Batata Movies – Kong, A Ilha Da Caveira. Mais Uma Vez O Macaco Tá Certo!!!!

Cartaz do Filme

O leitor, ao olhar para o título acima, deve estar se perguntando: “King Kong??? Outra vez???”. Pois é. Confesso que acho que fazer mais um filme desses é algo digno de muita coragem, pois essa história é para lá de manjada, e somente vale a pena gastar mais grana se alguns elementos inéditos aparecerem. E o pior é que nada de inédito apareceu no filme. Só víamos referências a outras películas. O detalhe é como essas referências foram montadas e coladas. Aí sim tivemos um efeito um tanto interessante e jamais visto, pois a mistura de gêneros acabou casando muito bem, por incrível que possa parecer.

O velho macacão está de volta!!!

Bom, para podermos ser mais claros, façamos uma pequena sinopse do filme. Bill Randa (interpretado por John Goodman) busca convencer um senador a fazer um financiamento para uma viagem a uma ilha desconhecida, com a ajuda de alguns militares americanos que acabaram de abandonar a Guerra do Vietnã. Isso mesmo, estamos em meados dos anos 70. O líder desses militares é Preston Packard (interpretado por Samuel L. Jackson) e é uma daquelas vacas bem brabas. Ainda foi contratado um especialista em desbravar selvas, James Conrad (interpretado pelo “Loki” Tom Hiddleston) e uma fotógrafa de guerra meio riponga, Mason Weaver (interpretada por Brie Larson). Pois bem. Toda essa equipe vai à ilha e lança explosivos (!) para fazer experimentos sísmicos, mas eles acabam despertando o King Kong, o rei da ilha, que derruba todos os helicópteros da expedição. A partir daí, os sobreviventes terão que chegar a um ponto de encontro na ilha para serem resgatados. Só que há muitos bichões pelo caminho, além de Kong…

Um Deus da Natureza benevolente com humanos indefesos

O filme tem detalhes muito interessantes. Em primeiro lugar, há um embate entre o possibilismo humano, que controla e domina a natureza a seu bel prazer, e o determinismo que a natureza, por sua vez, impõe ao ser humano. Até que ponto o ser humano realmente pode tudo? Nesta ilha, o ser humano definitivamente não tem vez e está à mercê de animais gigantes que colocam o humano numa posição muito insignificante. Só é algo muito curioso ver King Kong como o grande Deus da Ilha e os demais animais gigantes, sobretudo os répteis, como os grandes vilões da coisa. Mesmo que os animais dominem tudo, Kong ainda meio que “protege” os humanos, só ratificando a dependência e submissão total deles contra as forças da natureza, violentamente inóspitas para o caso dos outros animais. Mas o elemento humano resiste à imposição determinista da natureza, principalmente na figura de Preston Packard, curiosamente um vilão e o militar que está obcecado em matar Kong, não se dobrando ao determinismo da natureza, ou seja, uma luta violenta entre o humano que acha que pode tudo e a natureza que limita as ações humanas.

Uma fotógrafa e um desbravador de matas. Reconhecimento de que a natureza é quem manda…

Outro elemento notável do filme é toda a estética da Guerra do Vietnã que a película tem, incluindo muitas referências à “ Apocalipse Now”, só que com um macaco gigante no meio, numa mistura de gêneros cinematográficos que, ao contrário do que se pode parecer, casaram muito bem. Foi interessante perceber ainda que a teoria da Terra Oca, uma das ideias mais inusitadas que jamais foram vistas, foi usada no filme, com todos os seres gigantes da Ilha da Caveira saindo de dentro do planeta por uma abertura. Só devemos nos lembrar de que na teoria original da Terra Oca, o tal buraco está no Pólo Norte, de onde vinham os discos voadores, pertencentes a uma civilização que vivia no interior do planeta. Ah, sim! Dentro da Terra ainda havia um Sol em miniatura e sua luz seria vista nas auroras boreais! Melhor roteiro para um filme de ficção impossível! E seria muito legal ver todas essas ideias sendo usadas no filme.

Um militar obcecado pelo possibilismo…

Assim, “Kong, A Ilha da Caveira” é mais um filme de King Kong que trará referências já manjadas, mas nunca concatenadas da forma como foi visto. Misturar Kong com soldados do Vietnã acabou sendo uma boa ideia por incrível que possa parecer. No mais, o debate possibilismo humano X determinismo da natureza foi a grande reflexão da película. Vale a pena dar uma conferida.

Batata Movies – Armas Na Mesa. Corrupção Não É Só Aqui.

 

Cartaz do Filme

Um interessante filme pairou em nossas telonas. “Armas na Mesa” (“Miss Sloane”) é uma película que fala de poder e corrupção, mostrando que esta última não é um privilégio de terras tupiniquins. Um filme um tanto barra pesada. Mas também um grande jogo de xadrez.

Miss Sloane, a marrenta

Vemos aqui a história de Elisabeth Sloane (interpretada por Jessica Chastain), a mais bem sucedida e requisitada lobista de Washington. Ela não mede esforços para alcançar suas vitórias políticas, ao bom estilo “os fins justificam os meios”, sendo uma mulher para lá de marrenta. Mas essa mulher aparentemente fria e calculista sofre de uma insônia crônica que a faz ficar dependente de remédios, escondendo uma instabilidade emocional. Um belo dia, o chefe da empresa em que trabalha organiza uma reunião com um senador que é de um movimento pró-armas. Sloane decide não decide fazer o lobby para o tal senador, o que irrita o seu chefe. Ao mesmo tempo, é convidada a trabalhar numa empresa rival, fazendo justamente um lobby anti-armas. Isso será apenas o início de uma briga de cachorro grande, onde ela lançará mão de todos os artifícios inescrupulosos para conseguir chegar aos seus objetivos, o que também a deixará vulnerável a seus inimigos.

Lutando contra antigos colegas

Esse é o tipo do filme em que o espectador deve ficar ligado o tempo todo, para não perder o fio da meada, pois a coisa fica toda focada no diálogo dos personagens e temos que acompanhar tudo com atenção, pois há muitos personagens envolvidos na trama. Todo o falatório torna o desenrolar da película um tanto enfadonho (algumas pessoas desistiram no meio da exibição e foram embora), mas quem aguentou até o final foi bem recompensado com o desfecho. O mais interessante aqui é como as duas empresas lançavam mão de todos os recursos (muitas vezes um tanto que sorrateiros, imorais ou até ilícitos) para chegarem aos seus objetivos de conquistar os senadores que votariam a favor ou não das armas. Nossa protagonista é uma espécie de anti-herói típica, onde sua marra e suas atitudes inescrupulosas nos despertavam antipatia e até uma certa revolta em alguns momentos.  Mas sua fragilidade como figura humana também nos despertava uma certa pena. E sua inteligência em mover as peças do xadrez na hora certa e de forma correta, principalmente ao desfecho do filme, nos despertou admiração. Todos esses sentimentos despertados pela interpretação magistral de Jessica Chastain, que se mostra uma eficiente atriz, que não só se escora em sua beleza para conseguir papéis. Ainda falando em atores, foi muito legal ver novamente John Lithgow no cinema, interpretando um senador que quer ferrar com a Miss Sloane, e Sam Waterson, no papel do primeiro chefe de Sloane. Para quem não se lembra, Waterson fez a série “Lei e Ordem”.

Prestando explicações à justiça

Assim, “Armas na Mesa” pode até ter um ritmo lento e exigir muita atenção do espectador, mas ele premia todos aqueles que se dedicam a ele, por contar uma boa história com um bom desfecho. O filme ainda traz a boa presença de atores mais antigos e a boa interpretação de Chastain, que era o foco principal do filme. Vale a pena dar uma conferida.

Batata Literária – O Desprezo (Série Obscura).

Todos para mim são insignificantes.
Pessoas com pensamentos irritantes.
Criaturas sem maneiras
que só falam baboseiras.
Não reconheço virtudes em outrem.
Só em mim e em mais ninguém.
Não, não é falta de humildade!
É o reconhecimento nos outros de total incapacidade.
Mas minha perversidade tem outra faceta:
quando quero atingir a quem me corteja,
passo a ignorar totalmente a vítima.
Nunca mais ela tem a minha estima.
Eu rio com o seu desespero.
Me delicio com o seu destempero.
E, quando a graça passa,
me esqueço de tudo de foma devassa.
Já me reconheceram?
Isso mesmo! Sou o desprezo!
O pior jeito de tratar aqueles que comigo se meteram,
como para alguém que fica surpreso
de se deparar com um ser indesejável
e, por isso, toma uma atitude odiável
que é a de machucar, de ser o algoz
de seu alvo, de jeito tão atroz!
Depois que passo pela vida de uma pessoa,
pouco sobra, ela deixa de ser boa.
O inferno se instaura
com o simples objetivo de corroer a aura.
É assim que você acaba com o seu inimigo.
Primeiro finge ser amigo,
depois, para você, ele nem existe,
acabando com ele, deixando-o todo triste.

Batata Movies – A Bela E A Fera. Encontro de Outsiders.

Cartaz do Filme

E a Disney lançou a sua versão action movie de “A Bela e a Fera”, estrelando Emma Watson no papel da mocinha. Esse é um filme que já vinha cercado de uma certa expectativa, pois todo mundo já conhecia a animação lá da década de 90. E aí, ficou a pergunta: o que esse filme traria de novo?

Releitura de um velho clássico

Bom, em primeiríssimo lugar, o elenco. Além de Emma Watson, tivemos uma boa participação de Kevin Kline, como Maurice, o pai de Bela. É muito legal ver um ator que tanto apareceu lá na década de 80 ainda dando caldo. Mas o filme teve outras gratas surpresas. Luke Evans, que fez um dos mais novos “Dráculas”, fez um bom vilão no papel de Gaston. Vários atores consagrados participaram do filme, mas eles fizeram papéis dos objetos do castelo. Assim, só pudemos ver ao final da película os semblantes de atores como Ewan McGregor, Ian McKellen, Emma Thompson, etc. Um destaque todo especial deve ser dado ao ator Josh Gad, que fez o papel de LeFou, o fiel escudeiro de Gaston, e que despertou muita polêmica entre mentes mais conservadoras por aqui por se insinuar de forma homossexual no filme. Querelas à parte, ele foi muito bem em seu papel e chamou muito a atenção, mais por seu talento do que por toda a polêmica envolvida. Só é de se lamentar que o papel de Fera tenha ficado com um ator pouco conhecido, Dan Stevens, onde o CGI teve mais presença que o ator em si. Já a atuação de Emma Watson foi segura, mas talvez um tanto plana. Seus momentos mais dramáticos não convenciam muito. Talvez seu perfil não se encaixasse tanto no papel, o que foi uma pena, pois essa é uma excelente atriz, mas a coisa não deu a química esperada.

Correndo contra um encanto e contra o tempo…

Um detalhe interessante que a história nos mostra é a questão do outsider. Tanto a Bela quanto a Fera são figuras deslocadas do meio em que vivem. A Fera é o príncipe que sofreu um encanto por ser uma pessoa má e foi esquecido por todos, sendo condenado ao ostracismo enquanto seu encanto não fosse quebrado. Já a Bela era a moça deslocada de sua comunidade, pois tinha o estranho hábito de ler, o que provocava falatórios das pessoas com relação às suas atitudes. Ainda, ela era muito malvista por ensinar crianças a ler (!). Algo típico de uma sociedade de Antigo Regime, onde a posição da mulher era vista de forma ainda mais periférica do que hoje e mulheres que se comportavam diferentes daquelas que eram preparadas para casar ficavam à margem da sociedade. Assim, o encontro da Bela e da Fera no castelo fez com que os dois se identificassem em seus deslocamentos perante os outros. Isso, obviamente, depois de quebrado o gelo inicial.

Fera. Mais expressividade no CGI

O filme é também mais um delicioso musical, um gênero que tem voltado às telonas ultimamente e da melhor forma possível, ou seja não uma “cópia e cola” dos musicais da Broadway para o cinema. Já vimos esse grato retorno dos musicais com “La La Land”. E fazer o mesmo para uma história adaptada pela Disney deu um bom resultado, pois os números estavam muito bem coreografados e mais uma vez ficamos com aquele gostinho dos antigos musicais americanos, que é o que o cinema de Hollywood consegue fazer de melhor. O gênero musical é uma invenção genuinamente americana e suprassumo do cinema dos Estados Unidos.

Assim, “A Bela e A Fera” correspondeu às expectativas de ser mais um bom lançamento da Disney, que nunca brincou em serviço. Uma história com um excelente elenco, um bom musical, um encontro de outsiders. A se lamentar somente um ator desconhecido para o papel de Fera e a interpretação inesperada de Emma Watson, um tanto fria para o papel (inglesa demais?). Mas nada disso prejudica o filme em si. Vale a pena dar uma conferida.

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