Janeway e Sete de Nove com uma batata quente e adolescente na mão…
E depois da maratona de análises de episódios de “Jornada nas Estrelas Discovery”, voltemos a analisar episódios da sexta temporada de “Jornada nas Estrelas Voyager”. Hoje vamos falar de um episódio um tanto inusitado. “Coletividade” vai levantar a seguinte questão: e se um cubo borg fosse controlado por… adolescentes? A ameaça seria maior? Menor? Parece que os roteiristas Andrew Price e Mark Gaberman estavam com problemas com as crianças em casa (se é que eles as têm).
Fetos borgs!!!
Bom, vamos ao plot. Chakotay, Kim, Paris e Neelix jogavam uma partida de pôquer na Delta Flyer quando foram atacados por um cubo borg. Eles são capturados. Kim desaparece e os demais tripulantes estão numa câmara de assimilação. Entretanto, tem alguma coisa de errado. O cubo parece sem tripulação e ninguém foi assimilado. Um corpo com traços errôneos de assimilação paira na câmara. A Voyager, por sua vez, percebe que o cubo tem um comportamento altamente errático e identifica somente cinco assinaturas de drones em toda a nave, que geralmente abriga cinco mil tripulantes. Os borgs entram em contato com a nave e há uma negociação: em troca dos tripulantes da Voyager, eles querem o defletor navegacional da nave. Mas a Voyager ficaria impossibilitada de entrar em dobra. Sete de Nove acredita que os borgs querem o defletor para entrarem em contato com a coletividade. Janeway envia Sete para o cubo e ela descobre que as cinco assinaturas são de borgs adolescentes que ainda não atingiram o estado de maturação total, vindo daí o comportamento errático, típico dos adolescentes. Esses adolescentes perderam o link com a coletividade e buscam recuperá-lo. Sete retorna a Voyager com o corpo de um drone adulto para análises e o Doutor descobre que os borgs foram mortos por um vírus. Os borgs adolescentes não morreram pois estavam nas câmaras de maturação protegidos. As câmaras abriram previamente devido a falhas no sistema provocadas pela morte dos borgs. O Doutor também isolou o vírus, que ficou como uma alternativa para matar os adolescentes, pois eles se revelavam muito perigosos. Janeway deixa isso como uma opção na manga, à despeito do olhar de reprovação do Doutor depois que Sete, friamente, fala a uma capitã em dúvida de que os jovens borgs matariam sem hesitar. Já o acordo com a Voyager é mudado: ao invés do defletor, a nave dará aos borgs a oportunidade de Sete consertar as avarias do cubo. O líder dos adolescentes diz que as avarias precisam ser consertadas em duas horas, caso contrário os reféns da Voyager serão mortos. Kim está na Delta Flyer, recobra a consciência e tenta contato com a Voyager. Já Sete busca relembrar aos adolescentes a vida antes da assimilação para tentar evitar o link com a coletividade. Sete, ao analisar os sistemas do cubo, descobre que os borgs desistiram do cubo e dos adolescentes, pois eles estão avariados, mas os adolescentes não conseguem entender isso. Kim é capturado e tem implantes colocados no corpo, numa assimilação mal feita. O líder dos adolescentes perde a paciência e exige novamente o defletor enquanto Sete tenta convencer os demais borgs de que a coletividade não mais os procura. A Voyager emite um pulso de energia sobre o cubo e consegue transportar Neelix, Chakotay e Paris. Mas Sete e Kim permanecem no cubo. O líder, num acesso de fúria, ataca Sete mas o segundo borg em comando contra ataca. O core transwarp do cubo sobre uma instabilidade e Sete diz que o cubo precisa ser evacuado. O líder não aceita isso e, ao tentar consertar o cubo, é atingido por uma descarga, morrendo nos braços de Sete. Com todos de volta à Voyager, Kim é tratado pelo Doutor, que também retira os implantes das crianças, com elas voltando a ser o que eram antes da assimilação.
Borgs adolescentes
O plot do episódio não deixa de ser interessante, apesar de ser uma alegoria de um problema altamente cotidiano: como lidar com a chatice dos adolescentes. Ficou bem claro no episódio que um cubo borg com cinco adolescentes pode ser muito mais perigoso que um cubo com cinco mil drones adultos, pois o primeiro é altamente instável da mesma forma que os adolescentes são. Será que temos um preconceito implícito aí? A gente pode realmente colocar todos os adolescentes nesse patamar de rebeldia e imprevisibilidade? É o tal negócio. Se fosse qualquer outra série de TV, esse tema passaria batido e seria aceito numa boa. Mas em Jornada nas Estrelas há todo um discurso de diversidade e respeito às diferenças. E aqui pareceu que os adolescentes não tiveram esse privilégio de terem a sua diversidade respeitada. Eles foram rotulados como problemáticos e ponto. Logo, esse episódio acaba ficando datado com os preconceitos da época em que foi realizado. A gente percebe que nem a coletividade queria mais os garotos por estarem “com defeito”.
Janeway busca a diplomacia…
Outra coisa que incomoda é o desfecho. Sete de Nove é o único drone (fora Locutus) que voltou da assimilação para seu estado anterior. Isso a tornava muito especial na série. De repente, quatro dos cinco adolescentes voltam ao estágio anterior também, tirando de Sete seu destaque. Confesso que preferia um final mais “triste”, com os borgs adolescentes sendo não só desprezados pela coletividade, mas também sendo sacrificados no cubo (essa alternativa ficou apenas para o líder). Creio que seria muito mais impactante os adolescentes morrerem, pois, desprezados por sua cultura borg, não teriam mais onde se encaixar e dariam fim a si mesmos. Isso também seria uma alegoria de um problema atual, onde muitos adolescentes sentem a falta de apoio em suas famílias e meio que piram na batatinha por isso. Ou seja, por serem rotulados de “chatos” são tratados como párias, onde alguns chegam até à situação extrema da depressão profunda e do suicídio. Já que o episódio decidiu meter sua colher nesse problema cotidiano, que fosse até o fim com ele, ao invés de enveredar pelo fácil e previsível caminho do “happy end”.
Mas adolescentes podem ser muito imprevisíveis…
Dessa forma, “Coletividade” é um episódio de “Jornada nas Estrelas Voyager” que foge um pouco da ficção científica por retratar um problema cotidiano que é o difícil problema de relacionamento com adolescentes. O episódio caiu no erro de reproduzir preconceitos (o que é complicado numa série que se vende como respeitando as diferenças) e perdeu a oportunidade de falar da questão do abandono que alguns adolescentes sofrem, por optar por um final feliz. Um episódio que merece uma revisita, desde que visto sob um aspecto mais crítico.
E
finalmente chegamos ao último episódio de “Jornada nas Estrelas Discovery”.
Alguns acharam “Doce Tristeza Parte 2” um desfecho magistral. Outros acharam
que ficou a desejar. Confesso que a impressão que tive desse episódio foi a
mesma dos episódios recentes de Discovery, ou seja, despertou sentimentos
contraditórios e não foi um dos melhores da temporada (os melhores estavam lá
mais para o início). Vamos tentar conversar um pouco sobre esse desfecho da
temporada.
Retomando
o plot do episódio anterior, a batalha entre Discovery e Enterprise com as
trinta naves da Seção 31 está prestes a começar. Aí um detalhe já chama a
atenção: a quantidade estúpida de naves auxiliares e caças (hein?) que saem de
dentro das duas naves protagonistas. Não parece que elas possam comportar
tantas naves assim. Da mesma forma que, quando vemos o elevador da Discovery circulando
pela nave, ela parece ser muito maior que é. Essas inconsistências podem até
não afetar muito o produto final mas incomodam. Enquanto isso, na Discovery, o
traje é montado e a grande maioria dos tripulantes mostram a sua grosseria
habitual que incomoda bastante. Nunca podemos nos esquecer que estamos num meio
militar e há a necessidade de respeito a uma hierarquia, sem espaço para
forinhas. É incrível como as pessoas se destratavam em pleno ambiente de
batalha, mostrando que a tripulação não estava totalmente focada em seu
trabalho. As duas naves poderiam, muito bem, ter explodido por causa disso.
Alguns diriam que tal situação pode até ser compreendida, pois todos estavam
sob um forte estresse, etc. Tudo bem. Ainda assim, é necessário um mínimo de
autocontrole numa situação extrema dessas e os tripulantes pareciam mais
preocupados em deflorar seus repertórios de mimimis.
Spock prestobarba…
As
trinta naves da Seção 31 com o Leland borguificado (desculpem, mas não resisto à
zoação) chegam e mostram que também têm um milhão de navezinhas para o combate.
Algumas pessoas assinalaram, com muita propriedade, que essas navezinhas todas
são inspiradas nas navezinhas que destruíram a Enterprise no filme três do
Abramsverso. Parece ser por aí mesmo, até para deixar os efeitos especiais mais
espetaculares, que realmente foram muito bons para uma batalha que durou
praticamente o episódio inteiro.
Ao transferirem o traje do Anjo já pronto para a baia de lançamento, há uma explosão que fere Stamets seriamente. Vemos claramente que isso é para levar o personagem mais albino (natural) de Jornada nas Estrelas aos cuidados de Culber, que diz que quer reatar (que fofo, eu estava torcendo por isso!!! Tivemos um bom desfecho de temporada aqui). O curioso foi ver a falta de ação, num breve momento, tanto de Michael quanto de Tilly, ao ver Stamets seriamente ferido. Mais um indício de falta de preparo em situações extremas. As duas passando pelo teste do Kobayashi Maru seria um desastre total.
Finalmente L’Rell falou um klingon razoavelmente decente…
Finalmente o traje chega a baia de lançamento. Spock vai acompanhar Burnham numa nave auxiliar, orientando seu voo para uma área mais segura, distante da batalha. Enquanto isso, Leland invade a ponte da Discovery e começa a atirar, como acontecido na visão de Michael. Mas agora a tripulação consegue se esquivar, com alguns tripulantes só ficando feridos e não morrendo ninguém. Leland se tranca em outro compartimento para procurar os dados da esfera. Spock e Michael pousam numa carcaça de nave destruída. Mas Michael não consegue programar o Anjo para ir para o futuro. Já a Enterprise sofre, como na visão de Michael, um ataque de um torpedo fotônico, que fica preso no casco do disco sem explodir, embora a explosão em quinze minutos seja inevitável, o que provocaria a destruição total da nave. Nessa hora, Pike manda para a parte de fora do disco uns robozinhos para fazer reparos (seriam astromecs de Guerra nas Estrelas?).
Roteiristas sacanearam Burnham…
Um
detalhe interessante aqui é que, na hora em que parecia que a Enterprise e a
Discovery seriam derrotadas, caças ba’uls apareceram sob o comando de Siranna,
irmã de Saru (será que os malignos kelpianos dominaram os inocentes ba’uls?
Tome violação da Primeira Diretriz!) assim como os klingons mandaram reforços,
com direito a dois D7s produzidos em tempo recorde (os klingons devem ter
aprendido a produzir armamentos assim tão rápido com os russos da Segunda
Guerra Mundial, onde uma fábrica de tanques na Sibéria produzia dois mil
tanques por mês). É aí podemos ver Tyler e L’Rell falando finalmente um bom
idioma klingon, numa prova de que há fonoaudiólogos no Império (qa’plá!),
embora L’Rell ainda pareça estar com um chumaço de algodão na boca (ela, como
chanceler, deve ser uma pessoa muito ocupada e deve ter faltado a algumas
sessões de fonoaudiologia).
… e Tilly
Spock, ao ver os reforços, pensa um pouquinho com seus botões e conclui que os cinco sinais apareceram para que tudo fosse encaminhado para aquele momento da batalha. Ou seja, Michael não conseguia ir para o futuro, pois eles estavam presos num loop temporal. Então Michael deveria ir para o passado, em cada evento dos cinco sinais, para voltar ao momento da presente batalha e “destravar” a viagem para o futuro. Ou seja, uma lógica um pouco sem conexão, mas que justificaria as aparições do Anjo no passado. E aqui, podemos ver que Discovery caiu novamente no que já pahrecia óbvio: Michael é o Anjo, assim como Tyler era klingon na primeira temporada e todo mundo já sabia. A coisa da mãe como Anjo acabou mesmo sendo algo para despistar.
Georgiou
e a oficial de segurança Nham (pois é, esse é o nome dela na versão legendada,
ela até faz uma piada com isso) conseguem alcançar Leland e partem para uma
porradaria geral com direito a dois red shirts (não tão reds assim) que
aparecem do nada e morrem numa despressurização (eu juro que voltei a cena
várias vezes e até agora não vi de onde eles apareceram para morrer; se alguém
aí souber, me avise por favor). Leland é atraído para a Câmara de esporos (os
dados estariam escondidos na Seção do motor de esporos) e é trancado lá.
Georgiou magnetiza a Câmara e as nanossondas saem de Leland, matando-o, sob o
olhar sádico de Georgiou.
Enquanto isso, a Almirante Cornwell tenta desarmar o torpedo incrustado na Enterprise, sem sucesso. Ela vê dentro da sala onde está o torpedo um mecanismo para fechar uma porta de segurança e isolar o torpedo do resto da nave, mas que pode somente ser fechado por dentro. Cornwell então decide se sacrificar e sela a porta, explodindo com torpedo e tudo. Agora, só me explica uma coisa. O torpedo tinha força para destruir quatro deques. E aí uma portinha segura uma explosão desse naipe, a ponto de Pike assistir Cornwell ser incinerada pelo vidro e do outro lado da porta? E ainda: numa moderna nave estelar, a capitânia da Frota, a mais importante, não há um mecanismo computadorizado que tranque a porta por fora? São em detalhes como esse que Discovery peca, e muito.
Saru para capitão!!!
Michael viaja para o passado, indo ao local dos cinco sinais. De volta ao campo de batalha, Michael diz ao capitão Saru que enviará um sexto sinal para orientar a Discovery na viagem para o futuro. Spock não consegue fazer sua nave auxiliar decolar (ela ficou danificada com um tiro) e ele não vai poder acompanhar Michael. Começa então todo um dramalhão onde Spock diz que foi salvo pela Michael (como era de se esperar numa série dessas), etc., etc., além de receber um conselho da Michael de interagir com a pessoa que mais fosse diferente dele (é o Kirk, não é?). Ele termina dizendo “eu te amo” para a irmã. Ou seja, Discovery sendo Discovery como novela mexicana. Spock diz ainda que queria ter certeza da segurança de Michael e ela retruca que ele terá certeza disso, pois ela lhe enviará um sétimo sinal. Spock é teletransportado para a Enterprise. Aí fica a pergunta: a nave abaixou os escudos sob fogo cerrado, ou a batalha já acabava depois da morte do Leland? E outra pergunta ainda mais perturbadora: se Leland está morto e o Controle derrotado, por que cargas d’água a Discovery ainda precisa ir para o futuro com a Michael, até porque a nave só está com parte dos dados da esfera e o Controle, mesmo que volte, não terá acesso integral aos dados? E mais, como um controle quer ser sensciente com os dados da esfera se ele já está atrás dos dados? O fato dele já estar atrás dos dados não seria a comprovação de que ele já é sensciente? Loops de furos de roteiro aqui. De qualquer forma, a protagonista voa em direção ao futuro e com Discovery a reboque. Todos desaparecem, ficando só a Enterprise, os caças ba’uls e as naves klingons, juntamente com um monte de escombros.
Há um interrogatório sobre o que aconteceu. O interrogador, onde vemos somente algumas partes do rosto (ficou um gosto de mistério aqui) faz as perguntas, não sem receber algumas respostas muito malcriadas que bem poderiam render uma corte marcial. Mas o que ficou marcante nessa sequência foi que se atestou a necessidade de uma reformulação completa da Seção 31, precisando ficar mais transparente, com essa tarefa de reformulação sendo atribuída a Tyler. Foi dito também que o Controle foi totalmente eliminado. Mas o que mais chamou a atenção é o que foi mais intrigante foi a recomendação de Spock (prontamente atendida pelo Comando da Frota) de tornar a Discovery, sua tripulação e o motor de esporos um assunto altamente confidencial, com a sua divulgação sob pena de traição. Além disso, viagens no tempo não devem ser feitas. Peraí, deixa ver se eu entendi direito: a série Discovery renega a própria Discovery para salvar um Canon que a série insistia em desrespeitar e encaixar coisas que não encaixavam? Confesso que fiquei um pouco pasmo com isso. É como se fosse um atestado de incompetência assinado pelos próprios roteiristas: “pois é, tentamos fazer uma série que se encaixasse com o Canon mas não conseguimos. Assim, jogamos a Discovery para bem longe no futuro e começamos tudo de novo”. Esse foi mesmo o fim SENSACIONAL que alardeiam por aí? E, para botar a pá de cal em tudo, temos ao final derradeiro a Enterprise de Pike, o Spock de uniforme e barbeado, com a tripulação da Enterprise começando uma nova missão, a despeito do sétimo sinal enviado por Michael para o irmão que somente irá analisá-lo. Todos sabemos que muita gente quer uma série Pike-Spock na Enterprise. Não sei se isso irá acontecer. Mas o que perturba aqui foi como a Discovery foi tão colocada de lado no final. Eu diria desprezada, até, como se fosse um empecilho. E isso em sua própria série. Muito doido isso. Uma prova de que os roteiristas e os vários showrunners (um péssimo sinal essa quantidade enorme de showrunners, diga- se de passagem) não sabem muito bem o que estão fazendo. Cá para nós: não é fácil escrever Jornada nas Estrelas. Cinquenta anos de série e um Canon muito grande, cheio de furos inclusive, são um obstáculo para uma coerência com o que já se viu. Talvez os fãs mais novos nem se importem tanto com o Canon assim e vejam somente a série como um produto de entretenimento, tudo bem. Mas há fãs que se divertem com as referências colocadas de modo inteligente e sutil, não tão jogadas na cara. E tais referências se encaixando direitinho com o já visto no passado. E isso requer um estudo meticuloso da franquia antes que se escreva qualquer coisa. Parece que em Discovery ficou provado que esse dever de casa não foi feito além do agravante de não haver um consultor científico, com tecnobabbles muito forçadas e confusas, sendo explicadas com comparações muito simplórias e pífias.
Uns talosianos com cara de que gostam de uma Caninha da Roça…
Outro problema foi a forma forçada e desajeitada de inserir temas de ordem mais política e de inclusão social. Jornada nas Estrelas sempre fez isso com sutileza e maestria, o que não aconteceu aqui. O empoderamento feminino foi colocado de forma tão forçada que datou muito a série (lembrem -se que estamos no século 23 e não há mais espaço para machos alfa, essas questões já deveriam ter sido resolvidas, mesmo que tenhamos um Kirk todo serelepe em sua macheza). Mais ainda, bife vegano numa época de sintetizador de alimentos??? Ou uma pessoa andando de cadeira de rodas num século onde ela já poderia estar andando pelo menos num exoesqueleto? Muito complicada essa forma atabalhoada de se mostrar inclusão e respeito à diferença na série. Forma essa que atingiu também a personagem principal, Michael Burnham. Uma excelente ideia a princípio que foi mal desenvolvida (esse é o problema crônico de Discovery a meu ver, boas ideias mal desenvolvidas). O protagonismo excessivo dado a personagem a torna antipática ao invés de atraente. Ela é tão perfeita e fodona que não há uma chance dela interagir com os demais personagens de igual para igual, desenvolvendo uma relação humana e de companheirismo mais aprofundada, uma coisa que a gente gosta tanto de ver em Jornada nas Estrelas. E, quando essa relação finalmente acontecia, era acompanhada de um melodrama que beirava o insuportável. Sacanagem com Sonequa Martin Green e com Michael Burnham. Sacanagem também com Mary Wiseman e Tilly, outra boa ideia de personagem, que recebeu o presente de grego dos roteiristas de falas completamente imbecis e sem sentido. Era constrangedor e emputecedor ver Wiseman e Tilly falando todas aquelas asneiras. Onde esses roteiristas estavam com a cabeça? Constrangedor também foi ver a falta de respeito com a hierarquia militar. Não que eu seja um militarista, muito longe disso, até. Mas Jornada nas Estrelas sempre primou por uma hierarquia militar respeitosa, onde até o superior respeitava o oficial inferior (“Senhor Sulu, Senhor Chekov”, lembram?) e agora vemos um monte de oficiais seniores se tratando como alunos mal educados em uma sala de aula. Jornada Nas Estrelas passa longe disso.
Pelo menos a
segunda temporada foi melhor que a primeira. Os episódios de Terralísio e de
Kaminar foram muito bons, bem ao estilo de Jornada nas Estrelas. As referências
a Talos IV e à tragédia pessoal de Pike também foram muito bem vindas.
Todo mundo quer essa série… e Discovery???
Resta agora especular o que vem por aí. Série do Pike? Gostaria muito, mas não há nada certo. Série da Seção 31? Pelo amor de Deus não. E a terceira temporada de Discovery, a única coisa certa aqui? Bom, Michael enviou o sinal para Spock, a Discovery provavelmente está em Terralísio (51 mil anos-luz no quadrante beta, era onde o sinal estava ao fim do episódio) e tripulação da nave deve estar a procura da mãe de Michael. No mais, eles tentariam voltar para o século 23, mesmo descumprindo o sigilo total? E a Discovery abandonada no futuro que vimos no Short Trek? Como ela se encaixa com tudo isso? Como se pode ver, há pano para a manga para se desenvolver. O medo é o que esses roteiristas toscos e descuidados de Discovery irão fazer. Mais uma vez boas ideias. Continuarão elas sendo mal desenvolvidas? Respostas na terceira temporada, no ano que vem.
Burnham e Spock, empenhados em levar os dados da esfera para o futuro…
O
décimo terceiro episódio de “Jornada nas Estrelas Discovery”, “Doce
Tristeza”, é a primeira parte do episódio final e já prepara o público
para um desfecho. Como a maioria dos episódios mais recentes da série, ele
desperta sentimentos contraditórios, com algumas ideias um tanto boas, mas com
coisas ainda muito esquisitas.
Vamos ao plot. A tripulação da Discovery começa a evacuar a nave para o processo de autodestruição. O Controle se infiltrou nas comunicações da nave e eles não conseguem contatar a Federação. Assim, só conseguem se comunicar com a Enterprise. Tubos de transporte ligam as duas naves. Aí fica a pergunta: não se poderia evacuar todos pelo teletransporte? Não haveria tempo hábil? Não há salas de teletransporte suficientes nas duas naves? Ou apenas foram usados os efeitos especiais para impressionar? Burnham, por sua vez, se questiona se a nave precisa ser mesmo destruída e, quando ela pega o cristal, tem uma visão do futuro, onde as duas naves estão numa batalha cerrada contra a Seção 31. Ao fazerem a contagem regressiva para a autodestruição, a Discovery não se destrói, pois os dados da esfera ainda se protegem das tentativas de destruição empreendidas contra ele. Surge outra visão de futuro para Michael. Agora ela vê Leland atacando a ponte da Discovery e matando todo mundo. Enquanto isso, Pike é alertado que a Seção 31 está chegando em uma hora e ele prepara a tripulação para o ataque. Michael diz que nada daquilo vai adiantar e que a Discovery deve ser lançada ao futuro, para tirar os dados da esfera do alcance do Controle. Para isso, um novo traje de anjo deverá ser confeccionado e o cristal precisa ser ativado. A Discovery seguirá o traje do Anjo no piloto automático.
Michael não irá para o futuro sozinha…
Surge o quinto sinal, no planeta Xahea, lar da rainha Po (vide o primeiro Short Trek). Tilly diz que a rainha sabe recristalizar dilítio e ela pode tentar reativar o cristal do tempo. A inteligente e serelepe rainha de 17 anos e que adora sorvete (confesso que eu também gosto muito) vai poder ajudar nisso, depois de vomitar muitas tecnobabbles com direito a energias de supernova mais uma vez (aff). Só que há duas ressalvas: o motor de esporos não funcionará mais e o cristal estará inutilizado ao fim da viagem. Assim Michael vai, mas não volta. Isso será o suficiente para uma série de despedidas chorosas de Michael com meio mundo. Até Sarek e Amanda apareceram de surpresa para se despedir, numa forçada de Barra retumbante (eles souberam por seus catras, disseram os pais). Foi até uma cena boa, essa da despedida, com um Sarek mais meloso pedindo desculpas por não ser um bom pai e marido, além de prometer que ficaria de olho em Spock mesmo que a distância. Mas essa aparição de surpresa do casal num momento de isolamento de comunicação apenas nave a nave pegou muito mal para a coerência da história. Apesar de toda essa choradeira, Michael não vai sozinha, pois parte da tripulação da Discovery decide ir com a moça para o futuro. Tyler, por sua vez, ainda prefere ficar na Seção 31 para combater o controle nas sombras, como se a Seção 31 de Discovery fosse a coisa mais escondida do mundo. Pelo menos, a despedida de Pike da tripulação da Discovery foi algo bem respeitoso e solene, algo indispensável numa série com tantas violações de hierarquia militar. Saru assume o posto de capitão (êêêêê!!!) mas diz em seguida que isso deve ser decidido com mais calma depois, com um olhar complacente na direção de Michael. Ainda acho que Saru tem que ser o capitão da nave, em virtude de sua elegância e serenidade infinitas. O episódio termina com a frota da Seção 31 chegando, e a Discovery, juntamente com a Enterprise, preparadas para a batalha.
Tripulação trabalhando para ir com a Michael para o Futuro…
Bom,
como eu disse, é um episódio de sentimentos contraditórios. Quais são os
problemas? As tecnobabbles irritantes continuam, sem a regulação de um
consultor científico, o que deixa a coisa forçada e exagerada. Sei que já bati
nessa tecla aqui várias vezes, mas usar quantidades incríveis de energia do
porte de uma supernova é algo muito complicado e o fã da franquia quer um
ficção científica mais atraente, que dê para acompanhar e entender, sem
qualquer exagero retórico. O clima de fim de festa e de despedida também ficou
um pouco maçante, embora eu tenha gostado aqui da despedida da família Burnham-Sarek-Amanda,
apesar daquela chegada para lá de implausível dos pais adotivos.
Mais cenas melosas…
Agora,
com relação ao ponto positivo da história, podemos dizer que a viagem da
Discovery para o futuro foi uma ideia interessante para se arrumar um desfecho
digno para a temporada. O problema, como em muitas coisas em Discovery, é se
esse final será bem escrito e alcançará uma forma satisfatória de fechar a
série. Fica aqui um baita mistério e um receio muito grande.
Assim, Doce Tristeza, Parte 1, pode ser considerado mais um episódio mediano de Discovery. Só é meio complicado que isso continue acontecendo praticamente no apagar das luzes. De qualquer forma, se vislumbra uma luz no fim do túnel, embora haja ainda dois sinais. Fica tudo para o final do final do final…
E chegamos ao décimo-segundo episódio de
“Jornada nas Estrelas Discovery”, “Pelo Vale das Sombras”. O que pode ser dito
do antepenúltimo episódio? Foi melhor que o anterior, mas teve o problema de
desenvolver pouco a história. Na prática, só foi obtido um cristal do tempo
para se enviar os dados da esfera para o futuro. Entretanto, apareceu mais um
fator complicador, que é o procedimento de autodestruição da nave. Será que ele
irá para a frente? Confesso que esse desfecho me deu vontade de assistir ao
próximo episódio. Mas ainda os nobres roteiristas jogam muita informação nova e
as coisas já deveriam ser mais bem trabalhadas para se encaminhar para um desfecho
bem amarrado.
Vamos ao plot. Surge o quarto sinal
sobre o planeta klingon Boreth, onde Tyler deixou seu filho. Burnham diz que
perseguir o sinal é perda de tempo e eles devem ir atrás de Leland. Mas Saru lembra que os dados da esfera estão na
Discovery e ir atrás de Leland é colocar os dados nas mãos dele. Pike diz que
irá atrás do sinal, pois precisa focar na missão. Tyler fala da presença do
monastério a Khalexxx (pois é, os klingons dessa série não dizem Khaless de
jeito nenhum) e diz que irá pedir autorização a L’Rell para a Discovery chegar
ao planeta. Michael fala a Tyler que ele está escondendo algo e ele conta toda
a história do filho em Boreth, para que Burnham (que carrega toda a
responsabilidade do Universo em suas costas) possa levar esse fardo junto com
ele. Durante a conversa, Tyler vê que uma nave da Seção 31 não se apresentou no
seu local designado. Burnham quer investigar. L’Rell chega à Discovery e diz
que o monastério é o local mais sagrado do Império Klingon e de difícil acesso.
L´Rell também diz que o monastério existe lá, pois ele protege um cristal muito
precioso, o cristal do tempo (e sabemos que a Discovery precisa do cristal para
transferir os dados da esfera para o futuro). L´Rell diz que manipular o tempo
é uma arma muito poderosa e que os klingons não a usam mais por causa disso
(hein? Klingon que é klingon raiz seria o primeiro a usar uma arma poderosa
numa guerra; pode-se até discutir qual é a honra em usar uma arma mais poderosa
que o inimigo, mas se Kruge quis usar o torpedo Gênese como arma…). Tyler se
oferece para ir e L´Rell discorda, pois colocaria a vida do filho deles em
risco. Tyler insiste em descer para ver o filho (parece que ele foi infectado
pelo vírus de petulância e desrespeito à hierarquia de Burnham). Os dois
começam uma DR em klingon. Pike não aguenta isso e acaba se oferecendo para ir.
L’Rell diz que é perigoso ir lá e nem ela, que é chanceler, consegue controlar
os monges. Ela alerta que ninguém tirou um cristal do tempo de lá sem um enorme
sacrifício.
DR com Tyler…
Michael leva o caso do atraso da nave da
Seção 31 a Saru e lhe pede para investigar com uma nave auxiliar. Saru dá a permissão
numa boa, pois acha que eles devem atacar primeiro (consequência da queda dos gânglios).
Mas ele pede a ela que não deixe que sua “compreensível” raiva afete suas decisões
(como sempre, todo mundo dando razão a Michael).
Pike chega ao monastério e encontra o guardião
dos cristais (T’Navik) que, obviamente, diz que tirar um cristal de lá é perda
de tempo. Ele diz ainda que todos que tentam tirar algum cristal de lá precisam
fazer um teste, chegam cheio de convicções mas saem arrasados. Pike insiste em
fazer o tal teste. Sei não, esperava um pouco mais de resistência de T’Navik
aí. Talvez uma cena de lutinha caísse bem nesse contexto. Em tempo, T’Navik é o
filho de Tyler (efeito dos cristais do tempo).
Enquanto isso, Spock insiste em ir com
Michael, não sem a oportunidade de irritá-la um pouco, o que sempre é hilário.
Mas os dois vão juntos. A nave auxiliar de Michael e Spock chega à nave da
Seção 31 e encontra a tripulação expelida para o espaço e congelada. Um dos
corpos está vivo e é transportado para a nave auxiliar. É o tenente Gant,
ex-oficial tático da Shenzhou. Ele disse que estava limpando uma sub-rotina
suspeita (poderia ser algo do Controle) quando foram expelidos da nave. Gant
teve tempo de entrar num traje espacial antes de ser expelido. Dá para perceber
como é uma História da Carochinha desde cedo. Michael insiste em inspecionar a
nave da Seção 31 e Gant precisa ir, pois ele conhece os protocolos.
T’Navik
No refeitório, todos riem menos Stamets,
por motivos óbvios. Reno (de volta depois de um milhão de episódios, uma boa
personagem jogada e desperdiçada pela nave) senta com ele e nota que Stamets
ainda não superou a perda de Culber. Reno vai à enfermaria dizendo que está com
a cutícula para cortar, pois precisa de um “pretexto” para dizer a Culber como
ele está sendo babaca com o Stamets. Culber nota que ela tem uma aliança e é
casada. Reno fala que tinha uma companheira, mas que ela morreu na guerra
klingon. Reno diz que Culber tem uma segunda chance mas não pode durar para
sempre e que não é para estragar isso.
Pike e T’Navik chegam a uma sala cheia
de cristais. T’Navik pede para que Pike toque em um cristal. Ele o faz e
vivencia o acidente que ainda irá sofrer (boa referência da série clássica). Pike
se vê na cadeira, com o rosto derretendo e pira na batatinha. T’Navik diz que
se ele desistir do cristal, ele foge desse futuro. Mas se pegar o cristal,
estará com o futuro selado. Pike diz que é um capitão da frota, acreditando em
servir, se sacrificar, na compaixão e no amor (que fofo!) e pede o cristal a T’Navik,
que o dá e admira a sua honra.
Michael, Spock e Gant entram na nave da
Seção 31, que se liga sozinha e entra em dobra
Um capitão encarando seu destino…
O Controle tem a posse da nave da Seção
31. Michael e Spock decidem “prender” o Controle em uma armadilha e assumir a
nave de volta. Enquanto Spock monta a armadilha, Michael fica sozinha com Gant,
que é o Controle (eu disse que era História da Carochinha Gant vestir um traje
espacial enquanto era expelido para o espaço). Michael percebe isso quando Gant
elogia a Seção 31 e o Controle. Gant diz que a atraiu para a nave para que ela
seja “assimilada” pelo Controle e possa trazer os dados da esfera para ele. Começa
um tiroteio de phasers a la Star Wars,
ou seja, de feixe não contínuo, lembrando sempre que os feixes dos phasers de Jornada
nas Estrelas são contínuos, mas fazer o que? Gant domina Michael (umas
porradinhas para não perder o hábito) e tenta injetar nano sondas nela. Spock
tanta salvá-la com o toque neural em Gant, mas ele não tem terminações nervosas
e torce o braço de Spock, atirando-o longe. Michael fuzila Gant com dois
phasers aos berros (bem ao estilo do Rambo) e as nano sondas (ou nano bots,
segundo Spock) saem dele para ir em direção a Michael. Spock magnetiza o chão onde
estão as nano sondas e elas pifam. Spock, ao saber que o Controle tentou
transformar Michael, a vê como a variável que o Controle não consegue dominar.
Michael conclui (não sei por que) que os sinais podem terminar o que a mãe dela
começou.
Pike conta a L’Rell que viu o filho
deles e que ele pediu para devolver a eles o símbolo de Portador da Chama que
Tyler deixou em Boreth junto ao filho. O símbolo ajudou T’Navik a achar o seu
caminho e agora não precisa mais dele. Pike disse que o filho deles tinha que
estar lá para guiá-lo, como se tudo estivesse predestinado.
Michael, de volta a Discovery, diz que o
Controle pode entrar em qualquer um e que a nave que ele capturou foi para além
da fronteira da Federação. Muitas naves da Seção 31 aparecem no tático. Burnham
argumenta que não há outra opção a não ser destruir a nave. Pike dá a ordem
para a evacuação e autodestruição da Discovery.
Como podemos ver, mais um episódio em
que surgem informações novas (T’Navik, autodestruição da Discovery) e, para
desenvolvimento efetivo do plot principal, somente a obtenção do cristal do
tempo. Mas esse episódio teve algo muito bem, que foi dar ao Pike a chance dele
ver o seu futuro trágico e, ainda assim, optar por enfrentá-lo, pois ser um
capitão da Frota Estelar implica em sacrifícios. Tá bom que a parte do amor
ficou piegas demais. Entretanto, ainda assim a cena assumiu um tom solene que
valeu a pena. E foi num momento em que a aparição de Michael era zero. Ou seja,
a coisa melhorou quando se deu espaço para um personagem, ainda mais da série clássica,
onde o fan service foi muito bem executado.
Esse também foi um episódio onde os
klingons foram bem trabalhados. Apesar de ainda falarem Khalexxx, e de serem
pouco agressivos (casos de L’Rell achar uma arma temporal perigosa demais ou T’Navik
deixar Pike fazer o teste dos cristais muito facilmente), neste episódio não ficou
muito exagerada a forma klingon de Discovery, com conversas intermináveis sobre
religião, por exemplo. O Universo klingon foi usado para dar suporte à história
de uma forma bem enxuta, sem exageros.
A guerra contra o Controle continua…
Por fim, a autodestruição da Discovery.
Isso abre margem para várias especulações. Linhas do tempo alternativas, relações
com o short trek Calypso, etc. Ainda não dá para falar muita coisa (embora já tivesse
que dar, pois faltam só dois episódios para o fim da temporada), mas fica aqui
uma certeza: como esse povo que escreve Jornada nas Estrelas (seja de
Discovery, seja das séries mais antigas), gosta de apertar o botão de
autodestruição da nave! E, cá para nós, seria muito esquisito uma série
Discovery sem Discovery. Será que vem uma NCC-1031-A por aí???
Pois bem. Mais dois episódios. E pouco vislumbre de desfecho à vista. Só quero ver se vão deixar tudo para o último episódio e, caso isso aconteça, como todas essas pontas serão amarradas. Vamos ver o que vem por aí.
E
entramos na reta final de “Jornada nas Estrelas Discovery”. Com esse episódio
aqui analisado, faltam apenas mais quatro para tudo ser fechado. E, quais são
as expectativas? Pela quantidade de pontas soltas que ainda existem a essa
altura, confesso que estou um pouco receoso de que a coisa não se dê muito bem
ao final. De qualquer forma, espero que minha língua seja queimada. Mas esse
foi um episódio um tanto mediano, que ajudou a desenvolver um pouco mais a
história, e nos deu a certeza de uma coisa: Michael Burnham tem a quem puxar,
pois sua mãe, Gabriele Burnham, também é um bocado teimosa.
Vamos ao plot. Michael tem um pesadelo, onde vê sua mãe e seu pai no dia da explosão da supernova. As imprecisões científicas já começam aí mesmo. Além de já ter sido mencionado na resenha anterior que observar uma supernova de perto é algo praticamente impossível, devido a estúpida energia que é liberada, ainda vimos o pai dando uns dados que corroboram essa impossibilidade (uma supernova libera a mesma energia que o Sol libera em dez bilhões de anos) e a jovem Burnham olhando o fenômeno por uma luneta sem qualquer filtro. Só isso já começou a pegar mal para um episódio que diz ser de ficção científica. Porém, parece que não há muita preocupação por parte dos roteiristas com essas imprecisões que todas as séries anteriores de Jornada nas Estrelas tinham em se esquivar um pouco. Bem, voltemos. Os klingons aparecem e Michael acorda com aquelas aspiradas fundas e exageradas pela boca. Ela está na enfermaria e recebe a informação de que a sua mãe é o anjo e está sob segurança, mas inconsciente. Spock diz que o traje do anjo tem um diário e Michael ficará com a tarefa de analisar os dados desse diário. Na Seção 31, Leland fala com o controle, que se manifesta em holografias que “trocam” de pessoas. O controle escolhe Leland por seu caráter e injeta no homem da Seção 31 um monte do que parecem ser nanossondas (borg?). Enquanto isso, Michael vê os diários da mãe e obteve a informação de que ela avançou 950 anos no futuro para fugir dos klingons e, por mais que ela tente voltar, sempre retorna a 950 anos no futuro, onde toda a vida na galáxia já foi destruída. Isso acontece, pois o campo de contenção mantém a mãe de Michael mas o universo, pela terceira lei de Newton (temporal?) a puxa de volta aos 950 anos a frente. É necessária mais energia gravitacional para segurar a mãe da Michael e, em uma hora, o Universo “vence” o cabo de guerra. Tudo bem até aí, mas fica a pergunta: a terceira lei de Newton não ocorre instantaneamente? Se joga numa parede para não perceber como você quica e volta na hora…
Tiroteios e tiroteios…
Leland,
já possuído pelo controle, diz que a mãe de Michael morreu e não sabe quem
estaria ali como mãe dela. Leland pede a Tyler que pegue os dados da esfera
para protegê-los na Seção 31. Ou seja, o controle começa a mexer seus pauzinhos
com Leland para obter os dados. Analisando os diários, Michael vê sua mãe
dizendo que o controle pegou os dados da esfera e ela precisa alterar o
passado, colocando a esfera no caminho da Discovery para ver se esta protege os
dados da esfera. Quando a mãe de Michael é acordada, ela só quer falar com o
capitão. Burnham dá um ataque de pelanca muito infantil, mesmo dizendo que não
está tomando uma atitude infantil. Culber, Pike e Spock acham melhor que
Burnham ainda não tenha contato com a mãe. Mesmo assim, ela insiste… A mãe de
Michael fala a Pike que, enquanto o controle tiver acesso aos dados da esfera,
o perigo é iminente. E ela precisa continuar a fazer o trabalho dela de viajar
no tempo para buscar evitar isso, ao invés de ficar presa. Ela diz, também, que
não sabe nada sobre os sinais. Gabriele (a mãe de Michael) fala para apagar os
dados da esfera para o controle não acessá-los e ela quer ser solta. Pike diz
que não pode fazer isso e Gabriele diz que todos eles são fantasmas para ela,
pois já os viu morrerem centenas de vezes. Gabriele diz que não tem conversa
enquanto eles não fizerem exatamente o que ela diz. Apesar dela estar
igualzinha a Michael aqui, eu me pergunto: por que não fazem o que ela pede e
destroem os dados da esfera de uma vez? A mulher já viu presente, passado e
futuro, tentou mil vezes salvar o dia e deve muito bem saber o que está
falando. Mas insistem em manter os dados. O que adianta ter esses dados se não vai
haver ninguém para ver? Mas o detalhe aqui é que, quando decidiram apagar os
dados, estes criaram um dispositivo para se proteger.
Por que não fazem o que a mamãe (ou o anjo) mandou???
Spock
vê os diários de Gabriele e escuta dela que ele pode ser o único a ajudá-la, em
função de sua lógica e emoção, que dão a ele a capacidade de compreender a
existência de Gabriele, assim como a dislexia faz ele superar os efeitos da
displasia atemporal (ou seja, uma tecnobabble exagerada para justificar a
dislexia do Spock). Spock ainda reconhece que Michael precisa falar com a mãe,
pois precisa de respostas às suas perguntas (aff). Michael finalmente convence
Pike a falar com a sua mãe mas ela não quer falar com a filha e perguntou se os
arquivos da esfera foram destruídos. Michael disse que não conseguiram. A mãe
falou que sabia que isso ia acontecer (e aí entra outra questão: por que a mãe
não disse para Pike que sabia que os dados desenvolveriam uma resistência a
tentativa de serem apagados, pois ela vem do futuro e já deve ter tentado
isso?). Gabriele insiste em ser solta, Michael insiste em ela ficar para fazer
as tais perguntas. As duas são muito teimosas uma com a outra (como dito acima,
duas Michaels, credo!). A mãe diz que se desapegou da filha, pois já a viu
morrer centenas de vezes e ainda verá muitas outras. Já a tripulação da
Discovery tem a brilhante ideia de mandar os dados da esfera para o futuro,
contrariando a mãe de Michael… para que isso??? Parece até implicância com
Gabriele. Senão vejamos: eles ainda querem manter a mãe de Burnham no presente
deles, impedindo-a de defender os dados no futuro, mas precisam de uma energia
equivalente a de uma supernova, que também se encontra na matéria escura que
possuem (hein???). Ou seja, além de fazerem o contrário de tudo que Gabriele
quer, ainda me metem essa tecnobabble altamente cretina de que matéria escura
gera tanta energia quanto uma supernova. Eu sei que a ciência de Discovery é
muito falha, mas nesse episódio eles estão se superando. E o Spock ainda tem a
cara de pau de dizer que gosta de ciência.
O Controle, no corpo de Leland, tirando a maior onda…
Leland
convence a imperatriz de se livrar da mãe de Michael, pois ela viaja no tempo e
é muito onipotente, e que é um risco mandar as informações da esfera para um
futuro e torcer para que elas não sejam achadas (ele tem uma certa razão, esse
plano é horrível). Como Leland ficou sabendo do plano? Pelo Tyler? A gente não vê
a informação do plano chegando à Seção 31 (descontinuidade de roteiro?). A
imperatriz vai colocar uma espécie de pendrive todo luminoso no traje que vai
transferir os dados para a Seção 31 e se autodestruirá, levando tudo a sua
volta (traje, mãe, etc.). Quando Philippa está com Gabriele, esta diz para
Philippa cuidar da moça e diz ainda que não pode fazer isso pois, para o
controle, ela é um risco para uma missão maior (foi o mesmo que Leland falou de
Gabriele para Philippa, o que despertou nessa última uma desconfiança com relação
a Leland). Philippa colocou os dados para transferir mas diz a Tyler que
suspeita de Leland.
A
mãe de Michael, obviamente, não concorda com o plano dos dados ficarem
desprotegidos no futuro. Tyler e Philippa, então, bloqueiam a transferência de
dados. Quando Tyler vai investigar Leland, o descobre cheio de implantes
cibernéticos na cara (borg?). Começa, então, a pancadaria da cena de ação. Tyler
é ferido mas se comunica com a Discovery e fala de Leland, que se transporta
para onde a mãe de Michael está e começa um tiroteio. Os dados voltam a ser
transferidos por Leland. Philippa luta caratê com ele. O plano de manter
Gabriele vai por água abaixo e os dados precisam ser transferidos para o
futuro, junto com a mãe da Michael. O campo de contenção tem que ser destruído,
não sem uma birrinha de Michael antes. Mãe e traje voltam para o futuro. Os
tripulantes da Discovery são teletransportados e o lugar é destruído com
torpedos fotônicos, com Leland junto. Mas parece que ele fugiu. Tyler, por sua
vez, foge da Seção 31 em um modulo de fuga. Spock diz a Michael que Leland
ficou com 54% dos dados. Michael diz que eles não têm traje, nem cristal, nada
para prosseguir. Spock diz que eles têm o agora, a lógica e o instinto, na
verdade uma desculpa para lá de esfarrapada para dar um quê mais
literário-filosófico para o fim do episódio. E a convida para jogar o bom e
velho xadrez tridimensional para buscar a solução para os problemas vindouros.
O
que esse episódio teve de bom? Na verdade, não muito. Ele deixa mais uma ponta
solta, que é mais um objetivo para a nave: transferir o resto dos dados da
esfera para o futuro. Mas é necessário arrumar mais um cristal do tempo para
isso. Ainda, agora precisam também trazer a mãe da Michael de volta. Nesse sentido,
o episódio deu um direcionamento para o que a gente vai ver daqui para a
frente, levando a mais um avanço na trama principal da série. No mais, muita
tecnobabble absurda, principalmente com supernovas, mais chiliques da Michael,
agora em dose dupla pois a mãe dela é igualzinha e uma teimosia irracional da tripulação
da Discovery em manter os dados da esfera. Por que simplesmente não fazem o que
a Gabriele sugeriu com tanta veemência? Ela é o Anjo Vermelho, caramba! O mistério
a ser desvendado na série. Agora que o Anjo se revela, simplesmente descartam o
que ele diz que tem que fazer? Muito estranho isso…
Leland… um borgão???
Agora,
cá para nós, a sugestão que tem sido ventilada por aí de que o controle pode
ter alguma ligação com os borgs (o episódio deixa evidências com relação a
isso) só vai introduzir mais papagaiadas desnecessárias e buscar ainda mais
problemas com o cânone original. Sinceramente eu não prefiro que isso aconteça.
Mas como em Discovery tudo é possível… pelo menos, espero que os roteiristas
tenham a nobreza de reconhecer que estamos em outra linha temporal para que o
cânone não seja ainda mais maltratado.
Acabei de ver o décimo-segundo episódio “No Vale das Sombras”. A princípio, foi muito melhor que este aqui. Mas sem spoilers no momento. Fica para a próxima resenha. Até mais!
Mais
um episódio de “Jornada nas Estrelas Discovery”. “Anjo Vermelho” despertou
muita polêmica na semana passada em virtude da divulgação muito prematura de um
spoiler monstruoso do episódio (ainda bem que eu tinha acabado de ver o
episódio assim que vi o spoiler). Sim, meus amigos, o anjo é a mãe! Da Michael,
é claro, de quem mais podia ser? Pelo menos, a série não caiu no óbvio de ser a
própria Michael o anjo, como já tinha sido ventilado por aí. Discovery já foi
altamente previsível com o klingon Tyler e o Lorca do Universo Espelho no ano
passado. Agora, não fizeram o mesmo com o anjo, embora ele tenha sido a mãe de
quem a gente achava que era o bichinho. Devo dizer que esse foi um episódio um
tanto complicado, com uma série de problemas, embora haja poucos pontos bons.
Quem ainda não viu vai ver spoilers se continuar a ler aqui. Vale sempre
lembrar.
Bom,
vamos ao plot. O episódio começa com um longo funeral ao personagem secundário
Airiam, que a série não nos deu o direito de conhecer profundamente e que agora
quer que a gente se emocione com ele. Muitos discursos com direito a uma canção
de Saru e o lançamento do corpo da moça dentro de uma casca de torpedo fotônico
em direção a um planeta. Qualquer semelhança com o funeral de Spock em “A Ira
de Khan” NÃO é mera coincidência. Após o funeral, Tilly, depois de mais uma de
suas falas infantis e irritantes (é muita sacanagem o que os roteiristas fazem
com a personagem, a atriz que a interpreta e o público) diz que descobriu um
arquivo em Airiam chamado “Projeto Dédalo” que diz que o Anjo Vermelho é a
Burnham. Confesso que achei isso muito complicado, pois foi um pretexto para o
ego de Burnham inflar desgraçadamente nesse episódio, algo que justamente ela não
está precisando para melhorar seu personagem, muito pelo contrário até. O detalhe
bom aqui é que Spock sacaneia Burnham dizendo que ela entrar na pele do anjo
para salvar a galáxia se encaixa no perfil dela (ela se responsabiliza por situações
fora do seu controle). Burnham diz, de forma sarcástica, que agradece a Spock por
compartilhar isso com todos. Ela ainda pergunta ao irmão que, se ela soubesse
de tudo o que estava por vir, por que ela não disse isso a todos? Spock retruca
com um argumento muito furado: “talvez você tenha uma propensão ao drama”. Mas
ainda sim valeu, pois a gente viu a protagonista onipresente ser zoada um
pouquinho, algo que ajuda a humanizar o personagem.
Spock, Bons diálogos com Burnham aqui…
De repente, a Seção 31
chega. Leland e Phillipa sugerem aprisionar o Anjo Vermelho. Confesso que isso
muito me incomodou, pois dentro do espírito de Jornada nas Estrelas se
esgotariam primeiro todas as possiblidades de comunicação com o anjo, mesmo que
houvesse dificuldades apontadas por Spock para isso. O ato de atrair o anjo
para uma armadilha e aprisioná-lo me pareceu um pouquinho bárbaro demais para
os galantes (e malcriados desrespeitadores de hierarquia militar) oficiais da
Discovery. Mas, continuando. Há, também, a revelação de que o anjo e o Projeto
Dédalo são, originariamente, da Seção 31, que o desenvolveu para fazer viagens
no tempo, depois que foi descoberto que os klingons também desenvolviam projetos
de viagens no tempo, formando uma espécie de “corrida armamentista temporal”.
Só que os klingons destruíram o traje do anjo e a Seção 31 simplesmente deixou
tudo para lá, sem sequer se preocupar se os klingons retomariam o projeto e
fariam um anjo, o que acabou acontecendo. Muito esquisita essa parte. Você
desenvolve um projeto par lutar com o seu inimigo, ele vem e destrói o projeto
e você simplesmente deixa tudo para lá? Nem imagina que o seu inimigo vai pegar
os caquinhos do seu projeto destruído, estudá-los e reproduzir seu projeto?
Depois reclamam por aí quando se fala que a série é muito mal escrita. Mas
vamos lá. Faz-se um plano cheio das tecnobabbles elaboradíssimas e exageradas que
só Discovery produz para depois se usar um termo altamente simplório do tipo, a
gente vai aprisionar o anjo como se o prendesse a um elástico. Sofrível isso. Mas
não teve nada pior nesse episódio que o diálogo de Phillipa com Culber, Stamets
e Tilly. Tudo começou assim: Stamets explica o plano de aprisionamento do anjo para
Phillipa e ela diz que ele pode ser melhor que o Stamets do Universo Espelho
mas bem mais neurótico, além de perguntar se ele nunca pensou em se medicar
(uma coisa horrorosa de diálogo). Stamets, elegante como ele só, ignora o que
Pihllipa disse e continua e falar sobre o plano. Mas Culber entra na engenharia.
Stamets se cala e Phillipa percebe a “tensão masculina”, além de dizer que a
tentativa de Tilly de aliviar o constrangimento de tal tensão é brochante., e
ainda pergunta se ela nunca curtiu um desconforto e quem a criou. Tilly responde que foi a mãe dela, que não era
muito presente, e Phillipa manda ela parar de falar. Phillipa começa a provocar
Stamets e Culber pergunta se ela sabe que Stamets é gay. Phillipa diz para
Culber não ser tão binário e que o Stamets do Universo Espelho era pansexual,
onde Phillipa fazia umas brincadeirinhas
com ele, assim como com Culber. Ela chama Culber de Papi (cacilda, eu realmente
escutei isso?). Stamets rebate dizendo que tanto ele como Culber são gays. Ela
diz que é claro que são e como é bom ver o que está na sua frente. Philipa sai
e Tilly pergunta: o que foi isso? Confesso que eu também me perguntei sobre a
mesma coisa e, pela primeira vez, achei algo que Tilly disse pertinente. Mas,
depois desse espetáculo simplesmente constrangedor, o que a gente pode tirar de
bom aqui? A forma meio depravada de ser do Universo Espelho, que tem origem lá
na série clássica diga-se de passagem, fez Phillipa abrir os olhos de Culber
para Stamets novamente. A Imperatriz apimentou a conversa para cima de Stamets
e despertou um ciuminho em Culber. Para quem está torcendo pelo casal (parece
novela mexicana do SBT em versão LGBT isso), até que essa conversa muito
esquisita rendeu um bom fruto, pois Culber foi procurar a Almirante cara de
empada Cornwell depois e ela, como terapeuta, falou em síntese para o rapaz que
ele deve fazer suas escolhas e ter coragem de trilhar seus caminhos. E, ainda,
cá para nós, como foi bom ver Phillipa mandar a Tilly calar a boca. Agora, foi
de uma deselegância extrema e agressiva dizer que Stamets precisava de um
remedinho. Também pudera, ela é do Universo Espelho. Mas não deixou de ser
surreal.
Um plano arriscado…
Saru e Leland trabalham
juntos no projeto de aprisionamento do anjo. Leland não gosta da presença de
Saru (sente que está sendo vigiado a mando de Pike) e Saru diz que sente que
Leland está ainda escondendo algo. Nisso, Michael entra, para mais uma vez se
meter na conversa de outros dois personagens (como ocorreu no episódio anterior
com a Almirante e Spock). Ela pede para falar em particular com Leland e
descobre por ele depois de pressioná-lo a dizer tudo que os pais dela fizeram
parte do Projeto Dédalo e estavam sob sua coordenação. Para fazer a roupa do
anjo viajar no tempo, era necessário roubar um cristal e ir para um lugar com emissão
de muita energia (embora os diálogos do episódio não tenham deixado isso muito
claro), no caso, próximo a uma explosão de supernova. Os klingons, por
negligência de Leland, rastrearam o cristal e mataram os pais de Burnham, que
mete dois socos na cara de Leland (um pelo pai e outro pela mãe) e ainda
desconta sua raiva em Tyler por ele ser da Seção 31. Ou seja, Burnham age mais
uma vez como uma menina meio mimada. O que me impressiona aqui nessa sequência
são duas coisas. Em primeiro lugar, parece que Leland está nessa série para ser
sacaneado o tempo todo. Arrumaram um ator com cara de mau para personificar a
vilania da Seção 31 e ele é esculhambado a toda hora, seja por Phillipa, seja
por Burnham. Fica meio esquisito. E a segunda coisa: a série parece não ter um
consultor científico, pois uma explosão de supernova não é brincadeira. É algo
equivalente a explosão de um setilhão de bombas atômicas. Para se ter uma ideia
da violência da coisa, se a gigante vermelha Betelgeuse, que está a quinhentos
anos-luz da Terra lá na constelação de Órion (perto das Três Marias, que fazem
o cinturão de Órion) explodisse numa supernova, a radiação emitida por ela
acabaria com a vida aqui na Terra. E aí, você vai lá perto da supernova na
iminência de uma explosão para assisti-la? Se não há consultor científico aqui,
pelo menos que se fizesse uma pesquisa no Google para se saber o que é
realmente uma supernova.
Um momento bom do
episódio foi a conversa a sós entre Spock e Burnham. Ela descia a porrada no boneco de luta da Academia da
Discovery e Spock entra dizendo que compreende sua reação de raiva, pois perdeu
uma amiga, que ela é o Anjo Vermelho, e ainda descobriu que perdeu os pais por
negligência de Leland. Burnham admite que sempre se culpa sobre as coisas,
corroborando o que Spock disse sobre ela (ainda há salvação para a personagem!)
e a moça pede desculpas. Spock, compreensivo, diz que ela era uma criança e
aceita suas desculpas. Burnham respira aliviada. Ela agradece a ajuda imprevisível
de Spock que disse que também não previu essa conversa mas que gostou de tê-la.
Na minha modestíssima opinião, esse reconhecimento de Burnham de que ela não pode
abraçar o mundo com as pernas e assumir a responsabilidade de tudo a todo o
tempo é algo que pode tornar o personagem bem mais agradável para a audiência
nos próximos episódios talvez da temporada do ano que vem, indo no passo certo
de uma humanização maior de Michael, que agora reconhece seus defeitos.
Chega a hora…
Uma coisa muito louca
no episódio foi a estratégia de aprisionamento do anjo, envolvendo Burnham. Spock
conclui que Burnham é a variável do anjo e que ela não pode morrer senão o anjo
do futuro não existe (um clássico paradoxo temporal). Assim, para o anjo
aparecer, Michael tem que estar em risco de vida. Eles vão para um planeta que
tem muita energia para a armadilha do anjo funcionar (Essof IV). Como a
atmosfera de lá é irrespirável, Michael ficará sob essas condições para sufocar
e o anjo aparecer para salvá-la, quando ele será aprisionado. Ou seja, Michael
é a isca. Todas essas coisas conspiram contra o episódio, pois só servem para
inflar o ego da Burnham. Mas, vamos lá. Há um momento romântico Tyler-Burnham.
Ela vai a Tyler dizer que foi injusta com ele e que não queria que a briga com
ele fosse a última conversa entre os dois. Ele a conforta dizendo que tudo vai
dar certo e os dois dão um beijo apaixonaaado. Ela chora dizendo que está com
medo e ele também está. Apesar desse romance entre os dois estar muito capenga,
essa aproximação valeu porque ela implicitamente pediu desculpas pela grosseria
e mostrou alguma consideração pelo cara que amou e parece voltar a amar.
Interação entre Burnham e os personagens havendo uma troca (mesmo que seja com
o Tyler) é o que pode salvá-la na série.
Michael entra na
armadilha. A atmosfera tóxica do planeta entra no receptáculo e ela começa a
gritar que nem uma doida (um “overacting” muito desnecessário). E nada do anjo
aparecer. As pessoas tentam salvar a moça. Michael diz “variável”, ou seja, ela
quer que a missão vá adiante e Spock detém todas as tentativas de salvá-la com
uma arma. O negócio é deixar ela morrer, segundo Spock, pois somente assim o
anjo virá.
Culber e Stamets apreensivos…
Michael morre. O anjo
aparece e ressuscita Michael (milagrosamente) mas é aprisionado. Enquanto isso,
Leland olha por um instrumento e recebe uma agulhada no olho (indício de que a
tecnologia do futuro pode deixar esse personagem finalmente mau como ele
merece). E aí, o episódio termina com a constatação de que o anjo é a mãe da
Michael!!! Agora posso falar esse spoiler, quase uma semana depois da estreia
do episódio…
Pois é, temos um
episódio meio enrolado aqui. Um problema é mais uma informação nova que precisa
ser amarrada lá na frente, ou seja, o aparecimento da mãe biológica de Michael.
Discovery peca pelo excesso e pela omissão. Há episódios em que não vemos um avanço
da história. Em contrapartida, há episódios que vomitam tanta informação nova
que a gente até se perde. Eu mesmo uso muito a tecla de voltar do meu controle
remoto para entender o que aqueles personagens dizem, dado o volume de informação.
Essa descontinuidade de um roteiro para outro acaba cansando um pouco. Outra coisa
que irrita são alguns diálogos que são de um constrangimento e tristeza
enormes. Os roteiristas precisam imediatamente rever como constroem as falas
dos personagens. Eu sinto vergonha de presenciar alguns diálogos daqueles. A
ideia de aprisionamento do anjo também foi algo um tanto perturbador, pois me
pareceu muito agressivo para os supostos ideais da Federação (se é que eles
existem nessa série, onde até a hierarquia militar é jogada no lixo). Esse
também foi um episódio que trilhou o caminho perigoso de superexaltar Burnham,
algo que definitivamente não é necessário aqui. Essa coisa dela ser o anjo a
maioria do episódio massageou demais o ego da moça, que agiu com muita empáfia
em alguns momentos, bem ao estilo da menina mimadinha. Pelo menos, a conversa
entre Michael e Spock onde ela reconhece seus defeitos e limitações foi algo
altamente produtivo no sentido de recuperar e humanizar a personagem. Aproveitando
o gancho dos pontos positivos, parece que surgiu uma luz no fim do túnel para
Culber e Stamets, esse sim um romance que dá para torcer, ao contrário da
xaropada entre Burnham e Tyler. O fato de o anjo, ao fim das contas não ser Bunrham
também foi outro ponto positivo, pois sai da armadilha do óbvio, em que a série
caiu muito na temporada passada.
Assim, “Anjo Vermelho”
não foi lá essa maravilha de episódio, mas pelo menos teve poucos pontos
positivos. Esperemos o que vem por aí, agora que já chegamos na reta final da
série, com um monte de coisas para se amarrar.
Cornwell trabalha conjuntamente com a tripulação da Discovery
O
nono episódio da segunda temporada de “Jornada nas Estrelas Discovery”,
“Projeto Dédalo”, é dirigido por Jonathan Frakes, o que é um sinal de que o
episódio se sai melhor do que a média. Entretanto, dessa vez a coisa
degringolou um pouco em virtude do roteiro, que não ajudou muito. Ou seja, ele
foi um pouco abaixo da média, já baixa, dos roteiros de Discovery. Apesar
disso, nem tudo foi perdido e o episódio também teve alguns pontos bons. Para a
gente poder entender isso, precisamos dos spoilers habituais.
Airiam trabalhando sorrateiramente…
O
plot começa com a Almirante Cornwell chegando às escondidas à Discovery, para
interrogar Spock, que nega categoricamente ter assassinado alguém e não sabe
por que foi escolhido pelo Anjo Vermelho para ter as visões da destruição em
massa que os habitantes da galáxia sofrerão. O teste diz que Spock não mentiu,
com 100% de certeza, mas Cornwell tem um vídeo que mostra Spock matando três
pessoas na sua fuga da clínica psiquiátrica. Cornwell diz a Pike que a sede da
Seção 31 tem um controle que recebe informações da Frota, mas ele está
bloqueado pela Almirante Patar. O controle ajuda a tomar decisões estratégicas
e foi transferido para a Seção 31 a pedido de Patar com o surgimento dos sinais
do anjo. A missão da Discovery é ir a sede da Seção 31 e desbloquear o acesso
ao controle para voltar a abastecê-lo com informações. O grande problema é que
o antigo presídio onde está a sede da Seção 31 é cercado por minas que são
atraídas pelos escudos. Ao chegar à sede, a Discovery sofre ataques das minas e
não consegue se desviar. Burnham (sempre ela) sugere padrões evasivos
aleatórios para pegar de surpresa o computador que controla as minas. A
Discovery consegue atravessar a barreira de minas e recebe uma transmissão
ameaçadora da Almirante Patar. Mesmo assim, vão para a antiga prisão e
descobrem que Patar e os demais almirantes estão mortos há duas semanas. Quem,
então, entrou em contato com a Discovery com a imagem de Patar? Saru descobre
que a transmissão de Patar foi um holograma, assim como também na cena do
homicídio de Spock, incriminando-o. Logo, a Discovery parece lutar contra todo
o sistema, com um ingrediente a mais: o controle, que recebe os dados, se
abastecidos com os dados da esfera, pode adquirir consciência e extinguir toda
a vida na galáxia. É por isso que Airiam, que armazenou os dados da esfera em
sua memória, conseguiu convencer Pike a ir para a missão para transferir todos
esses dados para o controle. Mas seu plano foi descoberto e, depois de dar uma
boa surra na Burnham, acabou presa em uma câmara de vácuo por Michael. Airiam,
que está sob o controle da entidade alienígena, pede que Burnham a ejete para o
espaço. Depois de muito resistir, ela ejeta Airiam que morre, provocando uma
grande comoção.
Uma estranha sede da Seção 31…
Bom,
esse foi o plot principal, embora haja algumas pequenas histórias paralelas que
serão mencionadas ao longo de nossa explanação. O que podemos falar dessa
história? Em primeiro lugar, é uma missão com um propósito um tanto quanto
confuso, pois o controle estratégico de toda a Frota Estelar não pode ficar
numa base escondida da Seção 31 somente porque uma almirante quis e, ainda
assim, depois vedou esse controle de receber informações. A Frota já deveria
ter mandado uma pá de naves para recuperar esse controle assim que a Patar vedasse
o acesso de informações ao controle. Antes a Discovery tivesse que ir para São
Francisco, procurada por toda a Frota. Seria algo bem mais interessante. Outra
coisa que incomoda é você dar consciência para uma máquina (o tal do controle)
para ele adquirir consciência com todo o volume de informação da esfera e
destruir toda a vida na galáxia. Há vários problemas aí. Primeiro, um volume
ilimitado de informação não assegura o desenvolvimento de consciência. Na
verdade, segundo Marcelo Gleiser, mesmo que um dia consigamos fazer uma máquina
que reproduza fielmente um ser humano e sua capacidade de armazenamento de
informação, ainda assim não teremos uma máquina consciente, pois a consciência
é algo completamente incompreensível e inalcançável nos dias de hoje. Não
sabemos do que é feita, como pode ser produzida, ela simplesmente está lá, no
cérebro. E mais: por que, uma vez a máquina tendo desenvolvido a consciência,
ela destruiria a vida orgânica? De onde vem o motivo para isso? Qual o
antagonismo entre máquina e vida orgânica? Ficou muito simplória e maniqueísta
essa ideia. De qualquer forma, apareceu uma espécie de “mal maior”, que
manipula a Seção 31 e a Frota, vide os hologramas que incriminam Spock ou a
morte dos almirantes na sede da Seção 31. Mais uma vez Discovery apresenta uma
boa ideia. Só esperemos que ela consiga desenvolver essa ideia bem, pois já
está cansando a gente ver um monte de boas ideias mal aproveitadas. Ainda indo
nessa direção, o que seria o Projeto Dédalo? E por que tudo tem que ser em
volta de Burnham, como disse Airiam ao final? Mais uma vez o problema do
protagonismo excessivo de Burnham na série. De qualquer forma, todo esse
protagonismo foi questionado por Spock. As cenas de bate-boca entre os irmãos
enervam alguns fãs, mas eu consigo ver um aspecto positivo nelas. A coisa tá
parecendo uma terapia de grupo bem catártica, onde os dois resolvem suas
diferenças. O chato foi ver Spock mais emocional nesse episódio, com uma tensão
crescente nas discussões até a explosão paroxista em cima do pobre do tabuleiro
de xadrez tridimensional. Mas, por outro lado, Spock fala o que Burnham precisa
ouvir há muito tempo: ela sempre quer atrair toda a responsabilidade para si,
como se carregar um pesado fardo fosse melhor do que carregar uma dor incontrolável.
Spock cita a responsabilidade que Burnham construiu em sua cabeça na guerra com
os klingons e no assassinato dos pais pelos klingons, dizendo que não pode
haver igualdade entre os irmãos enquanto ela ficar assumindo toda a sua
responsabilidade, não reconhecendo fracassos ou sua posição de irrelevância em
algumas questões. É claro que Burnham vai pirar na batatinha com isso, mais uma
vez agindo como uma criança mimada. Nesse aspecto, a briga entre os dois foi
ótima, pois Spock expôs todos os defeitos da protagonista de forma impiedosa, o
que ajuda a personagem a enfrentar seus próprios dilemas. Ainda, seguindo essa
linha, a morte de Airiam tem uma razão de ser, pois a coisa foi construída a um
ponto de que era impossível salvar a “mulher-robô”, mesmo que Burnham
insistisse em salvá-la (não se pode abraçar o mundo com as pernas, não se pode
salvar o dia todo o dia) e recebesse uma ordem direta do capitão para sacrificar
Airiam, assim como Spock falava da ponte que era impossível salvá-la. Ou seja,
quando reconhecemos que também precisamos conviver com o fracasso, isso se
torna algo libertador, nas palavras do próprio Spock.
Um Spock mais desequilibrado, mas que faz Burnham confrontar-se com si mesma
Falando
mais de Spock, precisamos mencionar aqui a melhor parte do episódio, que foi o
diálogo entre Spock e Stamets. Um estimula o outro pessoal e profissionalmente.
Stamets diz a Spock que Burnham o ama e Spock acha que Culber se separou de
Stamets não porque não gosta dele, mas porque não sabe mais quem é. Spock
também diz a Stamets que ele tem experiência com a rede micelial e vai
conseguir resolver o problema da sabotagem do motor de esporos, enquanto que
Stamets diz a Spock que o anjo o escolheu, pois ele deve ser uma pessoa
especial. Esse foi o momento onde o episódio mais se aproximou da essência de
Jornada nas Estrelas a meu ver.
E
o fim de Airiam? A coisa era para provocar uma comoção, mas como os personagens
da ponte sempre foram mal construídos, mais parecendo coadjuvantes de luxo,
talvez não houvesse empatia suficiente por parte do grande público para se
emocionar com sua perda. Confesso que até cheguei a me emocionar mas é
realmente um problema na série essa gama de personagens mal construídos. Eu
tive até uma esperança ao ver o início do episódio, pois finalmente via ali os
personagens secundários recebendo uma atenção maior, sobretudo Airiam. Mas na
verdade, só estavam era preparando o caixão da moça cibernética, pois ela ia
deixar a série ao final do episódio. O que eu quero ver na verdade é um
episódio que tenha a coragem de desenvolver bem um ou dois personagens
secundários e histórias paralelas ao plot principal em outros episódios que
também desenvolvam esses personagens sem descartá-los ao final. O
desenvolvimento de Airiam aqui pareceu mais uma colher de chá que deram para a
gente (e para a Airiam) já que a moça iria morrer. Assim fica feio.
Airiam deixa a série. Comoção???
Assim,
esse episódio dirigido pelo Frakes acabou não sendo um dos melhores, embora
tenha tido um razoável conteúdo dramático. O grande problema aqui é o roteiro
fraco e enrolado, que introduz uma ameaça eletrônica com um propósito um tanto
furado. Mas o filme também tem suas virtudes, sobretudo no relacionamento entre
os personagens (as discussões entre Burnham e Spock e o diálogo afável entre
Spock e Stamets). E, principalmente, uma boa lição que Burnham tomou, que é a
de não poder assumir todas as responsabilidades o tempo todo. É necessário
também aceitar o fracasso, para aprender com ele e se superar. Nada mais
humano, vindo de um apologista da lógica. Aí é que está a força do episódio. E esperemos
o que vem por aí.
Mais
um episódio da segunda temporada de “Jornada nas Estrelas Discovery”. “Se Não Falha
a Memória” pode ser considerado mais um bom episódio da série, considerando o
rodízio episódios bons – episódios ruins, e bom também pelo fato de que ele é
um tremendo fan service para os trekkers mais antigos, pois faz uma alusão
direta ao primeiríssimo episódio piloto de Jornada nas Estrelas, “A Jaula”.
Temos, inclusive, a aparição de cenas originais de “A Jaula” no início do
episódio, até talvez para que os fãs mais novos que não tiveram contato com
outras séries e momentos de Jornada nas Estrelas pudessem conhecer a
referência.
As plantinhas ainda estão lá…
Vamos ao plot. A Seção
31 conversa com o comando da Frota Estelar (é a entidade secreta mais conhecida
da galáxia) e eles acertam que vão colocar as naves para procurar Burnham e
Spock, com exceção da Discovery, por motivos óbvios (Pike é o capitão de Spock
e Burnham é tripulante). Mas a Discovery deve relatar à Seção 31 imediatamente
se Burnham entrar em contato. A Imperatriz passa essas ordens para Pike, sem
falar por que a Discovery está fora da busca, obviamente, e Pike desobedece
parcialmente a ordem, ficando parado mas tentando rastrear Burnham, para
desespero de Tyler, que prefere que a moça se vire sozinha, pois tem (como
sempre) toda a capacidade para isso. Enquanto isso, Burnham e Spock chegam a
Talos IV e encontram um enorme buraco negro. Burnham tenta se desviar mas Spock
a impede, pois o buraco negro é uma ilusão imposta pelos talosianos como
defesa. Enquanto isso, Culber e Stamets se desentendem. O médico não mais sabe
quem é e não aguenta mais as investidas do engenheiro, pedindo para que ele
tome o seu próprio caminho. Culber também vê Tyler na nave, ficando muito
revoltado. Em Talos IV, Burnham encontra Vina e esta fala de toda a história
que vimos em “A Jaula”. A moça fala que os talosianos querem ver Burnham e
Spock. Eles propõem salvar Spock de sua loucura e dar acesso da mente de Spock
a Burnham em troca dos dois compartilharem seu passado de dor com os talosianos.
Burnham, como uma menina mimadinha, se recusa a princípio (difícil de entender isso,
pois saber o que Spock tem em sua mente é vital para a questão do Anjo
Vermelho), mas Vina a convence, mostrando seu rosto cheio de cicatrizes e
dizendo que os talosianos não são tão maus como parecem, pois eles lhe deram
uma nova vida. Burnham concorda desde que veja a mente de Spock primeiro. A
visão de Spock começa com a fuga de Burnham pela floresta vulcana. O menino vê
tudo e percebe quando Burnham é perseguida por uma espécie de cachorrinho do
mato (um inseto que existe aqui na minha área) gigante. Spock fala com os pais,
que a salvam. Spock viu o anjo pela primeira vez ali naquela situação. Anos
depois, ele recebe um sinal para ir a um planeta remoto e se depara com o Anjo.
Ele faz um elo mental com o anjo e a cara de Burnham aparece (essa sequência dá
uma pista – que pode ser falsa ou não – de que Burnham seria mesmo o tal Anjo Vermelho);
logo depois, ela vê uma guerra com muitos planetas sendo destruídos,
extinguindo a vida na galáxia. Depois disso, a gente vê os dois irmãos batendo
muita boca, com Burnham levando a melhor em alguns momentos e Spock levando a
melhor em outros. Pelo menos me pareceu que Spock deu mais foras na Burnham (havia
muito mais em jogo do que uma mera querela familiar) e confesso que gostei da interpretação
do Ethan Peck também por causa disso. Ele foi bem contido, sem inventividades, fazendo
o arroz com feijão. E conseguiu convencer com isso, sobretudo com sua voz grave
que lembrava Nimoy e também o seu avô, o Gregory Peck, que daria até um bom
vulcano vendo essa interpretação de seu neto agora. Mas, voltando ao plot. Spock
dá a entender que o anjo tem pensamentos humanos, onde o desespero e a solidão dão
a tônica. Os talosianos ainda fazem Burnham ver o que aconteceu com Spock na
clínica psiquiátrica e viram que ele fugiu sem matar ninguém, apenas aplicando
o toque neural vulcano. Na Discovery, Saru diz a Pike que muitos dados estão
sendo enviados para um destino desconhecido e sem autorização. Pike pede que
Saru investigue quem manda esses dados para fora da nave. Ainda, Culber sai na
porrada com Tyler, com o consentimento de Saru e os dois param de brigar quando
um diz para o outro que não sabe mais quem é, ou seja, a briga foi boa no
sentido de que houve uma identificação entre os dois. Será que vai rolar algo?
Agora, que a pancadaria foi muito pior que o Mortal Kombat da Burnham com a
Imperatriz, ah isso foi! Como eles brigam mal!!! E, para piorar a situação,
Saru ainda disse ao capitão que deixou os dois brigarem, pois achava que era
assim que dois homens deviam resolver seus problemas, ou seja, mais uma questão
do macho alfa em pleno século 23 (até Culber quis ser macho alfa, só espero que
ele não vire homofóbico agora). Mesmo que digam que Kirk era o macho alfa por excelência,
ainda creio que tais equívocos do passado não precisavam se repetir aqui numa
série de 2018 falando do século 23. O machismo no futuro deveria ser encarado
na série como uma questão já superada e não colocada de forma tão escrachada
desse jeito para justificar um empoderamento feminino das personagens com mais
protagonismo. As coisas deveriam ser mais espontâneas ao invés de forçadas. Pelo
menos, Pike disse que essa situação não deve se repetir, já que a violência não
leva a nada e o código de conduta deve ser cumprido. Tenho gostado mais dessa
postura de capitão que o Pike tem tomado nos últimos episódios, pois a
tripulação da Discovery é rebelde demais e tem horas que o capitão realmente
precisa subir nas tamancas.
Vina again…
Voltando novamente ao
plot, Pike retorna para sua sala e reencontra Vina, que conversa sobre o passado
dos dois e mostra ao capitão uma transmissão subespacial onde Spock e Burnham o
põem a par de tudo. Pike decide ir para Talos IV depois da conversa com Burnham
e Spock, mas o motor de esporos foi sabotado. A culpa recaiu sobre Tyler, sob a
alegação de que ele queria manter a nave parada (tal como queria a Seção 31) e
que as mensagens foram enviadas por ele (acharam seus códigos de acesso na
transmissão das mensagens). Usando o argumento de que a Seção 31 faz técnicas
neurológicas invasivas e Tyler pode ter sofrido tudo isso sem saber, Pike o
confina a seu alojamento. E Airiam, com a maior cara de inocente, e as luzinhas
vermelhas piscando em seu olho. Em Talos IV, Spock e Burnham, pelo acordo com
os talosianos, devem compartilhar suas dores do passado. Burnham fugiu de casa,
pois era uma ameaça para a família por causa dos extremistas da lógica. Mas
Spock não queria que ela fosse embora. Assim, ela o ofendeu profundamente, para
que ele pudesse sentir raiva dela e ela poder ir embora. Ele disse que essa foi
uma atitude lógica e que o fez seguir seu caminho. Mesmo assim, o diálogo
mostra um ressentimento muito forte entre eles, o que deixa Burnham arrasada.
Emocionante reencontro com Pike…
A Discovery chega a
Talos IV com a nave de Leland em seu encalço, mesmo que Pike tenha tentado
despistar a Seção 31. As duas naves travam o transporte em Spock e Burnham,
podendo despedaçá-los. Pike recua, aconselhado por Vina, e deixa os dois irem
para a nave da Seção 31. Mas na verdade, a presença dos dois na nave de Leland
era uma ilusão talosiana e Burnham e Spock retornam para a Discovery na nave
auxiliar. Spock dá um pequeno sorriso ao rever Pike ao vivo (alusão ao sorriso de
Spock Nimoy em “A Jaula”). O episódio termina com a Discovery tendo que
resolver o problema do Anjo Vermelho (e da futura destruição de toda a vida na
galáxia) e ainda fugir da Seção 31 e da Federação, que estão em seu encalço.
Deixa os machos se entenderem!!!
O que podemos dizer
mais desse episódio? A gente pode considerar que esse foi o verdadeiro episódio
de estreia de Spock em Discovery, pois no episódio anterior seu estado meio
lunático ainda não dava para se tirar qualquer impressão do que seria Spock na
série. Retirando o fato de que sempre é bom ver Spock de volta, volto a dizer
que comprei a atuação de Ethan Peck. Alguns acham a atuação de Zachary Quinto
melhor. Talvez. Me parece que Quinto estudou mais o personagem, havendo a
vantagem dele ter podido interagir com o próprio Nimoy. O problema foi a
emotividade excessiva que Spock sofreu no Abramsverse. Agora, Peck faz um
feijão com arroz, sem muitos trejeitos e que rende bem, mesmo quando tem que se
passar por algumas falas ruins como vimos depois que os talosianos obrigam os irmãos
a reabrir as feridas do passado. Aquela fala onde ele deixa claro que perdeu
tudo foi bem desnecessária. A gente aceita até o momento em que ele diz que
mergulhou de cabeça na lógica para não ficar suscetível à experiências
emocionais como as que ele teve com Burnham, mas depois ele destrói esse
argumento dizendo que ele perdeu tudo, até a lógica. Típica coisa mal escrita
por causa de um exagero dramático. Pelo menos, espero que Discovery apresente
Spock de uma forma bem mais lógica do que emocional nos próximos episódios,
pois aqui ele soube levar as querelas emocionais com Burnham sem explosões de
paroxismo. Que continue desse jeito.
Um bom Spock…
A ideia de Talos IV foi
boa, pois além do fan service, o argumento de trazer de volta os talosianos foi
a capacidade deles de curar Spock e de ser um terreno propício para os dois
irmãos interagirem, ligando suas mentes. Ou seja, não se fez aqui um fan
service jogado de qualquer jeito. A argumentação para se trazer os talosianos
foi válida e encaixou bem na história do arco principal, aproximando mais
Discovery de Jornada nas Estrelas.
Confesso que ainda me
assusta a ideia de que o Anjo Vermelho pode ser a Burnham. Dar um protagonismo
excessivo à essa personagem é um dos problemas mais graves dessa série e a
história ir nessa direção só pioraria esse problema. Seria muito melhor a meu
ver um personagem inteiramente desconhecido como Anjo, mas pelo rumo que a
história está tomando (que o Anjo vem do futuro e é humano) parece que vai ser alguém
conhecido mesmo. Que os roteiristas da Discovery não sejam tão óbvios como na
temporada passada quando a característica klingon de Tyler ficou bem clara
muito cedo.
Relação ainda conflituosa com a irmã…
Agora, que está muito
engraçadinho a Airiam com a maior cara de inocente e dando uma volta em todo
mundo, ah isso está. Sei não, estou achando essa tripulação incompetente demais
para demorar tanto a detectar esse problema. Não se roda um diagnóstico nessa
nave e se detecta logo uma invasão do sistema? Eles pelo menos poderiam ter
detectado o problema e já começado a investigar demorando um tempo até chegar a
Airiam. Do jeito que está, do tipo, “ah, tô enganando todo mundo!” pega meio
mal.
… mas, para sacanear a Seção 31, vale até uma aproximação…
No mais, a coisa da
Discovery agora estar contra tudo e contra todos, com a Seção 31 e a Frota
Estelar juntas atrás da nave como vilãs, dá um ingrediente novo à história,
embora isso não tenha a menor cada de Jornada nas Estrelas, devo dizer. Primeiro
que a Seção 31 é ultrassecreta originalmente e aqui ela é mais conhecida
(desculpem a piada infame) que o agente secreto português Manoel do terceiro
andar (todo mundo sabe quem é). E mais: a Federação e a Frota Estelar, utópicas
como elas só, seriam tão distópicas agora? Muito esquisito isso. Por isso que
eu começo a entender Discovery como uma livre adaptação de Jornada nas
Estrelas, sem a menor necessidade de seguir qualquer cânone, assim como
aconteceu no Abramsverse. Só gostaria que os roteiristas e os vários showrunners
(já estamos chegando ao quinto, caramba!) pensassem o mesmo, pois engolir
algumas coisas goela abaixo como cânone está sendo sofrível.
De qualquer forma, “Se
Não Falha A Memória” foi um bom episódio. Tivemos um bom fan service e um bom
Spock. A nave agora segue como uma renegada, perseguida por todo mundo, e fica
a expectativa em cima da Airiam e de Culber. E que o Stamets tenha melhor
sorte, tadinho. Deu dó dele nesse episódio.