Batata Séries – Jornada Nas Estrelas Voyager, Temporada 6, Episódio 4, Tinker, Tenor, Doctor, Spy. Um Holograma Em Devaneios.

 

La Donna é Mobile

O quarto episódio da sexta temporada de “Jornada nas Estrelas Voyager” é mais um daqueles que tem o Doutor como protagonista principal. Também pudera, pois creio que o Doutor é, talvez, o personagem mais amado dessa série, e um dos mais amados de toda a franquia. A gente sente isso fazendo a análise dos episódios aqui, onde ele aparece recorrentemente como personagem principal dos episódios.

Devaneios…

Mas, qual é a história que envolve nosso Doutor dessa vez? Vemos aqui o holograma tendo uma série de devaneios, onde geralmente ele tem uma posição central, sendo celebrado por seus colegas pelos seus grandes atos, além de ser cobiçado pelas mulheres da nave, quero dizer, todas elas. Em suma, o Doutor se achava o gostosão em seus devaneios. Ele, inclusive, pediu a capitã para ser uma espécie de capitão holográfico de emergência caso Janeway ficasse incapacitada e a linha de comando não pudesse suprir sua ausência. Mas Janeway  rechaçou essa possibilidade, deixando o Doutor magoado. O grande problema é que um alienígena sondava os pensamentos do holograma e pensou que aquilo tudo fazia parte da realidade.

Um alienígena redondinho…

Essa espécie alienígena costumava abordar as naves e pilhá-las. O alienígena passou ao seu superior a aparente posição central do Doutor e eles organizaram um ataque à Voyager. Mas depois o alienígena percebeu que captava apenas os devaneios do holograma e, para não perder o emprego, entra em contato com o médico para que os dois resolvam aquela situação juntos. Será nessa hora que o Doutor terá que assumir a ponte da Voyager, obviamente sob a orientação de Janeway, que fala com ele através de uma espécie de ponto eletrônico.

Pintando a Sete…

Dá para perceber que esse episódio vai seguir uma linha mais de comédia em alguns momentos. Um holograma que “realiza” grandes atos, com a capitã, Sete de Nove e até B’Elanna dando em cima dele, só para a gente começar a falar das partes engraçadas. Mais hilário ainda é quando o Doutor conclui que seus devaneios são alguma falha em sua programação e, para consertar isso, tais devaneios devem ser levados à público, causando um constrangimento geral (já imaginou, caro leitor, se seus pensamentos mais íntimos sobre determinadas coisas ou pessoas fossem levados a público? Dá para sentir o constrangimento doendo por dentro). Por outro lado, ao se revelar abertamente para todos, algumas pessoas, como Janeway, passaram a entender o Doutor melhor, o que não foi, por exemplo, o caso de B’Elanna, por motivos óbvios. Mas o mais hilário aqui foi o momento em que o Doutor teve que assumir a ponte da Voyager na encenação para os alienígenas. Se em seus devaneios o médico era astuto, perspicaz, corajoso e cheio de virtudes, ao assumir a ponte na vida real, ele “tremeu na base” e tomou uma série de atitudes destemperadas, com sempre Janeway falando “menos, menos” no seu ponto eletrônico. De qualquer forma, ele resolveu a situação batendo o pé fortemente contra os alienígenas, numa atitude altamente arriscada que deu certo sendo, finalmente, heroico como em seus devaneios (e até celebrado por isso!).

Um Doutor Capitão…

Assim, se “Tinker, Tenor, Doctor, Spy” é um episódio que foge à ficção científica, ainda assim é um episódio altamente recomendável de se assistir, pois ele se adequa a outro elemento que é caro a “Jornada nas Estrelas”, que é a comédia, mesmo que nem sempre se perceba muito isso, principalmente nas séries pós TOS. A ideia de se brincar com devaneios fantasiosos foi muito bem vinda. Vale a pena dar uma conferida.

https://www.youtube.com/watch?v=A1mD6wQMgjo

Batata Séries – Jornada Nas Estrelas Voyager (Temporada 6, Episódio 2), Instinto de Sobrevivência. Dilema Resolvido Na Valorização Do Indivíduo.

 

Um impasse…

E chegamos à sexta temporada de “Jornada nas Estrelas Voyager”, com o curioso episódio “Instinto de Sobrevivência”, onde mais um dilema moral é abordado. É impressionante perceber como os episódios do fim da quinta temporada e início da sexta rezavam por essa cartilha. De qualquer forma, apesar da repetitividade do assunto, o campo de atuação do debate variava, como podemos ver nesse episódio.

Três borgs desligados da coletividade, mas interligados entre si…

A história começa com um flashback de uma cápsula borg caindo num planeta. Dentre os quatro borgs sobreviventes, está Sete de Nove. Eles se desligaram da coletividade, mas ainda mantiveram o link entre eles. O problema é que os zangões começam a ter lembranças de suas vidas pregressas e mostram desejos de sair da coletividade, e Sete de Nove resiste a isso sempre repreendendo-os, seja pela ordem direta, seja pela coerção física.

Sete de Nove diciplina sua matriz…

Anos depois, a Voyager está numa estação markoniana recebendo várias espécies alienígenas para uma espécie de intercâmbio cultural. Um alienígena apresenta a Sete de Nove antigos implantes borgs que lhe pertenciam, o que a deixa interessada. Logo descobriremos que esse alienígena é um daqueles borgs que faziam parte da matriz de Sete de Nove e os demais também estão presentes. Eles têm ainda a capacidade de ler os pensamentos uns dos outros, pois ainda estão ligados mentalmente como ficaram depois de se separar da coletividade. Eles desejam sair desse link e terem as suas vidas como indivíduos. Como Sete de Nove foi a única borg a sair da coletividade e se tornar indivíduo e estava ligada a esse pequeno grupo de borgs, eles acreditavam que ela tinha as respostas para também os retirarem do link. Depois de várias análises do Doutor com relação à situação dos borgs, só havia duas opções: ou eles permaneceriam ligados para o resto da vida, ou os implantes que ainda estavam em seus corpos seriam retirados e eles viveriam como indivíduos, mas por apenas um mês. A decisão ficara a cargo de Sete de Nove, pois os borgs estavam inconscientes depois de Sete de Nove ter sido ligada com eles para se descobrir o que havia acontecido no passado, pois nenhum dos borgs, nem Sete de Nove, lembravam mais. Ao descobrir que Sete de Nove tinha neutralizado a individualidade latente deles e os recolocado na coletividade, os borgs surtaram contra ela e saíram do ar, depois de controlados pelo Doutor. Sete de Nove, depois de um debate com o Doutor, que defendia um resto de vida com os três telepaticamente ligados, decidiu por dar apenas um mês de vida com a individualidade de todos os três intacta.

Agora, esses três ex-borgs querem sua individualidade…

Como dito acima, mais um episódio de dilema moral. Dar aos borgs o que eles queriam (a individualidade) mas somente por um mês de vida, ou um resto de vida onde os três ficariam permanentemente ligados e sofreriam o tormento de escutarem o pensamento uns dos outros? Num primeiro momento, parece óbvio que um mês de vida como indivíduos parece a solução mais lógica. Entretanto, a vida deles não seria mais tão longeva assim. Se da decisão de Sete de Nove foi mais “humanitária” prevenindo seus colegas borgs de um sofrimento por anos e anos, também parece aqui que o individualismo prevalece sobre o coletivismo. É notável perceber como o individualismo permanece como um valor sagrado e inabalável na cultura capitalista ocidental, em detrimento de um pensamento coletivo, geralmente atribuído à manipulações de Estado ou de alguma instituição, como acontecia na Idade Média, quando a Igreja anulava o indivíduo e colocava a todos de forma coletiva na condição de meros pecadores que deviam obedecer aos preceitos da Igreja. A própria série atribui a coletividade a uma espécie – alienígena – os borgs – que é extremamente agressiva. Entretanto, o pensamento coletivo nem sempre pode ser visto como algo negativo, pois ele pode também ser usado pelos indivíduos para lutar contra instituições opressoras. Agora, a questão do episódio sempre recai no individualismo e colocando o coletivo sempre como algo ruim. Sete de Nove, em função do ideal do individualismo, e por uma questão humanitária, desvincula a mente dos borgs mas, ao mesmo tempo, abrevia em muito, a vida deles. Assim, temos o paradoxo de, em nome do individualismo, se tomar uma atitude que destrói o próprio indivíduo. Ou seja, o paradoxo está todo voltado para a ideologia individualista, ao passo que o coletivismo é taxado de forma inquestionável como algo ruim desde o seu início. Será que no século XXIV esses dois polos ainda terão pesos tão diferentes em nossos sistemas de valores? Fica a questão.

Qual será a decisão de Sete de Nove dessa vez???

Dessa forma, “Instinto de Sobrevivência” é mais um episódio de “Jornada nas Estrelas Voyager” que traz o fã à reflexão, embora valorize em demasia um elemento da cultura capitalista ocidental, o individualismo. Vale pela experiência de botar os neurônios para funcionar.

https://www.youtube.com/watch?v=XuwKfD9vp1U

 

 

Batata Séries – Jornada Nas Estrelas Voyager (Temporada 5, Episódio 26), Equinox. Obsessões, Ódios E Erros De Avaliação.

 

Um capitão com sérios desvios éticos…

O último episódio da quinta temporada de “Jornada nas Estrelas Voyager” nos revela mais uma interessante discussão ética e como a obsessão e a revolta podem levar a atitudes destemperadas. “Equinox” é um episódio duplo que começa no fim da  quinta temporada e termina no início da sexta.

Tramoias com a sua tripulação que resultam em motim…

A história começa com uma nave da Federação em frangalhos, a Equinox, no Quadrante Delta e atacada por uma espécie alienígena que parece o Geleia dos Caçafantasmas. A Voyager detecta o pedido de socorro da Equinox e vai em seu auxílio. As duas naves combinam seus escudos para evitar o araque alienígena, mas paulatinamente as criaturas conseguem enfraquecer os escudos. Janeway conhece o capitão da Equinox, Rudy Ranson, que diz a ela que sua nave também foi vítima, assim como a Voyager, do zelador, sendo arremessada para o Quadrante Delta. O capitão alega que fez melhorias no sistema de dobra que encurtaram a viagem. Mal sabe Janeway que tais melhorias foram feitas usando os alienígenas como uma espécie de gerador de energia, provocando a morte de milhares deles. Não é à toa que os alienígenas perseguem a Equinox impiedosamente. É claro que o ambiente entre os tripulantes da Voyager e da Equinox não será mais o mesmo e, sabendo que, podendo dar mais um salto que levará a Equinox para a Terra em poucas semanas, usando os corpos dos alienígenas como combustível, o capitão Ranson rouba o gerador de escudos da Voyager além de sequestrar Sete de Nove, deixando a nave da capitã Janeway à mercê dos alienígenas.

Alienígenas assustadores que são vítimas…

Na Equinox, Sete de Nove consegue criptografar o acesso ao motor de dobra da Equinox e detém a mortandade dos alienígenas. Ranson exige que Sete de Nove dê os códigos de acesso. O Doutor, que também está na nave, tem as subrotinas éticas retiradas e ele começa a tentar extrair a informação de Sete de Nove à força, nem que isso custe a vida dela. Depois de deter os alienígenas, Janeway lança uma caçada contra a Equinox, onde ela não esconde a sua raiva e desejo de vingança, atravessando a linha ética várias vezes, sendo alertada por Chakotay. Como consequência, Janeway tira Chakotay de seu posto. Por outro lado, Ranson se arrepende de seus procedimentos e retorna à Voyager. É nesse momento que parte da tripulação da Equinox se amotina contra seu capitão. Ranson consegue se isolar e transporta parte de sua tripulação, Sete de Nove e o Doutor, enquanto a Equinox é atacada pelos alienígenas e mata os amotinados. Com a Equinox a um passo da explosão, Ranson a afasta da Voyager e se sacrifica junto com a sua nave.

Uma capitã enfurecida…

O episódio tem elementos interessantes. Em primeiro lugar, a discussão ética de se sacrificar vidas para salvar outras. Ranson tenta justificar o injustificável, dizendo que precisou ceifar vidas dos alienígenas, pois a Equinox sofrera muitos ataques no Quadrante Delta e estava em condições subumanas, tornando-se imperativo seu retorno para a Terra no menor espaço de tempo possível. Mas Janeway ficou firme em condenar o genocídio. Quanto a isso, parece que não há muita discussão. O que dá mais pano para a manga foi a inversão das atitudes dos dois capitães. Enquanto Ranson reavalia seus erros e volta atrás, levando a Equinox de volta à Voyager para se entregar, Janeway fica tão revoltada com a atitude e a fuga de Ranson que passa a agir obsessivamente, extrapolando a sua autoridade e tomando atitudes impensadas. Ou seja, Janeway, na sua ânsia de punir a Equinox pela falta de ética, acaba também chutando a ética para escanteio, chegando a fazer tortura psicológica num dos tripulantes da Equinox. Tal alerta fica aqui: mesmo as supostas mentes “evoluídas” do século XXIV podem mergulhar na barbárie quando provocadas, sendo a violência um veneno que te ataca de dentro para fora e tem consequências devastadoras.

Punição a quem viola a ética da Federação…

Assim, “Equinox” é um grande episódio de Voyager que mostra a inversão ética de dois capitães que têm o mesmo problema: fazer uma viagem de volta que dura décadas. Ranson violou a ética cometendo genocídio e Janeway violou a ética em seu abuso de autoridade. Um motivado pela inconsequência, outra motivada pelo ódio. Mais um episódio que levanta uma boa reflexão.

https://www.youtube.com/watch?v=HDggs-x55MU

Batata Séries – Jornada Nas Estrelas Voyager (Temporada 5, Episódio 25), Warhead. Uma Bomba Nervosa.

O Doutor e um dispositivo…

Chegamos ao episódio 25 da quinta temporada de “Jornada nas Estrelas Voyager”. “Warhead” é um daqueles episódios onde uma inteligência artificial sensciente precisa superar os limites de sua programação para evitar uma grande tragédia. E aí, todo um debate é empreendido nesse sentido, tornando este episódio uma verdadeira guerra de argumentações.

Buscando sinais de vida…

Mas, no que consiste a história? Harry Kim tem o privilégio de controlar a ponte nas “madrugadas” dos turnos. Numa dessas madrugadas, ele recebe um pedido de socorro de um planeta próximo. Ao chegar ao planeta,a Voyager não detecta sinais de vida. Kim então acorda Chakotay e sugere que um grupo avançado desça lá. Chakotay concorda e diz que o próprio Kim poderia liderar esse grupo. O alferes desce com o Doutor e mais um tripulante, quando encontram um dispositivo eletrônico sensciente, que consegue se comunicar com o doutor. Eles transportam o dispositivo para a nave. Examinando-o mais a fundo, a tripulação da Voyager descobre que ele é uma arma de destruição em massa e tenta desativá-lo.

Um dispositivo perdido…

O dispositivo percebe isso e se apossa do corpo do Doutor, ameaçando destruir a nave e fazendo B’Elanna e Kim como reféns. Ainda, ele precisa cumprir sua programação, que é destruir um planeta inimigo da civilização que o criou. Os tripulantes da Voyager tentam dissuadir o dispositivo disso mas, de forma bem agressiva e ameaçadora, ele diz que tem que cumprir a sua programação e destruir a qualquer custo o planeta. Mas os tripulantes tinham conseguido analisar os circuitos de memória e viram que a espécie que havia criado o dispositivo já havia cessado as hostilidades contra o planeta alvo. A espécie (Druoda) enviou mensagens para todos os dispositivos-bomba, mas cerca de trinta deles não receberam a mensagem e ainda rumavam contra o planeta.

Doutor procura acalmar a máquina…

O próprio dispositivo que estava na Voyager tinha sido propositalmente desviado pelos Druodas para colidir com o planeta em que ele estava. Depois de muito argumentar com o dispositivo, ele finalmente se convence de que não há mais uma guerra em curso, mas ainda há o problema dos demais dispositivos que vão ao planeta alvo com a intenção de destruí-lo. O dispositivo, então, se sacrifica, voltando para seu mecanismo original e sendo colocado no meio dos demais dispositivos, se destruindo e a todos os demais.

Kim e B’Elanna: reféns da tecnologia sensciente…

O que mais chama a atenção nesse episódio? O apelo da tripulação em convencer uma inteligência artificial em ir além do que está estrito em sua programação e tomar decisões por conta própria para parar a guerra. É curioso notar que, por se tratar de uma arma de destruição em massa, o dispositivo era agressivo, quando podia ser desprovido de qualquer sentimento (como era o Data de TNG nas primeiras temporadas). Ficou um pouco forçado a gente ver o Doutor naquela beligerância toda. Outro detalhe que chama a atenção aqui foi a tentativa, por parte de Kim, de dissuadir o dispositivo a atacar, tentando usar argumentos totalmente racionais, sabiamente rebatidos pelo dispositivo. Kim também clamava pelo fato do dispositivo ser sensciente e ter o poder de tomar decisões por conta própria.

Sete de Nove: problemas com a máquina…

Assim, “Warhead” é um episódio mediano de “Jornada nas Estrelas Voyager” que apresenta a questão das inteligências artificiais desenvolverem consciência e começarem a superar a sua programação. Tudo isso regado a debates bem racionais. Não é um grande episódio mas merece ser lembrado e revisitado.

https://www.youtube.com/watch?v=pFQeOyq9wHY

Batata Séries – Jornada Nas Estrelas Voyager (Temporada 5, Episódio 23), 11:59. Tradição, Modernidade e Mito.

Uma antepassada de Janeway…

Continuando a fazer análises dos episódios de “Jornada nas Estrelas Voyager”, vamos falar hoje de mais um episódio da quinta temporada, “11:59”. Temos aqui uma história contada, em boa parte, em flashback. Uma história que aborda mais uma vez a questão da tradição e modernidade, trazendo a reboque a importância do mito para nosso imaginário.

O episódio começa com Janeway e Neelix conversando. No meio da conversa, Neelix pergunta dados sobre a Muralha da China. Janeway, por não conhecer muito os detalhes, desconversa um pouco, mas o cozinheiro alienígena insiste no papo e diz todos os detalhes da Grande Muralha terrestre. Janeway fica impressionada e Neelix diz que está fazendo uma espécie de competição com Paris sobre conhecimento de coisas da Terra. Janeway, então, pergunta a ele se conhece o “Portal do Milênio”, uma espécie de construção que foi feita na virada do século XX para o XXI e que serviu de inspiração para a construção das primeiras colônias em Marte. Como agora é Neelix que desconhece o assunto, Janeway aproveita o gancho e diz que uma de suas antepassadas esteve envolvida no projeto da construção do Portal, sendo uma grande personagem de sua família. O episódio então alterna-se num flashback, onde vemos o que aconteceu com a antepassada de Janeway, Shannon O’Donnel (interpretada, obviamente, pela própria Kate Mulgrew), enquanto que vemos, com pouco sucesso, Janeway tentando recuperar informações de sua nobre antepassada.

O’Donnel: entre a tradição e a modernidade…

Esse episódio tem questões muito curiosas. Em primeiro lugar, o trabalho de resgate da memória, mais ou menos o que um historiador passa quando busca as fontes históricas. A coisa sempre é muito fragmentada e às vezes, montar esse quebra-cabeça com as peças faltando não é muito fácil, com as peças aparecendo somente muito posteriormente. É por isso mesmo que esse é um dos motivos pelos quais a História é constantemente reescrita. E o resultado nem sempre é o que queremos achar. No caso da antepassada da capitã, ficou atestado, depois das pesquisas, que sua participação no Portal do Milênio não foi tão decisiva assim, o que provocou uma decepção em Janeway. Ou seja, citando o historiador Peter Burke, os historiadores são odiados pois eles lembram o que queremos esquecer.

Mas o filme também tem outras questões. Na história de O’Donnel, ela conhece, numa cidade no interior de Indiana, onde o Portal será construído, Henry Janeway (acho que vocês já perceberam que eles irão se casar e ter filhos), o dono de uma livraria tradicional que não quer arredar o pé de seu lugar, enquanto que todo o resto da cidade “de bom grado”, vende suas propriedades para a empresa do Portal, que ofereceu um valor 20% acima do mercado. Henry fica rotulado como turrão e o projeto fica com o risco de ser feito em outro lugar. Nosso simpático livreiro também é um adepto da tradição, preferindo ficar trancado com seus livros e nem sequer usar um computador, enquanto O’Donnel é adepta da modernidade, sendo uma engenheira aeroespacial demitida e na pior. O’Donnel convencerá Janeway a se desfazer de sua livraria em função do progresso (e de interesses econômicos da empresa também). Como prêmio, ela terá uma participação modesta no Projeto do Portal do Milênio.

O que incomoda aqui? Jornada nas Estrelas sempre foi uma série que estimulou o progresso científico sem abandonar a leitura, muito exaltada na série. Mas nesse episódio, ela ficou vista como algo arcaico, que atrapalhava os passos do ser humano em direção ao futuro. Mesmo a solução conciliadora de Janeway abrir uma livraria no Portal não soou muito convincente. E mais: esse é um episódio que valoriza os grandes feitos dos antepassados, ou seja, a memória e as tradições. E aí, essa mesma tradição é  rechaçada em função da modernidade do Portal, que destrói a antiga cidade decadente. Fica uma coisa levemente paradoxal a meu ver. Ou seja, num primeiro momento, a tradição é elencada como virtuosa no episódio, mas num segundo momento, é a modernidade que é laureada como algo positivo.

Foto da tripulação: preservação da memória e suas tradições…

Agora, a grande virtude do episódio é a questão do mito, uma história que é compartilhada por um grupo ou povo, tida como real para aquele grupo, mesmo que ela não tenha ocorrido. Vemos muito isso no nosso folclore. É só a gente ver aquele redemoinho de vento na rua que a gente já fala logo que é o Saci-Pererê, por mais ilógico que isso seja. Mas está em nosso imaginário e sistema de valores. No caso da capitã Janeway, Shannon O’Donnel estava em seu imaginário mítico. E foi para ela uma decepção descobrir que sua antepassada não teve uma participação tão marcante na construção do Portal. Mas como os próprios tripulantes da Voyager disseram, chancelados, inclusive, por Tuvok, não importa quem foi ou não O’Donnel, mas sim a função que sua imagem idealizada cumpriu no imaginário da capitã: ela ingressou na Frota Estelar por causa da sua antepassada. Janeway até retruca dizendo que, com isso, jogou toda a tripulação para o quadrante Delta, mas a tripulação argumenta que isso fez com que todos se conhecessem bem melhor. O episódio não poderia terminar melhor, com o Doutor fazendo uma foto da tripulação e sua capitã com sua holocâmera, ao mesmo tempo que podíamos ver uma foto de O’Donnel envelhecida com sua família, numa exaltação à preservação da memória e das tradições, qualquer que seja a época, o que dá muita magnificência a esse episódio, que tem que ser apresentado aos roteiristas de Discovery para compreenderem o que é a essência de Jornada nas Estrelas.

Cabe também dizer que o próprio título do episódio, “11:59”, que cita a virada do milênio, do ano 2000 para o ano 2001, estava no imaginário das pessoas na época, já que o episódio foi produzido em 1999 e temas como o novo milênio colocado de forma equivocada na virada de 1999 para 2000 e o bug do milênio eram assuntos muito em voga na época (parece que foi ontem, mas lá se vão quase vinte anos). Assim, o próprio episódio já está datado, como vemos muito na série clássica, por exemplo.

Assim, vale muito a pena você, trekker de plantão, revisitar o episódio “11:59”, o vigésimo-terceiro da quinta temporada de Voyager. Um episódio que faz jogos com a tradição, a modernidade e o mito. E, como sempre em boas produções de Jornada nas Estrelas, convidando o espectador a uma boa reflexão.

https://www.youtube.com/watch?v=GlnzatGpUAY

Batata Séries – Jornada Nas Estrelas Voyager (Temporada 5, Episódio 24), Relatividade. Zoando Geral Com A Linha Temporal.

 

Uma borg procurando uma bomba…

Mais um curioso episódio de “Jornada nas Estrelas Voyager”. “Relatividade” é mais um daqueles episódios que usam a temática da viagem no tempo. Alguns fãs de ficção científica já se sentem saturados com tal assunto. Entretanto, outros fãs acham que a viagem no tempo ainda dá bastante caldo. Confesso que eu me enquadro nessa segunda categoria. Mas a grande verdade é que aqui já se faz alguma troça com essa saturação de episódios de viagem no tempo.

Viajando para um passado desconhecido…

No que consiste a história? O episódio começa com o dia em que Janeway começa o seu primeiro dia de comando na Voyager. Entre os tripulantes, temos Sete de Nove escondida. Por que isso acontece? A borg foi contatada pela nave Relatividade, do século XXIX, que tem a missão de evitar a explosão da Voyager no século XXIV, provocada por uma bomba instalada na nave. O problema é que os tripulantes da Relatividade não conseguem precisar quando e onde a bomba foi instalada. Os sensores visuais de Sete de Nove ajudarão nisso, assim ela foi chamada para evitar a explosão. O problema é que nem tudo sai como o planejado e Sete de Nove é obrigada a fazer vários saltos temporais, sendo que pode morrer depois do quarto salto. A coisa piora quando Janeway descobre uma Sete de Nove fora de fase e, principalmente, quando se descobre o verdadeiro culpado de ter implantado a bomba: ao invés dos suspeitos kazons, fora o próprio capitão da nave Relatividade, Braxton, pois no futuro posterior a convocação de Sete de Nove pela Relatividade, a carreira de Braxton sofrerá uma tremenda reviravolta que o colocará no ostracismo e ele colocará a culpa em Janeway, pois a Voyager se intrometeu na linha temporal várias vezes e era Braxton que resolvia os paradoxos temporais provocados pela Voyager. Numa dessas situações, ele ficou confinado vários anos na cultura bárbara do século XX. Assim, o Braxton do futuro “pirou na batatinha” e provocou todo esse problema que bagunçou a linha temporal de vez, já que os sucessivos saltos levaram a uma série de paradoxos. Chega uma hora em que o pessoal da Relatividade pede para Janeway dar alguns saltos para resolver os paradoxos, mas a coisa está tão enrolada (e eu também não irei reproduzir aqui), que a própria Janeway pede que não se explique mais nada e diga objetivamente o que tem que se fazer para consertar os paradoxos, levando um episódio relativamente sério ao tom de galhofa. Ainda sobrou um “pito” para a Janeway do Primeiro Oficial da Relatividade ao final. Ele disse que, apesar da loucura de Braxton, ele tinha razão em uma coisa: a Voyager realmente bagunça muito a linha temporal… então, capitã, dá uma paradinha nisso, tá legal? Ah, e não podemos nos esquecer da Primeira Diretriz Temporal: não conte a ninguém o que você viu em suas viagens no tempo… aí me lembrei do segundo filme do Homem Aranha do Tobey Maguire, quando, no trem, os garotinhos devolvem a máscara para Peter Parker e dizem: ” não vamos contar a ninguém”. Ou seja, do jeito como ficou, essa Primeira Diretriz Temporal ficou meio bobinha…

Um capitão do futuro que pira na batatinha… bem adequado para aparecer por aqui…

Bom, apesar das piadinhas com paradoxos temporais mais ao final, uma coisa a gente tem que mencionar: o episódio tem um plot twist interessante, que é a culpabilidade do capitão Braxton, e essa reviravolta acontece justamente por causa dos paradoxos temporais. Ou seja, já começamos o episódio dentro de um paradoxo temporal e não percebemos. Outra curiosidade é que a quantidade de saltos é tão grande e confusa que temos às vezes mais de uma Sete de Nove numa mesma época, o que faz a gente se recordar de “De Volta Para o Futuro 2”, que também brincava, com muito mais humor, com os paradoxos.

Eu sou você amanhã… ou ontem??? Ah, sei lá!!!

Assim, “Relatividade” é mais um bom episódio de “Jornada nas Estrelas Voyager” sobre viagens no tempo, embora esse aqui faça piadas com a saturação provocada pelo excesso de uso de tal temática. Não deixa de ser uma pequena curiosidade a ser mencionada aqui.

https://www.youtube.com/watch?v=chFtkJ-qVJ4

Batata Séries – Jornada Nas Estrelas, Voyager (Temporada 5, Episódio 18) – Rumo Ao Esquecimento. Uma Cópia Mal Feita.

É a tripulação da Voyager ou não é???

Dando sequência às nossas análises de episódios de “Jornada nas Estrelas Voyager”, falemos hoje de “Rumo Ao Esquecimento” (“Course: Oblivion”), décimo oitavo episódio da quinta temporada. Esse episódio tem como característica principal o fato de ser continuação do episódio “Demônio”, da quarta temporada, e que já foi analisado aqui (inclusive, essa análise deu início à nossa Seção Batata Séries).

Mas, no que consiste a história de “Rumo Ao Esquecimento”? Vemos aqui o enlace matrimonial entre Tom Paris e B’Elanna Torres. Durante a cerimônia, percebemos que o arroz jogado no casal estranhamente passa pelo chão e cai nas partes inferiores da nave. Isso está acontecendo, pois há um processo de desintegração em nível molecular de tudo e todos que estão na nave, a partir do motor de dobra. Investigações mais detalhadas levarão à conclusão de que essa não é a Voyager original, mas sim a Voyager gerada a partir da espécie biomimética do planeta classe Demônio do episódio lá da quarta temporada. Foi descoberto que a deterioração era irreversível e a única esperança da tripulação era voltar ao planeta natal. Entretanto, a cópia da capitã Janeway insistia em levar a nave para o planeta Terra, tal como faria a Janeway original. Somente depois de muitas mortes da tripulação e uma tentativa fracassada de colonizar outro planeta classe Demônio, Janeway se convenceu de que era necessário voltar ao planeta da espécie biomimética. O problema é que já era muito tarde e a Voyager biomimética acabou se destruindo, isso quando enviava um pedido de socorro à Voyager original, que casualmente passava pelas proximidades.

Um casamento…

Esse é um episódio angustiante, pois vimos o nascimento de uma nova espécie lá na quarta temporada e agora vemos o seu fim na quinta temporada. E, para piorar a situação, quando tudo parecia perdido, a Janeway biomimética ordenou a construção de uma cápsula do tempo, onde dados de sua espécie e seus feitos ficariam registrados para a posteridade. Entretanto, a Voyager biomimética não teve êxito em ejetar a cápsula do tempo e toda a informação dessa civilização se perdeu com a explosão da nave. Assim, tivemos uma dupla catástrofe: além da extinção total da espécie, sua história, identidade e cultura foram totalmente apagadas e riscadas do mapa. Isso fatalmente nos remete ao genocídio e etnocídio de indígenas na América, talvez o exemplo concreto que mais se aproxime da situação descrita no episódio, onde tribos inteiras e suas culturas foram simplesmente riscadas do mapa e nem tivemos a oportunidade de conhecê-las.

Tudo parecia ir às mil maravilhas…

Uma personagem chama muito a atenção nesse episódio: a Janeway biomimética. Isso acontece, pois a capitã não abre mão de retornar à Terra, além de seguir todas as prerrogativas da Federação, mesmo quando sabe que não é a Janeway original. Ou seja, na sua ânsia de cumprir seu papel mimético, ela coloca em risco a existência de toda a sua espécie, mesmo sob os apelos insistentes de Chakotay e Paris em retornar ao planeta classe Demônio. Assim, nossa capitã “de mentirinha” não vê as coisas com objetividade, saindo uma cópia mal feita da original, principalmente (e de forma muito paradoxal) quando tenta ser o mais fiel possível à capitã original.

Outro detalhe que chama a atenção é a maquiagem usada para simular o mal que acomete os tripulantes. Como se trata de algo que já tem uns vinte anos, é claro que a qualidade da coisa não está à altura da maquiagem e CGI de hoje, mas era nojento o suficiente para provocar alguma repugnância, embora também lembre o queijo derretido que a gente vê na pizza, só que meio esverdeado (argh!). Era muita pereba junta…

Doutor tem um desafio insolúvel…

O final do episódio se constitui na parte mais dolorosa. Aqui, a Voyager original, sem entender muito o que aconteceu, vê os destroços da Voyager biomimética, que falhou em sua tentativa de contactar a sua irmã original. Tal imagem dá uma baita sensação de impotência do nada que pode ser feito. E do fim de uma espécie que não deixará qualquer registro.

Assim, “Rumo Ao Esquecimento” é um episódio sem “happy end”, um episódio em que a sensação ruim da perda arrebata o trekker. E, pior de tudo, a sensação de que uma civilização e cultura foram simplesmente apagadas sem deixar qualquer vestígio, que desperta a sensação mais dolorosa de todas. Um episódio que novamente traz um convite à reflexão, a partir de seus aspectos mais dolorosos. Vale a pena assisti-lo de forma conjugada ao episódio da quarta temporada.

https://www.youtube.com/watch?v=bGrNsp1gupU

Batata Séries – Jornada Nas Estrelas, Voyager (Temporada 5, Episódio 15). Fronteira Negra. Legitimando a Pirataria.

Tomando os borgs de assalto…

Vamos hoje falar de um episódio de “Jornada nas Estrelas, Voyager” no mínimo perturbador. “Fronteira Negra” (“Dark Frontier”) é o décimo-quinto episódio da quinta temporada, dividido em duas partes. É um episódio que gira em torno de Sete de Nove e dos borgs. Mas também é um episódio onde vemos uma Capitã Janeway com uma conduta um tanto questionável.

Falemos do enredo. O episódio começa com a Voyager sofrendo um ataque de uma nave borg, que será destruída pela nave da Federação. Janeway ordena que os destroços da nave borg sejam recolhidos para ver se é possível aproveitar algo. No meio destes destroços está a evidência de que uma nave borg avariada está por perto e com um reator de transdobra à disposição. Janeway então, ao melhor estilo pirata, organiza um plano para que a Voyager aborde a nave borg e roube o reator de transdobra, o que faria a nave ganhar alguns anos na sua viagem de volta à Terra. É claro que, para essa missão, o conhecimento de Sete de Nove será fundamental. Mas a borg mostra muitas inquietações ao fazer as simulações do ataque no holodeck. Logo, ela começa a ouvir vozes: é a rainha borg a chamando e dizendo que conhece o plano de ataque da Voyager, ameaçando assimilar a todos, exceto se Sete de Nove se entregar. Ela o faz enquanto a nave borg é abordada pela Voyager, que precisa fugir para não ser assimilada. Agora, Janeway e sua tripulação precisam organizar uma missão de resgate para tirar Sete de Nove das mãos da rainha borg.

Uma capitã e sua tripulante trabalhando num objetivo comum…

O que mais inquieta aqui? É o fato da tripulação da Voyager, sob o pretexto de que era atacada pelos borgs, se achar no direito de invadir a nave inimiga e fazer pilhagens. Isso lembrava muito aqueles filmes da Sessão da Tarde de batalhas navais ocorridas durante a Idade Moderna, onde galantes almirantes das Marinhas Inglesa e Francesa travavam batalhas pelos sete mares contra inimigos implacáveis. O problema é que esses oficiais de Marinha eram os verdadeiros piratas da época, praticando assaltos a embarcações portuguesas e espanholas, abarrotadas de mercadorias valiosas, usando a guerra como pretexto para a invasão. Qual não é a nossa surpresa quando vemos Janeway agindo como esses mesmos piratas pretéritos? Tudo bem que ela tem o sério problema de tentar abreviar uma longa viagem num quadrante inóspito nalém de carecer de certos recusros, mas chega a ser um pouco assustador ela lançar mão de tal expediente com exatamente as mesmas justificativas e, principalmente, não haver uma alma viva durante todo o episódio que atente para as implicações éticas (ou a falta delas) de tal atitude.

Janeway, a pirata!!!

Apesar desse pequeno porém, o episódio também foi interessante em explorar a personagem Sete de Nove e o seu passado, onde seus pais desenvolveram tecnologias para poder estudar os borgs despercebidos por estes. O único problema nisso foi que eles caíram na armadilha da autossuficiência e foram assimilados. Ainda assim, foi interessante ver Sete de Nove e sua postura desafiadora perante uma rainha borg que queria estudá-la mais a fundo e não abrir mão da individualidade da ex-drone, por ser esta uma característica notável e que a tornava diferente dos demais zangões.

Uma coisa é certa: dá para perceber a flagrante influência do longa “Jornada nas Estrelas, Primeiro Contato”, principalmente pela presença da rainha borg. Ainda, o cenário onde tínhamos várias estruturas borgs pelo espaço, com direitos a muitos cubos voando para lá e para cá, ficou muito interessante e instigante. Sem falar que a “pirata” Janeway foi bem sucedida em sua pilhagem, o que lhe rendeu uma economia de quinze anos na viagem de volta à Terra.

A rainha tentando reaver o seu zangão…

Assim, “Fronteira Negra” é um bom episódio de “Jornada nas Estrelas, Voyager” por novamente trabalhar com a espécie borg e dar a nós o vislumbre do que é Sete de Nove voltar a interagir com a coletividade. O único problema do episódio foi o quê de pirataria de Janeway, algo pouco adequado ao comportamento da capitã de uma nave estelar do século 24, mesmo que essa pirataria seja contra o inimigo. Que se chute a noção de civilização da Federação para lá, que a situação é extrema e de guerra. Mas será que essa é a melhor saída??? Deixo a resposta para os nobres leitores trekkers…

https://www.youtube.com/watch?v=w1WSRB4tkpo