Apesar de Nimoy achar que sua participação como Spock em “Jornada nas Estrelas” havia terminado, o mundo dá voltas e, ainda durante as filmagens do sexto filme, Mancuso liga para Nimoy e lhe pergunta se ele não estaria disposto a fazer uma participação como Spock em um episódio da “Nova Geração”. Esse convite levou Nimoy a uma recordação. O ano era 1986, na época da pós-produção de “A Volta Para Casa”, quando Mancuso o convidou para uma reunião, onde ele foi convidado para ser o produtor-executivo de uma nova série de “Jornada nas Estrelas” com uma nova tripulação, muitos anos depois da época em que se passava a série clássica (século 23). Nimoy agradeceu mas negou o convite, pois ele disse que não funcionaria, já que a série clássica funcionou devido a vários fatores: os temas, os personagens, a química entre os atores, as perspectivas de futuro da década de 1960, e que tudo isso não se repetiria novamente. O projeto foi adiante sem Nimoy e “Nova Geração” se tornou um sucesso estrondoso. E aí, voltando ao convite para a participação especial como Spock na “Nova Geração” no episódio “Unificação”, Nimoy prontamente aceitou. Vulcanos vivem mais que humanos e, no século 24, época em que se passam os episódios da “Nova Geração”, Spock estaria na meia-idade. E essa seria mais uma oportunidade para criar pontes entre a série clássica e a nova geração. De Forest Kelley fez um Dr. McCoy com 180 anos no piloto da “Nova Geração”, “Encontro em Fairpoint”. Mark Lenard trabalhara no episódio “Sarek”. E até James Doohan voltou ao Sr. Scott em outro episódio. O roteiro de “Unificação” foi escrito após uma reunião de Nimoy com os produtores de “Nova Geração”, Rick Berman e Michael Piller, e tratava de um trabalho secreto de Spock dentro do Império Romulano para aproximar vulcanos e romulanos, os últimos parentes distantes dos primeiros, que preferiram viver sua vida agressiva e predadora, ao invés dos vulcanos, que usaram a lógica para conter seus instintos agressivos ancestrais. Há um elo mental entre Nimoy e o Capitão Picard ao fim do episódio que também simboliza a “unificação” entre a série clássica e a Nova Geração. Nimoy aceitou um salário modesto e se encontrou com a equipe de “Nova Geração”, que ele já conhecia, pois ele havia dado uma festa em sua casa para comemorar o fim da produção de “Jornada nas Estrelas 6”. A única coisa que o incomodava, mas que ele também achava uma certa graça, era que o elenco de “Nova Geração” o tratava com muita reverência.
Nimoy gostou muito de fazer o episódio e destaca o elo mental entre Spock e Picard, onde o vulcano pôde ter contato com parte da mente de Sarek presente na mente de Picard (no episódio “Sarek”, o pai de Spock e Picard também fizeram um elo mental). Para Nimoy, esse foi um momento “extremamente tocante e dramático”. Como nunca Spock e Sarek fizeram o elo mental, Nimoy decidiu aumentar a dramaticidade da coisa colocando uma expressão de dor. A maioria das cenas de Nimoy foram com Patrick Stewart (Picard) e Brent Spinner (Data), atores muito admirados por Nimoy. Ele achava Stewart muito parecido com Picard, ou seja, charmoso e com autoridade no jeito de ser e de falar. Já Spinner ele achou mais exótico e escorregadio. Nimoy trabalharia com Spinner e Armim Shimerman (o ferengue Quark de “Deep Space Nine”) na produção de “Guerra dos Mundos” para a Rádio Nacional Pública, com direção de John De Lancie (o onipotente alienígena “Q” da “Nova Geração”). Uma das razões de Nimoy aceitar esse trabalho foi o grande número de pessoas de “Jornada nas Estrelas” envolvido no projeto.
Mas voltemos a “Unificação”. Há uma cena muito curiosa no episódio, que foi dividido em duas partes, onde Spock trabalha nos computadores enquanto Data o observa curioso. Spock pergunta sobre sua curiosidade e Data diz que não consegue entender por que o vulcano renega sua parte humana enquanto que Data justamente procura isso, sendo um diálogo genial!
Nimoy era frequentemente interpelado nas convenções de “Jornada nas Estrelas” quando ele faria uma participação em “Nova Geração”. O dia em que ele comunicou a participação em “Unificação”, a reação do público foi mais calorosa do que ele esperava, emocionando-o muito. Nimoy sempre estava acostumado com as ovações nas convenções, mas, naquele dia, ele foi pego de surpresa. E havia reparado que tinha tocado “num assunto de família”, em suas próprias palavras. Até então havia dois grupos de fãs: os da série clássica e os da nova geração, que não se uniam muito. Com “Unificação”, esse mal-estar acabou e até os fãs foram “unificados”. Não é à toa que Spock, no idioma vulcano significa “o unificador”. E também não é à toa que o episódio duplo “Unificação” registrou a maior audiência entre todos os episódios de “Nova Geração”.
No próximo artigo, vamos terminar essa grande jornada de Leonard Nimoy e do vulcano Spock. Até lá!