Dando sequência às nossas análises de episódios de Jornada nas Estrelas, retornemos a DS9 e falemos do segundo episódio da primeira temporada, “O Homem Só”.
O episódio começa com várias situações paralelas: Bashir flertando com Dax, Dax e Sisko no Promenade se adaptando ao novo estado de amizade, Keiko e O’Brien em DR, porque a primeira está infeliz por não ser útil na estação com botânica, Jake e Nog se conhecendo e fazendo travessuras e, principalmente, a birra de Odo com um bajoriano de nome Ibudan por seu passado nebuloso e criminoso. Esse bajoriano vai ser assassinado. Keiko, ao ver as travessuras de Jake e Nog, comenta com O´Brien que a Estação precisa de uma escola para as crianças, que nada têm para fazer na nave. Keiko leva a situação a Sisko, que prontamente aceita a sugestão, mas lembra que ela, como professora, vai ter que lidar com muitos problemas de ordem cultural.
Enquanto isso, um bajoriano diz a Kira e Sisko que Ibudan, antes de ser morto, o procurou e estava com medo de Odo, transformando esse num suspeito do assassinato. Odo, por sua vez, investiga a nave de Ibudan e vê o seu próprio nome anotado dos diários da nave. Bashir, ao investigar o local do crime, diz que só encontrou uma amostra de DNA, não havendo vestígios do assassino. O próprio Odo, então, diz que o assassino pode ter sido um transmorfo (um ser da espécie de Odo) que passou pelas frestas da porta, não deixando rastros, aumentando as suspeitas sobre ele. Odo percebe que estão armando para cima dele e pede mais uma investigação no local do crime. Alguns bajorianos pressionam Kira e Sisko para tirar Odo das investigações. Sisko concorda e o faz, para a contrariedade do próprio Odo e de Kira, que vai assumir as investigações com Dax. O escritório de Odo é destruído e Quark vai lá para zoar com a cara do transmorfo, mas acaba dando a e ele informações sobre os dias de Ibudan na prisão. Já Bashir faz novas experiências com o DNA que recolheu.
Odo começa a ser perseguido pelos bajorianos da Estação. Sisko enfrenta a multidão para evitar que a justiça seja feita com as próprias mãos e que o transmorfo não seja mais persguido. Nesse ínterim, Bashir descobre, pelas amostras de DNA, que Ibudan clonou a si próprio e matou seu clone para incriminar Odo, que fez uma tocaia para o Ibudan original e o prendeu em sua nave. O episódio termina com Keiko e sua escola pronta, mas somente com Jake. Ela já desanima quando Rom chega com Nog e diz que ele vai estudar por algumas semanas (Keiko havia insistido muito para Rom matriculasse Nog, mas o pai não deu muita atenção, pois a cultura ferengi tinha outros parâmetros). Duas menininhas completaram a classe para deleite de Sisko, que abre um largo sorriso para a nova escola que começa. Fim do episódio.
O que podemos falar de “O Homem Só”? Tivemos um bom episódio de construção de personagens, com uma história principal (o assassinato de Ibudan) e várias histórias paralelas. Vimos, por exemplo, uma nascente amizade entre Nog e Jake, onde os dois, por não terem muito o que fazer enquanto adolescentes na Estação, armaram uma travessura, o que serviu como pretexto para a história de Keiko, que não sabia o que fazer como botânica na Estação e decidiu abrir uma escola e ser professora. Aliás, o funcionamento da escola de Keiko fechou o episódio e foi o motivo de um grande sorriso de Sisko, ou seja, algo bem ao espírito utópico de Jornada nas Estrelas e que não tem muito espaço hoje nas séries mais novas, carregadas de distopia e que colocaram Jornada nas Estrelas em crise de meia idade. Outro sub-núcleo que chamou a atenção foi a amizade entre Sisko e Dax, que havia conhecido o simbionte no corpo de Curzon, uma espécie de segundo pai, e agora vai ter que se acostumar com a belíssima e elegante Jadzia. A reboque dessa história, estavam as tentativas de flerte de Bashir em cima de Jadzia, algo que foi um pouco desenvolvido nas primeiras temporadas da série e, graças aos céus, abandonado posteriormente.
De qualquer forma, soou mais positivo para o doutor o fato dele ter elucidado o mistério do assassinato, lançando mão da questão do DNA, que na época em que a série foi feita começava a despertar muita atenção. Agora, a história principal foi o assassinato de Ibudan e ajudou muito a desenvolver o personagem de Odo. Ibudan era um bajoriano que não tinha um caráter lá muito virtuoso e, por ter matado um cardassiano, vivia agora livre, leve e solto na sociedade. Mas Odo, que sempre teve um olho no padre e outro na missa, sabia que o sujeito não prestava. O assassinato de Ibudan foi orquestrado de forma a incriminar Odo e, logo ele seria perseguido pelos bajorianos, não somente por uma questão de se “fazer justiça”, mas também por uma questão de preconceito e perseguição a Odo, que era o único de sua espécie na Estação. O momento em que Odo fica acuado em seu escritório e os bajorianos querem linchá-lo, sendo somente demovidos por Sisko quando este atira com o phaser para cima, lembra mais uma vez o ambiente pesado e distópico da série, marcado por um pós-guerra onde o preconceito e as perseguições são bem mais fácies de se acontecer.
Dessa forma, embora a história de “O Homem Só” tenha sido bem fragmentada em vários sub-núcleos, ainda assim tivemos um bom episódio que mostra a vida da Estação sendo erguida no pós-guerra e que, na história principal, abordou a questão do respeito à diferença e do preconceito. Mas é de se celebrar mesmo o desfecho do episódio ser marcado pela abertura de uma escola, algo muito difícil de ser visto por aí, ainda nas visões distópicas de hoje. Vale a pena a revisita.
Dando sequência às nossas análises de episódios de “Jornada nas Estrelas”, retornemos a TNG e ao segundo episódio da primeira temporada, intitulado “A Hora Nua”, que é uma espécie de releitura do episódio homônimo de TOS (S01 Ep04).
A Enterprise vai investigar o comportamento estranho da tripulação de uma nave de pesquisa. As pessoas parecem embriagadas quando se comunicam e um estouro é ouvido. Um grupo avançado da Enterprise vai para a nave e atesta que a escotilha de emergência foi acionada, expelindo para o espaço boa parte da tripulação, enquanto que uma minoria morreu congelada ao modificar os controles ambientais. Como resultado de tudo isso, toda a tripulação – 80 pessoas – morreu. O grupo avançado volta à nave com descontaminação máxima no teletransporte e exames médicos completos. Mesmo assim, La Forge mostra um comportamento agressivo, além de transpirar muito. Riker pede a Data que investigue, nos registros, se já houve algum registro de alguém tomando banho com roupas, pois isso foi visto na tripulação que morreu e Riker tem uma vaga noção de que já leu sobre algo antes. La Forge, por sua vez, aproveita uma distração de Crusher e sai da enfermaria sem o localizador para não ser encontrado. Tasha encontra La Forge fora de si, querendo enxergar como os humanos, e acariciando a face de Tasha. Crusher examina La Forge novamente e nada de errado aparece, apesar da febre e estado de confusão de La Forge.
Data encontrou o caso da Enterprise de Kirk, onde as pessoas se comportavam como se estivessem embriagadas, em virtude de uma forte variação gravitacional num planeta que detonou esse comportamento. A mesma forte variação gravitacional agora aparece numa estrela que está se colapsando nas imediações e que era investigada pela nave que teve sua tripulação morta. Na época, um composto para neutralizar o problema foi descoberto e Picard ordenou que a fórmula fosse enviada para Crusher.
Os sintomas se espalham pela nave: Tasha, Wesley e mais outros tripulantes. O colapso iminente da estrela é uma ameaça para a nave e a situação da “infecção” precisa ser resolvida logo. Wesley, enganando a tripulação com suas engenhocas e se apossando da engenharia, se apossa da nave, transtornado. Picard chama Tasha ao perceber que a situação está piorando e a mesma fala de um jeito estranho com ele pelo comunicador. Picard pede que Data vá se encontrar com Tasha para levá-la à enfermaria, mas a chefe de segurança consegue “seduzir” o robô. Wesley desligou o acesso aos motores da nave. Troi também mostra sintomas e Riker a leva para a enfermaria, tocando depois no corpo de Crusher que, por sua vez, descobre que o composto da Enterprise de Kirk não funciona. O grande problema é que a doutora descobriu que o contágio se dá pelo toque e Riker precisa voltar à engenharia. A contaminação só aumenta. E a estrela começa a colapsar. Na engenharia, Riker busca acabar com o campo de força criado por Wesley. Crusher, por sua vez, procura um antídoto. Todos estão contaminados e os efeitos da embriaguez chegarão em pouco tempo. Data está contaminado, Crusher contamina Picard. Worf comunica Riker da contaminação do capitão. A estrela colapsa de vez e lança um pedaço em direção à Enterprise. A chefe de engenharia consegue anular o campo de força criado por Wesley e entra na engenharia. Mas todos os chips isolineares que ligam os motores estão desconectados, demorando cerca de três horas para reconectá-los. E a massa estelar atingirá a Enterprise em 14 minutos. Somente um bêbado Data pode ser tão rápido e Riker o leva correndo para a engenharia. Mas Data diz que não conseguirá reconectar todos os chips isolineares à tempo. Aí, entra o “gênio” de Wesley, que consegue reverter o raio trator gerado por sua engenhoca conectada à nave para deter um pouco o avanço da massa estelar, arremessando a outra nave contra a mesma, retardando o avanço e dando o tempo necessário para Data fazer toda a reconexão dos chips e a nave entrar em dobra, salvando o dia. A tripulação volta ao normal e Tasha se dirige a Data dizendo que “nunca aconteceu”. Picard diz a seus tripulantes que a tripulação pode ser boa se não ceder às tentações. Fim do episódio.
O que podemos falar desse episodio? Em primeiro lugar, a ideia de se remeter a um episódio de TOS para dar uma certa legitimidade à nova tripulação até foi algo interessante. Entretanto, me pareceu inoportuno fazer essa ligação num momento muito inicial da série, já que o episódio se remetia a certas situações cômicas que parecem que caíram mal para essa nova tripulação. Se em TOS isso também aconteceu no início da série (foi o quarto episódio da primeira temporada), naquela ocasião a coisa não pareceu tão destrutiva, pelo contrário até, já que o episódio ajudou a impulsionar Spock no nascente fandom.
Já no caso de TNG, existia todo um fandom de TOS pregresso e uma expectativa maior em cima da nova tripulação, o que pareceu mais prejudicial para os personagens. Todo aquele espaço para apresentação dos personagens no episódio piloto deu chance para torná-los muito expostos em “A Hora Nua”. Se tivemos um Picard rabugento na estreia, não pegou bem vê-lo abobalhado nesse episódio, assim como a Dra. Crusher, que parecia estar muito vulnerável na sua carência afetiva. A situação entre Data e Tasha também ficou um tanto constrangedora, embora tenha entrado para o rol de experiências humanas do andróide. Só fica aqui a dúvida de como o Data se contaminou, já que aquela conversa que fisiologicamente ele se assemelha a um humano não convence muito. Worf e Riker escaparam da vergonha alheia, mas Riker ainda se contaminou. Worf pareceu o único completamente asséptico na nave e também não houve uma explicação satisfatória para isso. Agora, talvez o estrago maior tenha ficado para Wesley, que usou o seu gênio de menino prodígio para se isolar na engenharia e depois salvo a nave da destruição iminente.
Eu me pergunto se esse episódio não serviu para dar uma má impressão para o personagem e queimar seu filme, já que ele agiu de forma travessa, mesmo com a alteração provocada pela infecção. Talvez esse episódio teria mostrado um resultado melhor quando se ele fosse exibido mais ao fim da temporada, quando a gente já tivesse alguma intimidade com os personagens. A exibição do episódio tão ao início da série conseguiu ser algo um tanto constrangedor e que caiu um pouco mal no contexto. Dessa forma, “A Hora Nua” é até uma boa ideia, mas colocada num momento inoportuno. Um episódio com cara de alívio cômico que funcionaria melhor ao fim da temporada. Introduzi-lo tão ao início da série pareceu uma coisa forçada e problemática.
Dando sequência às nossas análises de séries de Jornada nas Estrelas, vamos retornar à série clássica e analisar o segundo episódio da primeira temporada, intitulado “Sal da Terra”.
A Enterprise orbita um planeta, que tem as ruínas de uma civilização antiga. Kirk, McCoy e um tripulante descem à superfície para fazer exames médicos no arqueólogo Robert Crater e sua esposa Nancy. O problema aqui é que Nancy é um antigo caso de McCoy. Eles entram na morada do arqueólogo, mas não o acham. Nancy chega e cumprimenta McCoy. Para o médico, ela parece jovem como na época do relacionamento entre os dois. Para Kirk, ela é uma distinta senhora. E para o tripulante, ela é a cara de uma moça pela qual ele se apaixonou no passado. Vendo a perturbação do tripulante, Kirk pede que ele saia. Mas Nancy sai para procurar seu marido, e seduz o tripulante, que vai atrás dela. Aqui podemos ver algo muito datado, que é a mulher seduzindo um homem, com ela sendo vista como um mero objeto sexual. Ecos da década de 60…
Após a abertura, o Dr. Crater entra na sua morada, espraguejando que tem que fazer o exame médico. McCoy, com sua rabugice habitual, e Kirk insistem que o exame médico é procedimento da Federação. Eles começam a falar de Nancy. McCoy a vê jovial. Kirk fala de seus cabelos brancos, se desculpando ao arqueólogo dizendo que a esposa dele é bonita, mas já passou dos 25 anos (outro preconceito machista da época sessentista detectado, mostrando a predileção dos varões pelas novinhas, que não podiam passar dos 25 anos senão já eram consideradas “velhas”). Tanto Kirk quanto o arqueólogo acham que McCoy, ainda deslumbrado com Nancy, a vê mais jovem.
Um grito ecoa lá fora. Nancy chora ao lado do tripulante morto (que não está de camisa vermelha e sim azul). Ele está cheio de marcas circulares no rosto. Kirk, indignado com a perda de um tripulante, exige de Nancy uma explicação. Esta diz que o tripulante comeu uma planta envenenada e, antes, tentou seduzi-la. Nancy pergunta ao marido de forma severa se ele pediu tabletes de sal para a Enterprise, o que provoca estranhamento em McCoy pelo comportamento da ex-namorada.
Na Entrprise, Uhura dá, sem muito sucesso, uma cantada descarada em Spock. O rádio comunica que um tripulante da Enterprise morreu e Spock recebe a notícia friamente, o que deixa Uhura indignada com a falta de emotividade do vulcano. Como estamos nos episódios iniciais da série, podemos considerar essa sequência como uma relíquia trekker, onde vemos a construção do personagem Spock em curso. Uma análise da planta que envenenou o tripulante diz que ela não é venenosa o suficiente para matá-lo. Ainda, as manchas no rosto nada têm a ver com a planta e o corpo do tripulante não apresenta sinais mais graves. Ou seja, ele muito bem poderia estar vivo. McCoy diz que vai refazer os exames e se lembra da forma jovial como viu Nancy. Kirk dá um coice com as quatro ferraduras dizendo que perdeu um tripulante e quer saber o que o matou. Essa grosseria explícita de Kirk, se num primeiro momento choca o espectador, por outro lado é outro elemento na construção do personagem, onde ficava muito claro o zelo do capitão por seus tripulantes. Cabe ressaltar aqui que Kirk depois pede desculpas a McCoy pela grosseria, quando o médico já descobriu que o corpo do tripulante está sem sal e que as marcas no rosto podem ser o caminho por onde o sal saiu do organismo. Kirk e McCoy também se lembram do pedido de Nancy por tabletes de sal. Kirk decide ir à superfície para falar com o Dr. Crater e Nancy. O primeiro se coloca contra a investigação mais profunda que Kirk quer fazer. Kirk exige que Crater e Nancy subam à Enterprise enquanto investiga. O doutor aproveita a comunicação de Kirk e Spock para fugir e encontra Nancy perto do corpo de mais um tripulante morto, com as mãos no rosto dele. Há ainda outro tripulante morto. O doutor oferece sal à esposa. Kirk e McCoy encontram o corpo de um tripulante e chamam o outro, que também está morto. Nancy se transforma na aparência do tripulante que ela acabou de matar e que é chamado por Kirk. “Nancy” se encontra com Kirk e diz que viu o outro tripulante morto, procurando o que pode tê-lo matado. Kirk decide subir com McCoy e a Nancy travestida de tripulante para procurar Crater e Nancy com os sensores da nave. Spock só consegue rastrear o sinal de uma pessoa. Já Nancy, travestida de tripulante, persegue a ordenança Rand, que está com uma bandeja de comida que tem um pote de sal. Rand chega à seção de botânica e dá a bandeja a Sulu para comer. Já vemos logo de cara Rand servindo um homem e sendo cantada pela tripulação onde passa, outro detalhe da década de sessenta muito natural para a época e muito inquietante hoje. Nancy entra na divisão de botânica e fica olhando fixamente para o saleiro da bandeja de Sulu, para total estupefação desse e de Rand. Uma das plantinhas de Sulu começa a se mexer e a gritar (na verdade, é uma mão cheia de pétalas de mentirinha) e Nancy sai às pressas. No corredor, Nancy se transforma em outro tripulante para falar com Uhura que vem pelo corredor. Ele fala com ela em swahili, o idioma africano de Uhura e quase a ataca, quando ela é chamada para comparecer à ponte. Nancy encontra outro tripulante e consome o seu sal, matando-o. Depois, encontra o aposento do Dr. McCoy e se transforma em Nancy, para ficar sob a proteção do doutor, seduzindo-o. Nancy faz McCoy dormir e vai para a ponte com a aparência do médico.
Kirk e Spock vão à superfície do planeta para tentar falar com Crater, mas este continua rechaçando-os. Entretanto, o corpo do tripulante do qual Nancy tomou forma é encontrado e eles percebem que algo estranho subiu com Kirk e McCoy anteriormente. Kirk emite um alerta de intruso na nave e Crater os ataca com um phaser. Kirk e Spock fazem uma tocaia e tonteiam Crater, finalmente conseguindo falar com ele, que abre o jogo e diz que sua esposa foi morta por um alienígena que era o último de sua espécie e se alimentava de sal, podendo se transformar na aparência de outros seres. Crater insiste no direito da criatura de viver, mas Kirk lembra que essa criatura está matando sua tripulação. Os três sobem à nave. Diante da recusa de Crater em ajudar, Spock sugere o soro da verdade, a ser aplicado por McCoy (que, na verdade, é a criatura). Na enfermaria, Crater acerta Spock, mas acaba sendo morto pela criatura, já que os sais do corpo de Spock são muito diferentes do sal que a criatura quer. A criatura volta a ter a aparência de Nancy e vai aos aposentos de McCoy dizendo que está sendo perseguida para ser morta. Kirk entra nos aposentos de McCoy com um phaser falando que Nancy é uma criatura que tem que ser morta. McCoy se nega a deixar ela morrer. Kirk oferece sal para a criatura. McCoy se atraca com Kirk e a criatura toma o sal da mão de Kirk, consumindo-o e depois paralisa Kirk numa espécie de transe para atacá-lo e consumir o sal de seu corpo. Spock entra nos aposentos e pede para McCoy matar Nancy. McCoy se nega. Spock, então, dá um monte de bordoadas na cara de Nancy e pergunta a MacCoy se Nancy agüentaria aquela surra. Nancy dá um tapão na cara de Spock que o joga longe. McCoy se convence de que aquela não é Nancy, que já está atacando Kirk. A criatura mostra sua verdadeira face e McCoy lhe dá um tiro de phaser. A criatura volta a ter a aparência de Nancy e implora pela vida à McCoy, que vai ter a dura tarefa de dar o tiro de misericórdia na aparência da mulher que ama. Kirk diz a McCoy que sente muito. Na ponte da Enterprise, Kirk, McCoy e Spock estão unidos. McCoy em silêncio escuta Kirk dizer a Spock que pensava nos búfalos, uma espécie que se extinguiu na Terra, à exemplo da criatura que consumia sal. Fim do episódio.
O que podemos falar desse episódio dirigido por Marc Daniels e escrito por George Clayton Johnson? Em primeiro lugar, o episódio mais parece um filme de terror do que de ficção científica. Um monstro que se esconde atrás da aparência das pessoas e que precisa se alimentar compulsivamente de sal, se esgueirando e matando suas vítimas. Um mistério que se alimenta do suspense. Onde a ciência entra ai? Na questão de que as pessoas morrem ao terem todo o sal extraído de seus corpos. Mas esse terror e suspense abriram margem para o que seria uma das marcas registradas da série, que é levantar alguma questão pertinente para reflexão. Por que Crater manteve esse monstro vivo, mesmo que ele tenha matado sua esposa. Em primeiro lugar, a criatura era a última de sua espécie, e ela acabou se tornando uma forma de companhia para o cientista, uma amiga, esposa, até escrava. Ou seja, o médico desenvolveu laços que poderiam ter várias características: afetivos, de dominação, dependência, etc., sem dúvida uma relação estranha e complexa, onde Crater dependia da criatura, mas também a subjugava. De qualquer forma, o principal argumento do arqueólogo para manter a criatura viva era o seu risco de extinção e usava como exemplo a extinção dos búfalos, cujas manadas podiam cobrir o território de três estados americanos. Não é à toa que Kirk, no final do episódio, pensava nos búfalos.
No mais, o episódio serviu, como temos visto em nossas análises dos primeiros episódios das séries, para apresentar alguns personagens e suas características, iniciando um processo de construção gradativa. Fica claro o sentimento de Uhura para com Spock, assim como a frieza e o pragmatismo do vulcano. Sulu, por sua vez, é um tripulante que gosta de botânica e tem as suas plantinhas, inclusive uma simpática “mãozinha” coberta de pétalas, que é hipersensível. Kirk, por sua vez, mostra os seus rompantes de autoritarismo, mas pedindo desculpas posteriormente, ao melhor estilo do amigo que “é gente muito boa, mas que de vez em quando vacila”. A justificativa para seu comportamento autoritário é que ele se preocupa demais com sua tripulação e ver diante de si seus tripulantes morrendo faz com que ele busque uma saída rápida para parar com isso, se tornando mais exigente e irrascível. O nosso querido Dr. McCoy, mesmo que atormentado pelo passado de Nancy, já mostra a sua deliciosa e engraçada rabugice que seria sua marca registrada.
Temos que dizer ainda que o episódio mostrou os vícios do tempo em que foi produzido, onde a mulher foi vista de forma submissa e como um objeto sexual, com a ordenança Rand se tornando o principal paradigma disso, o que é algo que incomoda aos nossos olhos contemporâneos, mas devemos nos lembrar que esse episódio já tem mais de cinquenta anos e a visão utópica de Roddenberry não tinha como ficar incólume a algumas visões de mundo de outrora. A gente sempre deve se lembrar que a atemporalidade é uma coisa extremamente rara e, por isso mesmo, muito celebrada quando acontece.
Dessa forma, “O Sal da Terra” é o nosso cartão de visitas de Jornada nas Estrelas como série, depois do piloto “The Cage”, que foi reprovado. Um episódio mais regado a terror e suspense do que ficção científica, mas já abrindo espaço para questões altamente reflexivas, não deixando de apresentar as características de alguns personagens. A forma submissa como a mulher é explorada no episódio é algo que incomoda, mostrando um nível de datação desse produto cultural embora não possamos ser anacrônicos e compreender (o que não significa concordar, como diz o Senhor Spock) o porquê de tal visão pejorativa.
Dando sequência às análises de episódios de Jornada nas Estrelas, retornemos à série “Enterprise” para falarmos um pouco do episódio 2 da primeira temporada intitulado “Fight or Flight” (Luta ou Fuga).
A tripulação da Enterprise está há duas semanas em sua missão de exploração e a única forma de vida com que fez contato foi uma lesminha moribunda, atenciosamente vigiada por Hoshi. Nos aposentos do capitão, Archer está incomodado com um estranho rangido no chão enquanto discute possíveis rotas para encontrar novas civilizações com T’Pol. A última, cuja origem vulcana não vê com muito entusiasmo as explorações espaciais, diz a Archer que somente um a cada 43 mil planetas habitáveis tem chances estatísticas de ter vida inteligente, segundo a exobiologia. Hoshi entra e pede troca de aposentos ao capitão, pois está com insônia por ver as estrelas se deslocarem na janela para o “lado errado”. Archer, meio que intrigado, dá a autorização para ela trocar de aposentos.
Travis e Reed procuram calibrar a mira dos torpedos fotônicos que ainda está descalibrada. Archer dá a ordem para a nave sair de dobra para uns testes de mira. Mas os testes se revelam um fracasso total. Ou seja, os primeiros dias da missão tem sido tediosos e sem êxitos. Somente o Dr. Phlox está se divertindo sua observação aos hábitos e características dos humanos.
Uma nave inerte e com sinais de que foi atacada é encontrada. T’Pol alerta que um exame mais minucioso pode ser muito invasivo, pois a nave não responde às frequências de saudação. T’Pol diz que há formas de vida à bordo e talvez não gostem de visitas. Archer manda preparar uma nave auxiliar e T’Pol disse que muitos protocolos ainda não foram tentados antes dessa decisão mais drástica. Mas Archer, que vive numa sociedade sem Primeira Diretriz, insiste na abordagem via nave auxiliar.
Mesmo com uma certa relutância, Archer decide ir na missão. Só que ele precisa convencer Trip a permanecer na Enterprise (pois é o engenheiro-chefe da nave) e convencer Hoshi a ir, pois ela é oficial de comunicações, mas a moça tem claustrofobia com trajes espaciais. Reed, por sua vez, quer ir com muitas armas, algo que Archer rechaça, levando somente o armamento básico.
O interior da nave alienígena está às escuras e os corpos mortos de seus supostos tripulantes são sugados por uma estrutura hidráulica. De volta à Entreprise, T’Pol fica sabendo pela equipe de Archer que há quinze mortos sendo drenados na nave alienígena e recomenda que a Enterprise vá embora. Mas Archer quer saber o que aconteceu com esses quinze mortos. T’Pol alerta que a intenção de ajuda do capitão foi louvável, mas com essa nova situação, a tripulação da Enterprise pode correr perigo. Archer aceita a argumentação de T’Pol e dá a ordem da nave entrar em dobra novamente e retomar o curso.
Hoshi conversa com Phlox sobre sua experiência de ter gritado ao ver vários corpos pendurados na nave, e que ela não estava na Enterprise para ver corpos. Phlox sugere ela voltar à Universidade para lecionar. Hoshi diz que foi a primeira opção de Archer e que precisa estar lá. Todo esse núcleo mostrando como Hoshi é cheia de não me toques serve para deixar claro que a linguista não tem muito jeito em fazer parte da tripulação de uma nave espacial e que ela vai precisar se adaptar à nova realidade. Ou seja, vemos uma tentativa de construção de personagem feita de uma forma mais elaborada já nos dois primeiros episódios da série.
Archer, T’Pol e Trip jantam juntos. Archer mostra que ainda está muito incomodado com a situação dos mortos na nave alienígena. Ele pergunta se T’Pol deixaria os corpos se eles fossem de vulcanos. A vulcana disse que os corpos não eram de vulcanos e que sua espécie obedece a uma série de procedimentos. Archer deixa claro que está muito incomodado por só passar ao largo de uma situação grave e simplesmente deixá-la para lá. Archer diz que os humanos também têm um código assim como os vulcanos e que não acredita que violou esse código. E sai da mesa. Archer decide retornar à nave alienígena.
Na nave, Phlox acha que a triglobulina extraída dos corpos pode ser usada como remédios, vacinas ou até afrodisíacos. Hoshi, numa conversa com Trip, diz que vai abandonar a carreira de oficial de comunicações na Enterprise. T’Pol avisa ao capitão que uma nave alienígena chegou, com a mesma leitura da bomba hidráulica que suga os corpos. Archer manda a sua equipe abandonar a nave alienígena e dá um tiro de phaser na bomba hidráulica. Os torpedos fotônicos da Enterprise ainda estão com a mira descalibrada e a nave alienígena que chegou não atende às frequências de saudação. A nave auxiliar atraca na Enterprise, que já sofre ataques da nave alienígena. A Enterprise não entra em dobra, pois uma nacele foi avariada com o ataque. A Enterprise atira dois torpedos, facilmente rechaçados pela nave alienígena. Ela sonda a Enterprise e descobre que os corpos dos tripulantes também podem ser sugados. Outra nave aparece e é da espécie que foi morta e teve seus corpos sugados. Mas seu capitão fala uma língua que é desconhecida e ainda não foi decifrada por Hoshi. A primeira nave prende a Enterprise com uma espécie de raio trator. E o alienígena da outra nave parece muito impaciente. Hoshi diz que parece que o alienígena entendeu que outros de sua espécie foram mortos, mas acredita que foi a Enterprise que os matou. T’Pol calmamente pede que Hoshi envie uma mensagem dizendo que a Enterprise mandou um sinal de socorro e, se tivesse sido a Enterprise a matar os alienígenas, ela não mandaria um sinal de socorro. O alienígena ainda não está muito convencido e Archer pede para Hoshi que ela fale para o alienígena comparar as assinaturas da bomba hidráulica e da nave que está atacando a Enterprise, para que ele veja que são iguais. A informação não foi muito correta para o alienígena, que se impacienta. Ao mesmo tempo, a outra nave já começa a perfurar o casco da Enterprise. Não haverá outra alternativa senão Hoshi, insegura toda a vida, se comunicar verbalmente com o alienígena. Hoshi consegue se comunicar e o alienígena ataca a nave que mantinha a Enterprise presa. Esta dá um tiro de torpedo contra a nave e a nave do alienígena que se comunicava com Hoshi termina de destruir a nave beligerante. O episódio termina com Hoshi e Phlox deixando a lesminha que pegaram num planeta parecido com as condições de vida dela, para que essa não morra. Fim do episódio.
O que podemos falar desse episódio? Em primeiro lugar, ele lança uma questão ética. Ainda dentro dos conflitos entre as visões de mundo dos humanos e dos vulcanos, o que parece mais sensato? Se esgueirar de uma situação que pode levar risco à toda a tripulação de sua nave, ou se importar com o problema ocorrido e buscar investigar o que parece ser um crime para lá de hediondo e entender o que aconteceu, pois as vítimas do crime merecem uma atenção? A visão pragmática dos vulcanos, que defende abertamente a filosofia da futura Primeira Diretriz da Federação, defende o não envolvimento. Mas para a mentalidade humanista de Archer, isso parece muito pouco ético, embora seja a alternativa mais segura. Assim, o nosso bom capitão, dentro da filosofia de exploração espacial, dá meia volta em sua nave e a coloca em sério risco, pois a Enterprise ainda não está em condições de se defender de um ataque. Fica parecendo, nesse primeiro momento, que T’Pol estava coberta de razão. Mas toda a empreitada, que parecia fadada a um retumbante fracasso, teve um desfecho positivo, com a Enterprise fazendo uma amizade com o povo Axanar, embora a tripulação também tenha feito um inimigo. E aí, essa história principal do episódio se liga à segunda história, que girava em torno de Hoshi. Vimos no primeiro episódio de Enterprise que Hoshi parecia uma personagem cheia de pitis desnecessários, mas logo fica claro aqui no segundo episódio sua insegurança com a exploração espacial, por ser uma pessoa acostumada mais com a vida acadêmica. As situações extremas pelas quais passou (corpos mortos, claustrofobia com trajes espaciais e enjoos com sacolejos da nave) fizeram Hoshi desistir da carreira. Mas ela acaba sendo demovida da ideia quando ela passou, com sucesso, pela situação extrema de ter que se comunicar diretamente com o alienígena que poderia salvar a Enterprise da destruição. E num idioma que ela praticamente tinha acabado de conhecer e só começar a decifrar. Ao salvar a nave com sua competência, Hoshi dá a volta por cima e mostra o seu valor para a tripulação, tudo isso sob a confiança benevolente de Archer.
Dessa forma, esse é um típico episódio de Jornada nas Estrelas em que temos uma história A se desenvolvendo paralelamente a uma história B, com tudo combinado para que essas histórias se amarrem mais ao final do episódio de uma forma bem elaborada, construindo um bom episódio. Episódio esse com a construção de uma questão ética, que prepara uma discussão sobre a futura Primeira Diretriz, e que ajuda a construir bem uma personagem do elenco fixo. Vale a pena revisitá-lo.
Dando sequência às análises de episódios de Jornada nas Estrelas, falemos hoje do piloto da série “Voyager”, intitulado “O Guardião”. Esse é mais um episódio de cerca de noventa minutos que inicia a série da nave que vai precisar fazer uma viagem de setenta mil anos-luz para voltar para casa, atravessando sozinha o desconhecido e perigoso quadrante delta.
O plot começa com a querela dos maquis, colonos da Federação, que estão situados próximos à fronteira cardassiana e foram obrigados a se retirar depois de um tratado. Mas eles se negaram a isso e são combatidos tanto pela Federação quanto pelos cardassianos, que os consideram foras da lei. Vemos uma nave maqui liderada por Chakotay, que ainda conta com a presença de Tuvok e B’Elanna Torres sendo atacada por uma nave cardassiana. Os maquis conseguem entrar numa região de tempestades e se livram dos cardassianos, que são atingidos pelas intempéries. Mas uma onda de energia desconhecida os atinge e a nave desaparece.
Após a abertura do episódio, estamos numa colônia penal da Federação na Nova Zelândia. Janeway procura Tom Paris, que está na ilha como detento, para conversar. Ela chegou a servir com o pai de Paris, um almirante como oficial de ciências. Janeway irá procurar a nave maqui desaparecida, pois Tuvok é um agente infiltrado para investigar os maquis e Janeway quer a experiência de Paris coma região onde a nave desapareceu (ele pertenceu aos maquis). Sabemos, na conversa entre Janeway e Paris, que Chakotay também foi oficial da Frota Estelar antes de se juntar aos maquis. Sabemos, também, das desavenças entre Chakotay e Paris (o primeiro, mais idealista, achava que o segundo era mercenário). Paris aceita, mas irá apenas como observador, a seu desgosto, pois se considera um grande piloto.
Na Estação Espacial de DS9, Paris chega numa nave auxiliar e a Voyager, uma nave classe intrepid com dobra 9,975 está ancorada. A nave tem quinze decks e tripulação de 141 pessoas. Ela também tem circuitos bioneurais. (pacotes de gel com celular bioneurais que organizam as informações mais eficientemente, acelerando a resposta dos circuitos). Seu número de série é NCC-74656. No bar do Quark, o ferengi tenta enrolar o alferes Harry Kim numa transação, mas um atento Paris consegue salvar o colega de Frota. E assim, os dois se conhecem, sendo amigos próximos pela série inteira. Na Voyager, Kim e Paris se apresentam à enfermaria e fica claro que Paris tem uma antiga querela com o médico, que não foi contada no momento. Depois, os dois se apresentam à Janeway, que os leva para a ponte. A Voyager deixa a estação.
Ficamos sabendo que Paris cometeu um erro que provocou a morte de três pessoas e a expulsão dele da Frota, para depois ele se aliar aos maquis, sendo preso na primeira operação. Por isso, ele é malvisto pelo médico e por alguns tripulantes. Ele confessa tudo a Kim, que fica sabendo do passado de Paris por terceiros. Há um leve arremedo de desentendimento entre Paris e Kim, mas este último dá a entender que não irá descartar a amizade por causa disso. Os dois são chamados à ponte por Janeway, pois a nave está próxima às badlands, a região de tempestades onde a nave maqui desapareceu. A Voyager acabou sendo atingida pelo mesmo raio de tétrions que atingiu a nave maqui. Alguns tripulantes da Voyager morrem e eles estão em frente a uma espécie de estação que emite um pulso de energia. Kim lê os sensores e diz que eles estão a setenta mil anos-luz de onde estavam, situando-se agora do outro lado da galáxia. Mas a Voyager está cheia de problemas. O reator de dobra está em risco de ruptura. Na enfermaria, o médico morreu e a unidade médica de emergência foi acionada. A estranha estação sonda a nave e os tripulantes vão desaparecendo, um a um, ficando apenas o doutor holográfico. Os tripulantes aparecem no quintal de uma fazenda, onde uma doce velhinha serve guloseimas para eles, mas Janeway, com seu tricorder, constata que eles estão dentro da estação e tudo aquilo parece ser uma projeção holográfica. Outras pessoas chegam à fazenda e uma festa começa, para a perplexidade dos tripulantes da Voyager. Janeway manda Paris e Kim sondarem a região com os tricorders e eles encontram formas de vida humanóides dentro de um celeiro (um vulcano e alguns humanos). Uma moça que estava com eles obstrui o caminho e diz que não está pronta para eles. Um cachorro faz menção de atacá-los. Paris chama Janeway pelo comunicador e é agredido pela moça. Vários habitantes da fazenda se materializam no celeiro quando Janeway chega com outros membros da tripulação. A parede do celeiro se materializa num corredor da estação e lá estão Torres, Chakotay e Tuvok inconscientes. Logo, todos os tripulantes estão presos e recebendo uma agulhada no peito. Mas eles aparecem em seguida na Voyager recobrando a consciência e descobrem que ficaram três dias na estação. Kim está desaparecido. Janeway sonda a nave maqui, que estava ao lado da estação e com sua tripulação. Janeway fala a Chakotay do desaparecimento de Kim e Chakotay diz que Torres também está desaparecida. Janeway propõe uma aliança para encontrar os tripulantes desaparecidos. Chakotay e Tuvok se transportam para a ponte da Voyager e Tuvok confessa que era um agente infiltrado para Chakotay, que também se reencontra com Paris de forma áspera. Janeway dá uma trava no show de testosterona explícita e se lembra do trabalho em equipe para recuperar Kim e Torres. Eles retornam à estação, com Tuvok tendo a missão de extrair o máximo de informações da mesma para ver se eles conseguem retornar os setenta mil anos-luz tão rapidamente quanto vieram., enquanto que Janeway, Chakotay e Paris procuram por Kim e Torres. De volta à fazenda, eles conversam com um velhinho que diz que eles não importam mais (exceto Kim e Torres) e que está sem tempo para pagar uma dívida, mandando todos de volta à Voyager. Kim e Torres acordam numa enfermaria cheios de feridas e Torres reage de forma mais agressiva, sendo dominada. Os pulsos de energia vão para um planeta e Janeway acredita que Kim e Torres estejam lá. Tuvok percebe que a freqüência dos pulsos aumenta e Janeway percebe que o planeta é de classe M mas é um deserto sem qualquer chuva. Janeway fala a Tuvok (seu chefe de segurança) que a mãe de Kim diz que ele esqueceu sua clarineta (isso já é dito no episódio piloto da série; veremos Kim tocando clarineta ao longo da série), mas Janeway disse que não dava mais tempo do alferes pegar seu instrumento musical. Janeway se arrepende de não conhecer melhor a sua tripulação. Aqui deve ser feito um parênteses. Janeway é primeira capitã que vemos em Jornada nas Estrelas, e até então ela tinha uma postura extremamente dura, como o cargo lhe exige. O problema é que a coisa ia de um jeito que a capitã parecia até um pouco masculinizada. Esse momento em que ela se arrepende de não conhecer melhor sua tripulação serve para colocar um pouco mais de ternura na personagem e tirar esse estigma masculinizado dela. Essa sequência também mostra a proximidade de Janeway com Tuvok, o que seria um ponto muito interessante da série. Janeway deixa explícita a sua preocupação de levar toda a sua tripulação de volta para casa.
A Voyager e a nave maqui encontram uma pequena nave tripulada num campo de destroços de naves. Nesta nave está Neelix, que se diz um bom conhecedor da região onde estão. Janeway pergunta sobre a estação e Neelix pergunta se eles foram trazidos de outro lugar da galáxia e tiveram seus tripulantes raptados, pelo guardião, que vive no quinto planeta. Janeway diz que sim e Neelix diz que o guardião vive fazendo isso e que leva os prisioneiros para os ocampas. Janeway pede ajuda a Neelix para localizar os ocampas e ele aceita. Neelix chega à Voyager e já mostra que será o alívio cômico da série justamente com Tuvok.
Na enfermaria onde estão aprisionados, Kim e Torres começam a conversar. Esta última é muito agressiva por sua descendência klingon. Entra um homem que diz que eles são convidados de honra enviados pelo guardião. O homem leva Torres e Kim para conhecer a cidade deles, que é subterrânea há quinhentas gerações, desde que o planeta se desertificou. Então, o guardião os colocou para viver sob a terra e provê tudo o que eles precisam para viver. Por terem sido enviados pelo guardião, Kim e Torres despertam a curiosidade dos moradores locais. Já as feridas pelo corpo dos dois ainda não têm explicação. O homem diz que o Guardião separa esses doentes e os leva para o planeta para que sejam tratados (cabe ressaltar aqui que o guardião nunca se comunicou com os habitantes do planeta e estes especulam o que o Guardião quer dizer para eles). Mas a doença é grave, eles não sabem como tratá-la e as outras pessoas doentes morreram.
A Voyager chega ao planeta e Neelix indica uma vila para eles entrarem em contato com a população local. Mas aqueles não eram ocampas, e sim agressivos kazons. Neelix oferece água em troca da localização dos ocampas. O chefe kazon mostra uma ocampa que eles mantêm como prisioneira, justamente a Kes. O kazon disse que os ocampas vivem nos subterrâneos, mas não há como chegar até eles em virtude de uma barreira intransponível, que os separa da superfície e mantém a única água do planeta com eles, deixando os kazons à míngua. Entretanto, Kes conseguiu chegar à superfície. Neelix propõe trocar a água por Kes, mas o chefe kazon quer a tecnologia para obter água do nada. Janeway diz que será difícil, pois a tecnologia está integrada à nave. Neelix faz então o chefe ocampa de refém e eles pegam Kes, se transportando para a Voyager. Na nave, eles descobrem que Kes é a esposa de Neelix.
Na cidade dos ocampas, Kim e Torres conhecem uma mulher que diz que alguns ocampas conseguem fugir para a superfície em falhas na barreira, pois eles não aceitam as ordens do Guardião. Este estaria estranho por fornecer mais energia à cidade que o esperado. Kim e Torres pedem a ajuda da mulher para poder ir à superfície. Na Voyager, Kes se compromete a ajudar a tripulação a encontrar falhas na barreira para ser possível o resgate de Kim e Torres. Eles descem à cidade subterrânea e Kes entra em choque com os líderes locais dizendo que eles sempre dependeram demais do Guardião e que é hora de acabar com isso. Ainda, ela fará de tudo para Janeway reaver Kim e Torres. Estes, por sua vez, estão tentando fugir para a superfície. Os pulsos ficam cada vez mais rápidos e, de repente, eles param, com a estação se realinhando para outra posição. A estação começa então a atirar no planeta, para selar os ocampas definitivamente de seus inimigos. Tuvok supõe que o Guardião esteja morrendo, pois proveu energia suficiente por cinco anos para os ocampas e agora os sela do exterior. Paris, Kes e Neelix vão atrás de Kim e Torres sob a orientação de Kes. Janeway tenta subir à Voyager, mas a radiação dos bombardeios do Guardião impede o transporte de achar falhas na barreira e funcionar. Janeway vai atrás de Paris, Kes e Neelix. Kes encontra uma brecha na barreira e eles atravessam. Paris e Neelix abrem um buraco na rocha com os seus phasers e todos chegam à superfície, exceto Janeway, Chakotay e Tuvok, que ficam presos no túnel, depois de uma explosão de um dos raios enviados pelo Guardião. Paris e Neelix retornam para ajudá-los. Paris acaba salvando Chakotay da morte, o que vai ajudar nas pazes dos dois.
Na Voyager, os kazons atacam a estação e são agressivos com a Voyager (Janeway quer voltar à estação para descobrir uma forma rápida de retornar para o quadrante alfa, mas os kazons querem impedir, pois não querem pessoas com a tecnologia da Voyager interagindo com a estação). Começa uma batalha e Janeway se transporta para a estação com Tuvok enquanto isso. Janeway encontra o velhinho (o Guardião), que diz que é um explorador de outra galáxia que, por acidente, provocou sérios danos à atmosfera do planeta e, por isso, cuidava dos ocampas, mas que agora ele está morrendo. Quanto a trazer outras espécies que adoeciam, foi pelo fato do guardião tentar se reproduzir para continuar a proteger os ocampas mas as espécies que traziam eram incompatíveis na reprodução, adoecendo. Janeway diz ao Guardião que é melhor que os ocampas aprendam a viver por si mesmos, sem qualquer forma de proteção, para se desenvolverem como espécie. Uma gigantesca nave kazon aparece e Chakotay coloca sua nave maqui em rota de colisão, preparando sua tripulação para se transportar para a Voyager. A nave kazon é atingida, enquanto que o Guardião inicia a sequência de autodestruição da estação para impedir dos kazons terem acesso a aquela tecnologia. A nave kazon atinge uma parte da estação e a ilusão da fazenda começa a desaparecer. A sequência de autodestruição é interrompida e o Guardião (agora uma massa disforme) pede a Janeway para destruir a estação para os kazons não descobrirem sua tecnologia e destruírem os ocampas. O Guardião morre. Tuvok se lembra da Primeira Diretriz e Janeway diz que, mesmo que a tripulação da Voyager não tenha pedido para se envolver em toda aquela querela entre kazons e ocampas eles estavam envolvidos. Janeway retorna à Voyager e ordena a destruição da estação, protegendo os ocampas dos kazons, mas também acabando com a única chance deles retornarem rapidamente ao quadrante alfa. Os kazons entram em contato e dizem que a Voyager fez um inimigo.
Janeway chama Paris para conversar e diz que os maquis serão integrados à tripulação, com Paris como tenente e Chakotay como Primeiro Oficial, com este dizendo que seria responsável por proteger Paris, já que teve a sua vida salva por ele. Já Neelix e Kes pedem para ir com a Voyager, pois têm conhecimento do quadrante delta, podendo prover informações valiosas, no que Janeway aceita. O episódio termina com Janeway falando à tripulação que, em dobra máxima, a Voyager demoraria setenta e cinco anos para retornar para o quadrante alfa, mas que ela quer encontrar meios de retornar mais rápido, seja por buracos de minhoca ou por tecnologias como a do Guardião e manda Paris traçar um curso para casa. Fim do episódio.
O que podemos falar desse episódio piloto “O Guardião”? Em primeiro lugar, essa é uma série que vai também seguir uma linha razoavelmente distópica, assim como havia ocorrido em Deep Space Nine. Senão vejamos: o episódio já começa com a querela dos maquis, que é um grupo de colonos que não teve seus interesses levados em conta pela Federação no tratado com os cardassianos e resolveram se rebelar. Será o sumiço de uma nave maqui que vai levar a Voyager a fazer a sua missão de localização. Para isso, um dos tripulantes será justamente um prisioneiro, que podemos colocar em discussão até onde ele seria um preso político ou não, que é Tom Paris. É curioso notar a posição de Tuvok no contexto, pois ele é um agente da Federação infiltrado no grupo maqui de Chakotay, assim como a rixa desse com Paris, pois Chakotay vê Paris mais como um mau caráter mercenário. Ao final do episódio, a tripulação da Voyager contará com membros da Federação e maquis sendo obrigado a trabalharem juntos. Essa rivalidade poderia ser mais bem trabalhada ao longo das temporadas, é verdade, mas sentimos um clima pesado entre os personagens nesse episódio piloto. A distopia, contudo, encontraria mais espaço ao longo da série, pelo fato da Voyager ter que atravessar o desconhecido quadrante delta, um espaço com várias regiões sob domínio borg, e a capitã teria que lançar mão de expedientes pouco virtuosos em várias situações.
Com relação ao roteiro, creio que, se o compararmos com os roteiros dos demais episódios pilotos, ele foi muito bem. Se em TNG e DS9 anotamos algumas descontinuidades, aqui a história fluiu muito bem, inserindo bem a apresentação dos personagens na trama, sem direito a barrigas. A ideia de uma civilização avançada que se sente responsável por tutelar outra, pois seu planeta sofreu um sério acidente ecológico por culpa da primeira civilização trouxe elementos a se questionar. Ocampas que eram tratados com todos os recursos, enquanto que os kazons ficavam à míngua. A gente se pergunta até que ponto isto é justo ou não. E também a gente se pergunta até onde os kazons ficaram mais agressivos por viverem em tais condições inóspitas. No fim das contas, Janeway opta por novamente tutelar os ocampas, destruindo a estação do guardião, impedindo que os kazons tivessem acesso à tecnologia, o que poderia destruir os ocampas. Toda essa interferência de Janeway ia radicalmente contra a Primeira Diretriz, mas a capitã justifica sua atitude dizendo a Tuvok que eles já estavam envolvidos demais naquela questão entre essas duas espécies e não havia como ficar neutra. Nada como estar a setenta mil anos-luz da Federação para, mais uma vez, atropelar a Primeira Diretriz. Pelo menos, a capitã buscou retomar o tom solene e utópico da Federação ao fim do episódio, dizendo à sua tripulação que, na viagem de volta, o espírito de exploração continuaria, embora agora haja uma causa maior, que é a de se buscar meios para voltar para casa. Pelo menos, na violação da Primeira Diretriz, houve uma causa nobre, que foi se sacrificar a volta mais rápida para casa para salvar os ocampas. Mas sempre fica aqui a pergunta: os kazons também não têm direito a uma qualidade de vida melhor? O roteiro diz que não, usando o fácil expediente de demonizar toda essa espécie. Fica uma certa sensação de frustração, pois essa questão poderia ter sido mais bem relativizada. Entretanto, optou-se por se criar um inimigo para a tripulação da Voyager, que seria seu antagonista por vários episódios vindouros das primeiras temporadas.
Dessa forma, “O Guardião”, a uma primeira vista, parece ser um bom episódio piloto para Voyager. Uma história que flui bem, apresenta seus personagens sem criar barrigas no episódio, e coloca de cara uma questão acerca da Primeira Diretriz. Tudo isso num ambiente em que a distopia novamente poderá destilar suas cores. Resta a gente analisar, nos próximos episódios da série, até onde a utopia aparece também.
Dando continuidade às nossas análises de episódios de “Jornada nas Estrelas”, falemos hoje do episódio piloto de “Deep Space Nine”, intitulado “O Emissário”. Essa nova série é considerada “o lado negro de Jornada nas Estrelas. Para podermos entender isso, vamos analisar o plot desse episódio duplo de cerca de noventa minutos.
O episódio começa com a Batalha de Wolf 359, onde Locutus ataca as forças da Frota Estelar, provocando um grande estrago. Nessa batalha, a esposa de Benjamin Sisko, Jennifer, acaba morta, algo que Sisko não vai conseguir perdoar em Picard. É uma sequência inicial bem angustiante e nos dá a medida exata do que Sisko sofreu em Wolf 359.
Três anos depois, o Comandante Sisko e seu filho Jake conversam na beira de um lago. O pai tenta convencer o menino a viver com ele numa estação espacial perto de Bajor. Jake reluta, mas Sisko consegue convencê-lo. Na verdade, eles estão num holodeck e a nave já está próxima à estação, que é vista pela escotilha. Só para lembrarmos, essa era uma estação cardassiana, que está sendo ocupada pela Federação, que servirá como mediadora entre Cardassia e Bajor depois de quarenta anos de guerra, onde os primeiros subjugaram os segundos. Caberá a Sisko comandar a estação, onde ele contará com a ajuda de Miles O’Brien. Os cardassianos, antes de saírem da estação, praticamente a depenaram e mataram os bajorianos que lá estavam. Sisko se depara com um bajoriano que o convida a conhecer os profetas, ao passo que o Comandante declina, dizendo que pode fazer isso em outra hora. A Enterprise está atracada à estação e O’Brien diz a Sisko que Picard quer vê-lo. Jake fica incomodado com o estado da estação e Sisko retruca dizendo que até que tudo se ajeite, eles vão ficar em desconforto mesmo.
Sisko conhece a representante de Bajor na estação, a Major Kira, e percebe que ela tem um temperamento muito forte, dizendo que não quer a Federação lá, pois os cardassianos ficaram por lá 60 anos e agora é a vez da Federação. Sisko diz que fez questão de que seu primeiro oficial fosse de Bajor, mas a conversa foi interrompida por um alerta de invasão que Kira teve que ir resolver. Sisko vai junto e temos um furto em progresso, feito por um jovem ferengi e um alienígena. Os ladrões são rendidos com a ajuda de Sisko, onde ele vai conhecer o chefe de segurança Odo. O jovem ferengi é Nog e Quark aparece para tentar tirar o sobrinho daquela enrascada, mas Sisko ordena a prisão de Nog. Kira disse que o menino devia estar seguindo as ordens de Quark e Sisko disse que vai usar Nog como moeda de troca com Quark, de acordo com a tradição ferengi. A Enterprise insiste na chamada de Sisko e ele se encaminha para lá. Picard recebe Sisko cheio de formalidades e este diz que os dois já se conhecem, pois Sisko estava na Saratoga em Wolf 359, para espanto de Picard, que se emudece sobre a questão e começa a falar da querela entre os cardassianos e bajorianos, onde os primeiros roubaram os recursos dos segundos. Picard disse que quer que os bajorianos entrem para a Federação, mas que há várias facções, algumas ainda atacando os cardassianos. A missão de Sisko será preparar os bajorianos para se fliarem à Federação, mas sem descumprir a Primeira Diretriz. Picard disse que se informou da oposição de Sisko a essa missão e que depois de passar alguns anos em Utopia Planitia, que ele estivesse mais preparado para assumir a missão. Sisko retruca que precisa criar seu filho sozinho e que seu filho não está num ambiente ideal. Picard lamenta que os oficiais da Frota nem sempre estejam numa situação ideal e Sisko diz que sabe disso e está pensando em voltar à Terra como civil. Picard diz que vai procurar um substituto. Sisko retruca dizendo que nesse meio tempo fará o seu melhor para cumprir a missão. Picard dispensa Sisko depois dessa conversa muito tensa.
Sisko quer que Quark permaneça na estação com o seu negócio, para manter um comércio (honesto) e seja uma espécie de “líder comunitário”. O ferengi quer ir embora, mas Sisko o chantageia dando a entender que Nog ficará muito tempo na prisão se isso acontecer. Odo se delicia com a saia justa de Quark.
Sisko conversa com Kira sobre o governo provisório bajoriano e ela não acredita que ele continue de pé nem que a Federação permanecerá lá, dando lugar a uma guerra civil. Só quem pode impedir isso seria Kai Opaka, a líder espiitual de Bajor, pois somente a religião une o povo de Bajor. Kai Opaka geralmente vive reclusa. Sisko recebe novamente a visita do bajoriano do início do episódio, dizendo que “está na hora”. Sisko vai a Bajor e é recebido por Kai Opaka, que pergunta se Sisko já explorou seu pagh, sua força de vida (uma vida espiritual), e que ele era muito aguardado. O pagh seria reabastecido pelos profetas. Opaka leva Sisko a uma espécie de gruta e lhe apresenta a “lágrima do profeta” (na verdade, a orbe dos profetas). Ele acaba indo para uma espécie de alucinação onde ele está no dia em que conhece sua esposa na praia. De repente, a alucinação desaparece, e Opaka diz que há nove orbes daquele tipo que apareceram no céu nos últimos dez mil anos e que os cardassianos pegaram as outras. Será tarefa de Sisko achar o templo celestial antes dos cardassianos. As orbes foram enviadas pelos profetas para ensinar a teologia dos bajorianos e os cardassianos fazem de tudo para decifrar os poderes das orbes. Se o cardassianos descobrirem o templo celestial, eles podem destruí-lo. Opaka entrega a orbe para Sisko achar o templo celestial, e ele fará isso pelo seu pagh, que é uma coisa para a qual ela já está destinado há muito tempo, para a perplexidade do Comandante.
Sisko é chamado por Kira ao Promenade e lá o Comandante vê Quark e seu bar com os jogos de azar. Numa conversa entre Sisko e Quark, este último dá uma alfinetada no Comandante no que se refere a chantagem de Sisko usando Nog. A Enterprise deixará a estação e, ao mesmo tempo, chegam o oficial de ciências e o médico. São, respectivamente, Jadzia Dax e Julian Bashir. Como todos sabemos, Dax é uma trill que tem um simbionte que é um amigo de velha data de Sisko. Por isso mesmo, ele vive chamando a bela Jadzia de “meu velho”, pois antes o simbionte estava no corpo de Curzon Dax, um respeitável senhor. Já Bashir estava impressionado com as más condições do local e era isso mesmo que ele queria: um lugar complicado e selvagem, onde está a aventura e a oportunidade de se tornar um herói, um lugar selvagem. Kira, que estava com ele, retruca dizendo que “aquele lugar selvagem era seu lar”, deixando Bashir muito sem graça. Confesso que não gostei muito dessa apresentação de Bashir, um personagem que gosto muito. Ele pareceu infantil, tentando paquerar Dax toda hora, e esse comportamento de ver regiões de fronteira como “selvagens” não parece se enquadrar muito numa mentalidade avançada de século 24.
Sisko dá a Dax o trabalho de analisar a orbe, quando deveria ser ele a fazer isso. Dax, ao tocar na orbe, é remetida à alucinação do dia em que ela recebeu o simbionte de Curzon Dax, para entendermos melhor a personagem. Já O’Brien se despede de Picard na Enterprise e volta para a estação, com a nave deixando a atracação e indo embora.
Chega Gul Dukat, o cardassiano responsável por governar Bajor durante a ocupação. Dukat diz a Sisko que não queria ter saído de sua sala, agora ocupada por Sisko, e o comandante diz, ironicamente (a ironia é a tônica dessa série, praticamente um personagem à parte) que ele pode voltar quando quiser para matar a saudade. Dukat disse que quer ajudar nesse momento difícil, mas dá a entender que pode atacar a Federação e Bajor quando quiser. Sisko diz que vai manter o “cão fora do seu quintal”. Dukat pergunta sobre o encontro de Sisko com Opaka e a orbe que está em poder dele. Dukat quer trocar informações sobre a orbe. Sisko desconversa. Dax, ao investigar dados históricos, encontrou uma região do espaço provável onde possa estar o templo celestial (relatos de naves que viram o “céu abrir”), mas os cardassianos estão por perto para Sisko investigar isso.
Kira fecha o estabelecimento de Quark, onde muitos cardassianos estão ganhando barras de ouro paralatinum. Os cardassianos esconderam todo o dinheiro numa parede de um dos corredores. O saco onde estava o dinheiro na verdade era um disfarce de Odo.
Sisko e Dax vão para o espaço a bordo da nave auxiliar Rio Grande para investigar a região do espaço encontrada na pesquisa histórica da orbe. Eles partem em segurança, pois Odo sabotou as redes de energia, comunicação e detecção dos cardassianos. Chegando à região de destino, Sisko e Dax entram numa enorme fenda espacial (ou buraco de minhoca. Eles saíram a setenta mil anos-luz de Bajor, no quadrante gama. Sisko suspeita que os orbes chegaram a Bajor por esse buraco de minhoca que deve estar ativo há dez mil anos. Então, eles concluíram que descobriram o primeiro buraco de minhoca estável conhecido. De volta ao buraco e minhoca, a velocidade da nave diminuiu e eles pousaram em algo. Sisko sai da nave e vê um ambiente estéril e com tempestades elétricas. Já Dax vê uma bela paisagem verdejante. Uma sonda de energia os escaneia e, quando Sisko tenta fazer contato, é bombardeado, juntamente com Dax, por uma forte energia da sonda, que aprisiona Dax. Sisko fica na fenda, enquanto que a sonda sai dela. O’Brien e Kira teletransportam a sonda e Dax aparece. Já Sisko começa toda uma discussão metafísica sobre tempo com os profetas, que são a espécie alienígena que mora no buraco de minhoca e que são venerados como deuses pelos bajorianos.
Kira pretende mover a estação para próxima do buraco de minhoca por questões estratégicas. Dax acredita que o buraco de minhoca foi construído artificialmente. Odo tem interesse em ir à região do buraco de minhoca, pois ele foi achado lá e não há outros da espécie dele. Odo acredita que o buraco de minhoca pode dar as respostas sobre sua origem. Ele se junta a equipe que irá resgatar Sisko. Mas a nave auxiliar já encontra os cardassianos indo para o buraco de minhoca. Eles pedem a Gul Dukat que não vá, mas este se nega e continua a se dirigir para o buraco de minhoca.
A conversa filosófica de Sisko com os profetas é interrompida pela passagem da nave cardassiana pelo buraco de minhoca. Os profetas acham que as espécies alienígenas que trafegam pelo buraco de minhoca são uma ameaça. Sisko argumenta com eles que os humanos não são uma ameaça e a discussão filosófica continua, falando da linearidade do tempo, da busca do homem pelo desconhecido, etc. Para a nave auxiliar, o buraco de minhoca desapareceu, assim como os cardassianos. Mas a estação já está próxima às coordenadas onde o buraco de minhoca apareceu. Naves cardassianas chegam à estação e não acreditam na história do buraco de minhoca, ameaçando explodir a estação. Mas dão uma hora para Kira provar que não foi a estação que destruiu a nave cardassiana desaparecida. Kira decide ir para o ataque e começa uma batalha entre a estação e os cardassianos.
Sisko, ao conversar com os profetas, é remetido às suas lembranças do passado e ele recorrentemente se depara com a morte da esposa em Wolf 359. Ele não entende por que tem que passar por tudo aquilo de novo e os profetas dizem que ele existe lá, ou seja, ele não consegue purgar sua forte dor do passado. Os profetas dizem que essa escolha de Sisko em ficar preso ao passado não é linear como o tempo que Sisko falou para eles.
Quando a batalha parecia perdida, Dax detecta o buraco de minhoca se formando e Sisko aparece com a Rio Grande puxando a nave de Gul Dukat com o raio trator (o cardassiano teve alguns problemas no quadrante gama, segundo Sisko). Dukat exige que os cardassianos parem de atacar a estação. De volta a estação, Sisko a encontra semi-destruída com treze feridos. Mas, pelo menos, os profetas permitiram o livre trânsito de naves pelo buraco de minhoca.
A Enterprise retorna à estação, o que faz com que os cardassianos se afastem. Sisko e Picard se reencontram e este último fala que o comandante conseguiu colocar Bajor numa posição de destaque com o buraco de minhoca, pois Bajor vai se tornar um grande entreposto comercial. Sisko pede para não mais ser substituído e consegue se conciliar com Picard, pois tirou das costas o peso do passado depois do encontro com os profetas. O episódio termina com várias situações cotidianas que a estação irá enfrentar.
O que podemos falar desse episódio piloto? Em primeiro lugar, o clima pesado e mais distópico, algo que era um pouco estranho à Jornada nas Estrelas até então. A batalha sangrenta em Wolf 359 contra Locutus e a perda severa de Sisko são o cartão de visitas para essa série mais sombria de Jornada nas Estrelas. O tom pesado continua quando Sisko recebe uma estação espacial totalmente caótica e entra em contato com personagens fortes como Kira, Odo e Quark. O comandante percebe que, para sobreviver nesse meio, precisa também ser duro. E já começa chantageando o ferengi Quark, usando seu sobrinho Nog como moeda de troca para colocar a estação em ordem e dar uma vida social ao novo ambiente. Mas esse não será o único gesto distópico do comandante. A conversa dele com Gul Dukat também já apresenta no episódio piloto um personagem à parte que será a tônica da série: a ironia, o sarcasmo. Os diálogos irônicos permeiam todas as temporadas e, se foram responsáveis por deliciosos momentos ao longo de toda série, também provocaram uma inquietação, pois a uma certa altura das temporadas, parecia que todos os personagens eram eivados daquela ironia e cinismo, forçando-nos a se perguntar se todo aquele sarcasmo era mesmo característica dos personagens ou dos roteiristas.
Outro detalhe interessante e que também nunca havia entrado com tanta força em Jornada nas Estelas: a questão da religiosidade. Totalmente purgada por Gene Roddenberry, a religião entrou como tema para discussão com força total nessa nova série, a ponto de o protagonista principal ser pintado em tons messiânicos pelos bajorianos. Sisko como o emissário entrará em contato com os profetas no buraco de minhoca, além de ter sido ciceroneado por Kai Opaka, a líder religiosa suprema de Bajor, que vivia reclusa para a maioria dos bajorianos. É claro que essa religião é relativizada na série e os profetas, que seriam os deuses bajorianos, nada mais são do que uma espécie alienígena que habita o buraco de minhoca. No contato de Sisko com os profetas, tivemos os debates filosóficos do episódio, onde foi discutida a linearidade do tempo, a busca dos humanos para elucidar o desconhecido, etc. Tal discussão ficou um pouquinho enfadonha a meu ver, e foi responsável pela descontinuidade no roteiro do episódio. Mas, pelo menos, ela serviu para purgar os tormentos de Sisko, que ficava preso ao seu passado da perda da esposa e o tornava uma pessoa desanimada a prosseguir com sua missão, além de ter sido muito ríspido com Picard, outra sequência pesada do episódio.
Dessa forma, esse foi um bom piloto para “Deep Space Nine”, principalmente pela então nova proposta de contexto distópico de espaço profundo numa região de fronteira recentemente saída de uma guerra, que propunha algo diferente em Jornada nas Estrelas até então, lembrando sempre que essa distopia se passava bem distante da Federação e de suas ideologias utópicas, preservando-as. A questão da discussão da religiosidade foi outro elemento novo introduzido em Jornada nas Estrelas. Mas creio que o grande trunfo desse episódio foi a variação de personagens de características fortes como Kira, Gul Dukat, Odo, Quark e O’Brien. Num primeiro momento, Dax e o Dr. Bashir pareciam um pouco fora de contexto, sendo personagens mais brandos e menos carismáticos. Mas, com o tempo, vimos que esses dois personagens também se integraram bem na série. DS9 se tornaria uma das séries mais amadas de Jornada nas Estrelas para muitos fãs.
Falemos, hoje, do episódio piloto de “Jornada nas Estrelas, a Nova Geração”, intitulado “Encontro em Farpoint”, miseravelmente traduzido para cá como “Encontro em Longínqua”. Confesso que fica mais elegante “Farpoint” na minha cabeça. É uma história escrita por Dorothy Fontana e Gene Roddenberry.
O episódio começa com Picard em seu diário de bordo, onde ele diz que vai para Deneb IV, mais especificamente na localidade de Farpoint, uma base estelar construída pela civilização de Deneb IV. Ele está recentemente comandando a Enterprise –D e ainda não conhece bem a sua tripulação. Ainda não há um Primeiro Oficial, mas um tal de William Riker se juntará à tripulação. Uma espécie de grade sólida cerca a nave. Uma espécie alienígena invade a ponte com um traje terrestre antigo e diz que a espécie humana já adentrou demais pela galáxia e deve retornar imediatamente. Ele se intitula Q e congela um oficial da ponte que aponta uma arma para ele. Picard disse que o phaser estava na posição de tonteio e Q responde que sabe como os humanos agem e se gostaria de ser capturado indefeso por eles, já mostrando sua posição crítica contra a espécie humana. Q continua mudando seu traje para um militar americano do século 20 e Picard retruca dizendo que a raça humana fez mais progressos depois disso. Q insiste mostrando os defeitos da raça humana, Picard retruca dizendo que vê raças (como a do Q) que acusam e julgam aquilo que não entendem e toleram. Q disse que julgar é uma boa ideia e que vai retornar. Worf recomenda lutar. Tasha Yar recomenda lutar e fugir. Picard pergunta a Troi o que ela achou de Q. Ela disse que sua mente é muito poderosa e recomenda evitar contato. Picard decide colocar a nave em máxima aceleração. A grade anda mais rápido que eles e Picard decide separar a seção disco, deixando-a sob o comando de Worf. Picard vai para a ponte de combate. Cabe ressaltar aqui que a ideia de separar a seção disco do restante da nave já existia desde a série clássica, mas não foi realizada por falta de recursos na época. Assim, na década de 80, quando essa separação já era possível, vemos a mesma sendo usada já no episódio piloto de TNG. Um detalhe hilário aqui é que vemos civis sendo transferidos de uma parte a outra da nave (a seção disco) e podemos testemunhar já neste episódio como eram ridículas as roupas dos mesmos nas séries de Jornada nas Estrelas pós-TOS, sendo muito coloridas e espalhafatosas, com o detalhe especial de um homem vestido de saias. Lembra um pouco o casal civil que vimos em “The Cage”. Picard estã na ponte de batalha e temos a visão de Chefe O’Brien na ponte. Antes da separação da seção disco, foram dados tiros de torpedos fotônicos contra a grade. A separação é feita (lembrando que nunca uma separação havia sido feita em dobra e em velocidade tão alta, cerca de dobra 9,5) e o restante da nave se virou contra a grade. Os torpedos foram detonados e Picard ordenou colocar a nave em parada total e esperar. Tasha sugeriu uma estratégia de ataque e Picard a cortou perguntando se ela estava sugerindo lutar contra uma raça tão desenvolvida e que ele queria sua sugestão, diante de uma Tasha emudecida. Tasha responde que falou sem pensar e que a prioridade deles é defender o disco. A grade se aproxima e Picard lança uma ordem onde deve-se enviar uma comunicação de que eles se rendem sem condições. A nave é cercada pela grade e os oficiais mais graduados vão parar numa simulação de julgamento da Terra no século 21 depois de uma Terceira Guerra Mundial, onde Q é o juiz. Picard pergunta se eles terão um julgamento justo e Q diz que sim. Mas eles serão acusados pelas atrocidades da raça humana. Data diz que em 2036, acusações sobre atrocidades humanas foram abolidas, mas Q retruca dizendo que o presente tribunal é de 2079, onde essa lei caiu. Tasha diz que viveu num mundo onde tais tribunais existiam e que foram pessoas da Federação que a salvaram. E que Tanto Q quanto as pessoas que assistiam ao julgamento deveriam se curvar para a Federação. Q a congelou. Picard protesta e lança um desafio a Q dizendo que este não conseguirá condenar os humanos se houver um julgamento justo. E atacar os acusados não é um julgamento justo. Q diz que a corte é misericordiosa e descongela Tasha. Picard diz que reconhece esse tipo de tribunal, que ele é do tipo “a pessoa é culpada até que ela prove a sua inocência”, e cita Shakespeare (ator shakesperiano que Patrick Stewart é), “matem todos os advogados”, ao que Q respondeu “e foram mortos”. Q exige que Picard leia as acusações. Picard as lê e diz que não vê nenhuma acusação ali. Q ameaça a vida de Troi e Data com seguranças armados. Picard se declara culpado para salvar a sua tripulação, mas provisoriamente. Q quer escutar as condições de Picard. Este comenta que o tribunal não respeita as próprias regras que cria, mas Q não dá muita atenção a esse argumento. Picard, então, parte para oura estratégia: diz que o tribunal tem provas suficientes para confirmar a selvageria dos humanos no passado, mas sugere que os humanos sejam testados agora, o que desperta a atenção de Q. Este diz que a missão em Farpoint dará condições para muitos testes e coloca o tribunal em recesso. Os oficiais mais graduados retornam à ponte de combate, que está com a rota traçada para Farpoint.
Em Farpoint, um Riker ainda sem barba aguarda a Enterprise-D. Ele conversa com o responsável pela estação, Groppler e percebe como a mesma tem uma boa reserva de energia e uma estação tão bem adequada às necessidades humanas. Groppler desconversa e oferece frutas da Terra a Riker e ele quer uma maçã. Na tigela, não havia maçãs, mas subitamente aparece uma outra tigela de maçãs em cima da mesa. Riker deixa a sala e Groppler começa a falar para alguém que ele não devia ter feito isso (a aparição da maçã), pois levanta suspeitas e que esse alguém será punido se forem levantadas as suspeitas.
Riker se encontra com a Dra. Crusher e seu filho Wesley. Ele tenta contar a ela a história da maçã enquanto a Dra. tenta comprar um tecido, mas não há o tecido da cor que ela quer. Subitamente, surge um tecido da cor que ela quer comprar, assim como ocorreu com a maçã. O tenente La Forge se apresenta a Riker e diz que a Enterprise chegou, só que sem a seção disco. Riker decide subir para conhecer Picard. O Primeiro Oficial vai à ponte e é recebido friamente pelo capitão, que ordena a Tasha que deixe Riker a par da situação de Q. Quando Riker vai conversar com Picard, este secamente ordena que o Primeiro Oficial atraque manualmente a seção disco, que tinha chegado. Riker faz a atracação sem maiores problemas. Riker e Picard conversam novamente e vemos como o Primeiro Oficial preza demais a vida de seus capitães, uma característica básica em Riker. Picard ainda pede que Riker o ajude a ser popular com as crianças, já que ele não possui família. E recebe amistosamente seu novo Primeiro Oficial.
Na enfermaria, a Dra. Crusher e La Forge conversam sobre seu dispositivo óptico que o ajuda a enxergar em várias frequências, embora isso lhe cause alguma dor. Todas as opções que a doutora dá a La Forge prejudicariam sua visão e ele se nega. Sentimos muito nesse episódio piloto a apresentação dos personagens e suas principais características, aparecendo detalhes deles aqui e ali.
Riker chega à ponte e procura Data. Worf diz que ele está numa nave auxiliar para transportar um almirante que se recusa a usar teletransporte. Esse almirante é o Dr. McCoy e temos aqui o melhor momento de todo o episódio, que é a conversa entre McCoy e Data. McCoy reclama que Data quer os átomos do Dr. espalhados pelo espaço. Data diz que não e somente quer uma viagem mais confortável para a idade dele. McCoy pergunta a Data qual é a idade do Dr. e ele responde que são cento e trinta e sete anos. McCoy pergunta como ele sabe disso e percebe que Data não tem orelhas pontudas. McCoy diz que Data fala como um vulcano, e Data retruca que é um andróide, ao que McCoy diz: é quase tão ruim quanto. Data não entende, pois a raça vulcana sempre foi muito honrada e avançada. McCoy diz que sim, mas que também pode ser muito irritante. McCoy diz a Data que esta é uma nave nova mas tem o nome certo, que ela deve ser tratada como uma dama e assim, ela sempre o levará para casa.
Picard está na ponte e Q está na tela, dizendo que eles têm somente mais vinte quatro horas para fazer o teste. Picard diz a Riker que eles continuarão a fazer o que têm que fazer.
Riker e Picard conversam sobre a estranha característica de Farpoint de ter uma fonte geotérmica e as coisas aparecerem como que por milagre para agradar aos humannos. Picard não dá muita bola para isso, à despeito da preocupação de Riker, embora queira conhecer Groppler (creio que aqui Picard teria que ficar mais esperto em virtude do que foi dito por Q sobre Farpoint). Riker encontra Troi e fica claro o passado dos dois. Picard percebe que os dois se conheciam, mas não a querela amorosa mal resolvida.
Picard, Riker e Troi vão conversar com Groppler. O habitante do planeta frisa que quer fazer acordo com a Federação mas que não quer outra estação dela lá. Troi sente muita dor, solidão e desespero de algo próximo. Perguntado por Picard sobre esses sentimentos, Groppler desconversa e reage fortemente dizendo que não vê utilidade em tudo aquilo, mostrando claramente que esconde algo. Picard encerra a discussão e a deixa para uma outra hora, cozinhando Groppler em banho-maria.
Riker se encontra com Data pela primeira vez num holodeck (é, também, a primeira vez que um holodeck é mostrado na série) e diz que precisa do andróide para investigar Farpoint. Riker mostra o seu desconforto em se relacionar com um andróide e Data diz que o preconceito é normal entre os humanos. Riker pergunta se Data se acha superior aos humanos e o andróide responde que sim, em vários aspectos, mas que trocaria tudo isso para ser humano. Riker faz uma brincadeira e o chama de Pinóquio. O andróide não entende a piada e diz que é “intrigante”. Os dois saem andando onde percebemos que Riker gostou de Data. Wesley se encontra com os dois e cai no lago. Data corre para tirá-lo da água e o ergue de uma vez, para sabermos que o robô tem grande força. Os três saem do holodeck e se encontram com Picard, que vê um Wesley molhado com ar de reprovação.
Na enfermaria, Wesley pede à mãe para ir à ponte e diz que Picard é um chato. A mãe retruca dizendo que seu pai gostava dele. A Dra. Crusher diz que vai tentar levar Wesley á ponte. Os dois vão para a ponte e Picard se reencontra com Crusher. Assim que ele sabe que Wesley é o filho dela, ele deixa o menino ir para a ponte, desde que não toque em nada. Na cadeira do capitão, Wesley sabe de todos os comandos e botões. Mas são convidados a se retirar por Picard, já que uma nave desconhecida está chegando. Picaard contacta Groppler e pergunta sobre a nave desconhecida, mas este diz que nada sabe sobre ela. A gigantesca nave sonda a Enterprise.
Uma equipe da Enterprise investiga Farpoint para descobrir o que acontece de errado. São encontrados corredores subterrâneos de um material desconhecido e Troi sente novamente uma forte dor e desespero de uma espécie que ela sente que é diferente da humana. Troi percebe que a coisa que ela sente não quer que eles contactem a Enterprise (os comunicadores estão bloqueados). Eles sobem à superfície.
A nave atira na cidade velha ao lado de Farpoint. Groppler pede socorro à Enterprise. Picard pede a Riker e Data que tragam Groppler para a Enterprise. Para defender os bandis (a espécie de Groppler), Picard ordena que os phasers sejam travados na nave. Nessa hora, Q aparece e diz que isso é típico dos humanos: formas de vida selvagens não seguem as próprias regras, devolvendo na cara de Picard o que ele disse a Q no Tribunal (yess!). Picard fica irritadinho e ordena Q a sair da ponte. Q diz para Picard usar suas armas. Picard retruca que a ordem de travar os phasers foi uma precaução de segurança de rotina, já que a espécie é desconhecida. Q diz que o significado da nave desconhecida é bem simples. E ainda pergunta o que a tripulação está fazendo sobre as mortes na superfície, já que os humanos se consideram civilizados. Picard responde com uma ordem à Dra. Crusher de atender aos feridos. Picard diz a Q que a Frota Estelar é treinada para dar assistência e Q interrompe dizendo que a Frota não é treinada para pensar com clareza. Picard retruca dizendo que Q considera os humanos selvagens, mas sabia que as pessoas iam ser mortas com seu ataque da nave espacial. Isso sim é ser selvagem. Picard ordena a Worf a posicionar a Enterprise entre a nave e a cidade, mas os controles não respondem.
Riker e Data encontram um desesperado Groppler nos escombros pedindo ajuda para cessar o ataque, mas ele se recusa a dizer aos oficiais quem está atacando. Quando Riker Data fazem menção de ir embora, Groppler abre o jogo e quando vai dizer algo, desaparece. Riker comunica isso a Picard e Q se delicia dizendo que os humanos não têm a menor ideia de quem transportou Groppler ou quem são os alienígenas da nave, e que o tempo da Enterprise está acabando. Troi diz que sente uma satisfação muito grande, não da entidade do planeta, mas de algo mais próximo. Q parabeniza Troi e diz que Picard é muito burro, zoando geral. Picard se emputece de vez e fala para Q sair da ponte ou destruí-los logo de uma vez. Q diz que só está querendo ajudar. Q diz que Picard tem que enviar um grupo avançado para a nave alienígena, pois a resposta do enigma está lá e Picard já deveria saber disso. Riker se oferece para descer e diz a Q que os humanos não são mais selvagens. Q retruca dizendo que eles vão ter que provar isso e desaparece.
Picard vai à enfermaria e pergunta a Crusher se ela não quer ser sua médica–chefe, à despeito do problema entre os dois e o marido da médica. Cruhser diz que isso em nada afetará o fato dela estar na nave sob as ordens de Picard e aceita o posto. Eu sei que nesse episódio-piloto, tivemos algumas sequências para apresentar melhor os personagens. Mas, do jeito que essa sequência específica de Picard e Crusher foi colocada, ou seja, num momento importante do desenlace de uma das tramas principais, deu-se a impressão de algo totalmente fora do contexto. Isso deveria ter sido colocado mais lá trás, de preferência colado ao momento em que Crusher e Wesley foram á ponte (a chegada da nave alienígena poderia ser depois de tudo isso, por exemplo).
Riker lidera um grupo avançado à nave alienígena. Chegando lá, encontram os mesmos túneis vistos no planeta. Troi sente uma enorme raiva contra a cidade velha. Eles encontram Groppler num campo de força implorando para sair de lá. Troi sente um alienígena na sala. Riker e Data atiram com phasers no campo e libertam Groppler. A nave muda de configuração e Picard ordena o transporte imediato do grupo avançado. Nessa hora, Q aparece na ponte, vestido de capitão, dizendo que o tempo terminou e cortando as comunicações do capitão com a sala de transporte. Picard pede (por favor) para Q permitir que ele salve seu grupo e que fará o que ele disser. Q transporta o grupo avançado e Groppler à ponte. Troi diz que, na verdade foi a nave que os transportou, que ela é uma entidade viva e que Q nada tem a ver com isso. Q instiga Picard a atacar a nave, mas ele se recusa, mesmo sob os protestos de Groppler, que teve a sua cidade destruída. Picard percebe o que aconteceu e mandou um feixe de energia para Farpoint. Havia um ser vivo que convertia energia em matéria que chegou ferido à cidade velha e Groppler o aprisionou, fazendo Farpoint ser uma espécie de ilusão. Esse ser vivo (uma espécie de água-viva gigante) era a entidade que sentia medo e dor. E a nave sentia raiva por causa de seu par aprisionado sob a falsa Fairpoint. Picard, assim, liberta a forma de vida sob Farpoint, se unindo à forma de vida que está em órbita. Troi sente alegria e gratidão de ambos os seres.
Picard pergunta a Q por que ele usa criaturas vivas como seus brinquedos e ordena que ele saia da nave. Q diz que vai sair, mas deixa explícito que vai voltar. Picard consegue fazer um acordo com os bandis para reconstruir farpoint e a Enterprise vai embora em dobra, com o tradicional “engage” de Picard. Fim do episódio.
O que podemos falar desse episódio piloto (duplo) de TNG? Em primeiro lugar, ele é dividido em três núcleos principais: o núcleo de Q e da discussão filosófica entre essa entidade praticamente onipotente e Picard sobre a raça humana, núcleo esse que poderia ficar muito pesado se não houvesse a fina ironia de Q (podemos colocar esse núcleo como o mais interessante do episódio e que rendeu outros ótimos episódios ao longo da série); o segundo núcleo era o responsável por apresentar os personagens da série, um núcleo que foi responsável por dar um andamento desigual no roteiro e que ajudou a tornar o episódio um pouco mais enfadonho; e o terceiro núcleo, que abordava os problemas dos bandi com a espécie alienígena que era aprisionada por Groppler. A divisão da história nesses três núcleos tornou a trama muito heterogênea e contribuiu para prejudicar o ritmo do episódio, fazendo a coisa ficar um pouco chata em alguns momentos. Essa apresentação dos personagens talvez fosse melhor se ficasse mais diluída ao longo dos episódios. A querela entre Riker e Troi, por exemplo, merecia ser tratada mais detalhadamente num episódio, assim como a situação entre Picard e Crusher. Talvez uma rápida apresentação dos personagens no episódio piloto não quebrasse tanto o ritmo. O tempo gasto com a apresentação dos personagens poderia ser mais aproveitado nos diálogos entre Q e Picard, por exemplo, pois esse é o núcleo que tinha a reflexão mais pertinente, a ponto do núcleo de Farpoint servir de apoio para o núcleo de Q. Temos que fazer toda uma menção especial a John de Lancie aqui, pois sua atuação como Q foi formidável, onde ele faz troça com o capitão da Enterprise, dando oportunidade para a série rir de si mesma, como víamos na série clássica, que tinha uma grande carga de humor, um humor que não dispensa a reflexão. O mais contundente em Q é a gente constatar que ele tem uma certa razão com os humanos até quando nos referimos a humanidade mais “civilizada” do século 24. A rabugice de Picard é um atalho pavimentado para a arrogância humana ainda estar presente nessa sociedade utópica do futuro. E Q não perdoa qualquer brecha de defeito que o ser humano dê para ele apontar, o que ele aproveita com um sarcasmo para lá de delicioso.
Com relação ao núcleo de Farpoint, a coisa que mais chamava a atenção era a atitude torpe de Groppler em manter uma espécie aprisionada para atender aos seus interesses mesquinhos. Mas esse núcleo realmente funciona mais como uma escada ao núcleo de Q e é a oportunidade de ouro de Picard mostrar ao ser onipotente como a raça humana progrediu ao longo dos séculos.
Olhando de forma retrospectiva, a apresentação de personagens incomodou em alguns pontos. Troi parecia extremamente frágil em sua sensitividade, assim como Picard era extremamente rabugento, uma rabugice talvez deslocada para o século 24. Por incrível que pareça gostei de Riker, o personagem mais provável a cair nos exageros de uma diplomacia de cowboy naqueles primeiros dias. Mesmo que ele ressaltasse sua devoção à preservação da segurança do capitão, a ponto de passar por cima da hierarquia e do protocolo para isso, Riker sempre teve atitudes mais ponderadas do que impetuosas, pedindo autorização do capitão para se manifestar e caindo nas graças de seu superior rapidamente. O mais curioso é que não tive uma boa impressão de Riker quando o vi pela primeira vez lá na já longínqua (sem trocadilhos) década de 80. Confesso que a barba ajudou muito na simpatia do personagem e isso foi um golaço do Roddenberry que falou para Riker manter a barba na volta das férias para a gravação da segunda temporada. Ainda, rolava na época uma história que Riker também passou a ter barba, pois ele era muito parecido com Kirk.
Dessa forma, “Encontro em Farpoint” serviu como o cartão de visitas de TNG e foi uma boa história que sofreu com a ambição excessiva em apresentar pequenos núcleos de muitos personagens de uma vez só, o que atrapalhou o ritmo do episódio e tirou espaço do núcleo principal, que era o de Q e a questão do ser humano ser civilizado ou não. A partir desse conteúdo original, TNG foi sendo trabalhado ao longo dos episódios e temporadas, onde algumas arestas foram aparadas e a série foi se desenvolvendo e melhorando.
Vamos dar sequência às análises de personagens de Jornada nas Estrelas, falando hoje de James Tiberius Kirk. A fonte é a Wikipédia e mais algumas coisas da minha cuca, para não ficar só no control-c/control-v
James Tiberius Kirk nasceu em Riverside, Iowa, em 22 de março de 2233.Seus pais eram George e Winona Kirk. Apesar de ter nascido na Terra, Kirk morou por um tempo em Tarsus IV, onde ele foi um dos nove sobreviventes do massacre de 4.000 colonos por Kodos, o Executor.O irmão de James Kirk, George Samuel Kirk é mencionado pela primeira vez em “What Are Little Girls Made Of?”, sendo introduzido e morto no episódio “Operation: Annihilate!”, deixando três filhos.
Na Academia da Frota Estelar, Kirk se tornou o único estudante a derrotar o teste do Kobayashi Maru, ganhando elogios por pensamento original ao reprogramar a simulação para permitir a vitória no cenário “sem vitórias”.Kirk ganhou uma comissão de campo como um alferes e foi colocado para treinamento a bordo da USS Republic.Ele então foi promovido a tenente-júnior e retornou à Academia como estudante instrutor. Ao se formar entre os melhores, Kirk foi promovido a tenente e serviu a bordo da USS Farragut. Enquanto servia na Farragut, ele comandou sua primeira pesquisa planetária e sobreviveu a um ataque mortal que matou grande parte da tripulação da Farragut.
Kirk se tornou o capitão mais jovem da história da Frota Estelar quando ele recebeu o comando da USS Enterprise para uma missão de cinco anos,três dos quais são mostrados na série de televisão Star Trek.Suas relações mais significantes na série foram com seu primeiro oficial Spock e o oficial médico chefe da nave Leonard McCoy. O livro de Robert Jewett e John Sheldon Lawrence, The Myth of the American Superhero, descreve Kirk como “um líder que empurra ele mesmo e sua tripulação para além de limites humanos”.Terry J. Erdman e Paula M. Block, em Star Trek 101, notam que apesar de “astuto, corajoso e confiante”, Kirk tem “tendência a ignorar regulações da Frota Estelar quando ele acha que os fins justificam os meios”; ele é “o oficial por excelência, um homem entre homens e um herói para as eras”. Apesar de pela série Kirk se envolver com várias mulheres, quando confrontado com escolha entre a mulher e a Enterprise, “sua nave sempre vence”.
O livro The Lost Years, de J. M. Dillard, descreve a promoção de Kirk a Almirante e sua vida insatisfatória como um solucionador de problemas diplomáticos depois da missão de cinco anos da Enterprise. Em Star Trek: The Motion Picture, Kirk é o chefe das operações da Frota Estelar, e ele assume o comando da reformada Enterprise do Capitão Willard Decker.No começo de Star Trek II: The Wrath of Khan, Kirk assume o comando da Enterprise do Capitão Spock para perseguir seu inimigo de “Space Seed“, Khan Noonien Singh.O filme introduz o filho de Kirk, David Marcus. Spock, que nota que “comandar uma nave estelar é o primeiro, melhor destino [de Kirk]”, morre ao final do filme. Em Star Trek III: The Search for Spock, Kirk lidera seus oficiais seniores em uma missão bem sucedida para salvar Spock, que renasceu no Planeta Gênesis. Apesar de Kirk ser rebaixado a Capitão em Star Trek IV: The Voyage Home por desobedecer as ordens da Frota Estelar, ele recebe o comando da USS Enterprise-A.Ele permanece como capitão da nave até sua descomissão ao final de Star Trek VI: The Undiscovered Country.
Em Star Trek Generations, o Capitão Jean-Luc Picard encontra Kirk vivo na intemporal Nexus, apesar da história ter registrado sua morte durante a viagem inaugural da Enterprise-B. Picard convence Kirk a retornar ao presente do primeiro para ajudá-lo a derrotar o Dr. Tolian Soran e impedi-lo de destruir a estrela de Veridian. Apesar de inicialmente recusar, Kirk aceita ao perceber que a Nexus nunca vai lhe dar aquilo que ele sempre procurou: a habilidade de fazer a diferença. Os dois deixam a Nexus e impedem Soran. Entretanto, Kirk é mortalmente ferido e morre.
Quando falamos da série clássica, há episódios em que o personagem de Kirk é especialmente trabalhado. Em “Cidade à Beira da Eternidade”, Kirk volta à época da Grande Depressão com Spock para salvar um enfurecido Dr. McCoy, que havia injetado acidentalmente uma droga no organismo que o colocou num estado alterado e passou pelo guardião da eternidade. Kirk irá se envolver com a pacifista Edith Keller, mas descobriu que ela morrerá num acidente através de uma engenhoca montada por Spock e, caso ela não morresse, suas ações pacifistas retardariam a entrada dos Estados Unidos na 2ª Guerra Mundial, o que daria tempo para os nazistas desenvolverem a bomba atômica. A morte de Keller, que não pôde ser evitada por Kirk, causou muita dor ao capitão. Em “Semente do Espaço”. Kirk encontra um oponente à altura, que foi Khan. Esse episódio serviu como base para o longa “Jornada nas Estrelas II, a Ira de Khan”, onde o embate entre o agora Almirante Kirk e Khan foi um jogo não só estratégico, mas também psicológico, onde Khan atinge Kirk de forma contundente, a ponto do almirante dar o seu famoso grito que seria visto até de forma cômica pelo fandom. Mas o segundo longa de “Jornada nas Estrelas” também abordou a questão da velhice de Kirk e de como ele não estava levando isso bem, pois nunca havia encarado uma derrota ou uma perda em sua vida. A morte de Spock foi algo extremamente doloroso e contundente para o almirante, que precisou rever todos os seus conceitos interiores e se reinventar para buscar uma espécie de redenção e rejuvenescimento. Outro violento choque para Kirk foi a morte de seu filho David em “Jornada nas Estrelas III, a Procura de Spock”, por um klingon, além da destruição da Enterprise, o que fez ele ter um ódio incontido por essa espécie manifesto em “Jornada nas Estrelas VI, a Terra Desconhecida”. Seu preconceito somente irá ser arrefecido quando ele conhece o chanceler Gorkon, vê o mesmo sendo assassinado por um complô contra a paz e procura elucidar esse complô com a ajuda de sua tripulação, descobrindo que pessoas da Federação e os Klingons se uniram para manter as beligerâncias entre seus povos por temer uma realidade de paz.
Mesmo que tenha driblado o teste do Kobayashi Maru, Kirk sempre foi um aluno dedicado e aplicado na Academia da Frota Estelar, tornando-se mais impetuoso no comando de naves estelares. Seus arroubos autoritários já aparecem nos primeiros episódios de TOS, quando ele se dirige de forma muito ríspida a Scott e este faz uma expressão de surpresa e perplexidade, o que provoca um imediato pedido de desculpas do capitão. Mas esse autoritarismo continuaria em alguns momentos ao longo da série, sendo alvo até de brincadeiras e troças por parte dos roteiristas, como no episódio “Padrões de Força”, onde, num planeta onde um humano historiador achou melhor usar a filosofia nazista para acabar de imediato com uma guerra entre povos nativos, Kirk precisou se disfarçar de oficial nazista e perguntou a Spock como ele estava, ao que Spock retrucou que ele estava “muito bem, um nazista perfeito”, o que gerou um olhar de perplexidade de Kirk.
Outro ponto muito citado sobre Kirk é o fato dele ser o macho alfa por excelência, que violava constantemente a Primeira Diretriz (a de não interferência nas civilizações de cultura pré-dobra) e de ter muitas aventuras amorosas, sendo o pegador por excelência. Com relação às violações da Primeira Diretriz, elas realmente ocorriam e foram até citadas posteriormente, como nas menções a “diplomacia de cowboy” feitas por Spock em TNG, quando ele se referia aos seus dias de Primeiro Oficial ao lado de Kirk na Enterprise, ou na conversa entre Janeway e Tuvok em Voyager sobre os dias difíceis que Kirk e Spock enfrentavam como integrantes de uma Frota Estelar que tinha que, às vezes, resolver muitas querelas de uma Federação que ainda buscava solidificar suas estruturas no quadrante alfa. Já no caso do machismo latente do capitão, podemos atribuir ao fato de que TOS é um produto cultural datado (como todos os produtos culturais o são; a atemporalidade é algo extremamente difícil de se conseguir e, portanto, ela é tão preciosa quando obtida) e, por mais bem intencionada que a série fosse no que tange a se buscar uma sociedade utópica, os vícios de seu tempo se faziam presentes. E aí o protagonista macho-alfa varão branco americano se fazia impor, embora nunca possamos nos esquecer de que Spock trazia também um forte protagonismo, no caso o protagonismo do “outsider”, daquele que não se enquadrava nos parâmetros da sociedade tradicional da época. A maestria de Jornada nas Estrelas era justamente perceber a harmonia entre o macho alfa varão do establishment e o outsider deslocado da sociedade, sendo um dos pontos utópicos da série. Harmonia essa sugerida pelo próprio Isaac Asimov a Gene Roddenberry, quando este quebrava a cabeça em administrar os egos de William Shatner e Leonard Nomoy quando o protagonismo de Spock se fazia cada vez mais presente, algo que incomodava muito a Shatner.
O filme de 2009 Star Trek e suas sequências introduzem um universo alternativo que revela diferentes origens para Kirk, sua formação e associação com Spock e como eles terminaram servindo juntos a bordo da Enterprise. O ponto de divergência entre os eventos do universo original e do alternativo ocorre no dia do nascimento de Kirk em 2233.
Apesar do filme tratar detalhes específicos de Star Trek como mutáveis, as caracterizações destinam-se a “permanecer as mesmas”.No filme, George e Winona Kirk nomeiam seu filho James Tiberius em homenagem a seus pais. Ele nasceu em uma nave auxiliar escapando da USS Kelvin, onde seu pai é morto.O personagem começa como um “rebelde irresponsável e briguento” que eventualmente chega na “maturidade”. De acordo com Chris Pine, o personagem é uma pessoa de “25 anos [que age como uma] de 15 anos” e que está “bravo com o mundo”. Kirk e Spock se desentendem na Academia da Frota Estelar,porém, no decorrer do filme, Kirk foca sua “paixão, obstinação e o espectro das emoções” e se torna o capitão da Enterprise.
Jeffrey Hunter interpretou o Capitão Christopher Pike, oficial comandante da USS Enterprise, no rejeitado primeiro piloto “The Cage“. Ao desenvolver o segundo piloto, “Where No Man Has Gone Before”, o criador da série Gene Roddenberry mudou o nome do capitão para James T. Kirk depois de rejeitar várias opções. O nome foi inspirado pelo Capitão James Cook, cuja anotação em seu diário “a ambição me leva… mais longe do que qualquer outro homem esteve antes de mim” inspirou o título do episódio.O personagem é em parte baseado em Horatio Hornblower, de C. S. Forester, e a NBC queria que o programa enfatizasse o “individualismo áspero” do capitão. Jack Lord era a escolha original da Desilu Productions para interpretar Kirk, porém sua exigência de 50% da série levou a sua não contratação.
William Shatner tentou imbuir o personagem com “respeito e admiração”, ausentes em “The Cage”. Ele também tirou inspirações de suas experiências como ator Shakespeariano para fortalecer o personagem, cujo diálogo era carregado de jargões.Não apenas ele se inspirou na sugestão de Roddenberry de Hornblower, porém Shatner também baseou Kirk em Alexandre, o Grande—”o atleta e o intelectual de seu tempo”, que Shatner havia interpretado em um piloto não vendido dois anos antes—e nele mesmo porque “o fator de fadiga [depois de semanas de filmagens] é tanto que você tenta ser tão honesto quanto possível consigo mesmo”.Um veterano na comédia, Shatner sugeriu fazer os personagens do programa tão confortáveis no espaço quanto eles estariam no mar, e fazer Kirk ser o humorado “bom amigo o capitão, que em tempos de necessidade iria ter um estalo e viraria um guerreiro”. Mudar o personagem para “um homem com emoções bem humanas” também permitiu o desenvolvimento do personagem de Spock. Shatner escreveu que “Kirk era um homem que se maravilhava e muito apreciava as surpresas sem fim apresentadas a ele neste universo… Ele não dava as coisas como garantidas e, mais do que ninguém, respeitava a vida em cada uma de suas formas de aventuras estranhas e semanais”.
Quando Star Trek foi cancelado em 1969, Shatner assumiu que esse seria o fim de sua associação com o programa; entretanto Shatner acabou dublando Kirk na série de animação de Star Trek, estrelou os primeiros sete filmes da franquia, e dublou o personagem em vários video games.O diretor de The Wrath of KhanNicholas Meyer, que nunca havia assistido a um episódio da série antes de ser contratado para dirigir o filme, se focou na atmosfera “Hornblower no espaço sideral”, sem saber que ela havia influenciado a série.Meyer também enfatizou paralelos com Sherlock Holmes, já que os dois personagens eram um desperdício sem seus estímulos: novos casos para Holmes, e aventuras em naves estelares para Kirk.
O roteiro de The Wrath of Khan de Meyer se focava no envelhecimento de Kirk, com McCoy dando-lhe óculos como presente de aniversário. O roteiro afirma que Kirk tem 49 anos, porém Shatner estava inseguro sobre específicar a idade de Kirk porque ele estava hesitante em interpretar uma versão de meia-idade dele mesmo. Shatner mudou de ideia quando o produtor Harve Bennett o convenceu de que ele poderia envelhecer graciosamente como Spencer Tracy. O sacrifício de Spock ao final do filme permitiu o renascimento espiritual de Kirk; anteriormente tendo comentado que ele se sente velho e desgastado, Kirk na cena final afirma se sentir “jovem”.Além disso, a solução de sacrifício próprio de Spock para o cenário sem vitória do Kobayashi Maru, que Kirk havia trapaceado, o força a confrontar a morte e crescer como personagem.
Tanto Shatner como públicos teste ficaram insatisfeitos que Kirk foi morto por um tiro nas costas no final original de Generations;um adendo inserido por Shatner enquanro seu livro Star Trek Memories estava sendo impresso expressava seu entusiasmo ao ser chamado para filmar um final reescrito.Apesar da alteração, o co-roteirista de Generations, Ronald D. Moore, disse que a morte de Kirk, que destinava-se a “repercutir por toda a franquia Star Trek“, falhou em “entregar os temas [de morte e mortalidade] do jeito que queriamos”. Malcolm McDowell, cujo personagem Dr. Tolian Soran matou Kirk, ficou insatisfeito com ambas as versões da morte de Kirk; ele acreditava que Kirk deveria ser morto “em grande estilo”. McDowell afirma que ele recebeu ameaças de morte após o lançamento de Generations.
No filme Star Trek de 2009, os roteiristas Alex Kurtzman e Roberto Orci focaram sua história em Kirk e Spock na linha de tempo alternativa enquanto tentavam preservar características chave de cada personagem de suas representações anteriores. Kurtzman disse que escolher alguém cuja interpretação de Kirk poderia mostrar que o personagem “está sendo honrado e protegido” foi “complicado”, porém que o “espírito de Kirk está vivo e bem” na interpretação de Pine. Pine lembra ter tido dificuldades em seu teste, que requereu que ele “latisse ‘jargões de Trek’“, porém seu carisma impressionou o diretor J. J. Abrams. A química entre Pine e Zachary Quinto, interpretando Spock, levou Abrams oferecer o papel a Pine.Jimmy Bennett interpretou Kirk nas cenas mostrando a infância do personagem. Os roteiristas se viraram para materiais como o livro Best Destiny para inspiração em relação a infância de Kirk.
Ao se preparar para interpretar Kirk, Pine decidiu adotar alguns traços característicos do personagem—”charmoso, engraçado e líder de homens”—ao invés de tentar se encaixar na “imagem prestigiada” da interpretação de Shatner. Pine especificamente não tentou imitar a cadência de Shatner, acreditando que ao fazer isso sua interpretação se tornaria “uma imitação”. Pine disse que queria que sua interpretação se parecesse com Harrison Ford como Indiana Jones ou Han Solo, destacando seus humores e características de “heróis acidentais”.
De acordo com Shatner, as primeiras resenhas de Star Trek chamavam sua interpretação de “expressiva como uma porta”, com a maioria dos elogios em relação a atuação indo para Leonard Nimoy.Entretanto, os maneirismos de Shatner ao interpretar Kirk se tornaram “instantaneamente reconhecíveis”,com Shatner vencendo o Saturn Award de Melhor Ator por The Wrath of Khan. O The Guardian chamou a interpretação de Pine como Kirk de um “sucesso absoluto” e o The Boston Globe disse que Pine é “um bom, jovem impetuoso Kirk”. A Slate, que chamou Pine de “uma jóia”, descreveu sua performance como “canal[izando]” Shatner sem ser uma imitação.
A Slate descreveu a representação de Kirk por Shatner como “expansiva, barulhenta, um tanto ridícula e, mesmo assim, supremamente capaz de liderar homens, Falstaffiano no seu amor pela vida e da grandeza do espírito”. O The Myth of the American Superhero se refere a Kirk como um “redentor superhumano” que “como um verdadeiro superherói… regularmente escapa depois de arriscar uma batalha com monstros ou naves estelares inimigas”. Apesar de alguns episódios questionarem a posição de Kirk como herói, Star Trek “nunca deixou o espectador em dúvida por muito tempo”. Outros comentaram que sua “força, inteligência, charme e espírito aventureiro” o fazem um personagem irrealista. Kirk é descrito como capaz de encontrar maneiras de “através de problemas inesperados atingir seus objetivos” e seu estilo de liderança é mais “apropriado em um firme, georgaficamente idêntico, time com uma cultura forte para liderança”. Apesar de Roddenberry ter concebido o personagem como sendo “num sentido muito real… ‘casado'” com a Enterprise,Kirk é notado por “suas façanhas sexuais com lindas mulheres de todos tamanhos, formas e tipos”,ele foi chamado de “promíscuo”. O autor Randy Pausch acredita que ele se tornou um melhor professor, colega e marido porque ele assistiu Kirk comandar a Enterprise; Pausch escreveu que “para garotos ambiciosos com uma inclinação científica, não poderia haver modelo maior do que James T. Kirk”.
A cidade de Riverside, Iowa, peticionou Roddenberry e a Paramount Pictures em 1985 a permissão para “adotar” Kirk como o “Futuro Filho” da cidade.A Paramount queria US$ 40.000 para uma licença para reproduzir um busto de Kirk, porém a cidade no lugar fez uma placa e construíu uma réplica da Enterprise (chamada de “USS Riverside“), e o Clube da Comunidade da Área de Riverside anualmente realiza um “Festa Trek” em antecipação ao aniversário de Kirk.
Kirk já foi o alvo de várias paródias em uma grande variedade de programas de televisão em muitos países, incluindo o The Carol Burnett Show e a imitação de Kirk por John Belushi para o Saturday Night Live, que ele descreve como seu papel favorito. Jim Carrey foi elogiado por sua sátira do personagem no episódio de 1992 de In Living Color.O comediante Kevin Pollak é conhecido por suas imitações de Shatner como Kirk.
Kirk já virou uma grande variedade de produtos, incluindo bustos colecionáveis, bonecos, canecas,camisetas e ornamentos de árvores de natal. Uma máscara de Dia das Bruxas de Kirk foi alterada para ser usada como a máscara do personagem Michael Myers na série de filmes Halloween. Em 2002, a cadeira de capitão de Kirk da série original foi leiloada por US$ 304.000.
Em uma pesquisa realizada em 2010 pela Space Foundation, Kirk foi eleito o 6º (empatado com o cosmonauta Yuri Gagarin) herói espacial mais popular da história.
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