Batata Books – Darth Bane, Dinastia Do Mal. Uma Solução Salomônica.

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Capa do Livro

“Darth Bane, Dinastia do Mal” é o livro que encerra a trilogia Darth Bane, de Drew Karpyshyn, editada pela Universo Geek. E o que podemos dizer desse livro? Ele dá uma solução um tanto salomônica (ao estilo Sith) para a dupla de protagonistas Darth Bane e Zannah, mestre e aprendiz. Para podermos entender isso, vamos ter que dar spoilers da história.

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Darth Bane, o maligno criador da Regra de Dois, está de volta…

Mais alguns anos se passaram, desde o segundo livro da trilogia, “Darth Bane, Regra de Dois”. Bane e Zannah vivem agora numa luxuosa mansão muito mais para manter as aparências do que por uma boa vida luxuosa, sendo apenas um artifício para se obter mais poder. Só que Bane tem uma inquietação. Zannah ainda não o desafiou dentro do ritual da regra de dois. O mestre começa a ter dúvidas se sua aprendiz é digna de sucedê-lo ou não. E busca eternizar sua vida, indo através de um antigo holocron de Darth Andeddu, um antigo mestre sith que teria o segredo da vida eterna. Nesse ritual, Bane teria que escolher uma pessoa mais jovem para passar sua alma para o corpo dessa pessoa mais jovem. Entretanto, há um risco: no processo de transferência de almas, o corpo de Bane seria destruído e se a pessoa escolhida para abrigar a alma de Bane resistisse ao processo, haveria o risco da alma do mestre sith se perder para sempre. Bane já sentia o peso da idade, manifesto numa tremedeira em sua mão esquerda e o suposto receio de Zannah o empurrou para a busca da imortalidade. Já a moça, também desconfiada das atitudes de seu mestre, decidiu procurar seu próprio aprendiz e encontrou Set Harth, um jedi sombrio muito convencido e irritante para Zannah, mas que seria útil para as pretensões da moça. O livro ainda traz a personagem Serra, que é filha de Caleb, o curandeiro que salvou Bane e que depois foi morto, sendo que a moça agora é uma princesa e busca vingança contra Bane pela morte do pai, se deixando levar pelo ódio e sentimento de vingança. Para levar seus planos adiante, Serra conta com a ajuda de Lucia, uma espécie de amiga e segurança pessoal, que já foi comandada de Bane no passado, antes dele se tornar um mestre sith e tem uma dívida de gratidão com ele, o que vai introduzir um conflito na cabeça de Lucia quanto ao plano de vingança de Serra.

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Zannah, linda e perigosa…

Esse é um livro cinematográfico, pois não há um combate entre Bane e Zannah, mas dois, onde os duelos são descritos com tal riqueza de detalhes que praticamente os vemos diante de nossos olhos à medida que lemos as páginas do livro. A única coisa que incomoda um pouco é o desfecho do livro, pois ao fim desse duelo, um dos personagens deveria morrer, tal como previa a regra de dois. Entretanto, parece que Karpyshyn abraçou suas crias com todo o carinho e encontrou uma forma de manter os dois protagonistas vivos ao fim do duelo. Confesso que achei que, no fim das contas, o próprio autor do livro meio que traiu a regra de dois. Entretanto, já dei spoilers demais e não vou contar como ele conseguiu essa solução salomônica, dentro de uma perspectiva sith.

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Darth Andeddu…

Outro problema aqui, e que aconteceu também no segundo livro “Darth Bane, Regra de Dois”, foi o desenvolvimento de várias tramas paralelas que tiraram um pouco a importância de Bane no livro. Pelo menos, tanto neste livro quanto no anterior, as tramas paralelas foram bem amarradas ao final, não ficando pontas soltas na história.

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Set Harth

O livro também procura, mais uma vez, justificar a regra de dois. Quando havia um exercito sith, era prática comum os subordinados se unirem para derrubar o líder. O problema é que os subordinados eram siths mais fracos que o líder mas, juntos, eles conseguiriam derrubar o líder, o que levava ao risco da ordem sith se enfraquecer, pois um sith mais fraco poderia assumir a ordem nesse caso. Quando há apenas dois siths, o mestre e o aprendiz, o segundo só pode derrotar o primeiro quando for mais forte que seu mestre, o que fortalece a ordem. Se o aprendiz não é forte o suficiente para derrotar o mestre, a ordem permanecerá forte, pois o mestre vencera. Ou seja, dentro da perspectiva da regra de dois, não há como a ordem sith enfraquecer, somente se tornar mais forte ainda ou, na pior das hipóteses, continuar com a força que já tinha.

Serra, ainda criança, ameaçada por Bane…

Assim, “Barth Bane, Dinastia do Mal” é o livro que encerra a trilogia de Darth Bane, nos dando um belo panorama da ordem sith na Velha República. O livro tem mais uma vez a importância de explicar a lógica da regra de dois, algo que nunca foi explicado nos filmes e parece um tanto quanto sem sentido. Ainda, temos uma narrativa muito cinematográfica no que tange ao combate entre Bane e Zannah. Só é de se lamentar um pouco que Karpyshyn não tenha tido coragem de eliminar definitivamente um de seus protagonistas como a regra de dois exige. Mas, mesmo assim, temos um bom livro aqui  e sua leitura é altamente recomendada.

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Lucia

Batata Books – O Último Comando. O Fim de uma Saga.

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Capa do Livro…

Falando ainda dos livros do Universo Expandido de Guerra nas Estrelas pela Aleph, temos o último livro da Trilogia Thrawn de Timothy Zahn. “O Último Comando”, que tem a importante missão de costurar todas as tramas da história e dar um desfecho à altura da Trilogia. De todos os livros lançados pela Editora Aleph referentes ao Universo Expandido de “Guerra nas Estrelas”, a Trilogia Thrawn foi, de longe, a mais interessante e bem escrita. A grande virtude da Trilogia foi criar várias subtramas que se interligavam com grande eficiência. O autor ia dando pequenos detalhes que, mais à frente se encaixavam em outras situações, provocando um encadeamento muito bem elaborado. Um detalhe muito bem usado por Zahn foi fazer sempre referências a situações ou falas que apareceram na Trilogia Clássica (os Episódios IV, V, VI), o que dava um grande tom de legitimidade à história. E se você acha que precisa dar uma relida no livro anterior da Trilogia antes de encarar o próximo para recordar detalhes da história, pode ficar despreocupado, pois Zahn relembra todos os pontos necessários. Por essas e por outras, muitos fãs consideram essa Trilogia os verdadeiros Episódios VII, VIII e IX.

Grão-Almirante Thrawn. O cara!!!

Só para falar um pouquinho por alto da trama (alguns “spoilers” de leve para encorajar a leitura), a história se passa cinco anos depois dos eventos de “O Retorno de Jedi”. A Nova República ainda busca se consolidar, sendo formada por vários grupos que ainda não se entendem muito bem. Por outro lado, o Império ainda controla uma parte da galáxia. Esse dado corrige um fato inaceitável em “O Retorno de Jedi”: um poderoso Império Galáctico do Mal ser derrotado por uma facção rebelde ajudada por um grupo de ursinhos de pelúcia beiçudos (por que você fez isso, George Lucas?). E o líder do Império agora é um grão-almirante. Havia doze grãos-almirantes e a Aliança Rebelde pensava que tinha dado cabo de todos eles, numa alusão de que o pau não quebrou somente em Endor (esses detalhes já nos mostram como Zahn leva o Universo de “Guerra nas Estrelas” muito mais a sério do que Lucas). Esse é o grão-almirante Thrawn. Esse é o cara!!! O grande trunfo de Zahn! Ouso dizer que é um vilão à altura de Vader ou até além. Se Vader era o mal em pessoa e era implacável, matando seus desagrados com o uso da força, Thrawn é muito mais maquiavélico, no sentido de que ele morde e assopra. Ele raramente mata alguém e prefere controlar as pessoas com um terrorismo psicológico sem precedentes. Mas sabe também dar promoções aos seus subordinados, mesmo em situações adversas de um ataque fracassado, por exemplo. É só o comandado saber analisar a situação racionalmente, mesmo sob a pressão do medo e buscar alternativas plausíveis para sanar o problema. Isso fazia com que o grande líder fosse simultaneamente amado e temido por seus subordinados, bem ao estilo do que Maquiavel recomendava no capítulo 13 de sua obra “O Príncipe”. Esse quê maquiavélico de Thrawn aparece progressivamente ao longo da Trilogia, sendo coroado agora em “O Último Comando”.

Mara Jade. Uma misteriosa mulher.

Para auxiliar Thrawn na reconquista da galáxia, Zahn criou o personagem C’Baoth, um mestre jedi altamente instável emocionalmente. Essa instabilidade também é crescente ao longo da Trilogia e o motivo dela é algo muito bem bolado, mas essa vou deixar para vocês procurarem lá nos livros. O trato entre Thrawn e C’Baoth consiste no jedi auxiliar Thrawn com a força e o grão-almirante fazer todos os esforços para capturar Luke Skywalker, Leia Organa Solo (a princesa se casou com o contrabandista Han Solo!) e seus filhos gêmeos, para C’Baoth treiná-los e moldá-los aos seus planos de dominar a galáxia. Essa aliança entre o jedi e o grão-almirante vai infernizar a Nova República, ainda frágil politicamente, principalmente pelo fato de que Thrawn é um excelente estrategista em muitas áreas e consegue antecipar todos os movimentos da Nova República. Há, ainda, um grupo de contrabandistas liderado por Talon Karrde, que conta com a ajuda da enigmática personagem Mara Jade, que tem como objetivo principal de sua vida matar Luke Skywalker. Por que? Vá ler o livro!!!

Talon Karrde, o contrabandista

A história ainda se desdobra em mais personagens e subtramas, e assim podemos ver toda a saga visitando vários planetas, detalhadamente descritos por Zahn, que nos ajuda e muito a construir toda uma memória visual. Eu diria que Zahn tem um estilo muito cinematográfico em seus textos, a ponto de, mal comparando, se assemelhar até a João do Rio em alguns momentos, que falava detalhadamente da vida e do cotidiano do Rio de Janeiro no século XX. Uma descrição muito cinematográfica, assim como a de Zahn.

O Mestre Jedi C’Baoth

E o desfecho da Trilogia? Calma, não darei “spoilers” aqui. Só vou dizer que fiquei um pouco decepcionado. A obra foi tão grandiosa que eu confesso que eu queria algo um pouco mais pirotécnico. Zahn tinha dois desfechos simultâneos. E ele priorizou mais um desfecho que outro, o que eu achei uma pena. E o desfecho menos priorizado acabou de uma forma excessivamente simplória. Confesso que queria muito mais. Talvez o que salve esse desfecho simplório tenha sido a fina dose de ironia nele, que não condiz com o que foi apresentado ao longo do livro. Daí a ironia… Mas confesso que fiquei com cara de tacho.

Outra coisa que lamentei foi um número excessivo de erros de revisão no texto. Os livros iniciais da Aleph não tinham tantos erros de revisão. Mas, com o tempo, e talvez com a pressa de lançar novos livros todo mês, os erros de revisão se multiplicaram. Vemos desde erros de digitação até de concordância, verbos mal conjugados, palavras repetidas, palavras que faltam. Toda vez que eu pegava o livro para ler, me deparava com um ou dois erros. E eu peguei o livro para ler várias vezes, pois só posso fazê-lo em doses homeopáticas. Tudo bem, eu sei que errar é humano, que sempre alguma coisa passa, mas tanto em “O Último Comando” quanto em “Um Novo Amanhecer”, os erros de revisão foram excessivos. Eu também sei que esses lançamentos buscaram ser alavancados pela estreia do Episódio VII na ocasião, mas talvez fosse melhor lançar uma quantidade um pouco menor de livros mais cuidadosamente revisados. Todos esses erros acabam pegando mal para um trabalho tão bem feito e elogiado que a Aleph faz. Fica feio…

De qualquer forma, a experiência de ler o Universo Expandido de “Guerra nas Estrelas” tem sido esplêndida e confesso que não tenho conseguido ler mais nada desde que a Aleph se apossou de nossas almas. Como eu já disse em outras ocasiões, esses livros dão um tom de seriedade à saga que Lucas infelizmente não deu, quando o criador de “Guerra nas Estrelas” buscava um caminho mais lúdico e aventureiro. O Universo Expandido, pelo contrário, tem os pés mais no chão, enreda uma boa trama política, é uma ficção científica mais séria, ou seja, para fazer uma pequena provocação, aproxima “Star Wars” das melhores coisas que vemos em “Star Trek”. E isso é um elogio, pois eu sou um trekker assumidíssimo que também gosta muito de “Guerra nas Estrelas”, que praticamente deu o pontapé inicial em minha cultura cinematográfica lá no final da década de 70. Por essas e por outras, os livros do Universo Expandido são altamente recomendados, por darem novas perspectivas à “Guerra nas Estrelas”.

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Timothy Zahn, o maior escritor de “Guerra nas Estrelas”, sem a menor sombra de dúvida…

Batata Books – Almanaque Jedi. De Fãs Para Fãs.

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Capa do Almanaque

Editora Leya lançou a primeira publicação de autoria de um grupo de fãs no Brasil, o Almanaque Jedi, um livro com o selo do Conselho Jedi Rio de Janeiro. Escrito por Brian Moura e Henrique Granado, o almanaque é um prato cheio para todos aqueles que curtem o Universo de “Guerra nas Estrelas”. Como os próprios autores enfatizam, é um livro feito por fãs para os fãs, e que se estende em conhecimento e conteúdo também inspirado em amigos dos demais Conselhos Jedi existentes no Brasil. Então, podemos ter a certeza absoluta de que o trabalho foi feito com muito amor e de forma espontânea, sendo por isso mesmo muito bem realizado e com um ótimo resultado. É um livro de leitura rápida e agradável, onde ficamos impressionados com algumas informações, rimos muito com outras e nos deliciamos com todas.

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Um livro de leitura rápida…

E o que vemos, afinal, nesse bom almanaque? Lá podemos compartilhar muitas informações preciosas como, por exemplo, quem são os Sith e os Jedi, o que é Cânone e Universo Expandido, quais são as preciosas dicas para se formar um fã-clube, um quiz que tem desde perguntas muito fáceis, passando por várias “pegadinhas” e chegando até àquelas perguntas que somente um fã de carteirinha sabe responder, etc. Um capítulo muito especial é o que fala do histórico dos efeitos especiais. Nunca podemos nos  esquecer que o grande cartão de visitas de “Guerra nas Estrelas” foram os efeitos especiais, considerados revolucionários para a época em que foram feitos (1977) e que mudaram a forma de se encarar o cinema.

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Tem quiz!!!

Outro capítulo muito importante responde uma pergunta muito frequente nas redes sociais, que é a de quais seriam as melhores formas de se começar a tomar contato com o Universo Expandido, falando inclusive da antiga república e do surgimento dos Sith. Você gosta de colecionar “action figures”? Muito bem! Há um capítulo que fala só disso, dizendo quais são os mais antigos e raros, lançados à época do Episódio IV, quais são os mais fáceis e difíceis de achar, o que você deve fazer para não levar gato por lebre, etc. Há, nesse capítulo, até o cuidado de se lembrar que, apesar de uma coleção ser algo legal, você deve preservar o seu bolso e que há coisas mais importantes do que os bonequinhos como, por exemplo, as contas de casa e não ser um chato com as pessoas com quem você convive entupindo a casa com os “action figures”. E se você gostar de videogame? Tem toda uma descrição dos jogos de “Guerra nas Estrelas” para todos os tipos, desde aqueles em que você dá os seus tirinhos até os inspirados em RPG. É falado também dos RPGs em si, não somente dos jogos de “Guerra nas Estrelas”, mas também descrevendo em linhas gerais o que é um jogo de RPG para quem não o conhece. Os filmes feitos por fãs (“fanfilms”) têm um capítulo especial, onde podemos ver excelentes enredos que, se bem trabalhados com todos os recursos, poderiam render ótimas películas. E, é claro, a parte engraçada da coisa, que são as loucuras que os fãs como a petição de 30 mil assinaturas enviadas à Casa Branca pedindo a construção da Estrela da Morte ou sacar seu FGTS para ver a estreia do Episódio I (ainda esse!) nos Estados Unidos. Bom, pelo menos ficou o prazer da viagem e de conhecer um novo país. Não sejamos tão severos assim…

Até a Princesa Leia já comprou!!!

O interessante é que o livro tem curiosidades por todo o canto, seja em letras de música, seja em curiosidades sobre as filmagens (o cachê de Harrison Ford para o Episódio IV foi de apenas dez mil dólares!), seja em pequenos detalhes como, a existência de um material resistente ao sabre de luz.

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Falando de colecionáveis…

Esses são alguns dos detalhes presentes no “Almanaque Jedi”, mais um presente que Brian Moura e Henrique Granado dão aos fãs de “Guerra nas Estrelas” e à cultura pop nerd em geral. Mais uma vez a gente deve agradecer ao trabalho desses incansáveis fãs, que querem compartilhar o prazer de gostar de uma saga que é amada em todo o mundo e que, no Brasil, sofreu uma espécie de hiato em meados dos anos 90, quando ninguém falava de “Guerra nas Estrelas”, onde um grupo de fãs decidiu se unir para começar a cultuar conjuntamente os filmes de George Lucas. Esse pequeno grupo foi crescendo e hoje conta com muitos integrantes, numa prova de que o amor por “Guerra nas Estrelas” existia e somente estava, digamos, numa espécie de “limbo”, que a criação do Conselho Jedi do Rio de Janeiro ajudou a desvanecer. Um dos grandes frutos gerados pela iniciativa de se fundar o Conselho Jedi acabou sendo a ressurreição, ainda que por algum tempo, da velha tradição cine clubística, um pouco esquecida desde os tempos do intrépido Cosme Alves Neto, que fundou a Cinemateca do MAM. Certa vez, Henrique Granado, um dos autores do almanaque, em sessão do Cineclube Sci-Fi, perguntou ao público quem já havia aparecido em outras sessões. Depois de ver as pessoas que levantaram o braço, ele disse: “É, sempre as mesmas pessoas”. Mas isso é exatamente o que um cineclube se propõe a fazer: formar um grupo fixo de pessoas que vão aos filmes não somente para assisti-los, mas também para debatê-los ao fim da sessão com palestras e discussões reflexivas. E quanto mais pessoas fazendo isso, melhor, pois ajuda a manter essa tradição altamente sadia, principalmente num país com uma escassez cada vez maior de cabeças pensantes em todos os setores. Por essas e por outras que devemos sempre louvar tais iniciativas e Brian Moura e Henrique Granado o fazem de forma impecável, ainda mais com o lançamento do “Almanaque Jedi”, motivo de orgulho visível para os dois. Não deixem de conferir.

O autor deste artigo (em pé) com os autores do Almanaque Jedi (Henrique Granado, à minha direita e Brian Moura, à minha esquerda)

Batata Books – Sombras do Império. Um Lagarto Metido a Besta.

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Capa do Livro

Mais um livro do Universo Expandido de “Guerra nas Estrelas” lançado pela Aleph. “Sombras do Império” se passa entre “O Império Contra-Ataca” e “O Retorno de Jedi”. Esse livro da série “Legends”, escrito por Steve Perry, busca preencher a lacuna deixada ao final do Episódio V, quando Lando e Chewie vão à busca de Han Solo, sob olhares esperançosos de Luke e Leia num exílio fora da galáxia. A pista é seguir os passos de Boba Fett e tentar resgatar Solo antes que ele fique em poder de Jabba, o Hutt. Mas Luke e Leia não ficarão apenas no aguardo do sucesso de Lando e partem em sua ajuda. O jovem cavaleiro jedi ainda está em treinamento e não domina todas as técnicas. Leia, por sua vez, mal sabe de suas habilidades e ainda as tateia.

Xizor, um personagem muito arrogante

Do lado do Império, Vader e o Imperador maquinam planos para capturar Luke vivo e trazê-lo para o lado sombrio, já que seu poder é imenso e Vader quer moldá-lo aos seus desejos. Mas um elemento novo será adicionado a essa trama: a organização criminosa Sol Negro, comandada pelo Príncipe Xizor, da espécie Falleen, cujos ancestrais haviam sido reptilianos. Xizor é uma figura extremamente poderosa e sua influência se estende por vários pontos da Galáxia, numa rede de negociatas e corrupções. Nosso amigo do Sol Negro é extremamente convencido e arrogante, e na sua luta por mais poder e influência, faz um perigoso jogo com o Imperador, o que desperta a ira de Vader. Como há um interesse em Luke por parte do Imperador e Vader, Xizor também vai querer capturá-lo e matá-lo, principalmente para tripudiar com Vader, que percebe seus joguetes. Assim, o grande atrativo do livro é esse duelo entre Xizor e Vader.

Mas há outras curiosidades interessantes. Han Solo estava congelado na carbonita? Tudo bem, foi criado um personagem praticamente à imagem e semelhança de Solo, Dash Rendar, um mercenário altamente convencido e divertido, que inclusive colocava Lando em várias saias justas. E outro detalhe muito instigante. Como Luke Skywalker perdeu seu sabre de luz (e a mão) em “O Império Contra Ataca”, podemos ver no livro todos os detalhes da construção do novo sabre pelo jovem cavaleiro Jedi, um processo que era meticuloso e passível de vários riscos, inclusive fatais. Para quem tem curiosidade de saber como um sabre de luz é construído, esse livro é uma peça fundamental.

Xizor tentará seduzir Leia

Entretanto, o livro tem problemas. Ele está muito centrado no personagem de Xizor, o que chega a ser irritante, dada toda a sua marra. O homem se acha o gostosão não somente em seu poder econômico e até, de uma certa forma, político, mas também na arte da conquista das mulheres, já que ele exala irresistíveis feromônios. E aí o príncipe verdinho vai querer conquistar Leia, que busca contato com o Sol Negro para negociar informações que levem ao paradeiro de Han Solo. Essa atenção excessiva foi deliberada por parte do autor para tornar Xizor tão odioso que a gente chega até a torcer por Vader nesse duelo particular. Todo um detalhamento da vida de Xizor foi feito e, quanto mais sabíamos dele, mais insuportáveis ficavam sua autoconfiança e arrogância. Sabemos que esse foco explícito em Xizor também se deu para tornar o personagem muito conhecido e alavancar suas vendas em “action figures”. À propósito, “Sombras do Império” foi um projeto multimídia lançado pela Lucasfilm em 1996 que tinha, além do livro, quadrinhos e jogos de videogame e só conhecemos detalhadamente a história se tomarmos contato com essas três mídias.

O desfecho do livro foi pirotécnico, interessante por ser cheio de ação e combates espaciais. Mas “Sombras do Império” não foi um dos melhores livros do Universo Expandido. Talvez as melhores partes dele sejam as que se refiram a Vader, onde há uma passagem em que fica bem claro a aversão do senhor sombrio à hipocrisia nas disputas pelo poder. Vader se sentia muito mais à vontade na sinceridade da agressividade do guerreiro do que na falsidade dos joguetes políticos. E isso somente aumentava seu ódio por Xizor, que era um mestre em demagogias e manipulações. E parecia estar manipulando o Imperador em busca de seus interesses. Parecia…

Guri, androide sensual e perigosa

Outros elementos alusivos à Vader são dignos de destaque. Suas técnicas jedi para curar suas lesões, o uso da raiva para sobreviver por um curto período de tempo fora da proteção de sua roupa e de sua câmara, a dor que ele sentia ao sorrir (ou seja, ao estar alegre) quando pensava em Luke. Desse ponto de vista, o livro valeu, e muito. Mas tinha aquele lagartão metido à besta que era o Xizor. Esqueci de falar ainda da androide Guri, o braço direito de Xizor, em formato de mulher loura altamente sensual, mas extremamente perigosa e fria. Fazer uma memória visual dessa personagem foi uma experiência bem agradável e foi uma interessante personagem, pois ela sempre buscava colocar Xizor nos prumos quando ele ficava excessivamente excitado, principalmente por Leia. Era um misto de ciúme e protocolos de sua programação.

Dessa forma, se “Sombras do Império” não chega a ser um grande livro do Universo Expandido, por ter sido desproporcional na atenção dispensada ao personagem Xizor, ainda assim sua leitura é recomendável, principalmente quando o livro se refere a Vader, seus desejos, alegrias e ódios. Mais uma leitura curiosa que a Aleph trouxe para a gente.

Vader irá travar um duelo com Xizor e vamos torcer pelo senhor sombrio!!!!

Batata Books – Um Novo Amanhecer. A Gênese de Rebels.

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Capa do Livro

Vamos recordar mais um lançamento da Aleph do Universo de “Guerra nas Estrelas”. “Um Novo Amanhecer”, escrito por John Jackson Miller (o mesmo autor de “Kenobi”), tem como personagens principais os protagonistas da série “Rebels”. E, segundo Dave Filoni, o produtor executivo e diretor de supervisão da série “Rebels”, o velho conceito de cânone, ou seja, as histórias consideradas “oficiais” pelos detentores dos direitos de “Guerra nas Estrelas”, já não existe mais e, desse ponto em diante, tudo o que é produzido sobre Guerra nas Estrelas, seja em cinema, quadrinhos, “games”, etc., está agora conectado. Assim, “Um Novo Amanhecer” não está incluído na série “Legends”. Devemos nos lembrar que a Aleph publicou livros da série “Legends”, histórias consideradas “não oficiais” por George Lucas, mas nem por isso, menos instigantes. Essa revelação de Filoni é muito importante para que o Universo de Guerra nas Estrelas fique cada vez mais forte.

Kanan Jarrus

Mas, e a história de “Um Novo Amanhecer”? Ela tem como protagonista principal Kanan Jarrus, um homem solitário e de espírito muito independente que carrega explosivos para mineração de torilídio na lua de Cynda, que orbita um planeta chamado Gorse. O torilídio é muito importante para o Império, pois ele é usado na construção de naves espaciais e a história se passa numa época em que o Império quer aumentar a sua frota de destróieres estelares (estamos entre os episódios III e IV) para incrementar seu poderio militar. Quem vai supervisionar a produção de torilídio será o Conde Vidian, um ser cibernético altamente frio, calculista e implacável, cuja força descomunal da parte mecânica de seu corpo é usada para aniquilar fisicamente todos aqueles que levemente o desagradam. Pressionado pelas ordens do Império de aumentar a produção de torilídio, o conde impõe aos mineradores e às respectivas empresas mineradoras às quais pertencem, um regime de produção desumano. Há, também, um veterano das Guerras Clônicas, Skelly, que descobriu que as explosões nas minas de Cynda para a extração do torilídio irão destruir a lua em breve, e ele fará de tudo para avisar Vidian sobre isso. E há, ainda, a bela Hera Syndulla, uma Twi’lek (aquelas lindas mulheres verdes com duas trombinhas – ou lekkus – na parte de trás da cabeça) que é uma espiã de uma nascente força rebelde que vai investigar quais são as pretensões do Conde Vidian desde sua chegada ao sistema Gorse-Cynda.

Hera Syndulla

Essa nova história de John Jackson Miller é regada a boas cenas de ação, mais do que foram vistas em sua outra publicação que chegou até nós, “Kenobi”. Como a própria capa do livro “Um Novo Amanhecer” mostra, Kanan e Hera vão se unir para combater os planos maléficos do Conde Vidian com relação aos destinos de Gorse e Cynda. O trabalhador da região mineradora, cujo passado ele quer esconder de todos, se diverte em bebedeiras e brigas de rua, sem qualquer consciência política. Hera será para ele uma nova perspectiva de vida, onde sua paixão pela Twi’lek sempre ficará implícita.
Já o personagem do Conde Vidian é curiosíssimo. Precisarei dar uns spoilerzinhos aqui. É muito curioso perceber como Miller abordou o Império e seus asseclas neste livro. Ele colocou como uma das faces mais más dessa força do mal a exploração econômica e a corrupção, coisas com as quais estamos muitos familiarizados em terras tupiniquins. O personagem do Conde Vidian é emblemático nesse sentido, pois ele era um funcionário público insignificante nos tempos da República, que gostava de fazer tudo certinho, enquanto via outros funcionários corruptos procedendo da velha e conhecida forma do “armar para se dar bem”. Mas Vidian fora acometido de uma doença degenerativa e, enquanto jazia no leito do hospital, decidiu “entrar no esquema” e começou a acumular poder com uma conta bancária falsa (eu já ouvi isso em algum lugar).

Skelly

Fazendo todo o tipo de armação, ele enriqueceu e o Império só foi um suporte que ele utilizou para se tornar uma figura muito poderosa e implacável. Ou seja, o vilão principal da história é um bom exemplo de como zés preás que não são nada podem utilizar governos ditatoriais para acumular poder e destilar toda a sua mágoa e sentimento de vingança nas costas dos outros por ter passado por uma vida vazia e medíocre. Esses exemplos não faltam por aí e creio que Miller acertou na mosca ao construir Vidian dessa forma. A sanha do Império em aumentar a produção de torilídio, não importa como fosse, explorando economicamente e de forma muito severa empresas mineradoras e seus empregados, onde o bem estar dos trabalhadores e suas vidas pouco importavam, foi outro elemento atraente na história, que nos remete aos primeiros anos da Revolução Industrial lá no século XVIII, onde o capitalismo totalmente selvagem explorava os trabalhadores até os limites da resistência humana e além. É por isso que a literatura de “Guerra nas Estrelas é tão importante a meu ver, pois os escritores dão uma nova forma de se enxergar a franquia e dão um tom de seriedade e reflexão à saga que George Lucas não dava (o criador de “Guerra nas Estrelas” parecia às vezes estar mais preocupado com Ewoks, formigas brancas tocando PVC ou Jar Jar Binks, sendo eu nunca o perdoarei por esse último!).
Assim, “Um Novo Amanhecer” foi mais um tiro certeiro da Aleph, pois vemos aqui a gênese da rebelião contra o Império, encabeçada por dois personagens que, se não são Han, Luke, Leia ou Kenobi, são também cativantes e levam mais interesse do público à série “Rebels”. E tem o grande mérito de mostrar o Império numa forma capitalista e exploratória, algo que vemos em algumas ditaduras sanguinárias por aí, mas também em países que se orgulham de dizer que têm governos democráticos e liberais. É “Guerra nas Estrelas” deixando de ser só um entretenimento juvenil para se tornar um produto cultural mais reflexivo. Como eu ansiava por esse dia!

Conde Vidian

Batata Books – Tarkin. Explorando um Personagem Pouco Conhecido.

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Capa do Livro

Após a triste notícia de que a Editora Aleph vai parar de publicar livros de Guerra nas Estrelas, vamos nos lembrar de um bom lançamento do Universo Expandido. “Tarkin”, escrito por James Luceno, resgata um personagem do Episódio IV um tanto que mal aproveitado na película que deu origem à saga. Interpretado por Peter Cushing (o lendário Van Helsing dos filmes de Drácula da produtora inglesa Hammer, cujo vampiro era interpretado por Christopher Lee, o conde Dooku dos episódios II e III), o governador Tarkin, ou moff Tarkin, ou ainda mais tarde, grão-moff Tarkin, tem aqui destrinchados o seu passado e sua carreira, o que nos ajuda a entender mais esse intrigante personagem que não tivemos muita oportunidade de conhecer, o comandante da primeira Estrela da Morte, estação móvel de combate, destruída pela Aliança Rebelde, o que provocou a sua morte. Vamos aqui analisar sua trajetória, lembrando sempre que precisaremos dar uns “spoilers”.
A história de “Tarkin” se passa entre os episódios III e IV, quando a estação móvel de combate é construída na base sentinela, localizada na Orla Exterior. Um ataque de uma força desconhecida à base acaba lhe rendendo uma convocação do Imperador em pessoa, onde Tarkin terá a responsabilidade de investigar a origem do ataque com a ajuda de ninguém menos que o braço direito do Imperador, o senhor sombrio, Darth Vader! O grande detalhe é que os conspiradores conseguem roubar a nave de Tarkin, a “Pico da Carniça”, motivo de seu orgulho pessoal, fazendo um jogo de gato e rato bombardeando alvos estratégicos do Império e dando saltos no hiperespaço, provocando uma louca caçada por parte das forças imperiais. Os conspiradores que atacam o Império são também apresentados, assim como seus passados em dias republicanos. Assim, o moff tem um grupo de adversários à altura e ele precisa lançar mão de sua astúcia e competência para deter os ataques desses nascentes rebeldes.
Qual é a grande virtude de “Tarkin”? A noção de centro e periferia, muito semelhante à noção de metrópole e colônia em História. O núcleo da galáxia era a parte mais desenvolvida do Império, onde ficava a grande e urbanizada capital Coruscant. Por sua vez, a periferia estava na chamada “orla exterior” da galáxia, onde os mundos ainda eram muito inóspitos e alguns deles deviam ser conquistados. Era o caso de Eriadu, planeta natal de Tarkin, assim como outros planetas conhecidos do Universo de “Guerra nas Estrelas”, como Tatooine, Naboo (planeta natal do Senador Palpatine) e Geonosis (planeta onde o exército de clones foi usado pela primeira vez contra as forças separatistas do conde Dooku), todos mundos na parte periférica da galáxia. Essa periferia ainda apresentava uma intensa atividade de contrabandistas e piratas. O processo de colonização e conquista de Eriadu muito nos lembra os primeiros colonizadores do continente americano que, em nome da Coroa de seus países, desbravaram um território considerado traiçoeiro, enfrentando culturas indígenas, animais selvagens e insetos jamais vistos e a pirataria de países estrangeiros, querendo um reconhecimento e títulos de nobreza de suas metrópoles por causa disso.

Grão-Moff!!!

E o título de moff? Ele pode muito bem ser visto como uma analogia dos títulos de nobreza que os senhores feudais recebiam do rei no Antigo Regime. Nosso protagonista foi o governante de seu planeta natal Eriadu, mas depois ele recebeu do Imperador o título de moff, que lhe dava um poder maior sobre sua localidade na orla exterior. E, posteriormente, o título de grão-moff lhe daria futuramente poder sobre toda a orla exterior. No caso da colonização portuguesa, tínhamos algo semelhante aos moffs, se pensarmos nos governadores gerais do Brasil ou nos vice-reis e capitães gerais das colônias espanholas na América. E, talvez até um grão-moff, já que em Portugal existia o Conselho Ultramarino, um órgão da Coroa Portuguesa especializado em assuntos das colônias, cujos membros eram pessoas que já tinham alguma experiência em administração colonial.
A infância e adolescência de Tarkin foram marcadas por um ritual de iniciação numa chapada em que ele era submetido às maiores provações, ou seja, os pais desde cedo o alertaram de que poderia um dia perder a sua vida pomposa e confortável e que a dominação das forças da natureza era a única forma de garantir a sua sobrevivência. Tarkin foi submetido a uma violenta disciplina por seu tio-avô Jova na perigosa Chapada da Carniça, onde teria que lutar pela vida contra violentos predadores e mais; ele mesmo deveria se tornar um predador, dominando outras espécies altamente ferozes, estudando-as para atacá-las. Esses anos de aprendizado seriam essenciais para seu sucesso quando estivesse nas fileiras do Império. O grande teste seria feito no “Pico da Carniça”, uma grande coluna escarpada onde ele encontraria… paremos por aqui com os “spoilers”. Esse ritual de iniciação de Tarkin lembra muito o ritual de iniciação de Leônidas, líder espartano do filme “300”. Assim, vemos Tarkin, esse homem de periferia, visto com desdém pelas pessoas do núcleo galáctico, conquistando seu lugar ao sol numa posição central do Império, tornando-se um homem impecavelmente elegante, preocupado com o corte de seus uniformes, mas ao mesmo tempo com um passado selvagem, o que o tornava um militar imperial de sentido altamente aguçado e de uma crueldade sem igual, algo que despertou a atenção do ainda senador Palpatine nos dias da República, tratando logo de arrebanhá-lo para a conspiração Sith que afundaria a República e instituiria o Império.

Parceria com Darth Vader…

O relacionamento entre Tarkin e Vader foi outro momento interessante do livro. Como os dois foram forçados a trabalharem juntos, fica clara uma preocupação de Tarkin com o que Vader pensava por trás daquela máscara, já que era impossível fazer uma leitura facial das emoções e intenções do senhor sombrio em qualquer assunto. E assim, ficava desconfortável para Tarkin qualquer tentativa de um relacionamento mais estreito com Vader. Já com o Imperador, as coisas foram mais próximas desde o início, pois o ainda senador Palpatine manteve os primeiros contatos com o jovem Tarkin, demovendo-o de seguir uma carreira mais próxima do direito quando a caserna parecia mais adequada.
Dessa forma, “Tarkin” é mais um interessante produto do Universo Expandido de “Guerra nas Estrelas”, pois resgata um importante personagem da saga, dando-lhe toda uma história e um passado, além de explorar a noção de centro e periferia no Império Galáctico, muito semelhante às visões dos primeiros conquistadores do período colonial. Nosso grão-moff será um produto do meio em que viveu (ideia defendida pelo iluminista Jean Jacques Rousseau), com sua crueldade sendo proveniente dos rituais de iniciação da Chapada da Carniça, lugar onde desenvolveu seu espírito de conquista, e sua elegância veio de seu passado aristocrático, descendente de uma linhagem dos conquistadores de seu planeta natal, Eriadu. Mais outra leitura obrigatória para quem gosta de “Guerra nas Estrelas”.

Construindo uma Estação Móvel de Combate…

Batata Books – Thrawn. Uma Ascensão Meteórica.

Capa do Livro, pela Editora Aleph…

Dentro da proposta da Editora Aleph de lançar títulos relacionados a “Guerra nas Estrelas”, temos “Thrawn”, de Timothy Zahn. Passando uma rápida olhada na capa do livro, vemos que esta já não contém mais o selo “Legends”, ao contrário de outras obras do autor. Ou seja, essa já é uma obra pertencente ao cânone, dando a Zahn o status que ele sempre mereceu.

Esse era um livro muito esperado pelos fãs, pois ele dá um passado ao Grão Almirante Thrawn, o principal vilão da famosa trilogia escrita por Zahn, que é constituída dos livros “Herdeiro do Império”, “Ascensão da Força Sombria”, e “O Último Comando”, trilogia essa considerada por muitos fãs como os verdadeiros Episódios 7, 8 e 9, ocorrida cinco anos depois da Batalha de Endor, que deu fim ao Império. A grande contribuição dessa trilogia foi dar vida ao Grão Almirante Thrawn, que ainda mantém vivos os resquícios do Império e é um adversário muito perigoso para os antigos rebeldes, agora no governo da República, pois ele é um exímio estrategista militar que estuda o inimigo a partir de sua produção artística e cultural. Thrawn e seu pensamento espelham demais o pensamento de Maquiavel, sabendo provocar, simultaneamente, admiração e terror em seus subordinados. Sempre sereno, Thrawn lança mão do expediente da violência contra seus comandados apenas raramente, mas exige deles inteligência e eficiência. Somente por essas características, vemos a forma elegante e madura como Zahn trata o Universo de “Guerra nas Estrelas”.

Ele está de volta, agora em suas origens…

Mas, voltemos a “Thrawn” (precisaremos dar alguns spoilers aqui). O livro, como foi dito, mostra os primórdios do Grão Almirante, um humanoide de pele azulada e olhos vermelhos que é da civilização chiss, das regiões desconhecidas da galáxia. Com sua alta capacidade de estratégia, Thrawn consegue se infiltrar no Império e logo cai nas graças do Imperador, mesmo que seja visto com muito preconceito pela elite imperial por não parecer humano. Ele será acompanhado por Eli Vanto, que primeiro atuará como seu intérprete, mas ficará ao lado de Thrawn, que ascende rapidamente em sua carreira militar, ao contrário de Vanto. A dupla irá combater contrabandistas, piratas e insurgentes. Mas também irá ter um grande desafio pela frente, que é descobrir a identidade do criminoso Cisne Noturno. Outro problema que Thrawn irá enfrentar será a sua falta de habilidade política em lidar com a elite imperial que tanto o odeia. Para isso, Vanto também lhe será útil ao passar algumas dicas.

Thrawn e Eli Vanto, uma grande dupla…

Há uma história paralela a essa, a de Arihnda Pryce, dona de minas em Lothal, e que as perde para o Império em uma troca (compulsória) por um cargo burocrático em Coruscant. A moça, então, vai ter que lidar com toda a burocracia e politicagem da capital do Império, fortemente regada a clientelismo e muita corrupção. Assim, Zahn nos dá um duplo presente: no núcleo de Thrawn, sua habilidade com estratégias militares usando o estudo de culturas alienígenas dá o tom da história, tendo Eli Vanto como aprendiz de nosso protagonista, e levando a carreira meteórica do futuro Grão Almirante; e no núcleo de Arihnda Pryce vemos uma inteligente intriga política, com direito a muitos altos e baixos da personagem. E, como pano de fundo, um ambiente pesado da maldade inerente ao Império, muito mais presente em Arihnda do que em Thrawn. Estes dois núcleos obviamente irão interagir, embora, na modesta opinião deste escriba, isso tenha ocorrido muito pouco e talvez até tardiamente. Ou seja, essas duas histórias poderiam ter se alimentado mutuamente muito mais. Entretanto, esse pequeno porém não tira a genialidade desta obra literária muito bem escrita, confirmando o que todos já sabem: Timothy Zahn é um dos maiores (senão o maior) escritores do Universo de “Guerra nas Estrelas”.

Arihnda Pryce também esteve em “Rebels”, lembram?

Assim, “Thrawn” é uma obra simplesmente imperdível e obrigatória para qualquer fã que quer ver a franquia “Guerra nas Estrelas” tratada com muita inteligência, elegância e respeito. Não deixe de ler.

Timothy Zahn, o maior escritor de Guerra nas Estrelas de todos os tempos…

Batata Books – Império E Rebelião: O Fio Da Navalha. Leia E Os Piratas.

                Capa do Livro

A Editora Universo Geek lançou mais um livro da saga de “Guerra nas Estrelas”. Sob o selo “Legends”, “Império e Rebelião: O Fio da Navalha”, de Martha Wells, é um livro mais centrado na Princesa Leia, bem ao gosto do estilo do empoderamento feminino atual e, como o próprio título sugere, coloca nossa amada princesa na popular sinuca de bico, numa trama ardilosa em que Leia terá que ter muito jogo de cintura para lidar com as muitas adversidades que aparecem pelo caminho.

                  Leia numa situação espinhosa…

Mas, no que consiste a história? Estamos entre os Episódios IV e V, onde a Aliança Rebelde é implacavelmente seguida pelo Império e ela precisa montar a sua base no planeta gelado de Hoth. Numa negociação pela compra de recursos para a base, Leia e Han Solo partem para uma viagem com o intuito de fechar o acordo. Entretanto, eles caem numa armadilha em que serão atacados por forças do Império. Uma sucessão de acontecimentos colocará nossos protagonistas frente à frente com uma nave pirata cujos tripulantes são originários de Alderaan, o mesmo planeta de Leia, destruído pela Estrela da Morte. Esses piratas estavam endividados com uma corporação pirata ainda maior, que poderia muito bem entregar Leia ao Império caso soubessem da verdadeira identidade dela. Para piorar a situação, o Império tem um agente infiltrado dentro da Aliança que poderá colocar tudo a perder. Leia, que teve a tripulação de sua nave seriamente afetada pelo ataque, buscará resgatar a tripulação de outra nave que será aprisionada pela corporação pirata com o objetivo de vender os membros da tripulação como escravos, e ainda vai ter que lidar com os piratas de seu planeta natal, onde ficará aquela situação ambígua de os piratas de Alderaan serem, ao mesmo tempo, criminosos e dedicarem uma grande devoção à princesa enquanto sobreviventes da tragédia que assolou seu planeta. O problema é que o tal agente imperial infiltrado e o próprio Império estão à espreita.

             Han Solo. Participação secundária…

Esse é um livro de mulheres, como foi dito acima. Além de Leia, a líder dos piratas de Alderaan e a líder da corporação pirata também são do sexo feminino e há uma interação grande entre essas personagens, que assumem realmente uma posição central. Han Solo, por exemplo, tem uma posição mais secundária na história, enquanto que Luke Skywalker e Chewbacca praticamente são coadjuvantes, aparecendo pouco ao longo da história. Isso pode até incomodar um pouco os fãs, mas creio que essa situação é bem compensada pela boa construção de Leia no livro, onde seus pensamentos, medos, indecisões e decisões são frequentemente mencionados, sobretudo nas relações com Metara, a líder dos piratas de Alderaan, muito insegura perante Leia, e Viest, a líder da grande corporação pirata, uma mulher perversa e cheia de caprichos.

O livro tem um pequeno problema, sendo um tanto maçante na sequência em que Leia e os piratas de Alderaan estão no grande asteroide de Viest. Aqui a história se preocupou muito em contar como era o interior do asteroide em ricos detalhes, à medida que nossos personagens se deslocavam por ele. Tal detalhismo tornou a coisa meio arrastada e sem ação, ao contrário do que acontece mais ao fim do livro, onde a ação frenética torna a leitura muito mais rápida. Confesso que essa descontinuidade incomodou um pouco.

Ainda assim, “Império e Rebelião: No Fio da Navalha” é um bom livro, pois colocou Leia em dilemas éticos e morais pesados, além de obrigar nossa personagem a assumir uma postura diplomática e estratégica muitas vezes quando ela interagia com os demais personagens do livro, seja com Metara, seja com Viest, seja com os imperiais. E é curioso perceber que Leia e Solo ainda não têm um relacionamento amoroso aqui, o que torna a interação entre os dois ainda um pouco dura e que nos dá a chance de presenciarmos umas situações um pouco engraçadas. Vale a pena a leitura, principalmente para as fãs de Leia e os fãs de “Guerra nas Estrelas” em geral.

      Metara, uma pirata de Alderaan…

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