Batata Séries – Jornada Nas Estrelas Discovery (Temporada 2, Episódio 6) “O Som Do Trovão”. Saru Nervoso.

Saru tenta dar uma força para Culber…

O sexto episódio da segunda temporada de “Jornada nas Estrelas Discovery”, “O Som do Trovão”, confirma uma tendência na série esse ano. Episódios bons, ou razoavelmente bons, são alternados por episódios mais fracos. A bola da vez aqui é um bom episódio, obviamente com alguns problemas, e que tem novamente Saru como a figura central (por que será que, nos bons episódios de Discovery Saru sempre tem um destaque?).

Opa, de quem é o comando???

Bom, vamos ao plot. Um novo sinal brilhante aparece justamente em cima de Kaminar, o planeta dos kelpianos. A Discovery vai lá para investigar, mas os ba’uls não respondem às frequências de saudação. Pike decide então enviar Burnham para a superfície para interagir com uma aldeia kelpiana e seu pastor, uma espécie de porta-voz entre os kelpianos e os ba’uls que existe em toda a aldeia kelpiana. Mais uma vez teremos a violação da Ordem Geral Um (é usado o argumento de que eles precisam saber o que é o anjo vermelho, que a missão é muito importante, etc). Saru, um pouco ansioso, quer ir, mas Pike acha que seu primeiro oficial ainda não está lidando bem com as mudanças em seu organismo (espinhos apareceram no lugar dos gânglios de medo e Saru parece cada vez mais descolado de qualquer medo e com uma agressividade crescente). Saru peita Pike na ponte e Burnham (sempre ela) coloca panos quentes, dizendo que Saru será importante no contato com os locais, pois a moça é uma alienígena para eles. Na superfície do planeta, Saru encontra Siranna, sua irmã, que agora é pastora e está revoltada com o desaparecimento do irmão, em virtude do medo de retaliações dos ba’uls, que poderiam achar que ele fugiu da sua imolação para o Grande Equilíbrio. A aldeia é chacoalhada por um ataque dos ba’uls e Saru e Burnham retornam à Discovery. Os ba’uls contactam a nave. Eles querem Saru de volta para que se restaure o Grande Equilíbrio, deixando o kelpiano louco de raiva e, ao mesmo tempo, desesperado pois seu povo pode ser atacado a qualquer momento. Pike finalmente coloca ordem na casa e ordena que Saru saia da ponte. Este vai para a sala de transporte e se teletransporta para se entregar. Mas se materializa dentro de algo que parece ser uma construção ba’ul. Siranna também é teletransportada para lá. Enquanto isso, Burnham e Tilly descobrem, com os dados da esfera do episódio “Uma Moeda Para Caronte”, que depois que os kelpianos passavam pelo vahar’ai no passado, eles ficavam muito agressivos e matavam os ba’uls, logo eram esses últimos a verdadeira presa. Os ba’ul então exterminaram os kelpianos pós-vahar’ai e passaram a matar os demais quando chegavam na iminência do vahar’ai, fazendo o Grande Equilíbrio. Saru consegue, depois de se revoltar contra os ba’uls, entrar em contato com a Discovery e eles têm a magnífica ideia de acelerar o vahar’ai de todos os kelpianos do planeta, à despeito da Ordem Geral Um mais uma vez, para mostrar aos ba’ul que os kelpianos também têm um lado racional no pós-vahar’ai. Pike chega até a questionar se isso não será perigoso, mas Burnham diz que os ba’ul têm uma tecnologia mais avançada e o vahar’ai abreviado não seria um perigo para eles. Entretanto, ao perceberem o plano da Discovery, os vahar’ai acionaram seus totens nas aldeias kelpianas para destruir todos os seus habitantes. É nessa hora que o anjo vermelho entra em ação e desativa as armas dos ba’uls. Saru consegue ver o anjo vermelho com sua visão mais aguçada e constata que ele tem uma forma humanoide feminina, com um traje mecânico e com uma tecnologia mais avançada que a da Federação. Siranna retorna à sua comunidade e começa a trabalhar um novo equilíbrio, não sem antes fazer as pazes com o irmão.

Saru, nervoso, peita Pike que, finalmente, dá uma resposta à altura…

O que esse episódio tem de coisas positivas? Em primeiro lugar, ele tem como referência o melhor Short Trek, “The Brightest Star”, onde vemos como Saru saiu de seu planeta, além de conhecermos a existência dos ba’uls e do Grande Equilíbrio. Se naquele curta a gente via a coisa de forma muito maniqueísta, com os ba’uls sendo os predadores malvados e os kelpianos as presas vítimas, aqui a coisa foi problematizada e passamos a compreender a importância dos ba’uls manterem o equilíbrio, mesmo que não concordemos com a matança dos kelpianos. Só foi uma pena a gente não ver especificamente a criação de uma nova ordem, onde os kelpianos e os ba’uls deveriam se encontrar para estabelecer acordos e termos. De qualquer forma, se os roteiristas de Discovery tiverem suas cabecinhas iluminadas, esse episódio poderia dar uma boa sequência no futuro, ou seja, a Discovery poderia voltar lá depois de alguns meses e ver como está o andamento desse novo equilíbrio. Novos conflitos, por exemplo, poderiam surgir, e Saru, junto com Siranna, poderiam ter um papel determinante na resolução desses conflitos, ao invés de Burnham sempre resolver tudo. Assim, aquela relativização que víamos nas séries antigas de Jornada nas Estrelas aparece aqui envolvendo o personagem mais solene, que acaba saindo de sua zona de conforto por estar sentindo as transformações em seu organismo, perdendo o medo que define sua espécie e caindo numa agressividade que ele precisa aprender a controlar. Esse elemento novo deixou Saru muito mais interessante.

Saru encontra Siranna. Vamos tomar um chá?

Podemos falar, também, um pouco de Pike. Nesse episódio ele foi mais capitão e tomou mais as rédeas da situação. Dava dó de ver como sua autoridade foi um tanto desrespeitada nos últimos episódios (chegou uma hora em que a tripulação trabalhava na ponte em momentos de crise sem lhe dar a mínima satisfação e ainda aparecia um close da cara dele embasbacado; isso é muito tiro no pé, ao invés de um suposto alivio cômico, o que parece ter sido a intenção aqui). Dessa vez, ao contrário, ele falou de forma grossa com os ba’uls, mas também foi diplomático quando preciso, indo bem ao estilo de um capitão da frota. E, principalmente, deu um grito em Saru depois de todos os seus chiliques e uma clara afronta de autoridade em plena ponte. Definitivamente, Pike merece mais respeito e ele fez se impor dessa vez.

Culber e Stamets. O médico se sente estranho…

E Culber? Eu disse na análise do último episódio que gostei da volta do médico, à despeito da forma miraculosa como a rede micelial fez isso. E por que eu gostei? Por que isso pode trazer mais Stamets para a série, que é um personagem bem interessante, e sem a necessidade dos micélios a tiracolo. E parece que o episódio começou a tatear isso, pois Culber é uma cópia perfeita do original, mas ainda assim não é o Culber propriamente dito. Isso provoca um certo conflito no médico, que pode ainda trazer problemas para a relação entre ele e Stamets. Provavelmente virá algo por aí nesse sentido.

Agora, vamos aos problemas. Em primeiríssimo lugar, mais uma vez a Ordem Geral Um foi vilipendiada aqui, sempre com o argumento de que se deve descobrir o que é o anjo vermelho e o pulso de energia, o que levou Burnham e Saru a entrar em contato com a civilização pré-dobra dos kelpianos. Mas isso foi o de menos, pois houve uma violação pior, muito pior, que foi justamente acelerar o vahar’ai dos kelpianos para provar que eles podiam interagir pacificamente com ao ba’uls mesmo depois da transformação. A coisa não poderia, em hipótese nenhuma, ser feita desse jeito, pois houve uma alteração direta nos corpos dos seres daquela civilização sem qualquer autorização deles. É a mesma coisa que alguns médicos um tanto malthusianos fazem de esterilizar mulheres pobres depois que elas dão à luz, sem o conhecimento delas. Ninguém tem propriedade sobre o corpo de ninguém e isso extrapola a violação da Ordem Geral Um. Talvez a saída aqui fosse alguns kelpianos terem passado pelo vahar’ai no momento de crise (colocando-se que o Grande Equilíbrio momentaneamente não estivesse sendo cumprido) e aqueles kelpianos pós-vahar’ai, juntamente com Saru, convencessem os ba’ul de que a convivência poderia ser pacífica. De qualquer forma, dá para perceber que toda essa querela entre as duas civilizações não pode ser resolvida em somente um episódio de forma muito enxuta. Ela poderia ser perfeitamente mais bem trabalhada num segundo episódio no futuro. Caso contrário, fica a impressão de um desfecho falso.

Saru e Siranna fazem as pazes, depois de muitas turbulências…

Uma coisa que me assusta é o que anjo vermelho poderia ser. A sua forma feminina gerou especulações de que poderia ser Burnham vindo do futuro resolvendo algum problema, já que os sinais e o anjo teriam alguma coisa a ver com viagens temporais, como tem sido ventilado nos episódios. Sei não, esse negócio de colocar importância demais na protagonista não é algo que será bom para a série. Já falei aqui que gosto da Burnham quando ela está mais fragilizada e interage mais com a tripulação. Para mim, não há problema em ela chorar tanto desde que ela desça um pouco do pedestal em que a colocaram. Achava melhor que o anjo fosse algo completamente novo, quem sabe até um elemento para ser melhor desenvolvido na terceira temporada. Espero que os roteiristas não estraguem essa ideia do anjo que, confesso, acho boa em seu mistério.

Um ba’ul. Argh!!!

Dessa forma, mesmo com alguns problemas, o episódio “O Som do Trovão” foi relativamente bom a meu ver, pois pegou e desenvolveu a boa ideia mostrada em “The Brightest Star”, confirmando que Saru é realmente um dos personagens mais interessantes da série. Só espero agora que não tenhamos outra bomba no próximo episódio, até porque a terceira temporada de Discovery já está confirmada e a série precisa de mais regularidade. Tempo para isso ela vai ter. Mas a produção dela precisa ser sem percalços, não havendo demissões, remontagens ou refilmagens, pois isso passa a impressão de que a série é uma enorme colcha de retalhos. E fica feio, depondo contra ela mesma. Vamos ver o que vem por aí.

https://www.youtube.com/watch?v=LuhH9JNF8AA

Batata Séries – Jornada Nas Estrelas Discovery (Temporada 2, Episódio 5) “Santos Da Imperfeição”. Micélios, Micélios, Micélios.

Georgiou de volta!!!

O quinto episódio da segunda temporada de “Jornada nas Estrelas Discovery”, “Santos da Imperfeição”, foi mais fraquinho do que o anterior. Mas trouxe algumas pontas geradas lá no terceiro episódio. E também trabalhou novamente com a rede micelial que, uma hora, precisa ser fechada e limada da série, dado o seu absurdo até como ficção científica. Mas foi um episódio que também teve alguns pontos bons, como a volta do Dr. Culber, apesar da ópera do absurdo orquestrada em torno disso.

Tilly e a sua amiguinha caçando um monstro…

Bom, vamos ao plot. Ele começa com mais um daqueles intermináveis monólogos da Burnham (pensei que eles já tivessem desistido disso, mas não), até que a Discovery consegue interceptar a nave de Spock que resiste a uma tentativa de comunicação. Depois de conseguir desabilitar a nave do Vulcano, o teletransporte é acionado e é a Imperatriz que aparece. Ela diz que faz parte da Seção 31 e que tinha a missão de interceptar Spock, mas que ele já havia desaparecido da nave quando ela chegou. Leland, o capitão da nave da Seção 31, pede a Pike que libere a Imperatriz e deixará Tyler na Discovery como observador, já que Spock é próximo do capitão e é irmão de Burnham. Enquanto isso, Stamets descobre, usando Lavoisier, que Tilly foi teletransportada pelo fungão para a rede micelial. A moça está realmente lá e encontra a sua amiguinha esquisita May, que diz que a rede micelial está morrendo pela ação de um monstro. A criatura teria chegado depois das intervenções de Stamets na rede micelial. Stamets propõe um mergulho parcial na rede micelial para procurar Tilly, mas os micélios atacarão o casco que vai aguentar por uma hora. Com o mergulho da Discovery na rede, Tilly e sua amiguinha entram na nave. O monstro também entra na Discovery. Elas vão encontrar Stamets e Burnham, contando a história do tal monstro. Gritos ecoam pela nave e acham a criatura que é… Hugh Culber! Ele está coberto por uma casca de árvore que é letal para os micélios. O problema é que os micélios tentavam interagir com o corpo de Hugh e o queimavam. Assim, Hugh cobriu seu corpo para não ser atacado. Hugh sobreviveu pois, quando Stamets achou o corpo do médico, eles estavam imersos na rede micelial e a energia do corpo de Hugh passou para o corpo de Stamets (termodinâmica, foi o que disseram). Mas ao tentar atravessar da rede micelial para nosso espaço, Hugh não conseguia, pois era feito de matéria da rede micelial. Assim, a solução, proposta obviamente por Tilly e Burnham, era pegar uma amostra do DNA de Hugh e colocá-la no fungão para sintetizar o corpo de Hugh no nosso espaço, embora isso fosse fechar o portal para a rede micelial. Enquanto tudo isso acontece, a Discovery está em perigo e recebe a ajuda da nave da Seção 31, através do uso do raio trator, depois de uma “ligadinha” de Tyler, Já livre do perigo, os tripulantes da Discovery vão ao fungão e conseguem retirar Hugh de lá, para a alegria de Stamets (que fofo!). A almirante cara de empada da primeira temporada retorna e dá ordens explícitas a Pike e a Leland para procurarem Spock juntos. O episódio termina com mais um monólogo interminável de Burnham.

Stamets e Culber de volta juntos…

Vamos lá. O que podemos dizer dessa história? Ela até é uma ficção científica relativamente interessante, não fosse os tecnobabbles que encucaram um pouco a coisa. Por exemplo, Hugh não morre pois passa sua energia por termodinâmica para Stamets e quando este está na rede micelial essa energia é transferida para lá e se manifesta no formato de Hugh novamente. Meio louco. Se bem que Spock também ressuscitou no Planeta Gênese. Mas aqui parece um pouco forçado. Ainda mais quando Hugh não consegue atravessar para o espaço comum e uma amostra de seu DNA é extraída para entrar em contato com o fungão e materializar um Hugh novinho em folha. Taí o exemplo de uma ficção científica demasiadamente forçada de forma desnecessária. Teria sido melhor o médico atravessar do espaço micelial para o normal. Entretanto, Burnham disse que isso poderia matar as pessoas todas distorcidas se ocorresse. Como eles atravessaram então? Por que na gaiola do Stamets esse efeito de distorção não ocorre? Percebe-se que o uso indiscriminado de tecnobabbles acaba provocando uns furos meio esquisitos. Tudo poderia ser um pouco mais simplificado aqui a meu ver. Fica difícil até para o espectador acompanhar a lógica de tanta tecnobaboseira. Apesar de tudo isso, gostei da volta de Hugh Culber, ainda mais por causa do Stamets, que é um ótimo personagem que deveria ser mais aproveitado. Quem sabe isso não acontece, pois temos finalmente um par romântico estável novamente nessa série e que muito provavelmente não vai rolar DR, já que eles adoram falar de ópera?

Esse também foi um episódio com uma Tilly e uma Burnham menos boladonas. O resultado disso? Tilly já voltou a ter uma fala constrangedora (a do rifle do grau 3) e os monólogos difíceis de engolir da Burnham deram o ar de sua graça. Ainda acho que essas duas personagens, que têm mais tempo de tela que os demais personagens da nave, devem interagir mais com eles, dando um espírito de camaradagem e companheirismo à toda a tripulação. Isso é fundamental em “Jornada nas Estrelas” e víamos tal situação nas outras séries. Sim, sei que na série clássica havia uma atenção maior na tríade Kirk-Spock-McCoy, mas os demais personagens da série não eram tão esquecidos quanto alguns que vemos em “Discovery” (novamente todos aqueles personagens da ponte, que deviam ser mais acionados nos episódios).

A coisa da Seção 31 se aliar à Discovery (compulsoriamente, diga-se, por ordem direta da almirante cara de empada) pode ser algo interessante a meu ver, se for bem escrito. Está parecendo que a nossa Imperatriz quer pegar o Spock primeiro para poder abrir sua caixa de ferramentas de maldades contra o Vulcano. E aí, a busca por Spock vai mais se tornar uma competição entre a Discovery e a Seção 31, introduzindo aí um elemento dramático novo nessa parte da série. Se isso for usado de forma inteligente (o que nem sempre acontece em “Discovery”), pode dar bons frutos. Mas, ainda falando da Imperatriz: como ela disputou com Burnham o prêmio de “caras e bocas da semana”! As mordidas que Georgiou deu naquela maçã se travestindo de princesa do pecado, para depois ainda imitar uma cobrinha na cara de Burnham foram o suprassumo da vergonha alheia, mesmo com a Michelle Yeoh sendo uma excelente atriz. Da mesma forma que Burnham ficou com a boca aberta, sem sair uma palavra, pois foi impedida por Pike de retrucar uma provocação de Leland, o capitão da nave da Seção 31.

A almirante cara de empada voltou!!!

Por fim, mais uma palavra rápida sobre os micélios. Assim como os hologramas serão substituídos por telas para se adequar ao cânon da série clássica, uma hora essa rede micelial terá que ser chutada para escanteio também. Parece que os roteiristas já estão preparando a cama para isso. Eu realmente espero que aconteça logo, pois esses micélios estão ficando cada vez mais complicados e implausíveis, ainda mais depois desse episódio. Um tecido vivo que está no subespaço e permeia todo o multiverso é algo determinístico demais para o Princípio da Incerteza de Heisenberg, cuja teoria justamente trabalha o multiverso dentro de um contexto mais probabilístico. Agora, a rede micelial ainda pode trazer a vida de volta, associado com termodinâmica? Isso não é mais ficção científica, é uma papagaiada exponencial de quem quer fazer algo espetacular demais e erra na mão. Está na hora de abandonar essa ideia. Uns buraquinhos de minhoca artificiais criados por uma civilização alienígena não seriam de todo ruim perto desse monte de cogumelos. Aliás, cogumelos aqui estão no chá dos roteiristas que criaram a rede micelial.

Chega de micélios pelamordedeus!!!!!

Dessa forma “Santos da Imperfeição” é um episódio de “Jornada nas Estrelas Discovery” que têm virtudes mais pela volta de Hugh e pela Seção 31 no encalço da Discovery em sua busca por Spock. E seu problema está na famigerada rede micelial, cada vez mais implausível e que deve ser abandonada o mais rápido possível. Esperemos que os roteiristas estejam de comum acordo e já estejam preparando a tecla eject dos micélios, que foi um pouco o que pareceu aqui nesse episódio. Vamos ver o que vem por aí.

https://www.youtube.com/watch?v=3KEVU-v-hYk

Batata Séries – Jornada Nas Estrelas Discovery (Temporada 2, Episódio 4) “Uma Moeda Para Caronte”. Uma Forte Referência.

Salvando Burnham…

O quarto episódio de “Jornada nas Estrelas Discovery”, “Uma Moeda Para Caronte” foi um episódio muito bom, talvez o melhor de todos dessa série até agora. Tudo bem, eu sei que outras análises virão e elas vão apontar problemas que o episódio tem (como acontece em tudo na vida, onde existem virtudes e defeitos). Mas eu confesso que estou preferindo aqui buscar mais pontos positivos de “Discovery” e especular como eles poderão ser trabalhados melhor no futuro. Só há uma coisa que está incomodando um pouco. É o segundo episódio seguido que se desvia do arco principal, que está nos sinais ao longo da galáxia e do anjo vermelho. Só espero que eles não façam com esse arco o mesmo que fizeram com a guerra com os klingons na primeira temporada, que se propunha ser o arco principal e que praticamente não existiu.

Saru, uma participação importantíssima nesse episódio…

Mas vamos ao plot desse episódio. A Discovery conseguiu a localização da nave de Spock e a está perseguindo. Mas ela é impedida de continuar por uma grande esfera que se mostra um organismo vivo e infecta a nave com um vírus que produz sobrecargas elétricas e sérias avarias nos sistemas. Para piorar a situação, Saru adoece e ele diz que seu mal é terminal, o que afeta demais Burnham. Stamets e Reno (isso mesmo, ela está de volta!) conseguem retirar a sobrecarga da nave e Saru e Burnham desenvolvem uma espécie de anticorpo digital que ataca lentamente o vírus. O fungão do episódio anterior se prende a Tilly e Stamets inicia uma comunicação com ele (depois de meter uma furadeira na cabeça da moça para injetar um implante de comunicação). O fungão, então diz que é de uma espécie que vive na rede micelial e que os saltos da Discovery estão provocando sérios problemas no seu mundo. Stamets se desculpa e diz que vai consertar tudo, mas o fungão não solta Tilly e, pelo contrário, a envolve completamente. Stamets consegue tirar Tilly do fungão com um maçarico. Mas o fungão libera uma substância que deixa todo mundo doidão. Quando Stamets inocula um remédio nele e em Reno que neutraliza as alucinações, ele percebe que Tilly foi novamente capturada pelo fungão. Quando Stamets o abre novamente, só vê uma cavidade e a mocinha desaparece. Burnham, ao ver a tentativa de comunicação com o fungão, tem o insight de que de repente a esfera está tentando se comunicar com a nave através do vírus. Ela passa essa informação para Saru e este crê que a esfera, que tem 100 mil anos, está morrendo e quer passar suas experiências de vida para a nave. Ela estaria morrendo pois, como Saru também está morrendo e sua espécie kelpiana é altamente empática, seu corpo estaria se apropriando da fase terminal da esfera. Depois de muito custo, Saru e Burnham convencem Pike a baixar os escudos para que o vírus entre totalmente na nave e transmita as informações da história de vida da esfera, que está prestes a explodir. Quando os dados são totalmente transmitidos, a esfera explode, mas antes ela empurra a Discovery para salvá-la e a seus dados de experiência de vida. A última coisa que a esfera registrou foi justamente a posição de Spock e a Discovery pôde continuar a seguir a nave do vulcano. Burnham vai com Saru aos aposentos do kelpiano e ele pede que a moça corte seus gânglios inflamados para que ele possa morrer antes da dor e da loucura ficarem insuportáveis. Burnham chora muito e Saru a conforta, dizendo que ela é uma espécie de irmã, pois não conseguiu se despedir de sua irmã verdadeira. E Saru ainda pede que Burnham faça as pazes com Spock. Mas, quando Burnham vai cortar os gânglios, eles caem e Saru se cura, perdendo o medo, se tornando mais forte e, principalmente, inconformado com o papel de presa que seu povo kelpiano faz há eras. Depois da conversa com Saru, Burnham, que queria evitar Spock, por respeito a posição resignada dele com relação ao contato com ela, muda de ideia e quer procurá-lo.

Reno. Bem vinda de volta!!!

Quais são as virtudes do episódio? Em primeiro lugar, mais uma referência, desta vez bem forte, ao Universo de Jornada nas Estrelas. Falo isso com relação à esfera que é uma forma de vida e que quer se comunicar. Impossível não se lembrar de V’Ger ou da Orta, mesmo que a comunicação das duas com os integrantes da Federação tenha sido feita sob outras circunstâncias. Mas a intenção da esfera viva querer preservar a sua memória e deixar seus registros se perpetuarem, é também um tema muito caro às séries antigas de “Jornada nas Estrelas”, algo que acabou fisgando o meu coração de historiador. Assim, vemos que “Discovery” vai, paulatinamente e cada vez mais, se aproximando do que víamos antigamente em “Jornada nas Estrelas”. A outra grande virtude é uma espécie de sequência do que vimos no episódio anterior, no que se refere às personagens Burnham e Tilly. Eu disse na resenha anterior que essas duas personagens funcionam bem melhor num estado fragilizado e sob pressão. E o presente episódio se aprofundou nisso. Totalmente subjugada pelo fungão, Tilly estava visivelmente aterrorizada, mas sob controle de si, deixando de ser totalmente um alívio cômico nesse episódio. Talvez tenha sido a melhor atuação de Mary Wiseman em toda a série até agora. Outro elemento que funcionou muito bem nesse núcleo da Tilly foi a relação entre Stamets e Reno, uma bela aquisição de personagem para a série e cuja ausência desde o primeiro episódio já muito me incomodava. Se, inicialmente, os dois não se bicaram muito, a força das circunstâncias da invasão da esfera à nave fez com que os dois trabalhassem em equipe bem rapidamente. E houve uma química muito boa entre eles, sem considerar o quê alucinógeno e psicodélico desse núcleo, com direito a Prince e “Space Oddity”, do David Bowie.

Agora, uma grande virtude, dentro da missão principal de Discovery de “resgatar Burnham” esteve na relação desta com Saru. Tudo bem que depois da presença de Doug Jones no Brasil e de toda a tietagem explícita que os fãs fizeram com ele, assim como sua resposta muito calorosa, fazem a gente ver Saru com outros olhos. Mas, mesmo assim, esse foi um episódio muito importante para Burnham e Saru teve um papel determinante nisso. Se com Amanda no episódio anterior, Burnham já ficou fragilizada emocionalmente, aqui a coisa foi muito mais forte, pois seu amigo bem próximo estava morrendo e ela ainda foi elencada por ele a “desligar os aparelhos”. O choro que ela dá à frente de Saru na suposta hora derradeira do kelpiano convenceu bastante e serviu para fortalecer o elo entre os dois. Na minha modestíssima opinião, esse é o caminho certo para tornar a personagem querida do público. Ao invés de ser uma mulher perfeita que dita procedimentos aos seus colegas e se veste de uma certa arrogância, ela deve se envolver mais com os seus e dividir os louros como fez com Saru no episódio. Vejam bem que, desta vez ela não salvou o dia sozinha e contou com uma baita de uma ajuda do Saru, que estava ali no sacrifício. E, depois, ainda tivemos uma terna conversa entre os dois. Isso sim é usar a Burnham de forma inteligente. Eu, como fã confesso de Yamato (a antiga Patrulha Estelar da Manchete, lembram-se?) gostava muito daquele desenho animado (anime é coisa para os mais novinhos) muito em função do espirito de equipe da tripulação e de como eles se viam como uma enorme família ao invés de militares. Esse espírito também está nas séries antigas de “Jornada nas Estrelas” e precisa estar aqui em “Discovery”. O vínculo entre Saru e Burnham foi tão bem elaborado aqui que ele fez referências ao Short Trek “The Brightest Star” e Saru ainda convenceu a moça a fazer as pazes com seu irmão Spock, usando a relação com sua irmã kelpiana como argumento. Essas coisas realmente estavam fazendo falta na série.

Stamets busca salvar uma Tilly que, finalmente, saiu do ridículo…

Bom, até agora só falei de virtudes no episódio. E os defeitos? Bom, infelizmente tenho um nome para isso: Pike. O nosso capitão ficou mais uma vez caladão enquanto a tripulação trabalhava para solucionar a crise da esfera e se opôs fortemente a baixar os escudos, quando deveria ter sido mais ativo no debate com Burnham e Saru e ter decidido logo a questão. Um Kirk ou Picard e até o Pike do Hunter teriam sido bem mais rápidos aqui. E me desagradou um pouco novamente o quê religioso de Pike quando ele diz que o conhecimento de 100 mil anos sobre a galáxia que a esfera tinha se equivalia aos “Manuscritos do Mar Morto da Galáxia”. Sem querer fazer pouco caso dos Manuscritos do Mar Morto (que era de um grupo judeu que queria lutar contra a presença romana e se refugiou para esperar um líder guerreiro chamado Messias – aí poderiam estar as primeiras bases do Cristianismo), mas o conhecimento de cem mil anos de uma galáxia inteira parece ser algo bem maior e não cabe na comparação que a mente excessivamente religiosa desse Pike faz. Gostaria de ver uma mentalidade clássica de capitão aqui, se é que vocês entenderam meu trocadilho infame.

Bom, esse foi “Uma Moeda Para Caronte”. O episódio foi tão bom que até o título lembra aqueles títulos altamente literários da série clássica. Vamos ver se a coisa va continuar melhorando no próximo episódio. E veja o trailer clicando no link abaixo

https://www.youtube.com/watch?v=V3HiQnXdFuI

Batata Séries – Jornada Nas Estrelas Discovery (Temporada 2, Episódio 3). Ponto De Luz. Personagens Surtadas Funcionam Melhor.

Uma klingon mais cabeluda e matrona…

O terceiro episódio de “Jornada nas Estrelas Discovery”, “Ponto de Luz”, trouxe novos elementos. E elementos bons, na minha modesta opinião. Quais seriam eles? Em primeiro lugar, é um episódio que praticamente desenvolve quatro histórias paralelas, o que deixou um monte de pontas soltas que podem ser bem desenvolvidas no futuro. Ainda, nessas histórias vimos explicações que buscaram corrigir problemas gerados por roteiros mal escritos na primeira temporada. E, principalmente, desenvolveu-se mais personagens problemáticos (leia-se Burnham e Tilly) indo em suas fraquezas e fragilidades, o que foi bem interessante.

Ainda o amor com Tyler…

Vamos lá. Que quatro histórias foram essas? A primeira gira em torno de Burnham e Amanda, que apareceu de surpresa para falar de Spock com a filha adotiva. Mesmo que a mamãe Amanda pareça mais jovem que a filha adotiva, devo dizer que gosto muito de como a personagem está sendo levada pela atriz Mia Kirshner. Amanda chega à Discovery para dizer a Burnham que não teve acesso aos dados médicos de Spock e fez a coisa mais lógica a fazer, que foi roubá-los, o que levou Burnham a fazer uma tremenda cara de “Ai, caramba!” que ficou muito engraçada. As duas vão a Pike e pedem permissão a ele para decodificar os dados. O capitão reluta num primeiro momento, mas depois de receber uma recusa da informação sobre a saúde de Spock do centro psiquiátrico, ele decide decodificar os dados. Spock matou três médicos e fugiu, foi a única informação que Pike recebe do centro psiquiátrico. Ao decodificar os dados, foi encontrada a imagem do anjo. Amanda disse que Spock tinha visões sobre isso que o perturbavam imensamente e que ele teve uma infância muito desprovida de emoções e afeto por pressão da sociedade vulcana, o que não aconteceu com Burnham. Já Burnham disse que também viu o anjo e que precisou se afastar de Spock, já que ela era ameaçada por extremistas da lógica. O problema foi a forma como Burnham se afastou de Spock, que o magoou imensamente, mas que não foi revelada no episódio. Burnham diz que vai procurar Spock de qualquer maneira, mas Amanda lhe mete um freio e diz que ela mesma procurará o filho.

A segunda história mostra L’Rell e Tyler sendo questionados pelas casas klingons em seu poder. Como Tyler tem uma tremenda cara de humano, há forte oposição das casas, além do fato de que o machismo klingon vê L’Rell como um fantoche nas mãos de Tyler, que avisa a Burnham o que está acontecendo, pois a Federação deve saber que, se L’Rell cair, a guerra voltará. Para piorar a situação, revela-se um filho entre L’Rell e Tyler, que será sequestrado. Depois de uma batalha mortal pelo resgate do filho, um estranho personagem se revela ao salvar L’Rell, Tyler e o bebê: é a Imperatriz, que propõe a L´Rell uma medida definitiva para salvar Tyler, o bebê e manter o cargo de chanceler nas mãos da Klingon.

A terceira história gira em torno de Tilly, que pira na batatinha com sua amiguinha imaginária, que na verdade se revela uma espécie de fungo multidimensional, sendo extraído de seu corpo por Stamets. Esse fungo é aquele esporo que pousou no ombro da alferes ainda na primeira temporada. O mais curioso é que o fungo em questão acha que Stamets é o capitão da nave por ele conduzir o motor de esporos. O fungo é extraído de Tilly e se revela uma enorme maçaroca disforme (argh!) sendo aprisionado num campo de força.

Amanda e Burnham. Para a construção da protagonista…

E a quarta história, que aparece bem ao finalzinho do episódio? L’Rell diz que foi traída por Tyler e que ele assassinou seu filho, além do klingon com cara de humano ser um espião da Federação. Ela mostra a cabeça do bebê assassinado por Tyler e a cabeça do próprio Tyler. Ainda, ela disse que um membro de uma casa que na verdade sequestrou o bebê, tentou matar Tyler, mas acabou assassinado por ele. Esse foi um argumento usado em favor de uma prova de harmonia entre as casas. Com isso, ela conseguiu unir todas as casas em torno dela, que se nomeou uma espécie de matrona klingon ao invés de chanceler. Depois desse momento, uma nave da Federação aparece com a Imperatriz, Tyler e o bebê em seu interior. Essa nave é da Seção 31, para quem a Imperatriz trabalha agora. Tyler envia o bebê para um monastério klingon, onde a entrada de todos é proibida e a criança poderá viver em segurança. O episódio termina com a Imperatriz arregimentando Tyler para as fileiras da Seção 31.

Ufa! Episódio movimentado, não? O que mais gostei aqui é que inúmeras possibilidades foram abertas para se escrever ótimas histórias. Agora, se isso vai acontecer ou não, já é outro caso. Com relação a quarta história, estava na cara que a Imperatriz ia cair na Seção 31 mesmo (queria só ver como foi a entrevista de emprego) e esse elemento (uma vilã dentro do ambiente da Federação com Tyler a tiracolo, o que desestabilizaria Burnham emocionalmente ainda mais), pode ser uma excelente carta na manga para os próximos episódios. Sem falar que Michelle Yeoh, que é uma baita de uma atriz, sempre que aparece abala bem as estruturas.

Com relação aos klingons, já mais cabeludinhos, mais com cara de klingons (apesar de L´Rell e Tyler ainda falarem “Khalexxx”), creio que foi uma história muito importante para reparar uma derrapada homérica de roteiro no final da primeira temporada, pois não colou nem um pouco aquela historinha de L’Rell conquistar a chancelaria klingon com uma bomba que explodiria tudo. Para assumir o posto de matrona klingon, a presença da Imperatriz foi fundamental. Ela é quem deu a solução salomônica para L’Rell conquistar o poder e não ser mais questionada. Ainda, esse bebê klingon escondido lá no monastério pode ser uma carta na manga para episódios em temporadas futuras (se elas existirem). Eu só espero que o núcleo klingon permaneça na série e interaja com o arco principal do anjo vermelho e dos sinais da galáxia. Já a L’Rell matrona, eu confesso, ao contrário de muitos trekkers mais cascudos que eu, que gostei, pois estabeleceu um quê de matriarcado na sociedade klingon. Tudo bem, eu sei que ele não existe ao longo de toda a franquia (leve exceção feita às irmãs Duras), mas na minha cabeça de historiador a visão dos klingons em Jornada nas Estrelas sempre perpassou dois momentos. Durante a Guerra Fria, eles eram os antagonistas perfeitos da Federação, sendo uma alegoria do Império Soviético. Isso foi até “Jornada nas Estrelas VI, a Terra Desconhecida”, quando vimos o desfecho da “Guerra Fria” entre a Federação e os klingons. A partir daí, passa a haver um segundo momento para os klingons, onde eles se aproximam muito mais da cultura árabe e sua vocação guerreira, com cânticos e poesias celebrando batalhas gloriosas à luz das fogueiras noturnas. Mais tarde, com a introdução de Khaless, a visão klingon flerta até com o islamismo. Eu, pelo menos, nunca vi ninguém criar coragem para mencionar isso no Universo trekker, muito pelo fato, creio eu, de que a cultura árabe e muçulmana é vista como inimiga declarada dos Estados Unidos por algumas pessoas. Mas os elementos estão todos lá. E o que a matrona L’Rell tem a ver com tudo isso? É que suspeita-se que a cultura árabe em seus primórdios tenha sido matriarcal para posteriormente ser patriarcal. Se a L’Rell matrona foi concebida por esse motivo ou pelo empoderamento feminino atual, eu não sei. Provavelmente foi mais pelo último. De qualquer forma, fica o registro da curiosidade.

Uma Tilly zureta que funciona…

Agora, a forma como Burnham e Tilly foram tratadas no episódio foi uma boa surpresa. No caso de Burnham, a presença de Amanda e a conversa das duas de detalhes pregressos de sua família ajudaram a construir um pouco mais a personagem que a série nos coloca como protagonista principal. A exposição de Burnham de suas fraquezas e emoções (ela não pode ser tão perfeita, pois fica muito artificial) é, na minha opinião, um bom caminho para a personagem, pois isso transmite empatia para o público e diminui o déficit da mesma (desculpem a piada sem graça, mas não resiti). Ver que ela falhou ao tomar decisões erradas com relação a Spock por estar pressionada emocionalmente e que ela se ressente disso pode ser um grande trunfo para a personagem conquistar o público. E o episódio foi nessa direção, sem falar que adorei a atitude de Amanda quando ela disse que ia procurar Spock ao invés de Burnham. Ou seja, nem tudo pode ficar nas costas da protagonista como desejam ansiosamente os roteiristas dessa série. Ela precisa dividir responsabilidades com os demais personagens até para interagir positivamente com eles e não ficar só ditando regras e procedimentos como os roteiristas fizeram até agora. Tudo isso engrandecerá a personagem que ainda tem salvação a meu ver.

E Tilly? A adorei nesse episódio! Ela ficou zuretinha e serviu como um bom alívio cômico. O grito (mais outro) que ela deu no Pike na ponte ficou muito engraçado. E suas falas foram bem menos constrangedoras. Sei não, mas parece que Burnham e Tilly à beira de um ataque de nervos funcionam bem melhor. Brincadeiras à parte, creio que Tilly também tem salvação. É só ela se tornar um pouco mais segura, parar de falar aquele monte de bobagens que escrevem para ela e dar continuidade ao quê científico da moça, que deve depender cada vez menos de Burnham. E, sim, deixar sua parte cômica, desde que usada com inteligência. Ainda sobre a historinha de Tilly, a gente não pode esquecer do fungão lá, uma outra ponta solta que pode ser bem trabalhada.

No mais, o episódio tem alguns problemas, como o fato de Tilly ter ganho uma corrida depois de ficar um tempão conversando com sua amiga ou Amanda ter chegado à Discovery sem se identificar, mas um episódio ter problemas é algo normal. Confesso que preferi elencar os pontos que me pareceram positivos.

Imperatriz, agora na Seção 31

Assim, até me arrisco a dizer que “Jornada nas Estrelas Discovery” está conseguindo desenvolver melhoras, mesmo que aos trancos e barrancos. Creio que vimos um episódio importante, que abriu um monte de possiblidades. Esperemos o que vem por aí. Para ver o trailer de “Ponto de Luz”, clique no link abaixo.

https://www.youtube.com/watch?v=AQtIivEAlNk

Batata Séries – Jornada Nas Estrelas Discovery (Temporada 2, Episódio 2). Novo Éden. Chutando A Ordem Geral Um.

A Discovery chega a um planeta no quadrante Beta

O segundo episódio da segunda temporada de “Jornada nas Estrelas Discovery”, “Novo Éden”, foi menos espetacular que o episódio de abertura, “Irmão”. Teve uma duração menor (cerca de 44 minutos contra uma hora de “Irmão”), assim como também houve um gasto menor com efeitos especiais. Dessa forma, houve um espaço maior para o desenvolvimento da história em si e do roteiro, o que nos ajuda a entender melhor essa segunda temporada. Spoilers serão necessários para se discutir o episódio.

Stamets ainda sofre com a perda de Hugh

Qual é o plot? A Discovery detecta o segundo dos estranhos sinais que estão na galáxia. Ele se situa no quadrante Beta, a cerca de 50 mil anos-luz. Para se chegar lá, o motor de esporos foi utilizado, o que encuca Stamets, pois ele vê seu antigo companheiro Hugh e conversa com o mesmo, ainda que depois de morto, na rede micelial. Chegando ao local do sinal, a Discovery encontra um planeta de classe M com uma pacata população humana e um sinal de socorro que é transmitido há duzentos anos. Pike, Burnham e Owosekum descem à superfície e encontram uma igreja que é uma compilação de várias religiões terrestres. Ao estabelecer contato com a civilização do planeta, eles descobrem que os antepassados dos nativos vieram da Terra de 2053, que estava em plena Terceira Guerra Mundial, e eles foram levados para Terralísio (o presente planeta do quadrante Beta) por um misterioso anjo. Como se trata de uma civilização pré-dobra e a Ordem Geral Um se aplica, Pike acha melhor deixar a civilização, com ela mesmo buscando seu desenvolvimento sem qualquer interferência externa. Mas Burnham, com uma visão mais científica, acha que a civilização tem o direito de saber sobre a existência da Terra e de toda a sua tecnologia. Essa pinimba ética será resolvida entre o grupo avançado da Discovery e Jacob, um habitante local que é descendente de cientistas e mantém o sinal de socorro ligado há duzentos anos. Em troca de uma bateria, que vai dar a energia elétrica de volta àquela civilização, Jacob dará o capacete de um soldado com uma câmara que pertencia aos antepassados e que estava com defeito. Pike aceita essa violação da Ordem Geral Um depois de ser convencido por Burnham que disse que viu o tal do anjo no asteroide do primeiro sinal lá no episódio “Irmão” e eles precisam investigar a natureza daqueles sinais, além de desvendar o mistério do ser alado. Ao consertar a câmara do capacete, Pike vê um grupo de pessoas em desespero dentro da mesma igreja de Terralísio durante a Guerra na Terra em 2053 e, de repente, a igreja decola com a aparição da figura do anjo.

Uma igreja bem ecumênica…

O que dizer desse episódio? Em primeiro lugar, ele segue o arco principal dos sinais que surgem pela galáxia e da figura do anjo. Creio que seria interessante que essa espinha dorsal fosse seguida ao longo da temporada para que uma história mais coesa seja bem construída, com um ou outro episódio mais destacado dessa linha aqui ou ali. Em segundo lugar, é um episódio que lança questões reflexivas, como comparações entre fé e ciência e a obediência ou violação da Ordem Geral Um, temas mais caros ao Universo de Jornada nas Estrelas. Houve um problema, entretanto. Pike pareceu excessivamente religioso (um capitão da Frota Estelar teria que ser um pouco mais comedido e centrado nessa questão) e Burnham continuou com sua empáfia habitual ao defender excessivamente a visão científica e a violação da Ordem Geral Um. Tudo bem que vários personagens já violaram a Ordem Geral Um ao longo de toda a franquia, mas o problema aqui é que Burnham descarta de forma muito sumária uma Ordem tão importante para a Frota. Mais uma mostra de que essa personagem ainda precisa de ajustes e é um problema muito sério nessa série, despertando muita antipatia. Há, também, um desenvolvimento na personagem de Tilly como uma cientista mais qualificada. Sensibilizada com a situação de Stamets, que sofre ao ver Hugh na rede micelial, ela quer porque quer analisar a amostra do asteroide que está no hangar da Discovery, que é altamente energético e é tomado por uma densa matéria escura, o que lhe dá uma enorme força gravitacional. Tilly, inclusive, vai salvar a população de Terralísio, que é circundado por anéis de material radioativo, onde parte desse material se precipitaria sobre a superfície do planeta e mataria a todos. Tilly falará para Saru usar o asteroide no hangar da Discovery para atrair o material radioativo. O mais curioso é que apareceu uma amiguinha da Tilly, que é uma espécie de versão morena dela e muito mais estranha. Essa amiguinha seria uma amizade de infância, mas pelos registros da Frota, a mocinha já havia morrido, o que aumenta o mistério.

Um Pike excessivamente religioso…

Ao ver esses episódios da segunda temporada de “Discovery”, sente-se que houve uma pequena melhora, pois os temas das histórias se aproximam mais do que víamos nas demais séries de Jornada nas Estrelas: um mistério a se desvendar, discussão de temas mais reflexivos, questões de ordem ética. Mas ainda há problemas sérios, como o mau desenvolvimento da personagem principal, Michael Burnham, que é excessivamente perfeita e fica um pouco antipática por isso. Virtudes e defeitos de um personagem devem ser construídos ao longo do tempo. Outra coisa, houve a oportunidade de se construir mais uma das personagens da ponte, Owosekum, pois ela esteve no grupo avançado, e essa oportunidade não foi aproveitada. Temos uma grande variedade de personagens na ponte da Discovery que, em plena segunda temporada, ainda são ilustres desconhecidos. E a Tilly? É um alívio cômico? Tudo bem que seja. Entretanto, ela poderia amadurecer um pouco mais, ainda mais porque agora estão querendo dar a ela um status de cientista. Alguns diálogos de Tilly são excessivamente constrangedores e isso Mary Wiseman não merece (assim como Sonequa Martin-Green não merece uma construção também imperfeita de sua personagem).

Bom, vamos ver o que nos aguarda no próximo episódio. Até lá!

https://www.youtube.com/watch?v=E2vZHYI322Q

Batata Séries – Jornada Nas Estrelas Discovery (Temporada 2, Episódio 1) Irmão.

E lá vamos nós de novo…

E estreou a segunda temporada de “Jornada nas Estrelas Discovery”. Depois de uma primeira temporada que agradou a alguns mas desagradou a outros, havia uma grande expectativa por parte dos fãs sobre como seria essa segunda temporada. Se tomarmos como referência as outras séries de “Jornada nas Estrelas”, a maioria delas tinha uma primeira temporada meio capenga, com melhorias nas temporadas seguintes. Mas era uma outra época, com longas temporadas sendo produzidas durante um ano inteiro, onde os ajustes poderiam ser feitos ao longo da produção dos episódios. Agora, em dias de streaming, quando toda a temporada é rodada antes de sua exibição, ajustes durante o processo ficam bem mais difíceis. Realmente é uma outra linguagem. Daí a expectativa. Outra questão que o streaming levanta é o de qual modelo atende mais ao novo formato: um único arco nesses poucos episódios mais curtos ou sub arcos e mais episódios avulsos durante a temporada? Quando tínhamos uma temporada de 26 episódios de cerca de 45 minutos, podia se fazer arcos principais, sub arcos e episódios avulsos de construção de personagem, por exemplo. O streaming parece ser mais limitado com relação a isso. E aí, esse foi um problema da primeira temporada de Discovery, pois tentou-se fazer de tudo um pouco e a coisa parece não ter funcionado muito bem. Todas essas questões só aumentaram as expectativas acerca de como seria a segunda temporada.

O que fazer com a Burnham???

E o que podemos dizer desse primeiro episódio, “Irmão”? Pareceu aqui que a coisa se aproximou mais do que víamos nas outras séries da franquia. A introdução de Christopher Pike ajudou muito nisso, pois ele se colocou como um capitão mais antenado com o espírito da Federação, se antagonizando imediatamente com Lorca. Ao tirar o comando de Saru, ele chega cheio de dedos e busca se aproximar da tripulação, mas sem abrir mão de mostrar quem é que manda, embora tenha aparecido um momento constrangedor com Michael Burnham, onde a tripulante meio que dá um fora no capitão, algo impensável em outros capitães segundo o que os fãs tem dito por aí. Outra coisa que aproxima o episódio do Universo de “Jornada nas Estrelas” é a existência de um enigma que precisa ser desvendado (uma fonte de energia com o qual as naves da Frota não conseguem lidar e aí a tripulação da Discovery precisa resolver esse problema. Esse enigma também é colocado de forma pictórica na série (na abertura da série há uma silhueta do que aparenta ser um humanóide alado e Burnham também teve uma espécie de alucinação com a mesma imagem durante o episódio). Uma primeira pista para se desvendar esses mistérios está na amostra de asteróide colhida pela Discovery, que se trata de um material altamente energético que não pode ser teletransportado e que tem algo a ver com matéria escura. Aí está um possível gancho para a solução do enigma, bem ao espírito das ficções cientificas das demais séries de “Jornada nas Estrelas”. Esperemos que isso não se torne algo parecido com toda aquela papagaiada do maldito motor de esporos e da rede micelial que, por enquanto, não foram usados, mas que vão dar o ar de sua graça em episódios futuros. A ficção científica deve ser criativa, mas não deve ser muito over, pois ela sai do campo da ficção para o da ópera do absurdo.

Um momento engraçado…

Até agora, mencionamos aqui as virtudes da série e de como ela se aproxima do que os fãs mais tradicionais entendem o que é “Jornada nas Estrelas”. Agora, quais são os problemas? Em primeiro lugar, a série ainda se vende mais como uma aventura de ação do que uma ficção científica mais bem escrita. A sequência do asteróide está aí para provar esse ponto. Muitos efeitos especiais mais para espelhar uma corrida no meio de um monte de pedras do que qualquer outra coisa. A gente até entende que isso seja para atender as demandas de um público mais contemporâneo, etc., mas ainda é muito de se estranhar quando se trata de “Jornada nas Estrelas”. Essa impressão aumenta muito em minha pessoa, pois muito recentemente terminei de assistir “Voyager”. Eu vi os dois últimos episódios juntamente com o primeiro episódio da segunda temporada de Discovery e a impressão de que Discovery é muito diferente do Universo de Jornada nas Estrelas (mesmo que esse primeiro episódio tenha melhorado um pouco isso) é ainda muito forte. Em segundo lugar, a repulsa de Spock a Burnham na infância dos dois me pareceu demasiadamente emocional, mesmo para os padrões de uma criança vulcana mestiça. Uma reação fria e de desprezo de Spock para com Burnham seria algo bem mais eficiente e honesto. Esperemos que um dos ícones máximos de “Jornada nas Estrelas” (se não for o máximo) não seja esculhambado nessa temporada, como o foi com o Spock ultraemocional de Zachary Quinto, que saiu na porrada aos gritos com Khan.

Um novo capitão…

E a protagonista Michael Burnham? Ela deu uma melhoradinha. Apesar de seu monólogo irritante no início do episódio, não vimos mais isso ao longo da exibição. Mas ela ainda é tratada como uma espécie de prima-dona que resolve todos os problemas e é dotada de uma certa empáfia que a torna antipática. Burnham precisa ser mais construída em outra direção. Que essa insegurança que ela tem em torno do irmão seja mais bem construída e trabalhada, podendo ser uma boa saída para recuperar a protagonista. Aliás, a construção dos demais personagens da série (só na ponte há uma avalanche de ilustres desconhecidos) faz-se urgente. O problema nisso é o formato de streaming, mas um ponto-chave para a série fazer sucesso é a empatia que o público vai desenvolvendo com os personagens. Com Stamets e Saru, por exemplo, parece que a coisa está sendo bem encaminhada. Mas com Burnham e até Tilly, parece que é necessário remar mais um pouco. Falando dessa última, as piadas funcionaram, mas o que melhor de Tilly tivemos ainda foi o Stamets pedindo para ela falar menos. Entretanto, ela tem um bom coração, não podemos nos esquecer. Ainda sobre os personagens, além da boa surpresa de Pike, tivemos a presença da engenheira Jett Reno, que parece ser uma excelente personagem e cairia como uma luva na engenharia da nave, juntamente com Stamets. Somente a introdução desses dois personagens novos e a qualidade deles é um indicativo de que poderemos ter algo de positivo na série esse ano.

Uma nova engenheira???

Assim, “Irmão” é um bom episódio de “Jornada nas Estrelas Discovery” que parece confirmar as expectativas otimistas que os “Short Treks” trouxeram. É um episódio que, apesar de seus problemas, se aproxima mais do Universo de Jornada nas Estrelas que conhecemos. O espírito da Federação encarnado em Pike, o enigma inicial que deve ser resolvido com uma ficção científica que, esperemos, seja sofisticada, típicos das demais séries de Jornada nas Estrelas, estavam lá. Só é de se lamentar a coisa um pouco espetacular e vazia dos filmes de ação regados a efeitos especiais e algumas permanências da primeira temporada, como a marra de Burnham, que a deixa um tanto antipática. Esperemos os próximos episódios para ter uma ideia dos rumos da série.

Batata Séries – Jornada Nas Estrelas Voyager (Temporada 6, Episódio 15) – Tsunkatse. Telecatch Espacial.

Vamos lutar???

O décimo-quinto episódio da sexta temporada de “Jornada nas Estrelas Voyager” é o que se pode chamar de “Telecatch Espacial”. E por que isso? Houve aqui uma combinação de se misturar ficção científica com filme de porrada. E a coisa funcionou? Um pouco, mas mais pelo lado de Jornada nas Estrelas e as mensagens que a série sempre tenta passar para o espectador. No mais, a coisa não ficou muito boa não. Só para lembrar, esse foi o episódio que contou com a participação de Dwayne “The Rock” Johnson, que até é um bom ator (já falei dele aqui em outras ocasiões na Batata Movies), mas que aqui ele só serviu para mostrar mesmo seus músculos e descer o cacete na Sete de Nove (ainda mais em quem???).

Uma iluminação tacanha…

Bom, vamos ao plot. A tripulação da Voyager está de férias (não entendi muito isso para uma nave que está muito longe da Terra e precisando desesperadamente aproveitar o seu tempo para chegar logo ao seu planeta de origem e não ficar o resto da vida viajando; enfim, todo mundo merece um descanso, né?). Assim, a tripulação aproveita como pode. Janeway viaja com a Delta Flyer para um planeta próximo. Tuvok e Sete de Nove vão estudar uma nebulosa. E outra parte da tripulação (leia-se Chakotay, Kim, Paris, Torres e Neelix) vão curtir em outro planeta as lutas de Tsunkatse, onde alienígenas se agridem com mecanismos em seus corpos que, se atingidos, provocam muita dor. Tudo seria muito divertido se Sete de Nove e Tuvok não fossem sequestrados pelo organizador das lutas, Penk (interpretado por Jeffrey Combs, um dos atores mais multimída de Jornada nas Estrelas, trabalhando em Deep Space Nine como o vorta Weyoun e o ferengi Brunt, além de interpretar o andoriano Shran). Como Tuvok ficou ferido no ataque, Sete de Nove precisa entrar na arena para lutar. E aí ocorrerá o fatídico confronto entre a borg e “The Rock”.

Participação de “The Rock” no episódio…

Além da pancadaria, que foi bem parelha mas terminou com a vitória do brutamontes, houve uns poucos diálogos onde um ameaçava o outro, e Dwayne Johnson entrou com seu estilo sereno de interpretação de sempre, algo nada demais, mas eficiente. Como os borgs são muito odiados no quadrante, a luta onde Sete de Nove apanhava deu muita audiência. Imagine se ela morresse o que ia acontecer? Enquanto espera a próxima luta, Sete de Nove tem seus ferimentos cuidados por um hirogen (interpretado por J. G. Hertzler, o General Martok de Deep Space Nine, a voz estava realmente muito familiar), que também irá treiná-la na arte do Tsunkatse, ensinando toda uma pedagogia de caçador que precisa matar sua presa sem dó nem piedade.

Um hirogen como treinador de Sete de Nove…

Qual não é a surpresa de Sete, quando ela vê que o seu próximo adversário é o próprio hirogen, que a treinou para matá-lo, pois ele já está encarcerado há 19 anos e não aguenta mais de saudades do filho? Aí a borg terá que lidar com o dilema de matar ou não seu misto de treinador e amigo. Entretanto, a cavalaria chega. Na primeira luta de Sete de Nove, Chakotay, Neelix, Kim e Paris assistiram a luta e viram a borg na arena. Chakotay deu ordens para Torres (que estava no comando na ponte da Voyager) para teletransportar Sete, mas na verdade Sete não estava na arena e sim uma imagem holográfica dela lutando com The Rock. Os dois lutadores estavam em outra arena numa nave altamente fortificada, cujas imagens holográficas dos lutadores foram rastreados pela Voyager que vai ao seu encalço. Uma pequena batalha de naves se dá e a Voyager, por ser inferior em poder de ataque e defesa, vai sofrendo uma série de avarias. Mas a nave precisa ficar nas imediações da sua adversária gigante, pois ela não consegue travar em Sete e Tuvok, já que há uma proteção que a impede de fazer isso. É nessa hora que chega Janeway com a Delta Flyer e Chakotay pede que ela destrua a antena de transmissão da nave maior. Isso provoca o desaparecimento da luta na arena com o público e a audiência também cai. Desesperado, Penk passa a força da nave para os outros transmissores, o que faz cair a proteção contra o teletransporte. Sete e o hirogen são teletransportados para a Voyager (Tuvok já havia sido transportado antes, pois a Voyager tinha destruído o gerador de escudos da parte menos protegida da nave, onde ele estava). O hirogen agradece o resgate e diz que vai procurar seu filho. O episódio termina com Tuvok e Sete de Nove conversando, onde a borg está muito incomodada por ter passado por maus sentimentos (ódio, remorso, etc.) em virtude das lutas que teve que travar na arena e ela temia ter se afastado de sua humanidade. Tuvok disse que, pelo contrário, se ela tinha preocupações com aqueles sentimentos, aí sim ela se aproximava ainda mais de sua humanidade.

Um treinamento baseado na retórica da caça e da presa

Cá para nós, o que salvou esse episódio foi a conversa final entre Tuvok e Sete de Nove. Misturar Voyager com MMA foi um negócio meio estranho. Para começar, vem o velho dilema: será que as mentes evoluídas do século 24 irão apreciar lutas sangrentas em arenas, como as pessoas do século 20? Esse é um primeiro passo. A coisa só começou a ser questionada quando a tripulação da Voyager viu Sete de Nove na arena. Neelix se pergunta como aquela espécie alienígena se divertia com dois seres vivos se machucando, ao que Chakotay retrucava dizendo que se Sete de Nove não estivesse passando por aquela situação, eles mesmo estariam ali na arena aos berros de “Tsunkatse”. Ou seja, pimenta nos olhos dos outros é refresco. Mas até no século 24??? Pegou mal. Outra coisa que não ficou legal foi o subaproveitamento de Dwayne Johnson. Ele simplesmente entrou para fazer o brutamontes que batia na Sete de Nove. Seria muito mais interessante se ele tomasse mais parte no episódio, até ajudando o hirogen a treinar Sete de Nove e também sendo salvo depois pela Voyager. O relacionamento entre Sete, o Hirogen e Johnson poderia ser mais trabalhado e renderia melhores frutos no aspecto narrativo para esse episódio um tanto pobre, se fixando em sua maioria do tempo apenas na retórica da caça que mata a presa e o passado do hirogen. E que arena era aquela, hein? Com uma iluminação tosca de boate de terceira categoria… confesso que coloquei um saco de compras na cabeça com dois buracos para os olhos de tanta vergonha. Pegou mal, também. Bom, pelo menos o desfecho foi solene, com os personagens mais solenes da nave. E teve um arremedo de batalha espacial também, o que sempre é bem vindo numa série de ficção científica com naves espaciais.

Muita diversão com a presença do “The Rock” nos bastidores…

Assim, “Tsunkatse” pode ser considerado um episódio mediano de “Jornada nas Estrelas Voyager”, onde alguns equívocos foram cometidos mas que, pelo menos teve um desfecho digno. E, para o “The Rock”, quem sabe não pinta uma melhor participação em “The Orville”? Vamos torcer…

https://www.youtube.com/watch?v=A7preE2hojM

Batata Séries – Jornada Nas Estrelas Voyager (Temporada 6, Episódio 14). Monumento. Lembrando O Que Todos Querem Esquecer.

Uma viagem estranha…

Mais um bom episódio da sexta temporada de “Jornada nas Estrelas Voyager”. “Monumento” é mais um episódio que tem uma abordagem histórica, uma das especialidades de “Jornada nas Estrelas”. Ainda, é um episódio que assinala a importância da preservação da memória, até em situações extremas.

Visões perturbadoras…

O plot é o seguinte. Paris, Chakotay, Kim e Neelix voltam de uma missão na Delta Flyer que pesquisava alguns planetas depois de vários dias afastados da Voyager. Os quatro tripulantes começam a ter comportamentos estranhos. Paris se lembra de uma batalha que aparentemente travou. Chakotay tem pesadelos. Kim e Neelix, alucinações. Todos eles ficam em pânico e desespero. O Doutor, que tinha pedido que os quatro fizessem um exame médico assim que chegaram da missão (como pede o protocolo), os examina e, à medida que os quatro vão conversando entre si, eles se recordam do que pode ter acontecido: estavam num planeta, ajudando militares locais a evacuar um grupo de civis e alguns deles resistem, o que provoca um massacre de 82 pessoas. A partir daí, fica a grande dúvida: os tripulantes da Voyager realmente participaram do massacre? Ou foi alguma espécie de implante de memória? Foi preciso investigar. Assim, a Voyager repassou os planetas pesquisados pela Delta Flyer. Ao chegar ao segundo planeta, Janeway balbucia seu nome – Tarakis – e também tem recordações de ver os militares pulverizando os corpos dos civis para apagar as provas do massacre e desmaia. Quando acorda na enfermaria, ela recebe a notícia do Doutor de que outros membros da tripulação também têm os mesmos sintomas de alucinações e pânico.

… começam a pôr em risco os tripulantes da nave…

Um grupo avançado desce à superfície do planeta e não vê qualquer sinal de guerra, exceto pelo fato de que encontraram restos mortais de alguns civis, mas que estavam mortos há cerca de 300 anos. Assim, Paris, Kim, Neelix e Chakotay, assim como Janeway, não poderiam ter tomado parte no massacre. Foi encontrado, também, uma espécie de monumento que emitia pulsos neurogênicos que tinham o objetivo de relembrar a batalha para quem passava pelas proximidades do planeta. As informações da batalha estavam fragmentadas nas mentes dos tripulantes, pois as células de energia do monumento estavam danificadas. Tuvok e Chakotay logo sugerem a desativação do monumento, pelo perigo que ele representava. Mas Neelix lembra que aquele monumento foi uma forma de se preservar a memória do massacre para que ele jamais acontecesse novamente. Janeway concorda com Neelix e ordena que as células de energia sejam substituídas por novas e uma boia de alerta seja colocada nas proximidades do planeta para que as naves que cheguem ali perto saibam que há problemas na região. Assim, o monumento continua a sua missão de preservar a memória.

Voltando ao planeta do massacre…

Esse episódio é a alegoria perfeita de uma frase do Historiador Peter Burke: “O Historiador é odiado pois ele lembra de tudo aquilo que todos fazem questão de esquecer”. Ou seja, os momentos negros do passado ás vezes são varridos para debaixo do tapete pelas gerações atuais. E, ao acontecer isso, os mesmos erros do passado acabam sendo repetidos. Estamos coalhados de exemplos disso por aí, infelizmente. O episódio mostra isso de forma nítida com os ataques de pânico e desespero da tripulação ao vivenciar o massacre em suas mentes. Ver essas alucinações como algo perigoso e nocivo são um forte argumento na direção de se desativar o monumento, ou seja, apagar a memória, pois não se consegue conviver com o peso da culpa. Mas aí, Neelix (sempre o cara sacaneado da série) e Janeway alertam para a importância da preservação da memória e, não somente deixam o monumento ativado, como ainda o consertam, renovando suas células de energia. Não se pode varrer a sujeira para debaixo do tapete, é necessário encarar a dor. Ou como dizia James T. Kirk em “Jornada nas Estrelas V”: “Eu preciso de minhas dores, elas fazem parte de mim”.

O monumento. Alegoria da necessidade da preservação da memória…

Dessa forma, “Monumento” é um grande episódio da sexta temporada de “Jornada nas Estrelas Voyager”. Um episódio que alerta para a necessidade da preservação da memória, por mais dolorosa que ela seja para nós. Ela serve para tirarmos lições com as dores e não repetir os erros trágicos do passado. Esse merece ser revisitado

https://www.youtube.com/watch?v=sownZiJtVMA