O décimo terceiro episódio de “Jornada nas Estrelas Discovery”, “Doce Tristeza”, é a primeira parte do episódio final e já prepara o público para um desfecho. Como a maioria dos episódios mais recentes da série, ele desperta sentimentos contraditórios, com algumas ideias um tanto boas, mas com coisas ainda muito esquisitas.
Vamos ao plot. A tripulação da Discovery começa a evacuar a nave para o processo de autodestruição. O Controle se infiltrou nas comunicações da nave e eles não conseguem contatar a Federação. Assim, só conseguem se comunicar com a Enterprise. Tubos de transporte ligam as duas naves. Aí fica a pergunta: não se poderia evacuar todos pelo teletransporte? Não haveria tempo hábil? Não há salas de teletransporte suficientes nas duas naves? Ou apenas foram usados os efeitos especiais para impressionar? Burnham, por sua vez, se questiona se a nave precisa ser mesmo destruída e, quando ela pega o cristal, tem uma visão do futuro, onde as duas naves estão numa batalha cerrada contra a Seção 31. Ao fazerem a contagem regressiva para a autodestruição, a Discovery não se destrói, pois os dados da esfera ainda se protegem das tentativas de destruição empreendidas contra ele. Surge outra visão de futuro para Michael. Agora ela vê Leland atacando a ponte da Discovery e matando todo mundo. Enquanto isso, Pike é alertado que a Seção 31 está chegando em uma hora e ele prepara a tripulação para o ataque. Michael diz que nada daquilo vai adiantar e que a Discovery deve ser lançada ao futuro, para tirar os dados da esfera do alcance do Controle. Para isso, um novo traje de anjo deverá ser confeccionado e o cristal precisa ser ativado. A Discovery seguirá o traje do Anjo no piloto automático.
Surge o quinto sinal, no planeta Xahea, lar da rainha Po (vide o primeiro Short Trek). Tilly diz que a rainha sabe recristalizar dilítio e ela pode tentar reativar o cristal do tempo. A inteligente e serelepe rainha de 17 anos e que adora sorvete (confesso que eu também gosto muito) vai poder ajudar nisso, depois de vomitar muitas tecnobabbles com direito a energias de supernova mais uma vez (aff). Só que há duas ressalvas: o motor de esporos não funcionará mais e o cristal estará inutilizado ao fim da viagem. Assim Michael vai, mas não volta. Isso será o suficiente para uma série de despedidas chorosas de Michael com meio mundo. Até Sarek e Amanda apareceram de surpresa para se despedir, numa forçada de Barra retumbante (eles souberam por seus catras, disseram os pais). Foi até uma cena boa, essa da despedida, com um Sarek mais meloso pedindo desculpas por não ser um bom pai e marido, além de prometer que ficaria de olho em Spock mesmo que a distância. Mas essa aparição de surpresa do casal num momento de isolamento de comunicação apenas nave a nave pegou muito mal para a coerência da história. Apesar de toda essa choradeira, Michael não vai sozinha, pois parte da tripulação da Discovery decide ir com a moça para o futuro. Tyler, por sua vez, ainda prefere ficar na Seção 31 para combater o controle nas sombras, como se a Seção 31 de Discovery fosse a coisa mais escondida do mundo. Pelo menos, a despedida de Pike da tripulação da Discovery foi algo bem respeitoso e solene, algo indispensável numa série com tantas violações de hierarquia militar. Saru assume o posto de capitão (êêêêê!!!) mas diz em seguida que isso deve ser decidido com mais calma depois, com um olhar complacente na direção de Michael. Ainda acho que Saru tem que ser o capitão da nave, em virtude de sua elegância e serenidade infinitas. O episódio termina com a frota da Seção 31 chegando, e a Discovery, juntamente com a Enterprise, preparadas para a batalha.
Bom, como eu disse, é um episódio de sentimentos contraditórios. Quais são os problemas? As tecnobabbles irritantes continuam, sem a regulação de um consultor científico, o que deixa a coisa forçada e exagerada. Sei que já bati nessa tecla aqui várias vezes, mas usar quantidades incríveis de energia do porte de uma supernova é algo muito complicado e o fã da franquia quer um ficção científica mais atraente, que dê para acompanhar e entender, sem qualquer exagero retórico. O clima de fim de festa e de despedida também ficou um pouco maçante, embora eu tenha gostado aqui da despedida da família Burnham-Sarek-Amanda, apesar daquela chegada para lá de implausível dos pais adotivos.
Agora, com relação ao ponto positivo da história, podemos dizer que a viagem da Discovery para o futuro foi uma ideia interessante para se arrumar um desfecho digno para a temporada. O problema, como em muitas coisas em Discovery, é se esse final será bem escrito e alcançará uma forma satisfatória de fechar a série. Fica aqui um baita mistério e um receio muito grande.
Assim, Doce Tristeza, Parte 1, pode ser considerado mais um episódio mediano de Discovery. Só é meio complicado que isso continue acontecendo praticamente no apagar das luzes. De qualquer forma, se vislumbra uma luz no fim do túnel, embora haja ainda dois sinais. Fica tudo para o final do final do final…