Mais um mangá perturbador nas bancas. “Avengers 09”, de Seishi Kishimoto, toca num tema que sempre foi muito caro ao comportamento humano: a vingança. Essa é uma história que usa o argumento do “olho por olho” para coibir a criminalidade. Mas a vingança não será realizada pelos parentes das vítimas e sim por uma força policial especial conhecida como Avengers. Segundo o mangá, a “Lei da Vingança” existia no Japão até o surgimento da política modernizadora do Imperador Meiji no século XIX. E, nos tempos atuais, ela passa a ser retomada, pois há a queda das taxas de natalidade e uma instabilidade econômica que aumentam as taxas de assassinato e crimes hediondos. Para frear o ritmo de crimes, as famílias das vítimas têm o direito de requerer a pena de vingança, onde um avenger irá aplicar o mesmo crime que o criminoso aplicou contra a vítima, isso depois de uma análise bem meticulosa de se a pena de vingança deve ser aplicada ou não. Mas se o criminoso ganhar o duelo com o avenger num bairro fechado, ele tem direito a uma anistia de três anos e a morte por eutanásia. São, ao todo, nove avengers que foram vítimas de crimes hediondos ou tiveram parentes vítimas de crimes hediondos, pois assim eles podem se solidarizar na dor dos parentes das vítimas que assistem a tudo num óculos que mostra imagens captadas por uma câmara que está na roupa do avenger que executa a pena, isso para que o parente se sinta como se ele mesmo praticasse a vingança.
Cada avenger tem uma característica específica. O protagonista, Yuuji Yamagishi, por exemplo, tem pernas e braços insensíveis em virtudes de acidentes anteriores que ele sofreu onde perdeu membros e o implante deles tornaram-nos insensíveis. Ele usa isso para fazer tocaias para os criminosos. Já a mais nova avenger, Ryouko Koizumi, que sofreu um estupro, tem a característica de poder contorcer todo o seu corpo, deslocando articulações para atacar de surpresa os criminosos.
Conseguimos ver em todo o primeiro número um ambiente doentio onde todos os condenados têm comportamentos psicóticos, sendo dignos da punição que recebem, exceto por um caso que aparece mais ao final do volume. Ainda, embora a “Lei da Vingança” seja amplamente usada, ela também não deixa de ser questionada, principalmente na figura da jornalista Haruka Yanase, amiga de Yamagishi e que sustenta o argumento de que um julgamento não é justo, no sentido de se tratar com equidade a análise dos crimes, se os familiares das vítimas interferem. Ou seja, numa história onde o espírito de vingança dá o tom, já no primeiro número aparecem os primeiros questionamentos, até porque, se há parentes das vítimas que não gostam de ver os criminosos sendo punidos violentamente, outros nutrem um violento prazer em se tornarem os carrascos por intermédio dos avengers, prazer esse que beira a psicose. Num dos crimes, eles não se contentaram em apenas ver o criminoso ser executado, mas ainda profanaram seu túmulo e o decapitaram. É realmente uma leitura bem pesada, com muita violência explícita e imprópria para menores de 18 anos, como está escrito na capa da revista.
Assim, “Avengers 09” é uma leitura forte para quem tem muito estômago e, principalmente, uma mente centrada, pois fica meio difícil embarcar na canoa furada da vingança, ainda mais em dias de violência e ódio desmedidos em nosso país. Tal leitura deve ser consumida com sabedoria e não para despertar ódios tão insanos como os que nós temos visto ultimamente. Mas vale a pena procurar esse mangá nas bancas.