Batata Antiqualhas – Spock e Leonard. Dualidade que se Completa (Parte 7)

Saudação vulcana. Origem no judaísmo

Vamos hoje falar como surgiu a saudação vulcana. Ela vem da infância judia de Nimoy. É um símbolo do judaísmo ortodoxo. Nas palavras de Nimoy, durante o culto da Páscoa, os “Kohanim” (que são os sacerdotes) costumam abençoar os fiéis. Eles erguem as mãos mostrando as palmas para a congregação, com os polegares esticados e os dedos médio e anular separados de forma que cada mão forme dois “V”. Esse gesto simboliza a letra hebraica “shin”, que faz o som do “ch” no alfabeto judaico e é a primeira letra da palavra “Shaddai”, que significa “Senhor”. Na cabala judaica, “shin” também representa o Espírito Eterno. O ritual impressionou Nimoy bastante quando ele era menino e acompanhava sua família ao culto numa sinagoga ortodoxa. As mulheres sentavam-se num local separado e Nimoy sentava-se junto ao seu pai, avô e irmão mais velho. O momento em que os “Kohanim” abençoavam a congregação mexia profundamente com Nimoy, por causa do poder de magia e teatralidade. Em hebraico, eles cantavam: “Que o Senhor os abençoe e os proteja. Que o Senhor volte Sua face para vocês e lhes dê paz…”. De forma quase uníssona, as vozes de todos elevavam-se e abaixavam, em gritos penetrantes, fervorosos, apaixonados e extasiados. Nesse momento, todos cobriam os rostos ou com as mãos ou com xales, e o pai de Nimoy advertia que o garoto não podia olhar. Era o momento em que “Shekhinah”, a essência sagrada de Deus, num formato feminino, entrava no santuário. E essa essência era tão poderosa e bonita que o simples fato de olhá-la poderia matar uma pessoa. Mas Nimoy olhou entre os dedos. E viu os rabinos num êxtase religioso, com cabeças e faces ocultas por xales, com os braços estendidos para a congregação. Enquanto evocavam a essência de Deus, suas mãos continuavam exibindo a representação da letra “shin”. Todo esse ritual ficou gravado na memória de Nimoy, onde o símbolo da letra “shin” com as mãos foi usado depois para a saudação vulcana. Cabe dizer aqui também que, anos mais tarde, Nimoy faria um ensaio fotográfico de imagens femininas intitulado “Shekhinah”.

Os pais de Spock. Contato com os dedos…

“Jornada para Babel” é mais um episódio marcante para a figura de Spock, já que a Enterprise é designada para uma missão diplomática onde o pai do primeiro oficial, Sarek, tem um papel fundamental. Mark Lenard, que já havia interpretado um romulano em “O Equilíbrio do Terror”, foi chamado para ser o pai de Spock e tomou “aulas” de cultura vulcana com Nimoy. A mãe terráquea de Spock, Amanda (interpretada por Jane Wyatt) também aparece neste episódio, que foi escrito por quem? Ah, Dorothy Fontana. Nimoy enfatizou a Lenard a importância do tato na cultura vulcana e a afeição entre o casal ficou registrada por eles no toque da ponta dos dedos indicador e médio bem juntinhos, como se eles estivessem de mãos dadas. Nimoy diz que, numa convenção de “Jornada nas Estrelas”, alguém do público perguntou a Wyatt qual era o primeiro nome terráqueo de Spock e ela retrucou calma e sorridente: “Harold”.

Primeiro comando. Quando a lógica não funciona…

“O Primeiro Comando” fala da dualidade entre a lógica e a emoção. Spock se vê preso num planeta com alguns tripulantes dentro de uma nave auxiliar e cercados por uma espécie alienígena hostil. Ele comanda a nave e procura tomar todas as decisões de forma lógica. É quando ele percebe que nem sempre a lógica funciona e às vezes um pouco de intuição também ajuda as coisas. Obviamente, seu comportamento lógico fará com que a tripulação o veja com reservas, já que ele será considerado muito frio em algumas situações. A nave auxiliar consegue entrar em órbita, mas por pouco tempo, e irá cair na atmosfera. Sem comunicações com a Enterprise, os tripulantes da nave auxiliar torcem para que a Enterprise os veja antes que o combustível acabe. Mas a Enterprise precisa ir urgentemente para um outro planeta (isso sempre acontecia, geralmente a Enterprise carregava remédios para curar uma epidemia mortal e eles não tinham muito tempo) e já tomava seu caminho. Foi aí que Spock, num ato de desespero, queimou todo o combustível de uma vez, deixando um rastro incandescente pelo espaço, o que foi detectado pela Enterprise, salvando a tripulação. Ao que Spock disse depois para Kirk, e na maior cara de pau, que um ato de desespero naquela hora era a coisa mais lógica a fazer. Kirk então chama Spock de teimoso e, como vulcanos não mentem, Spock responde com um “Sim, Senhor”, provocando risadas gerais.

Sobre o fato de vulcanos não mentirem, há uma passagem engraçada no episódio “Nômade”, onde uma sonda terrestre de exploração de nome Nômade foi lançada ao espaço no passado por um cientista de nome Kirk. Com suas viagens e dados colhidos, ela conseguiu desenvolver inteligência própria e funcionava de forma totalmente lógica, devendo eliminar qualquer coisa que se comportasse ilogicamente, ou seja, humanos. Spock inclusive, faz um elo mental com a sonda, onde vemos Nimoy contracenando com uma caixa de papelão com uma antena de carro embutida. Como o criador da sonda também se chamava Kirk, a sonda confundiu o capitão da nave com seu criador. Para solucionar o problema da sonda não matar toda a tripulação, Kirk deu uma cartada arriscada e, com argumentos altamente lógicos (para orgulho de seu primeiro oficial), convenceu a sonda de que ela havia confundido o capitão com seu criador. E por funcionar de forma ilógica, ela devia provocar sua autodestruição, o que acabou ocorrendo. Finalizado o problema, Spock parabeniza o capitão: “Parabéns, capitão, sua lógica foi impecável”. Kirk, cheio de si, retruca: “E o senhor achava que eu não era capaz disso, senhor Spock?”, ao que o vulcano responde, “Não, Senhor”, jogando a cara de Kirk no chão.

Muitos episódios, muitas lembranças. Mas Nimoy e Spock merecem muito mais. Assim, nos vemos no próximo artigo. Até lá!

Nômade. Elo mental com a máquina, sob o olhar atento de Kirk…