Batata Séries – Jornada nas Estrelas Discovery (Episódio 8 Temporada 1) – Si Vis Pacem, Para Bellum. Deu Rebu no Saru

Um Saru atormentadíssimo…

Chegamos ao oitavo episódio de “Jornada nas Estrelas, Discovery”, “Si Vis Pacem, Para Bellum”, uma frase do latim que significa, segundo se diz por aí, “Se quer a Paz, prepara-te para a Guerra”. E o que podemos falar aqui logo de cara? Esse é uma espécie de episódio híbrido. Em que sentido? Se assumirmos que os cinco primeiros episódios estavam naquele soturno arco de guerra contra os klingons, onde a tripulação da Discovery, seu capitão e a própria Federação em si tinham atitudes consideradas pouco ortodoxas e que violavam o cânone abertamente, o sexto e sétimo episódios saíram um pouco do contexto da guerra e contaram histórias mais ao nível do que é “Jornada nas Estrelas”, além de se preocupar mais com o desenvolvimento de alguns personagens. O problema é que a Almirante Cornwell ficou sequestrada e esquecida por dois episódios e até uma festa rolou na Discovery. Era mais do que hora de se retornar ao arco da guerra, até por uma questão de coesão da série como um todo. E o oitavo episódio foi isso. Entretanto, a questão do desenvolvimento dos personagens não foi abandonada, assim como o contato com outras espécies e a tentativa de entendê-las, seguindo o espírito mais tradicional de “Jornada nas Estrelas”. Daí o hibridismo desse episódio. E a coisa ficou boa? Bem… podemos dizer que ficou um tanto regular. E por que isso? Porque, na questão do desenvolvimento do personagem, a bola da vez foi Saru, o mesmo personagem que já tinha sido muito mexido com o passar dos primeiros episódios. Ele até é um bom personagem. Entretanto, parece que produtores e roteiristas não sabem muito bem o que fazer dele. E aí, a coisa degringola um pouco. Senão, vejamos: ele já foi taxado de covarde, de compreensivo com a Burnham, de ter raiva e inveja da Burnham, de ser um capitão inseguro que precisa tomar decisões desagradáveis à la Lorca. Volto a repetir que um personagem complexo sempre é mais rico. Entretanto, a complexidade de Saru tem sido exagerada, uma verdadeira montanha russa.

Primeira descida a um planeta, feita por uma equipe da Discovery na série

E creio que essas oscilações chegaram ao seu ápice neste episódio, em que ele é meio que seduzido pela espécie alienígena nativa, depois da mesma aliviar o incômodo que ele sente com as frequências sonoras que a espécie, em simbiose com o planeta, emite (é a primeira vez que a tripulação da Discovery desce a um planeta!). E Saru acaba tomando atitudes violentas e destemperadas. Ou seja, a presa passa a ter os seus dias de predador, descaracterizando por completo o pouco de caracterização que o personagem tinha, o que é uma pena, já que parece que a galera que assiste à série tem gostado dele. A forma destemperada com a qual ele passou a se comportar até foi justificada, pois ele se deixou tentar pela paz e harmonia do povo do planeta Pahvo,  já que isso o tirava do estado de medo constante em que ele ficava. Mas, mesmo com toda essa justificativa, Saru acaba sendo um personagem muito inconstante em seu comportamento, o que é uma pena. E o que mais decepciona aqui é que a escritora desse episódio, Kirsten Beyer, é uma conhecida escritora de bons livros de “Jornada nas Estrelas”. Por isso, se esperava uma coisa boa desse episódio.

Stamets e Tilly. Provável acordo…

Uma questão que ficou em aberto se refere à espécie alienígena do planeta azulzinho Pahvo. Que formas de vida são aquelas? Suas intenções são tão pacíficas como vimos no episódio, a ponto de melar tudo e colocar a Discovery cara a cara com os klingons? Ou tem algo de mais estranho aí, até em virtude da experiência pela qual Saru passou? Seria interessante essa espécie ser mais detalhadamente explicada nos próximos episódios, já que foi montada uma potente antena nesse planeta.

Uma klingon com novos planos…

E com relação ao arco da guerra? Tivemos mais uma das poucas batalhas dessa guerra que quase não aparece na série e foi legal ver a forma como a Discovery protegia a Gagarin, se colocando até à frente do fogo cruzado para isso. Essa batalha pareceu boa para voltarmos a ver Lorca, que ficou meio que desaparecido nos dois últimos episódios, o que é uma pena, pois se trata de um personagem muito interessante. Outro fator importante é a coisa de Kol estar fornecendo tecnologia de camuflagem para vários aliados, o que faz importante a missão no tal planeta azul, Pahvo, que tem uma antena cristalina natural que a Federação quer usar como um sonar para detectar as naves klingons camufladas. Agora, a grande questão está na relação entre L’Rell e a Almirante Cornwell. Será que a klingon quer mesmo desertar do Império? Ou tudo não passa de uma artimanha para obter mais vantagem? Seu argumento parece ser convincente, o de que Kol não tem qualquer honra na sua escalada pelo poder (finalmente alguém disse que um klingon não tem honra nesta série, até eles violam o cânone) e os que pensavam como ela foram banidos, ela estava sozinha, T’Kuvma e seu legado foram desrespeitados, etc. Mas…

Mais bichinhos misteriosos

Outro mistério ficou por conta de Stamets, que voltou a ficar ranzinza depois de ser conectado ao motor de esporos. Será que a hipótese do Universo Espelho pode estar caindo por terra? Pelo menos, ele foi um pouco mais compreensivo ao conversar com Tilly e perceber que a moça tinha reais intenções em ajudá-lo, como se ele quisesse voltar ao seu estágio mais “maluco beleza”, outra argumentação que pode estar derrubando a história do Universo Espelho. Tyler, por sua vez, deu uma derrapada feia ao não saber direito sobre as conhecidas ordens gerais que víamos na série clássica, o que deu um fôlego à hipótese que circula por aí de que ele seria um espião klingon. Já o romance entre Burnham e Tyler parece que se resolveu bem rápido. Aqui fica uma questão: parece que tudo aqui está se resolvendo rápido, em virtude do formato enxuto de streaming de quinze episódios. Será que uma série do naipe de “Jornada nas Estrelas” se adapta a esse novo formato? Ainda mais com fãs que gostam de desfrutar de arcos bem escritos e personagens bem desenvolvidos? Pois pode ser que simplesmente não haja tempo hábil para se colocar a série no padrão de exigência de seu público específico. Ou simplesmente será que a série está sendo mal escrita e conduzida mesmo e poderíamos ter um bom produto de “Jornada nas Estrelas” adequado às exigências dos fãs mais tradicionais no formato de streaming? Fica aberta a questão. Assim como não podemos nos esquecer de que há uma nova geração de fãs que vê a série com outras referências e parâmetros na cabeça.

A volta da almirante esquecida

De qualquer forma, apesar dos problemas, esse episódio pareceu tentar conciliar os dois arcos que vimos até agora nessa temporada: o previamente proposto arco da guerra com os klingons e o arco  mais “Jornada nas Estrelas”, onde a guerra é colocada de lado e o desenvolvimento dos personagens entra na ordem do dia. Confesso que essa primeira tentativa de interação não foi muito bem sucedida, em virtude dos deslizes contínuos que produtores e roteiristas têm tido com Saru e pela forma mal explicada que as coisas têm se apresentado, indo desde a nova atitude de L’Rell, passando pelas oscilações de Stamets e chegando às intenções dos serezinhos do planeta da gigantesca antena. Cabe aqui torcer que as coisas sejam mais bem explicadas no futuro. Por outro lado, já estamos na metade da temporada e começa a haver um temor de que não se tenha um tempo hábil para se explicar tudo, até pelo formato mais curto do streaming. Volto a terminar mais um artigo com mais um “vamos ver”.

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