Batata Antiqualhas – Spock e Leonard. Dualidade que se Completa (Parte 2)

                                  Um jovem Nimoy

Vamos hoje continuar a falar sobre as vidas de Leonard Nimoy e de Spock.

Após reconhecer que o título “Eu Não Sou Spock” foi altamente infeliz, o ator fala que absorveu muito do personagem vulcano em seu estilo de vida, escutando, inclusive, “vozes” de Spock em sua cabeça. O mais curioso é que o vulcano também tem muito de Nimoy, já que os dois têm um espírito (ou “katra”) “outsider”, ou seja, aquele carinha diferente que é visto de forma marginalizada por um determinado grupo. Nimoy era um judeu filho de ucranianos perseguidos pelo regime soviético e que vivia num bairro italiano de Boston. Assim, ele já se sentia “diferente” desde o início, pois seus amigos de infância seguiam uma religião diferente da dele. A experiência “outsider” continuou em suas primeiras inserções no meio artístico. Ele se recorda de, em sua infância, ter assistido num cinema de Boston a uma sessão de cinema do filme “O Corcunda de Notre Dame”, com o impecável Charles Laughton no papel de Quasímodo e Maureen O’Hara como a cigana Esmeralda. Nimoy se lembra de como ele se emocionou ao ver o sofrimento do corcunda, extremamente feio e, por isso, zombado e humilhado pelas pessoas, ao mesmo tempo em que clamava pelo amor e aceitação da cigana. Nimoy se identificou com o personagem e foi às lágrimas. O ator acredita que a semente de Spock foi plantada aí. Ele era um menino tímido, mas se sentia seguro representando, pois ele não seria culpado pelas ações e palavras, já que estas viriam de um texto que ele interpretava. E assim, nosso ator lançou-se na vida artística, onde seu primeiro papel foi o João de “João e Maria”, aos oito anos. Com dezessete anos, ele interpretou um personagem chamado Ralphie, alienado, reprimido pela mãe e em busca de identidade. Tal personagem despertou nele um sentimento de responsabilidade e amor pelo ofício de interpretar, fazendo Nimoy ficar decidido a ser ator. Mas os pais não aceitaram isso, pois eles viam a vida de uma forma muito prática, onde o trabalho duro era uma obrigação. O passado opressor de perseguições políticas e a realidade dura da depressão (lembremos que Nimoy nasceu em 26 de março de 1931) não davam margens aos pais de Nimoy para “cabeças de artista”. Sem o apoio da família, nosso ator vendeu aspiradores de pó para comprar uma passagem de trem para a Califórnia, onde vendeu sorvetes e sodas, além de ser taxista. Aqui, a aproximação com Spock é evidente, pois o vulcano também sofreu a desaprovação de seu pai Sarek, já que ele queria entrar para a Academia da Frota Estelar, quando o pai o queria na Academia de Ciências de Vulcano. Essa desaprovação paterna sofrida por Nimoy o ajudou a compor tal faceta de Spock.

Kid Monk Baroni , seu primeiro grande papel de destaque

Em 1951, com vinte anos, Nimoy teve a sua primeira grande oportunidade em Hollywood, sendo escalado para protagonista num filme intitulado “Kid Monk Baroni”, onde ele interpretava um lutador de boxe com uma deformidade de nascença no rosto (a palavra “Monk” vinha de macaco mesmo!). Mais um “outsider” na vida de Nimoy. Os pais do ator viram o filme e choraram sem parar, de tanta emoção. Tanto Quasímodo quanto Kid Monk marcaram muito Nimoy, apesar dos muitos personagens feitos por ele.

Na próxima parte desse artigo, vamos ver como Nimoy conheceu Gene Roddenberry e chegou a “Jornada nas Estrelas”. Até lá!

Quasímodo, identificação total. Lado “outsider”