Batata Séries – Jornada Nas Estrelas Discovery. (Temporada 1, Episódio 13). O Passado É O Prólogo. O Fim Do Arco Do Universo Espelho.

                               Lorca põe as manguinhas de fora…

E lá vamos nós para o décimo-terceiro episódio de “Jornada nas Estrelas Discovery”. Intitulado “O Passado é o Prólogo”, este episódio resolve o arco do Universo Espelho, marcando a volta da Discovery para o Universo Prime. Mas, antes disso, tivemos um episódio em que as cenas de ação deram o tom, parecendo mais um filme blockbuster do que a série Jornada nas Estrelas em si. Vamos ver inicialmente Lorca libertando seus comandados e liderando um ataque contra a sala do trono, onde ele conta com a ajuda do Stamets do Universo Espelho, com direito a bioarmas e granadas de luz. Já a Imperatriz contava com escudos e transportes de emergência. Aqui, podemos dizer que as batalhas de pistolas de raios deram a tônica da coisa, com muita gente sendo desintegrada. Lorca conseguiu tomar a sala do trono e passou a tentar localizar Burnham.

                           Laundry está viva no Universo Espelho

Uma coisa que destoou dos episódios anteriores foi a tal da orbe da Charon, que drenava energia micelial da rede e a corrompia, levando-a a uma lenta destruição que acabaria com a vida no multiverso. Confesso que eu achei todo esse argumento para salvar a rede micelial um pouco exagerado demais. E por que isso destoa dos episódios anteriores? Vimos há uns poucos episódios que a Imperatriz não tinha conhecimento da tecnologia do motor de esporos. Entretanto, o núcleo de energia principal da Charon era uma orbe formada de esporos que respondia pela energia da nave inteira. Aí fica a pergunta: a Imperatriz não conhecia o motor de esporos, mas já sabia da existência deles, ou nem conhecia os esporos? Isso não ficou muito claro, cá para nós. De qualquer forma, era então necessária a destruição da orbe, mas ela era protegida por um campo de contenção que teria que ser desligado pela Burnham na Charon. Entretanto, a destruição da orbe destruirá a Discovery.  Depois foi visto que não era bem assim e que a nave poderia fugir com uma combinação entre o motor de dobra (cuja bolha de dobra protegeria a nave) e o motor de esporos. Ou seja, se o episódio foi marcado por uma ação blockbuster, houve também espaço para uma tecnobabble um tanto inocente, mas que salvou (infelizmente) a famigerada rede micelial. Há, ainda, dois episódios para se desistir dela, até para que isso tudo se encaixe no cânon. Será que vai acontecer?

                                         Lorca e uma tripulação livre…

Pelo menos o episódio teve um lance bem legal que foi o discurso de Saru para a tripulação. Ele começa seu discurso falando que sua espécie sente a presença da morte e ele não a sente naquele momento. Ele disse ainda que confia na tripulação e que Lorca abusou de seu idealismo. A tripulação não é mais de Lorca e sim ela é nossa e hoje começa uma nova jornada. Ele não aceita um cenário sem vitória e todos têm um dever a cumprir. Foi a melhor coisa que Saru fez na série até agora e fez a tripulação se libertar dos grilhões da neurastenia de Lorca. Alguns membros mudos da ponte já começaram até a se manifestar, sendo esse um indício bom para a segunda temporada. Confesso a vocês que prefiro muito mais Saru como capitão e Burnham como primeira oficial (um mal necessário, já que ela é a protagonista da série, um tanto xoxa, mas ainda sim a protagonista) do que o contrário. E, ainda me arrisco a dizer que esse discurso redimiu todas as trapalhadas que os roteiristas fizeram com esse personagem que, realmente, não merece isso.

                       Burnham e a Imperatriz farão uma aliança…

Bom, como era um episódio de fechamento de arco regado à muita ação, e não havia batalhas espaciais, salvo os tiros da Discovery na orbe da Charon, as batalhas de pistolas vieram complementadas muita porrada na sequência final. Confesso que todo esse exagero nas cenas de ação incomodou um pouco. Mas, cá para nós, a gente também viu muita porrada na Série Clássica, em Deep Space Nine, Nova Geração, etc. Pelo menos, Lorca teve um grand finale, se desmanchando na orbe. E já pudemos ver a tripulação da Discovery trabalhando em equipe no ato da destruição da Charon.

Uma coisa que deve ser falada aqui é novamente uma atitude impensada de Burnham, que conseguiu levar a Imperatriz para o Universo Prime, naquele arroubo meio que desesperado de não perder sua Phillipa novamente. Para que isso não fique configurado como mais uma das doideiras de Burnham, a gente só pode esperar que a Imperatriz tenha um papel decisivo na guerra contra os klingons no quadrante alfa, que é a única coisa que pode justificar a presença de Phillipa no Universo Prime e cuja guerra agora parece perdida. Mas, falando em klingons, alguém sentiu a falta do Tyler e da L’Rell nesse episódio? Os caras simplesmente desapareceram sem deixar satisfações, algo muito estranho, diga-se de passagem.

Pois bem. Agora estamos na reta final, com mais dois episódios para definirmos a primeira temporada. Me arrisco a dizer que Discovery melhorou no seu sprint final mas ainda assim há a impressão da violação da essência de Jornada nas Estrelas. Como as primeiras temporadas das séries de Jornada nas Estrelas nem sempre foram sucesso de público e de crítica, quero permanecer otimista e acreditar que a segunda temporada vá ser menos estranha ao cânone do que a primeira. A torcida é sempre para que a série dê certo e vá adiante. Mas algumas coisas tem que ser corrigidas, a começar por sua alta previsibilidade, por exemplo, passando por um remodelamento da protagonista e chegando até a (complicada) questão da rede micelial. E menos borracha na cara dos klingons também. E, uma última coisa: Saru para capitão! Espero que não melem isso, como meio que já apareceu no trailer do episódio 14. Mas, vamos que vamos…

https://www.youtube.com/watch?v=A5wLH5_12ow

Quer ver mais análises de Discovery? Clique aqui

Batata Antiqualhas – Spock e Leonard. Dualidade que se Completa (Parte 12)

O velho trio de volta num segundo longa

Nimoy encontrava-se novamente entre dois sentimentos. Um, de desconforto, pois Spock iria morrer. E outro, de enorme entusiasmo por participar de uma história promissora e mais fiel ao espírito da série clássica. Desde já, ele sentiu diferenças com relação ao filme anterior. O vestuário não era mais cinzento, mas com uniformes de cores bem vivas (vinho e branco) que, entretanto, saíam do lugar quando os atores se sentavam, sendo necessário que eles ajeitassem as jaquetas sempre que se levantavam, detalhe que seria crucial na cena da morte de Spock. O primeiro longa tinha, nas palavras do próprio Nimoy, uma influência de “2001, Uma Odisseia no Espaço”, resgatando o misterioso do espaço. Já o segundo filme se chamaria “A Terra Desconhecida”, pois Meyer tirou esse título de uma citação de “Hamlet, de Shakespeare: “Mas esse temor do que existe após a morte, a terra desconhecida, de cujas fronteiras nenhum viajante retorna, intriga o desejo e nos faz suportar os males que já temos melhor do que se nos voltássemos para outros que não conhecemos…”. Bárbaro! Essa excelente ideia de Nicholas Meyer numa alusão à morte de Spock mostrava bem o nível de intelectualidade de “Jornada nas Estrelas”. Mas, segundo Nimoy, “forças superiores” mudaram o título para “A Vingança de Khan”, que foi alterado para “A Ira de Khan” quando foi anunciado que o novo filme de George Lucas se chamaria “A Vingança de Jedi”, também alterado depois para “O Retorno de Jedi”. Hoje sabemos que o título “A Terra Desconhecida” foi utilizado para o sexto longa da série. Além da morte de Spock, a vida também seria tratada através do projeto Gênese, que era de provocar uma terraformação, dando vida à matéria morta. O filme também traria discussões sobre a passagem do tempo e do envelhecimento. Efeitos especiais? Estes ficariam mais em segundo plano desta vez.

Spock e Saavik. Mestre e aprendiz…

Uma pegadinha foi feita para “amolecer” o público. O início do filme mostra o teste “Kobayashi Maru”, onde a cadete vulcana Saavik faz uma simulação como a capitã de uma nave sob ataque klingon. O teste não tem saída e mede a reação dos cadetes a uma situação de morte iminente. Os comandados de Saavik na simulação são os tripulantes da Enterprise e eles, pouco a pouco vão morrendo. Como Spock cai morto, ficou a impressão de que a morte de Spock era de mentirinha. Kirk até pergunta a Spock ao fim da simulação: “você não morreu?”. Mas, como sabemos hoje, a morte estava guardada para o final. Para o vilão, Harve Bennett, que havia visto todos os 79 episódios da série clássica, escolheu Khan, e pensou o longa como uma continuação do episódio “Semente do Espaço”. O que teria acontecido àquela raça humana geneticamente superior do passado (década de 1990, que estava em estado criogênico numa nave) deixada num planeta para recomeçar a vida? O grande vilão e oponente da Enterprise, era interpretado por Ricardo Montalbán, ator latino que impressionava naquela época por fazer o gentil e refinado senhor Rourke da série televisiva “Ilha da Fantasia”, com seu terno branco impecável e sempre acompanhado por seu ajudante anão Tatu. De repente, ele aparece com trajes de um bárbaro, torso musculoso (segundo Nimoy, do próprio Montalban) à mostra e de gestos ora rudes, por seu espírito conquistador, ora refinados, por ser também um intelectual. Um inimigo realmente à altura e que chamou muito a atenção. No filme, é nítida a passagem de Khan de um conquistador com traços de cavalheiro, que na sua obsessão de se vingar de Kirk, vai enlouquecendo gradativamente até a demência total, quando explode a nave que havia sequestrado, a Reliant, com o torpedo gênese, somente para destruir a Enterprise.

Mas o mais importante em “A Ira de Khan” é que a velha química entre os atores da série clássica estava de volta, sobretudo na tríade Kirk, Spock e McCoy, talvez pelo fato do filme abordar o tema do envelhecimento de Kirk. McCoy chega a dizer para o agora almirante, no dia de seu aniversário: “Pegue logo o comando de uma nave espacial antes que você envelheça de verdade”.

No próximo artigo, falaremos mais das filmagens de “Jornada nas Estrelas II, a Ira de Khan”. Até lá!

Khan, interpretado por Ricardo Montalbán. Vilão à altura…

Batata Séries – Jornada Nas Estrelas Discovery (Episódio 12, Temporada 1). Ambição Desmedida. Comendo O Saru.

                                      O encontro com a Imperatriz…

O décimo-segundo episódio de “Jornada nas Estrelas Discovery” prossegue a saga do Universo Espelho, onde parece que fica bem claro que esse foi o melhor arco da primeira temporada, cheia de problemas e sub-arcos. Esse é um episódio marcado, basicamente, pela descoberta, ao seu final, do que muitas pessoas nas redes sociais já desconfiavam: de que Lorca era do Universo Espelho e todo aquele clima negativo da Discovery era consequência do comportamento tacanho de seu capitão. Mesmo assim, devemos nos lembrar de que a Federação deu também algumas mostras do comportamento errático de Lorca, principalmente quando foi dito que a mesma caçava tardígrados para colocar a tecnologia do motor de esporos em outras naves da Federação em virtude da guerra. Esse ainda não é um comportamento condizente com os procedimentos da Federação Unida de Planetas, constituindo-se num furo de roteiro. Assim, nem essa revelação de Lorca ser do Universo Espelho conseguiu sanar todos os problemas que vimos na série. Pelo menos, rolou uma trairagem entre Lorca, a Imperatriz e Burnham, onde a monarca via Burnham como uma filha, Lorca como seu braço direito e como pai de Burnham, onde depois, com esta mais crescida, sendo seduzida por Lorca, agora também uma espécie de garanhão. Só queria saber onde os biscoitos chineses e os pingos se encaixam em todo esse fuzuê.

Esse também foi um episódio marcado pelo encontro de Burnham com a Imperatriz Georgiou, que teve algo que gerou muita polêmica entre os fãs. Bem ao início do encontro com a Imperatriz, essa pede a Burnham para escolher um kelpiano. Como os kelpianos eram vistos como escravos no Universo Espelho, Burnham pensou que a escolha era apenas para esse propósito. Mas, na verdade, o kelpiano era o prato principal da janta entre Burnham e a Imperatriz. Assim, podemos dizer que Burnham comeu um alienígena da espécie do Saru. Alguns fãs levaram isso numa boa, outros acharam demais. Sei não, mas o trauma em Burnham provocado por esse “canibalismo” humanoide vai ter muito pouco tempo para ser desenvolvido quando toda uma gama de questões terá apenas três episódios para ser resolvida até o fim da temporada. Aliás, esse novo formato de série (com quinze episódios de cerca de quarenta e cinco minutos) parece fazer com que as coisas tenham que ser logo resolvidas, tornando a coisa um tanto que jogada e pouco desenvolvida. E, ainda mais, como ficou parecendo que muita coisa foi sendo mudada ao longo dos episódios (guerra klingon, tardígrados, Mudd, Universo Espelho), como se os produtores estivessem tateando o rumo certo ao longo da produção dos episódios, deu-se a impressão de que tudo ficou ainda mais jogado. A gente espera que, na segunda temporada, haja uma espécie de arco único e uma coesão maior, pois vários arcos numa temporada funcionariam melhor se isso fosse no formato antigo de série (cerca de vinte e cinco episódios numa temporada).

                                             Comendo um kelpiano…

Uma coisa que não encaixou bem na minha cabeça foram as negociações entre Burnham e a Imperatriz. A Burnham do Universo Espelho estava conspirando para tomar o poder da Imperatriz e, por isso a mesma iria executar a primeira. Foi aí então que Burnham abriu o jogo e disse que era do Universo Prime e que precisava dos dados da Defiant para voltar. A Imperatriz disse que tais dados não seriam úteis, pois quando a tripulação da Defiant passou de um Universo a outro, ela enlouqueceu. Foi aí que Burnham disse que a Discovery passou de um Universo a outro com outra tecnologia, e entregou de bandeja o motor de esporos à Imperatriz na negociação para a Discovery voltar ao Universo Prime. Cá para nós, tem que ser muito trouxa para se fazer isso. Outra coisa que incomodou bastante foi associar a sensibilidade à luz como uma característica dos humanos do Universo Espelho para explicar essa característica em Lorca no início da temporada. Nos outros episódios de Universo Espelho na Série Clássica, em Deep Space Nine e em Enterprise, essa característica de fotofobia jamais apareceu, em mais uma forçada de barra dos roteiristas de Discovery.

Tivemos, ainda, dois momentos menos interessantes. A parte em que Stamets volta à vida mas que, enquanto ele estava em coma, conheceu seu contraparte do Universo Espelho e falou com um Culber do além. Aqui, o fator principal foi ver que a rede micelial foi corrompida pelo Stamets do Universo Espelho, que queria usá-la em benefício próprio, e isso estava provocando a destruição de todas as coisas. Caberá ao Stamets do Universo Prime achar um jeito de salvar a rede micelial que, aparentemente, não tem mais salvação. Aqui fica a grande curiosidade: será que essa rede micelial, até por não existir na série clássica, irá mesmo a pique e Stamets não conseguirá salvá-la, o que encaixaria redondinho no cânone, ou os roteiristas da série ainda vão tentar salvar a bichinha e trazer mais problemas? Na minha modesta opinião, acho que essa rede micelial deveria ser riscada do mapa logo de uma vez, até porque toda a sua concepção é muito forçada, até para a liberdade poética de uma ficção científica, pois imaginar um tecido vivo que permeia todo o Universo quando sabemos que o espaço sideral é o lugar mais inóspito que existe para se manter a vida (repito que fazer um motor que usasse a matéria escura no Universo seria muito mais plausível) é um pouco demais. Que esses micélios sejam enterrados de vez, pois eles já estão enchendo o saco, e a boa e velha dobra espacial ressurja, em coerência com o cânone.

                            Stamets e Stamets…

O outro momento menos interessante, adivinhem qual foi? Isso mesmo, Tyler! O infeliz todo amarrado lá na enfermaria, gritando que é um klingon, etc. Os médicos não sabem o que fazer com o pobre diabo. Saru vai à cela de L’Rell para perguntar se ela pode aliviar o sofrimento e, entrega, também de bandeja, à klingon a informação de que está no Universo Espelho (ai, ai). A klingon diz que Voq se sacrificou espontaneamente pela sua ideologia e que isso é guerra. Aí, Saru perde a paciência e, no melhor estilo “Toma que o filho é teu”, coloca Tyler junto com ela na cela. Aí, a klingon decide ajudar e diz que o processo possa ser revertido. Espero que a primeira coisa que L’Rell faça em Tyler é consertar a língua dele, até para ele parar de falar “Khalexxxx”. Os klingons dessa série precisam de fonoaudiólogos klingons do cânone, para falar klingon na pronúncia correta.

                                                   Lorca, o Sedutor!!!!

Bom, agora faltam apenas três episódios para o fechamento das muitas pontas soltas da temporada. Como Lorca vai interferir na volta (ou não) da Discovery para o Universo Prime? Ele vai tomar o trono? Tyler voltará ao normal e cairá nos braços de Burnham? E nossa protagonista? Parará com seus monólogos fora de hora e ficará, pelo menos, um pouco menos trouxa? Stamets conseguirá salvar a rede micelial? E Saru? Ele mandará Burnham fazer aquilo que rima com o nome dele e será o capitão da Discovery? Muitas emoções até o final. Só espero que os roteiristas não usem uma reação interfásica para explodir tudo de uma vez…

https://www.youtube.com/watch?v=maz30XZocL0

Quer ler mais artigos sobre Jornada nas Estrelas Discovery? Veja aqui

Batata Séries – Jornada Nas Estrelas Discovery (Episódio 11, Temporada 1). O Lobo Interior. Olha A Imperatriz Aí, Gente!!!

                      Negociando com a rebelião

Chegamos ao décimo-primeiro episódio de “Jornada nas Estrelas, Discovery”. “O Lobo Interior” dá continuidade à saga do Universo Espelho, nessa temporada altamente fragmentada em micro-arcos. Esse episódio tem uma característica peculiar logo em seu início: o teaser (aquela parte do episódio antes da vinheta de abertura) tem 14 minutos, o mais longo até agora nessa série e, talvez, em toda a franquia. Esse teaser foi marcado inicialmente por Stamets abraçado a Culber, falando de florestas e árvores, mais uma de suas charadas que serão elucidadas posteriormente. Ainda, tivemos uma Burnham toda reflexiva ponderando se ela vai aguentar todo aquele cotidiano do espelho sem mudar a si mesma. Apesar da boa vontade da reflexão, confesso que achei essa parte muito enfadonha. E, ainda, apareceu algo altamente inquietante: um Saru como escravo particular de Burnham. Ora bolas, se estamos no Universo Espelho, será que os kelpianos não deveriam ser extremamente agressivos como predadores e Saru teria uma posição até mais alta na Shenzhou, em virtude de sua selvageria? Ou, quem sabe, Saru tivesse até um posto de capitão em outra nave? Se a Tilly era a capitã da Discovery, por que não Saru? Foi estranho, e até pegou mal, Saru ser ainda mais submisso no Universo Espelho. Outro detalhe foi a condenação à morte de três tripulantes, sendo teletransportados para o espaço, onde morriam congelados. Sem a gente querer se lembrar dos detalhes científicos da coisa, mas já lembrando, se uma pessoa está no espaço sideral sem qualquer proteção, ela não congela, mas sim explode. Como vivemos na superfície da Terra, com muito ar em cima da gente, e sob a pressão de uma atmosfera, nosso corpo tem que contrabalançar essa pressão de uma atmosfera. Se ele fica no espaço sem pressão atmosférica nenhuma sobre seu corpo, a pressão que está dentro de nosso corpo tende a expandir o organismo até explodi-lo. Ou seja, não dá nem tempo para congelar. Mas como nas séries de ficção científica, o fogo e o som se propagam pelo espaço mesmo…

                                  Tilly tenta recuperar Stamets, mas…

Um problema surge aqui. Os dados da Defiant não poderiam ter sido transmitidos à Discovery sem serem interceptados pela Shenzhou. Burnham terá que enviar o disco físico com os dados para a Discovery. E a forma como ela conseguiu isso foi legal, como ainda veremos aqui.

Um outro detalhe digno de nota foi a tentativa empreendida por Tilly de salvar Stamets de seu estado letárgico. A cadete acreditava que era a mais qualificada para tratar de Stamets, que estava morrendo, e empreendeu um tratamento à base de esporos que acabou matando o engenheiro. Coisas de Tilly. Entretanto, a atividade cerebral de Stamets ligada à rede micelial voltou e ele se viu numa floresta (o que ele dizia no início do episódio), onde encontra a sua versão do Universo Espelho, perguntando se ele estava pronto para o trabalho. Mais mistério por aí.

                                                           Tyler e Voq

Mas a história principal do episódio está na descoberta da base rebelde. Burnham foi incumbida de destruir a base. Entretanto, ela desce com Tyler para fazer contato com o “Lobo de Fogo”, o líder dos rebeldes, que na verdade, é Voq, o que deixa Tyler, digamos, um pouco descontrolado. Burnham consegue convencer os rebeldes de que quer ajudá-los, depois que um Sarek de cavanhaque faz um elo mental com a moça e descobre que ela tem boas intenções, mas Tyler bagunça todo o coreto, atacando um Voq que lidera uma rebelião multirracial contra a Terra, ao invés de garantir a sobrevivência da cultura klingon. Depois desse momento tenso, o certo seria Voq e os revoltosos retalharem Burnham e Tyler, certo? Mas não foi isso que aconteceu, e Voq ainda continuou a acreditar em Burnham depois que Sarek reiterou as boas intenções da terrestre. Cá para nós, a coisa realmente ficou muito Mandrake aqui. De qualquer forma, ficou acordado entre Burnham e Voq que os rebeldes teriam uma hora para evacuar a base. Em troca, Burnham tinha que mostrar uma prova de que a sua missão foi bem sucedida. Ela recebeu uma base de dados que mostrava a localização das bases rebeldes que seria logo inutilizada. Nessa parte da base rebelde, houve mais uma parte um tanto chata, onde Burnham ficou filosofando com Voq como ele aceitava a diversidade dos revoltosos e ainda mantinha o orgulho da própria cultura klingon. Esse diálogo lembra um pouco, e de longe, a mesma conversa que Kirk teve com o Spock do Universo Espelho, onde o capitão tentava estimular o vulcano a se revoltar contra o Império Terrestre. Mas não caiu muito bem nesse contexto (só serviu mesmo para fazer Tyler surtar). Creio que tal conversa se encaixaria melhor numa situação futura.  Na verdade, Burnham tenta fazer uma aliança com os rebeldes, liderados por um klingon, para ver se ela consegue um tratado de paz com os klingons em seu Universo. Só que essa ideia precisa ser melhor gerida nos próximos episódios e não jogada aqui de qualquer jeito.

Pelo menos, a identidade secreta de Tyler (um Voq transformado) foi revelada aqui para Burnham. E isso porque Tyler ainda falou a ela que tinha um elo com L’Rell e que assassinou Culber. Para coroar toda a decepção de Burnham, Tyler ainda tenta matá-la, sendo salva por Saru no último momento. É claro que Tyler foi condenado à morte no teletransporte para o espaço (colocado didaticamente no início do episódio) e Burnham aproveita a situação para colocar o disco com as informações da Defiant no bolso da roupa de Tyler, depois de lhe dar um soco, pois Tyler, depois de transportado para o espaço, foi interceptado pela Discovery e transportado para lá.

              Burnham busca instruções com um capitão abalado…

O episódio termina com uma nave do Império chegando antes da evacuação dos rebeldes e destruindo toda a superfície do planeta. Quem comandava essa nave? Isso mesmo, a Imperatriz… Georgiou!!! Algo que já era esperado, pois a versão dublada da série mencionava uma imperatriz e não um imperador. De qualquer forma, isso deu um sabor especial ao final do episódio, tornando-o relativamente bom e sendo o seu principal ponto positivo. Revelar Tyler como Voq transformado foi também algo bom, pois fechou-se algo que já estava sendo germinado há vários episódios. Resta ver o que Voq e L’Rell vao fazer ainda na série.

             Uma Imperatriz…

O arco inaugurado com os rebeldes pode ainda dar um bom caldo, pois eles não devem ter morrido e devem estar mortos de raiva da Burnham (pelo menos é o que eu espero). Agora, a grande expectativa vai ser o encontro entre Burnham e Georgiou, sobre os olhares atentos de Lorca que, segundo as redes sociais, parece ser cada vez mais originário do Universo Espelho. Assim, se Discovery não é uma série padrão Jornada nas Estrelas, principalmente em termos de cânone, ainda assim está conseguindo produzir uma história um tanto instigante em seu arco final, com curiosas expectativas à vista. A se lamentar nesse episódio, o monólogo de Burnham ao início do episódio e seu diálogo com Voq um tanto fora de contexto. Esperemos, como sempre, quais os rumos a série tomará no próximo episódio.

https://www.youtube.com/watch?v=RBL3WWVX4Hk

 

Batata Antiqualhas – Spock e Leonard. Dualidade que se Completa (Parte 11)

                 Como Theo Van Gogh no teatro…

Convencido de que “Jornada nas Estrelas” não voltaria mais, Nimoy partiu para outros projetos como palestras em universidades e teatro. Nessa época, ele encenou uma peça baseada nas cartas entre Vincent Van Gogh e seu irmão Theo. Interpretando o irmão do famoso pintor, mais uma vez um “outsider” (Van Gogh, estereotipado como artista louco, por ter cortado a orelha num momento de desespero) espreitava a vida de Nimoy. O amor de Theo pelo irmão e a convicção de que ele era um grande artista (era Theo quem financiava Vincent) seduziram Nimoy. A peça fez um enorme sucesso. Nesse ínterim, Harve Bennett havia sido chamado pela Paramount para trabalhar em outro filme de “Jornada nas Estrelas”. Bennett já havia trabalhado com Nimoy num filme em 1972, “The Alpha Caper”, onde nosso ator contracenou com Henry Fonda, que, anos mais tarde, o alertara sobre a fatídica propaganda de cerveja. Bennett ficava ciscando para lá e para cá, tentando convencer Nimoy a participar do filme. Pelas leituras de “Eu sou Spock”, dá para perceber que Nimoy negociava com pulso firme, pois sabia da importância de seu personagem, assim como queria preservar a integridade de Spock, algo que ele já fazia durante a série. Ao mesmo tempo em que era durão nas negociações, ele balançava bastante só de pensar que poderia interpretar o vulcano de novo. Foi nesse contexto que Bennett sugeriu se Nimoy queria fazer uma cena de morte. O ator pensou que poderia ser um desfecho primoroso para a série, se tivesse um bom roteiro. Além disso, ele queria ser aproveitado em outros projetos da Paramount. E foi convidado para um telefilme sobre a vida de Golda Meir, uma importante personagem política de História de Israel e que seria interpretada por ninguém mais que Ingrid Bergman. Nimoy interpretaria o papel do marido de Golda, Morris Meyerson. Mais tarde, as apresentações no teatro como Theo lhe renderam mais um convite para trabalhar numa minissérie sobre Marco Polo, que seria gravada na China e onde Nimoy faria um papel de vilão, que ele prontamente aceitou. Assim, de repente, nosso ator tinha três projetos em mãos, precisando filmar em Israel, na China e em Los Angeles. O agente de Nimoy, Merritt Blake, teve que quebrar a cabeça para acertar a agenda do ator, mas conseguiu. Primeiro, foram as filmagens de “Uma Mulher Chamada Golda”, em Israel. Depois, um mês na China para Marco Polo. E, finalmente, para Los Angeles, para filmar “Jornada nas Estrelas II, a Ira de Khan”. Em Israel, houve uma decepção. O diretor do filme, Alan Gibson, só conhecia Nimoy como Spock e era contra a presença do ator no “set” de filmagens. Certa vez, quando Nimoy perguntou ao diretor como devia fazer determinada cena, Gibson foi enfático: “Que diferença faz? Você não é a pessoa certa para o papel mesmo!”, o que deixou Nimoy muito chateado, como não poderia deixar de ser. O estigma do ator de um personagem só volta e meia rondava nosso ator, que procurou esquecer o incidente e focar no trabalho. Mas ele recebeu o roteiro de “Jornada nas Estrelas II” e ficou insatisfeito com a morte de Spock logo ao início do filme, ficando descolada do resto da trama. Com alguns dias de folga, ele foi a Los Angeles ter uma reunião com Bennett e Nicholas Meyer, que havia sido escalado para ser o diretor do filme. Meyer concordou com Nimoy com relação ao roteiro e o reescreveu, dando novas esperanças quanto ao futuro da morte de Spock. De volta a Israel, Nimoy terminou as filmagens com uma Bergman já muito doente em virtude do câncer, mas muito elegante e profissional, onde eles fizeram uma das cenas finais de mãos dadas.

                     Contracenando com uma Ingrid Bergman doente

Cabe dizer aqui que o casal já estava divorciado e não se via há alguns anos. Nimoy quis tirar a tensão do divórcio pegando nas mãos de Bergman, que prontamente aceitou fazer a cena assim. As filmagens finais ocorriam no dia em que o presidente do Egito, Anuar Sadat, foi assassinado por estabelecer uma política de paz com Israel, e havia medo de que o país fosse atacado. No dia seguinte, Nimoy partia para a China com o remorso de ter deixado a equipe de filmagem para trás naquela situação. Em Pequim, ele encontrou uma China ainda descobrindo o capitalismo, onde havia um choque claro entre os comunistas mais antigos e as pessoas mais novas, de tendências capitalistas. Houve também os problemas das barreiras linguísticas como o fato de seu motorista não saber uma palavra de inglês, ou um figurante chinês aprender a pronúncia correta em inglês com uma equipe de filmagem toda italiana (dá para imaginar o desastre que foi). O mais interessante é que nosso ator podia circular livremente pelas ruas sem ser conhecido. Ele chegou até a comer num restaurante popular, achando tudo maravilhoso. Através de uma versão asiática e em inglês do “The Wall Street Journal”, ele descobriu que a notícia da morte de Spock já havia vazado e os fãs estavam revoltados. Ele deu uma risada, pois percebeu que até na China a notícia da morte de Spock havia chegado.

No próximo artigo, falaremos das filmagens de “Jornada nas Estrelas II, a Ira de Khan”, considerado por muitos fãs um dos melhores longas da série. Até lá!

                                                       Vilão na China…

Batata Séries – Jornada nas Estrelas Discovery – Apesar de Você (Temporada 1, Episódio 10). O Tardígrado Agradece.

                 Jonathan Frakes na direção!!!

E “Jornada nas Estrelas, Discovery” está de volta, depois de um pequeno hiato. Teremos, agora, mais seis episódios até o fim da primeira temporada. E começamos com “Apesar de Você” (“Despite Yourself”), dirigido por Jonathan Frakes (já vimos uma pegada mais Jornada nas Estrelas) onde a história é retomada, ou seja, do momento em que a Discovery está numa região do espaço cercada por destroços de naves, com a tripulação sem saber muito bem onde está. E a coisa fica mais confusa quando um cruzador vulcano ataca a nave, que neutraliza rapidamente a ameaça. A tripulação da Discovery acaba recuperando um núcleo de dados klingon e descobre que eles estão, na verdade, no chamado Universo Espelho, onde o planeta Terra governa a galáxia através de um Império Terrestre que se comporta de forma fascista e com ódio a tudo o que é diferente. Assim, o Império precisa lutar contra uma rebelião organizada pelas civilizações alienígenas. Ainda, a estrutura de poder desse Império permite que um militar avance na hierarquia matando o seu superior e tomando seu posto. Como a tripulação da Discovery está presa nesse Universo alternativo, o capitão Lorca passou instruções à sua tripulação de que eles se comportem como se fossem do Universo Espelho, enquanto era procurada uma forma de retornar ao seu Universo. Ainda, Lorca, Burnham e Tyler iriam para I.S.S. Shenzhou com o objetivo de acessar dados sobre uma nave chamada Defiant, que teria vindo do Universo da Discovery do futuro e caído no passado do Universo Espelho. Ou seja, a Shenzhou ainda existia no Universo Espelho e a Burnham do Universo Espelho era a capitã. Já o Lorca do Universo Espelho era o capitão da Buran e teria se rebelado contra o Imperador, sendo caçado por Burnham. Mas esta acabou morrendo numa nave auxiliar alvejada a mando de Lorca. Em represália, o Imperador mandou destruir a Buran, com o Lorca do Universo Espelho fugindo.

          Uma Tilly mais aceitável

Paralela à história do Universo Espelho, está a odisseia de Tyler e seu relacionamento com L’Rell. Agora Tyler tem uma lembrança um pouco mais nítida do que aconteceu e L’Rell deu a entender que ele era um klingon que foi transformado em humano. Tyler irá pedir a Culber que o examine e esse constatou as alterações no corpo de Tyler. Num acesso de fúria e com uma dupla personalidade, com o seu lado klingon se manifestando, Tyler mata Culber.

        L’Rell e Tyler. E ele era klingon mesmo…

Vamos lá. O que podemos falar desse episódio? Em primeiro lugar, a ideia de se ter usado o Universo Espelho, uma fórmula que já deu certo em outras séries de Jornada nas Estrelas, a começar pela Clássica, passando por Deep Space Nine e chegando até a Enterprise. Muito se suspeitou que a própria história de Discovery estivesse no Universo Espelho, dada a forma neurastênica com a qual a tripulação se comportava. Agora, sabemos que a Discovery sim era do “nosso” Universo e ela chega a um Universo de Império Terrestre fascista. Confesso que fiquei um pouco surpreso com a cara de perplexidade da tripulação ao chegar a esse Universo Espelho. Pelo comportamento da tripulação e alguns procedimentos nos episódios anteriores (como torturar tardígrados), era mais para eles se sentirem em casa. De qualquer forma, usou-se algo do cânone que já havia dado certo e Discovery acabou bebendo da mesma fonte, até para se aproximar um pouquinho mais do cânone que, volta e meia, ela parece enxergar somente por um telescópio.

                      Culber é morto por Tyler

A forma como o Universo Espelho brinca com os personagens também foi positiva. Colocar a Tilly como capitã da Discovery no Universo Espelho foi uma boa ideia, onde a atriz ficou visualmente bem mais interessante do que aquela cadete bocó. Mas, como nem tudo é perfeito, a Tilly usou um linguajar com palavras de baixo calão para se passar pela capitã do Universo Espelho, algo que não foi usado em qualquer episódio de Universo Espelho de qualquer outra série. Outra coisa que se reclamou por aí (leia-se o podcast da Seção 31) foi a falta de sensualidade das roupas femininas do Universo Espelho, que cobriam demais o corpo das mulheres. Sei não, mas em tempos de empoderamento feminino e com tantas denúncias de assédio sexual por aí (que a gente nem sabe sempre se são muito ou pouco graves), creio que colocar as mulheres numa posição mais sensual com trajes mais diminutos iria provocar um rebu desgraçado e parece que os produtores não quiseram se arriscar. Sinal dos tempos… Mas a mexida mais efetiva nos personagens ficou nos casos de Burnham e, principalmente, Lorca. A gente se pergunta como seria o Lorca do Universo Espelho. Será um cara legal? Afinal de contas, ele tentou dar um golpe no Imperador. O próprio Lorca faz uma piada a certa altura do episódio dizendo que esperava encontrar uma versão melhor dele naquele Universo. E se o próprio Lorca da Discovery ser o Lorca do Universo Espelho, como algumas pessoas por aí acham? Creio que abriram-se mais possibilidades para esse personagem agora que a história tomou esse rumo, o que deixa ele cada vez mais interessante em detrimento de Burnham, que é a protagonista (ainda). Só para concluirmos a parte do Lorca, confesso que tive um prazer um pouco sádico de ver o capitão na cabine da agonia e de como senti, no nosso Universo, uma risada de tardígrado ecoando na imensidão do espaço.

    Stamets (fundo) e suas misteriosas profecias…

E o nosso Tyler? Eu disse em outros carnavais que seria muito óbvio se ele fosse um klingon. Infelizmente, parece mesmo que a série vai seguir por esse caminho, mas com a pitada de que Tyler seria uma versão alterada do klingon albino que ficou junto de L’Rell lá no início da temporada. Assim, Tyler tem uma espécie de dupla personalidade e está envolvido na missão de achar dados da Defiant junto com Lorca e com Burnham. A expectativa toda está agora em como Tyler vai domar o klingon dentro de si ou não. Outra coisa que a princípio irritou (e muito), foi o fato de Tyler ter matado Culber. Justamente quando Jornada nas Estrelas aborda a temática gay, um membro do casal morre, assim como já tinha acontecido com outros personagens principais da série. Pelo menos surgiu a informação no Facebook e do próprio Wilson Cruz (ator que interpreta Culber) no “Aftertrek” de que o médico ainda vai provavelmente voltar a aparecer na série. E, se a gente fala de Culber, não dá para não falar de Stamets, que está lá todo alteradão, com olhos lácteos, falando de estranhos palácios e de inimigos entre nós, com raros momentos de lucidez, quando seus olhos voltam a ficar escuros. Pelo menos, parece que o inimigo é Tyler. Mas, o que seria o palácio? Expectativas para os próximos episódios. Ainda mais porque não tem motor de esporos agora (e eu digo ufa, pois não aguentava mais ver a Discovery fazendo aquelas papagaiadas de rodopios…).

Assim, podemos dizer que o décimo episódio de Discovery foi relativamente bom, muito em virtude do dedo de Frakes, um cara que conhece o clima de Jornada nas Estrelas e de todas as suas nuances, mas principalmente porque uma fórmula de sucesso do cânone foi utilizada. A se exaltar as versões dos personagens no Universo Espelho e as novas possiblidades para eles. A se lamentar o fator óbvio de Tyler ter alguma coisa a ver com os klingons. Curiosidade total com os rumos futuros de Culber e as profecias de Stamets. Esperemos os próximos episódios.

https://www.youtube.com/watch?v=TD_gUdgFW74

Quer ver mais resenhas sobre “Jornada nas Estrelas, Discovery” ? Veja aqui

 

 

Batata Antiqualhas – Spock e Leonard. Dualidade que se Completa (Parte 10)

                  A tal propaganda de cerveja…

Em 1975, Nimoy estava de férias em Londres quando descobriu, através de Henry Fonda, que a figura do personagem de Spock estava sendo usada numa propaganda de cerveja e nosso ator não recebia um centavo por isto. Ao pedir que seu advogado procurasse saber o que estava acontecendo, Nimoy tomou um susto: ele recebia quantias irrisórias pelo uso de sua imagem e já não recebia qualquer dinheiro sobre ela há cinco anos. Nimoy parou de receber dinheiro por sua imagem justamente quando o sucesso de “Jornada nas Estrelas” aumentou com as reprises. E, para piorar a situação, a Paramount não tinha o direito de comercializar a imagem do ator já que a série havia sido cancelada. Mas, mesmo assim, a gigante do cinema o fez por quase dez anos. Assim, Nimoy teve que abrir uma ação judicial contra a Paramount.

                                           O diretor Robert Wise.

Com o sucesso de “Guerra nas Estrelas”, a Paramount começou a entrar em contato com Nimoy, com o objetivo de fazer um contrato para o longa-metragem de “Jornada nas Estrelas” para o cinema. Mas Nimoy saía pela tangente, alegando que não se sentia confortável em discutir um novo contrato com a Paramount enquanto a ação judicial estivesse em curso. Todo o elenco já havia assinado o contrato, o roteiro já estava pronto e Robert Wise (de “A Noviça Rebelde” e “O Dia em que a Terra Parou”) era o diretor. Wise ressaltou a importância de Spock a ponto de constar no contrato dele com a Paramount que o estúdio se esforçasse para resolver a ação judicial de Nimoy, o que acabou acontecendo. Mas Nimoy não gostou do roteiro, pois a história, segundo o ator, não era boa e, também, porque Spock aparecia pouco nela. Assim, Wise, Roddenberry e Jeffrey Katzenberg, da Paramount, foram à casa de Nimoy para aparar as arestas. O problema é que Spock, ao tentar purgar todas as suas emoções no ritual do Kolinahr, que levava à lógica total, teria ficado com uma espécie de “ataque de nervos”. Além de estar violando a integridade do personagem, Nimoy alegou que tal crise de nervos não teria qualquer relação com o núcleo central da história, ou seja, V’Ger, e assim, o personagem Spock se tornaria desnecessário. A conversa terminou com somente Nimoy e Wise, sendo o diretor muito admirado por nosso ator. Roddenberry e Katenberger se retiraram, pois eles haviam combinado que se a conversa não fosse produtiva, eles deixariam Nimoy e Wise a sós. Sem estar ainda muito convencido, Nimoy aceitou participar do filme, em parte porque ele confiou em Wise, em parte porque não queria ficar de fora depois de tanta confusão provocada por “Eu não sou Spock”. Na coletiva de imprensa que anunciava a produção do filme, foi perguntado a Nimoy por que ele havia sido o último a assinar o contrato. Ele já sabia que seria perguntado por isso e, na manhã daquele dia, bolou a resposta no chuveiro: “Estávamos tentando chegar a um acordo, mas o serviço postal entre a Terra e Vulcano é muito lento”, o que despertou gargalhadas gerais. O orçamento do filme, inicialmente estimado em quinze milhões de dólares, chegou a quarenta e cinco milhões de dólares, muito em virtude dos efeitos especiais. Os uniformes, embora agradassem a Nimoy, eram vistos por outras pessoas como “pijamas monocromáticos”. Os efeitos visuais do teletransporte foram mais elaborados, em vez da trucagem simples utilizada na série clássica. Uma cena curiosa é a que Kirk fala à sua tripulação sobre a ameaça que paira sobre a Terra. Os quatrocentos figurantes eram fãs da série, incluindo Bjo Trimble, a fã que liderou a campanha de cartas para salvar a série e que garantiu uma terceira temporada para “Jornada nas Estrelas”. Alguns atores da “Fase II” foram utilizados. Persis Khambatta, a ex-miss Índia, interpretava a navegadora Ilia e teve seus belos cabelos negros raspados para o papel. David Gautreaux, o vulcano Xon de “Fase II”, tinha um papel mais secundário no longa-metragem, sendo um tripulante de uma estação terrestre engolida pela nuvem.

                                      A velha tripulação de volta

Já a participação de Spock foi remodelada para que ela tivesse mais fundamento. Ao invés do tal ataque de nervos, Spock rejeitaria o Kolinahr, pois sentiu uma presença alienígena muito poderosa (ou seja, V’Ger) que tornava sua presença a bordo da Enterprise necessária, algo muito mais coerente, diga-se de passagem. Mesmo assim, o personagem Spock se comportou de uma forma muito fria e taciturna, em parte por causa do ritual do Kolinahr, em parte pelo distanciamento que houve com a tripulação de alguns anos. Nimoy não gostou do ritmo das filmagens, pois o trabalho foi muito tedioso, ao contrário do que ocorria na série. Nas filmagens do longa, houve uma espécie de reverência injustificada e parecia que o filme estava fora do controle do elenco. Nimoy e Shatner deram algumas sugestões, onde umas foram aceitas e outras não. Uma das sugestões aceitas foi a sequência onde a tripulação dá as costas para a sonda em formato de Ilia, que queria que a tripulação a obedecesse. Eles estariam tratando a sonda (e V’Ger) como uma criança mimada, ignorando-a, ao invés de Kirk e Spock travarem uma batalha verbal com Ilia, como no roteiro original, o que poderia ter tornado a história mais maçante. Uma outra improvisação, que ficou de fora da versão final, mas depois apareceu no lançamento em vídeo, foi uma lágrima de Spock ofertada a V’Ger, como se o vulcano se sentisse um alter ego da sonda, compartilhando sua dor em não encontrar as respostas que procurava para suas perguntas: Quem eu Sou? Qual é minha função? Quem me criou? Spock chorava por V’Ger como se chorava por um irmão.

                    Efeitos especiais excessivos, enfadonhos e caros…

Terminadas as filmagens, os efeitos especiais ficaram aquém do esperado e foram refeitos por outra empresa em cima da hora, o que acarretou problemas na edição. A pré-estreia teve uma recepção fria, em virtude do alto número de efeitos especiais, que se tornaram tediosos. Apesar da sequência final dar um gancho para uma continuação, Nimoy achou que “Jornada nas Estrelas” acabara ali.

Seria mesmo? Isso é o que veremos no próximo artigo. Até lá!

    O choro de Spock por V´ger

Batata Antiqualhas – Spock e Leonard. Dualidade que se Completa (Parte 9)

 

                                                   Nimoy no teatro…

Durante as filmagens de “Catlow” no sul da Espanha, Nimoy percebeu que a sombra de Spock ainda pairava no ar. Enquanto conversava com um jovem maquiador de Madri no “set” de filmagens, o rapaz mostrou a ele uma caixa de cigarros que tinham duas orelhas originais de Spock. O maquiador as conseguiu depois de fazer um curso com Freddy Philips, o maquiador de “Jornada nas Estrelas”. Só para sanar uma curiosidade aqui, Nimoy usou cerca de 150 pares de orelhas ao longo da série (cerca de dois pares por episódio), que duravam apenas uns poucos dias. Nimoy também esteve uma vez com um representante de vendas da Paramount em Londres e o filho desse representante tinha um uniforme original de Spock.

Nimoy continuou a sua experiência no teatro e uma das peças das quais ele tem boas recordações é “The Man in the Glass Booth”, que falava de um homem que havia sido acusado de crimes de guerra nazistas, sendo julgado em Israel, mas na verdade ele era um preso judeu do campo de concentração e era inocente. Entretanto, esse homem declarou falsamente sua culpa para ser condenado à morte e depois os acusadores descobrirem que haviam matado um homem inocente. Ele queria ajudar a mostrar o que a sede de vingança pode provocar. A peça chegou a ser considerada antissemita por alguns. Mas muitos judeus não pensaram assim, para alívio de Nimoy.

             Um Calígula vulcano…

Enquanto isso, “Jornada nas Estrelas” era reprisada diariamente em muitas estações locais de tv, tornando Spock mais vivo que nunca. As críticas das peças de Nimoy sempre faziam alusões ao vulcano e às suas orelhas. Isso provocava um certo desconforto em nosso ator, que ao interpretar Calígula numa peça, ficou muito nervoso, pois uma de suas falas era: “Resolvemos ser lógicos”. Nimoy sempre tinha a impressão de que os espectadores das primeiras filas dos teatros onde encenava falavam a ele: “Oi, sr. Spock!”.

Tal situação deixava Nimoy em conflito, pois, ao mesmo tempo que ele sentia falta do personagem vulcano, ele não queria ficar marcado como ator de um personagem só. Mas “Jornada nas Estrelas” não perdia sua força. Pelo contrário. Em 1972, foi feita em Nova York a primeira Convenção Nacional de “Jornada nas Estrelas”, onde os organizadores achavam que 500 fãs seriam um bom número. Apareceram três mil pessoas. Tais eventos davam grande emoção a Nimoy, pois não havia qualquer comércio ou produtoras hollywoodianas por trás. Apenas a paixão dos fãs. Nmoy associa tal sucesso de “Jornada nas Estrelas” a vários fatores. Um era a mensagem de um futuro otimista, onde a raça humana sobrevivera à ameaça da guerra nuclear que, naquela época, estava no auge (a crise dos mísseis com Cuba e a União Soviética tinha acontecido em 1962). As décadas de 1960 e 1970 também foram de efervescência cultural, onde a população questionava governos e líderes, em tempos de verdadeira incerteza. Em contrapartida, a tripulação da Enterprise era confiável e incorruptível.

                                    A série animada…

Logo, ficava evidente que a série voltaria. Ela deu seus sinais em 1973, em forma de desenho animado, produzido por Dorothy Fontana. Mais tarde, em 1975, a Paramount, que havia comprado os direitos de “Jornada nas Estrelas” da Desilu, quis retomar a série com o elenco original. Mas o entusiasmo dos fãs era tão grande que o projeto da série foi substituído por um filme para o cinema. Entretanto, os roteiros para isso foram rejeitados. Em 1978, surgiu um novo projeto para série: “Jornada nas Estrelas, Fase II”. Só que foram oferecidas a Nimoy apenas participações esporádicas. Nimoy recusou. Essa recusa, mais a publicação do livro “Eu não sou Spock” na época é que deram a Nimoy a fama de não gostar de Spock e da série. Ele foi o único ator do elenco original a não assinar contrato. Mas o projeto da série foi abandonado em virtude do estrondoso sucesso de “Guerra nas Estrelas” na época. Assim, o projeto do filme voltou a tomar força.

No próximo artigo, vamos falar do primeiro longa de “Jornada nas Estrelas” e a conturbada negociação de Nimoy para participar do filme. Até lá!

   A “Fase 2” não    vingou…