Batata Séries – Especial Naves De Jornada Nas Estrelas (1) – Enterprise NX-01

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A Enterprise NX-01

A Batata Espacial começa hoje a falar das naves de Jornada Nas Estrelas. E a primeira nave será justamente a Enterprise NX-01, a primeira a ter dobra 5. Construída com o objetivo de exploração espacial, a NX-01 tem armamentos como canhões phaser e torpedos. Com relação à defesa, seu casco é polarizado. Seu comprimento é de 225 metros, com uma altura de 33 metros e sete decks. A nave entrou em operação no ano de 2151, mais especificamente no dia dezesseis de abril (ou vinte de abril, segundo outras fontes), com o objetivo de levar um klingon ferido ao seu mundo natal Qo’nos. Durante a viagem, a tripulação da Enterprise, comandada pelo capitão Jonathan Archer, se depara com a espécie suliban, que seria a primeira espécie a ameaçar os humanos nas suas viagens espaciais. A Enterprise foi a primeira nave da Terra a ter em sua tripulação uma vulcana (a sub-comandante T’Pol, em virtude da desconfiança dos vulcanos para com os humanos em viagens espaciais), além de ser a primeira nave a ter teletransporte, usado inicialmente para carga, em virtude da desconfiança com relação à segurança de seu uso.

Enterprise NX-01 Deck Plans - Album - Album on Imgur
Planta esquemática da Enterprise…

A Enterprise NX-01 teve uma grande importância na geopolítica dos quadrantes alfa e beta, pavimentando a criação da Coalizão de Planetas em 2155 e a posterior fundação da Federação dos Planetas Unidos em 2161.

Para que a humanidade tivesse a capacidade de fazer a exploração espacial, ela teve que desenvolver a tecnologia de dobra 1 (a velocidade da luz). Depois que Zephran Cochrane conseguiu alcançar a tecnologia de dobra com a Phoenix em 2063 (a Phoenix era um antigo míssil adaptado da Terceira Guerra Mundial), no ano de 2119 em Bozeman, Montana, o próprio Cochrane e outros engenheiros como Henry Archer (pai de Jonathan Archer) começaram a desenvolver o projeto que levaria à construção da Enterprise no Complexo Warp Cinco. O motor de warp cinco demorou trinta e cinco anos para ser construído. Com essa velocidade, distâncias interestelares passaram a ser cobertas em tempos menores, da ordem de dias, semanas ou meses, ao invés de anos. A construção da Enterprise foi concluída em 2151 e sua velocidade máxima teórica era de dobra 4,5. Apesar das inovações tecnológicas, a nave ainda não tinha raio trator como as vulcanas, o que era substituído por uma espécie de cabo magnético. A tripulação da Enterprise tinha oitenta e três humanos, sendo um terço do sexo feminino, além da vulcana T’Pol e do denobulano Phlox.

Explosions and damage to U.S.S. Enterprise NX-01 | Star trek enterprise,  Star trek ships, Star trek
A Enterprise sofreu muitas avarias em suas missões…

A escolha do capitão foi um motivo de conflito, pois o embaixador vulcano Soval queria o Capitão Gardner como o capitão da Enterprise. Mas o almirante Forrest, alegando que os vulcanos não tinham jurisdição na Frota Estelar, escolheu Jonathan Archer finalmente. O lançamento da nave foi antecipado em três semanas em virtude da querela com o klingon. Soval protestou veementemente, pois ainda não acreditava na capacidade dos humanos para a exploração espacial. T’Pol foi colocada na tripulação em troca de cartas estelares vulcanas. Como saiu às pressas, os torpedos não estavam calibrados (eles foram calibrados em maio de 2151) e os canhões phasers ainda não estavam instalados (eles seriam instalados em setembro de 2151).

Corridor Enterprise NX-01 Part 01 | 3D Warehouse
Seu interior era apertado e um tanto claustrofóbico…

Dez meses depois de seu lançamento, a Enterprise é chamada de volta à Terra, pois uma de suas naves auxiliares teria incendiado gás tetrazina na atmosfera do planeta Paraagan II, matando 3600 colonos. O embaixador Soval defendeu a ideia de que as missões humanas em espaço profundo só fossem retomadas em dez ou vinte anos. Mas foi descoberto que o acidente fora provocado pelos Sulibans e a Enterprise retomou sua missão.

Enterprise NX-01 Bridge on Behance
A ponte da Enterprise NX-01…

A Enterprise passou por outros contratempos, como um campo minado romulano que provocou avarias em seu casco. Com isso, a tripulação teve que se desdobrar para fazer melhorias na nave durante a viagem. Reed, por exemplo, desenvolveu um sistema tático de alerta para a nave, já que as ameaças alienígenas no espaço eram muito grandes, com Reed sendo mais ativo no quesito de defesa do que Archer.

Storm Front, Part II (episode) | Memory Alpha | Fandom
Seriamente danificada com a guerra Xindi e a solução da guerra fria temporal…

Em março de 2153, as ameaças alienígenas atingiriam seu auge durante a missão da Enterprise com o ataque xindi à Terra. A nave retorna a seu planeta natal em abril e sofre uma série de melhorias como a instalação de torpedos fotônicos,  melhoria do revestimento do casco, atualização do tradutor universal e um novo centro de comando. Um destacamento de MACOs, um grupo armado, fica à disposição de Archer. A Enterprise sai à caça da arma xindi e, por quase um ano, sua missão é muito perigosa, pois esferas inimigas provocavam anomalias espaciais. A arma xindi foi localizada em fevereiro de 2154 e a Enterprise ficou seriamente avariada depois de ataques xindi, obrigando a Enterprise a atacar uma nave alienígena para tomar sua bobina de dobra. A Enterprise consegue destruir a arma Xindi e encerrar a Guerra Fria Temporal de uma tacada só. Com Archer sendo lançado a um passado alternativo e retornando posteriormente.

Jonathan Archer | Memory Alpha | Fandom
Jonathan Archer, capitão da Enterprise e futuro presidente da Federação dos Planetas Unidos.

Depois da volta para casa, os membros da Enterprise foram sagrados como heróis, especialmente o Capitão Archer, que teve o seu nome dado à várias escolas. A Enterprise passou por uma série de reformas, como uma nova cadeira de capitão e melhoras no teletransporte. Os tripulantes da Enterprise ainda seriam muito atuantes em querelas internas em Vulcano, assim como em desavenças entre telaritas e andorianos, buscando a solução de todos os problemas.

T'Pol | Memória Alfa | Fandom
T’Pol, uma vulcana a tutelar os humanos…

A nave foi desativada em 2161 por ocasião da criação da Federação dos Planetas Unidos, ficando exposta no Museu da Federação. O termo NX posteriormente foi usado para designar protótipos. A Enterprise NX-01 não chegou a navegar em espaço desconhecido, já que usava as cartas estelares vulcanas, mas teve importância em vários eventos, como no incidente com os xindi e na formação da aliança entre vulcanos, andorianos, telaritas e terráqueos, que levaria a Coalizão de Planetas, que serviria de base para a Federação Unida de Planetas.

Ex Astris Scientia - A Close Look at Enterprise NX-01
Planta esquemática da visão frontal…

Batata Séries – Jornada Nas Estrelas E O Fascismo

Por que você deveria ler o livro 'Minha Luta' de Hitler - Revista Galileu |  Máquina do Tempo

Introdução.

A série Jornada nas Estrelas é conhecida por mostrar uma sociedade utópica do futuro onde todos os problemas enfrentados pela humanidade foram praticamente resolvidos e a humanidade progrediu mostrando o seu melhor. É verdade que, dentro das séries de Jornada nas Estrelas, a distopia apareceu em algumas séries, mas o espírito inicial sempre foi a utopia. Ainda, em Jornada nas Estrelas, além de temas pertinentes à ciência, referências de ordem histórica, social e política também se faziam presentes nos episódios e séries, nesses mais de cinquenta anos de franquia. Um dos temas abordados foi o fascismo, talvez um dos regimes mais cruéis que a humanidade forjou. Vamos aqui conversar um pouco sobre essa presença do fascismo em Jornada nas Estrelas, analisando, basicamente, dois momentos da franquia. O primeiro deles foi o episódio “Padrões de Força”, da série clássica, realizado apenas vinte e três anos depois do término da Segunda Guerra Mundial. O outro episódio, “Tempestade Temporal”, um episódio duplo de Jornada nas Estrelas Enterprise, foi realizado cinquenta e nove anos depois do término da Segunda Guerra Mundial. Para podermos analisar os episódios propriamente ditos à luz do que foi o fascismo, será feita aqui uma breve digressão do que foi o fascismo, as condições que levaram ao seu surgimento e como ele se processou na Europa, sobretudo nos casos italiano, alemão e espanhol. Em seguida, analisaremos o episódio “Padrões de Força” e, logo a seguir, o episódio “Tempestade Temporal”. Ao final, apresentaremos as conclusões dessas análises.

Uma Breve História do Fascismo

Ao fim da Primeira Guerra Mundial, a Europa, destruída, vivia uma violenta crise econômica, onde houve uma pequena recuperação ao longo da década de 20. Entretanto, em 1929, viria a Grande Depressão, que agravou novamente a situação. Os grupos políticos socialistas culpavam, em 1918, a burguesia pela crise, já que o processo imperialista surgido ainda no século XIX, já tinha ocorrido em virtude de uma crise econômica de superprodução que foi sanada quando as grandes potências europeias se voltaram para a África, Ásia e América Latina para explorar suas fontes de mão-de-obra, de mercados consumidores e de matérias-primas. O desentendimento entre as potências européias nessa exploração imperialista foi um dos fatores (senão o mais importante) que levaram à Primeira Guerra Mundial. Tudo isso em virtude de uma burguesia que atuava livremente para enriquecer, sem qualquer controle do Estado. Ao chamar a atenção para esses fatos, os grupos socialistas começaram a receber apoios de operários e intelectuais, ganhando mais e mais deputados nas eleições dos países europeus no pós-guerra. Os grandes empresários e patrões temiam a explosão de revoluções socialistas pela Europa. A única forma de deter isso seria acabando com os governos democráticos e impondo uma ditadura que assegurasse o capitalismo e reprimisse os socialistas. A classe média e a pequena burguesia percebiam que seus padrões de vida caíam e acreditavam que as greves de operários aumentavam a inflação (alta dos preços). Assim, a classe média e a pequena burguesia também começaram a apoiar uma alternativa mais autoritária de governo. Dentre os próprios operários e camponeses havia grupos que queriam um governo que “restaurasse a ordem”. Assim, se os grupos socialistas ganhavam deputados, as requisições de um governo forte também deram força aos grupos de extrema-direita. Eles defendiam a instalação de um regime autoritário que “combatesse a baderna, a corrupção dos políticos e os movimentos grevistas de esquerda”. Era necessária a presença de um líder incontestável. A democracia era considerada um regime fraco e corrupto que permitia  ascensão de grupos de esquerda ao poder. Tais ideias estavam ligadas a um movimento político chamado fascismo, cuja expressão vem da palavra fascio, que era um machado que os juízes da Roma Antiga possuíam e que era uma espécie de símbolo de poder.

Fascismo: 6 pontos para você entender esse conceito
Benito Mussolini e Adolf Hitler foram os expoentes do Fascismo na Europa…

Apesar de se declarar revolucionário, o fascismo defendia o capitalismo, ou seja, o regime fascista é uma ditadura favorável à burguesia. Apesar da forte presença do Estado, a maioria das empresas continua sendo de propriedade dos burgueses. A democracia acaba, não havendo eleições, greves, liberdade de imprensa e os críticos do governo sofrem prisões. O único partido aceito é o fascista e os sindicatos devem obedecer incontestavelmente ao governo. Dentre as principais ideias fascistas, podemos citar: anticomunismo (os fascistas abominavam a igualdade social proposta pelos socialistas, pois acreditavam em povos superiores e inferiores; Adolf Hitler, em seu livro Mein Kampf – Minha Luta – dizia que devia haver duas categorias de cidadãos: os que haviam prestado serviço militar, que pertenciam à uma casta superior e que teriam mais direitos, e os demais civis que, por não terem prestado o serviço militar, seriam de uma casta inferior com menos direitos); antiliberalismo (o regime democrático é fraco e corrupto, dominado pelos enganadores do povo; já os fascistas defendem um regime ditatorial); totalitarismo (o indivíduo deve obedecer ao Estado sem contestação, pois, caso ele conteste o governo, ele é um inimigo da pátria; o Estado controla todas as atividades, mas a propriedade privada e o capitalismo continuam existindo); militarismo (a guerra é vista como a atividade mais nobre do Homem, onde o mais forte deve vencer o mais fraco e o diálogo é considerado uma atividade dos mais fracos); xenofobia (o fascismo é ultranacionalista, onde o governo deve controlar os investimentos estrangeiros no país, e é xenófobo, ou seja, odeia tudo aquilo que é estrangeiro, considerando as pessoas de outros países como inimigas da pátria e inferiores); racismo (ocorreu mais na Alemanha, dentro do regime nazista, onde havia uma “superioridade da raça branca” sobre as demais, consideradas inferiores, devendo ser eliminadas por contaminar o sangue puro ariano; as mulheres deviam ser submissas); culto ao chefe supremo da nação (o líder da nação é uma espécie de pai simbólico que protege a nação com toda a sua autoridade, sendo praticamente cultuado como um Deus); irracionalismo (os fascistas acreditavam que o racionalismo era limitado, e a força bruta é o mais importante, onde a verdade é aquilo que o mais forte consegue impor; por isso mesmo, os fascistas davam grande importância à propaganda política, onde o Ministro da Propaganda Nazista, Joseph Goebbels, dizia que “Uma mentira falada mil vezes se tornava uma verdade” e, por serem críticos do racionalismo, eram também críticos do movimento iluminista, embora os nazistas tenham usado práticas bem racionais para a matança em campos de extermínio).

General Francisco Franco, o anti Maçom - Freemason.pt
General Francisco Franco. Fascismo espanhol.

O fascismo inicialmente se desenvolveu na Itália, que, logo após a guerra, estava em profunda crise econômica, a um passo de uma revolução socialista. Surgiu, então, o Partido Fascista, inicialmente um agregado de ex-soldados, desempregados e policiais que reprimiam com violência operários grevistas, mediante pagamento de empresários. Com o tempo, esse grupo se tornou um partido político com ideias próprias, embora não tivesse parado a violência contra seus inimigos. Em 1922, com o apoio da burguesia, os “Camisas Negras” fascistas fizeram a marcha sobre Roma, exigindo que o Rei da Itália nomeasse o líder fascista Benito Mussolini como Primeiro-Ministro. Isso acabou acontecendo e Mussolini convocou eleições fraudulentas que inundaram o Parlamento Italiano de fascistas. Quem se opunha a isso era assassinado. É importante notar que isso aconteceu bem antes da Crise de 1929. Foi Mussolini quem cedeu o Vaticano à Igreja Católica no Tratado de Latrão de 1929.

Nacional-Socialismo | Wiki | Write Is Life Amino
A Ideologia da raça ariana como uma raça superior foi uma característica básica do nazismo…

O fascismo também se desenvolveu na Alemanha, sob o nome de nacional-socialismo, cuja abreviação, o nazismo, ficou mais conhecida. Apesar de ser um movimento de extrema-direita, o nazismo adotou o termo socialismo por ser muito popular na época. Ao fim da Primeira Guerra Mundial, a Alemanha criou uma República Democrática, conhecida como República de Weimar, abandonando o Império após a abdicação do Kaiser Guilherme II. O termo Weimar foi adotado pois, em virtude das sérias turbulências políticas, a constituição não foi escrita em Berlim, mas na cidade próxima de Weimar. Os nazistas viriam a tomar o poder somente em 1933, e todo o período da República (1918-1933) foi de extremas dificuldades, onde os alemães passaram por uma inflação violentíssima em 1923, lutas entre grupos de extrema esquerda e extrema direita, onde os primeiros eram severamente punidos pela justiça, enquanto que havia grande impunidade para o segundo grupo (Hitler tentou dar um golpe e ficou menos de um ano na cadeia), além de assassinatos de políticos que queriam um melhor relacionamento com os países europeus que impunham severas restrições aos alemães pelo Tratado de Versalhes.

Adolf Hitler era um ex-sargento da Primeira Guerra Mundial que queria ser artista e foi reprovado duas vezes na Academia de Artes de Viena (Hitler era austríaco, não alemão). Desempregado, começou a ler publicações antissemitas e foi contratado como olheiro da polícia para se infiltrar em grupos de esquerda e fornecer informações. Numa de suas missões, Hitler se infiltrou no Partido dos Trabalhadores Alemães, como sétimo membro. Hitler começou a manipular os membros do partido com suas ideias e o fez crescer, transformando-o mais tarde no Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães. Hitler tinha excelente oratória e acusava os judeus e comunistas de desgraçarem o país. Ele falava em combater a desordem e recuperar o orgulho de ser alemão. Tais palavras eram de grande impacto numa sociedade empobrecida e faminta. Com o tempo, os nazistas conseguiram fazer deputados no parlamento, mas com a crise de 1929, onde o desemprego chegou a 44% da população economicamente ativa, Hitler percebeu que não precisaria mais dar um golpe para chegar ao poder. Com as forças antinazistas divididas (os socialistas e social-democratas), os nazistas, que tinham apoio dos militares e dos empresários, estavam unidos, e aproveitaram uma brecha no sistema de poder da Alemanha para poder chegar ao poder. Ou seja, os nazistas chegaram ao poder pelas vias legais, ao contrário do que havia acontecido na Itália. Ao subirem ao poder, a primeira medida dos nazistas foi botar fogo no parlamento alemão e acusar os socialistas, sendo esse o pretexto para os partidos políticos serem fechados e a policia secreta (Gestapo) ser colocada nas ruas. Hitler contornou a crise econômica fazendo um plano econômico semelhante ao New Deal dos Estados Unidos, mas com a ajuda da iniciativa privada ao invés dos investimentos estatais que Roosevelt fez nos Estados Unidos.

As Marcas da Segunda Guerra Mundial em Berlim | Simplesmente Berlim
Os alemães pagaram um preço muito caro com os delírios nazistas…

Outro local onde o fascismo se instalou na Europa de forma muito pronunciada foi na Espanha, depois de uma guerra civil de três anos (1936-1939). Houve uma eleição disputada pelos militares fascistas espanhóis (liderados pelo General Francisco Franco) e as forças antifascistas democráticas e republicanas, que ganharam as eleições. Os fascistas não aceitaram a derrota e a guerra civil se instaurou. O governo republicano reagiu à tentativa de golpe e armou a população.  Os republicanos também receberam ajuda de socialistas, social-democratas, anarquistas, da União Soviética e de brigadas internacionais. Já os fascistas receberam de Hitler a ajuda da Luftwaffe (a Força Aérea Nazista), de Mussolini (que enviou tropas), dos empresários, dos grandes fazendeiros e da Igreja Católica, declaradamente anticomunista. Em 1939, os fascistas ganharam a guerra civil espanhola, que foi considerada uma espécie de ensaio para a Segunda Guerra Mundial, que também começaria naquele ano. Pablo Picasso retratou em seu mural “Guernica” todos os horrores do bombardeio nazista a essa cidade espanhola e hoje esse mural está na sede das Nações Unidas em Nova Iorque para que todos se lembrem dos horrores da guerra.  

Jornada nas Estrelas, A Série Clássica: Padrões de Força (S02 Ep 21 – “Patterns Of Force”, escrito por John Meredith Lucas)

Falemos, agora, do primeiro episódio de Jornada nas Estrelas que abordou a questão do fascismo. Trata-se do vigésimo-primeiro episódio da segunda temporada da série clássica (The Original Series, mais conhecida como TOS), chamado “Padrões de Força” (“Patterns of Force”), escrito por John Meredith Lucas, exibido pela primeira vez em 16 de fevereiro de 1968, ou seja, apenas vinte e três anos depois do término da Segunda Guerra Mundial.

Network Nazis: Star Trek's “Patterns of Force” – On Planet Auschwitz
Um nazista bem convincente e um vulcano que esconde seus pecados…

O plot do episódio é o seguinte. A Enterprise vai para um sistema planetário onde há dois planetas habitados: Ekos e Zeon. O primeiro planeta tem uma civilização belicosa, ao passo que o segundo planeta tem uma civilização pacífica e desenvolvida tecnologicamente, sem guerras há várias gerações. O historiador terráqueo John Gill foi enviado pela Federação como Observador Cultural, mas não deu mais qualquer sinal de vida e, agora, a Enterprise vai ao sistema para buscar saber o que aconteceu. Ekos lança uma ogiva nuclear contra a Enterprise, justamente o planeta que tem uma tecnologia menos avançada, sendo que a ogiva nuclear é mais avançada que as tecnologias dos dois planetas. Spock frisa que John Gill é um historiador que trabalha a História mais em torno da questão de causas e motivações do que em datas e eventos, ou seja, uma abordagem sobre a História que era uma novidade para a época em que a série era produzida. Ao descerem à superfície de Ekos, Kirk e Spock descobrem que há um Estado Nazista governando o planeta e que trata os zeons exatamente como os nazistas tratavam os judeus na época da Segunda Guerra Mundial, matando os zeons, linchando-os ou pisoteando-os (os próprios nomes dos personagens zeons lembram nomes de origem judaica: Davod, Isak, Abrom). Os nazistas, no transcorrer do episódio, na maioria das vezes apontavam as armas para alguém, sempre sob uma música militar de fundo (referência ao militarismo dos fascistas). Há todo um discurso de erradicação dos zeons do planeta Ekos, bem ao estilo da chamada “solução final” implementada pelos nazistas no momento em que os aliados passaram a estar em vantagem na guerra e, para que a situação de crimes de guerra dos campos de concentração não fosse descoberta, os nazistas passaram a focar no extermínio sistemático dos judeus para a sua erradicação total (embora devamos nos lembrar que os nazistas também exterminavam comunistas, homossexuais e ciganos). Os nazistas de Ekos se referiam aos zeons como “suínos” e, com a erradicação, os zeons “profanariam os ekosianos pela última vez”, numa clara alusão ao racismo nazista que à “raça pura” ariana, opunha o sangue contaminado dos judeus, que deviam ser eliminados para não contaminar o sangue puro dos arianos.

Patterns of Force" s2 e21 Star Trek TOS 1968 Leonard Nimoy Spock First  Officer Nims | Star trek series, Star trek universe, Star trek tv
Spock é desmascarado…

É interessante também perceber que havia uma tela de TV que fazia a propaganda nazista ekosiana, repetindo continuamente o discurso de ódio contra os zeons. Uma notícia chama a atenção: que os ekosianos haviam repelido um ataque zeon, destruindo a nave agressora, numa alusão ao ataque à Enterprise. Nesse momento, Kirk diz a Spock que ele parecia bem inteiro para quem foi destruído num ataque. Essa fina ironia contra a mentira da notícia ekosiana é uma clara referência às técnicas de propaganda de Joseph Goebbels e à sua famosa frase “uma mentira falada mil vezes torna-se uma verdade”.

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Um capitão e um primeiro oficial sob tortura…

E quem seria o “Führer” desse Estado Nazista Ekosiano? Seria o próprio John Gill, para a perplexidade de Kirk. Mais um mistério a se resolver aí. Por que um historiador consciente das atrocidades nazistas violaria a Primeira Diretriz e implementaria um regime nazista num planeta para onde ele foi apenas como um observador cultural?

Patterns of Force (1968)
Um Kirk um tanto petulante no interrogatório…

É claro que nossos personagens protagonistas vão ter que agir para descobrir o que está acontecendo. E, para isso, eles vão precisar usar disfarces nazistas. Há duas passagens muito curiosas quanto a isso. Spock está disfarçado com um capacete nazista encobrindo estrategicamente suas orelhas vulcanas. Kirk, ao perceber o detalhe, diz que o capacete nazista cobre todos os pecados de Spock. Essa ironia muito provavelmente foi dirigia aos conservadores WASPs (sigla inglesa para branco, anglo-saxão e protestante) dos Estados Unidos que haviam reclamado que o personagem de Spock lembrava o demônio. Nada mais irônico que um disfarce nazista para encobrir os “pecados” da fisiologia vulcana de Spock, um disfarce cuja ideologia poderia muito bem estar em sintonia com a ideologia da direita conservadora estadunidense que tanto criticava Spock. Já Kirk conseguiu um uniforme de uma patente superior e mais bonito que o de Spock, ao que valeu o comentário do vulcano de que o capitão estaria um nazista bem convincente, o que provocou um olhar ressabiado de Kirk. Todo trekker de carteirinha sabe dos rompantes autoritários de Kirk para com sua tripulação e a piada foi bem oportuna aqui.

Patterns Of Force – Whom Pods Destroy
Recebendo a ajuda de um zeon…

Quando Kirk e Spock são aprisionados, outros detalhes interessantes aparecem. Eles foram chicoteados e as marcas de chicoteamento em Spock eram todas verdes por causa de seu sangue. Já Kirk estava todo vermelho, mas as manchas pareciam ter sido feitas de batom. Um dos nazistas que mantinha os dois presos (e que ia se revelar uma espécie de agente zeon infiltrado) se chamava Eneg, que é “Gene” ao contrário. Uma coisa que incomoda aqui é uma certa arrogância com que Kirk se dirige aos nazistas, dizendo que só responderia as perguntas se ele pudesse falar diretamente com o Führer e uma certa passividade dos nazistas contra tal empáfia. Bom, ele é o herói da série, mas… Temos, ainda, a argumentação dada por Isak do motivo pelo qual os ekosianos odiavam os zeons. Ficou claro na fala de Isak que o ódio aos zeons era o que unificava os ekosianos, como se sua belicosidade dividisse os ekosianos em vários grupos. Quando pensamos na ideologia nazista baseada numa pureza de raça que justificasse as ações conquistadoras dos nazistas contra os inimigos de uma raça inferior, esse fator de uma raça ariana pura provavelmente também foi usado como um elemento aglutinador, já que a agressividade dos nazistas levava a divisões entre eles. Um caso emblemático disso é a “Noite das Facas Longas” onde cerca de duzentos membros das SAs foram massacrados. As SAs (Sturmabteilung, Destacamento Tempestade), eram forças paramilitares criadas em 1921 e que tinham como objetivo inicial proteger líderes nazistas em comícios e assembléias. Com o tempo, essa força passou a ter cerca de 4,5 milhões de integrantes, mais do que os cem mil soldados do exército alemão. Em 1934, as SAs eram lideradas por Ernst Röhm e eram vistas por Hitler como uma ameaça ao seu poder. Assim, o Führer ordenou o massacre de suas lideranças, desbaratando o movimento. As SAs seriam substituídas pela SS (ShutzStaffel, Tropas de Proteção), liderada por Heinrich Himmler e idealizada inicialmente por ele como última linha de defesa de Hitler, uma espécie de tropa de elite, que depois se tornou um importante braço armado nazista.

Outra característica muito curiosa do episódio é a visão que os zeons têm dos ekosianos. Como os zeons eram uma espécie pacífica que não tinha guerras há várias gerações, e os ekosianos eram belicosos, os zeons se sentiram no direito de tutelar os ekosianos e levar a “civilização” zeon para a “barbárie” ekosiana. Esse foi o mesmo discurso que motivou a invasão imperialista da Europa à África, Ásia e América Latina, na virada do século XIX para o XX. E o argumento de se levar a “civilização” para a “barbárie” muitas vezes se amparava no darwinismo social, que é uma interpretação equivocada da Teoria da Evolução das Espécies de Charles Darwin, e que colocava os europeus como raças humanas mais evoluídas e superiores às africanas e asiáticas, justificando as invasões europeias. Ou seja, os argumentos nazistas usados para justificar suas posturas agressivas e beligerantes na Segunda Guerra tinham origem no processo imperialista de décadas anteriores e em “Padrões de Força” são usadas ironicamente como uma justificativa da intervenção zeon no planeta Ekos, ou seja, levemos a civilização para os bárbaros. Isak lembra também que os ekosianos eram belicosos, mas não tão perversos. Isso aconteceria justamente com a chegada de John Gill ao planeta.

Mais uma alusão ao que acontecia no nazismo aparece quando Kirk, Spock e Isak se libertam da cela e vão procurar os comunicadores no laboratório. Eles passam por um soldado e Kirk diz que está levando o zeon para o laboratório para fazer experiências, numa clara referência às experiências de Joseph Mengele, principalmente com irmãos gêmeos, onde ele fazia as experiências genéticas mais terríveis com o irmão gêmeo mais fraco, ao melhor estilo de se usar uma cobaia humana. Todas as experiências que dessem certo com o gêmeo mais fraco eram aplicadas no gêmeo mais forte. Mengele também amputava membros de bebês para ver o seu poder de regeneração, assim como injetava corantes azuis nos olhos de crianças para verificar se a íris ficaria azul.

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Kirk filmando a heroína nacional. Lembranças de Leni Riefensthal…

Na parte final do episódio, mais referências explicitas ao nazismo. Quando Kirk, Spock, Isak e a espiã Daras, tomada como herói nazista ekosiana, entram na chancelaria, o disfarce é uma espécie de equipe de filmagem onde são feitas tomadas da herói nacional Daras (impossível não se lembrar de Leni Riefensthal e seus filmes de propaganda). Há, também, o vice-führer, Melakon, talvez aqui uma espécie de Goebbels. A respeito de John Gill, este estava imóvel no local de seu discurso e aí surgiram as especulações: distanciamento semi-divino (como os líderes fascistas eram tratados), drogado ou psicose (sempre houve essa alegação de que os líderes fascistas eram psicopatas; mas fica aqui um questionamento: será que um fenômeno político como o fascismo, que surgiu em vários países de culturas bem diferentes, teria todos os seus líderes tomados como psicopatas? Tal hipótese não daria peso demais ao indivíduo para um fenômeno social?). De qualquer forma, Gill era drogado por Melakon no final das contas. Foi isso que Gill disse ao ser “reanimado” por McCoy para que Kirk pudesse conversar com o historiador e entender o que ocorria. E a opção pelo nazismo? Nas palavras de Gill, o planeta Ekos estava fragmentado e o modelo de Estado Nazista foi usado por ele, pois esse era o exemplo de estado mais eficiente. Spock concordou com isso, pois a Alemanha era um país abalado e falido que foi transformado numa potência pelo nazismo em poucos anos. Kirk rebateu dizendo que o Estado Nazista foi brutal, pervertido e que foi destruído a um custo terrível. Spock retruca dizendo que Gill deve ter acreditado que podia usar esse Estado de forma benigna, alcançando sua eficiência sem sadismo. Gill disse que no início funcionou, mas Melakon assumiu o comando e passou a drogar o historiador. Kirk consegue fazer Gill discursar para ordenar o fim da matança e acusar Melakon de traição, que alveja Gill com uma metralhadora antes de ser morto por Isak. Moribundo, Gill diz a Kirk que errou e que a Diretriz de Não Interferência é o único caminho. Gill ainda diz que até os historiadores falham em aprender com a História, repetindo os mesmos erros do passado. Pode até ser. Mas quem não aprende com a História tem muito mais chances de repetir os erros do passado.

Star Trek The Original Series Rewatch: “Patterns of Force” | Tor.com
John Gill, o grande líder…

Ao fim do episódio, fica a reflexão entre Kirk, Spock e McCoy de que o grande erro de Gill foi, mesmo com a melhor das intenções, acumular muitos poderes e não resistir à tentação de ser Deus. Ou seja, que poder absoluto corrompe absolutamente. Spock não podia deixar de ser sarcástico, lembrando que a História da Terra está coberta de exemplos de homens que acumularam poderes, brincando de ser Deus.

Review: “Patterns of Force” Remastered – TrekMovie.com
Morto por seu próprio erro…

Vendo o desfecho do episódio e o que vimos sobre o fascismo, cabem aqui umas últimas palavras. A alegação de que o Estado Nazista foi o mais organizado que surgiu é baseado num pragmatismo que não leva em conta as origens de tal Estado. Por mais eficiente que esse Estado tenha sido em recuperar a Alemanha, ainda assim devemos lembrar que a sua origem é autoritária para garantir a manutenção de uma elite econômica burguesa no poder, desqualificando totalmente a democracia, rotulando-a de fraca e corrupta, pois ela permitia a ascensão de grupos socialistas ao poder. E essa recuperação da Alemanha tinha um objetivo bem específico: buscar a vingança contra aqueles que haviam derrotado a Alemanha na Primeira Guerra Mundial. Ou seja, o Estado Fascista foi todo construído num espírito de ódio, autoritarismo e revanchismo. Ver tal Estado sendo usado de forma benéfica é algo um tanto complicado, pois ele foi forjado sob parâmetros altamente negativos desde a sua origem. Se, de um ponto de vista pragmático ele obteve resultados positivos, isso não significa que seja um modelo de Estado ideal. Ainda mais porque esse Estado permitia o poder absoluto nas mãos de uma só pessoa, algo que corrompe absolutamente, nas próprias palavras da tríade de Enterprise. Não é a toa que o Barão de Montesquieu apresentou, na época do Iluminismo, a sua Teoria dos Três Poderes, onde os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário substituiriam o poder absoluto dos reis do Antigo Regime, pois, quando temos três poderes, um vigia o outro, impedindo que um poder sobressaia e assim nós temos uma forma mais democrática e livre de governo. A democracia, mesmo com seus defeitos (nenhum sistema de governo ou Estado é totalmente perfeito), ainda assim é o sistema mais justo de governo.

Jornada nas Estrelas, Enterprise: Tempestade Temporal (S04 Eps 01 02 – “Storm Front”, escrito por Manny Coto)

Falemos, agora, do episódio duplo do início da quarta temporada de Jornada nas Estrelas Enterprise, intitulado “Tempestade Temporal”. Exibido pela primeira vez em 8 de outubro de 2004, esse episódio duplo está a cinquenta e nove anos do fim da Segunda Guerra Mundial e aqui o nazismo é mais visto como um pano de fundo do plot principal que é a Guerra Fria Temporal, onde os nazistas invadiram os Estados Unidos (Lênin foi assassinado, não houve a Revolução Russa e a Alemanha Nazista não tinha a União Soviética como grande preocupação, o que possibilitou a invasão à América). Ou seja, esse episódio duplo ficou com uma tremenda cara de decalque de “O Homem do Castelo Alto”, mesmo tendo sido feito anos antes para a TV (mas já com a referência do livro de Philip K. Dick). Um grupo de alienígenas do século XXIX fez uma aliança com os nazistas trocando tecnologia por recursos para construir um conduíte temporal para retornar ao século XXIX. Caberá a Archer e sua tripulação destruir o conduíte para que esses alienígenas não cumpram sua missão e não alterem o passado. Dentro de um plot como esse, a discussão sobre o nazismo acabou muito deslocada e tivemos apenas umas poucas referências esporádicas. Dentre elas, a conversa entre um soldado nazista e Archer que dizia que os estadunidenses não eram bons soldados, mas que tinham um bom cinema. Ou a conversa entre o alienígena e o oficial nazista onde o primeiro pode fornecer pragas a serem colocadas na água que faria o serviço dos campos de concentração, assim como a comparação que o alienígena faz entre a espécie dele e os nazistas: ambos abraçam ideais de pureza e perfeição e ambos enfrentam inimigos que poderiam destruí-los. Houve, também, o discurso do alienígena na construção do conduíte, que se aproximava bastante dos discursos e rituais do nazismo. Ainda, tivemos a violência nazista nas ruas e o ato de um nazista zombar, de forma racista, a companheira negra de resistência do Archer. Mas talvez a principal referência ao nazismo está no cinejornal ao início do segundo episódio, onde vemos a chegada de Hitler a Nova Iorque (alusão da chegada de Hitler a Paris). Além disso, o cinejornal diz que Hitler promete extirpar os parasitas que assolam a economia americana desde 1929, ou seja, os grandes empresários capitalistas que fizeram investimentos de risco que ajudaram a levar os Estados Unidos para a crise de 1929. Lembrando que Hitler tinha uma grande aproximação com a iniciativa privada (ele lançou mão da ajuda de empresários para fazer um plano semelhante ao New Deal na Alemanha), essa repulsa aos empresários estadunidenses soa como falsa (talvez ela fosse mais pertinente com Goebbels, que via o capitalismo de forma negativa, pois acreditava que a modernidade que vinha com o capitalismo poderia destruir as tradições alemãs). O cinejornal ainda dizia que a aliança Estados Unidos-Alemanha faria os trabalhadores estadunidenses voltarem ao emprego, numa referência à crise de 1929, onde o Führer tiraria os Estados Unidos da crise e do desemprego.

Star Trek: Enterprise Season 4 Episode 1
Nazismo é usado mais como pano de fundo em Enterprise…

Conclusões.

Vimos como Jornada nas Estrelas, em toda a sua riqueza cultural, extrapola os limites da ficção científica e discute também temas de ordem política e social. Tomando como exemplo os episódios de Jornada nas Estrelas que abordam a questão do fascismo, pudemos perceber como “Padrões de Força” possui uma discussão muito mais rica sobre o tema, muito provavelmente por estar mais próximo ao fim da Segunda Guerra Mundial. Apesar do episódio levantar uma hipótese de que o Estado Fascista seria muito eficiente e ele poderia ser usado de uma forma benigna, devemos lembrar que esse Estado Fascista nasceu dentro de uma referência autoritária, odiosa e revanchista. Entretanto, o desfecho do episódio descarta totalmente o uso do Estado Nazista na tese do “poder absoluto que corrompe absolutamente”. Já em “Tempestade Temporal”, produzido quase seis décadas depois do fim da guerra, o fascismo foi mais usado como um pano de fundo para o arco da Guerra Fria temporal, que trabalha mais a noção de história alternativa. Ainda assim, o episódio deu margem para analisarmos umas poucas características do fascismo, mais presentes no cinejornal visto ao início do segundo episódio. Só é de se lamentar que ficou aqui registrado um Hitler que baniria o empresariado, quando tínhamos a situação oposta na vida real. De qualquer forma, a análise desses episódios é um excelente exercício para algumas reflexões sobre o regime fascista e de por que ele não deve jamais ser retomado sob qualquer circunstância na História da Humanidade.

Batata Séries – Jornada Nas Estrelas Voyager (S01 Ep03), Mais Uma Vez. Um Sabor De Paradoxo Temporal.

Time and Again (episode) | Memory Alpha | Fandom

Dando sequência às nossas análises de episódios de Jornada nas Estrelas, revisitemos Voyager no terceiro episódio da primeira temporada intitulado “Mais Uma Vez”.

Qual é o plot desse episódio? A Voyager é atingida por uma onda de choque e a análise da mesma indica uma detonação. Janeway manda a nave para o sistema estelar de onde veio a onda para investigar. Com a onda de choque, Kes sofre uma grande perturbação e vai para a ponte. A fonte da onda de choque veio de um planeta classe M que tinha uma civilização mas agora não tem sinais de vida. Um grupo avançado desce à superfície e encontra ruínas. Uma detonação polárica incinerou toda a civilização. Janeway encontrou indícios de que não houve uma guerra, mas sim que íons poláricos eram usados como fonte de energia, uma verdadeira bomba-relógio prestes a detonar.

Star Trek: Voyager Rewatch: “Time and Again” | Tor.com
Kes. Sentindo as perturbações da destruição de um planeta…

Na Voyager, Kes diz a Neelix que viu os corpos da civilização queimarem e diz que seu povo tem habilidades mentais. Neelix não acredita muito nisso, mas conforta a esposa.

Na superfície, Paris tem visões da civilização que morreu e é concluído que há fendas subespaciais na superfície do planeta. Janeway e Paris vão para a civilização no passado e perdem contato com a nave e o grupo avançado. Paris, que havia visto um relógio nos escombros, vê o mesmo agora na realidade do planeta e estima que ele será destruído em um dia.

Star Trek: Voyager: Time and Again | TV Database Wiki | Fandom
Janeway e Paris voltam ao passado e tentam entender o que aconteceu com o planeta…

Na Voyager, a tripulação discute uma forma de resgatar Janeway e Paris. Eles, ao analisarem as fendas, já sabem que elas se expandiram para o passado. O problema será localizar Janeway e Paris no momento exato do passado e abrir a fratura subespacial.

Kes e Neelix vão ao Doutor para exame da moça. O Doutor novamente fica indignado de não saber que há tripulantes novos na nave e que Janeway desapareceu. Mas diz que Kes está em perfeita saúde.

Na superfície do planeta, Janeway e Paris decidem enviar uma bóia subespacial para a Voyager detectá-los, mas não farão nada para evitarem a destruição do planeta, pois violariam a Primeira Diretriz. Paris não aceita muito a ideia. Depois de botar um garoto desconfiado da presença deles para correr, Paris e Janeway têm a ideia de usar a energia dos íons poláricos para voltar para onde estavam, já que a explosão de íons poláricos criou as fendas subespaciais (ou seja, uma tecnobabble básica). O problema é que eles precisam ir aonde estão os geradores de energia polárica e esse lugar está passando por uma convulsão social. Paris e Janeway entram no bolo e são agredidos, sendo levados por um homem para longe dos guardas.

1-03: Time and Again - Star Trek: Voyager Season 1 Episode ...
Paris e Janeway são agredidos na região dos geradores de força…

Na Voyager, a tripulação desenvolveu uma espécie de gerador que abre fendas subespaciais que será usado na superfície do planeta, mais especificamente onde Janeway e Paris desapareceram. Kes pede a Chakotay para ir à superfície, já que testemunhou toda a tragédia mentalmente.

No planeta, o homem que levou Janeway e Paris agora está com mais dois e eles acreditam que Janeway e Paris são espiões que investigam o grupo do qual os três homens fazem parte e que são contra as usinas de energia polárica. Janeway e Paris estão com altos índices de radiação no corpo por causa da tragédia com a energia polárica e os três homens acham que eles estiveram antes na usina, algo que Janeway e Paris negaram. Janeway é obrigada a abrir o jogo e diz que é capitã da Voyager. Ela também sente a presença de Kes, que está com o grupo avançado na superfície do planeta, procurando o melhor lugar para abrir uma fenda espacial. A ocampa também sente a presença de Janeway e comunica isso ao grupo avançado, que procura pela fenda com o tricorder.

Janeway conta toda a história para um dos homens. O grupo dele pretende atacar uma usina de energia e isso provavelmente vai levar à detonação. Janeway violou graciosamente a Primeira Diretriz sob o olhar perplexo (e cínico) de Paris. Mas o homem não acreditou muito na história de se voltar do futuro, das fendas subespaciais, etc.

Star Trek: Voyager – Time and Again (Review) | the m0vie blog
Doutor Personagem mais uma vez bem trabalhado…

O grupo avançado consegue localizar Janeway e Paris e ligam o tal gerador. Chakotay consegue acionar o comunicador de Janeway, mas os homens do grupo acham que é outra de suas mentiras. Eles tiram os comunicadores de Janeway e Paris e os levam. Uma fenda se abre sobre os comunicadores, mas se fecha depois de uns instantes. Só que não há mais ninguém na sala quando isso acontece. Enquanto são conduzidos pelo grupo, Paris pergunta a Janeway da violação da Primeira Diretriz e esta diz que a simples presença da Voyager lá já pode ter alterado o destino do planeta, pois quando eles voltam para o passado, o grupo, que queria atacar a usina em uma semana, decide antecipar o ataque para o dia seguinte, por causa de Janeway e Paris. Ou seja, evitar um ataque à usina e evitar a destruição do planeta agora era um problema da Voyager.

Os tripulantes da Voyager especulam que Janeway irá ao ponto da explosão e fazem nova tentativa. Janeway, ao chegar a usina, se recusa a ajudar o grupo que a apreendeu juntamente com Paris e isso detona um tiroteio onde Paris é ferido. O grupo entra na usina e Janeway os persegue. Já o grupo avançado chega à usina, mas no futuro, um dia depois, mas não consegue localizar Janeway. Entretanto, Kes diz que Janeway esteve lá. Janeway, por sua vez, rende o grupo e diz para eles esperarem até o momento da detonação. Céticos, eles esperam. O gerador começa a funcionar no grupo avançado e ele começa a abrir uma fenda subespacial perto dos conduítes de energia polárica, ou seja, será esse evento que detonará a explosão e não a sabotagem do grupo, como Janeway pensava. Janeway pede o seu phaser para um dos homens do grupo para deter a fenda que se abre. Quando ela faz isso, ela altera o fluxo dos acontecimentos. Todos desaparecem de onde estão e voltamos ao início do episódio. A onda de choque não se dá mas o planeta classe M é localizado. Como Neelix não conhece a civilização, Janeway não dá muita bola para o planeta. Mas Kes aparece na ponte falando da destruição. Kes pede para Janeway mostrar o planeta na tela, onde não se vê sinais de destruição, o que tranquiliza a ocampa. O planeta também é sondado e Tuvok diz que ele tem uma civilização humaniode provavelmente em estágio pré-dobra. Janeway diz que, pela Primeira Diretriz, esse planeta não deve ser investigado e diz para catalogar o planeta e continuar a viagem. Fim do episódio.

Captain Janeway and Tom Paris - Time and Again | Star trek voyager ...
Janeway e Paris tentam explicar o que vai acontecer ao planeta…

O que podemos dizer do episódio Mais Uma Vez? Em primeiro lugar, foi um episódio que seguiu mais ou menos a vibe do episódio anterior, “Paralaxe”, ou seja, um episódio de ficção científica raiz na história principal que aborda a questão espaço-temporal. Mas, se em “Paralaxe”, o mote foi um paradoxo espacial, em “Mais Uma Vez”, temos mais uma questão de paradoxo temporal. Um planeta que sofre uma tragédia tudo isso em virtude da presença da Voyager nas imediações, que afeta o fluxo temporal. O que provoca a explosão que destrói a superfície do planeta? À medida que assistíamos o desenrolar da história, mais parecia que foi a sabotagem do grupo contrário ao uso de energia polárica que tinha provocado a tragédia. Mas foi o próprio resgate do grupo avançado a Janeway que iria provocar a tragédia. Tudo iria por água abaixo não fosse a percepção aguçada de Janeway, repitamos aqui, uma renomada cientista além de capitã de nave estelar. Se num primeiro momento, ela defende a aplicação da Primeira Diretriz e não quer intervir no destino do planeta, ao perceber que a presença dela e de Paris anteciparam os eventos da sabotagem, a capitã sente que a presença da Voyager afeta a sequência dos eventos, justificando a violação da Primeira Diretriz e Janeway decide intervir. Ou seja, um clássico episódio de paradoxo temporal.

No mais, foi um episódio onde mais uma vez o Doutor foi um alívio cômico, repetindo a piada de que ele nunca é comunicado sobre nada que acontece na nave, pois ele é tratado como um mero holograma. Ou seja, uma piada que é novamente usada, tornando-se um pouco enfadonha. Com relação â construção de personagens, vimos mais um avanço em Janeway no seu feeling científico e uma sensitividade de Kes, que foi determinante em localizar Janeway nas fendas subespaciais.

Time and Again (episode) | Memory Alpha | Fandom
Foi a Voyager que ia causar a destruição de tudo…

Dessa forma, “Mais Uma Vez” é um episódio que mostrava uma tendência, ao início da temporada de Voyager, de se fazer episódios focados numa boa ficção científica. Paradoxos espaciais e temporais eram a vedete que mostravam a astúcia da capitã com assuntos de ordem científica.

Time and Again (episode) | Memory Alpha | Fandom
… e Janeway, um dia no futuro, evita a catástrofe…

Batata Séries – Jornada Nas Estrelas, DS9 (S01 Ep03), Prólogo Do Passado. Aparências Que Enganam.

Past Prologue (episode) | Memory Alpha | Fandom
Herói ou terrorista???

Dando sequência às nossas análises de episódios de Jornada nas Estrelas, retornemos a DS9 para falar do terceiro episódio da primeira temporada, intitulado “Prólogo do Passado”.

Star Trek: Deep Space Nine 1x03 "Past Prologue" | The Goddess ☥ Room
E surge Garak…

O plot consiste no seguinte. Garak é introduzido na série, se apresentando a Bashir, e querendo sua amizade. Passamos a saber que ele foi o único cardassiano que ficou na estação, que é alfaiate e que há uma suspeita de que ele é um espião dos cardassianos. Carregado de fina ironia, Garak assusta muito o doutor, que fica ressabiadíssimo. Bashir vai falar sobre o fato com a tripulação, mas não dão muita importância para isso, pois há um problema maior: uma nave cardassiana ataca uma nave bajoriana em espaço bajoriano. Os cardassianos não atendem às frequências de saudação e o bajoriano na nave solicita uma atracação de emergência. Ele é transportado para a estação quando a destruição da sua nave pelos cardassianos é iminente. Seu nome é Tahna Los e ele solicitou asilo político, além de conhecer Kira (lutaram juntos na resistência). O cardasssiano (Gul Danar) que perseguia Los entra em contato com a nave e exige que Los seja entregue a ele, pois ele cometeu crimes hediondos contra o povo cardassiano e é um Khon-ma. Sisko disse que Los pediu asilo e ainda não decidiu a questão, além dos cardassianos terem invadido o espaço bajoriano. Sisko pede que os cardassianos atraquem na estação para discutir a questão da invasão e de ter ameaçado uma unidade da Federação. Sisko e Kira vão à enfermaria e a segunda não quer que Sisko o entregue aos cardassianos. Entretanto, Sisko a lembra que o Khon-Ma é um grupo bajoriano que mata a torto e direito cardassianos e até colaboracionistas bajorianos. Kira e Sisko entram em atrito por causa de Los, pois ela acha que grupos como o Khon-Ma devem ser repatriados, enquanto que Sisko não quer abrigar “terroristas” na estação. Na conversa entre Sisko e Los, o segundo admite que continuou a matar cardassianos depois da suspensão da guerra, mas que estava cansado da matança. Ele também tinha cicatrizes de tortura dos cardassianos no corpo.

Trekabout Episode 149: A Man Alone/Past Prologue
Um cardassiano assustando um médico…

Kira fala com uma almirante da Frota à revelia de Sisko e esta depois comunica ao comandante que a bajoriana entrou em contato com ela no meio de uma reunião. Ainda, O’Brien fala a Sisko que ele não irá querer entregar ninguém aos cardassianos se soubesse o que os cardassianos fazem com seus prisioneiros.

Danar vai ao escritório de Sisko e ouve do comandante que concederá asilo provisório a Los, pois entregá-lo aos cardassianos poderia gerar atritos entre a Federação e Bajor, algo que iria contra as pretensões da Federação no setor. E que Danar poderia discutir com o governo provisório bajoriano a questão depois que Los fosse a Bajor. Danar sai do escritório de Sisko cuspindo marimbondos.

Kira se aproxima de Los e escuta dele que é contra a presença da Federação e dos cardassianos, mas Kira justifica a presença da Federação dizendo que ela pode proteger o buraco de minhoca e os bajorianos podem usá-lo para se tornar um fortalecido pólo comercial, mas Los ainda quer, ao velho estilo da Doutrina Monroe, “Bajor para os bajorianos”. Kira pergunta se Los saiu do Khon-Ma e ele diz que sim. Kira ainda diz que busca, junto aos ministros bajorianos, a anistia dos membros do Khon-Ma.

No Promenade, as irmãs klingons Duras (Lursa e B’Etor) se recusam a entregar suas armas e Odo diz que isso faz parte do procedimento de segurança da estação e,que se elas não querem obedecer, que elas podem ir embora. As irmãs entregam as armas e Odo dá, sarcasticamente, as boas vindas. Odo comunica a Sisko sobre as irmãs Duras e pergunta se ele não deve prendê-las e entregá-las aos klingons, pois elas são renegadas por terem insuflado a guerra civil no Império Klingon (procura lá em TNG). Sisko disse que elas não cometeram nenhum crime na estação e pede a Odo para ficar de olho. No Quark’s Bar, Los aparece e as irmãs Duras se levantam de suas cadeiras. Os três se encontram secretamente fora do bar. As duas cobram um ouro de Los, sinal de que fizeram algum serviço para ele. Odo, disfarçado de rato, escuta a conversa.

Past Prologue (1993)
Odo se revelará um importante amigo de Kira nesse episódio…

Kira diz a Sisko que as negociações da anistia a Los e ao Khon-Ma estão adiantadas e ela está agradecida da ajuda dele, além de dizer que mais dois membros do Khon-Ma estão a caminho da estação, pois a anistia pode sair. O comandante lembra a Kira que ela falou com uma almirante da Frota sem a autorização dele, lembrando a ela que, se ela passar por cima dele de novo, ele “servirá a cabeça dela numa bandeja”. Ao conversar com Odo, Sisko sabe do contato de Los com as Duras e suspeita que os dois membros do Khon-Ma estão trazendo o ouro do acordo. As irmãs Duras, nesse meio tempo, vão a Garak e tentam negociar Los para ele entregá-lo aos cardassianos, o que interessa Garak e reforça a sua posição multifacetada na estação já logo em sua primeira aparição na série.

Kira vai a Los falar da anistia em negociações avançadas e ele se revela ainda fazer parte do Khon-Ma. Assim, Los mentiu para Kira (ela mesma disse a ele que ele já havia mentido antes). Exaltando o nacionalismo bajoriano e perguntando de que lado Kira estava, Los a manipula e pede uma nave com motor de dobra para garantir a paz e a vitória bajoriana definitiva. E Kira cai na conversa em virtude de seu nacionalismo bajoriano.

Star Trek: Deep Space Nine Rewatch: “Past Prologue” | Tor.com
Kira precisa tomar uma decisão…

Os dois membros do Khon-Ma estão no promenade e Garak chama a atenção do fato para Bashir, convidando o doutor para “comprar” uma roupa em sua loja. Bashir comunica o fato a Sisko, dizendo que isso tem a ver com os membros do Khon-Ma, e Sisko diz para o doutor ir ao encontro, pois isso pode ser um sinal de que os cardassianos e a Federação têm um inimigo em comum.

Kira vai a Odo e fala, indiretamente, de seu dilema em ajudar o Khon-Ma ou ficar do lado da Federação. Odo chama Sisko para conversar com ela, achando ser essa a melhor solução. Já Bashir chega à loja de Garak e este pede que o doutor se esconda em um dos provadores para escutar o que as irmãs Duras dirão ao cardassiano. As irmãs Duras chegam e Garak consegue arrancar delas a informação de que Los receberá um cilindro de bilítrio, um material que pode ser usado para produzir uma bomba. O doutor leva essa informação para Sisko e a tripulação arquiteta uma emboscada para Los e o Khon-Ma no ponto de encontro entre Los e as klingons, o lado escuro de uma lua bajoriana.

Star Trek: Deep Space Nine 1x03 "Past Prologue" | The Goddess ☥ Room
Irmãs Duras surgem no imbróglio…

Kira e Los vão fazer a troca do ouro pelo bilítrio, enquanto que Sisko e O’Brien estão em outra nave auxiliar espreitando a troca. Uma nave cardassiana está invadindo o espaço bajoriano e Sisko vai com sua nave auxiliar interceptar a nave de Kira e Los. Este manda Kira entrar em dobra mas ela se recusa, Los ataca Kira e a rende, obrigando-a a entrar em dobra, mas ela se recusa. Los diz que se ela não entrar em dobra, que ele vai explodir a bomba e vai matar todas as colônias bajorianas da lua que orbitam. Kira entra em dobra e Sisko pede que a nave dela pare ou ele irá explodi-la. Los diz da bomba que irá explodir junto da nave. Sisko então pede ajuda à nave cardassiana e Danar aceita ajudar, não sem falar um “eu avisei”. Mas a nave cardassiana está mais atrasada e Sisko terá que atacar a nave de Kira e Los, sendo que este último quer usar a bomba para afetar o buraco de minhoca. Mas Kira faz uma parada súbita da dobra na nave que, em impulso, entra no buraco de minhoca. Depois de uma luta corporal entre Kira e Los, a bomba é expelida para fora da nave do outro lado do buraco de minhoca e explode sem provocar danos. Sisko chega e fala a Los que, se ele não se entregar, o comandante entregará Los para os cardassianos. Los acaba se rendendo a Kira. Los é preso na estação, não sem chamar Kira de traidora. Sisko e Kira se entreolham em silêncio. Fim do episódio.

O que podemos dizer do episódio “Prólogo do Passado”? Em primeiro lugar, é um episódio que segue na vibe de vermos Jornada nas Estrelas longe do ambiente utópico da Federação e da história se passar num lugar cheio de turbulências de um pós guerra. O personagem Tahnar Los era visto pelos cardassianos como um perigoso terrorista e Kira o via como um antigo líder radical que deveria ser reconhecido como herói e repatriado em tempos de paz. Isso tudo virou uma tremenda batata quente para Sisko, que inicialmente abraçou a causa heróica do personagem, até porque ele não queria atritos com Bajor. Mas, por outro lado, a tensão com os cardassianos aumentou. Entretanto, com o passar do episódio, Los mostra a sua faceta radical, o que deu razão aos argumentos dos cardassianos, revelando-se como um elemento perigoso para a paz em virtude de seu estilo belicista e terrorista, capaz de atacar seu próprio povo para aniquilar os inimigos cardassianos e a própria Federação, que também via como elemento invasor. Ao tentar explodir o buraco de minhoca, Los acreditava que ia se livrar tanto dos cardassianos quanto da Federação, mesmo que isso custasse uma posição de importância comercial para Bajor. Los é tão perigoso que ele consegue unir a Federação aos cardassianos para a sua captura. Toda essa querela provocada por Los ajuda a desenvolver a personagem de Kira, um antigo membro da resistência que precisa, em tempos de paz, ter outra mentalidade ao lidar com a Federação e os próprios cardassianos, pensando no que é melhor para Bajor agora dentro de novos parâmetros do pós guerra. Além disso, fica destacada a amizade entre Kira e Odo, onde a primeira vai pedir conselhos ao segundo quando a major não sabe se fica do lado de Los ou de Sisko. Outro ponto muito positivo do episódio foi a apresentação de Garak, desde o inicio se mostrando como um personagem de característica dúbia e altamente cínica, o que viria a ser a tônica da série. É interessante perceber que Garak faz amizade justamente com Bashir, que é visto como o personagem mais imaturo e um tanto abobalhado nesse começo de série. Fica uma questão aí: até que ponto essa amizade de Garak com Bashir ajudou a amadurecer o doutor?

Dessa forma, “Prólogo do Passado” é um excelente episódio que nos mostra que, em tempos de guerra e paz, nem sempre podemos ver as coisas do ponto da dicotomia dos mocinhos e bandidos. Se a perseguição a Los parecia inicialmente uma intransigência cardassiana, com o tempo, percebemos que o bajoriano era uma ameaça real à paz na região, a ponto de Kira rever seus conceitos e de Sisko se unir a Gul Damar para neutralizar Los. Outro episódio que vale a pena a revisita.

Doux Reviews: Star Trek Deep Space Nine: Past Prologue
Thana Los se revela uma pessoa muito perigosa…

Batata Séries – Jornada Nas Estrelas TNG (S01 Ep03), Código de Honra. É Jeito, Não É Força.

Code of Honor (episode) | Memory Alpha | Fandom
Picard vai pisar em ovos nesse episódio…

Dando sequência às nossas análises de episódios de Jornada nas Estrelas, retornemos à TNG e o episódio três da primeira temporada, intitulado “Código de Honra”.

Code of Honor | Explaining errors in Star Trek Wiki | Fandom
A Enterprise encontra uma cultura cheia de particularidades…

A Enterprise chega ao planeta Ligon II para adquirir uma vacina importante para a população de outro planeta, o que vai exigir habilidades diplomáticas para tal. É uma sociedade que tem uma história muito parecida com a humana e muito orgulhosa de si. O líder do planeta, Lutan, é recebido dentro de todo o seu cerimonial, e fica impressionado pelo fato de a chefe de segurança, Tasha, ser uma mulher. Um de seus subordinados entrega a vacina a Picard, mas Tasha se antecipa e diz que precisa verificá-la antes. O subordinado manda a “Mulher” se afastar e Tasha lhe dá um golpe para jogá-lo no chão. Após o incidente, Picard convida Lutan para fazer um social e encobrir o mal entendido. Lutan aceita e a tripulação da Enterprise se afasta. O subordinado de Lutan pede desculpas a ele, mas Lutan diz que os humanos são povos com costumes estranhos e diz também que Tasha é o que ele precisa.

This Star Trek The Next Generation Episode is Absurdly Racist ...
Tasha mostra seu treinamento no holodeck…

O encontro na nave vai muito bem e Picard oferece um presente da Terra. Picard pergunta se não pode oferecer mais uma cortesia e Lutan sugere fazer um treinamento de segurança com Tasha no holodeck. Tasha concorda. Riker, entretanto, fica ressabiado com isso, pois ele percebeu como os ligonianos ficaram surpresos em ver uma mulher no comando, pois são de uma sociedade patriarcal, como era várias sociedades humanas no passado. Tasha mostra um treinamento de aikidô e Lutan fica impressionado, enchendo Tasha de elogios. Mas na hora da despedida, Lutan leva Tasha à força da nave.

Jonathan Frakes And Denise Crosby Can't See Star Trek: TNG's ...
Tasha é sequestrada…

Picard tenta estabelecer contato com Lutan mas não recebe resposta. Como este é um povo que prima muito pela paciência, Picard decide, mesmo muito preocupado com Tasha, esperar. Crusher informa a Picard que não consegue replicar a vacina e que vai ter que obtê-la com os ligonianos, pois a doença que ela trata provoca uma morte terrível. E pede que Picard deixe Wesley entrar na ponte, o que ele faz. Data analisou mais a cultura ligoniana e viu que ela obedece um código de honra que muito valoriza atos heróicos. Lutan, ao seqüestrar Tasha, lançou mão dessa tradição para melhorar sua imagem. Lutan entra em contato e Data e Riker sugerem, que pela cultura ligoniana, Picard peça com educação que se devolva Tasha. Picard, que inicialmente foi ríspido com Lutan, faz o pedido de forma educada e Lutan os convida para descer. Riker não quer que Picard vá (o primeiro oficial que protege seu capitão) mas a tradição ligoniana exige a presença do capitão (uma justificativa para o capitão da nave descer numa missão arriscada com o grupo avançado, algo que era muito criticado em TOS).

Jessie Lawrence Ferguson | Memory Alpha | Fandom
Lutan usa sua cultura para lutar por seus interesses escusos…

Picard desce com Troi para se encontrar com Lutan, que apresenta a eles a sua esposa. Há toda uma formalidade e estranhamento cultural nesse encontro, pois Picard precisa seguir todo o cerimonial ligoniano e pedir perante o público num jantar a devolução de Tasha, que foi seqüestrada. Mas Picard não perdeu a oportunidade de ser um pouco sarcástico quanto à todo aquele cerimonial. Pisando em ovos, essas duas culturas combinam em se encontrar para o jantar (um detalhe aqui: os ligonianos são todos negros e se vestem com motivos um tanto orientais, se aproximando do árabe).

1x04 - Code of Honor - TrekCore 'Star Trek: TNG' HD Screencap ...
Picard vai lançar mão de muita diplomacia para lidar com a situação escabrosa…

No jantar, Picard faz todo o cerimonial para pedir Tasha de volta, bem diplomático como ele o é. Lutan diz que ele foi muito correto em seu pedido, que vai dar a vacina, mas que quer Tasha como sua “primeira”. A então “primeira” de Lutan evoca a tradição e propõe um duelo até a morte com Tasha. Picard se nega e Lutan diz que se ele se negar, não dará mais a vacina. Numa conversa entre Tasha, Picard e Troi, esta última, que percebe como Lutan é um macho alfa bem primário, diz que tudo isso seria bem mais simples sem a Primeira Diretriz. E Picard diz que pensou o mesmo.

A doença avança no planeta que precisa da vacina e, tanto Troi  quanto Tasha dizem que é melhor a útima aceitar o duelo, pois Tasha acredita que terá poder para vencer e dar a Picard a capacidade de barganha com Lutan. Picard vai falar com Lutan e diz que vai ordenar que Tasha lute. Fica claro na conversa que a estrutura patriarcal do planeta dá ao homem as terras que as mulheres possuem e que Lutan não tem tantas terras assim. Lutan não tem nada a perder nesse desafio então.

Picard pede que Data e La Forge desçam e analisem as armas ligonianas para Tasha saber o que espera. Riker fica de sobreaviso de transportar Tasha caso a vida dela corra risco. Tasha pede para conversar com a primeira e diz a ela que não luta por Lutan, somente pela vacina e tenta evitar o combate. A primeira diz que pode matar Tasha e que o combate deve ocorrer. La Forge e Data examinam as armas e verificam que elas são muito mortais e adequadas para uma mulher manusear. Um pouco antes da luta, Picard pergunta a Tasha se ela quer lutar e se está preparada. A chefe de segurança diz que está bem preparada para lutar. Mas, ao ver as armas e a primeira treinando, deu aquele medinho em todos da tripulação. Data sobe à Enterprise para passar instruções de Picard a Riker, que não sabemos de antemão.

Code of Honor (episode) | Memory Alpha | Fandom
Apesar das tentativas de Tasha, ela não consegue evitar o duelo…

A luta começa, muito equilibrada. Quando a primeira quase é golpeada por Tasha, o subordinado de Lutan pede que ela tenha cuidado e Lutan lança um olhar sobre ele. Tasha atinge a primeira com uma luva cheia de espinhos com veneno e se joga sobre ela, que está deitada. As duas são teletransportadas para a Enterprise. Crusher atende a primeira para neutralizar o veneno. Na superfície do planeta, Picard acerta tudo com Lutan, já que a sua primeira foi derrotada, e as vacinas serão entregues. Tasha irá com Lutan se quiser. Mas Picard acaba transportando todo o grupo avançado, Lutan e seu subordinado de surpresa para a Enterprise. Lá, a primeira está viva e Lutan quis desfazer o acordo da vacina. Crusher diz que a primeira ficou morta por alguns instantes e foi trazida à vida, está tudo nos registros médicos. A primeira diz que, com sua morte, o acordo matrimonial está desfeito e Lutan perde todas as suas posses. A primeira diz que ouviu o subordinado chamando por ela na luta e decide se casar com ele, passando todas as suas posses para o novo marido e deixando Lutan como seu número dois. Tasha, que tinha alguma atração por Lutan, diz que ele perdeu tudo. A primeira pergunta se Tasha quer Lutan, mas ela diz que não, que haveria complicações. O antigo subordinado, agora líder, diz a Picard que sua sociedade pode não ser desenvolvida tecnologicamente, mas que é muito civilizada. Picard assente respeitosamente com a cabeça mas com uma expressão cheia de ironia.

O episódio termina com Wesley deixando a ponte depois de ajudar a Riker, e a nave se dirigindo ao planeta que precisa a vacina.

Star Trek: The Next Generation Star Jonathan Frakes Describes Code ...
Nem sempre Picard tem paciência com Lutan…

O que podemos dizer do episódio “Código de Honra”? Em primeiro lugar, é mais um clássico episódio de choque cultural e da não violação da Primeira Diretriz. Para isso, deve-se colocar a cuca para funcionar na hora de atuar. E aí é que está a graça do episódio. Nada de cenas de ação que atropelam tudo, onde o uso da força é a atração. Mas sim é tudo uma questão de jeito, onde a inteligência é que dá as cartas. A cultura ligoniana não era de todo estranha, pois lembrava muito algumas das culturas antigas da Terra, excessivamente patriarcais e machistas. Um código de honra cheio de regras obrigava os tripulantes da Enterprise a pisarem em ovos, ainda mais quando houve o seqüestro de Tasha, considerado um ato de guerra nas regras da Federação, mas uma formalidade para elevar a imagem do líder local. Apesar da situação complicada, foi um deleite ver o Picard das antigas lançando mão de toda a sua diplomacia, não sem uma ironia fina que era uma atração à parte. Uma certa má vontade contra a Primeira Diretriz é notada, principalmente na boca de Troi que, também pudera, estava revoltada contra a posição submissa da mulher na cultura ligoniana. Agora, o que foi muito curioso ver a atração física de Tasha para com Lutan, mesmo que ele tenha a seqüestrado. Mesmo sabendo que um relacionamento a dois não daria certo (seria “complicado”) Tasha chegou a se preocupar com Lutan quando ele perdeu todo seu poder e posses. Uma coisa que incomodou um pouco foi a cara dada aos ligonianos, todos negros e com motivos orientais que se aproximavam um pouco da cultura árabe, representando uma cultura ancestral, machista e patriarcal, em oposição aos brancos desenvolvidos, tecnológicos e tolerantes da Federação, onde La Forge é a exceção que confirma a regra (e num episódio onde não tivemos a presença de Worf). Confesso que isso me incomodou um pouco, pois se aproximou bastante do discurso civilização X barbárie que víamos no processo imperialista do século XIX e início do século XX, cuja expressão mais aguda seriam os regimes fascista e nazista.

O desfecho do conflito foi usado com muita inteligência. Ao teletransportar a primeira e Tasha para a Enterprise e salvar a primeira, que esteve morta por instantes, a cultura local não foi violada e o problema foi solucionado, pois Lutan perdeu sua autoridade e Tasha ficou livre. Tal desfecho resgata o que temos de melhor em Jornada nas Estrelas, pois resolve-se os conflitos não com a força, mas sim com a cuca.

Star Trek: The Next Generation Re-Watch: “Code of Honor”
E começa o duelo…

No mais, tivemos alguns momentos cômicos e interessantes com Data que, na sua aproximação aos seres humanos, ele tenta contar piadas a La Forge e não consegue tirar graça quando tem essa intenção, mas consegue ser bem engraçado quando não o quer, e aí essas experiências somente deixam o andróide ainda mais intrigado com os humanos.

Code of Honor" (S1:E4) Star Trek: The Next Generation Episode Summary
A Primeira escolhe seu novo marido…

Dessa forma, “Código de Honra” é um bom episódio de TNG, pois lida com a questão do estranhamento cultural, do respeito à Primeira Diretriz e com a resolução do conflito pela inteligência e não pela força. É tudo uma questão de jeito.

Star Trek TNG Code of Honor Image 24Reggie's Take.com
Uma nova hierarquia…

Batata Séries – Jornada Nas Estrelas, A Série Clássica (S01 Ep03), O Estranho Charlie. Filhote De Q?

1x02 - Charlie X - TrekCore 'Star Trek: TOS' HD Screencap & Image ...
A Enterprise recebe um estranho passageiro…

Dando sequência às nossas análises de episódios de Jornada nas Estrelas, retornemos à série clássica para falar do terceiro episódio da primeira temporada, intitulado “O Estranho Charlie”.

Robert Walker Jr., 1940-2019
Charlie parecia um adolescente normal…

Qual é o plot desse episdódio? Um cargueiro se encontra com a Enterprise para trazer um estranho passageiro: um adolescente náufrago chamado Charlie Evans, que viveu quatorze anos sozinho, desde que tinha apenas três anos. Ele será transferido pela Enterprise para uma colônia e mal teve contato com humanos. O capitão do cargueiro está em silêncio e Charlie faz uma cara onde revira os olhos e, logo, o capitão do cargueiro enche Charlie de elogios, dizendo que ele conseguiu, com sua inteligência, sobreviver ao naufrágio de forma bem competente. Charlie fica curioso com a Enterprise e as centenas de tripulantes, interrompendo a conversa de Kirk com o capitão do cargueiro à todo momento. Kirk chama a atenção de Charlie para isso. Kirk pergunta se o capitão precisa de alguma coisa e o capitão diz que não precisa de nada (nem de conhaque sauriano). Kirk estranha isso. Kirk manda a ordenança Rand levar Charlie para seus aposentos e o garoto fica estupefato em ver uma mulher pela primeira vez.

Review “Charlie X” Remastered – TrekMovie.com
… que não sabia lidar com as mulheres…

Charlie faz exames médicos na enfermaria e está em perfeita saúde. Ele pergunta a McCoy se o doutor gosta dele e McCoy diz “Por que não?”. Charlie dizia que as pessoas da outra nave em que ele estava não gostavam dele. McCoy, achando que aquilo é uma inofensiva insegurança adolescente, o conduz para os aposentos. Charlie anda pela nave e vê dois tripulantes se cumprimentando, dando um tapa no outro. Charlie encontra Rand e consegue dar o perfume preferido dela, intrigando a tripulante. Eles marcam para conversar e, depois do combinado, Charlie dá um tapa na bunda de Rand, como viu os outros dois tripulantes fazerem. A ordenança chama a atenção de Rand, dizendo que ele não pode fazer isso com as mulheres e pede para que o capitão ou o doutor explicarem por que.

Robert Walker, Jr. from Star Trek's “Charlie X” has died — Daily ...
Bom em truques com cartas…

Na ponte, McCoy insiste a Kirk que Charlie precisa de uma figura paterna e Kirk joga a batata quente para o doutor. Já Spock insiste na hipótese de que o planeta em que Charlie estava era habitado, pois Charlie, só com três anos e um ano de comida, não poderia ter sobrevivido sozinho.

Charlie Evans from the Star Trek episode "Charlie X". #StarTrek ...
Mas tinha dificuldades para aceitar a derrota no xadrez tridimensional…

Na área de recreação, temos a famosa sequência onde Uhura canta com o acompanhamento de Spock tocando a sua lira irada. Uhura canta e a letra da música é mais uma cantada explícita em cima do vulcano (J. J. Abrams deve ter visto isso). Charlie, que estava dentro da área de recreação, também recebe uma canção de Uhura, mas ele não gosta de ficar exposto perante o público e, com o seu poder, tira a voz de Uhura. Charlie faz alguns truques de cartas para impressionar Rand e faz sucesso entre as pessoas. Mais tarde, Charlie pergunta a Kirk por que não pode bater na bunda de mulheres e o capitão fica todo sem jeito para explicar, num exemplo explícito de puritanismo WASP da década de sessenta dos Estados Unidos em pleno século 23.

Pin em TV Serie: Star Trek / Jornada nas Estrelas
Kirk, mesmo com sua barriguinha, leva o garoto para treinar luta…

Kirk recebe um chamado de que o capitão que trouxe Chrlie quer falar com ele. O rapaz pediu para ir à ponte junto. O capitão não consegue se comunicar com a nave e o sinal desaparece. Charlie falou que a nave era “muito fraca”. Logo depois, Spock descobre pelos sensores que a nave onde estava o capitão explodiu. Ainda, Kirk havia mandado sintetizar carne de peru para o Dia de Ação de Graças. E agora a cozinha da nave estava com perus de verdade. Cherlie escondeu um sorrisinho e saiu da ponte pelo elevador. Tudo isso acabou despertando em Kirk suspeitas sobre Charlie.

Charlie X « Mission Log Podcast
Essas coisas de macho alfa deixaram o menino assustado…

Kirk e Spock jogam xadrez tridimensional (provavelmente, a primeira vez que esse jogo aparece na série). Spock diz taxativamente que Charlie deve ter algo a ver com o evento da explosão da nave. Kirk, embora com suspeitas, ainda acha que Spock está exagerando. Charlie entra na área de recreação e ele e Spock começam a jogar. Spock vence Charlie, mas ele não aceita. Spock simplesmente sai de perto e deixa Charlie com cara de tacho. Charlie se revolta e derrete as peças brancas. Charlie chega perto de Rand e praticamente se declara a ela. Rand chega a Kirk e pede para que ele fale com Charlie para se afastar dela, pois pode magoá-lo. Kirk, com um olhar maroto, diz que vai fazer isso. O capitão diz que Charlie não pode pressionar e fala que há uma diferença de idade entre Charlie e Rand (mais uma vez a mentalidade da década de sessenta) e que Charlie deve aprender a conviver com isso (há coisas no Universo que podemos ter e outras que não). Kirk lave Charlie para fazer exercícios físicos, mas o garoto não quer muito fazer isso. Kirk insiste e treina luta com Charlie. O capitão derruba o garoto e um tripulante acha graça. Charlie, enfurecido, faz o tripulante desaparecer. KIrk chama a segurança para confinar Charlie nos aposentos. Charlie imobiliza os seguranças. Kirk, no melhor estilo macho alfa, ordena que Charlie vá aos aposentos, ou vai “pegá-lo na marra”. Charlie acaba cedendo e vai com os seguranças. Kirk descobre que todos os phasers da nave desapareceram,  alem do phaser do segurança que tentou imobilizar Charlie.

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Fofamente se declarando para a Ordenança Rand…

Kirk, Spock e McCoy se encontram na sala de reuniões e o vulcano diz que os thasianos (povo alienígena do planeta em que viveu Charlie) têm o poder de transmutar objetos e torná-los invisíveis, e que parece que Charlie tem o mesmo poder. Eles chegam à conclusão de que Charlie é um perigo, pois tem todo esse poder com uma mentalidade adolescente e Kirk é a única pessoa que o respeita. Nisso, Charlie entra com um segurança. Kirk pergunta se Charlie destruiu a nave e ele diz que sim, pois a tripulação não gostava dele.

Kirk não quer levar mais Charlie para a colônia em virtude do perigo do garoto. Mas Charlie toma o controle da nave e coloca Spock numa situação humilhante, forçando-o a recitar poesias. Kirk lhe dá uma bronca e o garoto recua. Spock diz que uma hora harlie não mais recuará. E Kirk sabe disso. Charlie invade os aposentos de Rand e tenta forçá-la a amá-lo. Ela lhe dá um tapa no rosto e ele faz Rand desaparecer. Spock e Kirk, que ficaram sabendo que Charlie estava nos aposentos de Rand porque ela ligou o áudio e eles escutaram da ponte, estão nos aposentos da ordenança e escutam Charlie dizer que precisa de Kirk, pois a Enterprise é uma nave maior para Charlie controlá-la sozinho. Charlie começa a tripudiar da tripulação.

Star Trek - Charlie X, Stalker - YouTube
Imobilizando Kirk e Spock…

Na ponte, Uhura diz que está recebendo uma transmissão nave a nave. Kirk pergunta a Charlie sobre isso mas o garoto desconversa. KIrk percebe que, desde que Charlie assumiu o controle da nave que ninguém mais desapareceu. Kirk orquestra um plano com McCoy e Spock (Charlie havia saído da ponte momentaneamente) para distrair Charlie e sedá-lo, mesmo sendo muito arriscado, pois Kirk achava que, assim que a Enterprise chegasse à colônia, Charlie se livraria de todo mundo. Kirk desafia Charlie e o garoto imobiliza o capitão. Uma mensagem chega à nave vinda de Thasius. Rand aparece na ponte. Algo aparece na tela e Charlie começa a gritar, implorando que não deixem levá-lo. Uma face verde aparece flutuando na ponte e Charlie, totalmente vulnerável, implora mais ainda para ser levado para a colônia. O thasiano (a face verde) disse que assumiu sua forma de séculos atrás para falar com a tripulação e se desculpa por não ter conseguido salvar a primeira nave, mas colocou tudo de volta ao normal na Enterprise. Charlie implora para ficar na Enterprise. Kirk fala ao thasiano que Charlie poderia viver com os humanos e ser ensinado a não usar seus poderes. O thasiano diz que isso seria impossível e, das duas uma: ou Charlie destruiria a raça humana ou os humanos o destruiriam. Já os thasianos cuidariam de Charlie. O thasiano fala para Charlie vir com ele e desaparece. Charlie implora para ficar, pois os thasianos não podem sentir, amar, nem serem tocados. Implorando a Rand e à tripulação, Charile lentamente desaparece. Uhura diz que Charlie está à bordo da nave thasiana e que ela vai embora. Rand chora e Kirk diz que tudo está bem. Mas toda a tripulação está mortificada na ponte. Fim do episódio.

O que podemos dizer desse episódio escrito por D. C. Fontana e Gene Roddenberry? Em primeiro lugar, é impossível não se lembrar de Q em TNG quando vemos esse episódio, lembrando que o episódio piloto de TNG, onde Q aparece pela primeira vez, foi também escrito pela dupla Fontana – Roddenberry. E aí a gente se pergunta se Q não recebeu influência de Charlie, até porque, mesmo sendo interpretado por um adulto como John De Lancie, Q, em sua ironia e sarcasmo, poderia ser engraçado bem ao estilo da imaturidade de um adolescente (podemos nos lembrar quando o contínuo chega a tirar os seus poderes, assim como vemos Charlie ficar subjugado pelos thasianos). De repente, Q, que aparece justamente no início de TNG (assim como Charlie aparece bem no início de TOS), pode ter sido uma visão um pouco mais desenvolvida e trabalhada de Charlie, pois no fundo, os dois têm a mesma essência (superpoderes que a tudo subjugam). De qualquer forma, foi angustiante ver toda uma tripulação, nave e tecnologia ficarem à mercê de um adolescente tão instável emocionalmente, sendo que o único freio desse adolescente era o respeito por Kirk e a necessidade de ter o capitão por perto, já que Charlie não conseguia (e essa era a sua limitação) controlar a Enterprise como um todo, por ser uma nave muito grande. Ainda assim, era muito pouco para a tripulação ter um controle mínimo sobre o garoto.

Pin en TV Serie: Star Trek / Jornada nas Estrelas
Charlie se torna uma ameaça a todos, especialmente Rand…

Os ecos de uma produção datada novamente apareceram nesse episódio. Um puritanismo WASP novamente assombrou a utópica tripulação do século 23, sendo na falta de jeito de Kirk de explicar a Charlie como um homem se deve tratar uma mulher, seja na recusa de um romance entre Charlie e Rand por esta última ser mais velha. Como já foi mencionado em análises anteriores, por melhores que sejam as intenções utópicas da obra e de quem as escreve, é muito difícil se escapar dos vícios e hábitos da época em que a obra é escrita. Pelo menos, houve um bom desenvolvimento da personagem da ordenança Rand, que deixou de ser o mero símbolo sexual de “O Sal da Terra” para ser uma personagem com mais profundidade neste episódio, já que o relacionamento entre Rand, como uma mulher mais velha que precisa lidar com a delicada situação de não magoar uma paixão adolescente, e o inexperiente Charlie, levou a ótimos momentos no episódio. Ajudou também na construção de Kirk, que agiu em boa parte do episódio como uma espécie de apoio paternal. Creio que tudo isso tenha acontecido por mérito de Dorothy Fontana, que foi uma excelente roteirista de Jornada nas Estrelas, mesmo que alguns digam que Rooddenberry teve uma participação no que ela escreveu. Quando vemos uma história escrita por Fontana, sempre nos vêm à cabeça a sensação de que há um algo a mais ali.

Morre Robert Walker Jr., do episódio "Charlie X" | Trek Brasilis ...
O ator Robert Walker Jr., recentemente falecido…

Mas o mais surpreendente é o desfecho do episódio, que dá mais profundidade ainda à Charlie. Se no início do episódio a gente simpatizava com o garoto por sua inexperiência adolescente (com a qual todos nós poderíamos perfeitamente nos identificar), com o desenrolar da história, sua onipotência e instabilidade o transformam num vilão maligno. Mas o fim do episódio deixa nosso Charlie numa situação de vulnerabilidade total frente aos thasianos. E aí, passamos a sentir pena do garoto, pois, contra a sua vontade ele vai ficar preso à uma civilização que não tem qualquer sentimento ao toque humano e ao amor, coisas que ele tinha experimentado na Enterprise e queria explorar mais. Voltamos a ver Charlie como um adolescente inexperiente e que não sabe lidar com suas emoções. Entretanto, aquele mal ao qual Charlie será obrigado a passar é absolutamente necessário, já que seu convívio com os humanos é extremamente perigoso. Resta à tripulação assistir, mortificada, ao destino imposto à Charlie e, principalmente, a vermos Rand, chorosa e entristecida, lamentar o que aconteceu com o adolescente, justamente Rand, que mais havia sofrido nas mãos de Charlie. Ou seja, um desfecho que complexifica um personagem que poderia ser visto apenas como um plano vilão odioso que merece ser castigado. Devemos sempre nos lembrar que Jornada nas Estrelas era um programa televisivo de entretenimento e tal profundidade de personagem em Jornada nas Estrelas era, já nos primeiros episódios, um cartão de visitas de que não víamos um produto cultural qualquer.

Dessa forma, se “O Estranho Charlie” nem sempre é bem visto por algumas pessoas do fandom, ainda assim é um episódio cheio de virtudes da gênese de Jornada nas Estrelas e merece ser revisitado.  

Star Trek – Charlie X (Review) | the m0vie blog
Um desfecho de dar pena…

Batata Séries – Jornada Nas Estrelas Enterprise (S01 Ep 03), Explorar Novos Mundos. Preconceitos Sem Freios.

Strange New World (episode) | Memory Alpha | Fandom
Um planeta classe M

Dando sequência às nossas análises de episódios de Jornada nas Estrelas, retornemos à Enterprise e falemos do terceiro episódio da primeira temporada, intitulado Explorar Novos Mundos.

Enterprise - "Strange New World" Season 1 Episode 4
O planeta parecia um lugar muito aprazível…

No que consiste o plot? A Enterprise encontra um planeta muito parecido com a Terra, o que deixa a tripulação animadíssima e pronta para descer à superfície. Os scans não mostram a presença de vida humanóide. T’Pol, entretanto, fala em escanear o planeta com sondas primeiro para verificar se ele é da classe Minshara (apto à vida humanóide). Esse scan duraria uma semana. Archer pede que se forme uma equipe de pesquisa que vá descer ao planeta, mais uma vez não escutando as recomendações de T’Pol.

Star Trek Weekly Pics » Archive » Daily Pic # 1973, “Strange New ...
Uma equipe vai ficar na superfície do planeta…

A tripulação desce ao planeta e os humanos parecem numa colônia de férias: tiram fotos, Archer leva o Porthos, etc., enquanto que T’Pol só pensa na missão. A equipe pesquisa o planeta e um grupo com dois tripulantes, Travis, Trip e T’Pol ficam no planeta. Durante a noite, sob muitos vaga-lumes, um dos tripulantes fica com dor de cabeça e pede para descansar. Os vaga-lumes somem e logo aparece uma violenta rajada de vento. Um bicho aparece no saco de dormir de Trip e a ventania continua intensa. Trip sugere a T’Pol que eles procurem uma caverna.

Kellie Waymire (Lanyard in VOY: Muse and Crewman Cutler in ENT ...
Mas logo esse planeta mostraria não ser tão aprazível…

Na Enterprise, Reed sugere a Archer que se busque a equipe avançada em virtude do vento, mas T’Pol, interpelada por Archer pelo rádio, diz que as condições de pouso para uma nave auxiliar são muito difíceis com o vendaval. A equipe já está numa caverna, mas esqueceu a comida no acampamento. Travis vai buscá-la e vê vultos de pessoas. Ele diz isso para a equipe e T’Pol diz que, pelo scaner, não há mais nenhuma forma de vida humanóide no planeta além deles. O tripulante que estava com dor de cabeça, ouviu sons no acampamento e agora está descontrolado na caverna, dizendo que há alguém lá e que todos precisam sair dali. O tripulante (Ethan) sai correndo para fora da caverna e Trip vai, juntamente com Travis, atrás dele. Já T’Pol penetra mais fundo na caverna para ver se há alguém lá dentro mesmo. Trip vê uma figura humana “saindo” de uma pedra como se estivesse camuflada nela. Travis quase cai num precipício e Trip fala para eles voltarem. A outra tripulante, que ficou sozinha na caverna, a explora e encontra T’Pol falando com dois homens. Ao perguntar à vulcana quem eram, T’Pol disse que não havia ninguém lá. Trip e Travis comunicam a situação a Archer, que desce com Reed na nave auxiliar. Eles conseguem contato com Ethan, que responde agressivamente pelo rádio. Já Trip e Travis pressionam T’Pol, depois que a outra tripulante disse que a vulcana falava com duas pessoas. Archer tenta pousar, mas não consegue e pede para Trip gerenciar a situação, tentando estabelecer contato com os alienígenas se achá-los. Trip continua a pressionar T’Pol, que se mantém impassível. Travis fala da falta de água da equipe e T’Pol fala que há uma reserva de água no interior da caverna Trip, desconfiado, rende T’Pol e tira sua arma, não indo buscar água junto com ela, como sugerido pela vulcana. Archer tenta se comunicar com Ethan, mas ele grita de dor. Não há outra alternativa a não ser teletransportar Ethan para a nave, mas seu sinal está contaminado e ele chega à Enterprise com um monte de folhinhas agarradas a seu corpo. A equipe da caverna está perdendo totalmente o controle emocional e se tornando agressiva, inclusive T’Pol, vendo ainda coisas se movimentando nas pedras.

1x04 - Strange New World - TrekCore 'Star Trek: ENT' Screencap ...
Conversas à beira da fogueira…

Na Enfermaria, Phlox tirou as plantinhas de Ethan, mas detectou um psicotrópico no seu sangue, encontrado em plantinhas aparentemente inofensivas. Eles acreditam que o vendaval contaminou a todos e, ao entrar em contato com T’Pol, a vulcana estava com uma arma apontada para a sua cabeça por um Trip descontrolado. Archer falou do psicotrópico para a equipe e recomendou que eles se isolassem no fundo da caverna até o vendaval passar, quando seriam resgatados. Mas Trip está muito loucão e ameaça T’Pol, que também aponta uma arma para ele falando palavras em vulcano, provavelmente ofensivas.

ENT] Strange New World - Let's Watch Star Trek
Obrigados a se esconder numa caverna…

Na Enterprise, Ethan está à beira da morte, pegando Phlox de surpresa, que estudou o caso e fabrica um antídoto. O médico acredita que os outros tripulantes na superfície foram menos expostos. O problema é que o vendaval não passa e as vidas da equipe estão ameaçadas. Archer então diz que vai enviar a medicação para a equipe que precisa ministrá-la. Mas Trip está muito descontrolado para isso. T’Pol fala em vulcano para Hoshi que Trip irá matá-la e Hoshi fala isso para Archer. O capitão inventa uma história baseada nas alucinações de Trip para ele poder ser convencido a deixar T’Pol pegar o remédio, que foi teletransportado para a boca da caverna. T’Pol toma o controle da situação e tonteia Trip. Pega o remédio e inocula em todos.

Star Trek: Enterprise – Strange New World (Review) | the m0vie blog
Alucinações despertam agressividade…

Quando todos estão normais, Trip se arrepende das palavras preconceituosas que falou a T’Pol e diz que um professor vulcano que ele teve disse a seguinte frase: “Desafie seus preconceitos e eles te desafiarão”. T’Pol disse que talvez fosse a hora dele colocar esse ensinamento em prática. Fora da caverna, está um dia lindo e a nave auxiliar vem buscar a equipe. Fim do episódio.

Star Trek Enterprise - 1x04 - Strange New World
O ódio ao outro aflora…

O que podemos falar de “Explorar Novos Mundos”? A querela entre os humanos e a vulcana T’Pol continua, com a imaturidade humana ainda premente, o que sempre dá uma razão a T’Pol. A sede por exploração faz Archer ignorar totalmente os protocolos impostos pelos vulcanos que, obviamente, surgiram com experiências anteriores. E aí, o planeta altamente idílico revela-se extremamente perigoso com o psicotrópico que acaba enlouquecendo a todos. O fato do psicotrópico ter tirado o autocontrole dos tripulantes na superfície do planeta foi um dado interessante a ser adicionado para trabalhar a questão do preconceito. Se a civilização humana do século 22 diz que aboliu seus preconceitos, o descontrole do psicotrópico aflora esses preconceitos em toda a sua plenitude, afetando até a asséptica T’Pol, que respondia na língua vulcana de forma agressiva todos os rompantes de preconceito e violência de Trip. Pelo menos, a gente tem que bater palmas para Archer na resolução da crise (para compensar, pelo menos, a sua irresponsabilidade em mandar um grupo avançado para a superfície de um planeta que sequer foi escaneado detalhadamente, como T’Pol recomendara). O capitão foi na vibe das alucinações de Trip e conseguiu bolar uma estratégia para T’Pol (menos afetada pelo psicotrópico) render Trip e pegar a medicação enviada por Phlox para eles se curarem. Ao final, quando todos já não estão mais afetados, Trip manifesta seu arrependimento em tudo o que disse à T’Pol e citou a frase de um professor vulcano que teve: “Desafie seus preconceitos e eles te desafiarão”. T’Pol responde que deve estar na hora de Trip colocar esse ensinamento em prática. Ou seja, vemos Trip se arrependendo do que diz a T’Pol e indiretamente se desculpando com isso, e vemos a vulcana aceitando as desculpas, mas com aquela pontinha de mágoa que a lógica vulcana a obriga a esconder, lembrando sempre que os vulcanos têm sim emoções, mas que eles usam a lógica para reprimi-las, evitando, assim, seus dias de barbárie.

Ainda com relação à querela entre vulcanos e humanos no século 22. Essa imaturidade humana parece muito sinalizar uma cultura ocidental mais estadunidense, impetuosa, ávida por levar o melhor do ser humano a outras culturas, e intransigente com a postura mais conservadora dos vulcanos em práticas de primeiro contato, até em virtude da experiência acumulada com a exploração espacial e práticas de primeiro contato. Mas, façamos uma reflexão aqui. Essa característica ocidental e estadunidense tem legitimidade para ser porta-voz da cultura de toda a humanidade? Eu me pergunto se haveria as mesmas querelas entre vulcanos e humanos se a tripulação da Enterprise contasse com orientais, por exemplo, mais afeitos à questão da disciplina. Sabemos que falamos de uma série produzida nos Estados Unidos, com seus valores e identidades específicas. O problema é que eles travestem esses valores como universais por estarem representando a humanidade como um todo. Talvez isso seja um problema nessa série. Aliás, em sua própria abertura, a ausência de Santos Dumont (para nós, brasileiros) e, mais gravemente, do Sputnik e Yuri Gagarin, incomodam, e muito, reforçando essa posição estadunidense como de uma centralidade questionável.

My Year Of Star Trek: Enterprise: Strange New World
Plantas entorpecentes…

Para encerrar, temos aqui uma curiosidade: vemos, pela primeira vez a citação de planeta classe M, e esse M vem de Minshara.  

Dessa forma, “Explorar Novos Mundos” é um episódio de Enterprise que segue a proposta inicial da série de marcar o conflito entre humanos e vulcanos, com o ingrediente de colocar os tripulantes numa situação de afloramento dos preconceitos sem limites e de como eles teriam que conviver com isso posteriormente. Mais um passo na educação desses humanos em direção a uma maior maturidade na exploração espacial.

Star Trek: Enterprise" Strange New World (TV Episode 2001) - IMDb
A nave auxiliar aparece depois do pesadelo…

Batata Séries – Jornada Nas Estrelas Voyager (S01 Ep 02), Paralaxe. Corrigindo Distorções Dentro E Fora Da Nave.

Parallax (episode) | Memory Alpha | Fandom

Dando sequência às análises de episódios de Jornada nas Estrelas, vamos visitar hoje Voyager e o segundo episódio da primeira temporada intitulado “Paralaxe”.

Qual é o plot desse episódio? Ele começa com uma briga entre Torres e um tenente na engenharia. Torres acaba agredindo o tenente e fica confinada aos aposentos. Tuvok fala a Chakotay da necessidade de puni-la para não se perder a obediência dos subordinados. Por outro lado, os maquis falam a Chakotay que estão prontos para um motim se necessário. Pisando em ovos, Chakotay repreende Torres duramente mas acredita que ela consegue chegar à chefe de engenharia na nave.

Is Star Trek: Voyager: Season 1: Parallax on Netflix Costa Rica?
Torres. Muitos problemas de temperamento…

Numa reunião na Voyager, algumas coisas são definidas para a realocação de pessoal na nave. Será nessa reunião que Chakotay indicará Torres para o comando da Engenharia, que Paris será uma espécie de paramédico a auxiliar o Doutor, e que Neelix e Kes vão sugerir para montar uma cozinha e uma horta hidropônica na nave, pois os replicadores deram defeito. Entretanto, um forte solavanco interrompe de forma abrupta a reunião, com uma singularidade quântica bem à frente e uma outra nave presa no horizonte de eventos da singularidade. A Voyager tenta contato com a nave em vão e pensa em estratégias para retirar a nave de lá. Chakotay, da ponte, entra em contato com Torres, na engenharia, para ver o que se pode fazer e ela sugere um raio trator subespacial. Mas essa atitude de Chakotay irritou Janeway, que disse que ele está passando por cima da hierarquia. Chakotay rebate dizendo que só poderá ajudar Janeway na nave se ele e os maquis tiverem alguma autonomia e não serem meros fantoches nas mãos dos oficiais da Federação, ficando bem claro o clima tenso entre os dois.

Parallax (episode) | Memory Alpha | Fandom
Tensões entre Chakotay e Janeway…

Na enfermaria, Kes pega um pouco de terra com o Doutor para a horta hidropônica e este se sente subaproveitado na nave. Ainda, sua projeção holográfica está com defeito e a imagem do Doutor diminuiu de tamanho.

O raio trator é acionado, mas não funciona e quase que a Voyager é atraída para a singularidade. Janeway decide ir para um sistema próximo pois, segundo Neelix, a civilização de Ilidária poderia ajudar no resgate.

Trekabout Episode 239: Parallax/Time and Again – Trekabout: A Star ...
… e tensões entre Torres e Janeway…

Janeway tenta conversar com Torres para conhecê-la melhor, em virtude da sugestão de Chakotay, mas o encontro revela-se um verdadeiro fiasco pelo temperamento forte de Torres. Já o Doutor tenta se comunicar com Janeway e ela percebe que sua imagem está achatada. O Doutor está encolhendo gradativamente (algum problema no projetor holográfico) e ainda relatou que nove pessoas estão com dor de cabeça e náuseas. Janeway diz que a nave está perto de uma singularidade quântica e a distorção espacial pode estar provocando esses problemas de saúde. O Doutor então diz que precisa ser informado dessas situações pelas quais a nave passa e Janeway concorda. Mas outro sacolejo interrompe a conversa. É novamente uma singularidade quântica que Paris, ao examinar os sensores, conclui que é a mesma singularidade que eles encontraram anteriormente. Janeway ordena que a nave saia dali em dobra máxima, mas novamente a mesma singularidade aparece à frente.

Star Trek: Voyager – Parallax (Review) | the m0vie blog
Uma singularidade que não sai do pé…

Os casos de náuseas aumentam na nave, sem motivo aparente. O Doutor continua a se achatar. Torres sugere, à contragosto do tenente, que o problema do Doutor pode estar relacionado a um deslocamento de fase provocado pela distorção espacial e que se isso puder ser melhor trabalhado, será possível montar uma espécie de sensor para se comunicar com a nave que está presa na singularidade. Janeway ordena que se faça isso e, quando as pessoas saem da reunião, Janeway e Chakotay se entreolham e Janeway dá um sinal de aprovação com relação à Torres, fazendo Chakotay sair mais aliviado da sala. Quando a ideia de Torres é aplicada, o sinal que recebem de volta da nave é o da própria Voyager e a imagem da nave é também a imagem de Voyager. Ou seja, eles veem um reflexo de si próprios na singularidade, uma imagem de uma saudação da Voyager antes mesmo dela ter sido feita, e a Voyager está presa na singularidade desde o início. O que se vê a seguir é uma sequência de tecnobabbles onde a nave precisa abrir uma fratura no horizonte de eventos com partículas de dobra para poder escapar da singularidade e da distorção espacial que pode destruir a nave em nove horas. Toda essa ideia genial foi forjada num empenho mental conjunto de Janeway e Torres, o que ajudará a aproximar as duas personagens nesse momento. Todo o procedimento é feito mas abriu uma fratura muito pequena. Para poder expandir essa fratura, uma nave auxiliar terá que ir bem perto dela para disparar um raio mais forte com partículas de dobra. Para isso, serão necessárias duas pessoas que tenham conhecimento de mecânica temporal, leia-se Janeway e Torres, que vão juntas na nave auxiliar para a fratura. Na nave auxiliar, Torres se desculpa com Janeway por ter sido rude e diz que não acredita ter potencial para ocupar a chefia da engenharia. Janeway retruca dizendo que leu os registros de Torres na Academia da Frota e viu que vários professores aprovavam a postura firme e desafiadora de Torres.

Parallax (episode) | Memory Alpha | Fandom
Voyager vê um reflexo de si mesma…

As duas conseguiram aumentar a fratura, mas, ao retornarem, se deparam com duas imagens da Voyager. Janeway decide por uma delas, de acordo com o seu posicionamento perante à fratura e ao reflexo retardado das distorções. Mostrando sua especialidade em ciência, Janeway faz a escolha acertada. De volta à ponte, Janeway recebe a notícia de que a fratura encolheu um pouco e a Voyager passará muito rente aos seus limites. No melhor estilo cowboy, Janeway diz que aprendeu na Academia que pilotar uma nave estelar pode ser um processo muito delicado, mas que em certas situações, tem mais é que forçar o caminho mesmo e dá a ordem de full impulse power, fazendo a nave passar por muitos sacolejos de novo, mas vencendo o horizonte de eventos. 

Star Trek: Voyager, 'Parallax' - StarDate's Black Hole Encyclopedia
Furnado um horizonte de eventos…

Chakotay conduz Torres à engenharia. Ela é a nova chefe do setor. E a moça consegue tratar seus subordinados com a educação necessária para essas situações, além de se entender com o tenente que a agrediu. Janeway e Chakotay veem Torres à distância, contentes com a decisão tomada, embora Torres tenha muito a aprender e a se adaptar à nova função. O episódio termina com um Doutor totalmente achatado ainda à espera de um reparo nos projetores holográficos, ficando sacramentada a sua posição de alívio cômico nesse início de série. Fim do episódio.

Star Trek: Voyager: S1
Seska ja dá o ar de sua graça…

O que podemos dizer do episódio Paralaxe? Em primeiro lugar, vemos a nova tripulação ainda se assentando, com uma tensão entre maquis e os membros da Federação. A irritação de Torres é a senha para que as coisas não sejam muito pacíficas na nave, mas Chakotay aposta suas fichas nela para que assuma a Engenharia. Para isso, ele vai ter que convencer Janeway a aceitar melhor os maquis na tripulação e a própria Torres. E o episódio mostra esse desenrolar de Janeway se aproximando de Torres. O que contribuiu muito nesse estreitamento de relações foi o fato de que tanto Janeway quanto Torres são excelentes cientistas e elas conjuntamente conseguem imaginar a tecnobabble do dia para livrar a Voyager da singularidade e romper o horizonte de eventos. Sabemos que as tecnobabbles surgiram com muito peso em TNG e agora visitam bastante Voyager também, algumas vezes forçando um pouco a barra mas ainda dentro de alguma coerência mínima (partículas de dobra para romper um horizonte de eventos, por exemplo), não sendo uma espécie de varinha mágica que resolve tudo a hora que for necessário. A parte científica do episódio apostou as suas fichas em paradoxos espaço-temporais sobre singularidades, o que é uma receita muito atraente para a ficção científica mais espacial.

This Day in TV History – January 23rd, 1995 – Star Trek: Voyager's ...
Quem é quem???

Se houve um entendimento entre Janeway e Torres, já vemos uma fonte de conflitos futuros, passando quase despercebida. E essa fonte se chama Seska, que ainda não tem seu nome citado, mas ela aparece incitando Chakotay e Torres contra os membros da Federação já no segundo episódio da primeira temporada. Vale a pena ficar de olho nessa personagem para os próximos episódios.

Ainda, a construção do personagem do Doutor deu mais alguns passos, tanto na questão dele ser um alívio cômico quanto pelo fato dele ser um tanto pretensioso e arrogante.

No mais, vemos algumas outras ideias que seriam desenvolvidas no futuro, como o fato de Tom Paris ser o auxiliar do Doutor na Enfermaria e Neelix se tornar o cozinheiro da nave, com sua culinária, digamos, exótica.

Dessa forma, “Paralaxe” pode ser considerado um bom episódio de Voyager, já que aborda a tensão entre maquis e membros da Federação, nos mostra uma ficção científica atraente, com tecnobabbles satisfatoriamente domadas e uma construção de personagens que ajuda a expandir o Universo da série.

Star Trek: Voyager Rewatch: “Parallax” | Tor.com
Um Doutor minúsculo…