Batata Séries – Jornada nas Estrelas Picard (Episódio 5), Encrencas Em Stardust City. É Carnaval!!!

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Picard e seu disfarce cafona…

O quinto episódio de “Jornada nas Estrelas Picard” intitulado “Encrencas em Stardust City” é daqueles que vemos dois gêneros coexistindo. Há um momento breve que flerta com a galhofa, mas, ao mesmo tempo e na maior parte do episódio, a coisa foi bem soturna e novamente com um excesso de violência que, desta vez, até teve alguma justificativa, embora esse nunca seja o melhor caminho, ainda mais quando se trata da franquia “Jornada nas Estrelas”. Para podermos analisar o episódio, vamos necessitar de spoilers aqui.

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Rios e seu disfarce cafona…

O episódio começa com mais um flashback num planeta chamado Vergessen (essa palavra curiosamente é o verbo esquecer em alemão). Numa espécie de laboratório chamado Sete Domos, um tripulante da Federação tem seus implantes cibernéticos arrancados a sangue frio, numa tortura violenta. Dá para perceber que esse tripulante é um ex-borg assimilado. De repente, Sete de Nove aparece e executa os médicos que extraem os implantes do tripulante. Escutando a conversa dos dois, atestamos que esse tripulante é, nada mais, nada menos que Icheb (interpretado por outro ator diferente do da série Voyager) e este pede que Sete tire a sua vida em virtude do grande sofrimento. Sete, sofrendo muito, o mata com um tiro de phaser. Ou seja, um dos personagens secundários mais queridos de Voyager, foi eliminado em Picard, o que é algo revoltante, a meu ver. Esse personagem poderia ter sido bem mais aproveitado aqui nessa série, ainda mais por causa da presença de Sete de Nove. E, reza a lenda, o ator original de Icheb, o na época adolescente Manu Intiraymi, ao atuar juntamente com Jeri Ryan em Voyager, ficava altamente, digamos, estimulado ao ver a atriz naquele macacão justíssimo, e no intervalo das gravações, ele precisava, digamos, se aliviar um pouco. Assim, Icheb é o cara é um porta-voz dos desejos de toda uma geração de trekkers enlouquecidos por Sete de Nove e não merecia morrer daquele jeito. Lamentável.

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Sete de Nove, a badass!!!

O filme corta de um flashback de treze anos para um flashback de duas semanas, agora em Freecloud, em Stardust City, no Sistema Alphadoradus, numa espécie de night club. Bruce Maddox está lá (também interpretado por outro ator) conversando com  uma mulher chamada Bjayzl, que é a que extrai os implantes cibernéticos dos borgs para vender e que é a cara da conselheira Troi. Maddox diz que seu laboratório foi destruído, totalmente dissolvido e ele não terá como pagar o empréstimo que pegou com Bjayzl. Maddox ainda diz que acha que foi o Tal Shiar que destruiu seu laboratório. Logo após, caiu sedado pela bebida dada por Bjayzl.

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Sede de vingança…

Após a abertura do episódio, estamos no holodeck de Picard que reproduz a vinícola e ele recebe Sete de Nove no seu escritório. Ele lhe oferece algo para beber e a moça pede uísque (mais uma vez o álcool aparecendo como coadjuvante na série, parecia o Sr. Scott). A conversa entre os dois é tensa, pois Picard é contra os procedimentos justiceiros dos Rangers de Fenris dos quais Sete faz parte, mas ela diz que ela ajuda quem não tem mais qualquer tipo de ajuda. Foi uma conversa tensa, mas muito respeitosa a meu ver, e com argumentos puramente racionais. Tanto que Sete se dispõe a saber mais de quem Picard procura para salvar da morte, já que essa pessoa (Soji) também não tem mais quem a ajude. E, claro, dentro do espírito da série, Sete pediu mais uma dose de uísque para virar de uma vez de novo.

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Blade Runner 2049???

Na ponte, Raffi vê a ficha de um tal Gabriel Hwang. Vamos ver mais a frente que se trata de seu filho. Rios chega e os dois começam a conversar sobre Sete, de quem sabem pouco. O mais estranho é que Rios diz que o pouco que sabe de Picard (que ele já foi borg) ele esqueceu, como se fosse um bloqueio. Muito estranha essa parte. Bloquear o que já se sabe de uma pessoa? Uma prova de que há problemas no roteiro.

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Raffi prova um gosto amargo do próprio veneno…

Enquanto isso, Jurati vê vídeos dela com Maddo e descobrimos que os dois já foram amantes.

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Sete de Nove, frente a frente com a algoz de Icheb…

Ao chegarem a Freecloud, os tripulantes recebem vários avatares holográficos oferecendo serviços e, para desativá-los, você precisa acertá-los com um soco ou tapa, sendo o momento engraçadinho da coisa (um pouco desnecessário, talvez). Raffi localiza Maddox e vê que ele está envolvido e encrencado com o submundo. Quando surge o nome de Bjayzl, Sete de Nove fala que ela esquarteja ex-borgs para pegar as peças e que é procurada pelos Rangers há anos. Bjayzl vai vender Maddox para a Tal Shiar e ela é protegida por um grupo poderoso de capangas. Sete se propõe a ser entregue como isca a ser negociada para Bjayzl, já que esta deseja muito a ex-borg para lhe arrancar as peças.  

Chegando a Freecloud (que mais parece o cenário de Blade Runner 2049), vemos um Rios todo fantasiado bem ao estilo do carnaval que temos passado recentemente. Isso é idéia de Raffi, que diz que intermediários se vestem de forma extravagante em Freecloud. Apesar desse pequeno contratempo (Picard irá disfarçado com um tapa olho e foi um alívio cômico tão ruim e surreal que acabou ficando bom), Raffi fez um bom plano e estava mais estável emocionalmente que nos outros episódios, sendo a sua melhor aparição na série. Mas ela vai abandonar a tripulação para procurar o seu filho em Freecloud. O grande problema é que o pimpolho puxou bem a mãe e ficou cheio de mimimi porque ela abandonou a família na época do conflito dos sintéticos em Marte. Ele não acreditou na história de conspiração como a mãe acreditou e acabou sendo implacável com ela, praticamente chutando-a de sua vida. Isso vei fazer com que Raffi, ao final do episódio, volte para a nave e se isole num aposento, não querendo falar com ninguém, mas sendo bem recebida por Picard. Confesso que fiquei com pena da personagem, que sofre esse forte baque justamente num momento em que ela estava bem mais compreensiva com Picard e até ajudou a arquitetar o plano de resgate de Maddox.

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Maddox. Feito de gato e sapato até o destino trágico…

No night club, Sete é oferecida por Picard a Bjayzl em troca de Maddox. Quando Bjayzl vê Sete, Bjayzl manda seus capangas apontarem as armas, rendendo a todos e as duas começam a conversar sobre o passado. Sete já havia sido aprisionada por Bjayzl e agora procurava vingança. Num rápido movimento, Sete rende Bjayzl instantaneamente. Bjayzl manda que seus capangas abaixem as armas, pois a mão de Sete está sobre sua garganta e Picard percebe que foi usado por Sete para arquitetar um plano de vingança contra Bjayzl. Os mais críticos podem até dizer que Picard foi feito de bobo na história, mas, pelo menos, ele mostrou indignação em sua fala ao perguntar a Sete o que estava acontecendo. De qualquer forma, a cena ficou legal na versão badass de Sete. Sete conta a Picard a história de Icheb e este diz que a vingança e o assassinato não trazem alívio. Rios lembra que se Sete matar Bjayzl, Picard será perseguido por todos. Sete desiste de mater Bjayzl e volta para a nave com Picard e os outros. Sete diz que vai embora para os Rangers mas deixa uma espécie de comunicador com ele. Ela também pede dois phasers para Picard, no que é prontamente atendida. Aí começa a conversa de ex-assimilados. Sete pergunta a Picard se ele, depois que foi resgatado da coletividade, conseguiu recuperar sua humanidade. Picard responde que sim. Então, Sete pergunta e ele conseguiu recuperar toda a sua humanidade, ao que Picard retruca que não. E aí, Picard pergunta: “Mas nós estamos cuidando disso, não?”, e Sete retruca dizendo “Todo Santo Dia”. Essa foi a melhor parte do episódio e, talvez, uma das melhores da série, onde a gente viu Jornadas nas Estrelas à antiga acontecendo. Só é de se lamentar que, imediatamente depois, Sete se teletransporta para o Night Club para vaporizar Bjayzl e tacar fogo geral na galera, bem ao estilo badass. Não foi a melhor coisa, pois ela quebrou toda a palavra com Picard, mas ainda assim a gente entende os atos de Sete por Icheb. É aquela coisa dita por Spock em “Um Gosto de Armageddon”: “Eu entendo sua posição, mas não concordo com ela”. De qualquer forma, foi curiosa a conversa de Bjayzl com Sete antes da segunda vaporizar a primeira. Bjayzl disse que Sete foi sentimental, pois ela arriscou sua vingança para salvar a vida de Picard e dos outros. Sete retruca dizendo que Picard ainda tem esperança na misericórdia da galáxia e que pessoas com esperança devem ser mantidas. O mais interessante aqui é que, depois de matar Bjayzl, Sete passa fogo nos capangas dela mas não a vemos ser alvejada ou morta. E já sabemos, pelo IMDB, que ela volta em mais dois episódios. Isso aê!!!!

Na enfermaria, Picard e Maddox conversam e o primeiro fala da morte de Dahj. Maddox diz que o Tal Shiar destruiu seu laboratório e que a inteligência artificial materna só se manifestou em Dahj quando ela entrou em perigo. Bruce então conta a Picard sobre Soji e sua presença no cubo, sob os ouvidos atentos de Jurati. Maddox diz que mandou Dahj à Terra e Soji ao cubo para buscar a verdade sobre a proibição dos sintéticos e disse que quem está proibindo são os mesmos que caçam as irmãs. Para Maddox, romulanos e a Federação estão envolvidos nisso e ele mandou as gêmeas investigarem. Jurati interrompe a conversa alegando que Maddox não está bem e Picard abandona a enfermaria. Jurati, confirmando as suspeitas dos episódios anteriores, mata Maddox. Antes disso, o holograma médico de emergência vê Jurati matando Maddox. Ela o desativa. A conversa entre Maddox e Jurati antes da morte do primeiro também é interessante, pois ele disse que conseguiu fazer andróides “perfeitamente imperfeitas” com a ajuda de Jurati e Soong. Jurati retruca dizendo que isso é um pecado que ela tem que desfazer e, enquanto mata Maddox, ela diz que não queria ter visto o que viu e saber o que sabia. Ou seja, para matar o ex-amante isso tem que ser algo bem sério, provavelmente o que foi dito pela comodoro Oh a ela alguns episódios atrás. Que não seja um motivo como o que foi para Raffi apontar a arma para Picard.

Impressões gerais do episódio: o leve alívio cômico carnavalesco foi rápido o suficiente para dar voz a um episódio mais sombrio e violento. Pontos positivos ficam para a aparição de Sete de Nove no episódio e a conversa com Picard inicialmente tensa mas que depois revelou mais um espírito de Jornada nas Estrelas no papo de ex-assimilados. Raffi mais equilibrada e organizando planos foi também algo de bom. Fiquei com pena dela ser escorraçada pelo filho. Jurati mostrar que é do mal também foi algo interessante, embora previsível (ela já se mostrava uma songa-monga em episódios anteriores e até nesse, ao fingir não saber acionar o teletransporte). Pontos negativos do episódio: Sete se vingar mesmo depois de toda aquela conversa sobre humanidade com o Picard. Apesar de vingar o Icheb, que não deva ser morto, esse não foi o melhor caminho. A vingança só valerá aqui se depois Sete tomar alguma lição com isso e se tornar mais humana. Será que esses roteiristas e produtores conseguem chegar a tamanha nobreza? Acho difícil. Outro problema foi a violência explícita do episódio, algo que não estamos muito acostumados a ver em Jornada nas Estrelas, por mais distópica que ela esteja ficando.

Resta, agora, ver o que vem por aí…

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A imperdoável morte de Icheb…

Batata Séries – Jornada Nas Estrelas Picard (Episódio 4), Franqueza Total. Todo Mundo Odeia O Picard, Menos As Beatas.

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Picard e seu chapéu Panamá…

O quarto episódio de “Jornada nas Estrelas Picard” intitulado “Franqueza Total”, repetiu mais ou menos o que vimos no episódio anterior: um plot mais fraco e outro mais razoável desenvolvidos simultaneamente, onde mais elementos são introduzidos paulatinamente. Para podermos falar desse episódio, vamos precisar lançar mão dos spoilers.

O episódio começa no planeta Vashti, no quadrante Beta, quatorze anos antes dos acontecimentos atuais da série, ou seja, mais um flashback. Picard, de chapéu Panamá e tudo, chega a um centro de transferência romulano, prometendo que a Federação fará o reassentamento. Picard é amigo de um grupo religioso de romulanas, o Qowat Milat, que cria um pequeno menino, Elnor, a quem Picard tem certa afeição filial. O clima entre Picard, as religiosas e Elnor é o melhor possível, o que nos traz um certo alívio, pois temos visto Picard ser esculachado por muitas pessoas ao longo dos episódios. Parece até uma série no estilo “Todo Mundo Odeia o Picard”. Mas não vemos isso no “mosteiro” romulano. Esse grupo religioso também é interessante no sentido de que vemos uma diversidade na cultura romulana, que sempre foi muito carregada de uma visão belicista, desconfiada e ardilosa. Se vimos a construção da cultura klingon mais trabalhada em TNG, parece que em “Picard” isso se dará com os romulanos. Mas Picard, que lê “Os Três Mosqueteiros” para Elnor e brinca de espada com ele, precisa retornar em virtude do ataque dos “sintéticos” a Marte.

Após a abertura, o episódio começa com uma conversa filosófica entre Jurati e Rios sobre a definição de espaço e sobre o livro que ele lê que fala do drama existencial ao termos consciência da finitude de nossa morte. Foi um momento meio arriscado, pois ele quase caiu naquelas falas meio loucas de Tilly em Discovery. Ainda bem que não chegou a tanto. O Chabon se segurou. Raffi, tresloucada como ela só, reclama que a nave desviou o curso e Rios explicou que Picard mandou desviar o curso para Vashti e a senhora bipolar reclama mais uma vez dizendo que Picard precisa de uma nave para lidar com o próprio remorso, mais uma vez esculhambando o protagonista. Picard, por sua vez está num programa de holograma de hospitalidade (um nome mais pomposo para o holodeck), conversando com um dos hologramas de Rios que reproduziu o vinhedo com bastante acurácia. A conversa calma é interrompida por Raffi, que reclama do desvio do curso (ao que Picard faz uma expressão impaciente) e Rios, que reclama dos hologramas de hospitalidade lançando mais um palavrão no fim do século 24. Aqui houve um fan service, pois quando bateram à porta do holograma de hospitalidade, Picard soltou o seu “Come!” característico, embora ele tenha falado um pouco mais alto que o esperado (na verdade, ele praticamente berrou).

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Promessas para os romulanos…

Numa reunião com Jurati, Raffi e Rios, Picard explica o motivo de ir a Vashti. Ele quer entrar em contato novamente com o Qowat Milat, pois as religiosas ajudaram muito na evacuação dos romulanos e elas são guerreiras temidas pelo Tal Shiar. Ele precisa da ajuda delas nessa nova missão, e elas o ajudarão se acharem pertinente, pois elas são adeptas da chamada “Franqueza Total” onde se manifestam, sem rodeios, sobre o que pensam de uma determinada coisa. Raffi ainda tenta convencê-lo a ir para Freecloud, mas Picard diz que pode ser a última vez que ele vá a Vashti. Como Raffi estava num modo mais calmo dessa vez, ela se calou e simplesmente fechou os olhos, se compadecendo do amigo. Outra informação importante dada por Rios é que Vashti fica numa região controlada por grupos criminosos que outro grupo, os Rangers de Fenris, não conseguiram controlar.

Ao chegarem a Vashti, eles encontram um sistema de defesa praticamente impenetrável e não recebem autorização para descer, mesmo quando o nome de Picard foi citado. Logo depois, vemos Picard sendo teletransportado para a superfície do planeta, depois de Rios ter sugerido que “o uso do dinheiro é sempre apropriado”. Ou seja, molharam a mão da guarda da superfície do planeta para deixarem Picard entrar. Ou foi isso que ficou implícito. Todos na superfície do planeta ignoram Picard sistematicamente, menos as religiosas do Qowat Milat.

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Elnor, o decapitador…

No cubo Borg, Soji vê antigas gravações de Ramdha falando de uma espécie de Dia da Destruição final para a cultura romulana, onde o destruidor, Seb-Cheneb levaria isso a cabo. Numa conversa entre Soji e Narek fica claro que os dois têm coisas a esconder um do outro, o que torna o clima tenso entre os dois. Narek acha que Soji mente com relação a alguns aspectos de seu passado e a chama de mentirosa, além de atiçá-la com o seu acesso a informações confidenciais do banco de dados borg que ela quer sobre a nave onde Ramdha estava quando foi assimilada. Foi um plotzinho um pouco enjoado esse, com direito a ficarem escorregando idilicamente pelos corredores do cubo borg.

De volta ao núcleo de Picard, Raffi e Rios descobrem que Picard foi reconhecido e uma ave de rapina romulana antiga de Kar Kantar, o criminoso local, está a caminho. Picard disse que precisa de mais tempo na superfície do planeta. Elnor está chateado com o tratamento frio de Picard e a religiosa pede que Picard veja Elnor com mais cuidado, pois ele precisa de um lugar para se fixar, pois o Qowat Milat é uma ordem feminina e a vida do moço pode estar em perigo se ele continuar sem eira nem beira. Ainda, Picard pede ajuda a religiosa dizendo que luta sozinho contra o Tal Shiar.

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Picard e as religiosas romulanas. Muita harmonia…

Picard explica a natureza de sua missão a Elnor e pede sua ajuda, já que ele é um excelente guerreiro e espadachim e Elnor fica revoltado, pois Picard só o procurou quando precisava dele. Elnor ainda chamou Picard de velho e lhe deu as costas. Ou seja, mais um na série a esculachar Picard. Pelo menos, já está começando a parecer que Picard, pelas suas entonações de voz, está perdendo a paciência com esse tipo de tratamento. Picard diz que vai voltar a nave e precisa esperar a abertura da defesa do planeta em sete minutos. Enquanto isso, ele anda pela vila e recebe novamente olhares hostis. Ele para em frente a uma birosca com placa “somente romulanos” e a arranca, além de entrar na birosca. Parece que ele se cansou de todas as esculhambações que sofreu na série até agora, pirou na batatinha e ficou disposto a arrumar confusão. Confesso que gostei disso, pois a postura dele contra os que os hostilizavam na série tem sido submissa demais para o meu gosto. Um homem, se dizendo ex-senador romulano, reclamou das promessas vazias de evacuação que Picard tinha oferecido e da sua desistência de resgatá-los, desafiando-o para um duelo de espadas. Picard joga a espada no chão e se recusa a fazer o duelo. Elnor aparece do nada e pede para o ex-senador escolher viver. O ex-senador parte para cima de Picard e Elnor o decapita. Mais um exagero aqui. Decapitações em Jornada nas Estrelas? Ah, sim, já vimos em “Discovery”. Mas isso ficou uma violência demasiado gratuita. Seria muito mais interessante Elnor render o ex-senador, colocar a espada em seu pescoço prestes a cortá-lo e Picard dar um berro, detendo a decapitação no último instante, mostrando a toda a vila romulana que Picard se importava com a vida dos romulanos ali. Ao invés disso, Elnor diz publicamente que está ao lado de Picard e quem tentar fazer alguma coisa com o almirante vai morrer. Picard tenta remendar o estrago se desculpando com a comunidade dizendo que falhou com eles no plano de resgate. Ou seja, o filme do Picard só ficou mais queimado ainda, quando era a chance dele se redimir com aquela comunidade. Um romulano ainda iria tentar alvejá-los com uma arma, mas eles se teletransportaram antes disso. Na nave, Picard finalmente age como um capitão e dá um baita de um esporro em Elnor, dizendo que ele não devia ter matado o senador e que, se Elnor quer ficar sob a liderança de Picard, só usará seus dotes guerreiros com ordem de Picard. Estava demorando que nosso capitão tomasse uma atitude mais enérgica nessa série. Até porque, pior do que vários personagens esculhambarem o Picard ao longo desses quatro episódios, é a gente sentir que os roteiristas faziam a mesma coisa, pois Picard tinha atitudes complacentes demais com as hostilidades que estava recebendo. Neste quarto episódio, finalmente Picard chuta o pau da barraca, apesar de ainda mostrar uma fraqueza aqui ou ali. O mais curioso é que Elnor só se alia a Picard em virtude de ser da tradição se aliar a causas perdidas, enfatizando o caráter suicida da missão.

No cubo borg, Rizzo provoca Narek, dizendo que Soji pode estar manipulando-o e Narek diz que tem que ir devagar com Soji, pois pode ativá-la como aconteceu com Dahj na Terra e ela pode ser destruída. Mas Soji, antes de ser destruída, precisa revelar a Narek onde estão os “outros”. Rizzo estrangula Narek e o relembra que Soji é a Seb- Cheneb, a destruidora. Soltando o pescoço de Narek, Rizzo dá mais uma semana de prazo para ele descobrir onde estão os outros. Caso contrário, a violência será usada para descobrir.

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Ô casalzinho chato!!!

Voltando a Vashti, a ave de rapina chegou e estava atacando a nave de Rios, que acionou um holograma para ajudá-lo no combate e que falava espanhol. Foi show! Uma pequena nave aparece para ajudar Picard e eles conseguem imobilizar a ave de rapina romulana. A pequena nave está prestes a explodir e Picard dá a ordem de teletransportar o piloto para a ponte. E, eis que aparece Sete de Nove, ferida e prestes a desmaiar. Mas, claro, ela tem que dar antes um esporro no Picard, dizendo que este a deve uma nave. Fim do episódio.

Que podemos dizer de positivo nesse episódio? As religiosas guerreiras do Qowat Milat foram bem apresentadas, melhor que o infame Zhat Vash. Elas, pelo menos, não ficam dando esporro no Picard. Falando nisso, nosso almirante parece que finalmente perdeu a paciência com as hostilidades e está reagindo à altura, embora o pedido de desculpas na comunidade romulana pareça ter sido demasiadamente humilhante. Não que ele não devesse pedir desculpas, mas as coisas ficaram, dentro do contexto apresentado, exageradas e Picard pareceu muito submisso. A batalha final de naves deu alguma ação à coisa, sem se precisar de cenas de karatê e kung fu. E, claro, Sete de Nove está de volta, o melhor de tudo. Esperemos que não esculachem nossa borg mais amada. A conversa entre Rizzo (uma boa personagem vilã) e Narek ficou bem legal, até porque ela torceu um pouco o pescoço do chato do irmãozinho em tom bem ameaçador, lançando todo o seu ódio contra a “seb-cheneb” Soji, que tem também seus planos. Ainda, Narek levantou a questão de que existem outros sintéticos e Soji pode ser ativada como a irmã. Foram mais elementos novos no quebra-cabeça do filme.

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Xiii… vem ave de rapina antiga aí!!!

E os problemas? O bate papo entre Soji e Narek ficou um tanto entorpecente e chato, com aqueles escorregões idílicos pelo corredor do cubo borg, antes de surgir uma primeira situação tensa entre Narek e Soji, o que, por sua vez, foi algo interessante. O problema é que, toda semana o episódio apresenta elementos novos, na base do conta-gotas, e assim a trama parece não engatar. Lembrando que já estamos chegando na metade da temporada. Ainda, as violentas hostilidades a Picard, até pela forma em que a história foi construída, incomodam um pouco. Elas poderiam ter sido mais relativizadas. Alguém naquela vila, além das religiosas e de Elnor poderia ter dado ouvidos a Picard no seu pedido de desculpas. O pior é que ele tem tido uma postura muito complacente com essas hostilidades. Pelo menos, parece que nesse episódio ele finalmente está reagindo a isso, como já foi dito acima.

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Ela chegou!!!! Dando esporro no Picard…

Resta, agora, esperar o próximo episódio e ver como Sete de Nove entra em tudo isso. Lembrando que a produção do quarto, quinto e sexto episódios está a cargo de Alex Kurtzman, o que sempre é de se deixar os cabelos em pé.

Batata Séries – Jornada Nas Estrelas Picard (Episódio 3), O Fim É O Princípio. Finalmente Ao Espaço.

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Picard e sua amiga bipolar…

Chegamos ao terceiro episódio de “Jornada Nas Estrelas Picard”. E qual foi a impressão inicial? Tivemos um plot um pouco melhor do que vimos no episódio anterior e mais alguns pequenos avanços na história. Está começando a chamar a atenção algumas opiniões de que essa série é mais um filme de dez capítulos que deveria ter sido liberado todo de uma vez no streaming do que em episódios semanais, o que tem dado uma cadência lenta para o desenvolvimento da história, já que os episódios são muito conectados. De qualquer forma, houve alguns fatores mais atraentes dessa vez. Para podermos discutir o episódio, vamos precisar de spoilers como sempre.

O episódio, assim como o anterior, começa com um flashback, para podermos entender o grau de relacionamento entre Picard e Raffi. Esta última mostrou-se bem hostil a Picard no episódio anterior. Mas, no flashback, Picard acaba de sair de uma reunião com o comando da Frota onde ele se mostrou contrário a negação da evacuação de Marte e ao desligamento dos sintéticos e pôs o cargo à disposição se a Frota não voltasse atrás na questão da evacuação. A Frota não voltou atrás e ele se demitiu. Isso deixou Raffi sozinha contra a Frota e ela foi desligada, o que levou-a a mágoa contra Picard, que também não a procurou depois disso. Aqui vão alguns comentários. Apesar de toda a mágoa de Raffi, isso justificava ela apontar um phaser para o Picard quando ela o recebeu? E por que ela estaria tão mal financeiramente (pelo menos é isso que aparenta), se a economia do século 24 é muito diferente da nossa, onde as trocas dos frutos do trabalho são mais atuantes que o uso do dinheiro em si? Ainda, não é do feitio de Picard abandonar seus tripulantes assim e desistir tão facilmente do plano de evacuação, mesmo que isso implicasse em mobilizar milhões de pessoas.

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Um Hugh elegantérrimo…

Na conversa de Picard com Raffi, mais ressentimentos por parte desta última. Vou repetir: mesmo que haja uma rusga entre os dois, a reação de Raffi pareceu muito exagerada. Ela teria que contabilizar a distopia da Frota que cedeu à intolerância e ao medo, nas palavras do próprio Picard. Agindo como agiu, parece que Raffi coloca toda a culpa de seu declínio somente nas costas de Picard e a coisa pareceu muito mimizenta. Ainda, ela começa a fumar umas plantinhas meio esquisitas, num indício de uma cultura tabagista lá no final do século 24, o que parece soar um pouco pesado para o contexto, se tomarmos os parâmetros de hoje, sem querer ser anacrônico (e já o sendo um pouco). Como Raffi saiu tresloucadamente pelo vale, Picard vai atrás dela, que está tomando o vinho de seu chateau no gargalo (esquisito essa coisa de você aceitar um presente de quem você muito repudia, enfim…). Picard a cobre de razões por sua raiva contra ele (talvez para colocar panos quentes no conflito). Picard fala de um possível complô entre a Federação e o Tal Shiar para caçar sintéticos e Raffi fala de que conhece provas concretas de que um oficial da Frota estimulou o ataque a Marte para sabotar o resgate dos romulanos, ao que Picard não acredita muito. Ou seja, ele acredita numa conspiração onde a Federação e o Tal Shiar tomam parte juntos (olha “A Terra Desconhecida” aí de novo!) mas não acredita que Raffi tenha provas concretas de sabotagem de um oficial da Frota? Estranho isso. Picard pede ajuda de Raffi, pois ela tem uma visão ampla das coisas, mas ela não quer se meter em confusão de novo por causa dele e o manda embora. Picard sai sem insistir. Aí, ela muda de idéia e indica um piloto para Picard chamado Rios. Vemos aqui uma primeira manifestação da bipolaridade de Raffi. Num momento, ela é hostil a Picard e não quer ajudá-lo, mas, num instante depois, ela começa a ajudar nosso almirante. Ou seja, a moça tem momentos de Raffi, mas também tem momentos de Raffa. Ficou uma coisa meio forçada e artificial, mesmo que vejamos que a personagem está indecisa com seus sentimentos em relação ao nosso querido ancião.

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Tabagismo no fim do século XXIV…

No cubo borg, um envelhecido e sinistro Hugh, diretor da área cinza, agradece a Soji pelo fato da doutora ter apreço com os assimilados e a autoriza a falar com Ramdha, uma romulana que foi assimilada e era estudiosa de mitos romulanos de onde se podiam tirar práticas terapêuticas. Eles vão para a seção de romulanos que foram retirados da assimilação e todos estão lelés da cuca. Tem até um romulano que joga uma espécie de cubo mágico. Sei não, isso me pareceu um bullyingzinho com quem participou daquela moda lá da década de 80 do cubo mágico. Enfim… Eles encontram Ramdha, que parece ser uma versão mais velha da Tilly de Discovery, e a senhora joga umas cartas triangulares, como se fosse uma taróloga. Soji diz a Ramdha que ela estava na nave romulana que havia sido assimilada por aquele cubo borg em que estavam e que a assimilação dos romulanos teve um problema, perguntando o que houve de errado na assimilação, para estupefação total de Hugh que não sabia de tudo aquilo.  Ramdha pergunta a Soji, depois de colocar uma carta de irmãs gêmeas na mesa, qual das duas irmãs ela é, se e a que vive ou morre. Ramdha pira na batatinha, toma um disruptor e chama Soji de seb-cheneb, a destruidora. Ela ia se matar com o disruptor, mas Soji a rende e tira-lhe a arma. Enquanto Ramdha é rendida, os romulanos lelés olham com uma cara de ódio infinito para Soji.

No Insituto Daystrom, a Dra. Jurati é surpreendida pela Comodoro Oh, que está com um óculos escuro muito estiloso, meio Matrix, meio MIB, e orelhas de abano que parecem mais um aerofólio de Fórmula 1 ou as orelhas daquele piloto lá da década de 90, o Aguri Suzuki. Se desse uma ventania, ela levantava voo. Ela pergunta a Jurati sobre seus encontros com Picard.

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Tarô romulano…

Picard vai a nave de Rios e o encontra, junto com sua unidade médica de emergência (que é a cara dele). Rios está com um pedaço de metal cravado no ombro e fuma charuto, além de beber uma cachaça (pelo andar da carruagem, só faltava incorporar o tranca rua ou o exu caveira; mais um exemplo de tabagismo e, agora, alcoolismo no episódio, assim como a Raffi, que fumava a plantinha esquisita e bebia o Chateau Picard no gargalo; isso ficou muito esquisito e pegou um tanto mal para um século 24 cada vez mais distópico e com cara de século 21). Eles conversam sobre a missão, que ainda não tem um destino, e Picard nota que Rios tem a disciplina da Frota Estelar. Esse vê todo o falatório de Picard com desdém e diz diretamente para Picard contratá-lo ou procurar outra pessoa. Mais tarde, Rios tem uma conversa com seu holograma, que está todo animadíssimo em ver que Rios irá trabalhar com uma lenda viva como Picard. Mas Rios diz que não precisa de um capitão ídolo em sua vida, pois o último que teve foi morto e seus pedaços espalhados à sua frente, o que mergulha Rios num estado de melancolia (mais uma história de personagem para ser desenvolvida mais à frente).

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Que orelhas e óculos escuros são esses, meu Deus do céu???

No Chateau Picard, o almirante e seus amigos romulanos, cada vez mais com cara de Tal Shiar, rechaçam um ataque romulano (ceninha de ação com direito a caratê e kung fu romulanos e o pobre do Picard apanhando quando decide dar umas bengaladas num romulano, embora ele tenha acertado uns dois romulanos com o disruptor). A Dra. Jurati aparece (do nada) e mata mais um romulano. Fica aí a pergunta: essa aparição da Jurati no momento do ataque dos romulanos não é um tanto suspeita? Jurati diz que foi procurada por Oh e disse tudo da conversa com ela com Picard por parecer muito importante e por ser péssima mentirosa, mas ela não falou “uma coisa” (ela irá com Picard na missão). Picard disse que não havia problemas. Um dos romulanos estava inconsciente e foi amarrado para ser interrogado. Picard pergunta ao romulano por que Dahj foi morta. O romulano retruca dizendo que Dahj não é o que parece ser. Picard pergunta se há uma irmã gêmea e o romulano diz que eles a acharão antes de Picard e que essa irmã gêmea é a destruidora. O romulano, então, joga ácido para tudo que é lado e se desmancha perante os olhos de um Pcard que espragueja. Notem que toda essa sequência de interrogatório é simultânea à sequência de interrogatório de Ramdha feita por Soji acima. Soji vai para seus aposentos e fala com sua mãe, perguntando se Dahj está viva. A mãe responde que sim e começa um falatório fútil que mergulha Soji no sono, confirmando as suspeitas de que nesse mato tem coelho para essa mãe aí. Passa-se um tempo e a Soji acorda, quando Narek adentra o quarto. A moça diz que não sabe como as informações da nave romulana assimilada com Namdha foram parar na cabeça dela e acha que essa informação confidencial pode ter sido lida por ela em arquivos não confidenciais onde a informação ficou por lá e escapou dos olhos dos censores romulanos, embora essa história esteja muito estranha e é mais uma das muitas pontas soltas que os episódios vão revelando.

Picard e Jurati vão para a nave de Rios e Raffi está lá, dizendo que achou o Maddox, pedindo a ir à missão, mas não se unindo a Picard (olha a bipolaridade de novo), mas sim quer uma carona para Freecloud, não deixando claro o que é isso e qual a importância. Mas há um detalhe interessante aqui: Raffi implicou com Jurati e repreendeu Picard por ele não ter feito uma verificação de segurança sobre a moça, o que aumenta as suspeitas sobre Jurati. Rios, na cadeira de capitão, olha para Picard, que dá o tradicional “engage” para a nave entrar em dobra. Fim do episódio.

Bom, depois dessa descrição do episódio, algumas coisas a se falar. De pontos negativos, ficou um pouco estranho essa apologia ao tabagismo e até ao álcool, principalmente por parte de Rios e Raffi, personagens mais com cara de badass. Estamos no final do século 24 e vícios que já são rechaçados no século 21 voltam com força total? Isso até pode ser possível, pois não devemos cair no maniqueísmo do anacronismo, que julga um intervalo temporal com os valores de outro intervalo temporal. Mas que é estranho ver isso, por mais distópico que esse século 24 nos pareça, ah isso é. A bipolaridade excessiva e o comportamento quase infantil de Raffi está muito exagerado ao meu ver. Ela poderia ser bem mais sutil nesse quesito, o que levaria a bons diálogos com Picard para aparar as arestas dos dois. Mas sua forma muito ríspida acaba anulando essas possibilidades.

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Engage…

O episódio tem bons pontos positivos. A coisa de Soji ser a destruidora aumenta demais a curiosidade sobre ela e aumenta as esperanças de que a personagem possa ser bem construída. O Hugh ficou muito legal, com uma levada meio envelhecida, meio soturna que caiu bem no personagem. E o personagem Rios, com sua unidade de emergência à sua imagem e semelhança, dá chances a Santiago Cabrera de fazer dois personagens bem diferentes, um mais vívido, outro mais depressivo, onde esse capitão que morreu espalhado à sua frente se constitui num outro mistério que terá que ser explicado. Para finalizar, uma suspeita em cima da Dra. Jurati, que aparece no Chateau Picard imediatamente após um ataque romulano e depois de conversar com a Comodoro Oh, e, ainda, despertar as suspeitas da tresloucada Raffi, onde essa suspeita pode justamente ser um lampejo de lucidez dessa personagem tão bipolar, e pode ser um bom elemento para a personagem Jurati, que, até agora, está muito sem sal. Torçamos para que Jurati seja do mal, e muito. Quem sabe a bam-bam-bam do Zhat Vash?

Resta-nos esperar agora o próximo episódio.

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Uma tripulação prestes a zarpar…

Batata Séries – Jornada Nas Estrelas Picard (Episódio 2), Mapas e Lendas. Exagerando Uma Distopia.

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Um andróide assassino…

A série “Jornada nas Estrelas Picard” chega ao seu segundo episódio e temos aqui, depois do ritmo um tanto frenético do episódio de estreia, algo um pouco mais cadenciado. Por um lado, isso foi bom, pois não tivemos as ceninhas de ação regadas a muita luta. Por outro lado, entretanto, alguns problemas um pouco mais sérios apareceram. Para podermos falar aqui do episódio, vamos precisar de spoilers.

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Um início de episódio meio enrolado

O episódio começa com um flashback que mostra o ataque dos “sintéticos” em Marte quatorze anos antes. O andróide F8 começa todo um ataque e acaba dando um tiro em sua própria cabeça. Ou seja, não parece ter feito isso de vontade própria, como se estivesse sendo manipulado por alguém. Somente a título de curiosidade, vemos aqui um certo preconceito dos humanos contra F8 que remete muito ao preconceito contra os robôs visto nas obras de Isaac Asimov, como se fosse uma espécie de homenagem ao consagrado escritor de ficção científica. O episódio, depois da abertura, corta para a vinícola de Picard, que investiga as imagens dos ataques romulanos contra ele e Dahj, e viram que tanto Dahj quanto os romulanos foram apagados das imagens. Laris, que, junto com Zhaban, fazia parte do Tal Shiar, o serviço secreto romulano, diz que isso foi um ato do Zhat Vash, que é uma espécie de outro serviço secreto romulano. Aqui há um exagero. Para que fazer um segundo serviço de inteligência e não aproveitar o Tal Shiar de uma vez? Isso ficou com uma cara de dedo do Alex Kurtzman, que tinha tais exageros em Discovery, por exemplo. Aliás, essa primeira sequência com a fala de Laris ficou um pouco enrolada e complexa de forma totalmente desnecessária a meu ver, o que ajudou a criar um clima de antipatia para o episódio logo em seu início. Toda essa sequência, em suma deixou três coisas claras: o Zhat Vash tentou apagar todos os passos de Dahj, o Zhat Vash tem aversão (não explicada até agora) a sintéticos e, com uma tecnobabble um tanto desnecessária, Laris consegue rastrear ligações entre Dahj e sua irmã que foram feitas fora da Terra. Confesso que respirei aliviado quando essa sequência terminou, pois as tecnobabbles a deixaram muito cansativa, sem qualquer necessidade disso. Muito papo enrolado para poucas afirmações concretas.

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Um namorado cheio de mistérios…

No cubo borg (ou artefato, ou seja, um cubo borg “quebrado”, separado da coletividade), Narek deixa a entender a Soji que é um homem cheio de segredos que não podem ser revelados. De volta à vinícola, Picard recebe a visita de Moritz, médico dos tempos de Stargazer e este comunica ao almirante que ele tem uma síndrome incurável que o levará à morte, síndrome essa já citada anteriormente no cânon. Picard agora corre contra o tempo em virtude de sua doença e pede a Moritz que ele dê um parecer dizendo que Picard está apto ao serviço interestelar. Essa síndrome acaba vindo a calhar para a dramaticidade da trama, pois Picard tem 90 anos e essa idade no século 24 não seria um problema no que tange a viver mais (devemos nos lembrar que o Dr. Mc Coy tinha, no episódio piloto de TNG, 180 anos).

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Uma conversa muito tensa…

Picard vai ao QG da Frota Estelar em São Francisco para falar com a Comandante em Chefe e não é reconhecido pelo recepcionista, algo estranho, pois ele acabou de dar uma entrevista na mídia de grande repercussão. Ele diz a Comandante que suspeita que Bruce Maddox está usando neurônios do Data para fazer andróides orgânicos e suspeita da participação dos romulanos. Ele pede para ser reintegrado para investigar com uma pequena nave de reconhecimento e tripulação mínima, sendo até rebaixado a capitão, se necessário. A Comandante, falando palavras chulas, diz que Picard é extremamente arrogante, como se ele fosse adepto a uma diplomacia de cowboy no passado. Isso foi, a meu ver, totalmente descabido e de uma grosseria irritante, pois Picard jamais foi adepto de uma diplomacia de cowboy na grande maioria das vezes (essa fama cai bem melhor em Kirk, por exemplo). A Comandante ainda falou outros absurdos como a repercussão negativa da entrevista, da tentativa de  Picard de ajudar os romulanos e da desistência da Federação em resgatar os inimigos depois de 14 civilizações exigirem que os romulanos não fossem ajudados. Picard retruca dizendo que a Federação não pode escolher sobre a vida e morte de civilizações ao que a Comandante retruca dizendo que a Federação tem esse poder de escolha sim. Aqui há sérios problemas. A distopia que a Federação tem mostrado ultimamente chegar a níveis um pouco exagerados na postura extremamente agressiva e arrogante da Comandante, atacando Picard, acusando-lhe de vaidade e de ir para casa. Alguns argumentos em não ajudar os romulanos também aparecem. Se no episódio anterior, os romulanos não foram ajudados devido ao fato de não haver naves suficientes por causa do ataque em Marte, agora são 14 civilizações que se negavam a dar ajuda aos romulanos, o que ameaçava a coesão da Federação. Parece que quem está escrevendo a série reconhece que o teor distópico da Federação está passando dos limites e arruma uma desculpa nova a cada episódio para não justificar a ajuda da Federação aos romulanos. Ainda, todo esse arco está se assemelhando muito à “Terra Desconhecida”, o que pode ser uma boa homenagem caso o roteiro apresente elementos novos e criativos, ou mais um fan service para inglês ver, se ficar uma cópia muito descarada. E, o que mais se teme: essa distopia excessiva seria o começo do fim da Federação que já se insinua na terceira temporada de Discovery, mesmo que ela ocorra lá no século 31? Um crossover aqui definitivamente não cairia muito bem.

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Uma comodoro do mal…

No cubo borg, fica bem claro que há uma zona cinza ainda com borgs que vão ser recuperados pelos romulanos. As instruções dizem que essa é uma zona muito perigosa, embora Narek e Soji não levem muito a sério esse perigo. Na vinícola, a Dra. Jurati visita Picard (ela folheia um livro de Asimov, um “clássico”) e confirma as evidências da existência de Dajh e a possível participação de Maddox na criação das irmãs gêmeas, onde eles se perguntam onde estaria a outra irmã e se os romulanos já a descobriram. No cubo borg, um borg recuperado tem os implantes removidos pelos romulanos. Soji nota uma certa frieza e preconceito por parte dos romulanos contra o zangão que tem sua assimilação revertida.

A Comandante que esculachou Picard entra em contato com a comodoro Oh, que não sabemos se é romulana ou vulcana, só sabemos quea atriz foi par romântico de Daniel em “Karatê Kid II”, e diz que vai investigar as suspeitas de Picard sobre Maddox, o sintético orgânico e os romulanos somente por via das dúvidas. A comodoro chama a tenente Rizzo e fica claro, na fala delas, que elas fazem parte do complô romulano que matou Dahj e que agora vão tentar liquidar Picard. Também fica claro que Narek faz parte do esquema, pois Rizzo conversa com ele (em comunicação por holograma) e fica claro que a aproximação amorosa de Narek para cima de Soji faz parte de um plano dos romulanos para matá-la. Alías, a própria Rizzo é uma romulana disfarçada.

Picard diz a seus amigos romulanos que irá investigar quem matou Dahj e onde está sua irmã, para desespero de Laris. Zhaban sugere que ele junte a antiga tripulação da Enterprise, mas Picard não aceita a idéia, pois não quer sacrificar seus amigos. Então ele procura alguém que o odeia e não tenha nada a perder. Ele vai para uma região deserta numa nave auxiliar onde está escrito “Taxi” (isso ficou um tanto ridículo) e é recebida com um phaser por Raffi, que só aceita ele dentro de sua casa depois que ele fala da questão romulana.

Como podemos ver, o episódio avançou um pouco mais a trama, trazendo a Comodoro Oh e a tenente Rizzo como as conspiradoras que têm Narek como o braço direito no plano de atacar Soji. Elas também vão buscar sabotar Picard. Cheiro de “Terra Desconhecida” no ar, como já falamos acima. Resta ver como esse plot será desenvolvido e quais elementos novos aparecerão nele. A distopia da Federação na figura da Comandante em Chefe mal educada e boca suja pegou um pouco mal. Essa distopia precisa ser mais sutil e não brucutu ao estilo de um rinoceronte entrando a toda numa loja de cristais. Tudo isso tem a cara de Alex Kurtzman, que parece querer colocar a série à sua imagem e semelhança, o que pode sabotá-la completamente. Alguém amarre e amordace esse homem, pelo amor de Deus!!!

Dessa forma, ainda confio numa boa história para “Picard”, mas confesso que esse episódio me preocupou um pouco. Vamos ver o que vem por aí.

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Mal recebido…

Batata Séries – Jornada Nas Estrelas Picard Episódio 1 – Recordações. O Retorno Do Herói.

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Cartaz da Série

E finalmente temos a esperada série “Picard”. A expectativa nos últimos meses reunia um misto de certo otimismo, desde o último trailer, recheado de fan services, mas também com uma certa apreensão, dados todos os problemas que vimos nas duas temporadas de Discovery. Por isso mesmo, não sabíamos bem o que se esperar de “Picard”. Para podermos analisar o episódio, vamos lançar mão de spoilers.

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Um almirante reformado de volta…

E o que podemos dizer desse primeiro episódio, “Recordações”? Ainda é muito cedo para se traçar um rumo, mas já dá para a gente fazer algumas observações. Num primeiro momento, parece que temos um bom roteiro. O episódio começa com Jean Luc Picard tendo um sonho onde joga cartas com Data, mas esse sonho culmina com uma explosão de Marte e a destruição da Enterprise D. Quando o almirante reformado acorda, ele se encontra na vinícola da família, o Chateau Picard. A história passa, então, para Boston, no apartamento da jovem Dahj, onde ela conversa com seu namorado. Mas eles sofrerão um ataque de três homens com os rostos cobertos. O namorado de Dahj será assassinado e eles imobilizarão a moça, perguntado pelos “outros”. Dahj estranhamente reage, no que os homens encapuzados dizem que ela “está ativando” e eles são mortos pela moça, em cenas de ação com lutas mirabolantes. Dahj tem uma visão com Picard.

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Recebendo um pedido de ajuda…

Voltando ao Chateau Picard, o almirante irá dar uma entrevista para a TV e é preparado por seus assistentes Laris (interpretada por Orla Brady) e Zhaban (interpretado por Jamie McShane). Aparentemente, os dois são romulanos, como descobriremos mais tarde. Na entrevista, descobrimos que Romulus e Remus não existem mais em virtude da explosão de sua estrela em supernova (uma referência a Kelvin Time Line). Na entrevista, Picard é questionado se valeria a pena, na época da explosão, o reassentamento de 900 milhões de vidas romulanas, já que eles são os mais antigos inimigos da Federação. Picard, com sua visão humanista, bate na tecla de que salvar as vidas romulanas era o certo a se fazer. A repórter também se lembra de uma rebelião de formas de vida sintéticas (andróides) que destruíram Marte e a frota de resgate. Picard retruca dizendo que não entendeu por que as formas de vida sintética se rebelaram. A repórter quebra um acordo prévio e pergunta por que Picard abandonou a Frota, no que este retruca dizendo que a Frota não era mais a mesma, pois abandonou, de forma criminosa, uma missão de resgate aos romulanos. Irritado com a frieza da repórter em questões de guerra, Picard abandona a entrevista. Enquanto Picard fala, indignado, do abandono, promovido pela Federação, da missão de resgate aos romulanos, Laris e Zhaban dão as mãos, o que é uma evidência de que os dois são romulanos. Dahj vê a entrevista de Picard num monitor de vídeo na rua e decide procurá-lo. A moça o encontra e conta a ele do ataque que sofreu e de como matou todos os três invasores involuntariamente, além da visão que ela teve de Picard. Dahj diz que tem uma lembrança antiga de Picard, mas não sabe como expressá-la. Num dos outros sonhos de Picard com Data, ele vê um quadro que o andróide está pintando. Picard acorda do sonho e vê o mesmo quadro em sua sala. Ainda, vai aos Arquivos da Frota Estelar em São Francisco ver um dos quadros pintados por Data no seu espólio particular. O quadro, o mesmo do sonho, tinha uma imagem feminina com a figura de Dahj. A pintura se chama “Filha”. Dahj, que havia fugido do Chateau Picard, se encontra com o almirante em São Francisco depois de sua mãe a convencer a voltar para Picard (como  mãe sabia disso, pergunta Dahj, ficando uma ponta solta). O almirante conta a moça sobre Data, a pintura e o nome Filha. Picard acredita que Dahj possa ser filha de Data, mas esta se mostra cética quanto a isso. Picard e Dahj são perseguidos pelos homens encapuzados e a moça é morta. Um dos capuzes caem e Picard percebe que o homem é romulano. Picard decide investigar quem estava atrás de Dahj para matá-la. Picard vai ao Instituto Daystrom em Okinawa para perguntar se é possível fazer um andróide de carne e osso. A cientista Agnes Jurati diz categoricamente que não e Picard retruca dizendo que conheceu uma andróide de carne e osso. A doutora Jurati diz que o Instituto está proibido de fazer “sintéticos” desde a rebelião em Marte. Jurati mostra a Picard o B-4 desmontado e disse que o Data tentou passar sua rede neural para B-4 e não conseguiu, por B-4 ser inferior. Aliás, ninguém mais conseguiu reproduzir a rede neural do Data. Somente Bruce Maddox chegou bem perto, mas o programa foi abortado em virtude do ataque em Marte. Maddox desapareceu, altamente frustrado. Picard mostra o colar de Dahj para Jurati e esta diz que esse colar é o símbolo de uma clonagem neuronal fractal, ou seja, a idéia de que toda a rede neural de Data poderia ser recriada a partir de um único neurônio positrônico. Dahj poderia muito bem ser a manifestação disso. Mas a cientista ainda disse que esses andróides seriam recriados em pares. Logo, há outra versão gêmea de Dahj por aí. A essência de Data poderia estar  preservada nessa outra Dahj. O episódio termina num local reivindicado pelos romulanos, onde Narek conversa com a Doutora Asha, a gêmea de Dahj, e que tem o mesmo colar. Os dois estão dentro de um cubo borg semi-destruído, com várias naves romulanas da época da série clássica voando para lá e para cá.

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… mas Picard não consegue salvar a moça…

Como podemos perceber, parece que temos uma boa história aqui. O problema é como ela será desenvolvida nos próximos episódios. Ate porque Discovery, na minha modesta opinião, tinha boas idéias, só que não foram muito bem desenvolvidas. Quais são as virtudes do primeiro episódio de Picard? Em primeiro lugar, a visão distópica da Federação, apesar de estranha, é retomada. Já vimos essa distopia em outros momentos de Jornada nas Estrelas. Ainda no sexto longa da tripulação clássica, “A Terra Desconhecida”, ela já se apresentava, sendo mais bem trabalhada em Deep Space Nine, sobretudo com a Seção 31, trabalhada de forma pouco satisfatória na Kelvin Time Line, e trabalhada de forma exagerada e descuidada em Discovery. Aqui, vemos uma Federação relutante em ajudar os romulanos, um plot semelhante à Terra Desconhecida. A grande revolta dos sintéticos viola um pouco a visão asimoviana das Três Leis da Robótica (que exalta os robôs) e ressuscita o já batido mito de Frankenstein. Mas vemos aqui uma ligação entre os romulanos e os “sintéticos’, sobretudo porque são romulanos que caçavam Dahj. Trazer a “filha” de Data de volta é algo bem interessante, pois temos uma chance aí de nosso querido andróide não retornar apenas nos sonhos de Picard. Ou seja, a figura de Data pode ser resgatada a partir de suas supostas filhas.

Foi muito legal, na minha opinião, ver Picard ter dois assistentes romulanos, cujos atores estavam muito bem em seus papéis, num indício de que toda a questão da evacuação romulana mal sucedida realmente influenciou Picard, a ponto dele trazer romulanos para o seu círculo de convívio íntimo. Houve uma excelente química ali entre os três e espero que isso seja mais trabalhado na série, até para que esses bons personagens romulanos sejam mais bem construídos, algo que não aconteceu, por exemplo, com aquele rosário de personagens da ponte de Discovery.

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Uma entrevista constrangedora…

Outro elemento que chama a atenção é o cubo borg semi-destruído ocupado pelos romulanos com aves de rapina da série clássica em profusão. Se todas essas idéias estiverem bem amarradas e conectadas, creio que teremos uma boa primeira temporada.

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Lembranças de um velho amigo…

Mas esse primeiro episódio também tem seus probleminhas. O primeiro é algo inevitável, já que faz um pouco parte de nosso Zeitgeist: as malditas lutas de caratê que são as cenas de ação indispensáveis nas séries de hoje. Toda aquela coisa baseada em debates e discussões com pouca ação que víamos na Jornada nas Estrelas da década de 90 já não cabem muito aqui. Volta e meia o pau tem que cantar, da forma mais coreografada e acrobática possível, até para atrair um público mais jovem para a franquia. Fazer o que? Paciência. Mas o segundo problema me preocupou mais um pouco, que já apareceu em Discovery e é o de fazer uma ficção científica muito elaborada e ornamentada. Os mais antigos diziam que a boa ficção científica antecipa o futuro, como vimos em Júlio Verne, Isaac Asimov e na própria Jornada nas Estrelas. O problema é quando os voos de imaginação são altos demais e muito escapam da coerência e da realidade. Eu me refiro a isso na sequência da doutora Jurati. Num primeiro momento, ela diz que é impossível fazer um andróide de carne e osso e matriz positrônica igual à do Data, com consciência. Aí, o Picard aparece com um colar que é o símbolo de uma sofisticada clonagem neuronal fractal, onde um andróide do mesmo modelo do Data pode ser gerado a partir de um único neurônio positrônico. Cá para nós, achei essa explicação Mandrake demais. Talvez fosse melhor citar que o Dr. Soong tivesse guardado um back-up da rede neural do Data em algum lugar, pois é algo mais plausível se fazer mil cópias de uma invenção altamente sofisticada para não se perdê-la. E que as memórias do Data conseguissem ficar armazenadas em B-4. Ou seja, não se complicar muito as coisas nessa suposta (esperemos nós) recuperação do Data.

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Buscando respostas sobre andróides…

Dessa forma, apesar dos problemas citados, parece que “Jornada nas Estrelas Picard” tem uma boa história sendo gestada pelo que pudemos ver no primeiro episódio. O detalhe será justamente como essa história será desenvolvida. A meu ver a receita é ser criativo sem ser mirabolante. Uma ficção científica enxuta, com uma boa história a ser contada e uma distopia bem construída. Vamos ver o que vem por aí nos próximos episódios.

https://www.youtube.com/watch?v=n4RJ1xwUI98

Batata Séries – Jornada Nas Estrelas Voyager (Temporada 6, Episódio 19) Brincadeira De Criança. Pais Desnaturados.

Icheb numa encruzilhada…

Hoje em nossas análises sobre episódios da sexta temporada de “Jornada nas Estrelas Voyager”, falemos de “Brincadeira de Criança”, o décimo-nono episódio. Ele é um desdobramento de “Coletividade”, o décimo-sexto episódio, onde crianças borgs voltaram a ser indivíduos.

Ficar na Voyager ou retornar ao planeta natal????

O plot é simples. Numa feirinha de ciências promovida para as crianças da nave, quem se destaca é o adolescente mais velho, Icheb, cujos dons em astrofísica poderão ser muito úteis para a nave. Entretanto, Janeway alerta para Sete de Nove (que faz as vezes de mãe e de professora para as crianças ex-borgs) que os pais de Icheb foram descobertos e o rapaz será entregue à sua família. O problema é que nem Icheb, nem Sete de Nove parecem estar muito à vontade com isso. E, ainda, o planeta natal de Icheb foi muito destruído pelos borgs, tornando-se uma sociedade agrária, com um conduíte transwarp borg bem nas vizinhanças do planeta, o que aumenta a chance de reassimilação de Icheb. Assim, Janeway terá que lidar com a espinhosa tarefa de segurar Sete de Nove, que sobe geral nas tamancas para segurar Icheb na nave, o próprio Icheb, que não tem muita vontade de retornar ao planeta, e os pais do menino, que querem que ele retorne. Depois de muita conversa com os pais, Icheb decide ficar com eles e se despede da tripulação da Voyager. Mas aí entra novamente Sete de Nove, pois ela descobre que Icheb foi assimilado numa nave ao invés de na superfície do planeta, como dizia o pai de Icheb.

Uma feira de ciências…

Bolada com a mentira, Sete vai novamente atazanar Janeway para, desta vez, a Voyager voltar ao planeta e cobrar explicações. Quando chegam por lá, eles descobrem que aquela civilização criou o patógeno que matava os borgs adultos (vide análise de “Coletividade”) e os inoculava usando crianças contaminadas com o patógeno como isca (credo!). Assim, Icheb já estava numa navezinha em direção ao conduíte transwarp borg para atrair um cubo. A Voyager viaja rapidamente para salvar o garoto e ainda consegue provocar sérias avarias na esfera borg (pois é, veio uma esfera ao invés de um cubo). O episódio termina com uma conversa entre Sete de Nove e Icheb, onde eles combinam que o garoto terá total autonomia em suas escolhas pessoais, como não poderia deixar de ser.

Uma professora orgulhosa…

É um episódio interessante, principalmente porque ele desperta algumas questões de nível ético. A principal delas está no fato de que o indivíduo sempre deve ter liberdade para seguir as suas vontades. Quando a família de Icheb foi descoberta, Sete de Nove, ainda experimentando seus conflitantes sentimentos humanos, ficou completamente fora de si ao perder um de seus alunos (e, por que não, filhos?) para os pais biológicos do rapaz. Não lhe ocorreu que o menino poderia decidir por si mesmo. Isso realmente acontece muito por aí, quando os pais decidem o futuro dos filhos sem consultá-los. Essa era uma prática muito comum, por exemplo, no Antigo Regime, onde a vida dos filhos era totalmente decidida pelos pais (com quem eles iam se casar, se tinham ou não direito a herança, qual seria o oficio que eles desempenhariam, etc.) que tinham, inclusive (leia-se o pai), direito de vida e morte sobre os filhos. Dar liberdade de escolha ao filho é algo mais presente nas sociedades liberais. Outra questão ética que está presente no episódio se revela no plot twist (o episódio ficaria muito fraco se ele se baseasse somente no direito de escolha de Icheb), quando os pais usaram o próprio filho como isca para matar borgs. O que parece num primeiro momento algo muito assustador e altamente reprovável, nos faz levar a outra questão: os próprios pais de Icheb disseram que tal medida era para preservar sua própria espécie da destruição total. Ou seja, era uma medida feita num ato de desespero. Até que ponto, nós que estamos numa zona de conforto, não tomaríamos tal medida desesperada e profundamente antiética também? Não quero justificar o injustificável, mas será que seríamos nobres ao ponto de repelirmos totalmente essa medida desesperada num ataque que poderia acabar com toda nossa civilização? Fica a pulga atrás da orelha para você aí, leitor.

Pai pressiona o filho a ficar no planeta…

Dessa forma, “Brincadeira de Criança” é um episódio de “Jornada nas Estrelas Voyager” que merece uma revisita em virtude das questões éticas que aponta, sendo um bom desdobramento do episódio “Coletividade”. Vale a pena dar uma conferida.

https://www.youtube.com/watch?v=q4MOCYbZl_k

Batata Séries – Jornada Nas Estrelas Voyager (Temporada 6, Episódio 18) De Cinzas A Cinzas. Fantasmas Do Passado.

Uma alienígena recauchutada…

Hoje nas nossas análises da sexta temporada de “Jornada nas Estrelas Voyager, falemos do décimo-oitavo episódio, “De Cinzas a Cinzas”. É o tipo do episódio centrado num personagem, no caso Harry Kim, e que lança mão de dolorosas questões quando o passado é revirado. Um episódio que reabre cicatrizes.

Uma versão humana antiga…

O plot é o seguinte. Uma alienígena Kobali chega até a Voyager pedindo permissão para pousar. Ela alega que é uma antiga alferes da nave, Lindsay Ballard, morta em missão. Seu corpo foi lançado ao espaço e recuperado pelos Kobali, que têm a capacidade de retornar corpos mortos à vida e integrá-los a sua sociedade. Mas Lindsay não consegue se adaptar e foge para a Voyager. Inicialmente sob forte suspeita, a recém-chegada vai, aos poucos, convencendo a tripulação e Janeway. Exames médicos feitos pelo Doutor confirmam a argumentação da jovem. A partir daí, Kim e Lindsay tomam o centro das atenções do episódio, mostrando um relacionamento regado a muitos elementos da vida pregressa em comum dos dois que acabará levando a um romance. Mas o “Pai” Kobali de Lindsay retorna à Voyager e não abre mão de levar a “filha” de volta, nem que tenha que atacar a nave, o que vai ser um problema sério, pois a tecnologia de ataque dos Kobali é muito forte. Ao mesmo tempo em que há esse impasse, Lindsay começa a ter problemas de adaptação (sua aparência humana introduzida pelo Doutor começa a desaparecer, ela perde a memória de sua vida pregressa com os humanos, assim como demonstra uma adaptabilidade maior à cultura Kobali). Dessa forma, a moça acha que é melhor retornar para a vida Kobali, deixando Kim na mão.

Ela tem um passado com Kim…

Ou seja, é um episódio mais voltado para desenvolvimento de personagens, algo que ajuda o público trekker a criar algumas afinidades com a série. Aqui é importante ver isso, ainda mais porque o personagem Harry Kim é visto por alguns fãs como perfeitamente dispensável, por parecer não feder nem cheirar. Eu creio que todo o seu personagem pode ter sua importância na série se bem trabalhado. Foi uma pena retirarem, por exemplo, a Kes da série. Apesar das críticas, sempre se pode dar uma repaginada no personagem e se fazer mais de uma tentativa para recuperar sua relevância na história. É tudo questão de se fazer um bom roteiro onde os personagens se encaixem bem. Acredito (sou um otimista nessas horas) que o público reconhece esses esforços. Para confirmar essa minha tese, muitas séries de “Jornada nas Estrelas” são criticadas em sua primeira temporada, mas depois se recuperam nas temporadas seguintes, pois os roteiristas reinventam depois de ouvir as críticas.

Tentando trazer os bons momentos de volta…

Agora, coitado do Kim. Sacanagem com ele. Não podia a Lindsay ficar na nave com a aparência Kobali e o alferes compartilhar todas as dificuldades de adaptação com ela? Imagine Paris e Kim compartilhando suas DRs e trocando experiências? Até que não seria de todo mal, se usado nas doses certas. Se as crianças borgs foram anexadas à tripulação, por que não Lindsay? Uma ótima oportunidade para se desenvolver bons roteiros e histórias para os episódios vindouros.

Dúvidas sobre quem realmente é…

Assim, “De Cinzas a Cinzas” é mais um episódio mediano de “Jornada nas Estrelas Voyager”, mais preocupado com desenvolvimento de personagens. De qualquer forma, fica uma sensação de que se iniciou um bom plot que poderia dar mais frutos para episódios posteriores, só que isso não foi bem aproveitado. Uma pena.

https://www.youtube.com/watch?v=AD811bTpv9E

Batata Séries – Jornada Nas Estrelas Voyager (Temporada 6, Episódio 17) “Spirit Folk” (Espírito Do Povo). Inquisição Holodeck.

Uma comunidade prosaica…

Dando sequência às nossas análises de episódios da sexta temporada de “Jornada nas Estrelas Voyager”, falemos hoje de “Spirit Folk”, o 17º episódio. Esse é o típico “episódio holodeck” e algumas pessoas torcem o nariz para esse tipo de episódio, pois ele não se foca no retorno da Voyager à Terra e nos problemas que podem surgir no espaço à medida que a nave avança para casa. Entretanto, pode-se dizer que o episódio é um tanto divertido, pois um bug daqueles meteu bastante gente em apuros.

Mulheres que viram vacas????

O plot consiste num programa de holodeck desenvolvido por Tom Paris (sempre ele!) que, de tão carregado, exigiu demais das máquinas e começou a dar problemas, já que o programa roda continuamente. O programa é sobre uma cidadezinha do interior da Irlanda chamada Fair Haven (ela já apareceu no 11º episódio da sexta temporada) e os personagens do programa começam a notar que os tripulantes da Voyager fazem coisas, digamos, mágicas, como transformar mulheres em vacas, acabar com um tempo nublado e substituí-lo por um dia ensolarado, ou tirar uma criança que estava presa num buraco sem um ferimento sequer. Isso acontece em virtude do bug que o programa está sofrendo por ficar rodando continuamente.

Um Doutor Padre…

Assim, os moradores de Fair Haven acham que estão lidando com espíritos que amaldiçoam a cidade. O único morador que não cai muito nessas ideias com fundo de crendice popular é Michael, o dono do bar e o “namorado” de Janeway. Ele chega a ser “capturado” por Kim e Paris para ser “consertado” e não perceber mais que os tripulantes são de uma nave espacial. Mas ele finge que foi consertado e retorna para Fair Haven falando de tudo o que viu. Quando Kim e Paris estão novamente no programa para fazer mais alguns ajustes, são capturados pelos moradores da cidade, que tentam fazer todo o tipo de magias para expulsar os “maus espíritos”. O Doutor (que fazia as vezes de padre) é enviado para lá para detê-los e tem o seu emissor móvel (usado para deixá-lo livre da influência de um programa com bugs) retirado. Com isso, ele é “hipnotizado” e começa a abrir o jogo. Michael pega o emissor móvel e Janeway pensa que é o Doutor, ordenando o transporte. Como resultado, Michael aparece na ponte da Voyager. Será aí que a capitão abre o jogo sobre tudo o que está acontecendo. Assim, os personagens e a tripulação acertam uma espécie de convivência pacífica, onde os personagens serão mantidos no banco de dados do computador da nave e, eventualmente receberão visitas da tripulação.

Um Doutor enfeitiçado…

Pois é, creio que sou obrigado a concordar que é um episódio um tanto mediano. De chamar a atenção alguns poucos pontos: foi hilário ver alguns personagens virtuais se revoltando contra a tripulação e os tais bugs desabilitando os protocolos de segurança do holodeck, deixando-os totalmente perigosos (o tiro de espingarda que um painel do holodeck toma é muito engraçado). Outro detalhe é ver como os personagens falam de crendices populares na virada do século XIX para o XX (Paris dirigia um protótipo dos primeiros automóveis) de uma forma totalmente medieval, pensando até em queimar literalmente Paris, Kim e o Doutor. Exagero? Pode ser que não.

Um holograma à solta…

Em certos lugares por aí ainda vemos hoje um comportamento muito medieval e não são personagens de holodeck, mas pessoas da vida real, em carne e osso, vivendo em plena 2019, onde a tecnologia e a informação seriam suficientes para pessoas não dizerem mais sandices como a Terra ser Plana ou a inexistência da força de gravidade. Pelo menos havia Michael, um personagem que é a voz do racionalismo e da ciência, nadando contra a maré irracional da cidade, mergulhada em mitos ancestrais. É curioso que tal clima irracional tenha sido todo provocado por um bug no programa do holodeck, com se isso sacramentasse a incoerência de uma tradição e glorificasse o racionalismo da modernidade. Voltamos aos parâmetros erráticos de um passado ancestral por um problema num programa de computador moderno. Se o programa não tivesse alguma falha, tudo correria às mil maravilhas, dentro da lógica.

Deu ruim, Janeway…

Assim, “Spirit Folk” (“O Espírito do Povo”) não chega a ser um dos melhores episódios de “Jornada nas Estrelas Voyager”, mas traz de novo a discussão entre tradição e modernidade de forma um pouco maniqueísta, criticando a primeira e exaltando a segunda. A única coisa a se relativizar é o fato de que o clima prosaico antigo é valorizado a ponto de os personagens não serem simplesmente apagados do computador (tal como B’Elanna e Sete de Nove, numa análise mais fria, queriam). Revisite, mas não espere muito.

https://www.youtube.com/watch?v=vG8ZouXoa5o