A Editora Aleph realizou um grande lançamento literário do Universo Expandido de “Guerra nas Estrelas”. Rotulado como “Legends”, “Darth Plagueis”, do eficiente escritor James Luceno, é uma daquelas obras que nos fazem amar o Universo Expandido com todas as nossas forças. É uma história que busca compreender a lógica dos Sith e sua História pregressa. É um livro que preenche uma lacuna muito importante sentida durante a exibição de “A Ameaça Fantasma”, e que poderia muito bem ser considerado uma obra canônica.
O ponto de partida do livro está naquela conversa entre o Chanceler Palpatine e Anakin Skywalker durante o Episódio III sobre a tragédia de Darth Plagueis, o sábio, um mestre Sith que queria ter controle total sobre os midi-chlorians para poder não somente evitar a morte e viver eternamente, mas também poder gerar a própria vida. Plagueis foi morto por seu próprio aprendiz, ou seja, Palpatine em pessoa. Mas, como teria sido isso? Qual foi o contexto que teria levado ao encontro entre o mestre e o aprendiz? Por que Plagueis foi assassinado? Essas foram as questões que Luceno quis responder em seu livro. E, podemos dizer que o autor fez isso de forma magistral, criando todo um passado para os Sith. Luceno não se limitou a descrever apenas as trajetórias de Darth Plagueis e Darth Sidious (ou seja, Palpatine), mas também menciona Siths pregressos como Darth Tenebrous, que foi o mestre de Darth Plagueis, e de Darth Bane, conhecido por ter criado a famosa “Regra de Dois”, onde somente podem existir dois Siths de cada vez, ou seja, o mestre e o aprendiz, com o aprendiz tomando o lugar do mestre quando ele se sente preparado para isso. E como o aprendiz toma o lugar do mestre? Muito simples: assassinando-o! Para poder criar todo esse Universo, Luceno dedica páginas e páginas de textos altamente densos e explicativos, mas que não são cansativos, muito pelo contrário, pois eles nos ajudam a contextualizar toda a situação anterior ao Episódio I, como o poder ascendente da Federação de Comércio sobre Naboo, o poder de conglomerados econômicos como o Clã Bancário Intergaláctico, do qual Darth Plagueis fazia parte sob o nome de Hego Damask, a influência de Plagueis e Palpatine na construção do exército de dróides por parte da Federação de Comércio e na montagem do exército de clones por Zaifo Vias, além das conversas de Palpatine com Dookan estimulando-o indiretamente a abandonar a ordem Jedi e a se tornar um Sith. A parte final do livro, inclusive, ocorre paralelamente aos eventos do Episódio I.
É muito interessante notar como Luceno associa aos Sith as piores características do capitalismo selvagem e do fascismo. Podemos perceber isso em vários pontos do livro. Todas as manobras do Clã Bancário Intergaláctico e da Federação de Comércio para aumentar sua área de atuação econômica através do ato de semear discórdias entre mundos fracos da Orla Exterior e o Senado em Coruscant, enfraquecendo a estabilidade política da República e estimulando os movimentos separatistas. Ou ainda, todos os assassinatos encomendados ou cometidos pelo próprio Sidious ou Plagueis para tirar do caminho seus adversários políticos, algo recorrente no fascismo italiano e no nazismo. Mas talvez o aspecto mais assustador foi todo um conjunto de experiências com midi-chlorians que Darth Plagueis fazia com seres vivos de várias espécies, algo que se assemelhava muito às experiências genéticas que Joseph Mengele fazia com prisioneiros de campos de concentração.
A forma como os Sith encaravam a Força em contraposição com a visão dos Jedi é algo também explorado no livro. Enquanto que os Jedi se deixam influenciar pela Força e atuam segundo os desígnios dela, os Sith, pelo contrário, pretendem dominar a Força e usá-la de acordo com seus interesses. Dessa forma, os Jedi seriam fracos e sua Ordem estaria irremediavelmente condenada à extinção, ao passo que os Sith, com seu poder e forte iniciativa, dominariam a Galáxia, o que era a essência do Grande Plano, mencionado ao longo de todo o livro.
É curioso notar como a maldição dos nomes de “Guerra nas Estrelas” para a língua portuguesa também aparece neste livro. Além do já conhecido chefe de segurança da Princesa Amidala (!), que atende pela alcunha de Panaka, temos personagens com o nome de Cabra e de Doriana. Das duas uma: ou isso acontece de propósito (tem algum brasileiro muito zoador por lá) ou é muito azar mesmo.
Após a história de Darth Plagueis, ainda há uma excelente entrevista com James Luceno onde o autor fala do processo de criação do livro, da pesquisa, das interações com a Lucas Licensing no processo criativo, do passado criado para Palpatine e das semelhanças entre Palpatine e Anakin Skywalker.
Assim, “Darth Plagueis” é mais uma obra-prima de James Luceno, que já tinha nos dado o excelente “Tarkin”, constituindo-se, na minha modesta opinião de iniciante do Universo Expandido, no melhor autor de “Guerra nas Estrelas” depois de Timothy Zahn. Se você gosta da trilogia “Prequel”, é uma leitura obrigatória. Se não, aí está uma boa chance para olhá-la com um pouco mais de carinho. Não deixe de ler.