Essa música tocava muito nas rádios na segunda metade da década de 80…
Mês: março 2019
Batata Arts – Tesouros da Batata (98)
Mais um tesouro…
Batata Movies – Robin Hood, A Origem. Montando Um Prólogo.
Mais um filme de Robin Hood. Como ficaria muito óbvio recontar a história do carinha que tira dos ricos e dá para os pobres, o filme resolveu contar algo, digamos, um pouco diferente, ou seja, quais foram as condições iniciais para que a história que todos conhecemos se estabelecesse? Como Robin Hood aparece e vai se estabelecer na Floresta de Sherwood com seus companheiros e todo aquele povo?
Bom, o plot é o seguinte. Robin de Loxley (interpretado por Taron Egerton) é um nobre local de Nottingham que vai para o Oriente Médio combater com os mouros nas cruzadas. Numa de suas incursões (que mais parecia uma ação militar no Iraque com arcos e flechas), os cristãos são emboscados por mouros. Depois de muita luta, eles conseguem aprisionar os muçulmanos. Será aí que Robin começará a lutar contra as injustiças, pois ele tenta evitar que um jovem mouro, sem sucesso, seja decapitado. O rapaz é filho do cara que será o Little John de Robin (interpretado por Jamie Foxx).
Robin é preso por traição e enviado à Inglaterra. John também consegue se esconder no navio que leva Robin para a Europa. Quando chega ao seu castelo, percebe que ele está destruído e roubado. São os esforços de guerra empreendidos pelo sórdido Xerife de Nottingham (interpretado pelo “Rogue One” Ben Mendelsohn), que não só destruiu seu castelo mas também colocou a população pobre numa área de mineração. Dentre os mais desassistidos está a namorada de Robin, Marian (interpretada por Eve Hewson) que, agora, namora outro homem. Completamente desiludido, Robin acaba encontrando Little John, que propõe que os dois façam uma dupla para lutar pela justiça e pelos fracos e oprimidos, com direito a muita porrada, bomba e tiro para variar.
Creio que o leitor já sabe de antemão a pegada do filme: uma coisa Sessão da Tarde, com muita ação, lutas coreografadas e efeitos especiais com um jeito Matrix de ser. Ou seja, nada que vá adicionar muita coisa. Somente entretenimento mesmo. Pelo menos, o filme mostrou duas coisas que chamam a atenção: F. Murray Abraham como um cardeal corrupto e, indo nesse gancho, uma crítica severa à corrupção na Igreja Católica (é até de se estranhar que uma película desse porte, ou seja, voltada exclusivamente para a ação e entretenimento, seja tão declaradamente anticlerical). No elenco, pouca coisa se salva. Ben Mendelsohn parece que vive para ser vilão nos cinemas e, quando faz isso, sempre tem sua atuação exagerada e afetada, beirando o caricato. Ou seja, é o tipo do vilão que serve para ser ridicularizado pelo mocinho. Não é por aí. É melhor que o cara seja mais ponderado, centrado e, muito mais perigoso, sem explosões emocionais despropositadas. E Taron Egerton? Sem gracinha, ele. Poxa, eu sempre ficava me lembrando do Robin Hood do Kevin Costner e do Morgan Freeman nessas horas. Se lá a interpretação era o que mais valia, aqui, parece que esses rostinhos bonitos (principalmente o de Marian) precisavam mais dos efeitos especiais para se afirmarem. De qualquer forma, o grande cara do filme no campo da atuação foi Jamie Foxx, fazendo um Little John bem agressivo e muito carismático. Chama a atenção também o ator Tim Minch, fazendo um engraçado Frade Tuck.
Dessa forma, “Robin Hood, a Origem” é mais um filme comercial de ação com o único e exclusivo propósito de se fazer dinheiro. Nada de muito profundo essa película vai deixar. Virtudes? O ato de se contar uma história nova, Jamie Foxx e F. Murray Abraham, nada mais. E olha que a película deixou um gancho para uma continuação. Vamos ver se essa sequência irá vingar e no que vai dar.
Batata Séries – Jornada Nas Estrelas Discovery (Temporada 2, Episódio 10) Anjo Vermelho. Anjo É A Mãe!!!!
Mais um episódio de “Jornada nas Estrelas Discovery”. “Anjo Vermelho” despertou muita polêmica na semana passada em virtude da divulgação muito prematura de um spoiler monstruoso do episódio (ainda bem que eu tinha acabado de ver o episódio assim que vi o spoiler). Sim, meus amigos, o anjo é a mãe! Da Michael, é claro, de quem mais podia ser? Pelo menos, a série não caiu no óbvio de ser a própria Michael o anjo, como já tinha sido ventilado por aí. Discovery já foi altamente previsível com o klingon Tyler e o Lorca do Universo Espelho no ano passado. Agora, não fizeram o mesmo com o anjo, embora ele tenha sido a mãe de quem a gente achava que era o bichinho. Devo dizer que esse foi um episódio um tanto complicado, com uma série de problemas, embora haja poucos pontos bons. Quem ainda não viu vai ver spoilers se continuar a ler aqui. Vale sempre lembrar.
Bom, vamos ao plot. O episódio começa com um longo funeral ao personagem secundário Airiam, que a série não nos deu o direito de conhecer profundamente e que agora quer que a gente se emocione com ele. Muitos discursos com direito a uma canção de Saru e o lançamento do corpo da moça dentro de uma casca de torpedo fotônico em direção a um planeta. Qualquer semelhança com o funeral de Spock em “A Ira de Khan” NÃO é mera coincidência. Após o funeral, Tilly, depois de mais uma de suas falas infantis e irritantes (é muita sacanagem o que os roteiristas fazem com a personagem, a atriz que a interpreta e o público) diz que descobriu um arquivo em Airiam chamado “Projeto Dédalo” que diz que o Anjo Vermelho é a Burnham. Confesso que achei isso muito complicado, pois foi um pretexto para o ego de Burnham inflar desgraçadamente nesse episódio, algo que justamente ela não está precisando para melhorar seu personagem, muito pelo contrário até. O detalhe bom aqui é que Spock sacaneia Burnham dizendo que ela entrar na pele do anjo para salvar a galáxia se encaixa no perfil dela (ela se responsabiliza por situações fora do seu controle). Burnham diz, de forma sarcástica, que agradece a Spock por compartilhar isso com todos. Ela ainda pergunta ao irmão que, se ela soubesse de tudo o que estava por vir, por que ela não disse isso a todos? Spock retruca com um argumento muito furado: “talvez você tenha uma propensão ao drama”. Mas ainda sim valeu, pois a gente viu a protagonista onipresente ser zoada um pouquinho, algo que ajuda a humanizar o personagem.
De repente, a Seção 31 chega. Leland e Phillipa sugerem aprisionar o Anjo Vermelho. Confesso que isso muito me incomodou, pois dentro do espírito de Jornada nas Estrelas se esgotariam primeiro todas as possiblidades de comunicação com o anjo, mesmo que houvesse dificuldades apontadas por Spock para isso. O ato de atrair o anjo para uma armadilha e aprisioná-lo me pareceu um pouquinho bárbaro demais para os galantes (e malcriados desrespeitadores de hierarquia militar) oficiais da Discovery. Mas, continuando. Há, também, a revelação de que o anjo e o Projeto Dédalo são, originariamente, da Seção 31, que o desenvolveu para fazer viagens no tempo, depois que foi descoberto que os klingons também desenvolviam projetos de viagens no tempo, formando uma espécie de “corrida armamentista temporal”. Só que os klingons destruíram o traje do anjo e a Seção 31 simplesmente deixou tudo para lá, sem sequer se preocupar se os klingons retomariam o projeto e fariam um anjo, o que acabou acontecendo. Muito esquisita essa parte. Você desenvolve um projeto par lutar com o seu inimigo, ele vem e destrói o projeto e você simplesmente deixa tudo para lá? Nem imagina que o seu inimigo vai pegar os caquinhos do seu projeto destruído, estudá-los e reproduzir seu projeto? Depois reclamam por aí quando se fala que a série é muito mal escrita. Mas vamos lá. Faz-se um plano cheio das tecnobabbles elaboradíssimas e exageradas que só Discovery produz para depois se usar um termo altamente simplório do tipo, a gente vai aprisionar o anjo como se o prendesse a um elástico. Sofrível isso. Mas não teve nada pior nesse episódio que o diálogo de Phillipa com Culber, Stamets e Tilly. Tudo começou assim: Stamets explica o plano de aprisionamento do anjo para Phillipa e ela diz que ele pode ser melhor que o Stamets do Universo Espelho mas bem mais neurótico, além de perguntar se ele nunca pensou em se medicar (uma coisa horrorosa de diálogo). Stamets, elegante como ele só, ignora o que Pihllipa disse e continua e falar sobre o plano. Mas Culber entra na engenharia. Stamets se cala e Phillipa percebe a “tensão masculina”, além de dizer que a tentativa de Tilly de aliviar o constrangimento de tal tensão é brochante., e ainda pergunta se ela nunca curtiu um desconforto e quem a criou. Tilly responde que foi a mãe dela, que não era muito presente, e Phillipa manda ela parar de falar. Phillipa começa a provocar Stamets e Culber pergunta se ela sabe que Stamets é gay. Phillipa diz para Culber não ser tão binário e que o Stamets do Universo Espelho era pansexual, onde Phillipa fazia umas brincadeirinhas com ele, assim como com Culber. Ela chama Culber de Papi (cacilda, eu realmente escutei isso?). Stamets rebate dizendo que tanto ele como Culber são gays. Ela diz que é claro que são e como é bom ver o que está na sua frente. Philipa sai e Tilly pergunta: o que foi isso? Confesso que eu também me perguntei sobre a mesma coisa e, pela primeira vez, achei algo que Tilly disse pertinente. Mas, depois desse espetáculo simplesmente constrangedor, o que a gente pode tirar de bom aqui? A forma meio depravada de ser do Universo Espelho, que tem origem lá na série clássica diga-se de passagem, fez Phillipa abrir os olhos de Culber para Stamets novamente. A Imperatriz apimentou a conversa para cima de Stamets e despertou um ciuminho em Culber. Para quem está torcendo pelo casal (parece novela mexicana do SBT em versão LGBT isso), até que essa conversa muito esquisita rendeu um bom fruto, pois Culber foi procurar a Almirante cara de empada Cornwell depois e ela, como terapeuta, falou em síntese para o rapaz que ele deve fazer suas escolhas e ter coragem de trilhar seus caminhos. E, ainda, cá para nós, como foi bom ver Phillipa mandar a Tilly calar a boca. Agora, foi de uma deselegância extrema e agressiva dizer que Stamets precisava de um remedinho. Também pudera, ela é do Universo Espelho. Mas não deixou de ser surreal.
Saru e Leland trabalham juntos no projeto de aprisionamento do anjo. Leland não gosta da presença de Saru (sente que está sendo vigiado a mando de Pike) e Saru diz que sente que Leland está ainda escondendo algo. Nisso, Michael entra, para mais uma vez se meter na conversa de outros dois personagens (como ocorreu no episódio anterior com a Almirante e Spock). Ela pede para falar em particular com Leland e descobre por ele depois de pressioná-lo a dizer tudo que os pais dela fizeram parte do Projeto Dédalo e estavam sob sua coordenação. Para fazer a roupa do anjo viajar no tempo, era necessário roubar um cristal e ir para um lugar com emissão de muita energia (embora os diálogos do episódio não tenham deixado isso muito claro), no caso, próximo a uma explosão de supernova. Os klingons, por negligência de Leland, rastrearam o cristal e mataram os pais de Burnham, que mete dois socos na cara de Leland (um pelo pai e outro pela mãe) e ainda desconta sua raiva em Tyler por ele ser da Seção 31. Ou seja, Burnham age mais uma vez como uma menina meio mimada. O que me impressiona aqui nessa sequência são duas coisas. Em primeiro lugar, parece que Leland está nessa série para ser sacaneado o tempo todo. Arrumaram um ator com cara de mau para personificar a vilania da Seção 31 e ele é esculhambado a toda hora, seja por Phillipa, seja por Burnham. Fica meio esquisito. E a segunda coisa: a série parece não ter um consultor científico, pois uma explosão de supernova não é brincadeira. É algo equivalente a explosão de um setilhão de bombas atômicas. Para se ter uma ideia da violência da coisa, se a gigante vermelha Betelgeuse, que está a quinhentos anos-luz da Terra lá na constelação de Órion (perto das Três Marias, que fazem o cinturão de Órion) explodisse numa supernova, a radiação emitida por ela acabaria com a vida aqui na Terra. E aí, você vai lá perto da supernova na iminência de uma explosão para assisti-la? Se não há consultor científico aqui, pelo menos que se fizesse uma pesquisa no Google para se saber o que é realmente uma supernova.
Um momento bom do episódio foi a conversa a sós entre Spock e Burnham. Ela descia a porrada no boneco de luta da Academia da Discovery e Spock entra dizendo que compreende sua reação de raiva, pois perdeu uma amiga, que ela é o Anjo Vermelho, e ainda descobriu que perdeu os pais por negligência de Leland. Burnham admite que sempre se culpa sobre as coisas, corroborando o que Spock disse sobre ela (ainda há salvação para a personagem!) e a moça pede desculpas. Spock, compreensivo, diz que ela era uma criança e aceita suas desculpas. Burnham respira aliviada. Ela agradece a ajuda imprevisível de Spock que disse que também não previu essa conversa mas que gostou de tê-la. Na minha modestíssima opinião, esse reconhecimento de Burnham de que ela não pode abraçar o mundo com as pernas e assumir a responsabilidade de tudo a todo o tempo é algo que pode tornar o personagem bem mais agradável para a audiência nos próximos episódios talvez da temporada do ano que vem, indo no passo certo de uma humanização maior de Michael, que agora reconhece seus defeitos.
Uma coisa muito louca no episódio foi a estratégia de aprisionamento do anjo, envolvendo Burnham. Spock conclui que Burnham é a variável do anjo e que ela não pode morrer senão o anjo do futuro não existe (um clássico paradoxo temporal). Assim, para o anjo aparecer, Michael tem que estar em risco de vida. Eles vão para um planeta que tem muita energia para a armadilha do anjo funcionar (Essof IV). Como a atmosfera de lá é irrespirável, Michael ficará sob essas condições para sufocar e o anjo aparecer para salvá-la, quando ele será aprisionado. Ou seja, Michael é a isca. Todas essas coisas conspiram contra o episódio, pois só servem para inflar o ego da Burnham. Mas, vamos lá. Há um momento romântico Tyler-Burnham. Ela vai a Tyler dizer que foi injusta com ele e que não queria que a briga com ele fosse a última conversa entre os dois. Ele a conforta dizendo que tudo vai dar certo e os dois dão um beijo apaixonaaado. Ela chora dizendo que está com medo e ele também está. Apesar desse romance entre os dois estar muito capenga, essa aproximação valeu porque ela implicitamente pediu desculpas pela grosseria e mostrou alguma consideração pelo cara que amou e parece voltar a amar. Interação entre Burnham e os personagens havendo uma troca (mesmo que seja com o Tyler) é o que pode salvá-la na série.
Michael entra na armadilha. A atmosfera tóxica do planeta entra no receptáculo e ela começa a gritar que nem uma doida (um “overacting” muito desnecessário). E nada do anjo aparecer. As pessoas tentam salvar a moça. Michael diz “variável”, ou seja, ela quer que a missão vá adiante e Spock detém todas as tentativas de salvá-la com uma arma. O negócio é deixar ela morrer, segundo Spock, pois somente assim o anjo virá.
Michael morre. O anjo aparece e ressuscita Michael (milagrosamente) mas é aprisionado. Enquanto isso, Leland olha por um instrumento e recebe uma agulhada no olho (indício de que a tecnologia do futuro pode deixar esse personagem finalmente mau como ele merece). E aí, o episódio termina com a constatação de que o anjo é a mãe da Michael!!! Agora posso falar esse spoiler, quase uma semana depois da estreia do episódio…
Pois é, temos um episódio meio enrolado aqui. Um problema é mais uma informação nova que precisa ser amarrada lá na frente, ou seja, o aparecimento da mãe biológica de Michael. Discovery peca pelo excesso e pela omissão. Há episódios em que não vemos um avanço da história. Em contrapartida, há episódios que vomitam tanta informação nova que a gente até se perde. Eu mesmo uso muito a tecla de voltar do meu controle remoto para entender o que aqueles personagens dizem, dado o volume de informação. Essa descontinuidade de um roteiro para outro acaba cansando um pouco. Outra coisa que irrita são alguns diálogos que são de um constrangimento e tristeza enormes. Os roteiristas precisam imediatamente rever como constroem as falas dos personagens. Eu sinto vergonha de presenciar alguns diálogos daqueles. A ideia de aprisionamento do anjo também foi algo um tanto perturbador, pois me pareceu muito agressivo para os supostos ideais da Federação (se é que eles existem nessa série, onde até a hierarquia militar é jogada no lixo). Esse também foi um episódio que trilhou o caminho perigoso de superexaltar Burnham, algo que definitivamente não é necessário aqui. Essa coisa dela ser o anjo a maioria do episódio massageou demais o ego da moça, que agiu com muita empáfia em alguns momentos, bem ao estilo da menina mimadinha. Pelo menos, a conversa entre Michael e Spock onde ela reconhece seus defeitos e limitações foi algo altamente produtivo no sentido de recuperar e humanizar a personagem. Aproveitando o gancho dos pontos positivos, parece que surgiu uma luz no fim do túnel para Culber e Stamets, esse sim um romance que dá para torcer, ao contrário da xaropada entre Burnham e Tyler. O fato de o anjo, ao fim das contas não ser Bunrham também foi outro ponto positivo, pois sai da armadilha do óbvio, em que a série caiu muito na temporada passada.
Assim, “Anjo Vermelho” não foi lá essa maravilha de episódio, mas pelo menos teve poucos pontos positivos. Esperemos o que vem por aí, agora que já chegamos na reta final da série, com um monte de coisas para se amarrar.
Batata Jukebox – Lifelines (A-Ha)
Para mim, a música mais linda do A-Ha
Batata Arts – Tesouros da Batata (97). Série Carlos, O Replicante.
Começamos hoje uma nova nova sequência de tesouros. A série Carlos, O Replicante é em homenagem ao meu hábito de comprar fotos de desconhecidos, que acabam ficando impressos em minha memória como conhecidos, tais como os implantes de memória dos Nexus de “Blade Runner”. Vamos começar com uma bem antiga hoje…
Batata Movies – As Viúvas. Herança Maldita.
“Viúvas” foi o filme que abriu o Festival do Rio no ano de 2018. Mas como ele já estava aparecendo em trailer no circuitão, só o assisti depois de sua estreia . Pelo trailer, a coisa parecia ser muito boa. Foi mostrado um baita de um elenco: Liam Neeson, Viola Davis, Robert Duvall, Colin Farrell, Daniel Kaluuya e direção de Steve McQueen. O filme, portanto, acabou se tornando algo muito esperado.
O plot é o seguinte: três assaltantes, liderados por Harry Rawlings (interpretado por Neeson), fazem um grande assalto, mas morrem numa explosão. Rawlings acaba roubando dois milhões de dólares de um candidato a vereador de um distrito de Chicago, Jamal Manning (interpretado por Brian Tyree Henry). Jamal irá até a casa da viúva de Rawlings, Veronica (interpretada por Davis) e a ameaça, lhe ordenando que o dinheiro tem que ser pago em duas semanas.
Veronica começa a investigar e descobre que precisa ter acesso a um caderno do marido, onde ele anotava todos os assaltos que praticaria. Ela descobre que outro assalto seria feito e a quantia a ser subtraída seria de cinco milhões de dólares. O problema era descobrir onde esse assalto seria praticado. E aí, Veronica convoca as outras duas viúvas, que também correm risco de vida, para investigar o caso. Vai começar aí uma trama de investigação mesclada com ação, com direito a um plot twist.
Para quem espera que esse será um filme de ação, com direito a muita porrada, bomba e tiro, está enganado. O ritmo da película é bem lento e fica mais na retórica do filme de suspense, com direito a muita investigação. Apesar de ser um pouco maçante em alguns momentos, o filme tem a virtude de mostrar uma história bem elaborada que consegue prender bem a atenção do espectador. Um pouco mais de ação somente na parte final da película, mas definitivamente esse não é o mote. Pode-se dizer que o filme prima mais por um certo suspense mesclado com um drama psicológico. Afinal de contas, esse é um filme de mulheres que perderam seus cônjuges queridos.
Agora, o grande atrativo é o já mencionado elenco. Tudo gira em torno de Viola Davis, que rouba a cena. Ela interpreta com maestria uma mulher fragilizada pela perda e pela ameaça, mas que precisa manter a aparência de durona para sobreviver. Transitar por esses dois polos não deve ter sido uma tarefa fácil, mas Davis tirou de letra. Neeson aparece pouco no filme, mas ele também chama bastante a atenção em seus poucos momentos. Colin Farrell e Robert Duvall fazem uma boa dupla como filho e pai que disputam a eleição de vereador com Jamal. O primeiro carregava a pecha de ser um político idealista que tinha a reputação manchada pelos malfeitos do pai corrupto no passado. As brigas entre os dois eram realmente muito tensas e agressivas, o que muito chamou a atenção. Já Kaluuya, com seu personagem Jatemme Manning, ficou responsável pelas sequências mais violentas do filme, algo que impressionou, pois seu papel em “Corra”, onde fazia um hóspede indefeso contra uma família racista e seu olhar de peixe morto não parecem lhe dar o perfil de interpretar um personagem violento. Mas acho que o olhar de peixe morto deu um quê de indiferença à violência que ele empregava contra suas vítimas, o que tornou a coisa assustadora.
Dessa forma, se “Viúvas” parecia um filme de ação mais cascudo e enveredou por uma narrativa um pouco mais lenta, por outro lado, essa narrativa mescla a investigação, o suspense e o drama psicológico de uma forma interessante, o que compensa esse ritmo mais lento que se poderia tornar enfadonho. Os atores também ajudam muito, dando um toque todo especial ao filme e sendo um chamariz para o grande público.
Batata Séries – Jornada nas Estrelas Discovery (Temporada 2, Episódio 9) Projeto Dédalo. Máquinas X Humanos.
O nono episódio da segunda temporada de “Jornada nas Estrelas Discovery”, “Projeto Dédalo”, é dirigido por Jonathan Frakes, o que é um sinal de que o episódio se sai melhor do que a média. Entretanto, dessa vez a coisa degringolou um pouco em virtude do roteiro, que não ajudou muito. Ou seja, ele foi um pouco abaixo da média, já baixa, dos roteiros de Discovery. Apesar disso, nem tudo foi perdido e o episódio também teve alguns pontos bons. Para a gente poder entender isso, precisamos dos spoilers habituais.
O plot começa com a Almirante Cornwell chegando às escondidas à Discovery, para interrogar Spock, que nega categoricamente ter assassinado alguém e não sabe por que foi escolhido pelo Anjo Vermelho para ter as visões da destruição em massa que os habitantes da galáxia sofrerão. O teste diz que Spock não mentiu, com 100% de certeza, mas Cornwell tem um vídeo que mostra Spock matando três pessoas na sua fuga da clínica psiquiátrica. Cornwell diz a Pike que a sede da Seção 31 tem um controle que recebe informações da Frota, mas ele está bloqueado pela Almirante Patar. O controle ajuda a tomar decisões estratégicas e foi transferido para a Seção 31 a pedido de Patar com o surgimento dos sinais do anjo. A missão da Discovery é ir a sede da Seção 31 e desbloquear o acesso ao controle para voltar a abastecê-lo com informações. O grande problema é que o antigo presídio onde está a sede da Seção 31 é cercado por minas que são atraídas pelos escudos. Ao chegar à sede, a Discovery sofre ataques das minas e não consegue se desviar. Burnham (sempre ela) sugere padrões evasivos aleatórios para pegar de surpresa o computador que controla as minas. A Discovery consegue atravessar a barreira de minas e recebe uma transmissão ameaçadora da Almirante Patar. Mesmo assim, vão para a antiga prisão e descobrem que Patar e os demais almirantes estão mortos há duas semanas. Quem, então, entrou em contato com a Discovery com a imagem de Patar? Saru descobre que a transmissão de Patar foi um holograma, assim como também na cena do homicídio de Spock, incriminando-o. Logo, a Discovery parece lutar contra todo o sistema, com um ingrediente a mais: o controle, que recebe os dados, se abastecidos com os dados da esfera, pode adquirir consciência e extinguir toda a vida na galáxia. É por isso que Airiam, que armazenou os dados da esfera em sua memória, conseguiu convencer Pike a ir para a missão para transferir todos esses dados para o controle. Mas seu plano foi descoberto e, depois de dar uma boa surra na Burnham, acabou presa em uma câmara de vácuo por Michael. Airiam, que está sob o controle da entidade alienígena, pede que Burnham a ejete para o espaço. Depois de muito resistir, ela ejeta Airiam que morre, provocando uma grande comoção.
Bom, esse foi o plot principal, embora haja algumas pequenas histórias paralelas que serão mencionadas ao longo de nossa explanação. O que podemos falar dessa história? Em primeiro lugar, é uma missão com um propósito um tanto quanto confuso, pois o controle estratégico de toda a Frota Estelar não pode ficar numa base escondida da Seção 31 somente porque uma almirante quis e, ainda assim, depois vedou esse controle de receber informações. A Frota já deveria ter mandado uma pá de naves para recuperar esse controle assim que a Patar vedasse o acesso de informações ao controle. Antes a Discovery tivesse que ir para São Francisco, procurada por toda a Frota. Seria algo bem mais interessante. Outra coisa que incomoda é você dar consciência para uma máquina (o tal do controle) para ele adquirir consciência com todo o volume de informação da esfera e destruir toda a vida na galáxia. Há vários problemas aí. Primeiro, um volume ilimitado de informação não assegura o desenvolvimento de consciência. Na verdade, segundo Marcelo Gleiser, mesmo que um dia consigamos fazer uma máquina que reproduza fielmente um ser humano e sua capacidade de armazenamento de informação, ainda assim não teremos uma máquina consciente, pois a consciência é algo completamente incompreensível e inalcançável nos dias de hoje. Não sabemos do que é feita, como pode ser produzida, ela simplesmente está lá, no cérebro. E mais: por que, uma vez a máquina tendo desenvolvido a consciência, ela destruiria a vida orgânica? De onde vem o motivo para isso? Qual o antagonismo entre máquina e vida orgânica? Ficou muito simplória e maniqueísta essa ideia. De qualquer forma, apareceu uma espécie de “mal maior”, que manipula a Seção 31 e a Frota, vide os hologramas que incriminam Spock ou a morte dos almirantes na sede da Seção 31. Mais uma vez Discovery apresenta uma boa ideia. Só esperemos que ela consiga desenvolver essa ideia bem, pois já está cansando a gente ver um monte de boas ideias mal aproveitadas. Ainda indo nessa direção, o que seria o Projeto Dédalo? E por que tudo tem que ser em volta de Burnham, como disse Airiam ao final? Mais uma vez o problema do protagonismo excessivo de Burnham na série. De qualquer forma, todo esse protagonismo foi questionado por Spock. As cenas de bate-boca entre os irmãos enervam alguns fãs, mas eu consigo ver um aspecto positivo nelas. A coisa tá parecendo uma terapia de grupo bem catártica, onde os dois resolvem suas diferenças. O chato foi ver Spock mais emocional nesse episódio, com uma tensão crescente nas discussões até a explosão paroxista em cima do pobre do tabuleiro de xadrez tridimensional. Mas, por outro lado, Spock fala o que Burnham precisa ouvir há muito tempo: ela sempre quer atrair toda a responsabilidade para si, como se carregar um pesado fardo fosse melhor do que carregar uma dor incontrolável. Spock cita a responsabilidade que Burnham construiu em sua cabeça na guerra com os klingons e no assassinato dos pais pelos klingons, dizendo que não pode haver igualdade entre os irmãos enquanto ela ficar assumindo toda a sua responsabilidade, não reconhecendo fracassos ou sua posição de irrelevância em algumas questões. É claro que Burnham vai pirar na batatinha com isso, mais uma vez agindo como uma criança mimada. Nesse aspecto, a briga entre os dois foi ótima, pois Spock expôs todos os defeitos da protagonista de forma impiedosa, o que ajuda a personagem a enfrentar seus próprios dilemas. Ainda, seguindo essa linha, a morte de Airiam tem uma razão de ser, pois a coisa foi construída a um ponto de que era impossível salvar a “mulher-robô”, mesmo que Burnham insistisse em salvá-la (não se pode abraçar o mundo com as pernas, não se pode salvar o dia todo o dia) e recebesse uma ordem direta do capitão para sacrificar Airiam, assim como Spock falava da ponte que era impossível salvá-la. Ou seja, quando reconhecemos que também precisamos conviver com o fracasso, isso se torna algo libertador, nas palavras do próprio Spock.
Falando mais de Spock, precisamos mencionar aqui a melhor parte do episódio, que foi o diálogo entre Spock e Stamets. Um estimula o outro pessoal e profissionalmente. Stamets diz a Spock que Burnham o ama e Spock acha que Culber se separou de Stamets não porque não gosta dele, mas porque não sabe mais quem é. Spock também diz a Stamets que ele tem experiência com a rede micelial e vai conseguir resolver o problema da sabotagem do motor de esporos, enquanto que Stamets diz a Spock que o anjo o escolheu, pois ele deve ser uma pessoa especial. Esse foi o momento onde o episódio mais se aproximou da essência de Jornada nas Estrelas a meu ver.
E o fim de Airiam? A coisa era para provocar uma comoção, mas como os personagens da ponte sempre foram mal construídos, mais parecendo coadjuvantes de luxo, talvez não houvesse empatia suficiente por parte do grande público para se emocionar com sua perda. Confesso que até cheguei a me emocionar mas é realmente um problema na série essa gama de personagens mal construídos. Eu tive até uma esperança ao ver o início do episódio, pois finalmente via ali os personagens secundários recebendo uma atenção maior, sobretudo Airiam. Mas na verdade, só estavam era preparando o caixão da moça cibernética, pois ela ia deixar a série ao final do episódio. O que eu quero ver na verdade é um episódio que tenha a coragem de desenvolver bem um ou dois personagens secundários e histórias paralelas ao plot principal em outros episódios que também desenvolvam esses personagens sem descartá-los ao final. O desenvolvimento de Airiam aqui pareceu mais uma colher de chá que deram para a gente (e para a Airiam) já que a moça iria morrer. Assim fica feio.
Assim, esse episódio dirigido pelo Frakes acabou não sendo um dos melhores, embora tenha tido um razoável conteúdo dramático. O grande problema aqui é o roteiro fraco e enrolado, que introduz uma ameaça eletrônica com um propósito um tanto furado. Mas o filme também tem suas virtudes, sobretudo no relacionamento entre os personagens (as discussões entre Burnham e Spock e o diálogo afável entre Spock e Stamets). E, principalmente, uma boa lição que Burnham tomou, que é a de não poder assumir todas as responsabilidades o tempo todo. É necessário também aceitar o fracasso, para aprender com ele e se superar. Nada mais humano, vindo de um apologista da lógica. Aí é que está a força do episódio. E esperemos o que vem por aí.