E estreou o tão esperado “Rocketman”, a cinebiografia de Elton John. Seguindo o rastro de sucesso deixado por “Bohemian Rhapsody”, o diretor Dexter Fletcher investe em mais um ícone do Rock, só que de uma forma diferente da vista no filme do Queen. Vamos lançar mão dos spoilers aqui para compreender melhor isso.
Elton John (interpretado em sua fase adulta por Taron Egerton) era um menino extremamente sensível que muito sofria com a frieza do pai e a indiferença da mãe. Desde cedo, mostrou interesse pela música, praticamente sendo autodidata nos primeiros passos com o piano, o que fez a avó (que era a única que mostrava afeto para com ele) estimular a mãe a colocá-lo numas aulas de música. Seria somente o primeiro passo para ele ter uma carreira musical e descobrir sua sexualidade. Como era muito tímido e recebeu o conselho de um músico americano de que ele devia enterrar quem é e se reinventar, começou a usar roupas e óculos muito extravagantes, o que seria a sua marca registrada.
Ao se apresentar nos Estados Unidos, (o sonho de ouro de todos os músicos ingleses no período), a sua carreira deslancha e ele se torna uma celebridade. Mas sua natureza muito sensível não estava pronta para encarar todas as pressões e decepções de uma carreira artística de muito sucesso e sua vida se torna uma verdadeira via crucis, regada a muito sofrimento e drogas.
É um filme doloroso, onde o músico começa numa reunião dos alcoólicos anônimos e faz uma recordação de sua vida em flashbacks. A sensibilidade muito intensa de Elton John nos faz compadecer dele, mas, ao mesmo tempo, nos indigna um pouco, pois ele não tomava uma atitude mais firme para pôr a sua vida nos trilhos e, dizendo no bom termo popular, dar uma banana para quem o afetava tanto e via nele apenas uma mina de ouro. De qualquer forma, não temos um desfecho infeliz, pois lá podemos ter informações de como o cantor está hoje, com um novo par cujo relacionamento já dura muitos anos, inclusive com filhos. Realmente seria muito melancólico se o desfecho ficasse mais focado no fundo do poço da carreira do artista. Vemos ele, ao final, na clínica de reabilitação, voltando a ter intimidade com a música e o piano.
Agora, uma coisa que deu grande qualidade ao filme foram as deliciosas pitadas de musical. Isso se encaixou muito bem na película, pois o glamour e a produção bem cuidada e cheia de floreios são a cara de Elton John. E foi bom demais ter as músicas de Elton como base para esses números. Ficou com a cara de musicais antigos e não destoou da dramaticidade que o filme exigia, pelo contrário.
Se em alguns momentos os números musicais expressavam situações bem alegres, em outros os números musicais intensificavam a situação dramática de dor do personagem protagonista, com um detalhe todo especial: era usada a música “Goodbye Yellow Brick Road” nesses momentos tristes, por um acaso a música do Elton preferida deste escriba (foi ela que me estimulou, ainda muito criança, a pedir para os meus pais o meu primeiro vinil). Ela foi a música mais tocada no filme, três vezes no total. Só é pena que músicas como “Nikita” ou “Sacrifice” (essa tocava no carro que vendia goiabada lá perto de casa) não tenham aparecido no filme. Mas, ainda assim, pode-se dizer que houve um apanhado muito bom das músicas de Elton John na película.
Assim, “Rocketman” é um filmaço, um programa obrigatório não somente para os fãs de Elton John mas também para quem gosta de um bom filme. Uma cinebiografia simples, com infância, crescimento artístico, auge, fundo do poço, e a redenção, só que de forma bem intensa devido à sensibilidade do personagem e à interpretação marcante de Taron Egerton, que parece ter incorporado Elton John em todas as suas virtudes e defeitos. As partes de musical do filme deram um toque todo especial, encaixando-se bem no contexto dramático da película e recordando muito os musicais antigos com momentos altamente lúdicos. É o tipo do filme para ver, ter e guardar.