O personagem de Spock ficou muito famoso e ele aceitava o máximo de aparições públicas que podia, para fazer dinheiro. Nimoy sabia que sua carreira não lhe dava a estabilidade necessária e ele devia aproveitar todas as oportunidades. Mas essas aparições passaram a ficar até perigosas, pois a quantidade do público querendo ver o vulcano em pessoa era muito grande e Nimoy precisou até de seguranças, algo que ele não gostava, pois em sua infância ele pediu um autógrafo para um ator de teatro de nome Danny Kaye, de quem muito gostava, sendo prontamente ignorado. Nimoy pensava com seus botões que, se um dia fosse famoso, daria autógrafos para todos que lhe pedissem. Mas a coisa fugiu ao controle, ao ponto de Nimoy precisar fugir de escada magirus do corpo de bombeiros de um prédio de uma loja de departamentos em Long Island (ele havia ficado encurralado no alto do prédio). Desnecessário dizer que ele precisou trocar o seu número de telefone e, além disso, ele precisava embarcar às escondidas nos aviões em aeroportos, não sem ser anunciada sua presença pelo comandante do voo depois de devidamente instalado no avião.
As relações entre Nimoy e Roddenberry eram estritamente profissionais, pois Nimoy não gostava de certos comportamentos de Roddenberry. Certa vez, Nimoy encomendou a Roddenberry uma opala, pedra preciosa para o anel de sua esposa. Roddenberry e Barrett poliam e vendiam pedras preciosas. Inicialmente foi combinado um preço digamos, mais camarada. Mas, depois Roddenberry havia mudado de ideia e deu um preço bem mais caro. Só que tudo era uma brincadeira e as risadas de Roddenberry e Barrett deixavam Nimoy bem constrangido (como Spock ficaria!). As discussões entre Nimoy e Roddenberry sobre os rumos do personagem Spock só ajudaram a deteriorar ainda mais a relação entre os dois.
As relações entre Nimoy e Shatner também sofreram desgastes, seja na distribuição das falas dos personagens, seja em incidentes mais isolados como o fato de que Shatner não aceitou que Nimoy fizesse uma sessão de fotos na sala de maquiagem logo pela manhã. Roddenberry chegou a consultar Isaac Asimov sobre essas briguinhas e o grande escritor de ficção científica sugeriu tornar Kirk e Spock amigos inseparáveis onde, na visão do público, um ficaria ligado ao outro.
No meio da 2ª temporada de “Jornada nas Estrelas”, a NBC deu sinais de que cancelaria a série, pois achava que, embora houvesse muitos fãs devotados, o número não era suficiente. Uma fã, Betty Jo, e seu marido, entretanto, fizeram uma campanha onde era pedido aos fãs que enviassem muitas cartas à emissora de TV contra o cancelamento da série, o que garantiu uma terceira temporada. Foi prometido o bom horário de 19h30min de segunda-feira para a exibição dos episódios. Mas depois o horário foi mudado para as sextas-feiras às 22h, justamente quando o público adolescente saía para se divertir. Roddenberry ficou furioso e disse que estaria fora se o horário não fosse mudado. A NBC ignorou o blefe e manteve o horário, restando a Gene abandonar “Jornada nas Estrelas”. O mesmo aconteceu com D. C. Fontana, que quis investir mais na carreira de escritora. A emissora, então, chamou Fred Freiberger para tomar as rédeas da série, um antigo amigo de Nimoy. Mas Freiberger queria que a série fosse menos cerebral e com mais ação, o que desvirtuou o espírito de “Jornada nas Estrelas” e azedou as relações com Nimoy. Os episódios também foram extremamente sofríveis como “O Cérebro de Spock”, onde mulheres alienígenas sequestram o cérebro do vulcano, obrigando McCoy a instalar um aparelho na cabeça de Spock e conduzi-lo para lá e para cá como um autômato (lamentável), numa história sem sentido e com fraco conteúdo, sem abordar questões mais profundas. Outros exemplos de episódios ruins foram “Todos os nossos ontens”, onde ele se apaixonou e comeu carne, e “Os Herdeiros de Platão”, onde Spock foi obrigado a dançar flamenco por uma raça alienígena avançada, mas muito prepotente e má (foi nesse episódio que também ocorreu o famoso beijo inter-racial entre Kirk e Uhura). Mas houve bons episódios como “O Incidente Enterprise”, onde Kirk e Spock tapeiam uma capitã de uma nave romulana para roubar seu dispositivo de camuflagem. Há excelentes cenas entre Spock e a capitã, que é seduzida pelo vulcano. Apesar de ter saído da série, o episódio tem a assinatura de D. C. Fontana, que fugia dos estereótipos machistas da época, que minimizavam as mulheres, e criava interessantíssimas personagens femininas.
A mudança de diretores e roteiristas com o correr dos episódios fazia com que se perdessem um pouco as características principais dos personagens. E aí Spock também entrava nisso. Nimoy, obviamente, assinalava esses problemas, o que causava atritos, principalmente com Fred Freiberger, o que ajudou a levar a situação para o cancelamento da série.
Logo depois do cancelamento, foi oferecido a Nimoy um papel na série “Missão Impossível”, onde ele faria um personagem mestre em disfarces, Paris, o Grande. Mas esse personagem era, segundo Nimoy, muito vazio, sem um passado, se comparado a Spock que ainda povoava a mente de nosso ator e lhe fazia muita falta. Nimoy pediu para sair de “Missão Impossível”, uma atitude que poucos tomariam na época. Nesse contexto (início da década de 1970) ele estreou na direção num episódio de “Galeria do Terror”. Em 1971, Nimoy foi chamado para participar de um filme chamado “Catlow”, com Yul Brinner (o Ramsés de “Os Dez Mandamentos de Cecil. B de Mille) e Richard Crenna (Trautman, o “amigo do Rambo”). Ele também passou a atuar em teatro, no musical “Um Violinista no Telhado”, sobre um judeu da comunidade russa. A peça foi sucesso de público e crítica, o que deu a Nimoy a chance de fazer mais algumas peças de teatro.
No próximo artigo, falaremos mais da carreira de Nimoy e sua volta a “Jornada nas Estrelas”. Até lá!