Picard novinho em folha, mas nem tanto…

Tivemos, ainda, a soneca do Picard, com meio mundo caindo sob a ameaça dos sintéticos exterminarem os orgânicos. Jurati pelo menos deveria tê-lo encontrado acordado arrumando algum meio de sair da sua prisão. Uma pessoa tão obcecada por sua missão, como ele disse ao longo de toda a série, não ficaria ali simplesmente tirando um ronco. Pegou mal, mas foi uma última esculhambada no almirante.

Star Trek Picard (S01E10) "Et in Arcadia Ego Part 2" - TV Series Hub
Sete de Nove e Raffi. Um romance não trabalhado…

Os sintéticos avançados eram risíveis. Aqueles tentáculos todos, para se dizer que eles eram do mal, ficaram excessivamente caricatos. Quase vi o Alfred Molina ali como o Dr. Octopus do Homem Aranha. Seria melhor ver naves com um visual ainda mais futurista.

Narek | Memory Alpha | Fandom
Narek sumiu…

O fato da consciência de Picard ser instalada no corpo do andróide foi algo que soou óbvio demais e ainda foi necessário se encontrar desculpas para a aparência do corpo ser de um senhor de 94 anos ao invés de uma pessoa mais jovem para que o Patrick Stewart pudesse estar na segunda temporada. Talvez tivesse sido melhor que o corpo do almirante fosse curado e regenerado, mesmo que fosse por aquele aparelho mágico dos andróides que aproximava a ficção científica da fantasia. Picard agora é um andróide com consciência humana. Sinceramente, você já se acostumou com essa idéia?

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Picard e Riker. Bom momento…

Para finalizar, o romance forçado entre Sete de Nove e Raffi. Jornada nas Estrelas sempre foi uma série inclusiva, que privilegiou a diversidade e o respeito às diferenças. Entretanto, a coisa tem que ser feita não de forma forçada, jogada, mas dentro de um contexto. Esse romance poderia ter sido amadurecido e trabalhado ao longo dos episódios da segunda temporada, por exemplo. É a mesma história da cadeira de rodas em Discovery. Uma pessoa paraplégica não quer se ver no século 23 ainda com esse problema, mas sim curada ou bem mais adaptada à vida. Colocar a inclusão como um mero pano de fundo pega mal para a inclusão como um todo. Esse tema tem que ser apresentado e debatido, de preferência, de forma metafórica, já que é uma série que trata do futuro, caso contrário, o século 24 fica com muita cara de século 21. É claro que a ficção científica é um reflexo do nosso tempo, mas um control C – control V também é uma forma pobre de se abordar o tema.

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Tabagismo, álcool e drogas em Jornada nas Estrelas…

E o que podemos falar da série como um todo? Bom, na minha modestíssima opinião, o saldo foi apenas regular. Claro que houve todo o bom fan service, com as presenças de Picard, Data, Riker, Troi, Hugh, Sete de Nove, Icheb, Maddox. Os melhores momentos da série foram, sem a menor sombra de dúvida, o encontro de Hugh com Picard, de Riker e Troi com Picard e de Picard com Data. Lá, a gente sentia aquele espírito otimista e utópico de Jornada nas Estrelas e dava para muito matar a saudade. Tivemos, também, uma história que nasce de uma boa idéia, a querela entre os robôs e os romulanos, tomando Data como ponto de início. Entretanto, os problemas foram muitos, a começar pelo próprio protagonista da série, que foi sistematicamente desrespeitado em muitos episódios. Uma certa falta de respeito com personagens antigos (as mortes de Hugh e Icheb até agora não foram assimiladas por minha pessoa) com o objetivo de valorizar personagens novos foi também algo irritante. Não podemos nos esquecer aqui de Sete de Nove, que teve todo um processo de humanização trabalhado em Voyager e foi simplesmente jogado fora em Picard, com Annika se tornando uma badass vingativa que saía cometendo assassinatos a torto e direito. Ainda, se a história parte de uma idéia boa, o mesmo não pode ser dito sobre seu desenvolvimento. Barrigas imensas, como o sonolento relacionamento Soji-Narek ou o misticismo romulano, cumpriram pouca ou nenhuma função na história. A distopia exagerada, que mergulhou fundo nos estados da alma de personagens como Rios, Jurati e, principalmente Raffi, contribuiu para colocar um clima muito pesado na série, que muito se espelhava por seu escapismo e utopia. Falou-se, também do excessivo uso de expressões de baixo calão na série, onde a própria comandante em chefe da Frota Estelar era o paradigma máximo, uma coisa que não existe mais no futuro de Jornada nas Estrelas (vide Jornada nas Estrelas IV, a Volta Para Casa, onde Kirk e Spock falam das “metáforas coloridas”). Falou-se, também, do mau tom de consumo de bebidas alcoólicas, fumo e drogas. Tudo isso recai na história de um século 24 com muita cara de século 21, onde as questões de nosso tempo não estão sendo tratadas com a menor sutileza ou alegoria. E numa agenda política demasiadamente forçada que não respeita o cânon e que deveria ser mais contextualizada na série. Volto a dizer que Jornada nas Estrelas é uma série que sempre vai valorizar a representatividade e a diferença, e o fato de ver isso na série sempre é positivo. Entretanto, dependendo da forma como essa representatividade e diferença são abordadas, os efeitos disso podem ser nocivos para a própria representatividade e diferença que se pretende exaltar.  Não adianta, por exemplo, colocar mulheres em altos postos de comando, se elas são vilãs ou falam palavrão na cara de personagens que eram considerados antigos machos alfa. Isso acaba se tornando uma espécie de desserviço ao próprio empoderamento feminino.

Kirsten Clancy | Memory Alpha | Fandom
… além de palavrões tresloucados…

Isto posto, podem até me chamar de dinossauro, que não aceito o novo, etc., etc. Mas também não podemos nos esquecer que Jornada nas Estrela é uma série de mais de cinquenta anos, onde a atuação dos fãs sempre foi muito importante. Desde o abaixo assinado para se assegurar a terceira temporada da série clássica, chegando até todas as séries das décadas de 80, 90 e 2000, onde os produtores escutavam a opinião dos fãs e era praticamente uma regra geral as séries melhorarem depois da primeira ou segunda temporada. É claro que o sistema de séries antigamente, com uma temporada de mais de vinte episódios de cerca de quarenta e cinco a cinquenta minutos sendo produzidos ao longo de todo um ano, dava uma melhor oportunidade de ajustes. Do jeito que é feito hoje, no streaming curto de dez a quinze episódios, onde tudo é produzido previamente, a coisa fica mais difícil. Mas creio que sempre a boa história pode se adaptar a qualquer formato de série. E, principalmente, se estar aberto às sugestões e observações dos fãs, o que parece que os produtores atuais de Jornada nas Estrelas parecem nem sempre estar dispostos a fazer. Ainda, pode-se estar antenado à realidade cotidiana sem violar muito o cânon. Isso já foi mostrado nas séries antigas de Jornada nas Estrelas. Como um exemplo disso tivemos os klingons, produto da guerra fria e metáfora da União Soviética, que foram, após o fim da guerra fria, mais voltados, na minha modesta opinião, para a cultura árabe, com a exaltação dos valores guerreiros, e, posteriormente, para a cultura islâmica, onde Khaless era o paradigma. Tudo isso numa visão culturalista que ajudava a diminuir o preconceito contra a cultura árabe e islâmica que grassava no mundo das décadas de 80, 90 e que volta com força total hoje. Assim, os roteiristas e showrunners de hoje têm como fazer algo melhor com Jornada nas Estrelas e serem contemporâneos sim. Basta ter criatividade, que parece ser algo que falta um pouco a esses senhores e senhoras.

Resta, agora, cruzar os dedos e ver o que vem por aí de Jornada nas Estrelas. Esperemos mais criatividade, aliada ao cânon e à contemporaneidade.

Kritik zu Star Trek: Picard 1.10 – "Et in Arcadia Ego, Part 2 ...
Engage…

Batata Séries – Jornada Nas Estrelas Picard (Episódio 9) Et In Arcadia Ego, Parte 1. Retornando Ao Mito De Frankenstein.

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As orquídeas espaciais…

Chegamos ao nono episódio de “Jornada nas Estrelas Picard” com um gosto de cabo de guarda-chuva na boca e uma tremenda cara de anticlímax. Quando esperávamos que haveria um plot mais desenvolvido com a ação final da série mais instigante e distribuída ao longo de um intervalo de tempo maior, tivemos um desenvolvimento de história mais lento e a sensação de que apenas o décimo e último episódio não será suficiente para fechar toda a trama, ficando algumas questões a serem resolvidas numa eventual segunda temporada. Para falarmos desse episódio, os spoilers serão necessários.

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Picard e Sete de Novve. Destinos diferentes…

O episódio começa com a La Sirena saindo do conduíte de transdobra. O planeta dos andróides é o quarto planeta do Sistema Ghulion. Soji diz que esse planeta se chama Coppelius. Tudo parece muito calmo quando a nave de Narek sai do conduíte e começa uma batalha de naves espaciais. A nave de Narek aparentemente é inutilizada, com o pulso de Narek fraco e Soji sugere que não o ajudem, pois seria um truque (esse é o primeiro sinal do mito de Frankenstein que se avizinha e que veremos pululante ao final do episódio). Picard diz que há uma diferença entre matar um inimigo que ataca e ver um ferido morrer, num dos arremedos de utopia que buscam despistar o mar de distopia da série. Picard pede a Raffi para que Narek seja transportado à enfermaria da La Sirena e, subitamente, a nave do romulano volta a atacar. Ou seja, para cada boa ação, uma punição, bem ao espírito distópico da série. Enquanto a La Sirena está sob ataque, o cubo borg sai do conduíte de transdobra. O cubo carrega suas armas e, subitamente, cinco orquídeas gigantes (?!?!?!) vêm do planeta e envolvem as naves e o cubo.  A energia cai na La Sirena, com os tripulantes perplexos com aquelas flores gigantes espaciais. Logo vem uma trepidação e as naves e o cubo caem na atmosfera. Picard parece em transe e possuído por algo, agradecendo aos demais tripulantes por terem vindo. Esse transe ficou somente nisso e não teve mais nenhuma utilidade na história. A tripulação socorre o velho almirante. Começa a abertura. Após a abertura, Picard é acordado por Jurati na enfermaria (isso mesmo, a Jurati que matou Maddox há alguns episódios atrás, está sozinha com Picard na enfermaria!). A nave está sem energia e na superfície do planeta (como o impacto da queda foi atenuado? Alguns estão defendendo que isso foi por obra e graça das orquídeas. Enfim…). Jurati examinou Picard com um tricorder médico antigo e descobriu a doença do almirante, ficando com os olhos marejados perante um Picard cônscio de que descobriram seu segredo. Picard convoca a tripulação para dizer que está entregando Soji aos andróides e irá comunicá-los que os romulanos vêm para atacá-los. Picard ainda fala de sua doença para a tripulação, causando uma comoção geral, isso depois de ser chutado que nem um cachorro morto sarnento por quase toda a série por alguns dos personagens presentes. Pelo menos Picard disse que o assunto de sua doença estava encerrado e que se alguém voltasse a mencioná-lo, o almirante ficaria puto da vida. Há um povoado de andróides a cinco ou seis quilômetros de distância, que Soji diz que viveu por lá por um tempo, embora suas lembranças disso sejam nebulosas. Mas, antes de irem à cidade, eles decidem ir ao cubo borg, que também caiu e miraculosamente não se espatifou (as orquídeas?). Sei não, mas o cubo no solo me remeteu aos restos da Estrela da Morte em Endor no Episódio IX de Guerra nas Estrelas. Enfim… Ao chegarem ao cubo, constataram que o pouso do mesmo não foi tão suave assim, mas encontraram um monte de xBs vivos, sendo que um até chamou Picard de Locutus, provocando um desconforto temporário no velho almirante. Do nada, aparece Elnor abraçando Picard e, depois, Sete de Nove, chutando uns cadáveres para abrir espaço, numa cena de extremo mau gosto. Só se espera que, dentro do espírito de vingança da série, Annika tenha chutado cadáveres de romulanos e não de xBs. Mesmo se isso tenha acontecido, a coisa não ficou bonita, muito pelo contrário. No cubo, a energia funciona e, ao se ligar os sensores de longo alcance, foi descoberto que 218 naves romulanas se dirigem ao planeta. Esse foi um ponto que despertou muita polêmica, pois se a supernova destruiu os romulanos, eles teriam quatorze anos para fazer 218 naves? Outra questão que surgiu é a de que essas naves não poderiam existir antes e evacuar a população? Foi falado que era gente demais para ser evacuada por apenas 218 naves. Mas ainda a questão central permanece: como um império poderoso e vasto como o romulano não teria condições de evacuar apenas dois planetas?

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Condição terminal de Picard deixa de ser um segredo…

Picard se despede de Elnor e Sete de Nove, recomendando que eles liguem o sistema de defesa do cubo e protejam os xBs. Sete diz para que Picard continue salvando a galáxia e ele retruca que isso agora está nas mãos dela. Gancho para um spin off da Sete de Nove? Muitos falaram sobre tal possibilidade e devem desejar isso. Mas, se for uma série para escrever de forma esculachada a Sete de Nove, eu confesso que prefiro que nem isso aconteça. Ainda, deixxar um gancho para um spin off não significa que ele se concretize. Depende muito do sucesso do que vemos atualmente na tela. E aí…

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Chegando a uma civilização diferente…

Picard e sua trupe chegam a cidade dos andróides, um mundo idílico cheio de robôs com direito a voos de borboletas artificiais. Vemos muitos andróides gêmeos. Uma andróide chamada Arcana dá as boas vindas de volta a Soji, que se sente em casa. Arcana reconhece Picard como capitão de Data e diz que essa surpresa é comovente. Soji comunica o iminente ataque romulano e há apenas dez orquídeas para defesa. Um homem de cabelos brancos aparece. É o Doutor Altan Ingo Soong, filho do Doutor Soong, que criou Data. Outra andróide igual Soji aparece. É Sutra, irmã de Jana, por quem Rios havia se apaixonado. Sutra conversou com Picard e este lhe contou sobre a situação de Jurati com a advertência e de como ela matou Maddox por causa disso. Sutra desconfia que a advertência só é tolerável para mentes sintéticas e, como estudiosa da cultura vulcana, sugere fazer um elo mental com Jurati para ter conhecimento da advertência. Aqui é necessário abrir um parêntese. Muitos fãs reclamaram (e com razão, a meu ver) de que um elo mental é uma coisa feita por um vulcano, ou seja, um ser vivo com consciência, algo que seria vedado a um andróide, por se tratar de uma máquina. Sutra é uma andróide ao estilo do Data, não orgânica, e, portanto, menos desenvolvida que Soji. Como ela teria capacidade de fazer um elo mental, uma coisa que tem a consciência de um ser vivo senciente em questão? E, para colocarmos um pouco mais de lenha nessa fogueira, o físico Marcelo Gleiser diz em seus livros que, mesmo que fizéssemos uma máquina com a mesma capacidade de um cérebro humano, ainda assim, não poderíamos dizer que um ser vivo foi replicado mecanicamente, pois há a questão da consciência que é algo que a ciência ainda não entende. Ou seja, fazer um cérebro humano mecânico em sua totalidade não significa que vamos criar um ser com consciência.

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Descobrindo um mundo aparentemente idílico…

Bom, o elo mental revelou que as formas de vida orgânica buscam a perfeição e, por isso, criaram as vidas sintéticas, mas ao perceberem que as vidas sintéticas não envelhecem e se perpetuam, veem as vidas sintéticas como uma ameaça e decidiram destruí-las e, por isso, destroem a si mesmos. Há uma vida sintética mais avançada que aguarda o sinal da vida sintética desenvolvida pelos orgânicos. Uma vez que os sintéticos desenvolvidos pelos orgânicos convoquem a vida sintética mais desenvolvida, esta virá para destruir os orgânicos. Ou seja, mais do Mito de Frankenstein que Asimov já rechaçou lá pelos anos 30, 40 com as suas Três Leis da Robótica, sendo reciclado aqui em pleno 2020. Esse mito acaba sendo legitimado na série quando Sutra fala “Fascinante” ao ver toda a visão, sendo uma dolorosa ironia ver essa expressão consagrada por Spock para ressuscitar uma ficção científica bem distópica pré-Jornada nas Estrelas. Ou seja, para testemunharmos andróides como máquinas destruidoras da humanidade, basta ver “Metrópolis”, de Fritz Lang, realizado lá no longínquo ano de 1926.

Jurati conversa com Soong sobre Maddox. Este diz que a moça tem uma enorme dívida por ter tirado a vida de Maddox e sugere a ela uma forma de reparar isso. Ele mostra um corpo de um sintético para Juraati e fala que só faz os corpos mas tem interesse em estudar a transferência mental. Ou seja, a transferência de consciência de um corpo para a máquina (algo que, como vimos acima nas explicações de Gleiser, é impossível por não sabermos o que é uma consciência; mais uma vez a ficção científica dá um voo mirabolante demais e se aproxima muito da fantasia). Obviamente, uma consciência vai ser transferida para essa máquina. Aí as conversas de nosso fandom se abrem a mil especulações. Seria Data? Seria a forma de preservar Picard, já que ele está doente e desenganado? Seria Lore, o irmão maligno de Data, agora que o Mito de Frankenstein pulula alegremente pela série?

Sutra e Soji discutem o que fazer frente a uma possível investida romulana. Soji pensa numa solução que não leve a uma guerra aberta com muitas mortes, mas Sutra não vê outra alternativa e prefere o combate franco e aberto. Nisso, aparece Narek sendo trazido pelos robôs.

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O filho do Dr. Soong. Ô genética boa!!!

Rios fala com Jurati que vai retornar para a La Sirena para tentar religar a nave, pois Picard acha que eles podem ir embora. Rios também diz que não confia nos andróides. Jurati diz que vai ficar para trabalhar com Soong. O mais estranho é que Rios desconfia dos andróides e não faz nenhuma objeção a Jurati ficar, justamente a moça com quem ele tem um caso. Ou seja, mais um furo de roteiro de algo mal escrito. Rios e Raffi vão embora, mas antes Arcana dá uma ferramenta a Raffi que “conserta coisas”. Raffi pergunta como a ferramenta funciona e Arcana diz: “use a imaginação” (mais um flerte da ficção científica com fantasia? Essa afirmação me pareceu “pirlimpimpim” demais). Não podemos deixar passar aqui: Raffi dá um abraço em Picard, diz que o ama e agradece por tudo o que ele fez para ela. Isso depois dela esculachar o almirante por boa parte da série. Bipolaridade, como eu falei quando ela apareceu na série pela primeira vez? É impressionante como a proximidade da morte inverte drasticamente as opiniões e visões de mundo das pessoas.

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Estranhamento entre robôs e humanos…

Picard tenta entrar em contato com a Frota Estelar e relatar o ocorrido requerendo permissão para estabelecer negociações diplomáticas para evitar o ataque romulano. Na prisão, Narek pede para Saga (a irmã gêmea de Arcana) que lhe dê a água que está em sua mochila. A robô disse que nunca tiveram prisioneiros e que não sabem como tratá-los. Mas, vem cá, as orquídeas espaciais não imobilizam as naves invasoras e as pousam sem matar ninguém? É claro que eles deveriam ter um protocolo de como se tratar prisioneiros nesse caso. A robô ia abrir a cela quando Soji a interrompe e diz para não fazer isso. Narek tenta enrolar Soji novamente, mas ela não cai na conversa dele desta vez. Ele então a ameaça dizendo que os romulanos matarão todas as formas de vida do planeta e ela reage dizendo que isso não vai acontecer. Poderia ter sido nesse momento que ela deixou de optar por uma solução pacífica e aderir à visão belicista de Sutra. Mas logo depois Soji vai conversar com Picard e diz que não entende a lógica do sacrifício que Jurati abraçou ao matar Maddox com o intuito de salvar vidas. Picard diz que não gostou da expressão “lógica do sacrifício” e disse ainda que o cálculo da vida e da morte depende de ser você ou não quem segura a faca. Soji ainda se pergunta se pode existir um caso em que matar seja a única garantia de sobrevivência, o que deixa Picard assustado. Pode ter sido aqui que Soji finalmente tenha ficado do lado de Sutra. Esta chega na cela de Narek, dispensa Saga e solta o romulano, deixando implícito que os dois farão um trato.

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Sutra. O Mito de Frankenstein revisitado…

Enquanto Picard e Soji conversam, eles escutam um grito e correm para a cela de Narek. Lá encontram Saga morta e Soong lamentando isso. Soji lamenta a chance que teve e desperdiçou de matar Narek, deixando bem claras as suas intenções de agora em diante.

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Um elo mental problemático…

Sutra discursa para os robôs, com o aval de Soong, e defende a idéia de entrar em contato com os sintéticos mais desenvolvidos, que possuem uma Federação que tem contato com outras galáxias, para atacar os romulanos e extinguir a vida dos orgânicos. A advertência teria enviado de forma codificada as frequências subespaciais para contactar os sintéticos mais desenvolvidos. E Soong e Sutra criaram um dispositivo para entrar em contato. O discurso de Sutra é o de eliminar todos os orgânicos para evitar que estes destruam os andróides, inclusive a Federação, já que esta aboliu os sintéticos. Piccard contra-argumenta dizendo para Soji que a profecia se cumpre, já que a destruidora finalmente apareceu. Picard então faz um discurso dizendo que tem como proteger os robôs, que vai falar com a Federação para salvaguardar os andróides, suspender a proibição de fabricar andróides, etc. Nisso, o próprio Doutor Soong desmente Picard, dizendo que a Federação não irá ouvi-lo. Além disso, Soong diz que os andróides não entenderam uma palavra do que Picard disse, pois não conhecem os valores de integridade e caráter que existem na Terra e em Picard. Ainda, Soong fala para os robôs que Picard não foi ouvido depois do ataque a Marte e, por isso, não será ouvido agora também. Picard, continua Soong, deverá ser colocado em prisão domiciliar pois, segundo Sutra, o almirante poderá tirar a convicção dos andróides em atacar os sintéticos. Na base da trairagem pura, Soji (por uma questão de sobrevivência) e Jurati (por ter encontrado o seu lugar que é o auge de sua pesquisa científica de uma vida inteira) ficam do lado dos andróides contra Picard depois de, no início do episódio, se emocionarem com a condição terminal do almirante (você acha que isso encaixa, caro leitor? Eu também não). Picard é então levado para sua prisão domiciliar em mais uma mostra de como o protagonista (?) da série é chutado e esculhambado como um cachorro morto. Vemos Sutra com um semblante triunfante e uma Soji com um olhar de dúvida. O episódio termina com a frota romulana se aproximando do planeta em menos de vinte e quatro horas.

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A advertência tem outra leitura para os sintéticos…

Qual é a primeira palavra que me vem à cabeça sobre esse episódio? Decepcionante. Vimos pouco desenvolvimento de história no sentido de desenrolar a parte final. E, ainda mais: surgiu a questão (óbvia, para alguns) de que os andróides assinaram embaixo toda a agressividade despertada na advertência. Sendo óbvio ou não, a ressurreição do Mito de Frankenstein, onde o ser humano é punido por brincar de Deus incomoda, e muito, pois surge como um castigo ao possibilismo da ciência, uma negação do racionalismo que vimos ali na virada do século XIX para o XX, sobretudo em movimentos artísticos mais subjetivistas como o impressionismo, surrealismo, expressionismo, dadaísmo, etc. Como foi dito acima, será Asimov que vai remar na contramão dessa tendência à demonização do robô com as suas Três Leis da Robótica, onde o robô é, antes de tudo, um aliado do ser humano e não o seu antagonista. Data era o ícone máximo disso, mesmo que seu cérebro positrônico não funcionasse segundo as três leis. E o que vemos agora? Esse Mito de Frankenstein voltando com toda força, praticamente um século depois e, por mais perverso que isso possa parecer, a partir de pedaços do finado Data. Quando dizemos que os escritores atuais de Jornada nas Estrelas parecem querer pisar (no sentido de destruir) toda a utopia que a série representava, esse exemplo do Mito de Frankenstein a partir do Data asimoviano parece ser um exemplo paradigmático. É claro que pode haver um grande plot twist no último episódio, mas a mera menção de que os andróides confirmam a previsão da advertência nesse episódio e se tornam uma ameaça aos orgânicos é algo no mínimo perturbador. Ainda, para piorar, Picard será tratado de uma forma altamente desrespeitosa. Apesar de isso ser uma constante em quase toda a série, aqui a situação foi especialmente revoltante, pois a gente vê a condição de todos contra ele, até os seus aliados mais próximos como Jurati e Soji, quem ele salvou da perseguição e morte certa no cubo. O que resta ao velho almirante agora? Rios, Raffi, Elnor e Sete de Nove. Federação como cavalaria? Em guerra contra uma enorme frota romulana que vai se digladiar contra uma espécie de sintéticos desenvolvidos? Parece um final que promete muito. Mas aí vem outra questão: essa série parece ter um baixo orçamento. Criou-se as condições para um final espetacular, regado a muita ação. Mas houve dinheiro para se fazer isso tudo e se contar uma boa história agora no desfecho? Ou a falta de grana vai descambar para um final simplório e aberto para continuar a ser desenvolvido numa eventual segunda temporada? E eu digo eventual, pois será que ela ocorrerá mesmo? E mais: qual consciência irá para aquele andróide construído por Soong?

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Quem vai ocupar o corpo do robô???

Mais um episódio pela frente apenas. Depois de nove episódios, alguns com suas virtudes, mas vários com muitos problemas, o saldo dessa série parece não ser muito positivo. Uma história que traz uma boa idéia, só que mal desenvolvida. E que parece ter pouco conhecimento do universo de Jornada nas Estrelas por parte de quem escreve. De qualquer forma, vamos ver o que vai rolar no último episódio.

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Picard mais uma vez chutado como um cachorro morto…

Batata Séries – Jornada Nas Estrelas Como Um Produto Cultural De Sua Época.

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A crise dos mísseis, na década de 60. Medo de fim do mundo…

Nas últimas semanas, os trekkers de raiz assim como os fãs mais novos têm acompanhado com atenção a série Picard na Amazon. Quando vemos uma nova série de Jornada nas Estrelas, a comparação se torna inevitável com o que vimos nas séries mais antigas. Os mais antigos falam que há uma desvirtuação em Picard, que o espírito de Jornada nas Estrelas está completamente subvertido nas séries novas (também não podemos nos esquecer de Jornada nas Estrelas Discovery), etc. Os mais novos (ou menos exigentes) dizem que Jornada nas Estrelas precisa se adequar com o novo e que a reclamação dos mais antigos seria uma “coisa de dinossauro”, para dizer o mínimo dos termos pejorativos. Permitam-me colocar uns dois centavos de opinião nessa discussão.

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E chega Jornada nas Estrelas, como escapismo para dias sombrios de Guerra Fria…

Quando Jornada nas Estrelas foi criada por Gene Roddenberry na década de 60, o mundo era bem diferente. O medo de uma guerra nuclear e do fim do mundo era mais real do que nunca. A crise dos mísseis tinha colocado o mundo no limiar da Terceira Guerra Mundial e provocou um medo danado em escala global. Uma visão utópica como escapismo àqueles dias sombrios era mais do que necessária, assim como foram os musicais americanos que aliviavam as dores da crise econômica da Grande Depressão ocorrida em 1929. Roddenberry consegue criar uma série de TV que não escapou de uma visão imperialista americana, que teve um apoio ideológico nas noções de fronteira do historiador Frederick Jackson Turner (depois da marcha para o Oeste, da influência imperialista americana na Ásia, e do então futuro desastre no Vietnã, o espaço ainda é a fronteira final), mas que também trouxe uma visão utópica e otimista de mundo, onde a humanidade consegue sobreviver à Guerra Fria e alavancar a exploração espacial, expurgando do planeta Terra a visão belicista e colocando-a nas costas de civilizações alienígenas como os klingons e os romulanos, as metáforas dos inimigos americanos na década de 60. Os terráqueos do século XXIII seriam mais assépticos no sentido da agressividade e do belicismo. A hierarquia militar apresentada dentro da Enterprise é um bom exemplo disso, onde os superiores se referem aos seus subalternos como “senhores” (Senhor Sulu, Senhor Checov, etc.). Assim, essa hierarquia militar que pode até ser questionada numa sociedade utópica, era utilizada justamente para espelhar o contexto dessa utopia. As visões de ciência, ainda que trabalhadas de uma forma um pouco espetaculosa (viagens no tempo, dobra espacial, controle de interação matéria-antimatéria, subespaço, etc.) eram exploradas e levadas ao grande público como nunca havia ocorrido na história da então nascente televisão. E foi, por isso mesmo, que a série inicialmente conquistou os estudantes e cientistas. Mas cairia também nas graças do público nas reprises do “sindication”. Ou seja, Jornada nas Estrelas logo se mostrou que não era uma série apenas para um nicho de público. A série tinha o que dizer para muitas pessoas e se tornou muito popular. Trazia uma mensagem otimista e esperançosa para o futuro, onde o melhor do ser humano era explorado, falava da questão do “outsider”, materializada em Spock, e conquistou os Estados Unidos, assim como os outros países em que passava. Claro que a série não ficou totalmente incólume aos efeitos de seu tempo. Mesmo sendo utópica, abraçando a diferença e lutando contra o preconceito latente da década de 60, ainda vimos alguns vícios da época, como o protagonismo do macho alfa (cujo maior símbolo até hoje é o Capitão Kirk) e um papel da mulher ainda deslocado, com a exploração sexual do seu corpo, à despeito da importância dada a Uhura (a ordenança Janice Rand ainda acabava caindo nos estereóripos femininos da época). Mas, ainda assim, a série tinha o grande privilégio de ser um produto cultural de massa que despertava a reflexão.

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Os inimigos dos Estados Unidos foram para o espaço…

O tempo passou, o mundo mudou, a Guerra Fria acabou. Um pouco antes disso, Jornada nas Estrelas retornava ao cinema, depois de um hiato de alguns anos, ainda trazendo um espírito otimista, apesar de um pouco contaminada pelo espírito de violência da década de 80 (vemos isso em Jornada nas Estrelas II, a Ira de Khan e Jornada nas Estrelas III, A Procura de Spock). Entretanto, o mais intrigante aparece em Jornada nas Estrelas VI, A Terra Desconhecida. O filme que levaria o fim da Guerra Fria para o Universo de Jornada nas Estrelas marcando a paz entre a Federação e os Klingons, seria marcado por uma conspiração entre os membros da Federação e os Klingons para manter as hostilidades. Ou seja, esse foi o filme em que, provavelmente, Jornada nas Estrelas flertou com a distopia de forma concreta pela primeira vez. Mas o casamento viria logo depois com Deep Space Nine, onde a Federação, numa zona onde houve uma guerra recente, precisa colocar, diplomaticamente, panos quentes em feridas ainda não cicatrizadas na querela entre cardassianos e bajorianos. Para piorar, a Federação ainda vai ter que encarar uma guerra contra o Dominion do Quadrante Gama. E a famigerada Seção 31 surge fazendo um trabalho de espionagem para lá de sujo. Muitos fãs de Jornada nas Estrelas abraçaram a causa de Deep Space Nine e aceitaram a distopia de bom grado, por gostarem muito dos roteiros dos episódios, realmente muito bem escritos em muitas ocasiões. E, quando percebemos, a distopia já estava instalada em Jornada nas Estrelas. Tanto que em Voyager, a capitã Janeway volta e meia tomava atitudes altamente questionáveis e os entusiastas da série diziam que era algo justificável em virtude do fato de a Voyager estar sozinha no Quadrante Delta, um território desconhecido e de domínio Borg. Mas a distopia não pararia por aí. Em “Insurrection”, vemos o Almirante Dougherty num plano malicioso juntamente com os so’na para retirar os ba’ku de seu planeta e da radiação natural que lhes dava a imortalidade. Coube à Enterprise se rebelar contra essa atitude pouco virtuosa de Dougherty, o braço da Federação na região.

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Em A Terra Desconhecida, os primeiros sinais de distopia…

Há, também, distopia na prequel Enterprise, onde o “Zeitgeist”, o espírito da época, teve um papel, digamos, decisivo. Isso fica muito latente no personagem Jonathan Archer, o capitão da Enterprise. Inicialmente, nosso capitão tinha o espírito do explorador e do humanista, que está ávido por estabelecer contato com novas civilizações alienígenas e levar o melhor do ser humano para essas culturas numa interação construtiva ao melhor estilo utópico. Entretanto, logo a série daria os seus sinais de distopia. Tutelados pelos vulcanos, uma espécie mais desenvolvida cientifica e logicamente, estes veem os humanos com um certo desprezo em virtude do seu estágio de desenvolvimento, o que leva a uma certa desconfiança e até a casos onde os vulcanos mentem para os humanos, algo inimaginável na série clássica. Os defensores da série logo diriam que se tratam dos vulcanos do século XXII, com uma visão de mundo diferente dos vulcanos do século XXIII. Mesmo assim, a arrogância vulcana exacerbada do século XXII acabou incomodando um pouco. Mas o divisor de águas da série foi um fator externo, os atentados de 11 de setembro de 2001, que jogaram Enterprise no colo da distopia. A espécie suliban muito se aproximava dos talibans (até na sonoridade das palavras) e Archer deixou de ser o explorador humanista bonachão para, por força das circunstâncias, adotar uma postura mais violenta, chegando até a torturar alguns de seus antagonistas. A coisa caiu muito pesada.

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Em Deep Space Nine, a distopia de instaura de vez…

Chegamos a Kelvin Time Line e a J. J. Abrams. Qualquer tentativa de se tornar a série mais reflexiva vai ralo abaixo. Jornada nas Estrelas se torna mais um filme de ação com direito a muita porrada, bomba e tiro, onde alguns fan services e easter eggs ainda amarram essa nova visão ao passado. É o novo, dizem alguns, com o intuito de se aproximar Jornada nas Estrelas das novas gerações, que parecem ter pouca paciência com a reflexão e são bem mais imediatistas, embora não possamos generalizar. Os poucos arremedos de utopia desaparecem e a distopia se encaixa de vez ao contexto, principalmente nas figuras do Almirante Marcus e Krall, além do encaixe, a princípio fora de contexto, da Seção 31. Mas isso seria somente uma prévia para a distopia marcante em Discovery e Picard, na era Alex Kurtzman, onde a coisa degringolou de vez, no que tange à preservação de algum arremedo de utopia e de uma reflexão mais profunda. Em Discovery, na sua primeira temporada, ainda houve a desculpa de que o Universo Espelho estaria metido nessa distopia.

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Janeway. Atitudes questionáveis em Voyager…

Mas ainda vemos uma Federação no mínimo estranha, que permite a tortura de um tardígrado para acionar um motor de esporos, dada a situação de guerra com o Império Klingon (eivado de um fanatismo religioso que alimentava um código de honra nem sempre respeitado). E o Universo Espelho nada tinha a ver com isso. Outro elemento que muito desagradou aos fãs mais antigos foi o fato de se construir virtudes de personagens novos em cima do desmonte de personagens mais antigos, algo visto também em outras franquias como Guerra nas Estrelas (seria uma manifestação de nosso “Zeitgeist”?). Assim, vimos a exaltação de Michael Burnham, por exemplo, enquanto que personagens clássicos como Christopher Pike e Spock eram desvalorizados, onde o primeiro era desrespeitado por alguns tripulantes em sua hierarquia, e o segundo tornava-se excessivamente emocional, quando justamente a graça da coisa eram os seus lampejos de emoção escondidos sob uma carapaça de lógica, como víamos no Spock de Nimoy. Ainda, ffalando em desrespeito ao Pike, como a hierarquia militar é desrespeitada em Discovery! Justamente essa hierarquia que ratificava uma visão utópica na série clássica da década de 60. Mas, voltando aos personagens, quem escreve agora Jornada nas Estrelas não entende que pode criar personagens novos e exaltá-los sem qualquer problema, mas isso não significa necessariamente desvalorizar os personagens mais antigos. Uma interação criativa e construtiva entre personagens mais antigos e novos é a melhor saída, até para se “passar o bastão” para a geração mais nova, criando uma identificação entre o fandom mais antigo e mais novo. Do jeito que a coisa está, temo muito pelo futuro de Jornada nas Estrelas, uma série que já sobrevive há mais de cinqüenta anos e que, por isso mesmo, deve ser muito difícil de escrever, em virtude do vasto universo de mais de 700 episódios e mais de dez filmes, isso se não contarmos livros, quadrinhos, videogames, etc.

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Jonathan Archer. De humanista a torturador. Ecos do 11 de setembro de 2001…

Nos episódios de Picard, vemos ainda uma tendência a uma distopia que consegue chegar às raias do doentio em alguns momentos. A justificativa do Zhat Vash em destruir os sintéticos em função da visão conhecida como advertência, onde nos é mostrado um futuro com os sintéticos destruindo tudo, o que provoca manifestações de horror e suicídio coletivo, ultrapassa os limites da distopia, beirando, inclusive, o mau gosto, de tão agressiva que a advertência é. E o mais interessante é que parece que os roteiristas se dão conta disso, pois eles enxertam um discurso otimista aqui ou ali, embora isso pareça muito pouco para contrabalançar o clima altamente pessimista da série, onde vemos seguidos casos de pessoas no fundo do poço como Rios ou Raffi, além dos dilemas existenciais de Soji ou os fortes abalos sofridos por Jurati pela advertência, a ponto da moça pensar em suicídio. Ou seja, se em Discovery a distopia já cavalgava livre e tresloucadamente (lembrem-se da Seção 31, da Imperatriz e do Controle), em Picard ela atingiu outro estágio de extrapolação, atingindo a alma humana com casos individuais de desencanto, depressão e tendências ao suicídio. Ou seja, temos um quadrante delta de distância entre as utópicas séries das décadas de 60 e 80 (TOS e TNG) e a distopia despropositada da era Alex Kurtzman. Volta e meia, alguns fan services buscam manter o fio tênue de um cordão umbilical que nem parece mais existir entre esses dois pólos. Como se não bastasse esse sério problema, ainda vemos o protagonista da série sendo desrespeitado sistematicamente por personagens e roteiristas o que se encaixa no esquema de valorizar personagens novos desvalorizando personagens antigos como descrito acima. Alguns dizem que é para mostrar a situação do idoso no mundo presente, igualmente desrespeitado. Mas aí fica a dúvida: será que o idoso será desrespeitado assim no século XXIV? A ficção científica realmente reflete a realidade do tempo em que é escrita, ou seja, é uma obra datada. Mas até que ponto esse reflexo é metafórico, sutil, ou é uma mera cópia descarada dos dias de hoje? Até que ponto a gente aceita um século XXIV tão com cara de século XXI, chegando ao ponto de se ver expressões de baixo calão contemporâneas em altos postos institucionais numa civilização do futuro teoricamente mais desenvolvida, algo que soaria mal até nos dias atuais? Uma boa história dá ao espectador a oportunidade de se permear nas entrelinhas e achar as referências. Quando a coisa é evidente demais, é tão jogada na nossa cara, temos o indício de algo mais pobre, trabalhado com menos desenvoltura, ou seja, com mais preguiça.

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Almirante Marcus. Distopia na Kelvin Time Line…

Por fim, outro problema na era Kurtzman. Uma ficção científica que abusa do uso do termo ficção, aproximando-se do fantástico.  A primeira coisa que nos vêm à mente é a rede micelial de Discovery. Imaginar no subespaço um tecido vivo que permite uma viagem em velocidade praticamente infinita, sendo que esse subespaço permeia não somente o Universo, mas o Multiverso, é muito forçado demais. Já que é para chutar o pau da barraca dessa forma, seria melhor colocar a Emília do Sítio do Pica-Pau Amarelo na ponte da Discovery e ela falar “pirlimpimpim”, ao invés de acionar o motor de esporos e torturar o pobre do Stametz (ou o tardígrado). É claro que a ficção mexe com o implausível, mas também sabemos que a melhor ficção científica é aquela que antecipa o futuro. É por isso que escritores como Júlio Verne e Isaac Asimov até hoje são muito celebrados. Ou seja, a ficção científica tem todo o direito de trabalhar com o implausível, mas é recomendado que não se exagere muito, pois há o risco dela cair no insólito, no ridículo até, e deixar de ser uma ficção científica (o grifo meu é importante aqui para lembrar que há alguns limites nessa ficção) para se tornar uma fantasia, onde não há qualquer limite, e cairmos no pirlimpimpim, onde tudo é possível. Outro exemplo dessa ficção científica fantasiosa apareceu em Picard, onde uma civilização antiga altamente avançada colocou oito sóis e um planeta juntos para chamar a atenção para a história pregressa dessa civilização que acabou destruída pelos próprios andróides que criou. Em primeiro lugar, é uma coisa praticamente impossível, por mais nível tecnológico que essa civilização tenha, o ato de deslocar oito estrelas artificialmente, em função do altíssimo campo gravitacional que produzem. Ainda, se é impossível a vida num planeta com duas estrelas próximas, em virtude de toda a radiação recebida, imagine em oito planetas? E mais: um planeta não conseguiria sobreviver próximo ao fortíssimo campo gravitacional de oito estrelas e se despedaçaria. Se a atração gravitacional de Júpiter já consegue fazer isso (é só a gente ver o cinturão de asteróides entre Marte e Júpiter, que pode ter sido originalmente um planeta que se não se formou em virtude da atração de Júpiter) ou de Saturno (seus anéis podem ter sido formados por uma lua ou cometa se que fragmentou em virtude da atração gravitacional do planeta), imaginem oito estrelas puxando diferencialmente o planeta para lá e para cá. Para piorar a situação, a história contada também pode ser implausível. Se os andróides afetaram drasticamente essa civilização hiperavançada, como elas conseguiram montar esse sistema depois do ataque dos andróides? Eles conseguiram se recuperar da catástrofe? Foi algo mal contado e, portanto, mal escrito. Outro problema que vemos nas séries de Kurtzman (e aqui devemos dar o braço a torcer, pois isso também foi visto em TOS) é termos uma estrela que vai se tornar uma supernova orbitada por um planeta que ainda possui uma civilização. Isso é impossível também, pois, nesse estágio de evolução estelar, a vida já é impossível no planeta há muito tempo. Uma estrela, de uma forma em simplificada, é uma esfera de gás com duas forças básicas atuando: a forte atração gravitacional que tende a comprimi-la, e as forças termonucleares, provocadas pela conversão de hidrogênio em hélio em seu núcleo, que tende a expandi-la, o que a deixa em equilíbrio. Quando as reservas de hidrogênio no núcleo começam a se esgotar, as forças gravitacionais ficam mais fortes que a expansão termonuclear e a tendência é o núcleo se contrair. Quando isso acontecer com uma estrela do tipo do Sol, sua luminosidade aumentará em 40%, o que já será suficiente para evaporar os oceanos e tornar a vida impossível na Terra. Se a estrela tem mais massa que o Sol, o núcleo de agora hélio será comprimido a ponto de produzir carbono e oxigênio. Se a estrela tiver ainda mais massa, o núcleo pode ser mais comprimido a ponto de produzir outros elementos químicos, sempre nesse processo de contração e expansão. Se a estrela tem mais de vinte massas solares, esse processo pode se tornar tão violento que a estrela acaba explodindo, configurando-se na supernova e a energia liberada é tão forte que equivale a explosão de um setilhão de bombas atômicas. Para se ter uma idéia, se a estrela Betelgeuse, uma gigante vermelha a quinhentos anos-luz de distância de nós explodir, toda a vida na Terra seria destruída com a radiação. Logo, uma estrela numa iminência de se tornar uma supernova já não tem vida aos seus arredores há muito tempo. E o que vemos em Discovery? Uma jovem Michael Burnham vendo uma estrela na iminência de se tornar uma supernova pelo telescópio, juntamente com os pais numa nave espacial nas imediações da estrela. A impressão que se dá é a de que não há qualquer preocupação com consultoria científica nas séries da época de Alex Kurtzman, preocupação essa que víamos pelo menos nas séries produzidas por Rick Berman e Michael Piller.

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Discovery. Tortura de tardígrados…

Os tempos mudam e as coisas mudam? Sem a menor sombra de dúvida. O problema é como as coisas mudam. Infelizmente, quem está responsável pela franquia Jornada nas Estrelas hoje parece que não está muito preocupado em fazer essa transição de uma forma mais suave e pouco se preocupa com um público que mantém essa franquia viva há mais de cinquenta anos. Choro de dinossauro? Pode até ser. Mas será que as novas gerações vão comprar a franquia do jeito que está hoje e sustentá-la por mais cinquenta anos? Tenho minhas dúvidas. Ainda acho que a passagem de bastão deve ser feita de forma criativa e conciliadora entre essas duas gerações. E aí, a presença de bons roteiros que unam esses dois pólos é fundamental, o que parece não estar acontecendo muito, infelizmente. Não seria o caso de se botar a mão no bolso e procurar o que os fãs escrevem no Universo Expandido, ou melhor, até contratar pessoas que escrevem esse Universo Expandido para escrever? E, principalmente, chamar showrunners que também estão comprometidos com Jornada nas Estrelas como os escritores que não são considerados cânones? Fica aqui a minha pulga atrás da orelha para vocês.

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Em Picard, a distopia chega ao desejo pelo suicídio…

Batata Séries – Jornada nas Estrelas Picard (Episódio 8), Fragmentos. Terapia De Grupo.

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Sete de Nove como Borg, o melhor momento do episódio…

O oitavo episódio de “Jornada nas Estrelas Picard” intitulado “Fragmentos” mais pareceu uma terapia de grupo. Depois dos dois bons fan services dos episódios anteriores, “Fragmentos” apresentou um obrigatório amarrar de pontas soltas, mas isso foi feito com doses exageradas de melancolia e clima altamente depressivo, pois juntou toda uma vibe um tanto tristonha e amargurada de três personagens numa única nave. Pelo menos, houve alguns contrapontos que puderam fazer o pesado episódio fluir com um pouco mais de suavidade. Para podermos entender o que aconteceu, spoilers serão necessários.

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Um ritual doentio…

O episódio começa com um ritual meio místico, meio rúnico (bem ao espírito de Alex Kurtzman) há quatorze anos (isso, mais um flashback de início de episódio), num planeta cercado por oito sóis (algo impossível, pois a violenta energia gravitacional num lugar como esse inviabilizaria a existência de vida e do próprio planeta) de nome Aia, que teve uma civilização muito antiga. Essa civilização antiga teria deixado uma “advertência” que seria justamente o perigo de se criar formas de vida sintéticas que acabariam destruindo a todos (uma ressurreição do antigo mito de Frankenstein, que Asimov rechaçou com seus romances sobre Robôs na primeira metade do século XX). Quem comanda o ritual rúnico é a orelhuda comodoro Oh, que agora sabemos, é uma mestiça romulana/vulcana. O Zhat Vash teria nascido dos ancestrais romulanos que teriam sobrevivido a advertência. Aquele grupo liderado por Oh tem a incumbência de evitar uma leva de destruidores que podem acabar com tudo. No grupo, vemos Rizzo e Ramdha, que agora sabemos que é a tia de Rizzo. As mulheres do ritual devem ver a advertência e sairão fortalecidas se conseguirem sobreviver a terrível visão. A grande maioria delas morre, cometendo suicídio (explodindo a cabeça com phasers ou mesmo pedradas). Confesso que esse foi um momento demasiadamente desagradável para mim. Jornada nas Estrelas, nos longínquos tempos utópicos, era uma série otimista com relação ao futuro. Agora, como se não bastasse uma distopia instaurada, ainda temos que ver cenas altamente inquietantes de desespero e suicídio coletivo. É nessas horas que a gente sente que essa distopia em “Jornada nas Estrelas” pode estar indo longe demais. Notemos duas coisas nas cenas da advertência: além de toda uma destruição, vemos rapidamente Data de relance e um gato (seria Spot, o gato de Data?). Bom, de toda essa loucura inicial do episódio, somente Rizzo escapou incólume à visão. Sua tia Ramdha também escapou mas, como já sabemos, ficou meio lelé. Oh e Rizzo conversam e a comodoro diz que vão começar a deter os sintéticos em Marte, ficando claro que o ataque dos sintéticos no planeta vermelho foi coisa do Zhat Vash.

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Não! Ela de novo nããããão!!!!

A história corta para o tempo presente da série e vemos Rizzo conversando com sua tia Ramdha inconsciente, dizendo que ela descobriu o ninho de sintéticos. Depois, ela fala com seus subordinados perguntando sobre a localização de Elnor. O romulano élfico foi encontrado e será perseguido. Começam as cenas de caratê que só são interrompidas quando Sete de Nove aparece subitamente passando fogo em todos os romulanos que atacam Elnor. Ela pergunta por Hugh e o que está acontecendo no cubo, com a resposta de Elnor sendo um forte abraço em Annika. Só para deixar esse texto datado, não há prevenção a coronavírus que resista a um abraço tão desejado desses. Começa a abertura.

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Eu também daria um abraço desses, mesmo com coronavírus…

Após a abertura, vemos um Rios embasbacado olhando para Soji, sendo acordado aos berros por Picard, que pede que ele consiga um canal para a Frota e trace um curso para a Base Estelar 12. Rios diz que vai fazer isso e que depois vai cair fora, fazendo uma birrazinha. Raffi implica com Soji em virtude do ocorrido com Jurati e chega a apontar uma arma para a moça. Mais uma instabilidade dessa personagem que num momento melhora, noutro piora. Picard não acredita muito nas desconfianças de Raffi para com Soji, mais uma vez fazendo o papel de velhinho enganado (parece que o Picard das antigas não voltou de todo, mesmo com o puxão de orelha de Troi no episódio anterior). Ele somente escuta Raffi quando esta diz que ela e a unidade médica de emergência de Rios acreditam que Jurati matou Maddox. Mas, mesmo assim Picard custa a acreditar nos dois, o que é um pouco irritante. Raffi acaba dando uma argumentação convincente sobre Jurati e sobre não confiar cegamente em Soji e a única reação de Picard é ficar com cara de pastel. Para piorar, Picard entra em contato com a comandante em chefe boca suja da Frota Estelar pedindo um esquadrão. A comandante em chefe concorda mas não sem dizer um “cala essa porra dessa boca” para o almirante. Mais esculhambações para cima do protagonista da série com direito a muita baixaria. Pelo menos, Picard disse que se ela não o ajudasse ela seria uma inutilidade. Mas confesso que nunca mais queria ver essa personagem na minha frente e essa infeliz foi usada mais uma vez na série. O mais deprimente é ver Picard batendo a palma da mão na outra como se dissesse “consegui!” depois da queda de braço da comandante em chefe. Isso não seria uma atitude de um Picard de TNG. Parece que ele está numa posição muito inferiorizada. Será que o ostracismo da aposentadoria vai ser tão pesado no século XXIV como o é no século XX?

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Conversando sobre Data…

Raffi procura Rios para conversar sobre suas teorias sobre Jurati e Soji, mas este encontra-se confinado. Cabe a Raffi então conversar com todos os cinco hologramas de Rios, o que nos ajuda a ver todo o talento de Santiago Cabrera, que interpreta seis personagens e serviu como uma espécie de alívio cômico responsável (não como o carnavalizante de Star Dust City) nesse núcleo da La Sirena, que ficou muito melancólico e depressivo nesse episódio.

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Um capitão perturbado…

Voltando para o cubo, Rizzo descobre o comunicador dos Rangers de Fenris no chão e descobre que Sete de Nove está no cubo junto com Elnor. Os dois estão nos aposentos da rainha borg e Sete de Nove quer formar uma espécie de microcoletividade para acionar os borgs para lutar contra os romulanos. O problema é que se esses borgs e a própria Sete de Nove forem assimilados, pode ser que eles não queiram se desassimilar. Rizzo, ao perceber a regeneração do cubo, segue a sugestão de seu centurião de ordenar o lançamento dos borgs para o espaço.

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Hologramas, hologramas e hologramas….

Voltando a La Sirena, Picard e Soji comem e o almirante escuta a crise existencial de Soji com relação à dúvida de se suas memórias são delas mesmo ou são implantes de outras pessoas, ao melhor estilo Blade Runner. Picard retruca dizendo que ela tem um passado a recuperar. Soji acha que Picard se refere a Data e os dois começam a conversar sobre o robô de TNG, onde Picard vai se lembrar de todas as virtudes do amigo. Essa conversa pode ser vista como um mini fan service, pois ajudou também a aliviar o clima pesado da nave e ajdou a aproximar Soji de Picard. Ela, inclusive, disse ao almirante que Data o amava, para uma certa perplexidade de Picard.

Nas conversas de Raffi com os hologramas de Rios para se descobrir a total inquietação deste último, surgiu uma coisa que incomoda demais. A questão do sistema estelar óctuplo seria impossível e ele somente ocorreria se fosse construído artificialmente. E aqui caímos na questão da ficção científica demasiadamente fantasiosa que acaba se tornando boba e pueril. Por mais avançada que uma civilização seja, soa muito estranho ela ter a capacidade de unir oito sóis e um planeta somente para chamar a atenção para a advertência. É implausível demais, mesmo para os vôos mais pirados de ficção científica, o que torna a história boba de tão espetaculosa. Outro dispositivo bem mais simples poderia ser utilizado para se chamar a atenção para essa advertência. É claro que Jornada nas Estrelas já fez uns vôos meio loucos, mas este meio que ultrapassou todas as escalas. Coisa de rede micelial para baixo. Ainda, uma civilização tão desenvolvida a ponto de juntar oito estrelas e um planeta num sistema seria destruída por robôs? A coisa não encaixa muito. Bom, na conversa que Raffi tem com os cinco hologramas de Rios (um dos melhores momentos do episódio), ela descobre que Rios teve um problema pregresso com uma moça chamada Jana e o capitão de Rios nos tempos de Frota Estelar, Alonzo Vandermeer, que teria se suicidado. Mas somente Rios sabe o real motivo.

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Uma lembrança amarga…

Picard conversa com Jurati quando esta acorda e fala que a moça deverá se entregar às autoridades na Base Estelar 12 pelo assassinato de Maddox. Ele não entende por que ela o matou e Jurati falou do encontro que ela teve com a comodoro Oh e de como sua mente foi envenenada pela comodoro, mas não consegue falar sobre isso em virtude de um bloqueio psíquico colocado nela. Jurati ainda diz que a única forma dela aliviar essa dor das visões terríveis que tem é pensando em suicídio todos os dias (mais uma pensando em suicídio, ratificando o clima pesado do episódio). O mais curioso é que, mesmo com o bloqueio imposto a mente de Jurati, ela conta toda a história para Picard: que as visões horríveis foram implantadas por uma civilização que viveu milhares de séculos atrás, que tudo foi culpa dos sintéticos e que eles devem ser detidos para que… aí Soji entra dizendo que é para que Seb-Cheneb, a destruidora (ou seja, ela mesmo, Soji) não triunfe. Jurati aproveita a oportunidade para conversar com Soji e fica maravilhada com suas características humanas (fome, sede, sono, sonho, choro, etc.), assim como as imperfeições no corpo de Soji (pintas, manchas, um dedinho torto, etc.). Jurati diz que Soji é uma obra-prima e a moça pergunta se ela é uma pessoa, deixando a Jurati sem saber o que dizer, realçando o drama existencial da andróide. Soji sabe que Jurati foi mandada por Oh para matá-la. Mas Jurati disse que, depois de conhecer Soji, que jamais a mataria. Esse diálogo foi um tanto tenso em alguns momentos, mas acabou apaziguador, outro elemento para aliviar o clima pesado da nave.

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Uma vilã que quase foi linchada…

Enquanto Jurati e Soji conversam, Raffi consegue furar o bloqueio de Rios e os dois conversam sobre Vandermeer, o capitão que Rios via como um pai. Rios e seu capitão estavam na nave Ibn Majid quando detectaram uma pequena nave com apenas dois passageiros, estabelecendo um Primeiro Contato. Os dois tripulantes eram um embaixador que respondia pela alcunha de Flor Bonita (hein???) e sua pupila, Jana (que é a cara da Soji e trouxe a história de Vandermeer à tona na memória de Rios). Pois bem. Algumas horas depois de desembarcar na Ibn Majid, Vandermeer matou os dois a sangue frio por ordem da Federação por serem sintéticos. Caso Vandermeer não fizesse isso, a Ibn Majid seria destruída. Rios criticou severamente a atitude de Vandermeer que se suicidou com um tiro de phaser na boca. Rios encobriu tudo para que a Frota não soubesse o motivo do suicídio e a Ibn Majid não sofresse alguma represália (aqui fica a dúvida: Vandermeer cumpriu as ordens da Frota e se matou. Por que a Ibn Majid seria punida pelo suicídio de Vandermeer? Ficou um pouco mal contada essa histõria). Algum tempo depois, Rios foi dispensado por disforia traumática. E agora conhecemos toda a melancolia do capitão da La Sirena. Pesadíssimo, não? Provavelmente, esse foi o episódio que mais abordou a questão do suicídio de toda a franquia.

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Conversa entre Jurati e Soji foi reconfortante para as duas…

Todos se reúnem na La Sirena para conversar e Raffi e Picard falam aos demais sobre a advertência, ao desejo de destruição de andróides pelo Zhat Vash, e a infiltração de Oh como espiã na Frota Estelar depois da construção de Data pelo Dr. Soong. O Zhat Vash provocou o ataque a Marte. Ainda, o diplomata assassinado por Vandermeer seria do planeta dos andróides onde Maddox os construía. O Zhat Vash achou esse mundo depois que Soji deu mole para Narek. Isso irritou a moça andróide que esmurrou a mesa onde conversavam. Soji sequestra a nave, colocando um campo de força na ponte e tentando acionar a nave para ir ao planeta dos andróides. Rios canta uma canção de ninar em espanhol de sua mãe que desativa o campo de força. Picard pede que Rios vá para onde Soji quer ir e senta na cadeira de capitão para tentar ativar a nave, mas não consegue pilotá-la. Mais uma cena para desvalorizar escandalosamente o protagonista da série. Rios aciona a dobra e La Sirena parte para o planeta dos andróides.

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O desejo por suicídio nesse episódio é perturbador…

No cubo borg, chegam várias naves romulanas para partir para o planeta dos sintéticos. Rizzo quase é linchada pelos xBs mas se teletransporta. As naves romulanas partem para o mundo dos sintéticos. Sete de Nove facilmente se desassimila e ela e Elnor assumem o cubo.

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Uma conversa para amarrar as pontas soltas da série…

Na La Sirena, Picard conversa com Rios sobre como superar o medo e a traição com otimismo, franqueza e curiosidade, sendo esses os passos para a construção do futuro. Essa boa conversa onde se lembra que Jornada nas Estrelas é utopia e otimismo é interrompida por Soji que diz que eles chegaram. A La Sirena sai de dobra e entra por uma espécie de portal, seguida por uma nave. Seria Narek? Fim do episódio.

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Mais um vexame desnecessário…

Quais são os pontos positivos desse episódio? Toda a parte do cubo borg, que teve algumas cenas de ação, mas que foi tomado por uma Sete de Nove que quase se assimilou e ficou com um exército de borgs à disposição. Alguns acham que a idéia dos borgs ejetados foi boa, pois depois seria complicado um cubo totalmente fora de controle nos dois últimos episódios. Eu confesso que preferia um cubo cheio de borgs como um elemento a mais nesses dois episódios finais. Outra parte boa do episódio foi o alivio cômico dos vários hologramas de Rios que, pouco a pouco, deram as pistas do passado do capitão e de sua melancolia. Aliás, esse foi o episódio que teve como função principal amarrar todas as pontas soltas para que tenhamos um bom desfecho em dois episódios. Ainda, as conversas entre Picard e Soji sobre Data,  Jurati e Soji, sobre a humanidade da última, e a conversa final entre Picard e Rios sobre esperança no futuro e otimismo, ajudaram a amenizar a coisa no ambiente pesadíssimo da La Sirena.

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Indo para o planeta dos andrõides…

E os pontos negativos? Em primeiríssimo lugar, a ficção científica barata e esdrúxula do sistema dos oito sóis. Sabemos que, às vezes Jornada nas Estrelas beira o inverossímil (viajar no tempo dando uma volta quase em dobra dez em torno do Sol, por exemplo). Mas pegar oito estrelas e juntá-las em torno de um planeta cheira a fantasia para lá de barata. Tudo tem um limite nessa vida e contar uma história nesses termos a deixa infantiloide demais. Outro problema: a forma agônica e suicida com que a tal da advertência é apresentada. Nunca um episódio de Jornada nas Estrelas evocou tanto a questão do suicídio, justamente uma série que é conhecida por ter uma visão otimista de futuro. O pessimismo doentio que vemos no ritual ocorrido neste sistema estelar artificial completamente inverossímil, competiu palmo a palmo com o pessimismo dentro da Sirena, com uma Jurati lançando mão de tendências suicidas para se livrar dos pesadelos da advertência e do trauma de Rios de ver seu querido capitão se matar na sua frente por causa do assassínio dos andróides. Dá uma vontade danada de fazer terapia.

Estamos na reta final. Dois episódios e um campo de batalha aparentemente montado. Vamos ver o que vem por aí…

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As visões malignas da advertência…

Batata Séries – Jornada Nas Estrelas Picard (Episódio 7) Nepenthe. Pausa Para Um Earl Grey.

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O maior fan service dos últimos tempos…

O sétimo episódio de “Jornada nas Estrelas Picard” intitulado “Nepenthe” foi uma espécie de “pausa para um Earl Grey” na série. Esse também é o episódio conhecido pelo encontro entre Picard, Riker e Troi, muito esperado pelo fandom mais antigo. Para que a gente possa falar do episódio, vamos precisar de spoilers.

O episódio começa com um flashback de três semanas atrás, quando revemos o encontro entre Jurati e a Comodoro Oh, com o objetivo de nos explicar por que Jurati passou a ser uma garotinha do mal. Oh mostra a Jurati, através de um elo mental, o que vai acontecer caso haja a existência de vida sintética e Jurati vê muita destruição. Jurati então recebe uma espécie de menthos (já que deve ser mastigado) que é uma espécie de rastreador e escuta de Oh que ela terá que fazer um sacrifício imenso.

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Pares de conversas: Picard e Riker…

Voltamos para a data presente. Rios e Raffi tentam se livrar do raio trator do cubo borg e Jurati fala para eles entrarem em contato com os romulanos e pedir para serem liberados, já que os romulanos querem a andróide (Soji) e destruí-la. Já no cubo borg, Rizzo interroga Hugh que se recusa a cooperar e a romulana executa vários ex-assimilados. Narek, por sua vez, pega uma nave e vai à caça de Soji. Inexplicavelmente, Rizzo solta a nave de Picard (provavelmente um truque, como disse Raffi). Jurati, arrumando um pretexto para não irem adiante, pergunta sobre Elnor, que está com Hugh no cubo (Rizzo poupou Hugh por causa do tratado dos romulanos com a Federação). Rios se comunica com Elnor e este diz que vai ficar no cubo, pois precisam dele lá. A nave entra em dobra sob o olhar de reprovação de Jurati.

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… Picard e Troi (com direito a esporro construtivo)…

Após a abertura, estamos em Nepenthe onde Picard e Soji chegam. Eles são recepcionados por Kestra, filha de Riker e Troi, e a menina logo faz amizade com Soji, que sempre está arredia com todo mundo e não confia em ninguém, o que é perfeitamente justificável. No meio da conversa, surge a suspeita de que Soji é filha de Data e ela é andróide, o que deixa a moça agitada. Picard tenta tranquilizá-la, mas precisa dizer a verdade, mencionando que Dahj, a irmã de Soji, está morta, o que deixa a andróide ainda mais confusa e desconfiada. Eles chegam à casa de Riker e Troi e ocorre o tão esperado encontro, que lembra demais o encontro entre Picard e Kirk no Nexus em “Generations”. Riker, sabendo que a presença de Picard ali não é algo normal, aciona todas as defesas da casa, como um bom “Number One”. Kestra conversa com a androide sobre Data e de como ele queria ser humano, onde fica claro que Soji é uma versão mais desenvolvida do que Data, pois tem muco. Já Picard e Troi conversam sobre Thad, o filho do casal que faleceu. Ou seja, estamos vendo que pelo menos houve uma preocupação de se dar uma vida pregressa a Troi e Riker em sua vida de casados, o que foi algo muito bom, bem ao estilo de um bom fan service mesmo. Picard diz a Troi que não vai ficar muito tempo e que, assim que definir o próximo passo de sua missão, ele vai embora, até para não colocar o casal e a filha em risco.

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…Picard e Soji (com direito a conflito)…

Na Sirenna (nave de Rios) eles percebem que são seguidos por Narek e tentam despistá-lo. Jurati começa a questionar a tripulação se eles querem mesmo ir para Nepenthe e eles a recordam da missão. Raffi relembra quando a conheceu dizendo que Jurati estava doida para ir a missão mas agora, que parecem estar cada vez mais perto de Soji ela quer se afastar. Jurati, então, dá um piti dizendo que quer voltar para casa. Ou seja, ao invés de tentar deter a missão com alguma artimanha, começa a fazer uma birra tal como uma criancinha mimada que mais desperta suspeitas do que qualquer outra coisa. Tudo bem que essa possa ser uma personagem sugestionável e emocionalmente instável, despreparada para uma pressão, mas isso poderia ter sido mais bem trabalhado aqui, onde ela seria desmascarada no futuro depois de tentar algumas sabotagens. Mas o que vemos? A “titia” Raffi a levando para, na cozinha, comer um bolo (???). Definitivamente, muito esquisito e, talvez, até mal escrito.

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… Kestra e Soji (com direito a voto de confiança)…

Em Nepenthe, Riker tenta arrancar de Picard o porque dele estar viajando por aí e o almirante, por medo de envolver o casal, não quer dizer. Mas Riker deduz tudo depois de ver a filha com Soji, que decorou um dicionário de uma língua imaginaria de 300 paginas em dois minutos e de Soji dar uma balançadinha com a cabeça (que ela até então não tinha feito na série toda). Soji e Troi conversam e trocam figurinhas, A conselheira fala dos filhos e da perda de Thad em virtude da proibição dos sintéticos, pois a doença que matou o filho poderia ter sido tratada se, na época, uma matriz positrônica específica pudesse ter sido inventada, algo que não aconteceu por causa da proibição dos sintéticos. Já Soji falou de seu relacionamento com Narek e de como foi enganada, não podendo confiar em ninguém. Picard se mete na conversa tentando convencer a andróide e o clima esquenta, com a moça saindo e dando um empurrão no almirante. Troi, então, dá um esporro em Picard, dizendo que, para Soji, é normal que ela desconfie de tudo e de todos, dada a sua vida pregressa. Picard pergunta o que fazer e Troi diz que ele precisa ser o velho Picard. Ou seja, mais uma vez Picard tomou um esporro, se bem que, dessa vez, a coisa valeu, pois Troi pediu para ele ser o Picard das antigas e não esse Picard que os novos roteiristas acham que ele deve ser (lembremos que essa é uma série escrita a várias mãos). Só incomoda a atitude um pouco intrusiva e até agressiva de Picard para com Soji, o que sai completamente do personagem, somente para justificar um esporro de Troi para cima do almirante. Foi forçado e poderia ter sido feito de jeito bem mais sutil.

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Uma vilã muito instável…

No cubo borg, Hugh e Elnor maquinam um plano para tomar o cubo, mas Rizzo aparece e diz que agora pode matar Hugh por violação do tratado e insurreição, o que acaba acontecendo depois de uma cena de ação de luta. Quero fazer um parênteses aqui. Essa morte de Hugh foi simplesmente revoltante. Depois de tudo o que vimos no episódio anterior, onde Picard e Hugh tiveram seu reencontro, Picard se livrou de seu preconceito contra os borgs ao ver o projeto de desassimilação de Hugh, depois de virmos uma mostra, em tudo isso, dos bons ideais da Federação, no episódio seguinte Hugh é morto. Parece que os escritores dessa série estão querendo esfregar na cara dos fãs mais antigos que a antiga utopia das séries está morta e agora vamos ter que engolir todas essas distopias. E se faz isso matando os personagens antigos de cunho mais idealista. Não sei se vocês perceberam, mas no espaço de dois episódios, três personagens das séries antigas foram mortos de forma violenta (Icheb, Maddox e Hugh), como se fossem algo completamente descartável, mas não o são. Todo o aprendizado de Icheb com Sete de Nove e de Hugh com a Enterprise não é algo para ser jogado fora assim de forma tão mundana. Foi muita sacanagem o que fizeram. E nem serve a desculpa de que Sete de Nove voltará no próximo episódio para comandar o cubo borg e Hugh não ser mais útil para poder matá-lo. Que os escritores encontrem uma função para ele.  O pessoal que escreve essa série tem que perceber que os fãs mais antigos é que mantêm a franquia de pé. Não sei se fãs mais novos terão disposição para fazer isso se não houver algo que ligue essas duas gerações de fãs. Se não houver esse cuidado, a franquia está condenada à morte, pois não se pode fazer uma série só para um fandom ou outro.

Na Sirenna, Raffi e Jurati conversam sobre os traumas da última quando esta vomita, ao mesmo tempo que Narek volta a rastreá-los. Rios conversa reservadamente com Jurati e ele diz a moça que desconfia que Raffi está sendo rastreada. Jurati, em desespero, sintetiza uma substância tóxica e injeta nela mesma para anular o efeito do rastreador de Oh e entra em coma. A estratégia desesperada dá certo, pois Narek perde o sinal da Sirena.  De volta a Nepenthe, Picard vai convencendo Soji a acreditar nele sobre a missão que ele tem e ela fala da visão do planeta das duas luas. Restava somente descobrir a localização dele, o que Kestra acabou fazendo no seu “celular”.

No cubo Borg, Elnor encontra um dispositivo de envio de SOS para os Rangers de Fenris que ele aciona.

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Morte de Hugh. Cada vez mais não suporto esses produtores e roteiristas…

Picard diz a Riker que finalmente a Sirenna entrou no alcance das comunicações e que estava preocupado com ela. Nesse ponto, começa uma conversa dos dois sobre a nova tripulação de Picard. O almirante diz que ela é bem “heterogênea” e que os tripulantes fazem muito drama, parecendo ter mais problemas que os membros da tripulação da Enterprise. Essa parte parece outro fan service aos mais antigos, comparando a tripulação antiga da Enterprise com a tripulação da Sirenna, muito mais mimizenta. Os dois ficam sentados à beira do lago, numa conversa bem amável e que faz bem para os fãs. Kestra diz a Soji que ela poderia ter o Picard como família. Ao se despedirem, Picard dá um beijo no rosto de Riker e Troi, algo mais marcante numa cultura anglo-saxônica do que latina, e Kestra dá de presente sua bússola quebrada a Soji, dizendo que é só fingir que funciona. Os dois são teletransportados e uma cadeia montanhosa que lembra o guardião da eternidade fecha o episódio.

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Vem com a “titia” Raffi….

Quais são os pontos positivos? Obviamente o encontro de Picard com Riker e Troi, sendo esse um episódio que pouco contribuiu para o andamento da história mas foi  um delicioso fan service. A forma acolhedora com que Riker e Troi receberam Picard teve direito a vários bons momentos, que vão das chacotas de Picard e Riker à nova tripulação do primeiro, chegando até a bronca de Troi apesar da situação forçada para isso. A vida pregressa do casal, marcada pela filha Kestra e pelo falecido filho Thad foi algo bem importante para não haver uma lacuna na vida do casal Riker-Troi. Outro ponto positivo foi o relacionamento Kestra-Soji, que ajudou a desenvolver uma confiança maior na última com relação a Picard. É interessante perceber como houve a atenção em se formar pares de interlocutores aqui: Picard-Riker, Picard-Troi, Picard-Soji, Kestra-Soji, Troi-Soji, o que ajudou muito a costurar todo o relacionamento na casa.

E os problemas? Em primeiro lugar, Jurati. Ela, ao invés de se revelar uma boa antagonista e tentar sabotar a missão de Picard, se comportou como uma garotinha mimada e foi consolada pela “titia” Raffi comendo um pedacinho de bolo. Além disso, vomitou umas três vezes no episódio. Eu não entendo tamanha necessidade de vergonha alheia por parte desses roteiristas. Pelo menos a moça teve uma atitude nobre injetando uma substância tóxica para neutralizar o rastreador, entrando em coma.

Agora, a pior coisa foi a morte completamente despropositada de Hugh, um personagem de TNG querido pelo fandom e que mostrou  todo o espírito da Federação com Picard no episódio anterior. A morte desse personagem revela a falta de cuidado e de tato com o fandom mais antigo, assim como prova que esses novos roteiristas não fizeram o dever de casa e não imergiram em todos os mais de setecentos episódios da série (sim, é uma tarefa grande mas obrigatória para quem se presta a escrever sobre Jornada nas Estrelas). São coisas como essa que põem em risco o futuro da franquia e que despertam muitas críticas.

Após esse hiato onde pouca coisa aconteceu, agora Picard vai para o planeta natal de Soji e entramos na reta final da temporada. Vamos ver o que vem por aí.

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Por mais abraços como esse na série…

Batata Séries – Jornada Nas Estrelas Picard (Episódio 6), A Caixa Impossível. Encontro de Núcleos.

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Traumas do passado…

O sexto episódio de “Jornada nas Estrelas Picard” intitulado “A Caixa Impossivel” pode ser considerado como um ponto de virada da série, pois ele finalmente marcou o encontro dos dois núcleos da série, ou seja, o de Picard e sua trupe e o do cubo borg. E foi um episódio que deu um indício de que, finalmente, as coisas estão se ajeitando e os problemas estão diminuindo, ainda que haja algo mais esquisito aqui ou ali. Para podermos falar sobre o episódio, vamos precisar de spoilers.

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Sem vontade de entrar no cubo…

O episódio começa com Soji tendo um sonho (ou seria um pesadelo?) onde ela vê o seu pai numa cozinha atrás de flores. Repentinamente, ela acorda e Narek, que está na cama com ela, pergunta o que aconteceu e ela disse que teve um sonho. Ai começa toda aquela balela de conversa desse casal extremamente chato que confia desconfiando um do outro. Soji diz que os romulanos são muito desconfiados, qual é o verdadeiro nome do Narek, que o Narek acha que ela é uma impostora, etc., etc., numa DR torturante que parece não ter fim.

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Alucinações…

Na nave de Picard, Jurati procura manter o seu disfarce e diz para o almirante que não foi possível salvar a vida de Maddox. Elnor entra na conversa e os três discutem sobre Soji, sobre ir ao cubo borg e sobre o passado de Picard como Locutus, o que abala esse último e mostra sua posição intolerante sobre os borgs. Mas a melhor coisa dessa parte é que Elnor nota que Jurati também está atormentada com algo, o que revolta a médica, ou seja, o romulano deslocado que era mais um segurança privado do Picard começa a ter alguma importância na série. No holodeck simulando a vinícola, Picard, ainda atormentado pelo passado de Locutus, faz uma pesquisa no computador sobre os borgs e acha a imagem de Hugh, tanto do passado quanto do presente, e, depois vê sua imagem de Locutus, ficando ainda mais atormentado.

Passada a abertura, vemos Rios fazendo umas embaixadinhas com uma bola de futebol (pelo menos é melhor do que fumar um charuto e tomar um goró) quando Jurati aparece. Ela se faz de coitadinha, joga uma conversa ao estilo da Tilly, ele oferece um goró (como não podia deixar de ser) e rola uma pegação entre eles. Ou seja, está parecendo que Jurati faz isso com a nítida intenção de seduzir Rios e ficar com o dono da nave nas mãos.

De volta ao cubo borg, Rizzo brinca com um cubo mágico do Narek (nada mais conveniente inclusive, brincar com um cubo mágico dentro de um cubo borg) e Narek fica todo enciumado dizendo que o cubo não é um brinquedo, mas uma ferramenta que o ajuda a pensar. Ele diz, também, que está fazendo progressos com Soji, falando do sonho recorrente da moça e se perguntando por que ela foi programada para sonhar. Narek diz que o sonho ajuda Soji a se ver como humana e a bloqueia a procurar a sua realidade como andróide, sendo o sonho uma espécie de conciliação entre sua vertente humana e mecânica que esconde dela essa última. E, através de seus sonhos, Narek pode acessá-la sem acionar a sub-rotina de autodefesa e saber onde fica seu planeta natal, que é a informação que ele e Rizzo buscam. Ou seja, uma tecnobabble para justificar o ato de Narek acessar a informação que quer sem ser detonado por Soji.

Na nave, eles estão chegando a espaço romulano e Picard, já sabendo da presença de Hugh no cubo como o diretor do Projeto de Recuperação Borg, que é independente por tratado, diz que precisa somente de uma autorização da Federação para entrar no cubo. Para conseguir a autorização, ele vai precisar da ajuda de… Raffi!!! Mas a mulher está um caco, completamente deprimida e bêbada depois do contato desastroso com o filho. Mais uma vez estão tentando esculhambar essa personagem que apresentou uma considerável melhora do penúltimo episódio para cá. É perfeitamente compreensível esse estado depressivo de Raffi, mas colocá-la bêbada com uma garrafa de goró nas mãos e fumando suas florzinhas alucinógenas (o que, inclusive, constrangeu o próprio Picard) beirou o caricato e caiu muito mal para a série e para a personagem. Se foi um alívio cômico, foi uma piada de péssimo gosto. Se foi para aumentar a dramaticidade da personagem, foi um tiro de caricatura que nem a atriz nem a personagem mereciam. Mas, pelo menos, Raffi usou de toda a sua persuasão e inteligência para conseguir a autorização para Picard, que respirou aliviado. Se isso foi um ponto para Raffi, poderia ter sido uma oportunidade para o próprio Picard, com sua lábia, diplomacia e inteligência, conseguir a autorização para si com ele mesmo negociando toda a questão. Alguns poderiam argumentar que Picard estaria com  o filme muito queimado para isso, mas Raffi também não estaria? Pois bem, a justificativa era que Raffi conhecia uns podres da membro da Federação que poderia arrumar a autorização. Mas aí, Picard também poderia saber desses podres e chantagear a membro da Federação. Mas como Picard é o único membro imaculado da Federação, talvez ficasse mal ele chantagear. Enfim… Um problema aqui é que a membro da Federação inicialmente não queria ajudar Raffi alegando que os romulanos estariam de mal humor há 250 anos. E a aliança entre a Federação e os romulanos na guerra do Dominium em DS9? Se esqueceram completamente? Ou os roteiristas de Picard não fizeram o dever de casa e não assistiram todos os mais de setecentos episódios da franquia, o que era o mínimo que tinham que ter feito? Bom, pelo menos algumas coisas ficaram legais nessa sequência: Raffi sendo aplaudida por Picard e depois ela sendo amparada por Rios até seus aposentos (dando uma oportnidade para os dois compartilharem suas dores do passado), além de vermos uma Jurati irada com o êxito de Picard conseguir acesso ao cubo borg.

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Raffi, a decadente…

No cubo borg, Soji diz a Narek que teve o mesmo sonho e que falou com a mãe, adormecendo quando fala com ela. Narek disse então que todas as comunicações do cubo são monitoradas e que todas as comunicações de Soji com a mãe duram exatamente 70 segundos, num sinal de que Narek está jogando para manipular Soji futuramente. De qualquer forma, Soji novamente se comunica com a mãe que sugere que ela vá dormir pois está muito cansada do trabalho e Soji mais uma vez cai no sono, sendo “desativada”. Quando Soji acorda, ela pega todas as suas lembranças (objetos pessoais, bichinhos de pelúcia, fotografias, etc.) e, depois de um scan, ela descobre que tudo tem uma idade aproximada de 37 meses, ou seja, mais replicante Blade Runner impossível. Quer dizer, ela descobre que é andróide. E por que não acionou sua rotina de autodefesa? Saber de algo que escondiam dela já não é motivo suficiente para ela se sentir ameaçada e acionar sua rotina de autodefesa?

A nave chega ao cubo e Picard vai sozinho para lá, apesar dos protestos de Elnor. Picard volta a ser atormentado por sua lembrança de Locutus. Ele quase cai de uma espécie de passarela, mas é amparado por dois “ex-assimilados” no último momento, quando encontra Hugh. E aí, tivemos o melhor momento da série até agora, onde Hugh, todo elegante, educado e fraternal, dá um baita de um abraço em Picard, onde finalmente vemos o almirante recebendo um tratamento à altura da lenda que é e não sendo esculhambado como havia sendo por outros personagens. Aliás, se pararmos para pensar um pouco, Hugh é o personagem mais virtuoso da série, num fim de século 24 onde as pessoas bebem, fumam, falam palavrão e se comportam num meio totalmente distópico. Hugh é a utopia e o espírito original da Federação em pessoa. Sei não, mas os fãs deveriam começar uma campanha para Hugh acumular os cargos de presidente da Federação e comandante em chefe da Frota Estelar. Quem sabe um spin-off do Hugh? Mais fofo ainda foi o Hugh falar do projeto de desassimilação, onde os ex-borgs recebem um nome novo e isso pode ser um passo para uma nova vida, tendo ele mesmo Hugh aprendido isso na Enterprise anos atrás. Esse é o fan service que queremos!!!

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Picard e Hugh, o grande momento da série até agora…

Picard fala a Hugh que está lá pela Soji e Hugh diz que suspeita que ela corre grande perigo pela aparição de Narek e de Picard atrás dela. Soji, por sua vez, conta toda a coisa dos seus objetos pessoais terem 37 meses de idade a Narek, ou seja, ela conta seu segredo mais íntimo se abrindo totalmente a uma pessoa que ela confia desconfiando. Definitivamente, é muito estranho esse relacionamento entre os dois, pois eles confiam desconfiando o tempo todo mas Soji entrega o ouro da forma mais inocente possível. Narek a manipula e diz que alguém pode estar implantando memórias falsas nela para que ela realize, de forma manipulada, uma missão sem saber. E Narek oferece ajuda para descobrir o que está acontecendo, atraindo Soji para a sua armadilha, que é uma espécie de meditação ou macumba romulana mesmo.

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Não vamos nos esquecer desse abraço por muito tempo…

Hugh mostra a Picard o projeto de desassimilação e o almirante fica impressionado com a escala do projeto, passando a ver os borgs de outra forma, acabando com seu preconceito e amenizando seu trauma. Hugh, por sua vez, acha que o projeto não é perfeito e que os ex-borgs continuam escravos, só que agora dos romulanos, e de como seria o máximo ver Picard lutando pela liberdade desses ex-borgs. Dessa parte, só tenho duas perguntas: seria isso um gancho para uma segunda temporada? E onde tem action figure do Hugh para vender? O único medo aqui é que haja um plot twist incomensurável e o Hugh se revele um verdadeiro traíra. Mas vou torcer muito para que isso não aconteça.

Narek e Soji vão para uma sala que mais parece um jogo de gamão gigante. Ele diz seu nome verdadeiro a ela para conquistar sua confiança e eles começam o ritual romulano doido. Soji começa a se lembrar do seu sonho com uns flashes que mais parecem extraídos de “O Chamado”, dando um quê de filme de terror a uma série de que diz de ficção científica. Numa outra sala, Rizzo rastreia os sinais vitais de Soji e escuta a conversa entre os dois. Já Picard e Hugh entram nos aposentos de Soji  e o encontram todo revirado. Picard suspeita que Soji esteja descobrindo quem realmente é e pede a Hugh que a localize no cubo borg, mas ele não a acha. Os dois suspeitam que ela está sendo escondida dentro do cubo.

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O fim de um casal chatérrimo???

Quando Soji entra no laboratório do pai e avança, ela se vê em pedaços em cima de uma mesa e, ao olhar para a clarabóia (sempre sob as ordens de Narek), vê raios com dois planetas vermelhos pairando no firmamento. Rizzo, entendendo que essa é a localização do planeta dos sintéticos, vai procurar mais detalhadamente. Narek diz a uma Soji confusa que ela não é real e a abandona com um beijo e lágrimas nos olhos (que triste!) não sem antes acionar seu cubo mágico que se abre e libera uma radiação letal. Trancada, Soji tem finalmente a sua rotina de autodefesa acionada (acho que ela não foi acionada antes, pois ela foi monga o suficiente para não perceber o que estava acontecendo) e destrói o chão de madeira para escapar. A melhor coisa que restou dessa sequência foi o fim desse malfadado relacionamento que, além de chatíssimo, era muito estranho com um casal cheio de dúvidas um com relação ao outro, mas trocando uma confiança que podia ser considerada muito infantil, dadas as circunstâncias.

Quando Soji caiu pelo buraco que ela abriu no chão, a moça apareceu no rastreador de Hugh e Picard percebeu, pela velocidade dela nos sensores, que ela tinha sido ativada. Os dois saem correndo atrás da moça, não sem um alivio cômico: Picard e Hugh passam por um ex-borg que pergunta ao almirante se ele é Locutus. Eles encontram Soji destruindo o teto de um deck. Picard conta a Soji a história de sua irmã e implora que a siga para salvá-la. Soji, sem opção, o acompanha, já que ela está sendo perseguida por um monte de romulanos a ordem de Narek. Hugh os leva para os aposentos da rainha borg, onde há um portal de fuga para a rainha que lembra muito o guardião da eternidade, pois ele pode transportá-los para um outro lugar com alcance de 40 mil anos-luz. Picard entra em contato com a nave e marca um ponto de encontro em Nepenthe (espero que Nepenthe não esteja a 40 mil anos-luz, pois a Vovager demoraria 70 anos para viajar 70 mil anos-luz no espaço; será que os roteiristas de Picard também não sabem disso? Acho que não). Mas Elnor não está mais na nave e aparece nos aposentos da rainha trucidando os três romulanos que já rendiam Picard, Hugh e Soji. Picard e Soji atravessam o portal e Hugh Elnor ficam para defendê-los, apesar dos protestos de Picard na permanência de Elnor. O episódio termina com romulanos cercando os dois e Elnor pedindo que estes “escolham viver”. Esse fim de episódio foi regado a muita ação com pouquíssimas lutas coreografadas (somente Elnor que matou uns três romulanos ali), sendo uma sequência de ação mais aceitável, baseada na tensão da fuga dos personagens.

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Encarando o passado…

Analisado o episódio, podemos fazer um levantamento dos pontos positivos. O encontro dos dois núcleos paralelos (o de Picard e o de Soji), que vai dar uma nova cara à série a partir de diante (ou, pelo menos, é o que eu espero). O reencontro de Hugh com Picard, que foi a melhor coisa da série até agora. A sequência de ação mais baseada no suspense da fuga do que em lutinhas bobas. O poder de persuasão de Raffi ao conseguir as credenciais para Picard. A cara torcida de Jurati ao ver que Elnor conseguia perceber o que a moça sentia e quando Picard consegue autorização para entrar no cubo. Os traumas de Picard com o passado de Locutus e sua redenção ao ver o programa de ex-assimilação dirigido por Hugh. A tentativa bem sucedida de sedução de Jurati para cima de Rios. E os pontos negativos? A forma caricata da depressão de Raffi com direito a garrafa de goró e cigarrinho eletrônico com florzinhas alucinógenas. Toda a parte de Soji com Narek, num relacionamento chato e sem pé nem cabeça em virtude do ato de confiar desconfiando. Ou seja, foi um episódio, a meu ver, com mais pontos positivos do que negativos. Esperemos agora que os quatro episódios finais dessa serie sejam mais instigantes e sem problemas do que este. Mas creio que houve uma melhora deste episódio com relação aos últimos.

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Despedaçada…

Batata Séries – Jornada nas Estrelas Picard (Episódio 5), Encrencas Em Stardust City. É Carnaval!!!

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Picard e seu disfarce cafona…

O quinto episódio de “Jornada nas Estrelas Picard” intitulado “Encrencas em Stardust City” é daqueles que vemos dois gêneros coexistindo. Há um momento breve que flerta com a galhofa, mas, ao mesmo tempo e na maior parte do episódio, a coisa foi bem soturna e novamente com um excesso de violência que, desta vez, até teve alguma justificativa, embora esse nunca seja o melhor caminho, ainda mais quando se trata da franquia “Jornada nas Estrelas”. Para podermos analisar o episódio, vamos necessitar de spoilers aqui.

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Rios e seu disfarce cafona…

O episódio começa com mais um flashback num planeta chamado Vergessen (essa palavra curiosamente é o verbo esquecer em alemão). Numa espécie de laboratório chamado Sete Domos, um tripulante da Federação tem seus implantes cibernéticos arrancados a sangue frio, numa tortura violenta. Dá para perceber que esse tripulante é um ex-borg assimilado. De repente, Sete de Nove aparece e executa os médicos que extraem os implantes do tripulante. Escutando a conversa dos dois, atestamos que esse tripulante é, nada mais, nada menos que Icheb (interpretado por outro ator diferente do da série Voyager) e este pede que Sete tire a sua vida em virtude do grande sofrimento. Sete, sofrendo muito, o mata com um tiro de phaser. Ou seja, um dos personagens secundários mais queridos de Voyager, foi eliminado em Picard, o que é algo revoltante, a meu ver. Esse personagem poderia ter sido bem mais aproveitado aqui nessa série, ainda mais por causa da presença de Sete de Nove. E, reza a lenda, o ator original de Icheb, o na época adolescente Manu Intiraymi, ao atuar juntamente com Jeri Ryan em Voyager, ficava altamente, digamos, estimulado ao ver a atriz naquele macacão justíssimo, e no intervalo das gravações, ele precisava, digamos, se aliviar um pouco. Assim, Icheb é o cara é um porta-voz dos desejos de toda uma geração de trekkers enlouquecidos por Sete de Nove e não merecia morrer daquele jeito. Lamentável.

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Sete de Nove, a badass!!!

O filme corta de um flashback de treze anos para um flashback de duas semanas, agora em Freecloud, em Stardust City, no Sistema Alphadoradus, numa espécie de night club. Bruce Maddox está lá (também interpretado por outro ator) conversando com  uma mulher chamada Bjayzl, que é a que extrai os implantes cibernéticos dos borgs para vender e que é a cara da conselheira Troi. Maddox diz que seu laboratório foi destruído, totalmente dissolvido e ele não terá como pagar o empréstimo que pegou com Bjayzl. Maddox ainda diz que acha que foi o Tal Shiar que destruiu seu laboratório. Logo após, caiu sedado pela bebida dada por Bjayzl.

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Sede de vingança…

Após a abertura do episódio, estamos no holodeck de Picard que reproduz a vinícola e ele recebe Sete de Nove no seu escritório. Ele lhe oferece algo para beber e a moça pede uísque (mais uma vez o álcool aparecendo como coadjuvante na série, parecia o Sr. Scott). A conversa entre os dois é tensa, pois Picard é contra os procedimentos justiceiros dos Rangers de Fenris dos quais Sete faz parte, mas ela diz que ela ajuda quem não tem mais qualquer tipo de ajuda. Foi uma conversa tensa, mas muito respeitosa a meu ver, e com argumentos puramente racionais. Tanto que Sete se dispõe a saber mais de quem Picard procura para salvar da morte, já que essa pessoa (Soji) também não tem mais quem a ajude. E, claro, dentro do espírito da série, Sete pediu mais uma dose de uísque para virar de uma vez de novo.

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Blade Runner 2049???

Na ponte, Raffi vê a ficha de um tal Gabriel Hwang. Vamos ver mais a frente que se trata de seu filho. Rios chega e os dois começam a conversar sobre Sete, de quem sabem pouco. O mais estranho é que Rios diz que o pouco que sabe de Picard (que ele já foi borg) ele esqueceu, como se fosse um bloqueio. Muito estranha essa parte. Bloquear o que já se sabe de uma pessoa? Uma prova de que há problemas no roteiro.

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Raffi prova um gosto amargo do próprio veneno…

Enquanto isso, Jurati vê vídeos dela com Maddo e descobrimos que os dois já foram amantes.

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Sete de Nove, frente a frente com a algoz de Icheb…

Ao chegarem a Freecloud, os tripulantes recebem vários avatares holográficos oferecendo serviços e, para desativá-los, você precisa acertá-los com um soco ou tapa, sendo o momento engraçadinho da coisa (um pouco desnecessário, talvez). Raffi localiza Maddox e vê que ele está envolvido e encrencado com o submundo. Quando surge o nome de Bjayzl, Sete de Nove fala que ela esquarteja ex-borgs para pegar as peças e que é procurada pelos Rangers há anos. Bjayzl vai vender Maddox para a Tal Shiar e ela é protegida por um grupo poderoso de capangas. Sete se propõe a ser entregue como isca a ser negociada para Bjayzl, já que esta deseja muito a ex-borg para lhe arrancar as peças.  

Chegando a Freecloud (que mais parece o cenário de Blade Runner 2049), vemos um Rios todo fantasiado bem ao estilo do carnaval que temos passado recentemente. Isso é idéia de Raffi, que diz que intermediários se vestem de forma extravagante em Freecloud. Apesar desse pequeno contratempo (Picard irá disfarçado com um tapa olho e foi um alívio cômico tão ruim e surreal que acabou ficando bom), Raffi fez um bom plano e estava mais estável emocionalmente que nos outros episódios, sendo a sua melhor aparição na série. Mas ela vai abandonar a tripulação para procurar o seu filho em Freecloud. O grande problema é que o pimpolho puxou bem a mãe e ficou cheio de mimimi porque ela abandonou a família na época do conflito dos sintéticos em Marte. Ele não acreditou na história de conspiração como a mãe acreditou e acabou sendo implacável com ela, praticamente chutando-a de sua vida. Isso vei fazer com que Raffi, ao final do episódio, volte para a nave e se isole num aposento, não querendo falar com ninguém, mas sendo bem recebida por Picard. Confesso que fiquei com pena da personagem, que sofre esse forte baque justamente num momento em que ela estava bem mais compreensiva com Picard e até ajudou a arquitetar o plano de resgate de Maddox.

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Maddox. Feito de gato e sapato até o destino trágico…

No night club, Sete é oferecida por Picard a Bjayzl em troca de Maddox. Quando Bjayzl vê Sete, Bjayzl manda seus capangas apontarem as armas, rendendo a todos e as duas começam a conversar sobre o passado. Sete já havia sido aprisionada por Bjayzl e agora procurava vingança. Num rápido movimento, Sete rende Bjayzl instantaneamente. Bjayzl manda que seus capangas abaixem as armas, pois a mão de Sete está sobre sua garganta e Picard percebe que foi usado por Sete para arquitetar um plano de vingança contra Bjayzl. Os mais críticos podem até dizer que Picard foi feito de bobo na história, mas, pelo menos, ele mostrou indignação em sua fala ao perguntar a Sete o que estava acontecendo. De qualquer forma, a cena ficou legal na versão badass de Sete. Sete conta a Picard a história de Icheb e este diz que a vingança e o assassinato não trazem alívio. Rios lembra que se Sete matar Bjayzl, Picard será perseguido por todos. Sete desiste de mater Bjayzl e volta para a nave com Picard e os outros. Sete diz que vai embora para os Rangers mas deixa uma espécie de comunicador com ele. Ela também pede dois phasers para Picard, no que é prontamente atendida. Aí começa a conversa de ex-assimilados. Sete pergunta a Picard se ele, depois que foi resgatado da coletividade, conseguiu recuperar sua humanidade. Picard responde que sim. Então, Sete pergunta e ele conseguiu recuperar toda a sua humanidade, ao que Picard retruca que não. E aí, Picard pergunta: “Mas nós estamos cuidando disso, não?”, e Sete retruca dizendo “Todo Santo Dia”. Essa foi a melhor parte do episódio e, talvez, uma das melhores da série, onde a gente viu Jornadas nas Estrelas à antiga acontecendo. Só é de se lamentar que, imediatamente depois, Sete se teletransporta para o Night Club para vaporizar Bjayzl e tacar fogo geral na galera, bem ao estilo badass. Não foi a melhor coisa, pois ela quebrou toda a palavra com Picard, mas ainda assim a gente entende os atos de Sete por Icheb. É aquela coisa dita por Spock em “Um Gosto de Armageddon”: “Eu entendo sua posição, mas não concordo com ela”. De qualquer forma, foi curiosa a conversa de Bjayzl com Sete antes da segunda vaporizar a primeira. Bjayzl disse que Sete foi sentimental, pois ela arriscou sua vingança para salvar a vida de Picard e dos outros. Sete retruca dizendo que Picard ainda tem esperança na misericórdia da galáxia e que pessoas com esperança devem ser mantidas. O mais interessante aqui é que, depois de matar Bjayzl, Sete passa fogo nos capangas dela mas não a vemos ser alvejada ou morta. E já sabemos, pelo IMDB, que ela volta em mais dois episódios. Isso aê!!!!

Na enfermaria, Picard e Maddox conversam e o primeiro fala da morte de Dahj. Maddox diz que o Tal Shiar destruiu seu laboratório e que a inteligência artificial materna só se manifestou em Dahj quando ela entrou em perigo. Bruce então conta a Picard sobre Soji e sua presença no cubo, sob os ouvidos atentos de Jurati. Maddox diz que mandou Dahj à Terra e Soji ao cubo para buscar a verdade sobre a proibição dos sintéticos e disse que quem está proibindo são os mesmos que caçam as irmãs. Para Maddox, romulanos e a Federação estão envolvidos nisso e ele mandou as gêmeas investigarem. Jurati interrompe a conversa alegando que Maddox não está bem e Picard abandona a enfermaria. Jurati, confirmando as suspeitas dos episódios anteriores, mata Maddox. Antes disso, o holograma médico de emergência vê Jurati matando Maddox. Ela o desativa. A conversa entre Maddox e Jurati antes da morte do primeiro também é interessante, pois ele disse que conseguiu fazer andróides “perfeitamente imperfeitas” com a ajuda de Jurati e Soong. Jurati retruca dizendo que isso é um pecado que ela tem que desfazer e, enquanto mata Maddox, ela diz que não queria ter visto o que viu e saber o que sabia. Ou seja, para matar o ex-amante isso tem que ser algo bem sério, provavelmente o que foi dito pela comodoro Oh a ela alguns episódios atrás. Que não seja um motivo como o que foi para Raffi apontar a arma para Picard.

Impressões gerais do episódio: o leve alívio cômico carnavalesco foi rápido o suficiente para dar voz a um episódio mais sombrio e violento. Pontos positivos ficam para a aparição de Sete de Nove no episódio e a conversa com Picard inicialmente tensa mas que depois revelou mais um espírito de Jornada nas Estrelas no papo de ex-assimilados. Raffi mais equilibrada e organizando planos foi também algo de bom. Fiquei com pena dela ser escorraçada pelo filho. Jurati mostrar que é do mal também foi algo interessante, embora previsível (ela já se mostrava uma songa-monga em episódios anteriores e até nesse, ao fingir não saber acionar o teletransporte). Pontos negativos do episódio: Sete se vingar mesmo depois de toda aquela conversa sobre humanidade com o Picard. Apesar de vingar o Icheb, que não deva ser morto, esse não foi o melhor caminho. A vingança só valerá aqui se depois Sete tomar alguma lição com isso e se tornar mais humana. Será que esses roteiristas e produtores conseguem chegar a tamanha nobreza? Acho difícil. Outro problema foi a violência explícita do episódio, algo que não estamos muito acostumados a ver em Jornada nas Estrelas, por mais distópica que ela esteja ficando.

Resta, agora, ver o que vem por aí…

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A imperdoável morte de Icheb…

Batata Séries – Jornada Nas Estrelas Picard (Episódio 4), Franqueza Total. Todo Mundo Odeia O Picard, Menos As Beatas.

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Picard e seu chapéu Panamá…

O quarto episódio de “Jornada nas Estrelas Picard” intitulado “Franqueza Total”, repetiu mais ou menos o que vimos no episódio anterior: um plot mais fraco e outro mais razoável desenvolvidos simultaneamente, onde mais elementos são introduzidos paulatinamente. Para podermos falar desse episódio, vamos precisar lançar mão dos spoilers.

O episódio começa no planeta Vashti, no quadrante Beta, quatorze anos antes dos acontecimentos atuais da série, ou seja, mais um flashback. Picard, de chapéu Panamá e tudo, chega a um centro de transferência romulano, prometendo que a Federação fará o reassentamento. Picard é amigo de um grupo religioso de romulanas, o Qowat Milat, que cria um pequeno menino, Elnor, a quem Picard tem certa afeição filial. O clima entre Picard, as religiosas e Elnor é o melhor possível, o que nos traz um certo alívio, pois temos visto Picard ser esculachado por muitas pessoas ao longo dos episódios. Parece até uma série no estilo “Todo Mundo Odeia o Picard”. Mas não vemos isso no “mosteiro” romulano. Esse grupo religioso também é interessante no sentido de que vemos uma diversidade na cultura romulana, que sempre foi muito carregada de uma visão belicista, desconfiada e ardilosa. Se vimos a construção da cultura klingon mais trabalhada em TNG, parece que em “Picard” isso se dará com os romulanos. Mas Picard, que lê “Os Três Mosqueteiros” para Elnor e brinca de espada com ele, precisa retornar em virtude do ataque dos “sintéticos” a Marte.

Após a abertura, o episódio começa com uma conversa filosófica entre Jurati e Rios sobre a definição de espaço e sobre o livro que ele lê que fala do drama existencial ao termos consciência da finitude de nossa morte. Foi um momento meio arriscado, pois ele quase caiu naquelas falas meio loucas de Tilly em Discovery. Ainda bem que não chegou a tanto. O Chabon se segurou. Raffi, tresloucada como ela só, reclama que a nave desviou o curso e Rios explicou que Picard mandou desviar o curso para Vashti e a senhora bipolar reclama mais uma vez dizendo que Picard precisa de uma nave para lidar com o próprio remorso, mais uma vez esculhambando o protagonista. Picard, por sua vez está num programa de holograma de hospitalidade (um nome mais pomposo para o holodeck), conversando com um dos hologramas de Rios que reproduziu o vinhedo com bastante acurácia. A conversa calma é interrompida por Raffi, que reclama do desvio do curso (ao que Picard faz uma expressão impaciente) e Rios, que reclama dos hologramas de hospitalidade lançando mais um palavrão no fim do século 24. Aqui houve um fan service, pois quando bateram à porta do holograma de hospitalidade, Picard soltou o seu “Come!” característico, embora ele tenha falado um pouco mais alto que o esperado (na verdade, ele praticamente berrou).

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Promessas para os romulanos…

Numa reunião com Jurati, Raffi e Rios, Picard explica o motivo de ir a Vashti. Ele quer entrar em contato novamente com o Qowat Milat, pois as religiosas ajudaram muito na evacuação dos romulanos e elas são guerreiras temidas pelo Tal Shiar. Ele precisa da ajuda delas nessa nova missão, e elas o ajudarão se acharem pertinente, pois elas são adeptas da chamada “Franqueza Total” onde se manifestam, sem rodeios, sobre o que pensam de uma determinada coisa. Raffi ainda tenta convencê-lo a ir para Freecloud, mas Picard diz que pode ser a última vez que ele vá a Vashti. Como Raffi estava num modo mais calmo dessa vez, ela se calou e simplesmente fechou os olhos, se compadecendo do amigo. Outra informação importante dada por Rios é que Vashti fica numa região controlada por grupos criminosos que outro grupo, os Rangers de Fenris, não conseguiram controlar.

Ao chegarem a Vashti, eles encontram um sistema de defesa praticamente impenetrável e não recebem autorização para descer, mesmo quando o nome de Picard foi citado. Logo depois, vemos Picard sendo teletransportado para a superfície do planeta, depois de Rios ter sugerido que “o uso do dinheiro é sempre apropriado”. Ou seja, molharam a mão da guarda da superfície do planeta para deixarem Picard entrar. Ou foi isso que ficou implícito. Todos na superfície do planeta ignoram Picard sistematicamente, menos as religiosas do Qowat Milat.

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Elnor, o decapitador…

No cubo Borg, Soji vê antigas gravações de Ramdha falando de uma espécie de Dia da Destruição final para a cultura romulana, onde o destruidor, Seb-Cheneb levaria isso a cabo. Numa conversa entre Soji e Narek fica claro que os dois têm coisas a esconder um do outro, o que torna o clima tenso entre os dois. Narek acha que Soji mente com relação a alguns aspectos de seu passado e a chama de mentirosa, além de atiçá-la com o seu acesso a informações confidenciais do banco de dados borg que ela quer sobre a nave onde Ramdha estava quando foi assimilada. Foi um plotzinho um pouco enjoado esse, com direito a ficarem escorregando idilicamente pelos corredores do cubo borg.

De volta ao núcleo de Picard, Raffi e Rios descobrem que Picard foi reconhecido e uma ave de rapina romulana antiga de Kar Kantar, o criminoso local, está a caminho. Picard disse que precisa de mais tempo na superfície do planeta. Elnor está chateado com o tratamento frio de Picard e a religiosa pede que Picard veja Elnor com mais cuidado, pois ele precisa de um lugar para se fixar, pois o Qowat Milat é uma ordem feminina e a vida do moço pode estar em perigo se ele continuar sem eira nem beira. Ainda, Picard pede ajuda a religiosa dizendo que luta sozinho contra o Tal Shiar.

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Picard e as religiosas romulanas. Muita harmonia…

Picard explica a natureza de sua missão a Elnor e pede sua ajuda, já que ele é um excelente guerreiro e espadachim e Elnor fica revoltado, pois Picard só o procurou quando precisava dele. Elnor ainda chamou Picard de velho e lhe deu as costas. Ou seja, mais um na série a esculachar Picard. Pelo menos, já está começando a parecer que Picard, pelas suas entonações de voz, está perdendo a paciência com esse tipo de tratamento. Picard diz que vai voltar a nave e precisa esperar a abertura da defesa do planeta em sete minutos. Enquanto isso, ele anda pela vila e recebe novamente olhares hostis. Ele para em frente a uma birosca com placa “somente romulanos” e a arranca, além de entrar na birosca. Parece que ele se cansou de todas as esculhambações que sofreu na série até agora, pirou na batatinha e ficou disposto a arrumar confusão. Confesso que gostei disso, pois a postura dele contra os que os hostilizavam na série tem sido submissa demais para o meu gosto. Um homem, se dizendo ex-senador romulano, reclamou das promessas vazias de evacuação que Picard tinha oferecido e da sua desistência de resgatá-los, desafiando-o para um duelo de espadas. Picard joga a espada no chão e se recusa a fazer o duelo. Elnor aparece do nada e pede para o ex-senador escolher viver. O ex-senador parte para cima de Picard e Elnor o decapita. Mais um exagero aqui. Decapitações em Jornada nas Estrelas? Ah, sim, já vimos em “Discovery”. Mas isso ficou uma violência demasiado gratuita. Seria muito mais interessante Elnor render o ex-senador, colocar a espada em seu pescoço prestes a cortá-lo e Picard dar um berro, detendo a decapitação no último instante, mostrando a toda a vila romulana que Picard se importava com a vida dos romulanos ali. Ao invés disso, Elnor diz publicamente que está ao lado de Picard e quem tentar fazer alguma coisa com o almirante vai morrer. Picard tenta remendar o estrago se desculpando com a comunidade dizendo que falhou com eles no plano de resgate. Ou seja, o filme do Picard só ficou mais queimado ainda, quando era a chance dele se redimir com aquela comunidade. Um romulano ainda iria tentar alvejá-los com uma arma, mas eles se teletransportaram antes disso. Na nave, Picard finalmente age como um capitão e dá um baita de um esporro em Elnor, dizendo que ele não devia ter matado o senador e que, se Elnor quer ficar sob a liderança de Picard, só usará seus dotes guerreiros com ordem de Picard. Estava demorando que nosso capitão tomasse uma atitude mais enérgica nessa série. Até porque, pior do que vários personagens esculhambarem o Picard ao longo desses quatro episódios, é a gente sentir que os roteiristas faziam a mesma coisa, pois Picard tinha atitudes complacentes demais com as hostilidades que estava recebendo. Neste quarto episódio, finalmente Picard chuta o pau da barraca, apesar de ainda mostrar uma fraqueza aqui ou ali. O mais curioso é que Elnor só se alia a Picard em virtude de ser da tradição se aliar a causas perdidas, enfatizando o caráter suicida da missão.

No cubo borg, Rizzo provoca Narek, dizendo que Soji pode estar manipulando-o e Narek diz que tem que ir devagar com Soji, pois pode ativá-la como aconteceu com Dahj na Terra e ela pode ser destruída. Mas Soji, antes de ser destruída, precisa revelar a Narek onde estão os “outros”. Rizzo estrangula Narek e o relembra que Soji é a Seb- Cheneb, a destruidora. Soltando o pescoço de Narek, Rizzo dá mais uma semana de prazo para ele descobrir onde estão os outros. Caso contrário, a violência será usada para descobrir.

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Ô casalzinho chato!!!

Voltando a Vashti, a ave de rapina chegou e estava atacando a nave de Rios, que acionou um holograma para ajudá-lo no combate e que falava espanhol. Foi show! Uma pequena nave aparece para ajudar Picard e eles conseguem imobilizar a ave de rapina romulana. A pequena nave está prestes a explodir e Picard dá a ordem de teletransportar o piloto para a ponte. E, eis que aparece Sete de Nove, ferida e prestes a desmaiar. Mas, claro, ela tem que dar antes um esporro no Picard, dizendo que este a deve uma nave. Fim do episódio.

Que podemos dizer de positivo nesse episódio? As religiosas guerreiras do Qowat Milat foram bem apresentadas, melhor que o infame Zhat Vash. Elas, pelo menos, não ficam dando esporro no Picard. Falando nisso, nosso almirante parece que finalmente perdeu a paciência com as hostilidades e está reagindo à altura, embora o pedido de desculpas na comunidade romulana pareça ter sido demasiadamente humilhante. Não que ele não devesse pedir desculpas, mas as coisas ficaram, dentro do contexto apresentado, exageradas e Picard pareceu muito submisso. A batalha final de naves deu alguma ação à coisa, sem se precisar de cenas de karatê e kung fu. E, claro, Sete de Nove está de volta, o melhor de tudo. Esperemos que não esculachem nossa borg mais amada. A conversa entre Rizzo (uma boa personagem vilã) e Narek ficou bem legal, até porque ela torceu um pouco o pescoço do chato do irmãozinho em tom bem ameaçador, lançando todo o seu ódio contra a “seb-cheneb” Soji, que tem também seus planos. Ainda, Narek levantou a questão de que existem outros sintéticos e Soji pode ser ativada como a irmã. Foram mais elementos novos no quebra-cabeça do filme.

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Xiii… vem ave de rapina antiga aí!!!

E os problemas? O bate papo entre Soji e Narek ficou um tanto entorpecente e chato, com aqueles escorregões idílicos pelo corredor do cubo borg, antes de surgir uma primeira situação tensa entre Narek e Soji, o que, por sua vez, foi algo interessante. O problema é que, toda semana o episódio apresenta elementos novos, na base do conta-gotas, e assim a trama parece não engatar. Lembrando que já estamos chegando na metade da temporada. Ainda, as violentas hostilidades a Picard, até pela forma em que a história foi construída, incomodam um pouco. Elas poderiam ter sido mais relativizadas. Alguém naquela vila, além das religiosas e de Elnor poderia ter dado ouvidos a Picard no seu pedido de desculpas. O pior é que ele tem tido uma postura muito complacente com essas hostilidades. Pelo menos, parece que nesse episódio ele finalmente está reagindo a isso, como já foi dito acima.

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Ela chegou!!!! Dando esporro no Picard…

Resta, agora, esperar o próximo episódio e ver como Sete de Nove entra em tudo isso. Lembrando que a produção do quarto, quinto e sexto episódios está a cargo de Alex Kurtzman, o que sempre é de se deixar os cabelos em pé.