Batata Séries – Jornada Nas Estrelas, Voyager (Temporada 5, Episódio 18) – Rumo Ao Esquecimento. Uma Cópia Mal Feita.

É a tripulação da Voyager ou não é???

Dando sequência às nossas análises de episódios de “Jornada nas Estrelas Voyager”, falemos hoje de “Rumo Ao Esquecimento” (“Course: Oblivion”), décimo oitavo episódio da quinta temporada. Esse episódio tem como característica principal o fato de ser continuação do episódio “Demônio”, da quarta temporada, e que já foi analisado aqui (inclusive, essa análise deu início à nossa Seção Batata Séries).

Mas, no que consiste a história de “Rumo Ao Esquecimento”? Vemos aqui o enlace matrimonial entre Tom Paris e B’Elanna Torres. Durante a cerimônia, percebemos que o arroz jogado no casal estranhamente passa pelo chão e cai nas partes inferiores da nave. Isso está acontecendo, pois há um processo de desintegração em nível molecular de tudo e todos que estão na nave, a partir do motor de dobra. Investigações mais detalhadas levarão à conclusão de que essa não é a Voyager original, mas sim a Voyager gerada a partir da espécie biomimética do planeta classe Demônio do episódio lá da quarta temporada. Foi descoberto que a deterioração era irreversível e a única esperança da tripulação era voltar ao planeta natal. Entretanto, a cópia da capitã Janeway insistia em levar a nave para o planeta Terra, tal como faria a Janeway original. Somente depois de muitas mortes da tripulação e uma tentativa fracassada de colonizar outro planeta classe Demônio, Janeway se convenceu de que era necessário voltar ao planeta da espécie biomimética. O problema é que já era muito tarde e a Voyager biomimética acabou se destruindo, isso quando enviava um pedido de socorro à Voyager original, que casualmente passava pelas proximidades.

Um casamento…

Esse é um episódio angustiante, pois vimos o nascimento de uma nova espécie lá na quarta temporada e agora vemos o seu fim na quinta temporada. E, para piorar a situação, quando tudo parecia perdido, a Janeway biomimética ordenou a construção de uma cápsula do tempo, onde dados de sua espécie e seus feitos ficariam registrados para a posteridade. Entretanto, a Voyager biomimética não teve êxito em ejetar a cápsula do tempo e toda a informação dessa civilização se perdeu com a explosão da nave. Assim, tivemos uma dupla catástrofe: além da extinção total da espécie, sua história, identidade e cultura foram totalmente apagadas e riscadas do mapa. Isso fatalmente nos remete ao genocídio e etnocídio de indígenas na América, talvez o exemplo concreto que mais se aproxime da situação descrita no episódio, onde tribos inteiras e suas culturas foram simplesmente riscadas do mapa e nem tivemos a oportunidade de conhecê-las.

Tudo parecia ir às mil maravilhas…

Uma personagem chama muito a atenção nesse episódio: a Janeway biomimética. Isso acontece, pois a capitã não abre mão de retornar à Terra, além de seguir todas as prerrogativas da Federação, mesmo quando sabe que não é a Janeway original. Ou seja, na sua ânsia de cumprir seu papel mimético, ela coloca em risco a existência de toda a sua espécie, mesmo sob os apelos insistentes de Chakotay e Paris em retornar ao planeta classe Demônio. Assim, nossa capitã “de mentirinha” não vê as coisas com objetividade, saindo uma cópia mal feita da original, principalmente (e de forma muito paradoxal) quando tenta ser o mais fiel possível à capitã original.

Outro detalhe que chama a atenção é a maquiagem usada para simular o mal que acomete os tripulantes. Como se trata de algo que já tem uns vinte anos, é claro que a qualidade da coisa não está à altura da maquiagem e CGI de hoje, mas era nojento o suficiente para provocar alguma repugnância, embora também lembre o queijo derretido que a gente vê na pizza, só que meio esverdeado (argh!). Era muita pereba junta…

Doutor tem um desafio insolúvel…

O final do episódio se constitui na parte mais dolorosa. Aqui, a Voyager original, sem entender muito o que aconteceu, vê os destroços da Voyager biomimética, que falhou em sua tentativa de contactar a sua irmã original. Tal imagem dá uma baita sensação de impotência do nada que pode ser feito. E do fim de uma espécie que não deixará qualquer registro.

Assim, “Rumo Ao Esquecimento” é um episódio sem “happy end”, um episódio em que a sensação ruim da perda arrebata o trekker. E, pior de tudo, a sensação de que uma civilização e cultura foram simplesmente apagadas sem deixar qualquer vestígio, que desperta a sensação mais dolorosa de todas. Um episódio que novamente traz um convite à reflexão, a partir de seus aspectos mais dolorosos. Vale a pena assisti-lo de forma conjugada ao episódio da quarta temporada.

https://www.youtube.com/watch?v=bGrNsp1gupU

Batata Séries – Jornada Nas Estrelas, Voyager (Temporada 5, Episódio 15). Fronteira Negra. Legitimando a Pirataria.

Tomando os borgs de assalto…

Vamos hoje falar de um episódio de “Jornada nas Estrelas, Voyager” no mínimo perturbador. “Fronteira Negra” (“Dark Frontier”) é o décimo-quinto episódio da quinta temporada, dividido em duas partes. É um episódio que gira em torno de Sete de Nove e dos borgs. Mas também é um episódio onde vemos uma Capitã Janeway com uma conduta um tanto questionável.

Falemos do enredo. O episódio começa com a Voyager sofrendo um ataque de uma nave borg, que será destruída pela nave da Federação. Janeway ordena que os destroços da nave borg sejam recolhidos para ver se é possível aproveitar algo. No meio destes destroços está a evidência de que uma nave borg avariada está por perto e com um reator de transdobra à disposição. Janeway então, ao melhor estilo pirata, organiza um plano para que a Voyager aborde a nave borg e roube o reator de transdobra, o que faria a nave ganhar alguns anos na sua viagem de volta à Terra. É claro que, para essa missão, o conhecimento de Sete de Nove será fundamental. Mas a borg mostra muitas inquietações ao fazer as simulações do ataque no holodeck. Logo, ela começa a ouvir vozes: é a rainha borg a chamando e dizendo que conhece o plano de ataque da Voyager, ameaçando assimilar a todos, exceto se Sete de Nove se entregar. Ela o faz enquanto a nave borg é abordada pela Voyager, que precisa fugir para não ser assimilada. Agora, Janeway e sua tripulação precisam organizar uma missão de resgate para tirar Sete de Nove das mãos da rainha borg.

Uma capitã e sua tripulante trabalhando num objetivo comum…

O que mais inquieta aqui? É o fato da tripulação da Voyager, sob o pretexto de que era atacada pelos borgs, se achar no direito de invadir a nave inimiga e fazer pilhagens. Isso lembrava muito aqueles filmes da Sessão da Tarde de batalhas navais ocorridas durante a Idade Moderna, onde galantes almirantes das Marinhas Inglesa e Francesa travavam batalhas pelos sete mares contra inimigos implacáveis. O problema é que esses oficiais de Marinha eram os verdadeiros piratas da época, praticando assaltos a embarcações portuguesas e espanholas, abarrotadas de mercadorias valiosas, usando a guerra como pretexto para a invasão. Qual não é a nossa surpresa quando vemos Janeway agindo como esses mesmos piratas pretéritos? Tudo bem que ela tem o sério problema de tentar abreviar uma longa viagem num quadrante inóspito nalém de carecer de certos recusros, mas chega a ser um pouco assustador ela lançar mão de tal expediente com exatamente as mesmas justificativas e, principalmente, não haver uma alma viva durante todo o episódio que atente para as implicações éticas (ou a falta delas) de tal atitude.

Janeway, a pirata!!!

Apesar desse pequeno porém, o episódio também foi interessante em explorar a personagem Sete de Nove e o seu passado, onde seus pais desenvolveram tecnologias para poder estudar os borgs despercebidos por estes. O único problema nisso foi que eles caíram na armadilha da autossuficiência e foram assimilados. Ainda assim, foi interessante ver Sete de Nove e sua postura desafiadora perante uma rainha borg que queria estudá-la mais a fundo e não abrir mão da individualidade da ex-drone, por ser esta uma característica notável e que a tornava diferente dos demais zangões.

Uma coisa é certa: dá para perceber a flagrante influência do longa “Jornada nas Estrelas, Primeiro Contato”, principalmente pela presença da rainha borg. Ainda, o cenário onde tínhamos várias estruturas borgs pelo espaço, com direitos a muitos cubos voando para lá e para cá, ficou muito interessante e instigante. Sem falar que a “pirata” Janeway foi bem sucedida em sua pilhagem, o que lhe rendeu uma economia de quinze anos na viagem de volta à Terra.

A rainha tentando reaver o seu zangão…

Assim, “Fronteira Negra” é um bom episódio de “Jornada nas Estrelas, Voyager” por novamente trabalhar com a espécie borg e dar a nós o vislumbre do que é Sete de Nove voltar a interagir com a coletividade. O único problema do episódio foi o quê de pirataria de Janeway, algo pouco adequado ao comportamento da capitã de uma nave estelar do século 24, mesmo que essa pirataria seja contra o inimigo. Que se chute a noção de civilização da Federação para lá, que a situação é extrema e de guerra. Mas será que essa é a melhor saída??? Deixo a resposta para os nobres leitores trekkers…

https://www.youtube.com/watch?v=w1WSRB4tkpo

Batata Séries – Jornada Nas Estrelas, Voyager (Temporada 5, Episódio 11). Imagem Latente. Vamos Colocar Uma Pedra Sobre Esse Assunto?

Um Doutor em pane…

Hoje vamos analisar mais um episódio de “Jornada nas Estrelas, Voyager”. “Imagem Latente” (“Latent Image”) é o décimo-primeiro episódio da quinta temporada e tem, mais uma vez, o doutor às voltas com um problema de ordem ética e moral. Só que, agora, a questão é muito mais séria. Já havíamos visto em “Desumano” (episódio 8 da quinta temporada) problemas de ordem moral e ética que o Doutor teve de enfrentar ao usar um tratamento desenvolvido por um médico cardassiano que desenvolveu experiências provocando severos sofrimentos em bajorianos. Naquele momento, a capitã optou por usar o tratamento e assumir a responsabilidade e o Doutor retirou o tratamento da programação da nave após seu uso.

Tirando uma holoimagem de Naomi Wildman…

Aqui, no episódio 11 da quinta temporada uma nova implicação de ordem moral surgiu. Vamos analisar a história. Num exame de rotina da tripulação, o Doutor descobre em Kim traços de uma cirurgia da qual ele não se recorda ter feito. Com o passar do tempo, são descobertas novas evidências do “esquecimento” do Doutor e ele começa a investigar. Pelo que parece, tem alguém tentando apagar a memória dele. O Doutor, após fazer uma “armadilha” com a sua holocâmera, descobre que é a própria Janeway quem está apagando sua memória. Isso o deixa indignado, mas a capitã fala que é algo necessário, pois ele não pode saber de coisas que aconteceram no passado, pois isso seria muito perigoso para ele. Mas o médico insiste. Sete de Nove, ao acompanhar a situação, acha que a capitã está violando a individualidade do Doutor e convence Janeway a mostrar tudo o que aconteceu. O Doutor, então, vê os registros da nave e descobre que ele viajou numa missão numa nave auxiliar com Kim e uma tripulante, sendo os dois humanos severamente feridos num ataque alienígena. Ao se desvencilharem do ataque, o Doutor retorna à enfermaria da Voyager com os dois feridos e não tem tempo hábil para tratar dos dois ao mesmo tempo, tendo que escolher quem vai viver e quem vai morrer. O Doutor opta por cuidar de Kim, que é seu amigo mais próximo. O problema é que ele, por ser um programa que passa por experiências, não sabe lidar emotivamente com uma situação tão dramática e difícil e entra em pane, precisando ser reprogramado. Ao saber de todo esse passado traumático, o Doutor entra em pane novamente, mas desta vez decide-se não reprogramá-lo, em respeito à sua individualidade. Em vez disso, ele fica isolado num holodeck sempre com um tripulante, que se oferece como um apoio, uma voz amiga. No momento em que Janeway está com ele e, depois de dezesseis horas ininterruptas ela mostra febre de dor de cabeça. O Doutor cai na real e pede que ela vá descansar, pois ele não pretende mais fazer mal a ninguém. O episódio termina com o Doutor lendo um trecho de um livro que Janeway lia, uma poesia que falava em recomeços na vida.

Uma tripulante que será sacrificada…

A grande inspiração desse episódio é todo um conjunto de consequências que temos que enfrentar quando fazemos escolhas. A situação do Doutor, mesmo que ele tenha sido instruído por sua profissão a desapegos emocionais ao tomar tamanha decisão difícil, não se resolveu de forma tão trivial assim, e até para um programa com sub-rotinas emocionais que se aprimora dia a dia não foi fácil lidar com essa situação pesada de escolha e de perda, onde a ética e a moral não podem dar uma resposta definitiva ao dilema.

Sete de Nove defende a individualidade do Doutor

O mais curioso aqui foi a atuação de Sete de Nove, que se solidariza com o Doutor e sua individualidade, rechaçando inteiramente a atitude da tripulação de simplesmente apagar e reescrever sua programação. Sete de Nove dá o exemplo de si própria, lembrando à capitã de que, no início, ela era considerada uma ameaça à nave, mas se apostou na sua recuperação como humana. Então, por que não tentar o mesmo com o Doutor? Afinal de contas, ele também pode ser considerado um ser que tem consciência de si mesmo e que se aprimora com suas próprias experiências cotidianas.

Recomeçando, mesmo com as dores…

Assim, “Imagem Latente” é mais um interessante episódio de “Jornada nas Estrelas, Voyager”, que mostra mais uma reflexão de ordem moral e que tem o bom personagem do Doutor,interpretado por Robert Picardo, no centro dos acontecimentos. Nada de se colocar pedras sobre assuntos que, supõe-se, precisam ser esquecidos. Tais assuntos, na verdade, precisam ser encarados de frente, mesmo que nos causem dor. Pois a dor é uma forma de experiência que também nos engrandece perante à vida, mesmo para um programa holográfico com sub-rotinas emocionais. Como disse James T. Kirk em Jornada nas Estrelas V, “eu preciso de minhas dores, elas fazem parte de mim”.

https://www.youtube.com/watch?v=Fmp7ViAMR2c

Batata Séries – Jornada Nas Estrelas, Voyager (Temporada 5, Episódio 8), Desumano. Quais São Os Limites da Ética?

Um bichinho esquisito…

Debate ético à vista hoje na análise de “Jornada nas Estrelas, Voyager”! O oitavo episódio da quinta temporada, “Nothing Human”, traduzido no Brasil como “Desumano”, lança questões extremamente complexas que embaralham a cabeça de qualquer um. Mas tal debate é a mostra de como “Jornada nas Estrelas” tem a sua grande força no ponto de vista da reflexão e da discussão.

… que se enrosca no pescoço de B’Elanna!!!

Para podermos entender toda a magnitude desse poder reflexivo, vamos fazer uma breve sinopse da história. A Voyager sofre um severo impacto de uma onda de choque que, curiosamente a coloca em contato com uma inteligência alienígena. Ela acaba recebendo as coordenadas de uma nave e vai a sua assistência. Lá, descobrem uma forma de vida bem ferida e a transportam para a enfermaria da nave, mas a fisiologia do alienígena (que parece uma lacraia com uns bracinhos mais longos) é totalmente desconhecida do Doutor. Numa infelicidade, o bichinho pula em B’Elanna e faz uma espécie de simbiose com seus órgãos internos. Para poder resolver o problema, o Doutor instrui a Kim que desenvolva um holograma especializado em exobiologia a partir do banco de dados da nave.

No início, tudo parecia bem com o holograma cardassiano…

E a maior autoridade é justamente um cardassiano, com quem o doutor tem, inicialmente, um excelente relacionamento profissional. Mas B’Elanna, com sua metade klingon, torce imediatamente o nariz para o novo médico holográfico que irá tratá-la. A situação piora quando um tripulante bajoriano que esteve num campo de prisioneiros cardassiano, reconheceu o médico como um açougueiro que usava cobaias bajorianas para testar novos tratamentos médicos, sendo uma espécie de “Dr. Josef Mengele” de Cardássia. B’Elanna recusa o tratamento que custou a vida de milhares de bajorianos, preferindo morrer. E assim, o Doutor se vê diante de um perigoso dilema ético, onde qualquer saída terá implicações morais graves.

Logo começam a trabalhar…

Esse episódio coloca uma questão para a qual não há resposta. Se o tratamento do carrasco for usado para salvar B’Elanna, abre-se um precedente perigoso onde se legitima o sacrifício de vidas para salvar outras. E, se o tratamento não for usado, uma vida preciosa da mais qualificada engenheira da Voyager será ceifada e o Doutor não cumprirá o mandamento da ética médica de preservar a vida. Assim, foi necessário que a Capitã Janeway assumisse a responsabilidade da decisão de levar o tratamento adiante, independente do que B’Elanna achasse ou não, o que estremeceu o relacionamento entre as duas. Para a coisa não parecer muito feia, o Doutor teve a autonomia de decidir se iria usar o holograma cardassiano e seu tratamento em situações futuras, e ele acaba rechaçando isso. De qualquer forma, as palavras do cardassiano antes de ser “apagado” são emblemáticas: quando era necessário que o tratamento fosse usado para salvar a engenheira da nave, assim foi feito, sem qualquer dilema moral. Agora que o tratamento não se faz mais urgente, ele é simplesmente deletado. Dois pesos e duas medidas? Onde está a ética aí?

Mas aparece um dilema ético e moral…

Dá para perceber, pelo teor da conversa, que o episódio conseguiu colocar um debate muito espinhoso em pauta, debate esse para o qual não há qualquer saída totalmente moral ou ética. É imperativo que se tome uma decisão e se arque com as consequências, o que sempre vai provocar uma mancha severa na consciência. Esse é o tipo de episódio que dá bastante força a “Jornada nas Estrelas, Voyager”, uma série que alguns não consideram tão boa, se comparada às outras da franquia de “Jornada nas Estrelas”. Mais um episódio que merece uma visita do caro leitor.

https://www.youtube.com/watch?v=5bn1QYg3B6Q

Batata Séries – Jornada Nas Estrelas, Voyager (Temporada 5, Episódio 6). Quinze Anos. De Volta Para O Passado.

Uma nave entrando numa fria…

Vamos hoje falar mais uma vez de “Jornada nas Estrelas, Voyager” e de seus bons episódios na quinta temporada. Desta vez, analisaremos o episódio “Timeless”, traduzido no Brasil como “Quinze Anos”, o sexto episódio da já mencionada quinta temporada. Esse é um daqueles episódios mais pautados numa boa história de ficção científica, embora ancorados num tema que já pareça um pouco manjado para alguns: a alteração do passado e, com isso, a inserção de um paradoxo temporal. Confesso que sou meio suspeito para falar quando o tempo dá as cartas em histórias de ficção científica, pois é um tema que sempre me atrai em “Jornada nas Estrelas”, desde que vi o ótimo “Amanhã é Ontem”, da série clássica escrito por Dorothy Fontana e que, fatalmente, falaremos aqui um dia.

Procurando uma nave no gelo…

Mas, no que consiste a história desse bom episódio de “Voyager”? Tudo começa num planeta gelado, onde dois homens parecem procurar algo enterrado numa geleira. O teaser do episódio termina com os homens achando o que procurava, que era na verdade a Voyager enterrada no gelo. Eles adentram a nave e encontram toda a tripulação morta e congelada. Logo, vemos que os dois homens são Chakotay e Kim, visivelmente envelhecidos. Os dois levam o corpo de Sete de Nove para a Delta Flyer , que orbita o planeta, e reativam o Doutor, que, perplexo, pede por informações.

Inaugurando um novo motor…

Assim, há um flashback que mostra que a Voyager desenvolveu um novo motor quântico de deslizamento de fase que fará uma viagem bem mais rápida ao quadrante alfa. Mas o motor apresenta problemas onde o tal deslocamento de fase pode até acabar com a nave. Assim, Kim e Chakotay precisam ir adiante da Voyager com a Delta Flyer para orientá-la a fazer as tais correções de fase necessárias para que a viagem não degringole. Entretanto, Kim calculou mal as correções e a Voyager saiu do fluxo, enquanto que a Delta Flyer retornou ao quadrante alfa. Desgovernada, a Voyager chocou-se contra o tal planeta gélido e ficou soterrada no gelo, provocando a morte de toda a tripulação. Agora, quinze anos depois da tragédia, Chakotay e Kim voltam ao planeta gelado, nas periferias do quadrante alfa para criar um dispositivo que mande uma mensagem para o passado com as correções de fase corretas para evitar o desastre com a Voyager, usando o cérebro de Sete de Nove e a inteligência do Doutor. O problema é que Kim e Chakotay, para realizar tal missão, tiveram que roubar a Delta Flyer e um dispositivo temporal borg, sendo procurados pela Federação como criminosos.

O Doutor ajuda envelhecidos Chakotay e Kim…

Essa é uma história instigante, com as tecnobabbles que tal episódio de viagens no tempo exige, embora a coisa não tenha ficado cansativa nesse sentido. Aqui a história gira muito mais em torno de todo o arrependimento nas costas de Chakotay e Kim por terem sobrevivido e visto a tripulação morrer. Aliás, podemos dizer que esse episódio deu muito destaque e importância para o Alferes Kim, um personagem que, segundo alguns trekkers mais atenciosos, é muito pouco aproveitado, o que já faz o episódio valer muito. A obsessão de Kim por trazer a tripulação da Voyager à vida é notável e, ainda mais notável é a forma como o Doutor estimula Kim a continuar com a missão, mesmo quando um fracasso iminente parecia inevitável. Outro ponto que chamou muito a atenção foi a participação, para lá de especial, de Levar Burton (que também dirige o episódio), como o capitão La Forge da U.S.S. Challenger (isso é que é nome de nave espacial!!!), uma nave classe Galaxy que está no encalço da Delta Flyer.

A missão não sai como o esperado…

Obviamente, tal episódio tinha que terminar com um paradoxo temporal. Janeway consegue descobrir que foi Kim quem enviou a mensagem para a Voyager, diretamente do futuro. O problema é que, se a Voyager não está mais enterrada no gelo e Kim não mais chegou ao Quadrante Alfa, como ele então enviou a mensagem se o futuro foi alterado? Ao que Janeway respondeu sabiamente: quando mexemos com paradoxos temporais, é melhor a gente não se preocupar muito em questioná-los. Uma saída fácil mas, ao mesmo tempo, divertida, ainda mais porque ela meio que serve como uma resposta aos críticos das histórias das viagens no tempo, buscando sempre as inconsistências nas linhas temporais à medida que as migrações temporais para lá e para cá acontecem.

Uma figura já conhecida…

Assim, “Quinze Anos” é mais uma boa história de “Jornada nas Estrelas, Voyager”. Uma ficção científica meio manjada, mas que nunca deixa de funcionar e de divertir. Vale a pena dar uma revisitada nesse episódio.

https://www.youtube.com/watch?v=ayAbFaugIeg

Batata Séries – Jornada Nas Estrelas, Voyager (Temporada 5, Episódio 4). Carne E Osso. A Importância De Uma Boa Diplomacia.

Falemos da série “Jornada nas Estrelas, Voyager”. Vamos hoje fazer a análise de “In The Flesh” (no Brasil, “Carne e Osso”), o quarto episódio da quinta temporada. Acima de tudo, a mensagem aqui é a de boa vontade e confiança, num contexto altamente explosivo que é o de uma situação beligerante com uma espécie alienígena. Ainda mais quando se trata da temida espécie 8472.

Chakotay e uma investigação…

Façamos uma rápida apresentação do episódio. Vemos Chakotay perambulando pelo QG da Federação em São Francisco, algo que causa estranheza logo de cara, já que sabemos que a Voyager faz a sua longa viagem do Quadrante Delta para o Quadrante Alfa. Vemos algo que se parece muito familiar e prosaico mas, na verdade, tudo aquilo se trata de uma conspiração alienígena que simula a vida entre terrestres. Chakotay se encontra ´com Tuvok, que também espiona aquela forma alienígena de vida travestida de terrestre e, ao tentarem se transportar para a Delta Flyer, que está próxima à nave espacial onde acontece a simulação, Tuvok e Chakotay são flagrados por um jovem alferes, que acaba sendo aprisionado e levado para a Voyager. Lá, descobre-se que a espécie que faz a tal camuflagem é a temida 8472. Chakotay volta a investigar mais de perto, mas acaba aprisionado, sendo blindado contra qualquer ataque da Delta Flyer. Só resta à Voyager abordar a nave e começar uma negociação com a espécie beligerante. Mas logo fica claro que os temidos alienígenas têm tanto medo dos humanos quanto os humanos têm medo da espécie 8472. Assim, as coisas terão que ser resolvidas na base de muita conversa e votos de confiança.

A temida espécie 8472…

Passada a pequena sinopse, podemos constatar aqui que as palavras de ordem desse episódio são a diplomacia e o bom entendimento. Tudo aquilo que desconhecemos, nós tememos. E aí, a espécie 8472, que os borgs não conseguiram assimilar, é pintada como um bicho bem aterrorizante e feio. O problema é que tal espécie fazia o mesmo juízo dos humanos e dos borgs, reagindo de forma violenta como que usando apenas um instinto de sobrevivência. O próprio ato de se disfarçarem de humanos para se infiltrarem no QG da Frota Estelar tinha o objetivo único de ficar observando os passos do inimigo e conhecê-lo melhor. Com ideias tão semelhantes uns dos outros, humanos e a espécie 8472 tiveram óbvios problemas de relacionamento ao estabelecerem conversações para se chegar a um acordo comum.

Diplomacia num momento delicado…

Coube à Janeway a cartada mais arriscada, que foi a de abaixar a guarda (e suas armas) como um gesto de confiança, funcionando como um puro e simples ato de fé, algo que intriga Sete de Nove, onde sua mente cartesiana borg insistia em que se mantivesse a guarda levantada. Entretanto, isso acabaria levando ao conflito. Por fim, fica claro que aquele é um gesto apenas local, pois as verdadeiras lideranças da espécie 8472 (sempre os alienígenas!) não viam com bons olhos todo aquele espírito pacífico e cordial entre os setores de cada povo. De qualquer forma, a semelhança entre a espécie 8472 e pessoas do QG da Frota fizeram com que o relacionamento ficasse mais familiar e agradável, até por que o líder da espécie 8472 estava com a forma do jardineiro do QG, uma figura amada por todos, chegando ao ponto de fornecer rosas a Janeway como o verdadeiro jardineiro fazia na Terra.

Janeway e o antigo jardineiro…

Assim, o episódio “Carne e Osso” nos mostra mais uma vez o verdadeiro espírito de “Jornada nas Estrelas”, onde o respeito às diferenças e uma retórica baseada na compreensão e tolerância são as atrações principais. E isso se torna mais marcante, ainda mais quando é feito com uma espécie de aparência e atos tão assustadores quando a espécie 8472, Vale a pena dar uma conferida.

https://www.youtube.com/watch?v=aX0Fm1M6cXk

Batata Séries – Jornada nas Estrelas, A Série Clássica. Um Gosto de Armageddon. Guerra Limpa.

Apresentação do episódio.
A seção Batata Séries está de volta e hoje vamos falar do vigésimo-terceiro episódio da primeira temporada da série clássica de Jornada nas Estrelas. “Um Gosto de Armageddon” fala de leis e dos horrores da guerra, novamente abordando (de forma velada) a questão da quebra da Primeiras o Embaixador Fox insiste em ir ao planeta para estabelecer relações diplomáticas. Como o Embaixador tem mais autoridade que o capitão nessa situação, a Enterprise se dirige ao planeta e estabelece órbita padrão. Ao entrar em contato com os habitantes, o capitão fica sabendo que Eminiar VII está em guerra com o planeta vizinho Vendikar, mas não se presencia qualquer sinal de guerra. Tudo está no lugar, não há destruição e mortes. Aos poucos, Kirk e seus comandados descobrem que esta é uma guerra limpa, onde ataques simulados provocam uma espécie de destruição virtual onde mortos são contabilizados. Quem morre nesses ataques simulados precisa se apresentar voluntariamente às câmaras de desintegração. Durante a estadia do capitão no planeta, há um ataque bem onde ele está e a própria Enterprise foi destruída. Kirk agora terá que convencer os habitantes do planeta Eminiar VII a se desfazer dessa visão peculiar de guerra usando meios, digamos, pouco ortodoxos para isso (se é que há alguma ortodoxia para tal ação).
Kirk e Spock, ao bom estilo “Diplomacia de Cowboy”

Esse é um típico episódio de quebra da Primeira Diretriz, como foi dito acima. Curiosamente, ela nem é citada em todo o desenrolar do episódio. Sua única lembrança é o questionamento de Kirk (justamente ele, acusado de violar a Primeira Diretriz seguidas vezes) contra as ordens do Embaixador Fox de se aproximar de Eminiar VII mesmo com uma mensagem do planeta proibindo estritamente essa aproximação. No mais, quando a Enterprise é posta em perigo, até Kirk chuta a Primeira Diretriz para escanteio, usando a típica “diplomacia de cowboy”, que Spock mencionará décadas mais tarde no episódio “Unification” de Nova Geração. E aí, tome aquelas brigas tacanhas que a gente vê na série clássica, e que não eram exclusividade dela na década de 60 (eu assistia a “Viagem Ao Fundo Do Mar” quando era criança e a gente via uma coisa parecida por lá). De qualquer forma, elas sempre são muito bem vindas por serem extremamente divertidas.

Um embaixador a princípio ridicularizado, mas depois útil

Uma coisa que chama muito a atenção é a definição de guerra com a qual o episódio trabalha, onde ela é vista como uma coisa selvagem, bárbara e destrutiva, não podendo durar muito tempo, e obrigando as partes em conflito a estabelecer negociações. Com a visão de “Guerra Limpa” de Eminiar VII, o conflito passou a se arrastar por 500 anos, mas não houve destruição da civilização e da cultura, desde que a cota de mortos fosse cumprida. Caso não houvesse essa autoimolação, o acordo seria violado e os horrores da guerra voltariam. Assim, Kirk, num risco calculado, toma a posição do “bárbaro” (ao seu melhor estilo de chutar o pau da barraca) e faz de tudo para que os dois planetas mergulhem numa guerra de verdade. Ele acredita que, em tal situação, as partes em litígio preferirão discutir a paz. Mas será que isso mesmo vai acontecer? Assim, a grande moral da história é “não deixe para amanhã o que você pode fazer hoje” ou, em algo mais próximo à nossa cultura, “vamos parar de empurrar os problemas com a barriga”.

McCoy e Scott ponderando o que fazer da nave para solucionar a crise

O episódio tem uma tiradas inesquecíveis, como as de Spock. Primeiro, o Vulcano, dentro da prisão, usa sua sonda mental para sugestionar à distância o guarda do lado de fora. Mais uma vez vemos Nimoy com seu gestual lento e calculado, usando magnificamente a ponta dos dedos contra a porta e a parede, de uma forma muito suave. Num segundo momento, ele fala para um guarda do planeta que há uma criatura artrópode em seu ombro. Quando o coitado olha para seu corpo, Spock mete a sua mãozona com contornos de aranha no ombro do guarda, provocando o desmaio. Há, ainda, um terceiro momento, onde Spock dizia que entendia as atitudes de Eminiar VII e Vendikar, mas que não concordava com isso (ou seja, entender nem sempre significa concordar). O diálogo do final do episódio, onde havia a reflexão de tudo o que havia acontecido, foi genial. Ao Spock ficar impressionado com o risco que Kirk assumiu, ele disse ao seu capitão: “O senhor quase me fez acreditar em sorte”, ao que Kirk retrucou “E o senhor quase me fez acreditar em milagres”, reconhecendo a contribuição de Spock na crise, mas também não perdendo a oportunidade de dar uma zoadinha em seu lógico Primeiro Oficial.

Um gabinete de guerra virtual…

Outro detalhe curioso foi a figura do Embaixador Fox. Tomado na maioria do episódio como uma espécie de idiota que não conseguia enxergar as artimanhas dos habitantes de Eminiar VII, sendo um peixe fora d’água em situações de guerra e de crise extrema, o Embaixador se revelou extremamente útil ao fim do episódio, quando ofereceu seus serviços para estabelecer relações diplomáticas e de paz entre os planetas litigantes. Ou seja, o episódio acabou tendo uma diplomacia de cowboy, ma non troppo.

E uma destruição provocada por um capitão bárbaro…

Assim, “Um Gosto de Armageddon” é um típico episódio de Jornada nas Estrelas, a Série Clássica. Uma inteligente reflexão, acima de tudo, chutes na Primeira Diretriz, Kirk sendo Kirk (mas também Kirk sendo hippie ao defender a paz), lutas tacanhas e Spock tocando o horror com seus dedos longilíneos e delgados, tudo isso regado a uma boa dose de humor muito inteligente. Como amo essa série!

Batata Antiqualhas – Spock e Leonard. Dualidade que se Completa (Parte 21)

Spock da era J. J. Abrams

Após o sexto filme,  mais uma vez ficou uma sensação de encerramento de “Jornada nas Estrelas” por Nimoy. Mas ele foi convidado a participar do sétimo filme, onde Kirk morreria. Ao ler o roteiro, Nimoy percebeu que Spock apenas teria uma aparição rápida, sem qualquer função na história. Ao discutir isso com o produtor Rick Berman, ele simplesmente alegou que não tinha tempo para mexer no roteiro. Nimoy, então, declinou do convite. De Forest Kelley se recusou a trabalhar no filme, pois Nimoy não trabalharia. E o intérprete do Dr. McCoy ainda falou que teve uma boa despedida em “Jornada nas Estrelas 6”. Para que estragar isso?

Passando o bastão para Zachary Quinto…

Nimoy não se arrependeu de sua decisão, desejou boa sorte à sua equipe de produção e seguiu sua vida adiante. Participou de mais séries de tv, interpretando e dirigindo. Nimoy também fez incursões na fotografia (onde fez um belo ensaio fotográfico feminino inspirado em “Shekkinah”, a versão feminina de Deus na tradição judaica) e na poesia. Nimoy manteve uma vida muito ativa e produtiva.

As orelhas pontudas sempre fizeram parte de sua imagem…

Em 2009, foi chamado para novamente interpretar Spock na versão de J.J. Abrams de “Jornada nas Estrelas”, agora na figura de um embaixador, como seu pai o fora (na verdade, Spock já tinha sido embaixador no episódio “Unifcação”). Em abril de 2010, Nimoy anunciou que não faria mais o papel de Spock, passando o bastão para Zachary Quinto. Nimoy ainda participou com sua voz em alguns filmes, como “Transformers”, documentários científicos, séries de tv como “The Big Bang Theory”, onde ele dá voz a um “action figure” de Spock e até jogos de vídeo game. Nimoy ainda faria uma derradeira interpretação de Spock, numa rápida participação em “Jornada nas Estrelas, Além da Escuridão”, de J. J. Abrams. Em fevereiro de 2014, foi diagnosticada sua doença pulmonar obstrutiva crônica, provocada pelo cigarro. Depois disso, ele se internou em hospitais várias vezes, até se internar definitivamente, no dia 19 de fevereiro de 2015, no UCLA Medical Center, para aliviar suas dores.

Seu conhecido livro de fotografias…

Leonard Nimoy morreu no dia 27 de fevereiro de 2015, com a idade de 83 anos, em sua casa, de nome Bel Air. Seu corpo foi cremado a 1 de março, com a presença de trezentas pessoas, dentre elas, seus familiares, colegas da série clássica, as filhas de Shatner, J. J. Abrams, Zachary Quinto e Chris Pine. Ele deixou esposa, dois filhos, seis netos, um bisneto e seu irmão Melvin.

Sua última aparição como Spock…

E assim, chegamos à fronteira final. Quero só me desculpar a todos os leitores por ter escrito todo esse monte de artigos sobre Leonard Nimoy e Spock. Mas houve alguns motivos para isso. Um motivo foi o fato de que quis mostrar que Leonard Nimoy era um artista muito talentoso, não ficando restrito a somente o papel do vulcano Spock. Ele aceitou vários desafios em sua carreira, como por exemplo, sua carreira no teatro, na tv e no cinema, seja como ator, seja como diretor.

Um inesquecível cavanhaque…

Sua preocupação com a cultura judaica, da qual faz parte, é outro elemento marcante de sua versatilidade como artista, isso sem falar de suas incursões na fotografia e na poesia. Em segundo lugar, aqui é um espaço para se escrever sobre aquilo que se gosta. E, confesso que gosto muito desse personagem vulcano de orelhas pontudas. E tenho certeza que ainda há muita gente por aí que gosta dele, dentre as gerações mais antigas. Essa coluna é chamada de Batata Antiqualhas  justamente para falar de cultura pop-nerd mais antiga, para os mais velhos matarem a saudade e os mais novos a conhecerem um pouco melhor. Impossível não falar da morte de Nimoy nestas circunstâncias. Fui até convidado para uma palestra organizada pelo hoje extinto site Abacaxi Voador para isso. Mas aí, soube da morte de minha mãe na hora em que ia para o evento. E toda a pesquisa tinha ido por água abaixo. Eu tive duas fortes dores num intervalo de três semanas. E aí, decidi expurgá-las escrevendo. Como uma espécie de “articulista” de “Jornada nas Estrelas” no Abacaxi, não poderia deixar que essa pesquisa fosse em vão. E aí vieram os artigos, sobre um personagem com o qual todos nós nos identificamos. Spock é o “outsider” que é mal compreendido e sofre perseguições e preconceitos, aquele que tem sentimentos mas deve escondê-los para não se tornar vulnerável, tem suas contradições e dramas internos, a necessidade de pensar de forma mais serena e racional para escapar das más situações. Ora bolas, quem nunca passou por uma dessas situações na vida? Spock não é apenas um personagem de uma série de ficção científica de tv, mas um verdadeiro espelho da condição humana. Daí a sua universalidade e popularidade. Sua seriedade, humor, cinismo, alegrias e tristezas jamais serão esquecidos e residem em nossos corações para todo o sempre, nos ajudando a encarar esse mundo cada vez mais difícil de se viver, onde a desumanidade simplesmente impera. E, segundo seu amigo Kirk, durante o funeral de Spock em “A Ira de Khan”, “…de todas as almas que eu conheci a de meu amigo foi a mais… humana”. Shatner dizia isso com a voz visivelmente embargada sentindo a morte do personagem de forma bem sincera. Esse é o sentimento que os fãs de “Jornada nas Estrelas” ainda possuem, mesmo três anos depois da morte de Leonard Nimoy. Mas fica o legado de Spock. Esse sim, nunca morre. É só colocar o DVD no aparelho e ele está lá de volta, com todos os seus ensinamentos para nossas vidas, o que alivia um pouco a dor provocada pela ausência física. Peço mais uma vez desculpas em terminar essas linhas da forma mais óbvia, mas esse é o principal ensinamento desse personagem tão marcante e importante, sendo uma eterna mensagem otimista (e precisamos de muito otimismo hoje em dia): “Vida longa e próspera!”.

Vida longa e próspera, sempre!!!