Batata Antiqualhas – Spock e Leonard, Dualidade que se Completa (Parte 13)

              Kirk, em desespero, ao ver o amigo à beira da morte.

Um momento engraçado das filmagens de “Jornada nas Estrelas II, A Ira de Khan” foi o fato de Nimoy salvar Walter Koenig (o russo Checov) de um grande vexame. Ele teve um verme alienígena inserido em seu ouvido por Khan, que se alojava no córtex cerebral e o deixava à mercê das ordens de Khan. Extraído o verme, Checov se apresenta a ponte com uma espécie de curativo no ouvido. Só que o curativo era um… sutiã!!! Nimoy, então, perguntou a Meyer por que Koenig estava com um sutiã no ouvido, o que provocou risadas gerais e o rápido convencimento de que a peça deveria ser descartada da filmagem.

                               Spock e Kirk, no momento derradeiro…

As filmagens avançavam dentro do cronograma e de forma muito confortável para todos. Nimoy dizia que parecia que eles filmavam um velho episódio da série clássica. E a grande mensagem do filme, o efeito destrutivo da vingança, era passada com maestria. Até que chegou o dia da grande contribuição do vulcano, que sacrificaria a sua vida. Na sua sede de vingança, Khan arma o torpedo Gênese para destruir a Enterprise. Kirk precisa de velocidade de dobra em três minutos. Mas somente manipulando um material radioativo muito letal a nave teria velocidade de dobra. Para um humano, tal manipulação era impossível. Mas para um vulcano, três vezes mais forte que um humano, talvez fosse possível tal manipulação antes da morte inevitável. E lá vai Spock cumprir a máxima de que “a carência da maioria sobrepuja a carência da minoria… ou a de um só”. A cena no fim do filme ficou muito mais antenada com o desenrolar do roteiro. Mas, no dia em que Nimoy teve que gravá-la, uma angústia tomou conta não só dele, como de todos. Nimoy se sentia em direção à câmara de gás. E o ambiente do estúdio onde Spock morreria estava silencioso e sombrio. Nimoy, então, se concentrou em seu trabalho. Ele entraria na câmara de radiação, mas seria impedido por McCoy. Para não perder tempo, fez o toque neural no médico para deixá-lo inconsciente. Depois que ensaiou com De Forest Kelley a cena várias vezes, Nimoy foi chamado por Bennett, que perguntou se ele não poderia acrescentar algo à cena que desse um gancho para um novo filme. Nimoy, muito concentrado em fazer seu trabalho naquele momento, não percebia que Bennett queria dar algum futuro para a continuidade de Spock, e não teve sugestões para dar. Bennett sugeriu então que Spock fizesse um elo mental com McCoy desacordado. Nimoy aceitou. E Bennett perguntou o que Spock poderia dizer a McCoy. Nimoy acenou com um “Lembre-se”, algo que era vago o suficiente para abrir grandes possibilidades dramáticas. E assim a cena foi gravada, com um certo contragosto de Meyer, que queria uma definitiva e bem feita morte de Spock.

                                          Lembre-se…

A cena seguinte, a da morte de Spock, causou muito mal-estar em Nimoy. Além do sofrimento com a morte do personagem, houve o agravante da câmara de radiação ser de um vidro hermeticamente fechado, que a tornava muito quente e que provocava dificuldade em respirar. Apesar da câmara ter sido perfurada e ar ser bombeado lá para dentro, as bombas faziam tanto barulho que tiveram que ser desligadas nos diálogos entre Kirk e Spock, excessivamente longos para a situação. O ensaio da cena foi feito. Spock entra na câmara e fez o reparo no equipamento. Logo após, ele ficava caído, e quando Kirk chegava para falar com ele, Spock se levantava, mostrava estar cego e se aproximava do vidro. Enquanto falava com o almirante, escorregava gradativamente pela parede de vidro, até estar novamente no chão e morrer. Concluído o ensaio, Nimoy foi fazer a maquiagem das queimaduras de radiação. O tom do “set” e da sala de maquiagem era silencioso. Apesar de ter certeza de que a cena e o drama ficariam sensacionais, Nimoy estava arrasado, pois Spock iria morrer. De volta ao “set”, todos estavam sombrios e calados. Nem Shatner fazia suas piadinhas habituais. Nicholas Meyer chegou ao estúdio com traje de gala, pois iria assistir a uma apresentação da ópera “Carmen” depois da gravação. Tal atitude magoou Nimoy. Meyer também insistiu que Spock ficasse com as mãos totalmente sujas de seu sangue verde. Mas Nimoy achou aquilo demais e pediu para tirar todo aquele sangue das mãos, sendo atendido por Meyer. Na gravação da cena, Nimoy, ao se levantar, ajeita conscientemente a sua jaqueta, que como já foi dito, repuxava. Esse gesto foi de grande ajuda à cena, pois Nimoy queria que Spock, apesar da agonia física, tivesse a vontade de  aparecer de maneira apropriada e digna ao seu almirante pela última vez. Uma grande dificuldade foi manter a respiração presa depois de morto. A câmara já estava quente demais e a câmara do filme se afastava lentamente, o que obrigou nosso artista a prender a respiração por longo tempo.

Era o fim de mais um dia de trabalho. Mas Nimoy, voltando de carro para casa, só se fazia uma pergunta: “O que foi que eu fiz?”.

No próximo artigo, vamos ver como Spock foi “ressuscitado”. Até lá!

                                                    O funeral de Spock…