Dando sequência às nossas análises de episódios de Jornada nas Estrelas, vamos hoje revisitar Voyager no quinto episódio da primeira temporada, intitulado “Nuvem”
Qual é o plot? Janeway sente, com o passar do tempo, e pelas circunstâncias de se estar muito longe de casa, que terá que ver a tripulação com outros olhos, tal como ela se fosse uma família. Mas, pelo seu temperamento, ela tem dificuldades de se aproximar da tripulação. Uma nebulosa com partículas ômicron aparece adiante e essas partículas serão úteis na produção de antimatéria para a nave, gerando mais energia. Será aqui que Janeway dirá a famosa frase; “Há café nessa nebulosa”.
Janeway se vira para Chakotay e pergunta sobre o moral da tripulação. Ele diz que as pessoas estão passando por uma espécie de luto, mas que vão melhorar. Chakotay também diz que alguns membros da tripulação seguem uma tradição indígena americana onde eles têm um animal que os escolhe e os segue, orientando-os. Chakotay não pode falar qual é o seu animal, que é uma fêmea, para não ofendê-la, mas ela o orienta muito bem. Chakotay convida a capitã a orientá-la a entrar em contato com o seu guia.
A nebulosa não parece apresentar qualquer problema e eles traçam um curso para um depósito de partículas ômicron. Mas a nave é parada por uma barreira de energia. Janeway ordena que a nave vá contra a barreira de energia e consegue atravessá-la. Do outro lado, há uns pedaços de matéria azulada que grudam no casco e tiram a energia da nave. Janeway ordena que a nave volte pela barreira, mas agora ela só foi perfurada com um torpedo fotônico. A nave consegue atravessar a barreira, mas a Voyager, ao invés de ganhar energia, perdeu onze por cento dela.
Kim está dormindo quando Paris o acorda e o leva ao holodeck, que simula um bar em Marselha que Paris freqüentava quando estava na Academia da Frota Estelar.
B’Elanna analisa a matéria azulada e vai fazer uma consulta ao Doutor. Depois, vai ao escritório da capitã, que está procurando o seu animal-guia com Chakotay (sugestivamente é uma lagartixa, ainda mais se nos lembrarmos do episódio “Threshold”, mas isso é outra história) e diz a Janeway que a matéria é orgânica e a nebulosa parece ser um organismo vivo. E a Voyager o feriu. A cura, segundo o Doutor é usar um raio nuclear na fenda que a nave abriu na barreira.
Neelix, contrariado que a Voyager voltará para o ser vivo, reclama com a capitã que diz que vai ajudar a recuperar os ferimentos da nebulosa e não abre mão disso.
A Voyager tenta chegar próxima à fenda na barreira, mas descargas elétricas atingem a nave e a jogam para longe da ferida. Com os propulsores da Voyager desligados, a nave não mais é atacada pela nebulosa. Eles examinam a nebulosa e descobrem que ela tem uma espécie de sistema circulatório para transportar as partículas ômicron. Janeway decide entrar nesse sistema circulatório para se reaproximar da fenda. Nisso, Neelix e Kes entram na ponte com comida para servir à tripulação, para levantar a moral. Ele se intitula oficial de moral. Janeway, inicialmente a contragosto, e depois aceitando os argumentos do talaxiano, aceita uma iguariazinha.
A nave se aproxima da fenda e os raios nucleares não conseguem grande coisa O Doutor, então, sugere uma espécie de “sutura” na fenda. A Voyager iria “costurar” a ferida com energia. Janeway decide lançar uma microssonda para distrair a nebulosa enquanto eles fazem a sutura, que é um sucesso. Houve uma perda de 20% da energia da nave em todo o processo e agora a Voyager vai para um planeta a 14 anos-luz, por sugestão de Neelix, para buscar fontes de energia.
O episódio termina com Kim levando Janeway para o holodeck, onde há vários tripulantes se divertindo no bar em Marselha. Janeway começa a interagir mais com a tripulação. E se mostra uma excelente jogadora de sinuca. Fim do episódio.
O que podemos dizer do episódio “A Nuvem”? Em primeiro lugar, vamos aqui uma construção a mais na personagem Janeway. Ela, que sempre foi uma capitã que nutriu um certo distanciamento com a tripulação, agora precisa ver seus comandados como uma grande família, dada a força das circunstâncias de se estar no quadrante Delta. E ela faz progressos. Busca um animal guia com Chakotay, aceita a sugestão de Neelix de ser um oficial da moral, joga sinuca com a tripulação no holodeck, se divertindo com os personagens de Paris (essa parte foi um excelente alívio cômico e desfecho para o episódio). Tudo isso deu uma oportunidade de ouro para o fã de Jornada nas Estrelas se afeiçoar mais à capitã.
Esse também foi um episódio de Neelix, que não gostou de ver a Voyager exposta ao perigo. Mas a ânsia exploradora da tripulação fez com que ele tivesse que aceitar a tripulação e, no seu melhor estilo atabalhoado e altruísta, distribuiu comida na ponte para aliviar a tensão, intitulando-se oficial de moral. Neelix definitivamente é o chato mais simpático que existe. O episódio também foi mais um em que o Doutor teve um destaque especial, sendo engraçado e sarcástico, além de sugerir uma sutura para uma nebulosa viva, uma curiosidade interessante para o episódio, onde a principal mensagem foi recuperar a ferida em um organismo vivo que a própria Voyager provocou acidentalmente. Seria imoral a nave deixar a nebulosa ferida para lá, e mesmo se arriscando a enfrentar novamente as defesas do organismo da nebulosa, o erro acabou sendo reparado.
O mais interessante aqui é que essa revisita a Jornada nas Estrelas nos faz ver os episódios com outros olhos. Se eu achei chata essa história do animal-guia quando vi esse episódio há cerca de vinte anos (ou mais), hoje achei interessante essa ligação da capitã com Chakotay, um ex-maqui que mostra a sua cultura indígena em toda a sua plenitude. Valeu a pena rever essa perspectiva culturalista do episódio.
Assim, “A Nuvem” é um interessante episódio de Voyager, pois ela nos oferece uma série de fatores para serem apreciados. Mais um avanço na construção dos personagens, sobretudo Janeway, a questão moral de se recuperar um ser vivo ferido acidentalmente, uma olhada em elementos da cultura indígena. Vale a pena a revisita. E fique agora com o vídeo publicado no canal “Diário do Capitão”.