Há algum tempo atrás, estreou “Mulher Maravilha”, uma importante cartada da DC no combate com a Marvel. Gal Gadot e sua personagem já havia chamado muito a atenção em “Batman vs. Superman”, um filme que teve suas virtudes, mas também teve seus defeitos e não conseguiu fazer frente à “Guerra Civil”, lançado logo depois. A DC, então, apostou suas fichas na simpática Gadot e na sua aura de empoderamento feminino que arregimentou uma legião de mulheres (e homens) aos cinemas.
Mas, do que se trata a história? Temos aqui uma ilha somente de mulheres, amazonas guerreiras forjadas na antiga mitologia grega com o intuito de combater o Deus grego da Guerra, Ares. Só há mulheres adultas na ilha, exceto pelo fato de existir uma pequena menininha chamada Diana, filha de Hipólita (interpretada por Connie Nielsen), a rainha da ilha. Hipólita quer manter Diana afastada das sangrentas batalhas de outrora orquestradas por Ares, mas a garotinha desde cedo só queria saber de lutas e batalhas, sendo treinada secretamente por sua tia Antíope (interpretada por Robin Wright). Um belo dia, um avião rompe a barreira que protege a ilha do mundo exterior e cai no mar. Diana vê o acidente e salva o piloto, Steve Trevor (interpretado pelo “Capitão Kirk” Chris Pine). Vai ser aí que Diana perceberá que a Primeira Guerra Mundial está em curso e que isso só pode ser obra de Ares. Diana, então, irá com Trevor para Londres e de lá para o front de batalha, onde acredita que encontrará o Deus da Guerra.
Numa primeira análise, o filme é muito bom, salvo um pequeno defeito: ele foi um pouco arrastado na parte centrada em Londres logo após a chegada de Diana até o momento em que há a primeira grande cena de ação da personagem protagonista no front, quando a película realmente começa a esquentar. A parte inicial da ilha chegou a ser muito didática, explicando detalhadamente toda a mitologia grega envolvida na história, sendo muito atraente, pois construiu bem a personagem de Diana, algo do qual sentimos falta em “Batman vs. Superman”, embora devamos nos lembrar de que naquela película ela não tenha sido a personagem principal. Mesmo assim, ficou a impressão de que ela foi muito mal apresentada naquela ocasião. Outra virtude do presente filme foi a reconstituição da época da Primeira Guerra Mundial, feita com bons detalhes e ficando muito convincente.
O filme também não podia deixar de abordar a questão do empoderamento feminino, ainda mais numa época de machismo mais latente que o de hoje. Optou-se por trabalhar essa questão em alguns momentos com uma boa e precisa dose de humor sarcástico e, em outros momentos, de forma mais séria. Houve uma pequena imprecisão histórica (alerta de spoiler): lançou-se mão de um personagem real, o general Ludendorff, como um dos vilões do filme, e ele acabou sendo morto pela Mulher Maravilha ainda na Primeira Guerra Mundial. Mas é sabido que Ludendorff participou de uma tentativa fracassada de golpe na Alemanha em 1923, juntamente com Adolf Hitler, que ficou preso apenas um ano (Ludendorff nem para a cadeia foi). Essa situação um tanto incômoda de se ver um personagem real sendo morto num filme poderia ter sido evitada, simplesmente usando um personagem fictício. Mas o filme acertou na mosca ao abordar a questão da guerra e fazer uma ponte entre a Primeira Guerra Mundial e os dias atuais, quando mencionou o uso de armas químicas, presentes tanto no conflito do século passado quanto na atual Guerra da Síria. No mais, podemos dizer que a história foi muito bem construída, e Gadot arrasou, distribuindo carisma e sorrisos, sendo menos sisuda que a Mulher Maravilha de “Batman vs. Superman”. A se lamentar aqui foi a pieguice de se colocar uma fala para a protagonista do naipe de “Eu acredito no amor!”. Parecia que a gente via uma daquelas novelas mexicanas que o SBT passa de tarde. Diana Prince não merecia isso.
Fica aqui uma sugestão para os próximos filmes solo: continuar com a pegada histórica e da guerra. Poderíamos ver a moça na Segunda Guerra Mundial ou na Guerra do Vietnã. Isso a traria mais para o nosso mundo real e a afastaria a ilusão de que as guerras ocorrem por culpa de Ares. “Mulher Maravilha 2” não precisa ser nem nos dias atuais. Pode-se brincar um pouco mais com o tempo aqui, é o que eu creio.
Assim, “Mulher Maravilha” foi o melhor que a DC fez até hoje em termos de cinema. Uma personagem bem apresentada, uma boa reconstrução de época, uma história cativante e uma Gadot apaixonante, agradando a homens e mulheres. Desta vez, a DC acertou, apesar de algumas ressalvas. As mocinhas podem vestir a camisa e os mocinhos podem babar.