Batata Movies – Ted Bundy, A Irresistível Face Do Mal. Perigosa Personalidade Magnética.

Cartaz do Filme

Um filme perturbador. “Ted Bundy, A Irresistível Face Do Mal” fala de um serial killer que apavorou os Estados Unidos na década de 70, cometendo, pelos números oficiais, trinta assassinatos. Frio e calculista, Bundy sempre negou em público seus crimes, mas o filme deixa bem claro que ele realmente foi o autor dos homicídios que foi acusado e julgado, sendo condenado à cadeira elétrica e executado em 1989. Para falarmos do filme, vamos ter que lançar mão de alguns spoilers.

Ted Bundy, um cara muito descolado…

Apesar de tudo, Ted Bundy (interpretado magistralmente por Zac Efron), se tornou um fenômeno da mídia da época, não pelos assassinatos, estupros e sequestros dos quais era acusado, mas sim por sua personalidade altamente magnética. Estudante de direito, Bundy lançou mão de seus conhecimentos para dispensar seu advogado de defesa e, ele mesmo levar a cabo a tarefa de se defender durante o julgamento. O réu usou a mídia para manipular o maior número de pessoas em seu favor com seu carisma e o julgamento era assistido por uma infinidade de moças que poderiam muito bem ter sido suas vítimas, tornando-se suas admiradoras. Essa característica inusitada (e real) do filme é o fenômeno mais impressionante de todo o contexto.

Um bom pai postiço???

O filme também mostra como Ted Bundy se torna uma questão de ordem política, pois ele cometeu crimes em Estados como o Colorado e Utah, conseguindo fugir da prisão. Ao se esconder na Flórida, é preso, e políticos locais o exibem como um troféu para poder ganhar eleições. Assim, Bundy se torna uma questão muito maior do que a de um serial killer. Não é por menos que seu julgamento foi o primeiro a ser fotografado e televisado, tamanha era a curiosidade das pessoas.

Advogando em causa própria…

Esse é um filme de um elenco um tanto mediano, mas que destaca demais a participação de Zac Efron, que convence demais na pele de Bundy e deixa bem claro em sua interpretação as intenções manipuladoras do personagem. Apesar de Bundy ser taxativo em dizer que era inocente, a gente podia perceber claramente que ele era um 171 de carteirinha, buscando sempre manipular as pessoas em proveito próprio.

Hora de dizer a verdade…

Mas, ainda assim, seu personagem transitava uma simpatia altamente cativante que atraía as pessoas. Outro ator bem conhecido, que teve uma participação bem pequena foi John Malcovich, no papel do juiz que analisava o caso de Bundy na Flórida. Ele roubou, e muito, a cena nos poucos momentos em que apareceu.

171 de carteirinha…

Há de se dizer, também, que tivemos aqui uma excelente reconstituição dos fatos, onde as caracterizações dos demais personagens foram muito boas. Podemos atestar isso pois, nos créditos finais, há toda uma sequência de imagens verídicas do caso, das quais o filme se inspirou para construir as suas. E percebemos como o filme foi produzido também em função da reprodução o mais fidedigna possível dessas imagens reais do caso.

Excelente caracterização do filme…

Dessa forma, “Ted Bundy, A Irresistível Face Do Mal” é um perturbador filme sobre uma história real ao melhor estilo “a vida imita a arte”. Um repugnante serial killer de personalidade magnética que tentou sobreviver a um clima de prejulgamento, mas não conseguiu. Ainda assim, tornou-se um fenômeno midiático que foi usado não somente pela mídia em si mas também pelo próprio Bundy. Vale a pena dar uma conferida e se intrigar.

Batata Movies – Neville D’Almeida, Cronista Da Beleza E Do Caos. A Via Crucis De Um Transgressor.

Cartaz do Filme

Um bom documentário do crítico Mario Abbade. “Neville D’Almeida, Cronista da Beleza e do Caos” fala da trajetória do polêmico cineasta, rotulado por muitos como imoral e pornográfico, que não abriu mão de sua liberdade criativa num período muito turbulento, que foi a ditadura militar, mas que podemos dizer que também foi perseguido até em dias considerados democráticos.

Um transgressor perseguido por tudo e por todos…

É um documentário feito de uma forma bem convencional, com imagens de arquivo, trechos de filmes de Neville e muitas entrevistas. Podemos ver lá todo um ressentimento, bem justificado diga-se de passagem, do diretor, que foi muito perseguido pela censura (a audiência onde se estabelece a proibição do filme “Rio Babilônia” é emblemática e revoltante), mas também pelo boicote que sofreu em dias de democracia, onde seus projetos não conseguiam captar recursos. O forte apelo sexual de seus filmes eram vistos com um preconceito profundo pelos setores mais conservadores.

“Dama do Lotação”, seu grande sucesso…

Mas o documentário, com muita propriedade, consegue mostrar que o conteúdo sexual dos filmes de Neville não era algo chulo ou de baixo nível. Se pegarmos o seu grande sucesso, que foi “Dama do Lotação”, estrelado por Sônia Braga, inspirado na obra de Nelson Rodrigues, vemos uma mulher que lida de forma bem livre com sua sexualidade, não se prendendo às convenções impostas pela sociedade altamente conservadora da época às mulheres. A personagem de Sônia Braga nesse filme é um claro exemplo de empoderamento feminino, décadas antes da cunhagem do termo. Mulher essa que era sim atormentada pelas convenções sociais da época, tentando resolver sua compulsão sexual em sessões de análise, e caindo em desespero ao final do filme. Com essa breve sinopse de “Dama do Lotação”, dá para perceber que esse não é um simples filme de sacanagem, como alguns detratores de Neville rotulam.

Documentário com muitos depoimentos, como o de Regina Casé, que participou de “Os Sete Gatinhos”…

Por incrível que possa parecer, Neville só fez duas adaptações de Nelson Rodrigues (sei lá, na minha cabeça, sempre pareceu que o diretor fez mais adaptações de Rodrigues para o cinema). A outra foi “Os Sete Gatinhos”, onde a sensualidade dividiu espaço com uma componente psicológica visceral, numa diversidade de personagens femininas. Aliás, esse é um adjetivo que cai bem na obra de Neville: seus filmes podem ser bem viscerais, não somente no sexo explícito sincero (mas não apelativo), mas também em sequências que podemos classificar como altamente escatológicas, com personagens em decadência mergulhando em poças de lama e esgoto, nem um pouquinho cenográficas. Assim, seu cinema tem algo de psicológico e agressivo, com o objetivo de tirar o espectador de sua zona de conforto. Um cinema feito com muita coragem, sem a intenção de agradar, mas de se dizer o que se sente, sem rodeios ou meias palavras. É claro que, num país com mentalidade tão autoritária e conservadora, um diretor cinematográfico desse naipe é severamente perseguido, pois ele incomoda, vai contra o estabelecido e o inquestionado, tornando-se um perigo para o sistema. E Abbade consegue mostrar em cores vivas como e por que Neville incomodava tanto, dando voz a um artista a quem sempre quiseram calar.

Momento precioso do documentário: Sônia Braga entrevistando Neville e Nelson Rodrigues e falando sobre “Dama do Lotação”…

Dessa forma “Neville D’Almeida, Cronista Da Beleza e do Caos” é um documentário obrigatório para aqueles que estudam o cinema brasileiro e querem entender a dinâmica de funcionamento das ideias desse artista transgressor numa sociedade tão autoritária e conservadora como a brasileira. Um documentário que dá voz a um artista compulsoriamente silenciado desde sempre. Um documentário imperdível e fundamental.  

Batata Literária – Jogos de Amor

Ela me deu mole…

Ela me deu mole???

Ela me deu mole!!!

Acho que não…

Quando eu chego perto

Ela se esquiva

Qual é meu próximo passo?

Insisto?

Não…

Posso grudar como chiclete…

E me tornar insuportável…

Caraca, não sei o que fazer…

E se eu me afastar?

Vou esperar ela tomar a iniciativa?

Vai sonhando, ô mané…

Mas, sei lá…

Tenho medo de chegar junto…

E ela se mandar de vez…

Um belo dia eu ando na rua…

Ela abraçada com um outro…

Acho que agora fui eu quem deu mole…

Ou será que ela não queria nada mesmo…

Estou triste…

E continuo vagando sozinho pelo mundo…

Eu me mereço…

Batata Movies – As Rainhas Da Torcida. Um Mais Do Mesmo Irresistível.

Cartaz do Filme

Diane Keaton está de volta, mais uma vez fazendo um papel de coroa “prafrentex”. “As Rainhas Da Torcida” é um mar de clichês daqueles bem conhecidos, que tem como objetivo chamar a atenção para a inclusão da chamada “terceira idade” na sociedade. Ou seja, não tem muito a acrescentar, já que ele é mais do mesmo naquilo a que se propõe. Entretanto, é um filme com a Diane Keaton.

Martha só queria morrer…

E aí essa película se transforma naquelas de ator, que a gente vai ao cinema para ver, não importa o que o seu ator querido vá fazer. E eu, caro leitor, gosto demais da Diane Keaton, desde “Noivo Neurótico, Noiva Nervosa”. Aquela mocinha com cara de menina bem simpática e amável se transformou numa senhora muito fofinha e meiga. E aí, quando a gente consegue testemunhar a carreira de um artista que a gente gosta muito com a passagem do tempo, acabamos por prestigiar seus filmes, mesmo que eles sejam um clichê de mais do mesmo. Vamos lançar mão dos spoilers aqui.

Mas Sheryl chega para estragar tudo…

Vemos na película a história de Martha (interpretada por Keaton) uma senhora que é acometida de câncer, que praticamente desiste de viver. Ela se recusa a fazer a quimioterapia e vende todas as coisas de seu apartamento, indo para uma espécie de comunidade para aposentados para viver seus últimos dias. Lá, ela conhecerá a serelepe Sheryl (interpretada por Jacki Weaver), vista inicialmente como uma chata, mas que, aos poucos, conquista Martha.

Treinando uma nova atividade…

Como Martha teve um passado frustrado em ser líder de torcida, as duas decidem montar uma espécie de clube de líderes de torcida da terceira idade, esbarrando nas convenções conservadoras da comunidade de aposentados. Lutando contra os preconceitos, elas formam um grupo e participam de concursos de líderes de torcida, somente com a intenção de brincar, mas como no mundo ilusório do cinema tudo é mágico, elas conquistam o coração de todos, mesmo sendo da terceira idade, ou seja, de um segmento completamente desprezado pela sociedade.

Deboche das novinhas…

Apesar de todo o clichê, o filme tem uma característica interessante, que é a de zombar do conservadorismo, incorporado no filho de uma das senhoras do clube de líderes de torcida. Tal zombaria é bem vinda em tempos onde as pessoas têm tido um comportamento altamente conservador em várias partes do mundo.

… mas uma delas se rende aos encantos das senhoras…

Logo, qualquer produto cultural que denuncie esse conservadorismo se torna altamente válido, mesmo que eivado de clichês. E a doçura de Keaton é um belo atrativo para esse filme, gerando uma química perfeita com Jacki Weaver (a interação entre as duas funcionou como uma máquina muito bem azeitada).

Uma amizade efêmera, mas sincera…

A morte de Martha acaba sendo uma espécie de tragédia anunciada, mas ela não se deu de forma traumática, ocorrendo apenas subliminarmente, não sem trazer uma emoção extra no desfecho de um filme que primou mais pela comédia. Esse desfecho só deu ainda mais peso para a personagem de Keaton, que é, sem a menor sombra de dúvida, a principal estrela do filme.

O triunfo das senhoras…

Dessa forma, o filme “As Rainhas Da Torcida” é uma verdadeira película de Sessão da Tarde que, apesar de coberto de clichês, tem o mérito de zombar do conservadorismo e, ainda por cima, ter a doce presença de Diane Keaton, que este humilde escriba a viu desde jovem em sua carreira. Apesar de se ver o mais do mesmo, vale a pena dar uma conferida.

Batata Movies – Palace 2: Três Quartos Com Vista Para O Mar. Documentário Sobre A Impunidade.

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Cartaz do Filme

Um documentário brasileiro. “Palace 2: Três Quartos Com Vista Para O Mar”, de Rafael Machado e Gabriel Correa e Castro relembra a tragédia do Palace 2 em 1998, quando parte do prédio de um condomínio na Barra desabou, deixando oito mortos e mais de 170 famílias desabrigadas. Esse é mais um documentário sobre a revoltante situação de impunidade que reina em nosso país e é fundamental, pois mostra todo o processo da luta das famílias na justiça contra o deputado Sérgio Naya, que construiu o prédio de uma forma muito irresponsável, praticamente não pagando pelo crime que respondia (o deputado hoje já é falecido e as famílias ainda lutam por seus direitos na justiça, vinte anos depois).

Uma parte do prédio desaba, feito com péssimo material…

Foi feita uma boa reconstituição de todo o ocorrido, com muitos depoimentos dos moradores, advogados e imagens de arquivo que mostraram todo o sentimento de horror dos moradores do prédio na época e o que aconteceu posteriormente. Após a demolição total do prédio, os moradores, sem ter para onde ir, passaram a morar num hotel, alguns deles por vários anos, para se manterem unidos na luta pela justiça.

Colhendo depoimentos dos ex-moradores…

Entretanto esse estilo de vida era altamente desgastante e provocou a desistência de alguns moradores em permanecerem unidos naquela situação. Tanta luta até rendeu bons frutos. O deputado foi condenado a pagar a indenização (até ficou preso alguns dias) mas simplesmente não o fez. A multa pelo não pagamento aumentou com os juros e torna-se cada vez mais difícil de pagar a cada dia.

Luta que já dura vinte anos…

Ao ver toda a via Crucis dos moradores do Palace, a gente fica com um gosto amargo na alma de que a impunidade parece não ter solução em nosso país e que podemos ser vítimas dela a qualquer momento. Isso nos dá um sentimento de impotência e a gente acaba se solidarizando com os moradores em sua luta altamente inglória e que parece cada vez mais infrutífera. É por isso que documentários desse naipe devem ser cada vez mais produzidos e divulgados, onde o cinema cumpre a sua função social de denúncia.

Dor de quem luta há muito tempo…

Dessa forma, “Palace 2, Três Quartos Com Vista Para O Mar” é um documentário altamente necessário e obrigatório, apesar de muito doloroso. A única forma de se lutar contra a impunidade tacanha com a qual somos obrigados a conviver é denunciando-a o máximo possível. E o cinema é um ótimo veículo para essa denúncia. Vale a pena ser divulgado aos quatro ventos.