Minha mãe sumiu
Meu pai sumiu
Meus irmãos sumiram
Meu cachorro sumiu
Minha casa sumiu
Tudo sumiu
Só eu não sumi…
Esse é o meu castigo
Entretanto, algumas coisas apareceram
Montanhas de escombros
Carne morta
Cheiro de carniça
Muito choro e muita dor
Outras crianças sem ter o que comer
E sem ter para onde ir
Mares profundos de desgraça
Eu vago por tudo isso…
E me pergunto: Por que não morri?
Por que sou obrigado a assistir tal tragédia?
Invejo os mortos, odeio os vivos
Repudio o meu destino
Quero me matar e ver mamãe, papai, os irmãos, o cachorro
Procuro algo pontiagudo no chão
Vou me furar
Achei uma madeira
Perfeito! Vou enfiá-la em meu coração
Mas um choro me impede…
É uma menina, da minha idade…
Ela também perdeu tudo e todos
Agora sei por que não morri…
Ela será a minha nova família
A flor que nasce dos entulhos desfigurados…