Vamos hoje falar mais uma vez de “Jornada nas Estrelas, Voyager” e de seus bons episódios na quinta temporada. Desta vez, analisaremos o episódio “Timeless”, traduzido no Brasil como “Quinze Anos”, o sexto episódio da já mencionada quinta temporada. Esse é um daqueles episódios mais pautados numa boa história de ficção científica, embora ancorados num tema que já pareça um pouco manjado para alguns: a alteração do passado e, com isso, a inserção de um paradoxo temporal. Confesso que sou meio suspeito para falar quando o tempo dá as cartas em histórias de ficção científica, pois é um tema que sempre me atrai em “Jornada nas Estrelas”, desde que vi o ótimo “Amanhã é Ontem”, da série clássica escrito por Dorothy Fontana e que, fatalmente, falaremos aqui um dia.
Mas, no que consiste a história desse bom episódio de “Voyager”? Tudo começa num planeta gelado, onde dois homens parecem procurar algo enterrado numa geleira. O teaser do episódio termina com os homens achando o que procurava, que era na verdade a Voyager enterrada no gelo. Eles adentram a nave e encontram toda a tripulação morta e congelada. Logo, vemos que os dois homens são Chakotay e Kim, visivelmente envelhecidos. Os dois levam o corpo de Sete de Nove para a Delta Flyer , que orbita o planeta, e reativam o Doutor, que, perplexo, pede por informações.
Assim, há um flashback que mostra que a Voyager desenvolveu um novo motor quântico de deslizamento de fase que fará uma viagem bem mais rápida ao quadrante alfa. Mas o motor apresenta problemas onde o tal deslocamento de fase pode até acabar com a nave. Assim, Kim e Chakotay precisam ir adiante da Voyager com a Delta Flyer para orientá-la a fazer as tais correções de fase necessárias para que a viagem não degringole. Entretanto, Kim calculou mal as correções e a Voyager saiu do fluxo, enquanto que a Delta Flyer retornou ao quadrante alfa. Desgovernada, a Voyager chocou-se contra o tal planeta gélido e ficou soterrada no gelo, provocando a morte de toda a tripulação. Agora, quinze anos depois da tragédia, Chakotay e Kim voltam ao planeta gelado, nas periferias do quadrante alfa para criar um dispositivo que mande uma mensagem para o passado com as correções de fase corretas para evitar o desastre com a Voyager, usando o cérebro de Sete de Nove e a inteligência do Doutor. O problema é que Kim e Chakotay, para realizar tal missão, tiveram que roubar a Delta Flyer e um dispositivo temporal borg, sendo procurados pela Federação como criminosos.
Essa é uma história instigante, com as tecnobabbles que tal episódio de viagens no tempo exige, embora a coisa não tenha ficado cansativa nesse sentido. Aqui a história gira muito mais em torno de todo o arrependimento nas costas de Chakotay e Kim por terem sobrevivido e visto a tripulação morrer. Aliás, podemos dizer que esse episódio deu muito destaque e importância para o Alferes Kim, um personagem que, segundo alguns trekkers mais atenciosos, é muito pouco aproveitado, o que já faz o episódio valer muito. A obsessão de Kim por trazer a tripulação da Voyager à vida é notável e, ainda mais notável é a forma como o Doutor estimula Kim a continuar com a missão, mesmo quando um fracasso iminente parecia inevitável. Outro ponto que chamou muito a atenção foi a participação, para lá de especial, de Levar Burton (que também dirige o episódio), como o capitão La Forge da U.S.S. Challenger (isso é que é nome de nave espacial!!!), uma nave classe Galaxy que está no encalço da Delta Flyer.
Obviamente, tal episódio tinha que terminar com um paradoxo temporal. Janeway consegue descobrir que foi Kim quem enviou a mensagem para a Voyager, diretamente do futuro. O problema é que, se a Voyager não está mais enterrada no gelo e Kim não mais chegou ao Quadrante Alfa, como ele então enviou a mensagem se o futuro foi alterado? Ao que Janeway respondeu sabiamente: quando mexemos com paradoxos temporais, é melhor a gente não se preocupar muito em questioná-los. Uma saída fácil mas, ao mesmo tempo, divertida, ainda mais porque ela meio que serve como uma resposta aos críticos das histórias das viagens no tempo, buscando sempre as inconsistências nas linhas temporais à medida que as migrações temporais para lá e para cá acontecem.
Assim, “Quinze Anos” é mais uma boa história de “Jornada nas Estrelas, Voyager”. Uma ficção científica meio manjada, mas que nunca deixa de funcionar e de divertir. Vale a pena dar uma revisitada nesse episódio.