Uma película muito curiosa. “Fourteen” é um filme de amigas de infância, que nunca perderam contato uma com a outra, apesar das mudanças que a vida nos traz. Vemos aqui uma relação de dependência em virtude da fragilidade emocional de uma delas. Fragilidade de uma que esgota física e emocionalmente a outra. Mas, ainda assim, uma relação que não deixa de ser terna. Para podermos entender um pouco mais essa película, vamos precisar de spoilers aqui.
Em primeiro lugar, vamos apresentar essas amigas de longa data. Temos Mara (interpretada por Tallie Medel) e Jo (interpretada por Norma Kuhling). Jo é mais instável emocionalmente e sempre precisa da ajuda de Mara, o que a esgota, mas Mara está sempre lá, ajudando pacientemente Jo em suas crises. O problema é que a vida nem sempre toma os rumos que podem deixar essa amizade permanentemente estável e próxima. Assim, volta e meia as amigas se afastam para se reencontrarem anos depois.
Infelizmente, Jo não terá estrutura suficiente para encarar a vida e ela acaba sucumbindo. Mara conseguiu manter a compostura enquanto pôde, mas desabou no funeral quando sua filhinha percebeu que Jo era a personagem da história de dormir que a mãe contava para ela, quando a amiga a defendeu do bullying de outras garotas da escola ao momento em que as duas eram pequenas. Mesmo não podendo cuidar de Jo o tempo todo e até se dedicando demais à amiga, Mara cai em prantos por não ter conseguido salvá-la das agruras da vida. A película termina com Mara e sua filha indo embora do funeral, voltando para o cotidiano.
O filme, que tem um ritmo bem lento em boa parte de sua exibição, nos desperta dois sentimentos. Em primeiro lugar, o fim melancólico de Jo e o choro de arrependimento de Mara nos dá um baita de um aperto no coração. Dá dó mesmo, daqueles de sensação de impotência quando você não consegue ver um ente querido vencer a depressão e sucumbir. Mas, por outro lado, há o cruel choque de realidade. Por mais que você queira ajudar alguém que você gosta, tem uma hora em que não se consegue fazer isso mais, até porque você tem a sua própria vida para conduzir e tocar. Mesmo assim, fica aquele sentimento de culpa do “você poderia ter feito mais alguma coisa para evitar que se chegasse àquela situação extrema de morte”. Ou seja, buscamos um consolo para as supostas falhas que habitam nossa cabeça, mas não conseguimos nos desvencilhar do sentimento de culpa. Assim, se “Fourteen” consegue ser moroso em boa parte de sua exibição, o final consegue ser muito perturbador, mexendo muito com o espectador. Vale a pena passar pela experiência.