Vamos hoje fazer aqui um pequeno retorno a segunda metade da década de 1980, quando a extinta TV Manchete se especializou em exibir seriados japoneses. Todos os que vivenciaram esse período estão lembrados de séries como Changeman, Jaspion, Jiban, Flashman, etc., etc. Até a Globo se rendeu ao “espírito da época”, exibindo séries como Maskman. Mas teve uma série que talvez tenha feito mais sucesso que as outras. Uma série que tinha elementos diferentes da regra geral dos seriados japoneses. Estamos falando aqui de “Jiraiya, O Incrível Ninja”.
Quais são os motivos de tanto sucesso de Jiraiya? Em primeiro lugar, era uma série muito vinculada à cultura japonesa, algo que não acontecia com as outras. A febre da arte ninja no Brasil havia ganhado muita força com a série americana “O Mestre”, estrelada pelo Hollywoodiano Lee Van Cleef, na Globo durante uma das férias de verão da década de 1980. Assim, uma série japonesa sobre os ninjas soaria como um grande must. Em segundo lugar, reza a lenda que, dentre os heróis nipônicos da época, Jiraiya era o único que não tinha superpoderes.
Toda a sua força vinha de seu rigoroso treinamento para ser ninja, comandado por seu pai adotivo, Tetsuzan Yamashi. Toha Yamashi (nosso Jiraiya) inicialmente reclamava muito da severidade do pai, e da forma complacente como ele tratava seus filhos biológicos, Key e Manabu. Aliás, Toha era tratado como uma espécie de empregado doméstico, sendo obrigado a fazer a comida, lavar e passar a roupa para o pai e para os irmãos. Para piorar a situação, eles não tinham um poder aquisitivo muito alto, sendo obrigados a manter a sua academia ninja num enorme condomínio, recebendo até reclamações da síndica. Toha, inclusive, vivia numa tremenda pindaíba financeira, sendo obrigado a fazer mil bicos e até a fazer aulas de aeróbica na academia, para desespero de Tetsuzan.
Essas características da série não existiam em nenhuma outra da época e muitas pessoas devem ter se identificado com essas situações cotidianas como fazer as tarefas domésticas e estar com a grana curta. Um grande barato que havia também em Jiraiya era que a série era centrada em torno de uma família. Então, se Toha se sentia discriminado pelo pai e pelos irmãos, vemos, com o desenrolar dos episódios, que o duro tratamento pela família ao nosso herói tinha o propósito de torná-lo mais forte contra seus inimigos e que, bem lá no fundo, todos o amavam profundamente. A relação entre Toha e sua irmã Key é bem tocante. Há um episódio em que Key ajuda uma menininha de um estrato social mais alto a escapar de umas “pit-girls” que faziam “bullying” contra a pobre mocinha. Key foi lá e, como boa ninja, meteu o braço em todo o mundo. A menina então, que não tinha amigas, convidou Key para ir à sua casa. Toha fica sabendo disso e passa a seguir Key pelas ruas, até que a flagra em frente a uma loja onde havia um lindo vestido na vitrine. Quando a irmã vai embora, Toha vai a vitrine e vê o alto preço do vestido. Nosso herói então começa a fazer mil contas e bicos para juntar o dinheiro para comprar o vestido e o deixa em cima da cama de Key, que fica muito emocionada com o esforço do irmão. Devemos nos lembrar que isso acontecia numa série de TV dedicada ao público infanto-juvenil, enquanto que as outras séries eram, em sua maioria, de grupos de adolescentes que lutavam contra monstros de outros planetas. Também havia nelas uma ou outra demonstração de afetuosidade. Mas em “Jiraiya” essas demonstrações ocorriam de forma diferente, eram bem mais intensas.
Como o assunto é muito vasto, falaremos mais de “Jiraiya” no próximo artigo. Até lá!!! Por agora, veja a abertura de Jiraiya tal como ela passava na Manchete lá na década de 80…