O décimo-quinto episódio da sexta temporada de “Jornada nas Estrelas Voyager” é o que se pode chamar de “Telecatch Espacial”. E por que isso? Houve aqui uma combinação de se misturar ficção científica com filme de porrada. E a coisa funcionou? Um pouco, mas mais pelo lado de Jornada nas Estrelas e as mensagens que a série sempre tenta passar para o espectador. No mais, a coisa não ficou muito boa não. Só para lembrar, esse foi o episódio que contou com a participação de Dwayne “The Rock” Johnson, que até é um bom ator (já falei dele aqui em outras ocasiões na Batata Movies), mas que aqui ele só serviu para mostrar mesmo seus músculos e descer o cacete na Sete de Nove (ainda mais em quem???).
Bom, vamos ao plot. A tripulação da Voyager está de férias (não entendi muito isso para uma nave que está muito longe da Terra e precisando desesperadamente aproveitar o seu tempo para chegar logo ao seu planeta de origem e não ficar o resto da vida viajando; enfim, todo mundo merece um descanso, né?). Assim, a tripulação aproveita como pode. Janeway viaja com a Delta Flyer para um planeta próximo. Tuvok e Sete de Nove vão estudar uma nebulosa. E outra parte da tripulação (leia-se Chakotay, Kim, Paris, Torres e Neelix) vão curtir em outro planeta as lutas de Tsunkatse, onde alienígenas se agridem com mecanismos em seus corpos que, se atingidos, provocam muita dor. Tudo seria muito divertido se Sete de Nove e Tuvok não fossem sequestrados pelo organizador das lutas, Penk (interpretado por Jeffrey Combs, um dos atores mais multimída de Jornada nas Estrelas, trabalhando em Deep Space Nine como o vorta Weyoun e o ferengi Brunt, além de interpretar o andoriano Shran). Como Tuvok ficou ferido no ataque, Sete de Nove precisa entrar na arena para lutar. E aí ocorrerá o fatídico confronto entre a borg e “The Rock”.
Além da pancadaria, que foi bem parelha mas terminou com a vitória do brutamontes, houve uns poucos diálogos onde um ameaçava o outro, e Dwayne Johnson entrou com seu estilo sereno de interpretação de sempre, algo nada demais, mas eficiente. Como os borgs são muito odiados no quadrante, a luta onde Sete de Nove apanhava deu muita audiência. Imagine se ela morresse o que ia acontecer? Enquanto espera a próxima luta, Sete de Nove tem seus ferimentos cuidados por um hirogen (interpretado por J. G. Hertzler, o General Martok de Deep Space Nine, a voz estava realmente muito familiar), que também irá treiná-la na arte do Tsunkatse, ensinando toda uma pedagogia de caçador que precisa matar sua presa sem dó nem piedade.
Qual não é a surpresa de Sete, quando ela vê que o seu próximo adversário é o próprio hirogen, que a treinou para matá-lo, pois ele já está encarcerado há 19 anos e não aguenta mais de saudades do filho? Aí a borg terá que lidar com o dilema de matar ou não seu misto de treinador e amigo. Entretanto, a cavalaria chega. Na primeira luta de Sete de Nove, Chakotay, Neelix, Kim e Paris assistiram a luta e viram a borg na arena. Chakotay deu ordens para Torres (que estava no comando na ponte da Voyager) para teletransportar Sete, mas na verdade Sete não estava na arena e sim uma imagem holográfica dela lutando com The Rock. Os dois lutadores estavam em outra arena numa nave altamente fortificada, cujas imagens holográficas dos lutadores foram rastreados pela Voyager que vai ao seu encalço. Uma pequena batalha de naves se dá e a Voyager, por ser inferior em poder de ataque e defesa, vai sofrendo uma série de avarias. Mas a nave precisa ficar nas imediações da sua adversária gigante, pois ela não consegue travar em Sete e Tuvok, já que há uma proteção que a impede de fazer isso. É nessa hora que chega Janeway com a Delta Flyer e Chakotay pede que ela destrua a antena de transmissão da nave maior. Isso provoca o desaparecimento da luta na arena com o público e a audiência também cai. Desesperado, Penk passa a força da nave para os outros transmissores, o que faz cair a proteção contra o teletransporte. Sete e o hirogen são teletransportados para a Voyager (Tuvok já havia sido transportado antes, pois a Voyager tinha destruído o gerador de escudos da parte menos protegida da nave, onde ele estava). O hirogen agradece o resgate e diz que vai procurar seu filho. O episódio termina com Tuvok e Sete de Nove conversando, onde a borg está muito incomodada por ter passado por maus sentimentos (ódio, remorso, etc.) em virtude das lutas que teve que travar na arena e ela temia ter se afastado de sua humanidade. Tuvok disse que, pelo contrário, se ela tinha preocupações com aqueles sentimentos, aí sim ela se aproximava ainda mais de sua humanidade.
Cá para nós, o que salvou esse episódio foi a conversa final entre Tuvok e Sete de Nove. Misturar Voyager com MMA foi um negócio meio estranho. Para começar, vem o velho dilema: será que as mentes evoluídas do século 24 irão apreciar lutas sangrentas em arenas, como as pessoas do século 20? Esse é um primeiro passo. A coisa só começou a ser questionada quando a tripulação da Voyager viu Sete de Nove na arena. Neelix se pergunta como aquela espécie alienígena se divertia com dois seres vivos se machucando, ao que Chakotay retrucava dizendo que se Sete de Nove não estivesse passando por aquela situação, eles mesmo estariam ali na arena aos berros de “Tsunkatse”. Ou seja, pimenta nos olhos dos outros é refresco. Mas até no século 24??? Pegou mal. Outra coisa que não ficou legal foi o subaproveitamento de Dwayne Johnson. Ele simplesmente entrou para fazer o brutamontes que batia na Sete de Nove. Seria muito mais interessante se ele tomasse mais parte no episódio, até ajudando o hirogen a treinar Sete de Nove e também sendo salvo depois pela Voyager. O relacionamento entre Sete, o Hirogen e Johnson poderia ser mais trabalhado e renderia melhores frutos no aspecto narrativo para esse episódio um tanto pobre, se fixando em sua maioria do tempo apenas na retórica da caça que mata a presa e o passado do hirogen. E que arena era aquela, hein? Com uma iluminação tosca de boate de terceira categoria… confesso que coloquei um saco de compras na cabeça com dois buracos para os olhos de tanta vergonha. Pegou mal, também. Bom, pelo menos o desfecho foi solene, com os personagens mais solenes da nave. E teve um arremedo de batalha espacial também, o que sempre é bem vindo numa série de ficção científica com naves espaciais.
Assim, “Tsunkatse” pode ser considerado um episódio mediano de “Jornada nas Estrelas Voyager”, onde alguns equívocos foram cometidos mas que, pelo menos teve um desfecho digno. E, para o “The Rock”, quem sabe não pinta uma melhor participação em “The Orville”? Vamos torcer…