Um bom filme em co-produção Bélgica/Itália. “Nico, 1988”, dirigido por Susanna Nicchiarelli, conta a trajetória da cantora homônima que fez parte do grupo Velvet Underground e depois seguiu carreira solo. É um filme baseado em fatos reais mas que teve, como é dito ao próprio fim da película, umas dramatizações. Mas isso não piorou as coisas. Mesmo com alguns elementos fantasiosos, deu para se ter uma ideia de como o temperamento da vocalista Nico (interpretada soberbamente por Trine Dyrholm) podia ser muito forte. Vimos aqui uma mulher de composições altamente melancólicas e contundentes.
Sua interpretação altamente visceral em alguns momentos, e muito letárgica em outros, lembra todo o soturno de algo dark, sombrio, o que parecia ser uma marca registrada da cantora. O vício em heroína era outro problema marcante, onde a artista sempre se picava nas canelas, e ela podia ser muito explosiva em crises de abstinência ou quando sua banda tocava do jeito que ela não queria. Um detalhe curioso é que ela sempre tinha um gravador (na época algo um tanto gigantesco) às mãos para gravar sons curiosos que encontrava.
Ainda, ela tinha más lembranças do passado, pois teve um filho e não tinha condições (assim como o pai) de cuidar do menino, provavelmente pelo seu contato com as drogas, obrigando o garoto a viver em orfanatos e, mais tarde, em centros de reabilitação em virtude de suas tentativas de suicídio. Definitivamente, não era uma vida fácil, o que fazia nossa protagonista ser ainda mais rude e dura, tal como se fosse uma espécie de autodefesa.
O filme, então busca traçar uma trajetória dessa artista em turnê pela Europa, no que seria a tentativa de fazer sua carreira decolar. Entretanto, seu temperamento difícil (ela parecia uma Ângela Rô Rô, só que muito mal humorada) atrapalhava um pouco as coisas, e as próprias pessoas de sua trupe tinham um relacionamento difícil com ela. De qualquer forma, Nico (ou Christa, seu nome original) era uma personagem muito magnética em virtude dela ser única, não ter medo de dizer o que pensa e que, por ser alemã, e ter sobrevivido ao bombardeio de Berlim na Segunda Guerra Mundial, torna-a toda especial.
Assim, “Nico, 1988” é um daqueles filmes que é um programa imperdível para quem gosta de rock e dessa parte, digamos, mais soturna e dark, como pudemos atestar no ritmo um tanto pesado e arrastado e nas letras das músicas, que foram sabiamente traduzidas nas legendas (volta e meia sabemos que isso não acontece, o que é estarrecedor na minha opinião). Só é de se lamentar que o filme tenha sido exibido no Estação Botafogo 2, um cinema que tem um som simplesmente horrível (pior lugar para se passar um filme baseado na vida de uma cantora) e em poucos horários, o que faz a gente quase desistir de assistir à película. De qualquer forma, vale a pena a experiência e vale procurar esse filme depois para assistir, embora tenhamos uma história um tanto triste aqui.