Batata Movies – Creed II. Avassalador.

Cartaz do Filme

E temos “Creed II”. A tão esperada continuação da saga do filho de Apolo, o Doutrinador, treinado por Rocky Balboa, busca dar sequência, cerca de trinta anos depois, aos eventos de “Rocky IV”, quando Ivan Drago matou Apolo e Rocky o venceu na então União Soviética. Agora, Ivan Drago busca a revanche com Creed tendo como instrumento seu filho, Viktor Drago (interpretado por Florian Munteanu).

Dois amigos num antigo desafio

Os dois filmes “Creed” podem ser entendidos como uma sequência séria e respeitosa de “Rocky”. Mesmo que “Rocky” tenha sido um grande sucesso de bilheteria, é impossível não perceber que havia um tom de galhofa e exagero mais em alguns filmes e menos em outros. O próprio “Rocky IV” às vezes tinha um tom de vergonha alheia. Nos dois “Creed” não vemos nada disso e os filmes funcionam muito bem, o que acaba sendo um deleite para os olhos.

Família Drago

Como é o plot? Preparem-se que vai haver spoilers. O filme começa com Ivan Drago e seu filho Viktor indo para uma luta onde saem vencedores. Enquanto isso, Creed consegue conquistar o título de campeão mundial dos pesados. Mas, com a ajuda de um empresário americano, a família Drago desafia Creed. Mesmo sob os insistentes pedidos de Rocky para não aceitar o que considera uma provocação, Creed aceita o desafio sem a ajuda de Balboa. É claro que ele vai entrar na porrada, mas não perde o título, pois Drago é desclassificado porque atingiu Creed enquanto ele estava no chão. Depois de ruminar muita raiva na sua recuperação, Creed esquece um pouco do boxe, pois sua filha nasce. Mas Viktor Drago seguidamente o desafia e Creed pode perder o título caso protele demais a defesa do mesmo. Aí, vai ter uma segunda luta, agora na Rússia e com Rocky treinando o pugilista.

Que medo!!!

Por que “Creed II” foi tão bom? Em primeiro lugar, e até mais do que a questão das cenas de lutas de boxe, esse é um filme de núcleos familiares muito bem explorados. Temos a questão de Rocky, que não conhece o neto pois não fala com o filho, temos a família de Creed, que vive sob a sombra das ameaças de feridas do passado abertas, onde Creed se vê na obrigação de lutar por ter tido seu pai assassinado no ringue, mas que depois descobre que ele precisa lutar não por seu pai, mas por si mesmo, e temos a questão da família Drago (a melhor a meu ver) onde o pai exigia demais do filho por ter sido abandonado por tudo e por todos depois da derrota com Rocky, só que (alerta de spoiler) ele reconhece na última hora que, ao tentar recuperar a honra da família, ele dava atenção demais a pessoas que só queriam se aproveitar da fama de pai e filho ao invés de se preocupar com o próprio filho (dentre essas pessoas está a própria personagem interpretada por Brigitte Nielsen, que era a esposa de Ivan em “Rocky IV” e que o abandonou depois da derrota). Ou seja, há uma grande preocupação com a construção dos personagens nesse filme, ao contrário do que víamos, por exemplo, no núcleo soviético de “Rocky IV” em Ivan Drago, por exemplo, que mais parecia um robô do que qualquer outra coisa. Mais do que o Boxe em si, “Creed II” é uma boa história de personagens muito bem pensados.

Referências a “Rocky IV”

Obviamente, o Boxe é a outra vedete. E aí, “Creed II” também acerta, sobretudo nas referências a “Rocky IV”. Tivemos a derrota nos Estados Unidos e a revanche na Rússia, a música antológica dos filmes antigos na luta final, passando pelo treinamento de Creed num ambiente e condições totalmente rústicas (no meio de um deserto bem quente), lembrando muito o treinamento de Rocky no interior da Rússia em “Rocky IV”, também em condições adversas, só que no meio da neve. As cenas das lutas de Boxe, apesar de um pouco exageradas, eram mais realistas do que víamos no “Rocky” original e havia algumas referências, como os socos na cara que Creed e Apolo, o Doutrinador, recebiam com a câmara em slow motion. Mas as esquivas de Creed eram bem mais palatáveis do que as que víamos em “Rocky III”, por exemplo. E a esposa de Creed cantando na entrada do marido na luta na Rússia era uma alusão direta a James Brown em “Rocky IV”. Tudo isso tornava o filme saboroso, pois nos ligava de forma positiva ao “Rocky IV” do passado.

Assim, “Creed II” é um grande prêmio para os fãs de “Rocky”, pois faz muitas referências a “Rocky IV” e respeita demais os filmes antigos, mais até do que eles mesmos. Ainda, e principalmente, é um filme sobre personagens muito bem construídos e núcleos familiares que resolvem suas diferenças ao longo do tempo, não sendo uma película totalmente maniqueísta na questão de “mocinhos e bandidos”. A gente também torce para que a família Drago supere suas frustrações, mesmo tomados por tanto ódio. Quando o filme atinge esse tipo de sentimento, temos uma história nobre que atinge nossos corações e mentes de uma forma avassaladora. Filme obrigatório para ver, ter e guardar.

Batata Movies – Green Book, O Guia. Busca Por Identidade E Dignidade.

Cartaz do Filme

Um filme que disputa o Oscar. “Green Book, O Guia” concorre a cinco estatuetas (Melhor Filme, Melhor Ator para Viggo Mortensen, Melhor Ator Coadjuvante para Mahersala Ali, Melhor Roteiro Original e Melhor Montagem). Temos aqui uma ótima história baseada em eventos reais que aborda mais uma vez a questão do racismo nos Estados Unidos. Vamos precisar lançar mão dos spoilers aqui.

Um pianista garboso…

O plot gira em torno de Tony Lip (interpretado por Mortensen), um leão de chácara ítalo-americano, que resolve seus problemas no trabalho na base da porrada no Night Club Copacabana, local em que trabalha em Nova York. O problema é que um chefão mafioso local ficou chateado pois seu chapéu sumiu no Night Club e ele o “fechou para obras” alguns meses. Assim, Lip precisou encontrar um emprego temporário e ele o obteve com o Dr. Don Shirley (interpretado por Ali), um pianista muito rico e muito refinado que o contrata para ser seu motorista e segurança numa turnê pelo sul dos Estados Unidos, lembrando que Shirley é negro e estamos nos Estados Unidos muito racista da década de 60. Assim, a película mostra como foi essa viagem, a aproximação entre Lip e Shirley e quais foram as situações de racismo que os dois foram encontrando ao longo da viagem.

Esse pianista vai viajar com um ítalo-americano racista

Esse é um filme sobre identidade e dignidade. Temos aqui um branco ítalo-americano vaca brava que é racista e descobre com Shirley o que é viver sob o estigma do preconceito. Lip também vai descobrir outras coisas com Shirley: o autocontrole, ter mais tato, educação, buscar objetivos construtivos em sua vida, ser politicamente correto e escrever cartas bonitas. Já Shirley aprende com Lip hábitos mais “mundanos” como comer frango frito ou uma forma mais descolada e sincera de ver a vida. No tocante à identidade, o personagem Shirley é o mais interessante, pois ele é negro e não vive como os “seus”, que são de um estrato social mais pobre. Mas mesmo assim é rechaçado pelos brancos. Então ele não é negro nem branco. E Lip é branco mas também é visto com preconceito pelos WASPs por ser de descendência de imigrante italiano. Essa interação entre os dois personagens teve uma química muito boa e justifica inteiramente as indicações a melhor ator e ator coadjuvante, assim como a de melhor filme e roteiro original.

Os dois aprendem um com o outro

A questão do racismo no sul dos Estados Unidos na década de 60 foi um personagem à parte. O próprio título do filme, “Green Book” se refere a uma espécie de guia turístico para negros em viagem ao sul do país onde são indicados os hotéis e atrações turísticas exclusivas para negros. Chegava a ser surreal as elites sulistas recebendo Shirley com toda a pompa de uma celebridade e lhe reservando os piores lugares como camarim e banheiro na parte de fora (a popular “casinha”), isso sem falar do fato dele ser proibido de jantar nos próprios lugares em que ele tocava.

A viagem tem momentos difíceis…

E aí, todo esse racismo ajudou a cimentar a afinidade entre os personagens protagonistas do filme, servindo de ponte entre eles. Lip deixava de ser racista ao se identificar cada vez mais com Shirley e Shirley se encontrava em sua identidade ao se aproximar de Lip. E o filme cumpria sua função social de denúncia ao chamar a atenção mais uma vez para uma mazela que insiste em perdurar até os dias de hoje.

… mas também momentos divertidos…

Dessa forma, “Green Book, O Guia” faz jus a todas as indicações ao Oscar que recebeu, traz uma história real muito instigante, personagens e atores fenomenais e mais uma vez denuncia os problemas do racismo. Mais uma película para ver, ter e guardar.

Batata Séries – Jornada Nas Estrelas Discovery (Temporada 2, Episódio 1) Irmão.

E lá vamos nós de novo…

E estreou a segunda temporada de “Jornada nas Estrelas Discovery”. Depois de uma primeira temporada que agradou a alguns mas desagradou a outros, havia uma grande expectativa por parte dos fãs sobre como seria essa segunda temporada. Se tomarmos como referência as outras séries de “Jornada nas Estrelas”, a maioria delas tinha uma primeira temporada meio capenga, com melhorias nas temporadas seguintes. Mas era uma outra época, com longas temporadas sendo produzidas durante um ano inteiro, onde os ajustes poderiam ser feitos ao longo da produção dos episódios. Agora, em dias de streaming, quando toda a temporada é rodada antes de sua exibição, ajustes durante o processo ficam bem mais difíceis. Realmente é uma outra linguagem. Daí a expectativa. Outra questão que o streaming levanta é o de qual modelo atende mais ao novo formato: um único arco nesses poucos episódios mais curtos ou sub arcos e mais episódios avulsos durante a temporada? Quando tínhamos uma temporada de 26 episódios de cerca de 45 minutos, podia se fazer arcos principais, sub arcos e episódios avulsos de construção de personagem, por exemplo. O streaming parece ser mais limitado com relação a isso. E aí, esse foi um problema da primeira temporada de Discovery, pois tentou-se fazer de tudo um pouco e a coisa parece não ter funcionado muito bem. Todas essas questões só aumentaram as expectativas acerca de como seria a segunda temporada.

O que fazer com a Burnham???

E o que podemos dizer desse primeiro episódio, “Irmão”? Pareceu aqui que a coisa se aproximou mais do que víamos nas outras séries da franquia. A introdução de Christopher Pike ajudou muito nisso, pois ele se colocou como um capitão mais antenado com o espírito da Federação, se antagonizando imediatamente com Lorca. Ao tirar o comando de Saru, ele chega cheio de dedos e busca se aproximar da tripulação, mas sem abrir mão de mostrar quem é que manda, embora tenha aparecido um momento constrangedor com Michael Burnham, onde a tripulante meio que dá um fora no capitão, algo impensável em outros capitães segundo o que os fãs tem dito por aí. Outra coisa que aproxima o episódio do Universo de “Jornada nas Estrelas” é a existência de um enigma que precisa ser desvendado (uma fonte de energia com o qual as naves da Frota não conseguem lidar e aí a tripulação da Discovery precisa resolver esse problema. Esse enigma também é colocado de forma pictórica na série (na abertura da série há uma silhueta do que aparenta ser um humanóide alado e Burnham também teve uma espécie de alucinação com a mesma imagem durante o episódio). Uma primeira pista para se desvendar esses mistérios está na amostra de asteróide colhida pela Discovery, que se trata de um material altamente energético que não pode ser teletransportado e que tem algo a ver com matéria escura. Aí está um possível gancho para a solução do enigma, bem ao espírito das ficções cientificas das demais séries de “Jornada nas Estrelas”. Esperemos que isso não se torne algo parecido com toda aquela papagaiada do maldito motor de esporos e da rede micelial que, por enquanto, não foram usados, mas que vão dar o ar de sua graça em episódios futuros. A ficção científica deve ser criativa, mas não deve ser muito over, pois ela sai do campo da ficção para o da ópera do absurdo.

Um momento engraçado…

Até agora, mencionamos aqui as virtudes da série e de como ela se aproxima do que os fãs mais tradicionais entendem o que é “Jornada nas Estrelas”. Agora, quais são os problemas? Em primeiro lugar, a série ainda se vende mais como uma aventura de ação do que uma ficção científica mais bem escrita. A sequência do asteróide está aí para provar esse ponto. Muitos efeitos especiais mais para espelhar uma corrida no meio de um monte de pedras do que qualquer outra coisa. A gente até entende que isso seja para atender as demandas de um público mais contemporâneo, etc., mas ainda é muito de se estranhar quando se trata de “Jornada nas Estrelas”. Essa impressão aumenta muito em minha pessoa, pois muito recentemente terminei de assistir “Voyager”. Eu vi os dois últimos episódios juntamente com o primeiro episódio da segunda temporada de Discovery e a impressão de que Discovery é muito diferente do Universo de Jornada nas Estrelas (mesmo que esse primeiro episódio tenha melhorado um pouco isso) é ainda muito forte. Em segundo lugar, a repulsa de Spock a Burnham na infância dos dois me pareceu demasiadamente emocional, mesmo para os padrões de uma criança vulcana mestiça. Uma reação fria e de desprezo de Spock para com Burnham seria algo bem mais eficiente e honesto. Esperemos que um dos ícones máximos de “Jornada nas Estrelas” (se não for o máximo) não seja esculhambado nessa temporada, como o foi com o Spock ultraemocional de Zachary Quinto, que saiu na porrada aos gritos com Khan.

Um novo capitão…

E a protagonista Michael Burnham? Ela deu uma melhoradinha. Apesar de seu monólogo irritante no início do episódio, não vimos mais isso ao longo da exibição. Mas ela ainda é tratada como uma espécie de prima-dona que resolve todos os problemas e é dotada de uma certa empáfia que a torna antipática. Burnham precisa ser mais construída em outra direção. Que essa insegurança que ela tem em torno do irmão seja mais bem construída e trabalhada, podendo ser uma boa saída para recuperar a protagonista. Aliás, a construção dos demais personagens da série (só na ponte há uma avalanche de ilustres desconhecidos) faz-se urgente. O problema nisso é o formato de streaming, mas um ponto-chave para a série fazer sucesso é a empatia que o público vai desenvolvendo com os personagens. Com Stamets e Saru, por exemplo, parece que a coisa está sendo bem encaminhada. Mas com Burnham e até Tilly, parece que é necessário remar mais um pouco. Falando dessa última, as piadas funcionaram, mas o que melhor de Tilly tivemos ainda foi o Stamets pedindo para ela falar menos. Entretanto, ela tem um bom coração, não podemos nos esquecer. Ainda sobre os personagens, além da boa surpresa de Pike, tivemos a presença da engenheira Jett Reno, que parece ser uma excelente personagem e cairia como uma luva na engenharia da nave, juntamente com Stamets. Somente a introdução desses dois personagens novos e a qualidade deles é um indicativo de que poderemos ter algo de positivo na série esse ano.

Uma nova engenheira???

Assim, “Irmão” é um bom episódio de “Jornada nas Estrelas Discovery” que parece confirmar as expectativas otimistas que os “Short Treks” trouxeram. É um episódio que, apesar de seus problemas, se aproxima mais do Universo de Jornada nas Estrelas que conhecemos. O espírito da Federação encarnado em Pike, o enigma inicial que deve ser resolvido com uma ficção científica que, esperemos, seja sofisticada, típicos das demais séries de Jornada nas Estrelas, estavam lá. Só é de se lamentar a coisa um pouco espetacular e vazia dos filmes de ação regados a efeitos especiais e algumas permanências da primeira temporada, como a marra de Burnham, que a deixa um tanto antipática. Esperemos os próximos episódios para ter uma ideia dos rumos da série.

Batata Movies – A Esposa. Colette 2, A Missão.

Cartaz do Filme

Um filme muito esperado. “A Esposa” traz Glenn Close em grande forma, tanto que ela conseguiu ganhar o Globo de Ouro de Melhor Atriz Dramática com esse filme e provavelmente receberá uma indicação ao Oscar vindo muito forte para a premiação. Mais uma película que tem abordado a questão da mulher e da busca por seu espaço numa sociedade ainda muito machista tanto aqui quanto lá fora. Vamos precisar de alguns spoilers aqui.

Um casal aparentemente em harmonia

O plot fala do casal Joe Castleman (interpretado por Jonathan Pryce) e Joan Castleman (interpretada por Glenn Close). O marido é um grande escritor que recebe o Prêmio Nobel, com a esposa assumindo o passivo papel de fiel escudeira do cônjuge. Mas há algo de estranho no ar. Eles têm um filho, David (interpretado por Max Irons), que também investe na carreira de escritor, sendo visto com um certo desdém pelo seu pai que só se preocupa em ostentar seus sucessos. Obviamente isso produzirá um clima muito pesado na família, que irá explodir justamente na ocasião da premiação. Para piorar a situação, a família é perseguida por Nathaniel Bone (interpretado por Christian Slater), um escritor que quer produzir uma biografia não autorizada sobre Joe e que desconfia de algo nebuloso no passado do casal. Essa coisa nebulosa (alerta de spoiler!!!) é simplesmente o fato de que Joan é a verdadeira autora dos livros atribuídos ao marido e não aguenta mais ficar naquela situação humilhante.

Mas a esposa não aguenta mais uma situação

Esse plot é muito semelhante à “Colette”, já resenhado aqui. Entretanto, há duas diferenças básicas. Enquanto que “Colette” é baseado numa história real, “A Esposa” é baseada no romance de Meg Wolitzer. Talvez por isso mesmo, “A Esposa”, por ser uma ficção, é bem mais forte e ácido, onde vemos sérios conflitos entre esposa e marido e entre marido e filho. Já “Colette”, por sua vez, é bem mais leve, até pelo espírito transgressor da escritora, que viveu num momento tão conservador que era a virada do século XIX para o XX, onde ela teve uma certa liberdade, dada pelo marido, que se preocupava mais com seu empreendimento literário do que colocar grilhões na esposa. Já em “A Esposa”, o casamento era muito mais tradicional, onde Joan se sentia completamente aprisionada e humilhada, com o detalhe de que via seu filho também sofrendo com toda a farsa.

Logo o conflito aparece…

Agora, o que falar do elenco? Glenn Close, obviamente, estava maravilhosa. Seu olhar distante e penetrante quando ela via o marido ser laureado dói até agora. Mas seu grande momento foi o olhar de raiva, ódio mesmo, quando ela era agraciada pelo marido no discurso de agradecimento. Dava medo, mas doía demais também, atingindo o espectador em cheio. O Globo de Ouro foi um prêmio mais que merecido e não seria nenhum exagero ela ser premiada também com o Oscar, embora a gente ainda precise ver quais serão as outras candidatas. A atuação de Jonathan Pryce também foi primorosa. Ele fez um perfeito babaca que dava muita raiva na gente, embora fosse carinhoso com a esposa em alguns momentos, despertando sentimentos contraditórios típicos numa relação mais longeva. Max Irons teve um personagem um tanto fraco, pois só demonstrava mágoa com o passado e com o pai e mais nada. Plano demais, podendo ser um pouco mais complexo para que o ator tivesse mais oportunidades. Já Slater consegue convencer como um oportunista cafajeste e poderia ter sido mais bem aproveitado.

Um escritor atiçando uma situação…

Assim, podemos falar que “A Esposa”, fora um problema ou outro (um desfecho talvez exagerado) é um grande filme que prima por trazer mais uma vez a reflexão da situação da mulher na atualidade, chancelado pela grande presença de Glenn Close. Uma história forte, ácida e conflituosa que dá um forte grito contra o machismo. Mais um filme essencial que merece ser prestigiado, assim como “Colette”.

Batata Movies – O Beijo No Asfalto. Assustadoramente Atual.

Cartaz do Filme

É impressionante a recursividade de Nelson Rodrigues na cultura brasileira, um indício de que sua obra é atemporal. E ele está de volta mais uma vez, agora sob a tutela de Murilo Benício, que escreve e dirige uma nova versão para “O Beijo no Asfalto”. E o que essa nova tentativa de descortinar Rodrigues nos traz? Ela tem o grande mérito de ser uma espécie de “história comentada” pelos próprios atores que interpretam a peça.

Estudando uma peça…

O plot é perturbador e tem tudo que identificamos em Rodrigues. Um atropelamento,uma vítima masculina moribunda (ou já morta?), um homem que beija essa vítima,num ato de compaixão, nada mais. O problema é que isso é visto por seu sogro e por um repórter sensacionalista que pretende transformar essa história num grande escândalo para salvar a pele de um amigo policial que estava mal na fita e que vai conduzir as fantasiosas investigações. A partir daí, o homem que beijou o atropelado tem sua vida devassada pelos jornais em virtude do conservadorismo da época, sendo até incriminado por um possível assassinato. Isto provoca um efeito dominó que detona várias subtramas que vão do amor físico de um pai para com sua filha até a paixão entre cunhado e cunhada (mais rodriguiano impossível), levando a um desfecho trágico.

Grande participação de Fernanda Montenegro…

Como o filme é uma espécie de “história comentada”? Vemos isso logo em seu início,quando temos uma mesa com vários atores debatendo sobre a peça e lendo seus papéis. Dentre eles estão figuras muito conhecidas como Lázaro Ramos, Otávio Müller, Débora Falabella, Stênio Garcia e Fernanda Montenegro. É delicioso ver tantos atores conceituados analisando os próprios personagens, assim como o contexto histórico e social onde a peça foi forjada. Isso difere em muito da minha visão dos filmes de Nelson Rodrigues lá da década de 70 dirigidos por figuras como Neville D’Almeida, onde havia uma pegada mais direcionada ao erotismo e à sensualidade (embora uma neurose dos personagens já estivesse marcada). Mas o filme não ficava preso somente a essa análise. Logo, os personagens estariam em estúdio e locações contando a história da peça, embora isso fosse feito de uma forma sempre mesclada com o making of. Assim, poderíamos, numa cena, ver os atores atuando para, instantes depois a gente ve ra filmagem por outro ângulo de câmara, onde aparecia Walter Carvalho filmando os atores, ou uma casa abandonada se transformar num palco com uma plateia assistindo. Isso sem falar que a película é em preto e branco, que sempre favorece mais os contrastes da imagem do que o colorido e é bem mais artístico e estético. Nesses pontos, o filme foi bem interessante e original. Só não é totalmente inovador, pois a gente já viu uma produção nesse estilo em outros carnavais.

Um homem perseguido…

O filme ainda suscita mais questões. Ele é assustadoramente atual no que tange à crítica de Rodrigues ao conservadorismo da sociedade. A homofobia enorme que aparece na película, ao ponto de criminalizar uma atitude solidária, ainda se faz bem presente na nossa sociedade de hoje, sessenta anos depois. Isso é notado pelos atores que interpretam o filme. Montenegro inclusive aponta para o fato de que a sociedade que protagoniza a história é do subúrbio (e não da Zona Sul) de sessenta anos atrás e que terá esses traços mais conservadores e tradicionais. Fico eu me perguntando aqui se esse conservadorismo é uma característica mais inerente a sociedade de subúrbio ou ela também se manifestaria na sociedade de Zona Sul da época.

Filme tem curiosas locações…

Outra coisa que chama a atenção é a crítica ao jornal “Última Hora”, que publicava as reportagens que defenestravam o beijo. Fala-se por aí de que Nelson Rodrigues,mesmo sendo um crítico ácido da sociedade tradicional, era um homem de direita e que seu filho, que participava da guerrilha contra a ditadura e estava preso, só teria sobrevivido por um pedido de Rodrigues a Médici, seu amigo. Confesso que não chequei essas informações mas essa história já foi contada por aí. Assim, se ela for verídica, é sintomático perceber a crítica ao jornal “Última Hora”, do Samuel Wainer, considerado um jornal getulista e de esquerda, em oposição à “Tribuna da Imprensa”, de Carlos Lacerda, um jornal notoriamente de direita e de oposição ferrenha a Vargas.

Murilo Benício estreia na direção…

Assim,“O Beijo no Asfalto” é mais um bom filme brasileiro que merece a atenção do público, onde Murilo Benício fez um ótimo trabalho, escrevendo e dirigindo uma obra que pretende ser, simultaneamente, artística e didática, dando um grande resultado. Um programa obrigatório para os cinéfilos e amantes da obra de Nelson Rodrigues. Para ver, ter e guardar.  

Batata Movies – Colette. Anos Luz À Frente De Seu Tempo.

Cartaz do Filme

Um filme notável. “Colette” traz de volta todo o talento e a beleza de Keira Knightley e a saga de Colette, que viria a se tornar a mais renomada escritora da França, tendo atitudes demasiadamente ousadas e avançadas para seu tempo (a virada do século XIX para o século XX).  Podemos dizer que essa película é extremamente apaixonante.

Uma moça inocente e seu namorado mais velho…

O plot é o seguinte. Colette (interpretada por Knightley) é uma moça do interior que se apaixona por um homem da cidade grande mais velho que ela, Willy (interpretado por Dominic West). Willy trabalha para o mercado editorial e publica livros cuja autoria é atribuída a ele, mas, na verdade, ele tem escritores sob seu contrato para exercer o ofício de ghost writer. Como Willy tem uma vida altamente fútil, onde ele gasta seu dinheiro com noitadas, apostas e mulheres, o casal sempre está afogado numa tremenda pindaíba financeira.

Vida mais moderna na cidade grande…

Até que, um belo dia, Willy descobre que Colette gosta de escrever e põe a moça para fazê-lo, publicando o livro dela com a sua autoria. Colette cria uma personagem autobiográfica, Claudine, que se torna uma verdadeira sensação em Paris, o que faz com que Willy a obrigue a escrever continuações da vida de Claudine, sempre sob a autoria dele. Colette, então, vai dando sequência à sua obra, onde Claudine terá comportamentos ousados como a bissexualidade, assim como Colette os tinha. Essa forma ousada e transgressora de Claudine conquistará os franceses de vez, influenciando as formas de ser, a moda e outros setores, constituindo-se num verdadeiro espetáculo midiático. Entretanto, Colette não tinha autonomia sobre sua criação, sempre sob a propriedade de Willy. É claro que, pelo espírito de Colette, essa situação não poderia continuar assim.

Companhias femininas e masculinas…

A história, em si só, é altamente instigante, pois na nossa mente do século XXI, que testemunha um avanço enorme do conservadorismo, torna-se praticamente impossível conceber um espírito tão transgressor na virada do século XIX para o XX. Temas como o relacionamento aberto, o bissexualismo e o amor livre pareciam impensáveis para a época. E realmente o eram para algumas cabeças daqueles dias, como o filme nos mostra. Mesmo assim, havia pessoas com a mente mais aberta para esses pontos de vista e o estrondoso sucesso da personagem Claudine pareceu uma espécie de reação da sociedade à toda a repressão e costumes daqueles anos.

Um espírito transgressor…

O mais interessante no filme é a protagonista em si. Enquanto que Colette buscava o reconhecimento da personagem Claudine como sua, ela avançou por outras frentes. Além do já citado amor livre e bissexual, a moça também fez incursões pela carreira de atriz no teatro. Ou seja, Colette é uma personagem (real) muito fascinante, o que provocava uma empatia imediata com o espectador. O mais curioso é que ela vinha de um meio altamente conservador que era a zona rural. Mas isso não a impediu de se adaptar rapidamente ao mundo urbano e suas ideias e tendências mais modernas. Assim, Colette funciona como uma espécie de transição entre a tradição e a modernidade, sendo a última vista aqui como virtuosa.

Uma mulher muito observadora

E Keira Knightley? Caramba, como ela estava espetacular! Sua atuação foi muito firme e carismática, na medida do exigia sua personagem. E também pareceu que a moça rejuvenesceu, de tanta jovialidade que ela transpirava. Como a gente sabe que a atriz já tem um tempinho de carreira, era de se esperar que os primeiros sinais da idade já estivessem aparecendo. Ledo engano. Ela pareceu ainda mais jovem do que quando fez o primeiro “Piratas do Caribe”, sendo um deleite para os olhos.

A verdadeira Collete…

Dessa forma, “Colette” é um programa imperdível, pois aborda um caso real de empoderamento feminino do início do século passado, onde uma grande escritora enfrentou todos os tabus de seu tempo, se tornando uma espécie de celebridade midiática, mesmo que a autoria da personagem Claudine não fosse atribuída a Colette num primeiro momento. Ainda, ver Knightley em sua beleza e sua força de atuação foi um espetáculo à parte que já valia o preço do ingresso. Mais um filme que vale a pena a conferida do cinéfilo mais exigente, pois ele também primou pela reconstituição de época, seja nas locações, seja nos figurinos. Não deixe de ver.

Batata Movies – Utoya, 22 De Julho. Tragédia Como Prelúdio Para O Apocalipse.

Cartaz do Filme

Um filme extremamente perturbador. “Utoya, 22 de Julho” tenta reproduzir o horror dos ataques terroristas de 22 de julho de 2011 na Noruega, quando houve um atentado a bomba à sede do governo norueguês e um acampamento de férias de adolescentes na Ilha de Utoya foi alvejado por uma série de tiros por 72 minutos, provocando muitas mortes, ferimentos graves e sérios traumas psicológicos. Os ataques foram empreendidos por um grupo de ultradireita com conotações religiosas. E o autor dos atentados nunca se arrependeu de ter matado as pessoas que alvejou. Esse evento chocou o mundo, pois aconteceu num país que sempre teve a fama de ser muito correto e justo em virtude da política do “Welfare State”.

Kaja, sob fogo cruzado…


Como é o plot do filme? Inicialmente, vemos cenas reais de circuito de tv da explosão na sede do governo. Posteriormente, o filme foca no acampamento de Utoya em si e em torno da personagem fictícia Kaja (interpretada por Andrea Berntzen). No momento em que começam os tiros, Kaja se esconde numa casa com outros jovens e perde contato com sua irmã, que estava na barraca das duas. A partir daí, o filme é uma longa e angustiante jornada pelas barracas, pela floresta e pela beira do mar, onde sempre fica a questão: o que é mais seguro? Se esconder na floresta? Correr para o mar e fugir nadando? Ficar escondido nas escarpas à beira mar? Em qualquer dessas alternativas, o atirador pode te achar e te matar. Qual é a menos arriscada?
O filme é montado como se fosse um único plano-sequência (muito provalmente emendado aqui e ali), onde a câmara atua como uma personagem que sempre está próxima de Kaja. Como a moça se aproxima e se afasta dos grupos, estando sozinha em alguns momentos, em virtude de sua busca pela sua irmã, é como se estivéssemos junto da personagem o tempo todo, o que cria uma espécie de empatia (talvez até cumplicidade) com a personagem. Não vemos o atirador (exceto em esporádicos e rápidos vultos), apenas escutando os tiros (que ficam mais altos e mais baixos, indício de que o atirador pode estar mais perto ou mais longe) e pessoas correndo pela floresta, que é o terreno onde a película passa sua maior parte. Essa opção da câmara em plano-sequência como personagem é profundamente angustiante e deixa o espectador totalmente inserido na história.

Um acampamento arrasado…


O filme também cumpre a função social de denúncia do cinema, alertando para os perigos dos movimentos de extrema-direita e seu crescimento no mundo atual, constituindo-se numa verdadeira ameaça. Dessa forma, o filme usa a tragédia de Utoya como uma espécie de prelúdio para um futuro altamente apocalíptico. Depois não digam que não foram avisados.

Sem saber para onde ir…


Assim, “Utoya, 22 de Julho” é um filme essencial, que denuncia o perigo do radicalismo dos grupos extremistas, fazendo isso de uma forma muito perturbadora, pesada e angustiante. Um filme que deve ser mais e mais exibido por aí, não ficando apenas restrito a um único horário numa única e pequena sala. Imperdível. Para ver, ter e guardar.

Batata Séries – Jornada Nas Estrelas Voyager (Temporada 6, Episódio 15) – Tsunkatse. Telecatch Espacial.

Vamos lutar???

O décimo-quinto episódio da sexta temporada de “Jornada nas Estrelas Voyager” é o que se pode chamar de “Telecatch Espacial”. E por que isso? Houve aqui uma combinação de se misturar ficção científica com filme de porrada. E a coisa funcionou? Um pouco, mas mais pelo lado de Jornada nas Estrelas e as mensagens que a série sempre tenta passar para o espectador. No mais, a coisa não ficou muito boa não. Só para lembrar, esse foi o episódio que contou com a participação de Dwayne “The Rock” Johnson, que até é um bom ator (já falei dele aqui em outras ocasiões na Batata Movies), mas que aqui ele só serviu para mostrar mesmo seus músculos e descer o cacete na Sete de Nove (ainda mais em quem???).

Uma iluminação tacanha…

Bom, vamos ao plot. A tripulação da Voyager está de férias (não entendi muito isso para uma nave que está muito longe da Terra e precisando desesperadamente aproveitar o seu tempo para chegar logo ao seu planeta de origem e não ficar o resto da vida viajando; enfim, todo mundo merece um descanso, né?). Assim, a tripulação aproveita como pode. Janeway viaja com a Delta Flyer para um planeta próximo. Tuvok e Sete de Nove vão estudar uma nebulosa. E outra parte da tripulação (leia-se Chakotay, Kim, Paris, Torres e Neelix) vão curtir em outro planeta as lutas de Tsunkatse, onde alienígenas se agridem com mecanismos em seus corpos que, se atingidos, provocam muita dor. Tudo seria muito divertido se Sete de Nove e Tuvok não fossem sequestrados pelo organizador das lutas, Penk (interpretado por Jeffrey Combs, um dos atores mais multimída de Jornada nas Estrelas, trabalhando em Deep Space Nine como o vorta Weyoun e o ferengi Brunt, além de interpretar o andoriano Shran). Como Tuvok ficou ferido no ataque, Sete de Nove precisa entrar na arena para lutar. E aí ocorrerá o fatídico confronto entre a borg e “The Rock”.

Participação de “The Rock” no episódio…

Além da pancadaria, que foi bem parelha mas terminou com a vitória do brutamontes, houve uns poucos diálogos onde um ameaçava o outro, e Dwayne Johnson entrou com seu estilo sereno de interpretação de sempre, algo nada demais, mas eficiente. Como os borgs são muito odiados no quadrante, a luta onde Sete de Nove apanhava deu muita audiência. Imagine se ela morresse o que ia acontecer? Enquanto espera a próxima luta, Sete de Nove tem seus ferimentos cuidados por um hirogen (interpretado por J. G. Hertzler, o General Martok de Deep Space Nine, a voz estava realmente muito familiar), que também irá treiná-la na arte do Tsunkatse, ensinando toda uma pedagogia de caçador que precisa matar sua presa sem dó nem piedade.

Um hirogen como treinador de Sete de Nove…

Qual não é a surpresa de Sete, quando ela vê que o seu próximo adversário é o próprio hirogen, que a treinou para matá-lo, pois ele já está encarcerado há 19 anos e não aguenta mais de saudades do filho? Aí a borg terá que lidar com o dilema de matar ou não seu misto de treinador e amigo. Entretanto, a cavalaria chega. Na primeira luta de Sete de Nove, Chakotay, Neelix, Kim e Paris assistiram a luta e viram a borg na arena. Chakotay deu ordens para Torres (que estava no comando na ponte da Voyager) para teletransportar Sete, mas na verdade Sete não estava na arena e sim uma imagem holográfica dela lutando com The Rock. Os dois lutadores estavam em outra arena numa nave altamente fortificada, cujas imagens holográficas dos lutadores foram rastreados pela Voyager que vai ao seu encalço. Uma pequena batalha de naves se dá e a Voyager, por ser inferior em poder de ataque e defesa, vai sofrendo uma série de avarias. Mas a nave precisa ficar nas imediações da sua adversária gigante, pois ela não consegue travar em Sete e Tuvok, já que há uma proteção que a impede de fazer isso. É nessa hora que chega Janeway com a Delta Flyer e Chakotay pede que ela destrua a antena de transmissão da nave maior. Isso provoca o desaparecimento da luta na arena com o público e a audiência também cai. Desesperado, Penk passa a força da nave para os outros transmissores, o que faz cair a proteção contra o teletransporte. Sete e o hirogen são teletransportados para a Voyager (Tuvok já havia sido transportado antes, pois a Voyager tinha destruído o gerador de escudos da parte menos protegida da nave, onde ele estava). O hirogen agradece o resgate e diz que vai procurar seu filho. O episódio termina com Tuvok e Sete de Nove conversando, onde a borg está muito incomodada por ter passado por maus sentimentos (ódio, remorso, etc.) em virtude das lutas que teve que travar na arena e ela temia ter se afastado de sua humanidade. Tuvok disse que, pelo contrário, se ela tinha preocupações com aqueles sentimentos, aí sim ela se aproximava ainda mais de sua humanidade.

Um treinamento baseado na retórica da caça e da presa

Cá para nós, o que salvou esse episódio foi a conversa final entre Tuvok e Sete de Nove. Misturar Voyager com MMA foi um negócio meio estranho. Para começar, vem o velho dilema: será que as mentes evoluídas do século 24 irão apreciar lutas sangrentas em arenas, como as pessoas do século 20? Esse é um primeiro passo. A coisa só começou a ser questionada quando a tripulação da Voyager viu Sete de Nove na arena. Neelix se pergunta como aquela espécie alienígena se divertia com dois seres vivos se machucando, ao que Chakotay retrucava dizendo que se Sete de Nove não estivesse passando por aquela situação, eles mesmo estariam ali na arena aos berros de “Tsunkatse”. Ou seja, pimenta nos olhos dos outros é refresco. Mas até no século 24??? Pegou mal. Outra coisa que não ficou legal foi o subaproveitamento de Dwayne Johnson. Ele simplesmente entrou para fazer o brutamontes que batia na Sete de Nove. Seria muito mais interessante se ele tomasse mais parte no episódio, até ajudando o hirogen a treinar Sete de Nove e também sendo salvo depois pela Voyager. O relacionamento entre Sete, o Hirogen e Johnson poderia ser mais trabalhado e renderia melhores frutos no aspecto narrativo para esse episódio um tanto pobre, se fixando em sua maioria do tempo apenas na retórica da caça que mata a presa e o passado do hirogen. E que arena era aquela, hein? Com uma iluminação tosca de boate de terceira categoria… confesso que coloquei um saco de compras na cabeça com dois buracos para os olhos de tanta vergonha. Pegou mal, também. Bom, pelo menos o desfecho foi solene, com os personagens mais solenes da nave. E teve um arremedo de batalha espacial também, o que sempre é bem vindo numa série de ficção científica com naves espaciais.

Muita diversão com a presença do “The Rock” nos bastidores…

Assim, “Tsunkatse” pode ser considerado um episódio mediano de “Jornada nas Estrelas Voyager”, onde alguns equívocos foram cometidos mas que, pelo menos teve um desfecho digno. E, para o “The Rock”, quem sabe não pinta uma melhor participação em “The Orville”? Vamos torcer…