Mais um dia começa!
E vem com maus presságios
O vulcão treme à beça!
Indício de infernos temporários
E eu aqui, ao pé da montanha, resisto
A mais uma tamanha crise de mau humor
A natureza, em seu curioso imprevisto
Me faz nascer aqui para encarar da lava seu fervor
O dia, tranquilo passou
O meu gigante vizinho não se estourou
Mas, ao fim da tarde, as coisas mudaram
E todas as erupções começaram
Projéteis de pedra incandescente
Tornavam o céu noturno uma beleza resplandecente
Essas iam longe, eu pensava
O perigo mesmo eram os jorros de lava
E, eis que lá vinha ela, iluminando a negra encosta
Mais uma vez, eu me perguntava e buscava a resposta
Será que hoje vou morrer queimada?
Será que minha existência se dará por acabada?
O medo pulula em minha seiva
A desgraça passa ou é desgraça feita?
O rio de fogo se aproxima
É a morte que chega e atemoriza
Imediatamente, começo a mentalizar
“Passem ao lado, brasas más!”
“Não me queimem mais!”
E a lava, miraculosamente, começa a se desviar
Sinto, ao meu lado, o poder de toda sua quentura
Para esta pobre flor, esta é uma vida muito dura
A lava passou e esfriou com desfaçatez
É, à tragédia de minha companheira, sobrevivi mais uma vez